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Modelo - Caso concreto Semana 2 (Joana x Joaquim)

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____VARA CÍVEL DA COMARCA DE ITABUNA-BA
AÇÃO ANULATÓRIA COM TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA 
JOANA DOS SANTOS MIRANDA, brasileira, solteira, Técnica em Contabilidade, Inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF – Sob o Número – 658.213.783-21, endereço eletrônico - joana@gmail.com, residente e domiciliada à Rua Carlos Bravo – Nº 245 – CEP 60.754-110, neste ato representada por seu Advogado – Antonio César Freire Espíndola Cavalcante, endereço eletrônico – cesar.espindola.adv@gmail.com – com endereço profissional à Rua dos Parnasos – Nº 321 – Boa Vista – CEP 60.855-690 – Fortaleza – Ceará, vem perante a este Juízo propor a competente AÇÃO ANULATÓRIA COM TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA em desfavor de JOAQUIM MARTINS PEREIRA, viúvo, comerciante, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF – Sob o Número – 395.789.231-85, endereço eletrônico – Joaquim.martins@hotmail.com - residente e domiciliado à Rua Estevão Portugal, 654 – CEP 60.789-780, com base nos fatos e fundamentos que passa a expor para, ao final, postular: 
1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Requer a concessão da gratuidade processual (Justiça Gratuita) por ser a requerente é pessoa pobre na acepção jurídica do termo, portanto, sem condições de arcar com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, com fulcro nos arts. 98 e seguintes do Código de Processo Civil (Lei 13.105/15) e no art. 5º, XXXV, LV, LXXIV do Texto Maior. Declaração de hipossuficiência (anexo 01). 
2. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO
Nos termos do art. 319, inciso VII, do Código de Processo Civil, a requerente manifesta o interesse na realização da audiência de conciliação ou mediação.
3. DOS FATOS 
A Ação Anulatória com Tutela Provisória de Urgência, patrocinada pela requerente em face do Senhor Joaquim Martins Pereira, tem como finalidade a anulação do negócio jurídico firmado.
A requerente, no dia 20 de dezembro de 2016, tomou conhecimento de que o filho, Marcos dos Santos Miranda, de apenas 18 anos de idade, houvera sido preso ilegalmente e fora encaminhado e recolhido ao presídio IPPS-2. Tomada sob forte emoção, de pronto, a requerente procurou os serviços profissionais de um advogado para assistir ao filho.
 
O referido profissional solicitou a quantia de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais) para patrocinar a causa. Ao retornar do escritório advocatício, a requerente encontrou-se causalmente com o requerido - tendo em vista serem vizinhos - ocasião em que comentou não dispor dos recursos para efetivar a contratação do advogado para o filho e que estava em situação desesperadora. 
A requerente relatou ao requerido a sua preocupação e angústia pelo fato do filho ter sido encarcerado ilegalmente e que o garoto está muito abalado psicologicamente com a prisão, sobretudo pela forma arbitrária como ocorreu. Disse ainda a requerente que a condição financeira da família não é boa e que atualmente não possui condições materiais para fazer frente ao pagamento dos honorários do advogado criminalista. 
Ao perceber a fragilidade emocional e financeira da requerente e visando tão única e exclusivamente aproveitar-se para obter clara vantagem patrimonial, o requerido adquiriu o automóvel de marca Chevrolet - modelo Prisma – Chassi Nº 233438594363 - ano 2019 de propriedade da requerente pelo valor de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais) sem, contudo, comunicar a requerente o real valor de mercado do bem móvel em questão. 
Note-se Exa. que o valor proposto para a compra do veículo é exatamente igual ao valor cobrado pelo advogado para patrocinar a causa do filho da requerente, qual seja: R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais). 
Ressalte-se Exa. que, conforme informação extraída da Tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE (anexo 2), utilizada largamente pelo mercado automotivo, o valor do bem é estimado em R$ 50.000,00 (Cinquenta Mil Reais). Também está acostado aos autos (anexo 3) termo assinado por avaliador automotivo atestando o valor do automóvel em R$ 50.000,00 (Cinquenta Mil Reais). 
 
 A requerente, sem vislumbrar alternativa para alcançar com urgência os recursos necessários à contratação do advogado criminalista para o filho, acabou por sucumbir à oferta do requerente, que não informou, no momento da negociação, o real valor de mercado do bem móvel. Por conseguinte, houve a consumação do negócio jurídico. 
Sucede Exa. que, no dia subsequente à tradição do bem móvel, a requerente foi comunicada por familiares de que a avó paterna de seu filho havia contratado um advogado criminalista para assistir o jovem encarcerado ilegalmente e que o citado profissional lograra êxito em Habeas Corpus em favor do jovem de 18 anos, já encontrando-se em liberdade. 
Tendo em vista o surgimento desses novos fatos, a requerente buscou junto ao requerido o desfazimento do negócio jurídico, todavia, o requerente, de forma irredutível, afirmou não ter interesse na dissolução do negócio jurídico. 
Em razão da recusa do requerido em resolver extrajudicialmente a demanda a requerente buscou o Poder Judiciário para ver declarada a invalidade do negócio jurídico celebrado. 
4. DO DIREITO 
Diante dos fatos expostos, restou clara a conduta dolosa do requerente ao celebrar um negócio jurídico defeituoso, ao adquirir o automóvel da requerida, que se encontrava em nítida fragilidade emocional, por um valor notoriamente subvalorizado em relação ao mercado sem ao menos comunicar-lhe o valor real de mercado do bem móvel. O requerido pretendeu elevar o seu patrimônio aproveitando-se da flagrante distorção entre o valor de mercado e dos recursos efetivamente pagos pelo bem móvel em tela. 
	A inteligência do art. 157 do Código Civil (Lei 10.406/2002) assim preconiza:
Art.157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
	Fica clara a lesão à requerente, tendo em vista a premente necessidade, o que ocasionou uma onerosidade excessiva com a desproporção estabelecida entre o preço de mercado do bem móvel negociado e o valor efetivamente pago pelo requerido. 
	Flávio Tartuce caracteriza a lesão: 
“Para a caracterização da lesão é necessária a presença de um elemento objetivo, formado pela desproporção das prestações, a gerar uma onerosidade excessiva, um prejuízo a uma das partes, bom como um elemento subjetivo: a premente necessidade ou inexperiência, conforme previsto no caput do art. 157. (grifo nosso)
A renomada civilista Maria Helena Diniz também ensina: 
“O instituto da lesão visa proteger o contratante que se encontra em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido a desproporção entre as prestações das duas partes” (Curso de Direito Civil Brasileiro...,2002, p. 399).
Os textos reforçam a tese da plena anulabilidade do negócio jurídico, por haver lesão. A negativa do requerente em desfazer o negócio jurídico demonstra a lesão por dolo omissivo imposta pelo requerido, conforme o art. 145 do Código Civil (in verbis):
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
	Ao comentar o art. 145 do CC, Flávio Tartuce (2012) reforça que o negócio jurídico praticado por dolo é anulável, no caso do mesmo ser sua causa. “Esse dolo, causa do negócio jurídico é conceituado como dolo essencial, substancial ou principal (dolus causam).
	Esta Exordial apresenta provas cabais do dolo omissivo praticado pelo requerido. Os anexos 02 e 03 trazem, respectivamente, a Tabela FIPE praticada para transações de compra e venda no mercado automobilístico, bem como termo de avaliação assinado por perito credenciado. Ambos apontam a colossal desproporção de 40% entre ovalor do bem adquirido de forma dolosa pelo requerido em comparação aos preços reais praticados pelo mercado. 
	Ainda citando Tartuce (2012) o doutrinador aponta a classificação do dolo por conduta das partes:
Dolo negativo (ou omissivo) é o dolo praticado por omissão (conduta negativa), situação em que um dos negociantes ou contratantes é prejudicado. Também é conhecido como reticência acidental ou omissão dolosa.
	É incontroverso, por meio das provas aqui apresentadas, que o requerido incorreu em omissão dolosa ao não informar previamente à requerente o valor de mercado do automóvel. Ao adquirir o bem móvel o requerido absteve-se de comunicar o verdadeiro preço de mercado do automóvel incorrendo em lesão por dolo negativo. 
	A cabeça do art. 147 tipifica a lesão dolosa do agente: 
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
	A requerente, se tivesse tomado prévio conhecimento do desequilíbrio entre o preço de mercado e o valor ofertado para a compra, certamente, não haveria celebrado o negócio jurídico que ora pretende-se desfazer. A oferta do requerente, além do mais, feriu o princípio da Boa Fé Objetiva que deve reger todos os contratos. 
	De acordo com Jurisprudência do STJ: 
 AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 992.489 - RJ (2016/0259033-3) RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO AGRAVANTE : RICARDO MOREIRA DE ARAUJO AGRAVANTE : EDUARDO MOREIRA DE ARAUJO AGRAVANTE : FABIO MOREIRA DE ARAUJO AGRAVANTE : JOSE LUIZ SOARES DA SILVA ADVOGADOS : PAULO MAURÍCIO FERNANDES DA ROCHA E OUTRO (S) - RJ073639 BRUNO PINHEIRO BARATA - RJ075514 FLÁVIO DIZ ZVEITER - RJ124187 AGRAVADO : REPSOL BRASIL S A ADVOGADOS : LEONARDO LOBO DE ALMEIDA - RJ072923 ANNA CAROLINA RODRIGUES CAMPELLO DE FREITAS PENALBER E OUTRO (S) - RJ114095 DECISÃO 1. Trata-se de agravo interposto por RICARDO MOREIRA DE ARAUJO e outros contra decisão que inadmitiu recurso especial, com fulcro no art. 105, III, a, da Constituição Federal, em face de acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, integrado pelo proferido em sede de embargos de declaração, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL. ANULAÇÃO DE CONTRATO. OMISSÃO DOLOSA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. INOCORRÊNCIA. RISCO CONTRATUAL ASSUMIDO PELA PARTE. 1- Os réus firmaram contrato com a autora pelo qual esta lhes venderia a totalidade das cotas sociais da OPS - Operadora de Postos e Serviços Ltda., até então subsidiária integral das rés vendedoras. A sociedade objeto da venda era titular de diversos postos de gasolina com a bandeira Repsol, mas o objetivo das partes era que somente dois postos fossem transmitidos e permanecessem em funcionamento sob a administração dos compradores: o "Posto Pasmado" e outro posto situado em São Pedro D'Aldeia. Os demais postos teriam suas atividades encerradas pelos vendedores. 2- O ponto objeto da controvérsia é se houve adequado fornecimento de todas as informações necessárias à celebração e execução do contrato por parte das vendedoras. Alegam os réus que a autora agiu de forma incompatível com a boa-fé, não entregando documentos que revelavam pendências e passivos superiores, os quais somente vieram a ser descobertos depois da celebração do negócio e que, se tivessem ciência de tais fatos, não teriam concluído o contrato. A autora, por sua vez, sustenta ter informado os réus de todas as circunstâncias relevantes e de ter-lhes indenizado todos os prejuízos ocorridos até o montante de três milhões de reais, previstos na cláusula contratual. 3- A anulação de um negócio pelo vício de dolo somente é possível se esse dolo for principal, isto é, diga respeito a um aspecto central do negócio, um artifício que tenha causado a própria celebração do negócio. A incidência do princípio da boa-fé certamente deve guiar a aplicação do instituto, restando a omissão dolosa também caracterizada quando descumprido o padrão de conduta exigido pela proteção da confiança, com violação do dever de informar. No entanto, o padrão de conduta exigido e a extensão do dever de informar varia conforme a relação concreta em exame, não sendo cabível, por exemplo, impor ao fornecedor, diante de um consumidor leigo, o mesmo encargo que se coloca em um contrato firmado entre dois empresários experientes. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 20 de fevereiro de 2017. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Relator
(STJ - AREsp: 992489 RJ 2016/0259033-3, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 07/03/2017) (grifos nossos)
	Em face dos fatos relatados e dos documentos acostados, fica evidenciado que os argumentos da requerente merecem prosperar pela robustez das provas e da veracidade dos fatos apresentados nesta Petição Inicial. 
5. DA CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA 
Diante dos fatos narrados ficam demonstrados o fumus boni iuris o periculum in mora. O evidente percurso temporal suficiente até o desfecho do processo, há a ameaça de ser inócua a prestação jurisdicional ao final deferida. 
	Conforme dispõe o art. 300 do Código de Processo Civil:
Art. 300. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
	Estão presentes no art. 300 do CPC dois requisitos que, cumulativamente observados, reforçam a aplicação da Tutela Provisória de Urgência: a) a probabilidade do Direito, consiste no forte indício da razoabilidade do Direito invocado (fumus boni juris); e b) o perigo de dano, consistente no perigo da demora na prestação jurisdicional, segundo o qual a o adiamento da concessão da Tutela até o momento da sentença é capaz de gerar danos de natureza irreparável à parte (Periculum in mora). 
	Em se tratando de probabilidade de Direito restou incontroverso que a requerente foi lesada por dolo negativo do requerido e, portanto, o negócio jurídico celebrado entre as partes é, de plano, anulável. Por meio dos documentos apresentados e anexados (02 e 03) evidenciou-se claro o prejuízo econômico causado pelo requerido à requerente, tendo este adquirido o bem móvel por valor 40% abaixo do mercado sem dar ciência à requerente do valor real do automóvel. 
	Com o fito de resguardar o Direito da requerente, requer-se que seja realizado o bloqueio total do bem móvel no competente órgão de trânsito ao qual o bem móvel está registrado, bem como a intransferibilidade, a incomunicabilidade e a impenhorabilidade até o desfecho final da presente demanda. 
6. DOS PEDIDOS
Diante do exposto e com base na legislação vigente, requer, de V.Exª:
a) A CONCESSÃO dos benefícios da assistência judiciária gratuita, preceituados no art.5º, LXXIV, da Carta Magna, na Lei n° 1.060/50 e no artigo 98 do Código de Processo Civil, por ser os autores pobres, na acepção jurídica do termo, não reunindo condições de arcar com os encargos decorrentes do processo, sem prejuízo se seu sustento e de sua família;
b) Citação do requerido para comparecer à audiência preliminar de conciliação e mediação, com fulcro no art. 319,VII, do CPC e, não havendo acordo, intimá-lo para apresentar contestação;
c) A CONCESSÃO da Tutela de Urgência Liminar, fundada no art. 300 do Código de Processo Civil, determinando o bloqueio do bem imóvel com a referida averbação de intransferibilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade até o deslinde final da presente demanda;
d) O JULGAMENTO TOTALMENTE PROCEDENTEdos pedidos, para declarar a anulação do negócio jurídico celebrado;
e) Condenar os réus ao pagamento de custas e honorários advocatícios, conforme art. 85 do CPC;
f) Pugna para que as publicações sejam feitas exclusivamente em nome do patrono ANTONIO CÉSAR F.ESPÍNDOLA, OAB/CE. Nº 13.435-9;
Requer a produção de todas as provas admitidas em Direito, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do Código de Processo Civil/2015. 
	Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais). 
Nestes Termos
Pede deferimento
Fortaleza, Ceará, 01 de Setembro de 2020.
Antonio César Espíndola
Advogado
OAB-CE – Nº 13.435-9

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