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ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 1 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Autos n° 0007804-91.2012.8.24.0054 Ação: Procedimento Ordinário/PROC Requerente: João Nehring Requerido: Banco do Brasil S/A Vistos para sentença. João Nehring, qualificado à fl. 01, ajuizou Ação Revisional com pedido de declaração de quitação, cancelamento de hipoteca e restituição de valores em face de BESC S/A Crédito Imobiliário, atualmente incorporado pelo Banco do Brasil S/A, também qualificado, visando à revisão do contrato de mútuo com garantia hipotecária firmado pelas partes em 1989. Alega que o valor financiado total foi de NCZ$ 32.663,06, para a construção de uma casa residencial com área total de 183,87m², a ser pago em 240 prestações mensais, com primeiro vencimento em 15/02/1990 no valor de NCZ$ 4.244,39, bem como que foi firmada taxa anual de juros nominais em 9,6% e foi dado em garantia o imóvel matriculado sob o nº 2913. Afirma que como forma de reajuste das parcelas foi estabelecido o Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional - PES/CP, através do qual as parcelas seriam reajustadas mediante a aplicação de taxa de remuneração básica aplicável aos depósitos de poupança correspondente ao período a que se refere a negociação salarial da categoria do devedor, acrescido, ainda do percentual relativo ao ganho real de salário definido pelo Conselho Monetário Nacional. Aduz, todavia, que no decorrer da vigência do pacto ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 2 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br percebeu que os encargos mês a mês estavam se tornando excessivamente onerosos, não guardando proporcionalidade com o comprometimento inicial da renda e da correção de vencimentos concedida à sua faixa salarial. E só entre 1990 e 1991 teve um aumento explosivo. Anota, assim, que o réu vem majorando o valor das prestações de forma absurda, sendo que o autor nunca logrou êxito em suas tentativas de renegociação. Afirma, ainda, que o saldo devedor do contrato é reajustado pela TR e o saldo das prestações pelo PES/CP, o que não seria conveniente pois o INPC é o indexador que mais representa a inflação nacional. Requereu, por fim, a) a alteração do índice de reajuste do saldo devedor para o INPC ao invés da TR, ou ainda pelo PES/CP conforme contratado; b) o reajuste das prestações mensais de acordo com o percentual fixado como referencial máximo de comprometimento da renda liquida familiar do autor, sucessivamente da renda bruta; c) a exibição de planilha demonstrativa dos índices de reajustes utilizados para a correção das prestações; d) devolução em dobro dos valores pagos a maior no montante de R$ 22.116,10; e) aplicação da taxa efetiva de juros de 11% a.a e que as deduções das amortizações mensais ocorra antes da atualização do saldo devedor; f) alteração do valor do saldo devedor para o mês de janeiro de 2010 na importância de R$ 240,94, a quitação da dívida e o cancelamento da hipoteca; h) a determinação para o réu se abster de exigir do autor o pagamento das prestações atrasadas, em razão do débito já estar devidamente quitado, consoante planilha acostas e i) os benefícios da justiça gratuita. À fl. 96 foram concedidos os benefícios da justiça gratuita e determinada a citação do réu. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 3 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br O autor às fls. 100-102, informou que recebeu via correspondência um recibo apontando a quitação do débito, sem porém ter realizado qualquer negociação com o requerido. Contestação às fls. 103-126 e juntada de documentos às fls. 127-153. Em preliminar alegou a inépcia da inicial e no mérito rebateu as teses do autor. Réplica às fls. 158-167. Às fls. 168-178 informou que vendeu o imóvel objeto de hipoteca do contrato em discussão ao terceiro Sérgio Lemos, juntando escritura pública, bem como anotando que o réu concedeu a liquidação do financiamento e a liberação da hipoteca. À fl. 179 foi determinada a correção do polo passivo para Banco do Brasil S/A em razão da incorporação efetuada em desfavor do antigo réu, bem como a intimação da parte ré sobre os documentos de fls. 168-178 e foi, ainda, designada audiência de conciliação. O réu impugnou a petição à fl. 184. À fl. 185 foi realizada a audiência, cuja conciliação restou inexitosa, tendo as partes anotado a inexistência de novas provas a produzir. O autor às fls. 193-200 informou o falecimento de seu procurador e acostou nova procuração. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 4 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br É o relatório. DECIDO. Profiro julgamento antecipado, na forma do art. 330, I do CPC, porque entendo desnecessária a produção de outras provas, além daquelas já existentes nos autos. A prova documental e a contestação do réu permitem a compreensão da controvérsia, de modo que a designação de instrução seria inútil. A par disso, as partes anotaram a inexistência de outras provas, audiência de conciliação de fl. 260. Nesse sentido, registre-se que "se a questão de fato gira em torno apenas de interpretação de documentos já produzidos pelas partes; se não há requerimento de provas orais; se os fatos arrolados pelas partes são incontroversos; (...) o juiz não pode promover a audiência de instrução e julgamento, porque estaria determinando a realização de ato inútil e, até mesmo, contrário ao espírito do Código" (Humberto Theodoro Júnior, in Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 42. ed., Forense: Rio de Janeiro, 2005, p.375). Cumpre, antes de mais nada, analisar as preliminares e a questão prejudicial ocorrida no feito. I – Inépcia da inicial Aduz o réu que a inicial é inepta por não trazer os documentos indispensáveis a comprovação do direito alegado, em especial os extratos. Todavia, não lhe assiste razão. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 5 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br A parte autora trouxe o contrato e vários extratos (fls. 22- 95), além de outros documentos, comprovando a existência de relação jurídica entre as partes, não se podendo falar em pleito inepto por ausência de documentos indispensáveis. No mais, a inicial é apta e dela se compreendem, com facilidade, todos os pedidos formulados, tanto que o réu conseguiu de forma satisfatória, contestar o feito, o que comprova que entendeu os fatos e possibilitou sua defesa. Outrossim, "existe interesse processual quando a parte tem necessidade de ir a juízo para alcançar a tutela pretendida e, ainda, quando essa tutela jurisdicional pode trazer-lhe alguma utilidade do pondo de vista prático"(Nelson Nery Junior, Rosa Maria Andrade Nery. Código de Processo Civil Comentado.3ªed.São Paulo: RT,1997.P.532). Por conseguinte, afasto a preliminar. - CDC, pacta sunt servanda, impossibilidade de revisão e de inversão do ônus da prova para exibição de documento O réu afirma que o pedido da parte autora encontra óbice no pacta sunt servanda de modo que não seria possível revisar o pacto assinado por livre e espontânea vontade do requerente, tendo o contrato formado ato jurídico perfeito, sem cláusulas nulas ou vício de vontade a maculá-lo. Todavia, razão não assiste ao requerido. De acordo com o art. 5º, XXXV, da Constituição Federaldeve ser garantida a inafastabilidade da apreciação do Poder Judiciário das lesões ou ameaças a direitos, o que permite sejam analisados os negócios jurídicos e ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 6 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br rechaçadas as suas eventuais abusividades. Ademais, a Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça definiu que "o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". Assim, consoante o art. 6°, V, do Código Consumerista é direito básico do consumidor "a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas". Com tal previsão o mencionado diploma legal estabeleceu uma exceção ao princípio do pacta sunt servanda, adaptando-o à realidade dos contratos de adesão, os quais, não raramente, agasalham cláusulas abusivas. Essa mitigação da força obrigatória dos contratos decorre também da necessidade de harmonização dos contratos com a sua função social e o princípio da boa-fé nos casos em que há flagrante desequilíbrio entre as partes. Até porque, em se tratando de contrato de adesão, resta claro que a única opção do autor, no que se refere às cláusulas estabelecidas, diz respeito somente entre sua aceitação ou não em relação ao conteúdo do contrato, sendo certo que este não possui nenhuma ingerência sobre sua elaboração, restando-lhe somente a opção entre aderir ou não às condições ali elencadas. Nesse sentido, manifesta-se o entendimento do Tribunal de Justiça deste Estado: "...POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO A DESPEITO DO PRINCÍPIO DO PACTA SUNT SERVANDA. AUSÊNCIA ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 7 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA."'O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras' (Súmula 297, do STJ), pelo que, afetado ao consumidor o direito público subjetivo de obter da jurisdição 'a modificação de cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas', bem como a declaração de nulidade das que se apresentem nulas de pleno direito, por abusividade, ou não assegurem o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes, possível é a revisão dos contratos, visto a legislação consumerista ter relativizado o princípio pacta sunt servanda. Essa possibilidade de revisão se insere nos princípios também consagrados pelo Código Civil vigente, de condicionar a liberdade de contratar 'em razão e nos limites da função social do contrato', obrigando que os contratantes guardem, 'assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé' (arts. 421 e 422)" (AC n. 2005.003574-7, de Tubarão, rel. Des. Paulo Roberto Camargo Costa, j. 30-4-2009)..." (TJSC, Apelação Cível n. 2008.031204-0, de Gaspar, Rel. Jorge Luiz de Borba, dje 09/11/2011). Assim, não há se falar também em impossibilidade de revisão em razão de ato jurídico perfeito. Por conseguinte, reconheço a aplicação das regras do Código de Defesa do Consumidor ao presente caso, a possibilidade de revisão do pacto, bem como a possibilidade de inversão do ônus da prova, a qual somente não se fez necessária em razão do autor já ter acostado com a inicial o contrato revisando. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 8 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br MÉRITO - Abusividade no reajuste do saldo devedor pela TR e das prestações mensais pelo PES/CP Aduz o autor que, ao estabelecer o reajuste das prestações mensais pelo Plano de Equivalência Salarial da catergoria profissional do autor - PES/CP e o reajuste do saldo devedor pela TR, a ré estabeleceu condição abusiva que resulta no desequilíbrio financeiro do pacto em desfavor do autor, tornando-o inexequível. Anota que, recalculando o saldo devedor pelo INPC, em janeiro de 2010 o débito já estaria zerado. Requer, assim, que a TR, o índice utilizado para o reajuste do saldo devedor, seja alterada para o INPC ou, alternativamente, para o PES/CP que é o mesmo índice de reajuste contratado para a correção monetária das prestações mensais. Entretanto, razão não lhe asssiste. O tema encontra-se pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça no sentido de admitir a correção do saldo devedor de contrato vinculado ao Sistema Financeiro da Habitação pela Taxa Referencial, tanto que foram editadas as seguintes súmulas: Súmula 295 – A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei n. 8.177/91, desde que pactuada. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 9 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Súmula 454 – Pactuada a correção monetária nos contratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à caderneta de poupança, incide a taxa referencial (TR) a partir da vigência da Lei n. 8.177/1991. Acompanhando esse posicionamento o Grupo de Câmaras de Direito Comercial deste Tribunal editou o Enunciado X, que assim dispõe: Enunciado X - É possível a utilização da Taxa Referencial (TR) no cálculo da correção monetária do saldo devedor de contratos firmados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), desde que previsto o reajuste com base nos mesmos índices aplicados aos saldos das cadernetas de poupança. Apesar das Súmulas do STJ enunciarem a possibilidade de utilização da Taxa Referencial após a edição da Lei nº 8.177/1991, tal possibilidade é estendida aos contratos celebrados antes da vigência da referida lei, desde que haja pactuação no sentido de se proceder à correção monetária pela Taxa Referencial ou pela taxa básica de remuneração dos depósitos em poupança, sem outro índice específico. Inclusive, o próprio STJ se manifesta nesse sentido, veja- se: EMBARGOS DECLARATÓRIOS. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 10 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br DE CONTRATO. PES. TR. CES. TABELA PRICE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. SEGURO HABITACIONAL. REVISÃO DO PRÊMIO. FORMA DE AMORTIZAÇÃO DAS PARCELAS. SÚMULA N. 450. LIMITAÇÃO DOS JUROS. INEXISTÊNCIA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DOBRA. DESCABIMENTO. 1. O Plano de Equivalência Salarial é aplicável no cálculo das prestações mensais a serem pagas pelo mutuário, sendo, todavia, inutilizável como índice de correção monetária do saldo devedor dos contratos de mútuo regidos pelo SFH, atualizado segundo indexador pactuado pelas partes. 2. No âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, a partir da Lei 8.177/91, é permitida a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária do saldo devedor. Ainda que o contrato tenha sido firmado antes da Lei n.º 8.177/91, também é cabível a aplicação da TR, desde que haja previsão contratual de correção monetária pela taxa básica de remuneração dos depósitos em poupança, sem nenhum outro índice específico..." (EDcl no REsp 1238506/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/2015, DJe 25/08/2015 - sublinhei). No presente caso, o contrato prevê expressamente a aplicação do coeficiente de atualização monetáriautilizado para os reajustamentos dos depósitos de poupança, ou seja, a Taxa Refencial. É o que se extrai da cláusula vigésima terceira (fl. 32), veja-se: "DO SALDO DEVEDOR – O saldo devedor do financiamento ora contratado será atualizado mensalmente, na mesma data da assinatura deste contrato, mediante a aplicação de coeficiente de atualização monetária idêntico ao utilizado para o reajustamento dos depósitos de poupança mantidos nas instituições ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 11 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo." Dessa forma, é perfeitamente cabível a incidência da Taxa Referencial (TR) como indexador do débito resultante do contrato de financiamento firmado entre as partes. A jurisprudência da Corte de Justiça Catarinense não discrepa: "APELAÇÃO CÍVEL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO. [...] TAXA REFERENCIAL (TR). ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR DO CONTRATO PELO MESMO ÍNDICE ADOTADO PARA O REAJUSTE DOS DEPÓSITOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. LEGALIDADE, AINDA QUE O PACTO TENHA SIDO FIRMADO ANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI N. 8.177, DE 1°.3.1991. SÚMULA N. 454 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E ENUNCIADO N. X DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL. [...] 6. "É possível a utilização da Taxa Referencial (TR) no cálculo da correção monetária do saldo devedor de contratos firmados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), desde que previsto o reajuste com base nos mesmos índices aplicados aos saldos das cadernetas de poupança." (enunciado n. X do Grupo de Câmaras de Direito Comercial)." (TJSC, Apelação Cível n. 2011.015145-9, de Blumenau, rel. Des. Jânio Machado, j. 21-11-2013). Por outro lado, "o Plano de Equivalência Salarial (PES) pode ser utilizado tão somente como critério de reajuste das prestações mensais do financiamento habitacional, não sendo cabível sua adoção como ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 12 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br fator de atualização monetária de saldo devedor" (TJSC, Apelação Cível n. 2009.060985-0, de Joinville, rel. Des. Paulo Roberto Camargo Costa, j. 26-05-2011). Nessa linha decidiu o Superior Tribunal de Justiça: "O Plano de Equivalência Salarial - PES somente se aplica para o cálculo das prestações mensais a serem pagas pelo mutuário, sendo incabível a sua utilização como índice de correção monetária do saldo devedor, o qual deverá ser atualizado segundo o indexador pactuado, em obediência às regras do Sistema Financeiro de Habitação." (STJ, AgRg no AREsp 436.980/RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 20/02/2014, DJe 13/03/2014). Logo, não merece acolhimento o pleito do autor. - Taxa de juros Pugna o autor a aplicação da taxa efetiva de juros no percentual de 11% a.a. ao argumento de que a Lei nº 4.330/64 estabelece em seu art. 6º o limite dos juros convencionais no percentual de 10% a.a. Inicialmente já se verifica que o autor cai em contradição pois em sua fundamentação requer a limitação em 10% e nos pedidos em 11%, isso sem falar que a taxa de juros pactuada é de 8,5% (fl. 37) e o autor aduz que seria de 9,6%. De qualquer sorte, novamente razão não lhe assiste. O Superior Tribunal de Justiça também possui ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 13 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br entendimento pacificado no sentido de que o art. 6º, alínea "e", da Lei n. 4.380/64 não limita os juros remuneratórios, mas apenas preceitua condições para que o ajuste, eventualmente, seja reajustado pelo salário mínimo. Sobre o tema: "AÇÃO RESCISÓRIA. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. ART. 6º, ALÍNEA "E", DA LEI Nº 4.380/64. JUROS REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE LIMITAÇÃO. DECISÃO RESCINDENDA DE ACORDO COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA 422/STJ. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. NÃO OCORRÊNCIA. [...] O art. 6º, alínea "e", da Lei nº 4.380/1964 não estabelece limitação aos juros remuneratórios nos contratos vinculados ao SFH (Súmula 422/STJ). Decisão rescindenda proferida de acordo com a jurisprudência desta Corte. 3. Ação rescisória julgada improcedente." (STJ, AR 3929/RS, Segunda Seção, Nancy Andrighi, j. em 23/02/11). Desse modo, mantenho a taxa de juros pactuada. - Dedução das amortizações mensais antes da correção do saldo devedor O autor defende que, de acordo com o disposto no art. 6º, alínea "c", da Lei n. 4.380/1964, primeiro deve haver a amortização do saldo devedor pelo pagamento da prestação mensal para posteriormente ser procedido a correção do débito. Novamente, melhor sorte não lhe assiste. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 14 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br A Corte Superior já pacificou seu entendimento acerca da legalidade do sistema de prévio ajuste e posterior amortização do saldo devedor dos contratos de financiamento imobiliário firmados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação e, inclusive, editou a Súmula 450 a respeito,a qual assim dispõe: "Súmula 450. Nos contratos vinculados ao SFH, a atualização do saldo devedor antecede sua amortização pelo pagamento da prestação." O egrégio Tribunal de Justiça comunga do mesmo entendimento, como se depreende do seguinte julgado: "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA, MÚTUO, PACTO ADJETO DE HIPOTECA E OUTRAS AVENÇAS. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO (SFH). SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR. TABELA PRICE. ENCARGO ABUSIVO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. ILEGALIDADE DA PRÁTICA DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NOS CONTRATOS VINCULADOS AO SFH. EXEGESE DO ENUNCIADO N. VIII DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO COMERCIAL. JUROS REMUNERATÓRIOS. PREVALÊNCIA DA TAXA PREVISTA NO CONTRATO. INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO LEGAL A 10% AO ANO. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APELO DOS MUTUÁRIOS. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES MENSAIS PELO PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES). MATÉRIA ACOBERTADA PELA COISA JULGADA. EXISTÊNCIA DE ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 15 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br JULGAMENTO DE AÇÃO ANTERIOR PELA JUSTIÇA FEDERAL, REFERENTE AO MESMO TÍTULO JUDICIAL, QUE IMPÔS A INCIDÊNCIA DO PES NO CÁLCULO DO REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES. DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. RECURSO PREJUDICADO NO PONTO. PLEITO DE AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA PRECEDENTE AO REAJUSTE DO SALDO DEVEDOR. IMPOSSIBILIDADE. 'O critério de prévia atualização do saldo devedor e posterior amortização não fere a comutatividade das obrigações pactuadas no ajuste, uma vez que a primeira prestação é paga um mês após o empréstimo do capital, o qual corresponde ao saldo devedor' (AgRg no AgRg no REsp. n. 937435/DF, rela. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 21-2-2008) [...] (Apelação Cível n. 2007.009277-4, da Capital, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, j. em 20-4-2009)..." (TJSC, Apelação Cível n. 2011.008070-3, de São José, rel. Des. Rejane Andersen, j. 02-07-2013 - sublinhei). Com efeito afasto o pleito nesse tocante. - Reajuste das prestações mensais Pugna o autor para que as prestações mensais sejam reajustadas de acordo com o percentual fixado como o referencial máximode comprometimento da renda familiar, na equivalência sobre os vencimentos salariais liquidos ou, sucessivamente, os vencimentos salariais brutos do autor. Na verdade pleiteia o autor que as prestações mensais sejam reajustadas através do Plano de Equivalência Salarial - PES, mas com observância do comprometimento da renda familiar liquida ou, sucessivamente, bruta, pelo referencial máximo de comprometimento, o que corresponde, em outras ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 16 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br palavras, ao Plano de Comprometimento da Renda trazido pela Lei n. 8.692/93, a qual estabeleceu o limite máximo de comprometimento da renda em 30% da renda bruta do mutuário. Inicialmente, cumpre analisar a possibilidade de reajuste das prestações pelo PES. O contrato firmado entre as partes foi assinado no ano de 1989 e estabeleceu o Plano de Equivalência Salarial como forma de reajuste das prestações mensais devidas pelo mutuário, conforme cláusula décima quarta (fl. 31). A jurisprudência é farta no sentido da aplicação do Plano de Equivalência Salarial como critério de reajuste das prestações, quando assim pactuado. Nessa toada: "AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. TAXA REFERENCIAL. TABELA PRICE. SEGURO HABITACIONAL. TAXAS ADMINISTRATIVAS. PREQUESTIONAMENTO. ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR. COEFICIENTE DE EQUIPARAÇÃO SALARIAL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. MÁ-FÉ NÃO COMPROVADA. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. SUSPENSÃO. REQUISITOS NÃO SATISFEITOS. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA OU RECÍPROCA. SÚMULA 7/STJ. COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1.- O Plano de Equivalência Salarial - PES somente se aplica para o cálculo das prestações mensais a serem ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 17 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br pagas pelo mutuário, sendo incabível a sua utilização como índice de correção monetária do saldo devedor, o qual deverá ser atualizado segundo o indexador pactuado, em obediência às regras do Sistema Financeiro de Habitação..." (STJ, AgRg no AREsp 451.489/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 17/06/2014 - sublinhei). Do Tribunal do nosso Estado: "APELAÇÃO CÍVEL - REVISIONAL - CONTRATO DE FINANCIAMENTO VINCULADO AO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO (SFH). CRITÉRIO DE REAJUSTAMENTO DAS PRESTAÇÕES MENSAIS - PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES/CP) - PACTUAÇÃO EXPRESSA - APLICAÇÃO - OBSERVÂNCIA DOS AUMENTOS REFERENTES À CATEGORIA DO MUTUÁRIO - POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO DAS PARCELAS COM BASE EM AUMENTOS SALARIAIS DIVERSOS, DESDE QUE INTEGRADOS PERMANENTEMENTE. "1.- O Plano de Equivalência Salarial - PES somente se aplica para o cálculo das prestações mensais a serem pagas pelo mutuário, sendo incabível a sua utilização como índice de correção monetária do saldo devedor, o qual deverá ser atualizado segundo o indexador pactuado, em obediência às regras do Sistema Financeiro de Habitação." (AgRg no AREsp 451.489/RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, j. em 27/05/2014, DJe 17/06/2014). Assim, plenamente aplicável o Plano de Equivalência Salarial como critério de reajuste das prestações, quando assim pactuado, podendo ser observados, além da variação salarial da categoria profissional do mutuário, os aumentos individualmente concedidos, deste que integrados de forma permanente à ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 18 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br remuneração..." (TJSC, Apelação Cível n. 2011.011576-9, de Capivari de Baixo, rel. Des. Robson Luz Varella, j. 12-08-2014 - sublinhei). Logo, aplicável o PES/CP ao presente caso, uma vez que devidamente pactuado. Porém, no tocante ao pedido de que as prestações sejam fixadas, observando como limite o percentual máximo de comprometimento da renda familiar na equivalência do percentual sobre seus vencimentos salariais liquidos e, sucessivamente, brutos, razão não lhe assiste. O contrato revisando foi assinado no ano de 1989 e estabeleceu o Plano de Equivalência Salarial como forma de reajuste das prestações mensais devidas pelo mutuário, conforme cláusula décima quarta (fl. 31) e como limite de reajuste a variação integral do Índice de Preços ao Consumidor, consoante se extrai da cláusula décima oitava, veja-se: "Para efeito dos reajustamentos previstos neste instrumento, não será considerada a parcela do aumento salarial da categoria profissional do DEVEDOR que exceder da variação integral do Índice de Preços ao Consumidor – IPC, base para o aumento de salário, acrescida de 0,5 (meio) ponto percentual para cada mês contido no período a que corresponder o aumento salarial." Portanto, esse é o limite do aumento das prestações com base do PES, para o contrato do autor, a posterior limitação advinda da lei 8.692/93 que estabeleceu o percentual máximo de comprometimento da renda em 30% não se aplica ao contrato firmado pelo autor. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 19 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Aliás, a lei é clara ao afirmar que a nova regra se aplicaria aos contratos posteriores, consoante estabelece o seu "Art. 6º Os contratos celebrados após a data de publicação desta lei, em conformidade com o Plano de Equivalência Salarial (PES), serão regidos pelo disposto nesta lei.". O art. 1º, criou o “Plano de Comprometimento da Renda – PCR”, segundo o qual (art. 2º) o valor dos encargos mensais deve limitar-se a 30% da renda bruta do mutuário. E continua a Lei, no art. 8º: “No Plano de Equivalência Salarial o encargo mensal, conforme definido no parágrafo único do artigo 2º, desta Lei, acrescido do Coeficiente de Equiparação Salarial – CES, será reajustado no mesmo percentual e na mesma periodicidade dos aumentos salariais da categoria profissional do mutuário, aplicável no mês subseqüente ao de competência do aumento salarial”. No art. 11, prescreve: “O percentual máximo de comprometimento de renda do mutuário nos contratos regidos pelo Plano de Equivalência Salarial, correspondente à relação entre o valor do encargo mensal e a renda bruta do mutuário verificada no mês imediatamente anterior, não poderá ser superior a trinta por cento”. E o seu par. 1º: “Não se aplica o disposto no “caput” deste artigo às situações em que o comprometimento de renda em percentual superior ao máximo estabelecido no contrato, tenha-se verificado em razão da redução da renda ou por alteração na composição da renda familiar, inclusive, em decorrência da exclusão de um ou mais co- adquirentes”. Continua no parágrafo 2º: “Nas situações de que trata o parágrafo anterior, é assegurado ao mutuário o direito de renegociar as condições de amortização, buscando adequar novo comprometimento de renda ao percentual máximo estabelecido no contrato, mediante a dilação do prazo de liquidação do financiamento, observado o prazo máximo estabelecido em contrato e demais condições pactuadas”. A novel lei ofereceu elasticidade às partes para convencionarem o que melhor lhes convierem, dentro dos limites por ela estabelecidos, como deixa expresso no art. 12: “Em todo o curso do financiamento contratado sob o Plano de Equivalência Salarial, será admitido ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 20 Endereço:Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br reajustar o valor do encargo mensal até o percentual máximo de comprometimento de renda estabelecido no contrato, independentemente do percentual verificado por ocasião de sua assinatura”. Assim, verifica-se que a nova lei trouxe um novo limite para a fixação das prestações, qual seja, o percentual máximo de 30% de comprometimento da renda do mutuário, o qual poderia reajustar a parcela conforme sua renda sofresse alteração. Todavia, este regramento não se aplica ao presente caso, pois o contrato do autor foi firmado em 1989, ou seja, quando a lei 8.692/93 ainda não existia, bem como porque o contrato do autor prevê como limite a variação integral do IPC e ainda em razão do princípio tempus regit actum. Com efeito, mantenho o reajuste das prestações mensais, conforme pactuado. - Repetição do indébito Com relação à repetição do indébito, "firmou-se que ela é possível, de forma simples, não em dobro, se verificada a cobrança de encargos ilegais, tendo em vista o princípio que veda o enriquecimento sem causa do credor, independente da comprovação do erro no pagamento, pela complexidade do contrato em discussão, no qual são debitados valores sem que haja propriamente voluntariedade do devedor para tanto” (STJ – Resp. n. 440.718/RS, rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior). Portanto, é possibilitada a repetição do indébito na forma simples, assim como eventual compensação (CC/2002, art. 368) com o saldo ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 21 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br devedor a ser apurado conforme os balizamentos efetuados na presente deliberação. Todavia, o pleito resta prejudicado no presente caso, uma vez que não houve verificação de irregularidade no pacto a ensejar a devolução de valores. Por essa mesma razão não há se falar em alteração do saldo devedor no mês de janeiro de 2010 para o valor de R$ 240,94. - Quitação da dívida e cancelamento da hipoteca Pugna o autor pelo reconhecimento da quitação total da dívida em razão do recalculo por ele anexado com a inicial e o consequente cancelamento da hipoteca pendente sobre o imóvel. Entretanto, conforme visto acima a presente revisão não importou em alteração do montante da dívida, posto que não acolheu as teses revisionais do autor. Assim, a quitação do contrato não advém da revisão, porém ela se deu em razão de outros motivos, consoante se verá adiante. Conforme se extrai-se dos autos, o autor, às fls. 100-102, informou que o banco réu enviou-lhe uma correspondência consistente no recibo de fls. 102, o qual faz menção de que o réu recebeu do autor o valor de R$ 42.000,00 para liquidação da operação nº 120.256-1 com abatimento negocial que poderá ser exigido, com atualização, para a concessão de novos créditos. Afirmou, ainda, que não realizou qualquer negociação com o réu e que não concorda com a possibilidade do valor ser posteriormente exigido quando da concessão de novos créditos. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 22 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Às fls. 168-178 o autor anotou que vendeu o imóvel objeto do contrato revisando e que o réu autorizou o cancelamento da hipoteca, bem como o levantamento das averbações referentes ao contrato revisando, consoante escritura pública e matrícula atualizada do imóvel dado em garantia do contrato. Intimado o réu para se manifestar sobre a petição de fls. 168-178, este impugnou a petição e documentos acostados pelo autor, alegando que estaria clara a intenção do autor de se eximir de sua dívida. Desta feita, verifica-se que o réu tem realizado atos que importam no reconhecimento da quitação da dívida, uma vez que enviou recibo de pagamento e após autorizou o cancelamento da hipoteca e da averbação do contrato aqui discutido. Ora, o cancelamento da hipoteca por si só já demonstra a existência de quitação do contrato. Em caso semelhante assim já se manifestou o Tribunal de Justiça: "APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE RITO ORDINÁRIO COM PEDIDOS DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PLEITOS PREAMBULARES E CONDENOU A CASA BANCÁRIA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. IRRESIGNAÇÃO DOS CONTENDORES. CASA BANCÁRIA QUE ARGUIU A AUSÊNCIA DE PROVAS DA QUITAÇÃO DE DÍVIDA DECORRENTE DE EMPRÉSTIMOS FIRMADOS PELOS ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 23 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br CONSUMIDORES. ALEGAÇÃO NÃO ACOLHIDA. CANCELAMENTO DAS HIPOTECAS VINCULADAS ÀS CÉDULAS RURAIS. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DA QUITAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVAS DO FATO EXTINTIVO DO DIREITO DOS AUTORES. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 333, II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. "Ora, não é crível que o Banco/Apelante tenha solicitado o cancelamento da hipoteca, se tal dívida não estivesse totalmente quitada, ou seja, os documentos, que se diga, sequer impugnados, rechaçam por completo a tese da existência de pendência financeira" (Apelação Cível n. 2012.021531-6, de Ipumirim, rel. Des. Dinart Francisco Machado, 31-5-2012)." (TJSC, Apelação Cível n. 2012.071403-4, de Imaruí, rel. Des. Altamiro de Oliveira, j. 06-11-2012 - sublinhei). Ademais, em razão do princípio da boa-fé objetiva e da confiança legítima, trazido pelo art. 422 do Código Civil e também pelo CDC, cumpre às partes agirem com probidade e boa-fé nos atos e comportamentos anteriores à conclusão do contrato, durante a execução e depois de exaurido o seu objeto. São os chamados deveres anexos do contrato, cuja violação constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa, nos termos do Enunciado 24 do CEJ. Dentre esses deveres anexos está o dever das partes de não agirem em contradição com os atos e comportamentos praticados anteriormente. Trata-se do chamado venire contra factum proprium que "...se caracteriza quando a parte, por seu comportamento pré-contratual ou manifestado durante a execução do contrato, gerou expectativa de legítima confiança na contraparte, que pratica atos e espera resultados de acordo com o que vinha demonstrando o outro contratante." (NERY JUNIOR, Nelson e Rosa ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 24 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Maria de Andrade Nery. Código Civil Comentado. 10ª ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 641). Foi o que ocorreu no caso dos autos, pois, ao enviar para o autor um recibo no sentido de que concedeu abatimento negocial e, principalmente, ao autorizar o cancelamento da hipoteca e da averbação do contrato após o ajuizamento da presente demanda, o réu agiu como se realmente houvesse concedido a quitação do contrato ao autor. Ora, se ainda tivesse interesse em receber eventual crédito não iria autorizar o cancelamento da hipoteca e nem o levantamento da averbação sobre a existência do contrato. E mais, praticar tais atos após o ajuizamento da presente ação revisional significa, de outro modo, reconhecer o pedido do autor no sentido do contrato já encontrar-se quitado. Sobre o tema já se manifestou a jurisprudência: "PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. QUITAÇÃO DA OBRIGAÇÃO. SUBSEQUENTE OPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. A propositura, pelo devedor, de exceção de pré- executividade, quando por ele jáefetuado o pagamento voluntário do crédito objeto da execução, revela comportamento contraditório, prática que não encontra acolhida em sede jurisdicional e consagrada no apotegma venire contra factum proprium." (TJSC, Apelação Cível n. 2014.007578-7, de Criciúma, rel. Des. Janice Goulart Garcia Ubialli, j. 18-06-2015). ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 25 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Também: "CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. ALUGUERES RELATIVOS À LOCAÇÃO DE SALA COMERCIAL. ATO CONTRADITÓRIO DO LOCADOR DEMANDADO. DEFESA BASEADA NA JUSTA NEGATIVA DO RECEBIMENTO DOS VALORES, ANTE A SUPOSTA RESCISÃO DO PACTO LOCATÍCIO. POSTERIOR LEVANTAMENTO DAS QUANTIAS CONSIGNADAS, COM QUITAÇÃO DAS PRESTAÇÕES. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRÁRIO À POSTURA ANTERIORMENTE ADOTADA PELA PARTE. QUITAÇÃO DOS VALORES NO PERÍODO. PROCEDÊNCIA DA CONSIGNATÓRIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO EVIDENCIADA. APELOS CONHECIDOS E PROVIDOS." (TJSC, Apelação Cível n. 2011.073859-8, da Capital, rel. Des. Ronei Danielli, j. 23-05-2013). Além disso, há se se ressaltar que a relação entre as partes é uma relação de consumo, em que o autor se mostra hipossuficiente perante a instituição financeira, o que reforça a aplicação do instituto acima mencionado e impede a ressalva feita pelo banco no recibo de fls. 102. Isso porque, uma vez passada a quitação, não se pode fazer ressalva que importe em possibilidade de futura cobrança, quando ocorrer evento futuro e incerto (concessão de novo crédito), bem como não se pode condicionar a perfectibilização da quitação a um evento futuro e incerto, tornando ela provisória. Soma-se a isso, o posterior cancelamento da hipoteca, o qual importa também em ato contrário à ressalva feita no recibo anterior. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 26 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Ademais, ao ser intimado para se manifestar sobre a petição de fls. 168-178, o banco impugnou genericamente os argumentos do autor e os documentos apresentados, o que importa em ausência de efeitos, pois "...não bastando a impugnação genérica, cujo efeito processual equipara-se a situação de ausência de impugnação." (TJSC, Apelação Cível n. 2012.087566-2, de Balneário Camboriú, rel. Des. Sebastião César Evangelista, j. 05-11-2015). Desta feita, constato a quitação do contrato em razão das atitudes liberatórias do réu. Por fim, diante da existência de quitação e da transferência do bem objeto do contrato, fica prejudicado o pedido no sentido de que a parte ré se abstenha de efetuar cobranças. - Exibição Quanto ao pedido de exibição de planilha demonstrativa dos índices de reajustes utilizados para a correção das prestações, verifico que o próprio autor acostou extratos, através dos quais possível a verificação dos juros e, ainda, a parte ré juntou logo após a contestação diversos documentos e planilhas suprindo as informações requeridas pelo autor. Ante o exposto JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE apenas para reconhecer a quitação do contrato em razão das atitudes liberatórias do réu. Destarte, resolvo o processo com fulcro no art. 269, I, do Código de Processo Civil. ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Rio do Sul 1ª Vara Cível 27 Endereço: Rua Dom Bosco, 820, Jardim América - CEP 89160-000, Fone: (47) 3531-4709, Rio do Sul-SC - E-mail: riodosul.civel1@tjsc.jus.br Diante da sucumbência recíproca, condeno a parte autora ao pagamento de 70% das custas processuais e honorários advocatícios do procurador do réu, fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, verba cuja exigibilidade, por reconhecer que faz jus aos benefícios da justiça gratuita, ficará suspensa enquanto não houver modificação de sua condição econômica, pelo prazo de cinco anos, período após o qual se extinguirá a obrigação, conforme preconiza o artigo 12, da lei 1.060/50 (Neste sentido: STJ, Resp nº 73.840 de Minas Gerais, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 21.11.95). Condeno o réu, outrossim, ao pagamento do saldo das custas (30%), e honorários advocatícios em favor do procurador do autor em 20% (dez por cento) do valor da causa, nos moldes do art. 20, § 4º, do CPC, admitida a compensação, Súmula 306 do STJ. Transitada em julgado, quitadas as custas, arquive-se. P. R. I. Rio do Sul (SC), 18 de novembro de 2015. Fúlvio Borges Filho Juiz de Direito
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