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1 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Obstipação – Aula 9 Obstipação – constipação • Queixa mais comum relacionada ao TGI! • Definição: não há uma definição fechada do que é constipação. É muito amplo, cada paciente descreve de uma forma. • Frequência: menor que 3 vezes na semana, mas nem todo paciente terá essa definição. • Esforço: às vezes, o paciente tem a necessidade de fazer esforço para defecar, apesar de ir > 3x/semana e isso já é considerado obstipação. • Característica das fezes: precisa ser levada em consideração. Escala de Bristol, fezes ressecadas, que saem com dificuldade também é levado em consideração na definição da obstipação. • Há obstipação de fato? Às vezes a percepção do paciente do normal é destorcida, ele acha que o correto é fazer cocô todos os dias e queixa-se de obstipação, mas as fezes estão normais, sem outras queixas, sem esforço para evacuar, na verdade ele só tem apenas uma frequência menor e não constipação. • Inchaço, dor, incômodo podem vir associados, mas não fazem parte da definição da constipação. As fezes de obstipação são a tipo 1 e 2. FATORES DE RISCO ❖ Sexo feminino; ❖ Idade mais avançada; ❖ Dieta pobre em fibras, baixa ingesta de água; ❖ Nível socioeconômico baixo; ❖ Sedentarismo. Esses fatores estão associados ao tipo de obstipação que o paciente tem. É importante também para a avaliação inicial e para a intervenção. A obstipação pode ser primária ou secundária. A obstipação funcional é muito comum nesses pacientes com fatores de risco. Obstipação funcional Primária, alteração funcional do colón, mas não quer dizer que não existe uma doença/causa. Significa que não existe uma doença sistêmica levando a ela. É um distúrbio de função do colón. É também chamado de obstipação crônica. • Trânsito normal: tempo de trânsito intestinal é normal, não tem obstipação; pode ter frequência de dejeção perto do limite inferior da normalidade, mas é um indivíduo que muitas vezes é ansioso, tem um distúrbio psicológico ou tem uma SII, e é isso que confunde com obstipação. • Trânsito lento: tempo de trânsito colônico lento, tem obstipação de fato. • Desordens de defecação: a fisiologia da defecação precisa de coordenação neuromuscular, dos músculos estarem íntegros, de força do assoalho pélvico e também de uma obediência dos reflexos. Quando surge o reflexo pela primeira vez, ele não é obrigatório; quando vem em um momento que não é propício para defecar, dá para segurar e a vontade passa, mas se isso é algo constante o reflexo para de acontecer de forma fisiológica e passa a ter uma incoordenação do reflexo. Causas secundárias Doença sistêmica ou de intestino. Diabetes e doenças da tireoide são os principais. Hipotireoidismo causa obstipação, uma vez que os hormônios tireoidianos estimulam o peristaltismo e na sua ausência há uma inibição. Diabetes é devido à neuropatia. Saber quais os remédios que o paciente faz uso é fundamental, pois muitas vezes é isso que resolve o problema, já que é comum certos medicamentos levarem a obstipação. 2 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Obstipação – Aula 9 OBS.: O pós- cirurgia é complexo devido ao REMIT, muita coisa acontecendo, e isso inibe a peristalse de forma fisiológica, mas também pode persistir de forma patológica, levando ao íleo paralítico ou pseudoconstipação intestinal. Além do impacto também dos medicamentos usados durante e após a cirurgia também interferirem no funcionamento intestinal. Raramente uma obstipação crônica será devido a uma causa secundária. Se for uma constipação de início recente, deve-se ser investigado causas secundárias, mas constipação de anos deve ser colocado a funcional como principal diagnóstico diferencial e se usar os critérios de Roma IV. Obstipação funcional – ROMA IV • Duas ou mais das seguintes, em ao menos 25% das evacuações de um total (ano, mês, semana...). ❖ Esforço para defecar; ❖ Fezes endurecidas; ❖ Sensação de evacuação incompleta; ❖ Sensação de obstrução anorretal; ❖ Manobras para facilitar defecação: colocar o dedo para esvaziar ou precisa colocar um banquinho ou precisa sustentar o assoalho pélvico... • Fezes macias são raras sem uso de laxantes. • Não há critérios para SII, porque SII também causa obstipação. Os sintomas têm que estar presentes nos últimos 3 meses, mas tem que ter iniciado a pelo menos 6 meses. Avaliação inicial • Anamnese cuidadosa: excluir causas secundárias (se tiver, tratá-la). ❖ Tempo de história: aguda ou crônica. ❖ Comorbidades: se tem diagnóstico de alguma outra doença sistêmica. ❖ Sinais de doença sistêmica: se tem algum outro sinal além da obstipação. ❖ Medicações; ❖ Sinais de alarme; ❖ Procedência: p. ex. doença de chagas faz megacolón, cursando com obstipação. Exame físico: inespecífico. Distensão abdominal, dor difusa a palpação, hipertimpanismo. O toque retal é importante, como também é importante pedir ao paciente que faça algumas manobras durante, como fazer força, valsava. Avaliar a competência da válvula... Sinais de alarme A depender da fonte, os sinais de alarme para obstipação variam muito. A seguir tem os que são mais concordantes... ❖ Sangramentos; ❖ Perda de peso; ❖ História familiar de câncer de cólon ou DII; ❖ Anemia; ❖ Presença de sangue oculto nas fezes; ❖ Início agudo em idosos (> 50 anos). Outra coisa que chama atenção é a mudança no aspecto das fezes, p. ex. que passa a ter fezes em fita; pode significar um tumor no cólon. Avaliação complementar • Não é necessária na maior parte dos casos. Se não tem sinal de alarme, não tem sinal de doença sistêmica; fora da rotina que se faria para o paciente, não precisa de mais nada. P. ex. mulher de 55 anos sem sinais de alarme e de doença sistêmica, vai-se fazer os exames que faria para uma paciente de 55 anos independente da queixa de obstipação, como glicemia, função tireoidiana (talvez), colonoscopia (talvez, para rastrear CA de colón devido a idade). Então, se for uma obstipação crônica, ela não vai mudar a necessidade de exames complementares. • Exames laboratoriais: hemograma, função tireoidiana, função renal, cálcio... • Colonoscopia: geralmente não é necessário, só se houver suspeita de Ca. • Tempo de trânsito colônico, manometria anorretal, balão de expulsão, defecografia. 3 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Obstipação – Aula 9 • Balão de expulsão: é inserido no ânus do paciente um balão que é preenchido com soro; o paciente vai expelir esse balão e isso será analisado. • Tempo de trânsito colônico: o paciente ingere uma cápsula que contém uns anéis radiopacos que depois de 120 horas se faz a radiografia. O normal é que se veja poucos ou nenhum anel, como mostra a primeira imagem abaixo. A segunda imagem mostra um paciente com tempo de trânsito lento (inércia colônica), tem um monte de anel distribuído pelo TGI inteiro. Já o terceiro é um paciente com distúrbio defecatório, tem um monte de anel, mas em região de reto, o tempo de trânsito foi normal, mas ficou tudo parado no final, não saiu. Defecografia: injeta-se contraste no ânus do paciente e ele então senta em uma privada especial. O paciente vai fazer força, valsava... e tudo isso é captado por Rx ou RM. Só é feito quando tem uma obstipação importante. Imagem abaixo. Só a situação em si (defecar com o técnico olhando) já é suficiente para inibir o reflexo. Com a imagem se faz o cálculo do ângulo anorretal, vê a contração... Manejo • Educação em relação a obstipação crônica. • Modificações comportamentais – “disciplina e obediência”, MEV. É preciso criar o hábito de defecar, nem que seja preciso tentar mesmo sem sentir à vontade, fazendo um treinamento na tentativa de recriar o reflexoe também é necessário obedecer ao reflexo. • Dieta: fibras naturais e aumento da ingesta hídrica; • Exercício físico; • Todos esses acima são o primeiro passo; • Terapia laxante: se a obstipação do paciente for muito significativa, já pode ser colocada a terapia laxante junto com os anteriores. • Se o uso de todos esses não for suficiente, começar a pensar em fazer exames para determinar se é Alterações no trânsito X Desordens de defecação. O uso crônico de laxante pode causar obstipação. Isso porque o corpo começa a tolerar o laxante. Porém, as referências mais atuais não confirmam que o uso crônico pode causar alteração anatômicas ou estruturais ao intestino. OBS.: se o paciente vem em uso crônico de laxativos e queixa-se de constipação, a primeira coisa a ser feita é retirar o laxativo, avaliar uma doença secundária, ver a educação, comportamento, dieta, exercício físico, ver se não tem necessidade de fazer exames, e então tentar um outro mecanismo de ação laxante. Terapia laxativa • Incrementadores do bolo fecal: são os mais fisiológicos. Aumentam o “tamanho” do bolo fecal. Começa com esse, junto com as primeiras medidas já citadas. ❖ Associado a fibras da dieta e ingesta hídrica; ❖ Estímulo fisiológico à defecação; ❖ São eles: fibras sintéticas (policarbofilia cálcica), metilcelulose, psyllium, ágar-ágar, metamucil; • Laxantes osmóticos: ❖ Polietilenoglicol (PEG 3350 – uso recomendado na gravidez), lactulose, sais de sódio e magnésio. • Agentes lubrificantes (amaciantes): ❖ Docusato de sódio, óleo mineral. 4 Beatriz Machado de Almeida Gastroenterologia – Obstipação – Aula 9 • Agentes estimulantes: ❖ Estimulam a peristalse, a secreção. São geralmente os acusados de causar lesão ao intestino quando se faz uso crônico. ❖ Antraquinonas, Sene (cáscara sagrada, óleo de rícino). ❖ Difenilmetanos, bisacodil (fenolftaleína, picossulfato de sódio). • Procinéticos: ❖ Motilium. EXPLICANDO O FLUXOGRAMA Dieta rica em fibras e hidratação, fibra suplementar (pode colocar o laxante que complementa o bolo alimentar); se não resolveu pode colocar um laxativo osmótico; se ainda assim não resolveu pode tentar o laxante amaciante/lubrificante. Se ainda não resolveu, procinéticos e por fim um estimulante/irritativo. Dieta rica, hidratação e fibra suplementar são mantidos, já os laxativos que não resolvem vão sendo trocados. Faz a avaliação inicial do paciente e considera as causas secundárias. Em seguida coloca fibras alimentares, aumento da ingesta hídrica e vai introduzindo os laxantes de acordo com a resposta do paciente. Se o paciente tem uma resposta inadequada aí sim se considera fazer manometria anorretal e exame de expulsão do balão para avaliar se o paciente tem um distúrbio de defecação. Se for o caso, o tratamento é um pouco diferente, esse paciente tem que treinar o reflexo, fazer fisioterapia. Se não for o caso, provavelmente ele tem um distúrbio de trânsito e deve-se insistir na terapia laxante. Se ainda assim não melhora, existem laxativos mais agressivos.
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