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1 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda Diarreia aguda Caso 1 • HMA: paciente P.O.S, 1 ano e 8 meses, iniciou há aproximadamente 24h, 8 dejeções líquidas sem sangue, associada a 2 episódios de vômitos, febre baixa e diminuição do apetite. Genitora refere que criança consegue ingerir líquidos, está ativa e diurese está presente. • AM: nascida a termo, baixo peso ao nascer; • Antecedentes vacinais: cartão atualizado; • Ant. alimentares: AME até os 2 meses, sendo então iniciado uso de fórmula para a idade. Então, é uma criança de 1 ano e 8 meses, com alteração de frequência e consistência das dejeções, com febre baixa e vômito. PERGUNTAS 1. Pela história clínica, qual a principal suspeita e a provável causa? Como alterou consistência e frequência, e está há menos de 14 dias, já se pensa em diarreia aguda. 2. Quais os sintomas presentes ou ausentes que reforçam essa suspeita? 3. Há algum fator de risco na história da paciente associado ao surgimento dessa condição? Panorama ❖ Importante causa de ida a emergência e parada de crescimento. ❖ Pneumonia e diarreia aguda: 30% dos óbitos em < 5 anos. ❖ 9-11 episódios no 1º ano de vida em população de baixa renda. Quanto mais pobre a população, maior o número de infecção intestinal (D. aguda) por ano, causando grande impacto na nutrição da criança. ❖ É importante contextualizar com a epidemiologia, pois a DA ainda mata. ❖ Redução de mortalidade nas duas décadas: algumas medidas de saúde pública foram muito importantes para diminuir a mortalidade da DA, pulando de 2ª para a 4ª causa de mortalidade. ❖ Medidas: TRO (terapia de reidratação oral): impacto astronômico. Vacinação rotavírus: foi essencial para diminuição. Apesar da rede pública ter só a monovalente, como há imunidade cruzada, acaba tendo proteção mais ampliada para outros sorotipos. Melhores condições de vida, alimentação, tratamento: além disso, o incentivo ao aleitamento materno que foi muito difundido nos últimos anos. DIARREIA X DESNUTRIÇÃO A criança, por conta de tantos episódios, vai ficando desnutrida, o que afeta a imunidade, causando maior risco para nova infecção intestinal. A mucosa da criança fica mais atrofiada, por conta da desnutrição, o que piora a diarreia. A diarreia piora a desnutrição e a desnutrição piora a diarreia. É uma bola de neve. Fatores associados • Desmame precoce: é o principal!! O aleitamento materno protege contra diarreia, inclusive pela estimulação da flora bacteriana intestinal; • Condições desfavoráveis de gestação e má nutrição materna; • Baixo peso ao nascer: prejudica a imunidade e a flora bacteriana; • Exposição sucessiva a múltiplas infecções; • Precárias condições de habitação, higiene e saneamento: é importante fator associado. • Ignorância dos pais: principalmente pelo desconhecimento da higiene na manipulação do alimento. Não sabem reconhecer a DA, o que fazer; • Baixa condição socioeconômica; • Nutrição e estado imunitário: desnutridos tem maior risco de DA, seja pela atrofia vilositária, seja pelo maior rico de fazer infecções. 2complicações É importante a intervenção precoce para evitar as complicações que podem levar aos óbitos. COMPLICAÇÕES MAIS AGUDAS: Distúrbio hidroeletrolítico; Distúrbio ácido base; Desidratação; Desnutrição. COMPLICAÇÕES NÃO AGUDAS: Chance de desenvolver uma diarreia persistente e comprometer o estado nutricional. A diarreia persistente é acima de 14 dias. O que leva uma 2 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda diarreia aguda a se tornar persistente: às vezes, no estado nutricional da criança, o próprio alimento é um estímulo trófico para a recuperação do epitélio, levando a uma recuperação não adequada. Com a destruição da vilosidade da borda em escova, perde- se a lactase, faz uma intolerância à lactose transitória secundária após o processo infecioso. Isso é muito comum em rotavírus. ❖ Óbito: seja pelas complicações agudas ou pela desnutrição. Fatores de risco: há maior chance de desenvolver complicação: 1. Idade precoce (< 2 meses); 2. Comorbidades: hepatopatia, nefropatia, falcêmicos, imunossupressos, dentre outros; 3. Dieta restritiva: a criança não se alimenta adequadamente. Por causa socioeconômica ou restrição alimentar de fato; 4. Atraso no atendimento e reconhecimento de sinais de alarme; 5. Desnutrição pregressa; 6. Atendimento médico inadequado: Infelizmente ainda muito presente até hoje. Definição • Autolimitada: Diarreia que dura até 14 dias, portanto, geralmente são processos autolimitados. • Etiologia infecciosa (vírus, bactérias, parasitas) X Não infecciosa (diarreias osmóticas por intolerâncias alimentares, ATB, infecções sistêmicas, psicogênica). A maior parte tem origem infecciosa, mas algumas podem ser não infecciosas. A anamnese da criança com diarreia aguda deve ser uma anamnese completa associada ao exame físico não só do abdômen, na medida em que, otites/meningites/infecções urinárias podem se manifestar com diarreia, principalmente em crianças menores. • Dano estrutural e/ou funcional: As diarreias agudas ocorrem pelo desequilíbrio entre absorção e/ou secreção seja por dano estrutural ou dano funcional. Por exemplo, uma bactéria/agente patogênico que produz uma toxina que altera a secreção → Dano funcional. Bactéria, como a E. coli enterohemorrágica, que leva a dano de mucosa → Dano estrutural. Leva o comprometimento da superfície absortiva e, consequentemente, compromete a secreção, os transportadores de maneira passiva (mecanismo secretor passivo). • Desequilíbrio entre absorção e secreção hidroeletrolítica; • Mudança de consistência e/ou frequência (>2 dejeções). Se o paciente faz cocô todos os dias 1x ao dia, mas de consistência super líquida, isso é diarreia? Ou então aquele paciente que defeca 3/4x ao dia, mas o cocô sai endurecido, isso é diarreia? Deve-se avaliar sempre o padrão normal da criança. Embora exista a definição clássica de mais de duas dejeções, ou seja, 3 ou mais dejeções ao dia, com alteração de consistência. É preferível a definição de considerar o padrão normal da criança, e avaliar se houve mudança de consistência e/ou frequência. Avaliar principalmente mudança na consistência, já que a frequência depende muito do padrão anterior da criança. Por exemplo, uma criança constipada que começou a defecar duas vezes ao dia (que ainda é considerada uma frequência normal de acordo com a definição clássica), mas as fezes têm consistência líquida. Isso pode ser caracterizado como um quadro de diarreia. Já uma criança que defeca 4 vezes ao dia, que é o padrão normal dela, e as fezes saem consistentes/duras, não apresenta um quadro de diarreia. Levar em consideração, em conjunto, a frequência, a consistência e o padrão habitual da criança. • Se sangue: disenteria. Classificada como uma diarreia aguda inflamatória; • Transmissão fecal-oral: mãos, fômites, alimentos, água. O QUE SE PERDE EM UMA DIARREIA? Importante para definir quais as prováveis complicações hidroeletrolíticas e até mesmo para a terapêutica. • Perda fecal normal: (hipotônicos): água (20g/kg/dia – 200 ml); Na (10 mEq/kg); K (40mEq/kg). 3 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda • Diarreia: ❖ Água: 30-60 g/Kg/dia (200 mL) – Na diarreia, a perda de água pode triplicar, levado o paciente a desenvolver desidratações importantes. ❖ Na: 40-60 mEq/Kg (Cólera – 120 mEq/Kg) – A perda de sódio pode chegar a ser 12 vezes maior que o normal nos casos de cólera. A perda de sódio, em uma diarreia, é grande. ❖ K: 60 mEq/Kg – A perda de potássio também é relevante. A possibilidade do paciente fazer uma hiponatremia hipovolêmica (perda de sódio e de água) na diarreia é grande. Portanto,a terapêutica de intervenção deve ser adequada, seja ela de reidratação oral ou por terapia endovenosa a fim de evitar esses distúrbios hidroeletrolíticos e os distúrbios ácido-base envolvidos. • Vômitos (suco gástrico): ❖ Na: 10mEq/L; ❖ H: 80-100mEq/L. Classificação De acordo com a OMS, a diarreia aguda é classificada em inflamatória e não inflamatória. • Aguda aquosa: Não inflamatória; • Aguda com sangue (disenteria): Inflamatória; • Persistente: Quando passa de 14 dias. Diarreia aguda aquosa • < 14 dias; • Desequilíbrio absorção/secreção; • Etiologia viral/bacteriana. São as mais comuns. Possuem mecanismo secretor ativo, podendo ser de etiologia viral ou bacteriana. O que predomina é o desequilíbrio absorção/secreção. Diarreia aguda com sangue • < 14 dias; • Lesão de mucosa; • Etiologia bacteriana: Shiguella. Nas disenterias, ou diarreias inflamatórias, o que predomina é a lesão de mucosa. Pode ter etiologia viral, embora, geralmente, tenha etiologia bacteriana, sendo a principal bactéria a Shiguella. O Rotavírus também pode ter um mecanismo de lesão de mucosa, mas é uma lesão mais superficial, o sangramento é pouco e sua ocorrência é rara. IMPORTANTE!!! Nem todo sangramento significa que é bacteriano. Diarreia persistente • >14 dias; • Risco de desnutrição. Classificação de gravidade A diarreia é classificada em leve, moderada e grave a depender do grau de desidratação. ❖ Leve: Sem sinais de desidratação; ❖ Moderada: Sinais de desidratação leves ou moderados, sendo possível fazer a reidratação por via oral; ❖ Grave: Desidratação mais intensa acompanhada ou não de distúrbios eletrolíticos. Requer terapia venosa. Não é muito utilizada na prática para classificar a diarreia, classifica mesmo o grau de desidratação. Classificação em alta, baixa ou mista Pode-se classificar a diarreia também de acordo com o principal local de acometimento, se alta ou baixa, e o que determina o aspecto das fezes. Essa classificação é importante principalmente para diarreia crônica, na medida em que, na diarreia aguda, muitos dos patógenos acometem ambos os segmentos (delgado e grosso). Embora patógenos como a giardia (causa infecciosa parasitária), por exemplo, sejam mais de acometimento alto, dando características de diarreia alta, de má absorção, restos alimentares. Já a ameba é de acometimento mais baixo. Alguns vírus podem atingir todo o TGI, algumas bactérias atingem mais o cólon, outras afetam mais o intestino delgado. Isso 4 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda não é tão importante para diarreia aguda, às vezes não vai mudar muito, até porque nos quadros infecciosos é mais misto. Alta ❖ Intestino delgado – as fezes geralmente apresentam restos alimentares, porque não dá tempo de digerir, às vezes acaba diminuindo as superfícies absortivas; ❖ Poucas dejeções; Grande volume; ❖ Restos alimentares. Baixa ❖ Intestino grosso; ❖ Grande número de dejeções; Pouco volumosas; ❖ Tenesmo/sangue e pus. Mista ❖ Ambos os segmentos; Quem mais responde pela frequência é o intestino grosso. Quando ele é acometido e tá trabalhando com uma motilidade então, num processo inflamatório da mucosa, aumenta-se a motilidade e tem um ganho num maior número de dejeções. Por outro lado, quando acomete intestino delgado, como se tem uma grande absorção de líquido no delgado tem-se fezes muito volumosas. A gente sabe que o intestino grosso, o cólon tem uma superfície e capacidade absortiva grande, mas em termos numéricos, a quantidade de secreção e do que é absorvido no delgado é muito maior. A gente ingere 2L de água, mas tem a secreção própria da cavidade intestinal, em torno de 6-7L, por exemplo; chega no intestino grosso bem menos que 2L, então a maior parte foi absorvida lá no delgado. Por isso, as fezes saem mais volumosas no delgado, enquanto que quando o acometimento é no grosso, as fezes são menos volumosas, mas com maior frequência. E como o acometimento baixo, os patógenos de intestino grosso causam inflamação, lesão de mucosa, pode ter sangue, tenesmo. Classificação A classificação da diarreia pode ser com base na fisiopatologia, sendo que o mesmo patógeno pode dar vários mecanismos diferentes. Ex.: rotavírus, pode causar uma lesão de mucosa, dar uma diarreia secretória passiva, mas pode destruir as vilosidades, diminuir lactase na borda em escova, diminuindo portanto, a quebra da lactose em galactose e glicose; esses açucares que serão absorvidos, serão fermentados no intestino grosso pelas bactérias, produzindo ácidos graxos e radicais ácidos, o que aquele aspecto de diarreia osmótica de fato tem; fezes explosivas, de odor bem fétido, distensão e dor abdominal, hiperemia perianal. E, também podem fazer parte da fisiopatologia das diarreias infecciosas, por conta dessa destruição de mucosa e diminuição das enzimas, a lactase, principalmente. Mas, quando se tem qualquer sobrecarga de carboidrato, pode também ter esse componente osmótico (ex.: diarreia do aniversário de criança, o excesso dos laxantes pelos adolescentes). Osmótica • Aumento da osmolaridade luminal: Carboidratos/ laxantes/ deficiência enzimática/ infecciosas. • Infecciosa: Destruição da mucosa do intestino delgado proximal --- redução de lactase na borda em escova ---- aumento da lactose não digerida na luz intestinal. • Excesso de açúcar fermentado por bactérias – ácidos graxos cadeia curta, radicais ácidos. • Diarreia aquosa e explosiva, distensão, dor abdominal, hiperemia perianal, flatulência, fezes ácidas, fétidas, cólicas, distensão. Secretória • Precisa saber se é ativa ou passiva: depende da fisiopatologia. • Perda de água é muito superior do que nas diarreias osmóticas, então aumenta o risco de desidratação. É muito mais comum chegar uma criança desidratada por uma diarreia infecciosa. ❖ Principal mecanismo das infecções; ❖ Perda de Na2+ superior a osmótica (>70 mEq/L); Ativa: mucosa íntegra (sem lesão de mucosa) - quando um fator ativamente estimula a secreção; então, não tem uma lesão de mucosa, aí tem alguma toxina ou bactéria que vai estimular aquelas vias de secreção AMP, canais transportadores de cloro, sódio, consequentemente água. O protótipo é cólera; a toxina da cólera estimula a liberação de 5 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda cloro, sódio e água. Tem uma perda fecal muito grande desses componentes. A E. coli enterotoxigênica e enteropatogênica também. • Estímulos secretores, toxinas, microrganismos (ETEC, CÓLERA) – criptas • Fezes líquidas em grande quantidade/ Pouca febre, sangue ou muco. Passiva: lesão de mucosa (rotavírus, shigella, salmonela, EHEC, EIEC, Yersínia, Campylobacter). • Não tem a presença de um patógeno que está atuando ativamente nessa secreção, mas de maneira passivamente; por conta da lesão de mucosa, altera-se a absorção e o funcionamento dos transportadores. Portanto, passivamente também aumento de secreção e diminuição de absorção nesse processo inflamatório de mucosa. • Febre/ Disenteria/leucócitos fecais. Outras classificações • Alteração de absorção iônica: Cloridorreia congênita; diarreia profusa; • Alt. de permeabilidade: DII, celíaca, alergias; • Alterações de motilidade: aumento ou diminuição. Além do componente osmótico e do componente secretor, alguns patógenos também induzem alterações de motilidade, principalmente aumento de motilidade. Algumas alterações que levam a diminuição da motilidade também podem cursar com diarreia que favorecem o supercrescimento bacteriano; altera funções de troca e de absorção. Então, nem toda diarreia é por aumento de motilidade. Algumas condições, particularmente para diarreia crônica alteram permeabilidade como: doenças inflamatórias, doençascelíacas, alergias alimentares alterando a capacidade absortiva da superfície. Mais raramente, a diarreia pode ocorrer por alterações de alguns transportadores como na cloridorreia pungenta, em que vai ocorrer perda excessiva de cloro, água e sódio levando a uma diarreia profusa que leva a óbito nos primeiros dias de vida. Etiologia • Vírus: Rotavírus, norovírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (norovírus) e astrovírus. --- principais agentes. • Dentro de uma diarreia aguda infecciosa os mais comuns são por vírus. Adenovírus e rotavírus ocupam o primeiro e segundo lugar, só que o norovíus tem muitos surtos em determinadas épocas do ano e acabam ocupando o segundo lugar. O coronavírus também, tanto o de agora quanto antigo são causas de diarreia aguda. • Bactérias: E. coli, aeromonas, pleisiomonas, salmonella, Shigella, yersinia Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae. A Shiguela é a principal. • Parasitos: Entamoeba histolytica, Giardia lambia, Cryptosporidium, Isospora. • Fungos: Candida albicans. • Imunossupressos ou antibiótico prolongado: Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, Isospora, HIV. Obs: Às vezes não temos condições de pesquisar o agente etiológico, então o agente não é reconhecido na maioria das vezes. Mas pela clínica nós vamos tentar entender se é um quadro viral ou bacteriano. Diagnóstico diferencial Nem toda criança que chega com diarreia ou que chega com diarreia e sangue pode não ser uma diarreia infecciosa. Temos então diagnósticos diferenciais: • Alergia ao leite de vaca/ enterocolites alérgicas. Ex: bebezinho que chegou para você na emergência com diarreia e sangue. O que pode ser? Menos de 10% das crianças vão ter esse quadro de diarreia e disenteria. E quando tem infecção geralmente pode ter febre. Se não tiver febre a gente tem que pensar em infecção que ainda não começou a febre ou então teve febre 2 dias e depois não teve mais. Então, se não tiver febre, somente diarreia com sangue, pensar em alergia alimentar; invaginação, que é quando a alcinha do intestino entra na outra como se fosse um telescópio (Não entendi a analogia), ou pensar em Síndrome Hemolítica Urêmica que dá quadro de insuficiência renal e trombocitopenia associado a E. coli enterotóxica e Shiga like, mas são condições mais raras. Resumindo: Se você pegar um paciente com diarreia e sangue pensar nestas possibilidades: infecção, intolerância ao leite da vaca e Síndrome hemolítica urêmica (SHU). 6 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda Mas alguns outros quadros levam a uma diarreia aguda que devem também entrar no diagnóstico diferencial: ❖ Deficiências enzimáticas/ lactase: déficit de lactase seja a pungenta ou a adquirida ou causas genéticas; ❖ Apendicite aguda: pode vir com diarreia, dor abdominal, vômito e febre. Sempre avaliar abdômen, não esquecer!! ❖ Uso de laxantes, chás e ATBs (especialmente amoxacilina com clavulonato); ❖ Intoxicação por metais pesados; ❖ Distúrbios psicogênicos. Ex: Chegou um bebezinho de 4 meses, a mãe falou que começou a introduzir o leite em fórmula há 2 dias e hoje a criança começou a ter sangue nas fezes. Vamos pensar em que pincipalmente? Infecção: pois o preparo pode não ter sido feito correto e contaminou. Intolerância ao leite de vaca (ITLV) Obs: Se tiver febre, infecção é a primeira hipótese, pois não pensamos em IPLV na criança com febre. Essa situação é mais comum nos lactentes do que em crianças maiores. Principais patógenos virais Rotavírus • Principal agente (12-24%) em todo mundo: Dentre os quadros virais, que são os mais comuns, o que predomina é o rotavírus. • Nordeste: distribuição uniforme ao longo do ano e em algumas regiões tem uma sozonalidade; • 6 meses a 2 anos: principais idades acometidas. Conforme vamos pegando rotavírus ou as crianças são imunizadas, elas começam a ter imunidade cruzada, reduzindo a incidência de rotavírus ao longo da idade; • Transmissão fecal-oral; Duração de 3-8 dias; • Além de dar sintoma intestinal, como febre, vômito e às vezes sangue nas fezes, pode dar também sintomas respiratórios; • A vacinação teve um impacto muito grande, pois reduziu muito o número de casos, principalmente a vacina da rede particular, que tem uma valência maior (pentavalente), sendo da rede pública a monovalente. Adenovírus • Não dá sintomas respiratórios entérico. Tem o adenovírus que causa sintoma respiratório e o adenovírus que causa sintoma entérico (não dá sintoma respiratório associado); • Se tem uma criança com diarreia, coriza e tosse, isso não é adenovírus; provavelmente será rotavírus, porque adenovírus respiratório não causa sintoma gastrointestinal. • 2º agente viral: mas ele perde um pouco para o norovírus, a depender da época do ano; • Não causa sintomas respiratórios e conjuntivite; • Fecal/oral; Diarreia até 15 dias. • Febre/vômitos; Principais patógenos bacterianos E. coli • Alimentos contaminados; • Adesão a mucosa e enterotoxinas; Subtipos de E. coli: dependem do mecanismo fisiopatológico: ETEC; EHEC: E. coli O157: H7: toxina “shiga like” – SHU; EIEC; EPEC. Salmonella • Água e alimentos contaminados (ovo/laticínios); • Fecal – oral; • Clínica: disenteria/febre; • Tem maior risco de gravidade: falcêmicos, imunossuprimidos e lactentes jovens; Não tratamos com antibiótico pacientes com salmonella que não estejam graves e que não tenham comorbidades ou fatores de gravidade, pois aumentaria o risco de ser um portador são, geralmente aqueles surtos de salmonella de restaurante, onde o preparador do alimento é um portador são, pois se ele fosse sintomático ele não estaria no trabalho. Esse portador são começa a disseminar no preparo do alimento, principalmente no alimento mal cozido, dando aquele surto de salmonelose. Se trata com antibiótico, aumenta o risco de ter esse portador são circulando na unidade. Shiguella • Principal agente do nosso meio, tanto que o tratamento empírico com antibiótico nos casos de 7 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda disenteria é direcionado para shiguella, considerando essa possibilidade; • Fecal – oral; • < 10 anos; • Clínica: disenteria/febre; • Complicações: Pode causar tanto quadros leves quanto quadros mais graves, como sepse e pneumonia. Campylobacter • Diarreia do viajante; • Água e alimentos contaminados; • Fecal-oral; • Clínica: disenteria/febre; • Duração: 7 dias. Yersinia • Carne de porco e leite contaminados; • Clínica: febre/disenteria; • Duração: 7-21 dias. Campylobacter e Yersinia não são muito comuns no nosso meio, mas tem que ser considerados. A Yersinia pode até simular uma doença de crohn, de acometimento ileal na colonoscopia. Cólera Teve uma importância no passado, matou muita gente, mas teve uma grande redução de mortalidade com a terapia de reidratação oral; • Fecal – oral: água e alimentos contaminados; • Clínica: diarreia profusa: “água de arroz”. Outros • Isospora; Aeromonas; Cyclospora. Principais patógenos parasitas • Giardia lambia: má absorção; comprometimento alto; • Entamoeba histolytica: disenteria/febre. Acometimento mais baixo; • Strongyloides stercoralis: má absorção; • Cryptosporidium Parvum: imunodeprimidos. O QUE FAZER NA SUSPEITA DE D.AGUDA 1. Anamnese: há indícios de etiologia infecciosa? Ex.: criança que foi em um aniversário no dia anterior, comeu muito brigadeiro, e hoje começou com diarreia ... então, provavelmente é uma diarreia osmótica. Se tiver febre, pensa em diarreia infecciosa, ou se em casa todo mundo estiver com ameba, pensa em etiologia infecciosa parasitária; 2. Há necessidade de exames complementares? na maioria das vezes não é necessário, mesmo pensando em etiologia infecciosa; 3.Há desidratação? Qual o grau? para determinar qual a conduta terapêutica; 4. Há fator de risco de gravidade? 5. Há necessidade de internamento? Avaliação clínica Anamnese • Idade: quanto mais jovem, maior o risco de complicação; • Duração e número diário de evacuações: quanto tempo está com diarreia; mais de 8 evacuações por dia tem maior risco de ter complicação; • Sangue/pus nas fezes: aspecto das fezes; • Vômitos/febre; • Inquérito alimentar e de ingesta de líquidos: se comeu algo diferente do habitual, se comeu na rua, se está conseguindo se alimentar, se está conseguindo ingerir líquidos; • Contato com doentes em casa ou na escola/viagens recentes; • Medicamentos: se ingeriu alguma medicação ou substância suspeita; • Comorbidades: se tem imunização completa para rotavírus, embora não proteja 100%; pode ter rotavírus mesmo vacinado; • Histórico de imunizações; • Diurese e peso recente: peso é o melhor indicador para avaliar desidratação, só que acaba sendo um dos menos utilizados, porque às vezes a mãe não sabe o peso mais recente anterior da criança. Imagem: manifestações similares ao bebê do caso: febre, vômito, mal- estar, diarreia, dor na barriga, perda de apetite. 1. Pela história clínica, qual a principal suspeita e provável causa? Diarreia aguda infecciosa de etiologia provavelmente viral. 8 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda Pensa-se em infecciosa porque o paciente tinha febre. Além disso, sugere-se um quadro viral porque o paciente estava em bom estado geral, sem sangue nas fezes e com febre mais baixa. 2. Quais os sintomas presentes ou ausentes que reforçam essa suspeita? Vômitos + diarreia <14 dias + febre baixa; Ausência de sangue nas fezes e criança ativa em bom estado geral. 3. Há algum fator de risco na história do paciente associado ao surgimento dessa condição? Desmame precoce, baixo peso ao nascer. Colhida a história, é hora de ir para o exame físico dessa criança. VOLTANDO AO CASO CLÍNICO • EF: Paciente ativo, corado, febril ao toque, chorando com lágrimas. • FC: 100 bpm FR: 30ipm Tax: 37,8 ºC Peso: 14 kg. • TEC: 2 seg, sinal da prega desaparece rapidamente • Mucosas úmidas. • Pulsos cheios, extremidades bem perfundidas. QUESTÕES 1. Há achados no exame físico? Não há alterações, além da febre. 2. Pelo exame físico esse paciente encontra-se desidratado? O paciente encontra-se hidratado. 3. Quais exames devem ser solicitados para o paciente? 4. Qual conduta terapêutica? 5. Quais orientações devem ser dadas a mãe? Exame físico • Estado de hidratação: FOCAR!!! • Estado nutricional; • Estado de alerta (ativo, irritável, letárgico); • Capacidade de beber; • Diurese: presente ou não. • Percentual de perda de peso: melhor indicador de desidratação. Estimar a perda de peso: ❖ < 5%: leve; ❖ 5% e 10%: moderada; ❖ >10%: grave. Hoje em dia não se usa a classificação de leve, moderada e grave, utilizando a classificação da OMS. Pela OMS classificamos como: não desidratado, desidratado e desidratado grave. Dica da professora: Muda a música “cabeça, ombro, joelho e pé” por “cabeça, olho, boca, barriga e membros”. Assim, olha-se o neurológico da criança, se está alerta, irritado ou hipoativo/letárgico. Olhos: se estão normais, fundos ou muito fundos. Lágrimas: presentes ou ausentes. Boca: úmida, seca ou muito seca. Sede: se bebe normalmente, com avidez ou não é capaz de beber. Ao examinar, realizar o sinal da prega na barriga da criança: se desaparece rapidamente, lentamente ou muito lentamente. No membro, avaliar o pulso: se está cheio, débil, muito débil ou ausente. Para avaliar o enchimento capilar, aperta-se a mão da criança por 15 segundos e a abre posteriormente, contando o tempo em que a mão volta a ficar vermelha. Até 3 seg é normal; prejudicado é de 3 a 5 seg; > 5 seg é muito prejudicado. Essas avaliações servem para classificar o quadro de desidratação da criança e traçar o plano de tratamento (A, B ou C). Se a criança estiver bem, ativa, sem nenhuma alteração desses fatores (cabeça, olhos, lágrima, boca e língua, barriga e membros) → não desidratada. Dois sinais de alteração desses fatores → desidratada. Se tiverem dois desses fatores → desidratada grave; porém, um desses fatores necessita ser objetivo (sinais de má perfusão). 9 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda Exemplos: Desidratado: criança irritada, chorosa, sedenta, pedindo muita água, pulso rápido, enchimento capilar lento (3 a 5 seg). Desidratado grave: Paciente hipoativo, letárgico, chumbado, não consegue beber líquido, sinal da prega nem existe mais, enchimento prejudicado que se perde na contagem. Porém, precisa de ao menos um sinal objetivo para classificar como desidratado grave. Quando se fala em sinal objetivo, é aquele que não varia de observador. Ex: olho (diferença de fundo ou muito fundo), boca (seca ou não seca) é muito subjetivo, não servindo como sinal objetivo. O sinal da prega de um desnutrido já demoraria de voltar, não sendo um sinal objetivo. Os sinais objetivos são: neurológicos (todo mundo percebe que a criança está chumbada), sede (fácil observar se está bebendo ou não), pulso (fácil de observar se está ausente ou débil) e enchimento capilar (tempo não varia na contagem, se contado adequadamente). Caso tenha-se ao menos um sinal objetivo, com mais um da coluna C, classifica-se como desidratado grave. Alguns outros sinais não fazem parte da classificação da OMS, mas ajudam a classificar a criança como desidratada. Exemplo: moleira aprofundada, olhos fundos, boca e pele secas, pele acinzentada (caso não esteja frio), prega na pele, redução de diurese mais de 2 horas. DESIDRATAÇÃO • Classificação em leve (<50ml/kg - <5%), moderada (50-100 ml/kg- 5-10%) e grave (>100 ml/kg->10%); • Não é utilizado muito hoje em dia. Exames complementares • Dispensáveis na maioria dos casos; ❖ Coprocultura: crianças hospitalizadas ou com comorbidades, GECA bacteriana, diarreias prolongadas, quadros graves; infecções mais arrastadas como Campylobacter. ❖ Hemograma e hemocultura: não muda a conduta; normais na maioria (leucocitose e desvio em GECA bacteriana); Pode ter um hemograma normal e infecção bacteriana; realiza se for internar. ❖ EPF (parasitológico de fezes): para agentes parasitários; fazer se tiver pensando em giardíase, colite amebiana, principalmente quando o quadro for mais prolongado. ❖ Leucócitos fecais/ sangue oculto: inespecífico (inflamação/ infecções virais e bacterianas/ alergias alimentares); não tem porquê pedir na emergência. ❖ PH fecal/ substâncias redutoras: intolerância a carboidratos – diarreia prolongada/persistente; ❖ Vírus nas fezes: rotavírus/adenovírus; se o local de trabalho possuir esse serviço. Não é obrigatório. ❖ Gaso, eletrólitos: em quadros grave, pacientes que vão ficar internados; ver se tem algum quadro associado; Não precisa de exame complementar para definir conduta. Na maior parte das vezes, não precisa nenhum exame complementar para definição da conduta. Quando fazer? Pacientes que vão ficar hospitalizados, quadros mais graves, dúvida diagnóstica, pacientes com comorbidades que precisa tratar uma salmonella; GECA bacteriana (não é obrigatório), pode fazer tratamento empírico com antibiótico, mas se tiver a possibilidade de coletar, pode coletar, porém não é obrigatório, só se for internar. Tratamento • Lembrar da classificação (tabela) do estado de hidratação que leva em conta: cabeça, olho, boca, barriga e membro superior e mão/braço. • Sempre olhar o neurológico: olhos, boca, tempo de enchimento capilar, sinal da prega e os pulsos. • Se esse paciente já estiver mais irritado, mucosas mais secas, olhos mais fundos, tempo de enchimentocapilar mais lentificado, pulso mais rápido (e às vezes mais fraquinho), sinal da prega mais lento → Plano B. • Se esse paciente tiver sinais de desidratação grave, como: rebaixamento do nível de consciência, bebendo muito mal a água, enchimento capilar muito lentificado, pulsos quase impalpáveis, prega 10 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda muito lentificada ... Tem que ter dois desses sinais, sendo que um desses sinais precisa ser objetivos (neurológico, tempo de enchimento capilar, pulso e incapacidade de ingerir líquido); 1 desses sinais objetivos associado a 1 outro sinal de desidratação grave → Desidratado Grave → Plano C. Ex. O menino do caso abaixo apresentado. CASO 1 ❖ HMA: paciente P.O.S, 1 ano e 8 meses iniciou há aproximadamente 24h, 8 dejeções líquidas sem sangue, associada a 2 episódios de vômitos, febre baixa e diminuição do apetite. Genitora refere que criança consegue ingerir líquidos, está ativa e diurese está presente. ❖ AM: nascida a termo, baixo peso ao nascer; ❖ Antecedentes vacinais: cartão atualizado; ❖ Ant. alimentares: AME até os 2 meses, sendo então iniciado uso de fórmula para a idade. O menino não estava desidratado; estava ativo, ingerindo líquidos, sem achados → Plano A (Plano de tratamento domiciliar). Plano A • Plano A: sem desidratação; ❖ Tratamento em domicílio; ❖ Aumentar a oferta de líquidos (evitar adoçados, sucos de caixinha, gatorade). SRO (10ml/kg) após perdas + líquidos adequados (água, sopas, sucos não adoçados, água de coco, leite materno). Obs.: Inadequados: refrigerantes, líquidos engarrafados, chás e sucos industrializados, café. Oferecer sempre o SRO após os episódios de evacuações diarreicas e vômitos! Idade Quant. de líquidos que devem ser ingeridos após cada evacuação diarreica Menores de 1 ano 50-100ml De 1 a 10 anos 100-200 ml Maiores de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar Não é pra tomar o soro como se fosse água; só é para tomar com intuito de repor a perda! • Manutenção da alimentação habitual (evitar alimentos açucarados e muito gordurosos) e aleitamento (importante: não é pra diluir o leite/fórmula para ficar fraco, pois a criança irá perder peso). Medicação: Além dos casos em que é necessário o uso de antibiótico em infecção bacteriana tem a suplementação de zinco. • Iniciar a suplementação de zinco (10 – 14 dias): mostra impacto de redução na duração, recorrência de diarreia nos próximos 3 meses. É um co-fator enzimático, que ajuda na parte de recuperação de epitélio, de recuperação de função celular, eleva a imunidade e aumenta o apetite. Tem grande impacto na saúde pública; o benefício supera o custo do medicamento em todo caso de diarreia aguda em menores de 5 anos. Isso em países subdesenvolvidos. ❖ <6 meses: 10 mg/dia; > 6 meses: 20mg/dia. • Orientar sobre práticas de medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos e alimentos, tratamento da água); • Orientar sinais de alarme: piora da diarreia (8-10 dejeções ao dia), vômitos frequentes, sangue/muco nas fezes, recusa para ingestão de líquidos, febre que não cede com medicação, muita sede, diminuição da atividade e diurese (por mais de 6- 8h), presença de sinais de desidratação, piora do estado geral. • Reavaliação em 48h se não houver melhora ou imediatamente se houver sinal de alarme. Plano B • Plano B: Alguma desidratação, porém sem sinais de desidratação grave; ❖ Tratamento na unidade de saúde; ❖ Terapia de reidratação oral; • SRO continuamente até desaparecer os sinais de desidratação; • Inicialmente 50 a 100 mL/kg em 4-6h; • Sem outros alimentos (exceto Leite materno). Reavalia a cada 2h pra observar se houve melhora, se permanece do mesmo jeito ou piora. • Pesar de 2/2h; Após reavaliação: observar a clínica. • Sem desidratação: Plano A; 11 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda • Desidratado: gastróclise (20ml/kg/h 4-6h): o ideal é fazer com BI; quando o paciente mantém o mesmo grau de desidratação, não tá tomando tanto soro ou tá vomitando um pouco mais → passar sonda nasogástrica (SNG, de preferência). A gastróclise é só se manter o quadro de desidratação (sem melhora ou piora) por 2h, porque geralmente a criança não quer ingerir a TRO. Se o paciente tiver pior, com o nível rebaixado da consciência, não pode colocar muita coisa no estômago, porque ele pode rebaixar e broncoaspirar. Se tiver melhor, ele vai pra casa. Então, se nem melhorou nem piorou em 2h, faz gastróclise. Na prática, não existe o plano B; passa-se do plano A pra o C. Porém, acesso venoso provoca estresse na criança, pra os pais, pra equipe, gasto de material, e pode provocar uma flebite, pois é manipulação de veia. • Desidratado grave: Plano C – hidratação venosa – se depois de 2h de TRO não tiver melhorado nada e apresentar piora. • Critérios de alta: hidratação completa e reínicio de alimentação (estimular na própria emergência a alimentação). Se tiver hidratado e aceitando tudo de líquido vai para casa com plano A. *Uma coisa errada que fazem é quando o paciente chega desidratado, mal perfundido, com desidratação grave, precisando de acesso venoso e não conseguem, inventam de colocar gastróclise nessa criança. NÃO PODE! Não pode encher o estômago dela; é preciso então fazer a hidratação pelo intraósseo. Terapia de reidratação oral • Impacto significativo em morbimortalidade; • Princípio: via sódio-glicose-água preservada. Na maior parte de diarreia aguda altera as funções dos transportadores, mas o acoplado de sódio e glicose permanece intacto. Então, é um dos poucos transportadores que continuam funcionando. Então, usa-se a glicose, o sal e, consequentemente, a água vai entrar. Isso que acontece na hidratação oral, e por isso não se usa só água e sal ou só água e açúcar; OBJETIVOS DA TRO Repor perdas: prevenção (plano A) e reparação (plano B). • Soro caseiro: pode ser utilizado, mas ele peca em algumas coisas, como estar sujeito a manipulação dos pais, que pode não colocar as medidas adequadas e/ou utilizar água contaminada. O ideal é que utilize os soros industrializados mesmo, pois, além de ter a quantidade adequada de sódio e glicose, ele também tem potássio e citrato, que é importante nas correções do distúrbio acidobásico (citrato é convertido em bicarbonato, e se tiver com acidose, acaba corrigindo também). • Soluções de baixa osmolaridade X tradicionais; • MS: 90mmol/L: Os postos e o Ministério da Saúde disponibilizam ainda o antigo, com osmolaridade 90, que é um pouco maior. A OMS, a partir de 2002 recomenda a solução com osmolaridade um pouco mais baixa, pois a osmolaridade maior corrige a desidratação, mas aumenta a perca diarreica. O ideal é uma osmolaridade em torno de 75. • Prevenção: SRO baixa osmolaridade (45mmol/L) + líquidos de baixa osmolaridade: Não são tão indicados para fazer plano B, mas poderia utilizar no plano A; então eles corrigem a desidratação, mas não tanto quanto uma solução de osmolaridade um pouco maior; vai usar em um paciente que não está tão desidratado, então não tem problema. • Reversão: SRO (60-90mmol/L) OBS: SRO 45: sódio 45 mEq/l; potássio 20 mEq/l; cloreto 35 mEq/l; citrato 30 mEq/l; glicose 126 mmol/L. Plano C • Desidratação grave: Paciente que chega super rebaixado, mal perfundido, pulso quase impalpável. Não pode fazer via oral; tem que ser via parenteral. ❖ Unidade de saúde: Reidratação via parenteral (1 a 2 acessos venosos calibrosos/ intraósseo): soluções isotônicas, que 12 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda garantam manter o volume no vaso. Não pode tratar paciente com soro glicosado, pois ele vai todo para dentro da célula (lembrando da distribuição de líquidos corporais,tem que ter uma solução isotônica de osmolaridade similar a osmolaridade do plasma, para que ele persista no vaso e consiga fazer a expansão volêmica do paciente). Pega em torno de 1 a 2 acessos mais calibrosos e, se não tiver condições de acesso periférico (quando fica muito desidratado, as veias ficam com difícil acesso), faz o intraósseo (desidratado grave, chocado, hipovolêmico, faz o intraósseo). • Indicações: ❖ Desidratação grave/ choque hipovolêmico. ❖ Contraindicação de via oral: preferir a via parenteral. Ex.: pacientes com abdome agudo, íleo paralítico, convulsões ou alteração do nível de consciência. Expansão (quadros), baseados no Ministério da saúde: Primeiro ela é dividida em menores de 5 anos e maiores de 5 anos (na prática, faz para todo mundo igual): • Soro fisiológico 20mL/kg em torno de 20-30 minutos, repetindo a cada 20 min o soro, até que a criança esteja hidratada; • Se for cardiopata, não coloca tanto volume; faz 10mL/kg, e deixa 30 min; • Em menor de 5 anos: faz a expansão volêmica rapidamente; • O MS coloca que para maiores de 5 anos faria 20mL/kg em 30 min de soro, depois colocaria em 2H30 70mL/kg de Ringer Lactato (na prática, usa o soro fisiológico de 20mL/kg). DIFERENÇA RINGER E SORO: para expansão volêmica, os dois são iguais. Às vezes se preconiza usar mais o soro em vez do ringer lactato, pois o paciente se tiver desidratado com acidose láctica, pode aumentar a quantidade de lactato circulante. Depois de hidratar, expandir e tirar da desidratação, não manda para casa; o paciente pode desidratar novamente, pois corrigiu a desidratação, mas ainda está tendo as perdas que o levaram a ficar desidratado. O ideal seria manter esse paciente 6h na unidade, mantendo-o hidratado, com uma solução de manutenção de taxa hídrica basal (geralmente o gasto de metabolismo basal que ele necessita, como aquelas perdas insensíveis, baixa calórica, metabolismo celular), aquela quantidade que precisa de 24h de manutenção, calculada pela regra de Holliday e Segar, que é um cálculo grosseiro para precisar mais ou menos quanto a criança deveria ingerir de água. Assim: • Até 10 Kg: 100 ml /kg; • 10 a 20 Kg: 1.000 ml + 50 ml/Kg de peso que exceder 10 kg; • Acima de 20 Kg: 1.500 ml + 20 ml/kg de peso que exceder 20 kg. Esse cálculo acima é o que a criança precisa para manutenção de taxa hídrica para as 24 horas, mas não necessariamente o paciente tem que ir de alta após seu término. Além dessa manutenção, que é da necessidade basal, a criança vai precisar da reposição das perdas que estão acontecendo por diarreia ou vômito. Geralmente se inicia com 50 ml/kg/dia e vai ajustando de acordo com a perda ou com a aceitação da TRO dele. Então, se acabou a expansão e a criança não está desidratada, não iremos liberar para casa. Tem que fazer a terapia de manutenção e a terapia de reposição para evitar que a criança desidrate e sempre lembrar de colocar um potássio nas soluções prescritas. Obs: O tipo de solução é bem contraditório. Soluções recomendadas pelo Ministério da saúde e cobrada em residência: • Manutenção: solução glicofisiológica 4:1 (4 porções de SF0,9% e 1 porção de SG5%). 13 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda • Reposição: solução 1:1; Obs: para fazer as 2 soluções (reposição e manutenção) deve-se pegar 2 acessos venosos, sendo que num acesso fluirá o de manutenção e no outro acesso o de reposição. Resumindo, o Ministério da Saúde recomenda fazer a fase de expansão com soro fisiológico por 30 minutos e depois manutenção (4:1) e reposição (1:1). Contudo, na prática não seguimos o Ministério da saúde. Seguimos mais ou menos o que recomenda a Sociedade Europeia: • Fase de expansão: SF 0,9%. ❖ Se tiver em choque fazer Rápido: 20 em 20 minutos. ❖ Se não tiver desidratado grave nem chocado: 20 ml/kg em 1 hora e mantém por 2 a 4 horas a depender do nível de desidratação. • Fase de Manutenção (depois de corrigida a desidratação): Depois que o paciente melhora da desidratação devemos manter esse paciente hidratado com a solução de manutenção com osmolaridade de 77, que é a solução 1:1; ou com solução isotônica que tem a osmolaridade um pouco maior. A Solução isotônica tem Na, glicose e K num cálculo específico, que não foi detalhado pela professora. OPÇÕES PARA A TERAPIA DE REIDRATAÇÃO PARENTERAL Reavaliar continuamente • Sem melhora: aumenta infusão; • Iniciar SRO 2 a 3 horas após o início de HV, mantendo a reidratação venosa; • HV até SRO manter hidratação; • Observação por mais 6 horas; • Alta: hidratação e ingesta oral adequadas. Então, se eu instalei as 2 soluções que eu calculei para 24 horas, depois vou reavaliar continuamente. ❖ Se o paciente não estiver tão bem podemos aumentar a solução de reposição. ❖ Se o paciente começa a ficar bem então, começamos liberar hidratação VO (TRO) para ele. Conforme a criança for aceitando o soro de reidratação VO, vai reduzindo a solução de reposição. ❖ Se a criança estiver aceitando VO e estiver bem hidratada liberamos para casa com o plano A. ❖ Ob: geralmente a criança acaba permanecendo mais de 6 horas na unidade, que é o tempo indicado na observação. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES!!! • No Plano C (fase de expansão): dieta zero total, pois o desidratado grave pode estar com estado mental rebaixado e vomitar. Nem leite materno. Porém essa dieta zero não pode ultrapassar de 4- 6 horas, pois tem risco nutricional e de translocação bacteriana. Então o ideal é fazer uma expansão rápida e liberar logo a via oral. INTERNAÇÃO HOSPITALAR ❖ Choque hipovolêmico/ Desidratação grave: necessitam de hidratação (expansão, manutenção e reposição). Não é obrigado internar todo desidratado grave. Se corrigiu a desidratação, já passou 6 horas no hospital, tá aceitando bem com perdas diminuídas, podemos liberar para casa. ❖ Manifestações neurológicas importantes (letargia, convulsões, deprimido); ❖ Vômitos biliosos ou de difícil controle (você sabe que a TRO não vai ser aceita em casa). ❖ Falha na terapia de reidratação oral; ❖ Suspeita de doença cirúrgica associada; ❖ Condições insatisfatórias para tratamento domiciliar ou acompanhamento ambulatorial; ❖ Lactentes muito jovens (abaixo de 3 meses) /comorbidades. ❖ Falcêmicos; imunossupressos; desnutridos. O ideal é que se interne mesmo que não estejam em choque hipovolêmico nem desidratados graves, mas que tenham o risco muito grande de piorar. E também paciente de questão social, que você sabe que a mãe não vai ter condições de uma terapêutica adequada (alimentação, hidratação). Obrigatório internar!!! 14 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda Alimentação na doença diarreica • Manter ingesta adequada; • Manter aleitamento materno e fórmula láctea habitual; • Jejum na fase de expansão (< 4-6h); • Hospitalizados e com diarreia persistente: fórmula sem lactose. ❖ Plano A: incentivar sempre. Incentivar também aleitamento materno; fórmula habitual e alimento. ❖ Plano B: Não é para alimentar, exceto leite materno! ❖ Plano C: na fase de expansão: sempre jejum total! E não exceder o tempo de 4-6 horas de jejum. Então, seja muito agressivo na sua fase de expansão para ele sair logo desse quadro de desidratação e liberar a dieta. VOLTANDO AO CASO CLÍNICO EF: Paciente ativo, corado, febril ao toque, chorando com lágrimas. FC: 100 bpm; FR: 30ipm; Tax: 37,8 ºC; Peso: 14 kg. TEC: 2 seg, sinal da prega desaparece rapidamente; mucosas úmidas Pulsos cheios, extremidades bem perfundidas. RESPONDENDO AS QUESTÕES 1. Há achados alterados no exame físico? Não. 2. Pelo exame físico esse paciente encontra-se desidratado? Não. O paciente está hidratado. 3. Quais exames devem ser solicitados para o paciente? Não hánecessidade. 4. Qual a conduta terapêutica? Plano A: em domicílio; SRO e líquidos. Iniciar a suplementação de zinco (10-14 dias) < 6 meses: 10 mg/dia; > 6 meses: 20 mg/dia Obs: O zinco é obrigatório abaixo de 5 anos. Nome comerciais dos medicamentos: UNIZINC; BIOZINC. Também pode mandar formular. 5. Quais orientações devem ser dadas a mãe? • Reconhecer os sinais de desidratação. • Preparar e administrar a solução de reidratação oral (SRO). • Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água, higienização de alimentos). CONTINUAÇÃO CASO CLÍNICO • Após 24h (em uso do plano A, em casa) o paciente retorna à unidade trazido no colo por sua genitora que refere piora da diarreia e vários episódios de vômitos. Refere que criança está mais irritada, pedindo água e com diurese diminuída. • Ao exame físico: criança chorosa, olhos fundos, corado, chorando sem lágrimas. FC: 168 bpm FR: 40 ipm Peso: 13, 5Kg; Pulso rápido, cheio; TEC: 4 seg, sinal da prega lentificado; Mucosas secas, saliva espessa. DISCUSSÃO DO CASO O paciente pesava 14 Kg no dia anterior, logo perdeu 500 g. Hidratado, desidratado ou desidratado grave? Classificando o paciente do caso quanto à hidratação: • Está letárgico? Não, só irritado. • Está sem querer beber água? Não. Está pedindo água. • TEC está cima de 5 segundos? Não. • O pulso não está fraco, impalpálvel; • Sinais de desidratação, mas não é grave. Obs: olhos encovados está presente tanto na criança desidratada quanto na desidratada grave, assim como a diurese e lágrimas diminuídas, logo é subjetivo. Então, temos que olhar para os sinais objetivos da desidratação grave: sinais neurológicos; sede; TEC e pulso. Então, Plano B para esta criança. RESPONDENDO AS QUESTÕES 1. Como você classificaria o grau de desidratação do paciente? Irritada+ pedindo água + olhos fundos+ saliva espessa+ chorando sem lágrimas+ Pulso rápido + TEC 4 seg + sinal da prega lentificado Desidratação (alguma desidratação). 2. Qual a conduta terapêutica mais adequada? Plano B: Manter na unidade; Administrar TRO: 50- 100ml/kg em 4- 6horas (50x 13,5:=675ml em 4 horas); Reavaliar peso e condição clínica após 2 horas; • Após 2 horas de TRO o paciente mantém-se desidratado moderado, sem ganho de peso, com má aceitação da TRO e ainda com vômitos ocasionais. 3. Qual a conduta a seguir? Passagem de sonda nasogástrica para gastróclise (20ml/kg/h 4-6 horas--- 20 X 13,5/h- 270ml/hora em 4 horas). 15 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda CONTINUAÇÃO CASO CLÍNICO Durante gastróclise o paciente manteve episódios de vômitos, apresentou diarreia com sangue e evoluiu com sonolência, sem diurese há 6 horas, TEC 5 segundos e pulso débil. RESPONDENDO AS QUESTÕES 1. O paciente ainda se mantém desidratado e qual o grau de desidratação? Desidratado grave. 2. Qual a conduta a seguir? ❖ Iniciar plano C (hidratação por acesso venoso); ❖ Prescrição: Soro fisiológico 0,9% 270ml (20 X 13,5) em 30 minutos. Pois a recomendação do MS é de 20 ml Kg de 20 a 30 minutos. Obs: vou repetir essa fase rápida (de expansão) até a criança melhorar essa desidratação. Nesse paciente eu precisei fazer 3 expansões para ele hidratar. CONTINUAÇÃO CASO CLÍNICO Após 3 expansões com soro fisiológico o paciente evoluiu com melhora do estado geral, com melhora dos vômitos, mantendo diarreia com sangue, mas apresentou diurese clara, TEC< 3 seg, pulsos cheios e melhora da hipoatividade. 1. O paciente deve continuar recebendo hidratação venosa? Sim. Pois com 3 expansões ele melhorou vômito, estado geral, teve diurese clara, TEC ficou abaixo de 3 seg e melhorou hipoatividade., mas ainda estava com diarreia e dejeções com sangue que não se apresentava no dia anterior. Logo, fase manutenção e reposição na unidade é o indicado. OBS: A pró não vai cobrar cálculo de prescrição. É necessário saber que, primeiro, vai expandir com soro fisiológico (quantas vezes necessário). Depois, segue para a solução de manutenção e de reposição, que vão variar de acordo com a literatura. Para o Ministério da Saúde: ❖ Prescrição: 14kg; • Manutenção: • Solução glicofisiológica 4:1: 1000ml + 200ml: 1200ml • Soro glicosado 5% -----------960ml • Soro fisiológico 0,9%: -------240ml • Kcl 10%------------------------- 24ml • Uso: correr EV em Bomba de infusão continua: 51ml/h. • Reposição: • Solução 1:1: 50 X 14 : 700ml/dia • Soro glicosado 5%------------350ml • Soro fisiológico 0,9%------------350ml • Uso: correr EV em bomba infusão continua 30ml/h em paralelo com solução 4:1 Tabela por curiosidade CONTINUAÇÃO DA QUESTÃO • Após 3 horas de hidratação o paciente evoluiu hidratado com início de aceitação de TRO, clinicamente estável, sem vômitos, mas mantendo alguns episódios de diarreia com sangue e apresentou 1 pico febril na unidade de 39,6°. 1. Qual a conduta a seguir com relação a hidratação? Nesse caso, foi feita hidratação, expansão, manutenção e reposição, de acordo com o previsto pelo ministério da saúde. Após 3h, o paciente estava hidratado e foi iniciada TRO, com aceitação. A conduta é: manter TRO e, a cada hora, diminuir mais a infusão de solução de reposição. Já a solução de manutenção mantém até a criança ir embora. Junto a isso, vai aumentando a TRO. Quando tiver aumentando totalmente TRO, com o paciente hidratado, ele vai para casa com plano A. • Reduzir hidratação venosa de reposição conforme aceitação de TRO; • Manter em observação por pelo menos 6 horas; • Se aceitação adequada de TRO e hidratado - alta com plano A. 2. Devem ser solicitados exames? 3. Há necessidade de medicamentos para esse paciente? O caso tem desidratação grave, sangue nas fezes e febre de 39,6, o que deve ser feito? Sempre que tiver sangue nas vezes, há a necessidade de pensar em disenteria por bactéria, 16 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda a não ser que realmente haja uma epidemiologia muito forte para rotavírus. Rotavírus pode dar febre alta e desidratação, mas com sangue nas fezes e toxemiado sempre considerar presença diarreia por bactéria. Já que é considerado a bactéria, precisa entrar com antibiótico. Não é obrigatório fazer exame para entrar com o antibiótico, pois o leucograma pode ser normal, além de não sair o resultado no mesmo dia. Por conta disso, deve-se começar o tratamento com base no quadro clínico. Esse paciente também necessita de algumas condutas adicionais. Condutas adicionais Zinco É obrigatório, pelo ministério da saúde, em menores de 5 anos!! ❖ Cofator enzimático; ❖ Importante no crescimento e funções celulares; ❖ Deficiência em países subdesenvolvidos; ❖ Papel na diarreia: em menores de 5 anos; ❖ Reduz duração da diarreia; ❖ Reduz ocorrência de novos episódios nos 3 meses subsequentes. • Posologia: <6m: 10mg/dia; >6m: 20mg/dia. • Formas: SRO: 6mg gluconato de Zn/100ml; Soluções: gluconato de zinco 2mg/0,5ml. Vitamina A Recomendado pela OMS em países que tem deficiência. Como aqui há campanha forte de vitamina A de megadose, não é indicado estar prescrevendo na emergência. • Reduz o risco de hospitalização; • Reduz mortalidade por diarreia; • Administrar em desnutridos e em áreas de risco de deficiência. Antibióticos INDICAÇÕES: • Diarreia com sangue (febre/toxemia): paciente com disenteria, até que se prove ao contrário, é por bactéria, então precisa de ATB (a menos que haja uma epidemiologia muito forte para rotavírus - ex: toda a casa com rotavírus). Melhor pecar pelo excesso. • Cólera; • Giardia lamblia ou Entamoeba hystolitica; • Imunossuprimidos: pois há risco de sepse e infecções mais graves; • Anemia falciforme; • Portadores de prótese; • Sinais de disseminação bacterianaextraintestinal; • Atenção: < 3meses e DEP grave. Os pacientes que não tem sangue, mas que tem risco de sepse, de infecções mais graves, como imunossuprimidos, falcêmicos, portadores de prótese, desnutridos graves, paciente menor de 3 meses ou paciente séptico, DEVE entrar com ATB sempre. Nesse caso, são pacientes de grupo de risco; vão precisar internar e colher exame. Se depois sair resultado de cultura normal, pode reduzir tempo do ATB. QUAL ATB USAR? No Brasil, a primeira bactéria a se pensar em caso de diarreia aguda é a shigella. Assim, todo o esquema de tratamento empírico de antibiótico tem que ser pensado com base nela, pois a coprocultura pode demorar muito de sair resultado. • Realizar coprocultura e antibiograma; • Pressupor infecção por Shiguella; • Esquemas: ❖ Ciprofloxacino (1º escolha): recomendado pelo MS. Crianças: 15mg/kg/dose duas vezes ao dia, por 3 dias; adultos, 500mg duas vezes por dia por 3 dias ❖ Azitromicina (Shiguella): recomendado como 1ª escolha pela sociedade europeia. A professora 17 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda costuma prescrever azitromicina, pois há fórmula de suspensão (o ciprofloxacino só em comprimido). Via oral: 10 a 12mg/kg/dia no primeiro dia e 5 a 6mg/kg por mais 4 dias ❖ Ceftriaxona: 50-100mg/kg /dia EV 3 a 5 dias nos casos graves - hospitalização. Indicado em caso de salmonella. Lembrar que salmonella não trata todo paciente, mas apenas os sépticos, menores de 3 meses, imunossupressos, por conta do risco de quadro grave. Fora isso, não trata por risco de maior disseminação na comunidade. NO ENTANTO, na maioria das vezes, quando se atende o paciente não sabe se o que ele tem é salmonella, o que acaba com que haja o uso do ATB mesmo, infelizmente. A primeira escolha de salmonela é a ceftriaxona, mas o ciprofloxacino também pode ser usada. ❖ Cefotaxima EV: 100mg/kg dividida em quatro doses. • Brasil: Shiguella - alta taxa de resistência ao sulfametoxazol-trimetropim; Bactrim não serve nada para shigella ou salmonella no Brasil. Na europa, como foi menos utilizado, ainda se recomenda. • Amebíase ou giardíase: ❖ Metronidazol: 30mg/kg/dia 8/8h por 7-10 dias; ❖ Obs: evitar uso de ATB em salmonella, exceto sepse-----induz estado de portador são. ANTIEMÉTICOS ❖ Plasil em criança NEM PENSAR!!! É um extrapiramidal muito forte. ❖ Dramin também não é recomendado pela OMS, pois melhorando a desidratação, melhora os vômitos. O Dramin dá sonolência, perdendo o parâmetro de avaliação da criança, além de, ao dormir, parar de ingerir líquido e desidratar mais. • OMS: contraindica uso; • Contraindicados sempre: dimenidrato e metoclopramida; • ESPGHAN: Ondasetrona: redução na frequência de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar; Dose EV ou VO: 0,1mg/kg (0,15-0,3mg/kg) max: 4mg A sociedade europeia prevê o uso da ondasetrona, que pode ser feito para reduzir vômitos, necessidade de internação e hidratação. O MS e OMS não recomenda, pois são medicações mais caras, mas pode ser feito. ❖ PROVA DE RESIDÊNCIA: não usa antiemético! ❖ PLANTÃO: pode dar Ondasetrona. PROBIÓTICOS • MS e OMS não mencionam: então não é obrigatório. São medicações caras. • ESPGHAN (sociedade europeia): Benefício junto a outras terapêuticas. • Prevê uso como coadjuvante, pois pode ter benefício na diarreia. O custo supera o benefício, que é de reduzir somente 24h de diarreia. Sendo melhor prescrever zinco e orientar hidratação. ❖ Cepas (comprovação por estudo): Lactobacillus GG, Saccharomyces boulardii e Lacotobacillus reuteri DSM 17938 (5-7 dias); • Saccharomyces boulardii - 250-750mg/dia (habitualmente 5-7 dias); • Lactobacillus GG - ≥ 10 ¹0 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias); • L reuteri - 108 a 4 x 108 (habitualmente 5-7 dias); • L acidophhilus LB –min 5 doses de 1010 CFU >48 h; máximo 9 doses de 1010 CFU por 4 a 5 dias. INIBIDORES DE PERISTALTISMO • Loperamida/atropina/elixir paregórico: contra- indicados. A inibição do peristaltismo aumenta o risco de disseminação extraintestinal, com penetração de bactéria, risco de sepse. RACECADOTRILA OMS e MS nem citam, pois é caro, mas pode ser usado. • ESPGHAN e a diretriz Ibero-Latinoamericana; • Inibidor da encefalinase; • Aumenta Encefalina - Reduz a secreção de água e eletrólitos; • Reduz perdas e duração: é um medicamento muito bom, mas é caro! • Não interfere em motilidade intestinal; • Dose: > 3meses - 1,5mg/kg 8/8h (apresentação: pó: 10mg/30mg capsula: 100mg); • Max: 300mg/dia; • Uso: Deve ser interrompido assim que cesse a diarreia (< 7 dias NO MÁXIMO). 18 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia aguda RESPONDENDO AS QUESTÕES 1. Devem ser solicitados exames? Podem ser solicitados hemograma e PCR e coprocultura, mas não são obrigatórios para definir conduta. 2. Há necessidade de medicamentos para esse paciente? É obrigatório. • Antibioticoterapia: ❖ Ciprofloxacina ou azitromicina; ❖ Caso impossibilidade de tto domiciliar: Internamento com ceftriaxone EV: caso considere que a mãe não tem condição de tratar em casa corretamente. • Reposição de zinco: DEVE SER CONSIDERADO O USO: • Antieméticos SN: ondasetrona; • Probióticos: a professora prescreve em hospital particular. Prevenção • Imunização: rotavírus e sarampo (sarampo pode favorecer a diarreia); • Ênfase no aleitamento natural prolongado; • Suplementação de vitamina A; • Tratamento e armazenamento adequado da água; • Higiene pessoal (lavagem das mãos); • Adequado preparo de alimentos; • Saneamento básico adequado. Princípios fundamentais para o tratamento da diarreia aguda • Terapia de reidratação e a manutenção de alimentação que atenda as necessidades nutricionais do paciente. • Terapia de reidratação NÃO é para prevenir. Não adianta usar antes. É para repor perdas no caso de desidratação. • Apenas o uso do soro de reidratação oral ou parenteral não proporciona nutrição adequada. • Alimentação deve ser mantida: exceto no plano C e fase de expansão, além do plano B. • Não deve ser usado leite ou fórmulas lácteas diluídas: formas sem lactose não devem ser prescritas em caso de diarreia aguda. Pode ser usada em caso de diarreia crônica, caso suspeite a intolerância a lactose, além de pacientes mais graves internados. • Evitar sucos e refrigerantes com alta osmolaridade. • Fórmula láctea sem lactose pode ser útil no tratamento de lactentes hospitalizados. • Antibióticos são recomendados para pacientes com disenteria, considerando a possibilidade de Shigella. • Atenção especial no primeiro trimestre de vida, para crianças com desnutrição energético- proteica, imunossuprimidos ou com diarreia persistente e quanto à possibilidade de infecções sistêmicas, que requerem o emprego de antibióticos apropriados. • Suplementação com zinco vem sendo preconizada para diminuir a duração do episódio diarreico e evitar recorrências. • Vitamina A deve ser recomendada nas áreas onde ocorre esta hipovitaminose. • Determinados probióticos e a racecadotrila podem ser usados como coadjuvantes (mas não é obrigado). • Loperamida: contraindicada em pediatria. NUNCA!!!!
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