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Indaial – 2019 Direito Civil ii Prof.a Fabiane Brião Vaz 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Fabiane Brião Vaz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: V393d Vaz, Fabiane Brião Direito civil II. / Fabiane Brião Vaz. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 147 p.; il. ISBN 978-85-515-0356-0 1. Direito civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.14 III ApresentAção Neste livro didático, intitulado Direito Civil II, você será introduzido ao Direito Civil. Inicialmente, você será apresentado às questões acerca das relações obrigacionais de uma perspectiva jurídica. Na Unidade 1 isso ocorrerá de maneira fragmentada entre quatro tópicos, sendo eles, respetivamente: Introdução ao Direito Civil, Teoria Geral das Obrigações, Classificação das Obrigações e Espécies de Obrigações. Na segunda unidade deste livro, intitulada Cumprimento das obrigações, você vai adentrar mais profundamente na questão das obrigações. A partir daí iniciará os estudos acerca da extinção das obrigações dentro do ordenamento jurídico, identificando as diferentes maneiras de extinção das obrigações; constatando as ideias principais de formas de solvência dos negócios jurídicos. Tudo isso sem deixar de perceber as responsabilidades no âmbito do Direito Civil. Por fim, na terceira unidade, intitulada Contratos, você será aproximado dos conhecimentos relativos às questões dos contratos civis, como garantidor dos direitos e deveres das relações obrigacionais. Para isso, é importante a consciência de que contratos se trata de uma matéria específica e de grande importância no âmbito do Direito Civil. Dessa forma, pretendemos que que você disponha dos ensinamentos aqui expressos, junto ao devido aproveitamento das aulas, para que adquira o conhecimento necessário para a prática efetiva de sua vida profissional. Bons estudos! Profª. Fabiane Brião Vaz IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ......................................................................1 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL ............................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 NOÇÕES DE DIREITO CIVIL .............................................................................................................4 3 BENS ..........................................................................................................................................................8 3.1 BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS .....................................................................................8 3.2 BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS .......................................................................... 10 3.3 BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS ............................................................ 11 3.4 BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO A SUA COMERCIALIDADE ................................. 11 4 FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS ..................................................................................... 12 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16 TÓPICO 2 – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................ 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES .......................................................................................................... 19 3 ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES .................................................. 21 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 23 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24 TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES...................................................................... 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 OBRIGAÇÃO CIVIL ............................................................................................................................ 27 3 OBRIGAÇÃO NATURAL E MORAL ............................................................................................... 30 4 OBRIGAÇÃO DE DAR E FAZER/NÃO FAZER ............................................................................. 32 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 4 – ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES ........................................................................................ 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 OBRIGAÇÃO LÍQUIDA X ILÍQUIDA ............................................................................................ 43 3 OBRIGAÇÃO SIMPLES X CUMULATIVA ..................................................................................... 45 4 OBRIGAÇÕES PURAS, CONDICIONAIS, MODAIS E A TERMO .......................................... 46 5 OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS X ACESSÓRIAS ............................................................................... 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................54 UNIDADE 2 – DO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ........................................................... 57 TÓPICO 1 – TEORIA DO PAGAMENTO .......................................................................................... 59 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59 2 NATUREZA JURÍDICA DO PAGAMENTO .................................................................................. 60 sumário VIII 3 DAS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO.................................................................... 64 4 DO PAGAMENTO INDEVIDO ........................................................................................................ 66 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 69 TÓPICO 2 – OUTROS MODOS DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO .......................................... 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71 2 DAÇÃO EM PAGAMENTO ............................................................................................................... 71 3 PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO ............................................................................................ 73 4 PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO ............................................................................................. 76 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 78 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 79 TÓPICO 3 – EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL SEM PAGAMENTO ................... 83 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83 2 MORA ..................................................................................................................................................... 83 3 CLÁUSULA PENAL ............................................................................................................................. 85 4 CESSÃO .................................................................................................................................................. 86 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 88 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 89 TÓPICO 4 – RESPONSABILIDADES ................................................................................................. 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91 2 ATO ILÍCITO E TEORIA DA REPARAÇÃO DO DANO ............................................................ 91 3 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA ............................................................ 92 4 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL .............................. 93 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 95 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 UNIDADE 3 – CONTRATOS ..............................................................................................................101 TÓPICO 1 – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS ........................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103 2 FUNDAMENTOS ...............................................................................................................................104 3 PRINCÍPIOS ........................................................................................................................................105 3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE .......................................................................106 3.2 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DOS CONTRATOS ...................................................107 3.3 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO ......................................109 3.4 PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO .......................................................................................109 3.5 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO .............................................................109 3.6 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA ...........................................................................................110 3.7 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO / JUSTIÇA CONTRATUAL ..........................111 4 FORMAÇÃO CONTRATUAL .........................................................................................................112 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................114 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115 TÓPICO 2 – PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CONTRATOS ..............................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 COMPRA E VENDA ..........................................................................................................................119 3 DOAÇÃO .............................................................................................................................................122 IX 4 EMPRÉSTIMO ....................................................................................................................................124 5 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ...........................................................................................................126 6 DEPÓSITO ...........................................................................................................................................126 7 FIANÇA ................................................................................................................................................128 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131 TÓPICO 3 – EXTINÇÃO DOS CONTRATOS .................................................................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 EXTINÇÃO NORMAL DOS CONTRATOS .................................................................................133 3 NULIDADE ..........................................................................................................................................135 4 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA .....................................................................................................136 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................137RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................142 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................145 X 1 UNIDADE 1 TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender as noções de direito civil; • identificar as diferenciações dos conceitos principais de direito civil; • adentrar no mundo das obrigações jurídicas; • constatar as ideias principais das teorias de relações civis; • perceber a classificação das obrigações no direito civil; • caracterizar as diferentes espécies de obrigações. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL TÓPICO 2 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES TÓPICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES TÓPICO 4 – ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, caro acadêmico, você entrará no mundo do direito civil e será levado ao início dos estudos sobre as relações obrigacionais do conhecimento jurídico. Isso ocorrerá de maneira fragmentada em quatro tópicos, respetivamente: introdução ao direito civil; teoria geral das obrigações; classificação das obrigações e espécies de obrigações. Por fim, você terá as referências bibliográficas, as quais servem de indicação para que vá além da leitura obrigatória. De acordo com Maria Helena Diniz (2010), doutrinadora de direito civil, uma obrigação é sempre originada a partir de um dever jurídico. Este tipo de dever é, por sua vez, um dever que nasce como consequência de algum direito que vigora sobre todos os cidadãos, os quais chamamos de direitos objetivos. É a partir disso que tem início as sanções a serem executadas por aqueles cidadãos que não cumprem seus respectivos deveres jurídicos. Maria Helena Diniz (2010) usa, como exemplos de deveres jurídicos, deveres como o de respeitar a vida e o de não danificar coisa alheia. IMPORTANT E Adiante, constataremos que o termo “dever jurídico” é mais amplo que o termo “obrigações”, pois o primeiro abrange uma quantidade maior de deveres do que aqueles provenientes de negócios jurídicos. Veremos que eles são o berço das chamadas obrigações. Podemos dizer, de maneira simplificada, que o conceito de obrigação corresponde ao direito que determinado indivíduo possui de exigir que seja feito o cumprimento de um dever previamente assumido por outro cidadão através de uma relação jurídica preliminarmente estabelecida entre eles. Nas palavras de outro doutrinador igualmente importante, Washington de Barros Monteiro (2012, p. 8): “a obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre credor e devedor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 4 Dessa maneira, é possível perceber que dentro das relações obrigacionais existe a figura de dois tipos de sujeitos. O primeiro é aquele que carecerá de receber determinada prestação, assim, é o indivíduo que possuirá o direito de exigir a solvência da obrigação outrora firmada. O cidadão observado no parágrafo anterior será o chamado sujeito ativo e, existindo mais de um sujeito ativo na mesma relação obrigacional, a obrigação deverá ser executada com cada um deles, de maneira que poderá ser paga ou no total para apenas um dos sujeitos ativos ou em partes para cada um deles. Fato que dependerá do tipo de relação jurídica estabelecida, as quais veremos mais adiante. O indivíduo envolvido no outro lado de uma relação obrigacional será aquele que chamaremos de sujeito passivo, este é de quem se exige o cumprimento da prestação. A prestação em questão será exaurida quando o sujeito passivo realizar a ação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa em detrimento do interesse do sujeito ativo. Verificando a existência de mais de um sujeito passivo será possibilitada a realização de prestação parcial de cada sujeito ou total, de apenas um devedor, também dependendo do tipo de relação jurídica. Podemos, então, concluir desde já que as obrigações serão sempre referentes a relações jurídicas. Além disso, as fontes das relações obrigacionais serão os fatos jurídicos em sentido amplo (lato sensu), provenientes da vontade humana. 2 NOÇÕES DE DIREITO CIVIL A palavra “direito” pode ser aplicada com inúmeros significados. Dentre essas diferentes definições, a mais comumente aplicada e de mais fácil entendimento é a de que direito seria o conjunto de regulamentos universais e positivados que orientam a vida em sociedade. Logo, podemos dizer que o direito é formado por regras previamente estabelecidas que, ao serem devidamente inseridas no ordenamento jurídico do país, servirão como um farol norteador para todos os cidadãos residentes naquele território guiarem as atitudes que tomam em suas vidas em sociedade. A partir desse entendimento, conseguiremos avaliar algumas vertentes importantes do direito, são elas: Direito Objetivo, Direito Subjetivo, Direito Natural, Direito Positivo, Direito Público e Direito Privado. • Direito objetivo diz respeito às normas em si. É ele que estabelece a conduta social a ser adotada pelos indivíduos. • Direito subjetivo é a faculdade, a opção que o cidadão detém sobre os direitos que lhe são próprios. Este direito é referente aos direitos subjetivos dos cidadãos, e é assegurado através do direito objetivo. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 5 • Direito natural é aquele que está ligado aos preceitos de filosofia, é a ideia de uma justiça maior e anterior aos homens. São os direitos garantidos pela própria natureza humana, antes da criação de ordenamentos jurídicos e sociedade. Uma justiça superior. • Direito positivo traduz as normas jurídicas que se encontram vigentes em determinado tempo e território. É o direito que já está posto em formato de lei. É de dentro deste direito que se extrai a ideia de direito público e privado que passamos a ver. • Direito público é aquele que regula as relações entre diferentes estados, e, também, entre Estado e os indivíduos particulares. É o ramo do direito que dá prioridade ao interesse da coletividade. A aplicação do Direito público é obrigatória. Nesse ramo do direito, só é permitido que se faça o que está previamente contido em lei. Dentre as áreas de direito público, podemos destacar direito administrativo, constitucional, tributário, processo penal, entre outros. • Por fim, o ramo do Direito privado é aquele que regulamenta as relações entre dois ou mais indivíduos particulares. Nas relações de direito privado, ao contrário do que acontece no direito público, é permitido que se faça tudo o que a lei não proíbe. São áreas de direito privado: o direito empresarial ou comercial, o direito do trabalho e o direito civil. Este último é que interessa ao nosso estudo neste livro didático. Direito civil é a área do direito que se dedica às relações jurídicas entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) ou, ainda, entre pessoas e coisas. Essas relações podem ser pessoais, familiares, patrimoniais ou obrigacionais. Para começar melhor absorção do que foi dito até aqui é necessário que se esmiúce alguns conceitos. Podemos iniciar trabalhando melhor a definição de pessoa dentro do nosso ordenamento jurídico. As pessoas são os sujeitos a quem se destinam os direitos e deveres conferidos nas normas legais. Há que se diferenciar pessoa de personalidade, esta última diz respeito à capacidadede um indivíduo ser ou não um sujeito de direito e deveres, uma pessoa. O início da personalidade, de acordo com o código civil, para as pessoas naturais ou físicas, acontece a partir do nascimento com vida e termina com a morte. Outro conceito importante é o de capacidade, que é a aptidão para usufruir de direitos e cumprir com obrigações. No direito brasileiro, a chamada capacidade civil ou de direito é inerente à todas as pessoas. A incapacidade está prevista apenas na modalidade de fato, também chamada de capacidade de exercício do direito, ou seja, em nosso ordenamento só existe incapacidade prevista para os exercícios de atos da vida civil. Sabemos então que os chamados incapazes não praticam, por si só, os atos da vida civil. Essa incapacidade pode ser absoluta ou relativa. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 6 A incapacidade absoluta significa que a pessoa não pode praticar qualquer ato da vida civil, sendo que a prática de um ato por pessoa absolutamente incapaz acarreta a sua nulidade, tendo em vista se tratar de proibição total. Portanto, para que o absolutamente incapaz possa praticar algum ato civil, ele deverá ser representado por uma pessoa capaz. Os absolutamente incapazes se encontram descritos no art. 3º do Código Civil: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos” (BRASIL, 2002, s.p.). Já na incapacidade relativa, a lei permite que os relativamente incapazes pratiquem atos da vida civil, mas desde que assistidos. Na hipótese de praticarem atos sozinhos, o ato será anulável. São relativamente incapazes aqueles elencados no art. 4º do Código Civil: Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº13.146, de 2015) (Vigência) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) (BRASIL, 2002, s.p.). Assim, os absolutamente incapazes não praticam atos da vida civil, devendo sempre serem representados pelo representante legal (pai, mãe ou tutor). Já os relativamente incapazes, podem praticar atos da vida civil, mas desde que assistidos pelo representante legal (pai, mãe, tutor ou curador, conforme o caso). O Estatuto da Pessoa com Deficiência, promulgado pela Lei nº 13.146, de 2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência), teve, por finalidade, que atender à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo para internalização de norma e, consequentemente, teve o objetivo de garantir os direitos fundamentais. O artigo 114 da referida lei, alterou expressamente o artigo 3º e 4º do Código Civil de 2002. Desta forma, atualmente está estabelecido que haverá incapacidade absoluta apenas para os menores de 16 (dezesseis) anos, revogados os incisos I, II e III do artigo 3º. Ademais, o Estatuto alterou o artigo 4º, ao excluir a previsão de incapacidade relativa quando se tratar “deficiência mental, que tenham discernimento reduzido” (BRASIL, 2002, s.p.), bem como os excepcionais sem desenvolvimento mental completo. A incapacidade civil cessará, de forma natural, quando a pessoa adquirir a maioridade civil, ao completar dezoito anos de idade, a partir de quando exercerá a capacidade civil de fato e de direito, adquirindo a capacidade civil plena. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 7 Porém, ainda é possível que a incapacidade seja suprimida pela emancipação, que pode ser: emancipação voluntária; emancipação judicial; e emancipação legal. Qualquer que seja a espécie de emancipação, essa acarretará a aquisição da capacidade civil. O art. 5º do Código Civil estabelece as hipóteses que fazem cessar a incapacidade: Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. A emancipação voluntária ocorre quando os pais, por ato de vontade, reconhecem que o filho adquiriu maturidade suficiente para zelar por sua pessoa e pelas suas posses, seus bens, não havendo mais a necessidade de tutela, pelo Estado, na qualidade de incapaz. Para que ocorra a emancipação voluntária, é necessário que os pais sejam titulares do poder familiar, sendo o ato unilateral de cada um deles e deve ser realizada, obrigatoriamente, mediante lavratura de escritura pública, sendo que apenas produzirá efeitos após o registro. Já a emancipação judicial é aquela pela qual o menor, sob tutela, ajuíza demanda judicial com o objetivo de ser emancipado civilmente, exonerando o seu tutor de qualquer obrigação. Só é possível quando completados dezesseis anos, desde que o tutor seja ouvido no processo, em favor do tutelado e seus efeitos também estão condicionados ao registro, nos termos do art. 9º, II, do Código Civil. Por fim, a emancipação legal ocorre nas hipóteses expressamente previstas no ordenamento jurídico, sendo que a lei estabelece determinados fatos em que a pessoa natural supre sua incapacidade civil: a) casamento; b) exercício de emprego público efetivo; c) colação de grau em curso de ensino superior; e d) abertura de estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, desde que possua economia própria, que se encontram descritas no art. 5º do Código Civil. A emancipação legal independe de escritura pública e registro e surtirá efeitos a partir do dia do fato jurídico. Para dar início ao fio condutor que nos levará diretamente ao centro principal de nosso estudo, que é o direito das obrigações, área prevista na parte especial do Código Civil Brasileiro, passemos então a conceituar e entender cada segmento. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 8 IMPORTANT E Com isso, neste momento, cabe conceituar bens de uma maneira básica, podendo-se resumir como tudo aquilo que pode ser útil para as pessoas, possuindo valor econômico e sendo suscetível de apropriação. Bens são as coisas economicamente valoráveis que poderão servir para satisfazer tanto às necessidades de um indivíduo particular como às necessidades da comunidade. Isso tudo pode ocorrer tanto no plano material como espiritual, lembrando que bens são coisas e devemos nos ater que eles serão valores (materiais ou imateriais) passíveis de se tornarem objetos de uma relação jurídica. Além disso é possível que façamos uma divisão no conceito de bens. Essa classificação se encontra nos artigos 79 a 103 do Código Civil brasileiro, em que aprendemos que os bens podem ser classificados de diferentes maneiras, conforme apresentamos a seguir. 3.1 BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS a) Bens móveis: são aqueles que podem ser transportados sem que isso acarrete alteração de sua forma. A transferência desse tipo de bem ocorre pela entrega dele, o que chamamos de “tradição”, a forma mais simples de transferência. Estes bens são passíveis de penhora e se subdividem em: • Bens móveis por natureza: são os bens capazes de se movimentar tanto sozinhos por força própria como capazes de serem movimentados por força alheia a si mesmos. Exemplos:uma cadeira, um boi, um carro, um livro etc. • Bens móveis por disposição legal: são os direitos reais que recaem sobre os bens móveis. Exemplo: propriedade, usufruto, direitos de obrigação e suas ações respectivas, os direitos do autor. • Bens móveis por equiparação pela doutrina: a energia elétrica. 3 BENS Antes de iniciarmos o estudo sobre relações jurídicas é de suma importância que se entenda e classifique o conceito de bens. Uma vez que bens é o foco central dessas relações, é por eles, ou por causa deles, que os indivíduos se dispõem a procurar seus direitos pelas vias judiciais. Para começar, devemos nos lembrar de que a apreciação da palavra “coisa” significa tudo aquilo que é externo ao ser humano, tudo aquilo que não é pessoa. Assim, como exemplo de coisa podemos elencar desde figuras, como uma joia, um celular, uma caneta até figuras como terra, ar, água. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 9 IMPORTANT E É importante fixar que navios e aviões, apesar de serem registrados em órgãos específicos e serem passíveis de hipoteca, encontram-se nesta categoria. Eles são o que chamamos de bens móveis sui generis, possuidores de natureza especial. b) Bens imóveis: diferente dos bens móveis, os bens imóveis são aqueles que não poderão ser transportados sem que se tenha como resultado disso a alteração ou destruição total de sua essência. A transferência desse tipo de bem ocorre através do registro no cartório de registro de imóveis. Importante destacar que, nesse caso, a promessa de compra e venda não é suficiente para que ocorra a transferência de propriedade. Em resumo, bens imóveis é tudo aquilo que se encontra ligado ao solo. Estes podem ser objeto de hipoteca e, para que sejam alienados por pessoas casadas é necessário que se tenha o consentimento do cônjuge, ato que no ordenamento jurídico chamamos de outorga uxória. Esses bens se subdividem em: • Bens imóveis por natureza: é o solo e sua superfície somados aos seus acessórios (árvores, frutos) mais adjacências (espaço aéreo, subsolo). • Bens imóveis por acessão física: tudo o que o homem incorpora de maneira permanente ao solo, tendo como consequência o impedimento de que se faça a remoção desse bem do solo sem que isso acarrete em sua destruição. Exemplos: sementes plantadas, construções. Os materiais provisoriamente separados de um prédio não perdem o caráter de imóveis. • Bens imóveis por destinação: são bens que possuem serventia ao imóvel propriamente dito e não ao seu proprietário. Exemplos: máquinas, tratores, veículos etc. Podem, a qualquer momento, ser mobilizados. • Bens imóveis por disposição legal: são os chamados direitos reais que recaem sobre imóveis. Exemplos: direito de propriedade, de usufruto, o uso, a habitação, a servidão. • Apólices da dívida pública: quando oneradas com a cláusula de inalienabilidade. • Jazidas e as quedas d’água: que possuam aproveitamento para energia hidráulica. c) Bens infungíveis: são aqueles bens que não poderão ser substituídos. Não sendo passíveis de substituição por bens de sua mesma espécie, quantidade ou qualidade. Exemplo: os bens imóveis, um carro, um livro de edição esgotada, obras de arte. NOTA Cabe lembrar que alguns bens adquirem a característica de infungível por seu valor sentimental/afetivo, como o caso de joias de família. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 10 d) Bens fungíveis: são aqueles bens que podem ser substituídos por outros bens da mesma espécie, qualidade e quantidade. Exemplo: alimentos, dinheiro, papéis. e) Bens divisíveis: são os bens que podem ser fracionados, partidos, divididos em diferentes porções reais que formem cada uma delas um todo perfeito. Isso sem que se tenha como consequência a alteração da essência do bem, a perda do seu valor econômico ou, ainda, acarrete algum prejuízo na sua utilização. Exemplo: terrenos, quantidade de comida. f) Bens indivisíveis: são bens que são impossíveis de divisão sem que se altere sua essência. Bens que não podem ser divididos por determinação legal ou, ainda, por vontade das partes, uma vez que isto deixaria de formar um todo perfeito. Exemplo: desmanche de joias, régua e herança. g) Bens consumíveis: são os bens móveis cujo o uso acarreta na destruição imediata da coisa. Bens que possibilitam apenas uma utilização, desaparecem com o consumo. Exemplo: cigarro, giz, alimentos, tinta de parede. h) Bens inconsumíveis: são aqueles bens que podem ser utilizados repetidamente sem que se obtenha alterações na sua essência. Bens que não desaparecem com o consumo. Exemplo: roupas, livros. i) Bens singulares: são os bens que chamamos de per si. São bens individualizados, coisas que, embora reunidas, são consideradas em sua individualidade. Exemplo: uma casa, um boi de rebanho. j) Bens coletivos: são bens considerados apenas em conjunto, quando agregados ao todo, abrangendo uma universalidade. Exemplo: biblioteca, massa falida, herança. 3.2 BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS a) Bens principais: são aqueles bens que existem por si mesmos, não existindo necessidade de outro bem para o caracterizar. Independem da existência de outros bens. Exemplo: terreno, joia, crédito. b) Bens acessórios: são aqueles bens cuja existência pressupõe a existência prévia de um bem principal. Assim, quem for proprietário do bem principal será também proprietário do bem acessório. Um exemplo de fácil entendimento são as plantações, que são bens acessórios do terreno, bem principal. Esses bens se classificam em: • Benfeitorias: são melhoramentos adimplidos em algum bem principal, podendo ser: ◦ Necessárias: as que têm por finalidade conservar ou evitar que o bem se deteriore. Exemplo: restauração de telhado, de assoalhos, de alicerces. ◦ Úteis: são as que aumentam ou melhoram o uso da coisa. Exemplo: garagem. ◦ Voluptuárias: são as de mero embelezamento. Exemplo: uma pintura artística, uma piscina etc. • Frutos: podem ser: ◦ Naturais: da própria natureza. Exemplos: fruto de uma árvore, nascimento de um animal. ◦ Industriais: intervenção direta do homem, produto manufaturado. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 11 ◦ Civis: rendimentos produzidos pela coisa principal. Exemplos: juros, aluguel. • Produtos: são utilidades que se extraem da coisa. Exemplo: pedras de uma pedreira, minerais de uma jazida etc. 3.3 BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS a) Bens particulares: bens que pertencem às pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado. Exemplo: um imóvel particular, um automóvel. b) Bens públicos: são os bens que pertencem às entidades de Direito Público. Esses bens, segundo Venosa (2012), se subdividem em: • Bens de uso comum do povo: os rios, os mares, ruas, praças, estradas etc. • Bens de uso especial: são os bens públicos destinados ao serviço público. Exemplo: prédio da Secretaria da Fazenda • Bens dominicais: são os bens que constituem o patrimônio da União, Estados e Municípios, sem uma destinação especial. Exemplo: terrenos da marinha. OBSERVAÇÕES: os bens públicos são inalienáveis, com exceção dos dominicais (necessitam de autorização legislativa); todos os bens públicos são impenhoráveis e não podem ser hipotecados; nem podem ser objeto de usucapião (VENOSA, 2012). ATENCAO NOTA CURIOSIDADE: o uso dos bens públicos de uso comum do povo pode ser gratuito ou oneroso. E Res Nullius é como chamamos os bens que não pertencem a ninguém, por exemplo, as pérolas no fundo do mar. 3.4 BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO A SUA COMERCIALIDADE a) Bens que se acham no comércio: não possuem impedimentos para ser adquiridos ou alienados. b) Bens que se encontram fora do comércio: são os bens que não podem ser objeto de alienação ou oneração. Dividem-se em: UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 12 • Bens insuscetíveis de apropriação: são inapropriáveis e de uso exaurível. Exemplos: o ar, a luz solar, as águas do alto-mar. • As legalmente inalienáveis: são os bens gravados com cláusula de inalienabilidade; os bensdas fundações; os bens públicos de uso comum e uso especial. Assim, entendemos então que: QUADRO 1 – BENS BENS Considerados em si mesmos Reciprocamente considerados Em relação às pessoas Em relação à comercialidade Bens móveis Bens principais Bens particulares Bens que se acham no comércio Bens imóveis Bens acessórios Bens públicos Bens que se encontram fora do comércio Bens infungíveis FONTE: A autora 4 FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS Para seguir os estudos a fim de absorver os fundamentos e estrutura do Direito das Obrigações, assim como sua importância no ordenamento jurídico brasileiro, é preciso que entendamos mais alguns conceitos simples. São eles: os fatos, os atos e os negócios jurídicos. Fatos jurídicos são todos os acontecimentos que possuem como consequência a produção de efeitos jurídicos. Isso quer dizer que, diferentemente dos chamados “fatos comuns”, que são aqueles que não possuem repercussão no ordenamento jurídico, no direito são acontecimentos que acarretam em consequências jurídicas. São fatos de onde nascem, subsistem ou se extinguem direitos. Como exemplo de fatos jurídicos temos desde o nascimento de uma pessoa, a produção de algum objeto e sua posterior comercialização, a chegada da maioridade civil até atos como adquirir contratos ou simplesmente morrer. Para facilitar, classificamos os fatos jurídicos de maneira ampla, em fatos jurídicos naturais ou humanos. Sendo que os naturais, também chamados de fatos jurídicos em sentido estrito (ou, ainda, fatos involuntários) são aqueles fatos que ocorrem independentemente da ação humana e mesmo assim produzem consequências jurídicas. Esses fatos jurídicos naturais subdividem-se em: TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL 13 • ordinários: nascimento, morte, maioridade etc.; • extraordinários: tempestade, tsunami, terremoto, caso fortuito ou força maior. Já os fatos jurídicos humanos, também chamados de fatos jurídicos voluntários, são consequências de ações humanas. São, portanto, o que chamamos de atos jurídicos. Como exemplo, temos desde contratos até batidas de carro, separação judicial etc. Atos jurídicos são todos os acontecimentos decorrentes de ações voluntárias e lícitas que tenham como consequências repercussões jurídicas, atos que acarretam mudanças no mundo do direito. Esses atos possuem como finalidade imediata contrair, proteger, transferir, transformar ou eliminar direitos. Os atos jurídicos se encontram classificados da seguinte maneira: • Atos jurídicos unilaterais: ocorrem quando, para a sua execução, se faça presente somente a manifestação de vontade de um agente. Exemplos: declaração de nascimento de filho, emissão de nota promissória etc. • Atos jurídicos bilaterais: ocorrem quando, para a sua execução, é preciso que se faça presente a manifestação da vontade de dois agentes, criando entre eles uma relação jurídica. Exemplos: contrato de compra e venda. Ao nos depararmos com uma situação em que se faça presente o último caso visto anteriormente, ou seja, quando temos a presença de um ato jurídico bilateral, identificamos o que chamaremos de negócio jurídico. A falta de algum elemento substancial do ato jurídico torna-o nulo (nulidade absoluta) ou anulável (nulidade relativa). A diferença entre o nulo e o anulável é uma diferença de grau ou gravidade, a critério da lei, vejamos: • Nulidade absoluta: pode ser arguida a qualquer tempo, por qualquer pessoa, pelo Ministério Público e pelo juiz, inclusive, não admitindo convalidação nem ratificação. • Nulidade relativa: ao contrário, só pode ser arguida dentro do prazo previsto, somente pelos interessados diretos, admitindo convalidação e ratificação (VENOSA, 2012). Além disso, pode haver o que se designa ato jurídico inexistente. Isto é, um ato que contenha um grau de nulidade tão amplo e manifesto que acaba por dispensar a necessidade de ação judicial para que seja declarado sem efeito. Ainda, pode ocorrer casos em que verificamos os chamados atos jurídicos ineficazes. São eles os atos que possuem validade plena entre as partes envolvidas, porém não produzem efeitos em relação à determinada pessoa (ineficácia relativa) ou, ainda, em relação a todas as outras pessoas envolvidas no ato (ineficácia absoluta). Exemplos: alienação fiduciária não registrada, venda não registrada de automóvel, bens alienados pelo falido após a falência. Para que tenhamos um negócio jurídico (ato jurídico bilateral) válido é preciso que se observe os seguintes requisitos: a) agente capaz: o atuante deve ser capaz de praticar plenamente os atos da vida civil. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 14 Os absolutamente incapazes devem ser representados e os relativamente incapazes devem ser assistidos. ATENCAO b) Objeto lícito e possível: o objeto do ato jurídico deve ser permitido pelo direito e possível de ser efetivado. c) Forma prescrita ou não vedada em lei: a forma dos atos jurídicos tem que ser a prevista em lei, se houver esta previsão, ou não proibida (VENOSA, 2012). Assim, concluímos que um ato jurídico será nulo quando for praticado por pessoa absolutamente incapaz ou, também, quando não estiver revestido da maneira prescrita em lei ou, ainda, quando o objeto for ilícito ou não possível. Os atos jurídicos aos que não se impõe forma especial prescrita em lei poderão provar-se mediante confissão, atos processados em juízo, documentos públicos e particulares, testemunhas, presunção, exames, vistorias e arbitramentos (VENOSA, 2012). Já a nulidade é um vício intrínseco ou interno do próprio ato jurídico. Assim, o ato jurídico será anulável quando as declarações de vontade emanarem de erro essencial, viciado por erro, dolo, coação ou simulação. A respeito da nulidade, pode-se afirmar que ela opera de pleno direito, podendo ser invocada por qualquer interessado ou também pelo Ministério Público. Quando ocorre nulidade, o negócio não poderá ser confirmado nem prevalecerá pela prescrição. Por fim, os negócios jurídicos podem ser: • formais ou solares: casamento, testamento, compra/venda de imóveis etc.; • não formais ou consensuais: locação, comodato etc. OBSERVAÇÃO: Não serão admitidas como testemunhas: os loucos de todo gênero, os cegos e surdos (quando a ciência do fato, que se quer provar, dependa dos sentidos que lhes faltam), o interessado do objeto do litígio, bem como o ascendente e o descendente, ou o colateral até 3° grau de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade. FONTE: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11483752/artigo-142-da-lei-n-3071-de-01-de-ja- neiro-de-1916>. Acesso em: 22 jul. 2019 ATENCAO 15 Neste tópico, você aprendeu que: • Entre as diferentes definições do termo direito, a mais comumente aplicada e de mais fácil entendimento é a de que direito seria o conjunto de regulamentos universais e positivados que orientam a vida em sociedade. • Direito objetivo diz respeito às normas em si. É ele que estabelece a conduta social a ser adotada pelos indivíduos. • Direito subjetivo é a faculdade, a opção que o cidadão detém sobre os direitos que lhe são próprios. • Direito natural é aquele que está ligado aos preceitos de filosofia, é a ideia de uma justiça maior e anterior aos homens. • Direito positivo traduz as normas jurídicas que se encontram vigentes em determinado tempo e território. • Direito público é aquele que regula as relações entre diferentes estados, e, também, entre estado e os indivíduos particulares. • Direito privado é aquele que regulamenta as relações entre dois ou mais indivíduos particulares. • Direito Civil é a área do direito que se dedica às relações jurídicas entre duas ou mais pessoas ou entre pessoas e coisas. • Bens são as coisas economicamente valoráveis que poderão servir para satisfazer tanto às necessidades de um indivíduo particular como às necessidades da comunidade. • Fatos jurídicos são todos os acontecimentos que possuem como consequência a produção de efeitos jurídicos. • Atosjurídicos são todos os acontecimentos decorrentes de ações voluntárias e lícitas que tenham como consequências repercussões jurídicas. • Quando temos a presença de um ato jurídico bilateral, identificamos o que chamaremos de negócio jurídico. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 (Quadrix/CRP-17/RN – advogado/2018) Em sentido filosófico, é tudo o que satisfaz uma necessidade humana. Juridicamente falando, o conceito de coisas corresponde ao de bens. Tomando-se por base a classificação dos bens, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) São bens fungíveis os bens móveis ou imóveis que possam ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. b) ( ) Os bens podem ser divididos em consumíveis e não consumíveis, sendo certo que estes últimos, embora utilizados, preservem suas qualidades para os fins a que se destinem e, quando sofrerem deterioração, perecendo suas primitivas formas e sua utilidade, serão incluídos no conceito de bens consumíveis. c) ( ) Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei, não se admitindo, por outro lado, que, mediante um negócio jurídico, se estabeleça a indivisibilidade da coisa. d) ( ) Ao se tratar dos bens reciprocamente considerados, tem-se que os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico, desde que separados do bem principal. e) ( ) Os bens considerados em si mesmos podem ser divididos em móveis e imóveis, sendo que os primeiros são adquiridos pela simples tradição e os segundos dependem de escritura pública e registro em cartório competente, com exceção daqueles cujo valor seja inferior a trinta vezes o maior salário mínimo do País. 2 (FCC/TRT 15ª região – Analista judiciário/2018) Em relação aos bens: a) ( ) Consideram-se como benfeitorias mesmo os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. b) ( ) Os naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis somente por vontade das partes. c) ( ) Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal como regra abrangem as pertenças, salvo as exceções legais. d) ( ) Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio. e) ( ) São consumíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. 3 (FCC/ALESE – Analista Legislativo/2018) De acordo com o Código Civil, uma praça, um quadro assinado por renomado pintor e as energias que tenham valor econômico são considerados, respectivamente, bem: AUTOATIVIDADE 17 a) ( ) Público de uso especial, bem fungível e bem imóvel. b) ( ) Público de uso comum do povo, bem infungível e bem móvel. c) ( ) Particular dominical, bem infungível e bem imóvel. d) ( ) Público de uso comum do povo, bem infungível e bem imóvel. e) ( ) Público de uso comum do povo, bem fungível e bem móvel. 4 (FADESP/MPA-PA – Auxiliar de administração/2012) A validade do negócio jurídico, além de outros requisitos, necessita de: a) ( ) Agente eficaz. b) ( ) Objeto aferível. c) ( ) Assistência necessária. d) ( ) Forma prescrita ou não defesa em lei. e) ( ) Representante jurídico. 5 (IADES/AL-GO – Procurador/2019) Com base no Código Civil, a respeito dos negócios jurídicos, assinale a alternativa correta: a) ( ) O silêncio não importa anuência, mesmo quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. b) ( ) Nas declarações de vontade, atender-se-á mais ao sentido literal da linguagem do que à intenção nelas consubstanciada. c) ( ) A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. d) ( ) Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se ampliativamente. e) ( ) A validade do negócio jurídico independe da capacidade do agente. 6 No que diz respeito às espécies de bens, leia com atenção as sentenças a seguir. I- Bens móveis são, exclusivamente, materiais de construção, quando utilizados para finalidade de construir bens imóveis. II- Bens divisíveis são aqueles que podem ser fracionados sem causar prejuízo no uso a que se destinam. III- As edificações que se separam do solo e conseguem conservar sua unidade, mesmo quando removidas para outro local são classificadas como bens imóveis. IV- Bens públicos pertencem às pessoas jurídicas de direito público e estão sujeitos à usucapião. Agora assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) I, II e IV, apenas. b) ( ) II e III, apenas. c) ( ) III e IV, apenas. d) ( ) I, II e III, apenas. 18 19 TÓPICO 2 TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Uma vez que já absorvemos as questões acerca das noções básicas de Direito Civil, como os fatos jurídicos se transformam em negócios relevantes ao ordenamento, e assim criam negócios a partir das relações entre indivíduos e seus bens considerados civilmente, passamos agora a pensar nessas relações como sendo de natureza obrigacional. Para isso, iremos destrinchar a chamada Teoria Geral das Obrigações, pela qual os doutrinadores de direitos se embasam na hora de observar quais cidadãos possuem quais deveres e direitos em relação a determinados bens. Por isso, analisaremos a estrutura e funções desses elementos tão importante ao Direito Civil, que são as relações obrigacionais. 2 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES O vocábulo obrigação é originário do latim Obligatio, Obligationis, e quer dizer “o ato de obrigar”, “dever”. É uma palavra que diz respeito ao vínculo jurídico em que um indivíduo se encontra obrigado a dar, fazer ou não fazer alguma coisa em benefício de outro. O direito das obrigações envolve o complexo de normas que tratam das relações jurídicas entre um devedor e credor. Essas regras estabelecem as responsabilidades que o devedor tem em relação ao credor. É o ramo do direito que especifica como deve se dar o cumprimento de determinada prestação de natureza econômica, além de garantir o compromisso das partes mediante seu patrimônio. O direito das obrigações dá o suporte econômico para a sociedade, porque é por meio dele que circulam os bens e as riquezas. É o aglomerado das normas que regulamentam as relações jurídicas patrimoniais. O objeto da obrigação é considerado pela maior parte dos doutrinadores como a prestação que se difere do objeto material. A prestação seria o ato do devedor em entregar certo objeto ao credor. O credor não cobrará pelo objeto, mas sim pelo ato de sua entrega. O direito das obrigações, então, possui como objeto as prestações que um cidadão aufere em favor de outro indivíduo. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 20 As relações jurídicas abarcadas pelo direito das obrigações serão também denominadas por alguns como direitos de crédito, direitos pessoais ou obrigacionais. ATENCAO Obrigação é uma relação jurídica possuidora de caráter transitório que será estabelecida entre dois indivíduos, os quais chamaremos de devedor e de credor. Obrigação é o vínculo jurídico que liga o credor ao devedor, possibilitando que o último exija do primeiro o cumprimento de uma prestação pessoal e econômica, ou seja, esta relação jurídica tem como objetivo final a solvência de uma prestação pessoal econômica, que poderá ser positiva ou negativa, devida pelo primeiro sujeito mencionado (devedor) ao segundo (credor), que possui a garantia de adimplemento através do patrimônio econômico em questão. Pode-se dizer que é característica marcante das obrigações o fato de elas expressarem de maneira mais enfática um direito da pessoa credora do que um dever da pessoa devedora, incidindo justamente no ato de fornecer meios para que o credor possa exigir do devedor o cumprimento da prestação previamente firmada entre as partes. O direito das obrigações procura resguardar o direito do credor que resultou diretamente de um negócio jurídicocontra o devedor. Percebemos, então, que as obrigações nascem quando ocorre a necessidade de aplicação das normas jurídicas sobre fatos que decorrem da seguinte relação: Credor Prestação Devedor Para que identifiquemos determinada relação como sendo uma relação de obrigação é necessário que observemos alguns elementos, são eles: 1- Sujeito: é o elemento caracterizado por qualquer pessoa física ou jurídica que possua capacidade de comparecer de maneira ativa ou passivamente dentro de uma relação obrigacional. • Sujeito ativo: é o que viemos chamando de credor, isto é, aquele a quem a prestação é devida. Deste modo, é ele quem deve agir ativamente buscando exigir os seus direitos decorrentes da obrigação firmada entre as partes. • Sujeito passivo: é o sujeito a que chamamos de devedor, ou seja, aquele que deve realizar a prestação. Assim, é ele quem figurará no polo passivo da relação jurídica, é quem tem o dever de dar, fazer ou não fazer dentro da obrigação firmada entre as partes. TÓPICO 2 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 21 2- Objeto: o objeto da obrigação é a prestação que pode consistir em obrigação de dar, fazer ou não fazer. Essa prestação, para que seja válida no mundo jurídico, deve conter algumas características. O objeto deve ser: a) Lícito: deve existir possibilidade jurídica do objeto da obrigação. Exemplo: não se pode firmar negócio sobre a compra e venda de cocaína, substância ilícita, ou seja, se um devedor não cumprir sua obrigação de entregar um quilo de cocaína para um credor, este último não poderá procurar o poder judiciário para fazer com que o primeiro cumpra a sua palavra. b) Possível: deve existir também a possibilidade física para o cumprimento da obrigação em questão. Essa possibilidade abrange tudo aquilo que se encontrar dentro das forças humanas ou da natureza. Exemplo: é impossível viajar ao Sol, sendo inválido o contrato estabelecido com este objeto. Já a viagem à Lua, que é possível, não invalidaria o contrato. c) Determinado ou determinável: é determinado o objeto de um contrato que seja específico, e determinável é um objeto que seja de fácil entendimento do que se trata. Exemplo: Objeto determinado = um carro do modelo tal, de cor vermelha, placa tal, chassi tal, ano tal. Objeto determinável = um carro qualquer de determinado modelo e ano. Ambos são objetos válidos. d) Economicamente apreciável: deve existir a possibilidade de se auferir valor econômico ao objeto da obrigação. 3- Vínculo jurídico: é a conexão que amarra o devedor à obrigação de solver a prestação em favor do credor. Com esses elementos, temos então as chamadas relações obrigacionais, vejamos: Sujeito Ativo Vínculo Sujeito Passivo Credor Prestação Devedor (Dar – fazer – não fazer) Ainda, como uma introdução ao direito das obrigações, é importante ressaltarmos que elas possuem duas fontes. Podem surgir tanto diretamente da lei quanto da vontade humana. No primeiro caso, a norma obriga que se cumpra alguma ação, que se aja de certa maneira diante de uma determinada relação jurídica. Já no segundo caso é quando primeiro se ocorre os fatos, as partes firmam negócios jurídicos que podem ser unilaterais, bilaterais ou até ilícitos, e posteriormente se percebe a existência de uma obrigação nesta relação. 3 ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES É evidente a importância do instituto das obrigações na qualidade de estrutura das relações civis. Dentro dos ramos de prática forense, os operadores do direito de maneira inevitável acabam utilizando as obrigações. UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 22 Isso ocorre principalmente nas relações econômicas, considerando que se pode enxergar essas relações como um alicerce da autonomia privada. Deste modo, podemos afirmar que a realidade social em que vivemos hoje desponta que o mundo moderno nos conduz para uma abundância de obrigações a serem adquiridas diariamente. Os cidadãos contemporâneos sentem, com o grande progresso da tecnologia e, consequentemente, das comunicações midiáticas e da urbanização, uma enorme necessidade de consumo. Tal necessidade atingiu níveis desregrados, fato este que acarreta em atividade econômica cada vez mais acentuada. Isso tudo faz com que as normas jurídicas sejam cada vez mais voltadas para que essas atividades consigam ser concluídas de maneira a acarretar o menor ônus possível para as partes nelas envolvidas. Assim, controlando e regulamentando os fatos que constituem o chamado Direito das Obrigações. E, por fim, equilibrando as relações entre os sujeitos ativos e passivos. É importante lembrar que os direitos se classificam entre os chamados direitos reais e os direitos pessoais. O primeiro é aquele que incide pontualmente sobre a coisa/objeto de direito, e, o segundo, aquele que recai especificamente no direito das obrigações, visto que ele aborda justamente as relações entre os sujeitos ativos e passivos. Os direitos obrigacionais, pessoais ou de crédito se caracterizam por atribuírem a exigência de que algum indivíduo cumpra com determinada obrigação que contraiu outrem. Podemos então dizer que os direitos obrigacionais são direitos relativos, isso quer dizer que eles são direitos direcionados para determinadas pessoas. Além disso, são direitos a uma prestação positiva ou negativa, pois exigem que se cumpra pelo devedor algo em relação à prestação cobrada pelo credor. 23 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O direito das obrigações envolve o complexo de normas que tratam das relações jurídicas entre um devedor e credor. • Direito das obrigações é o ramo do direito que especifica como deve se dar o cumprimento de determinada prestação de natureza econômica, além de garantir o compromisso das partes mediante seu patrimônio. • O direito das obrigações possui como objeto as prestações que um cidadão aufere em favor de outro indivíduo. • Obrigação é uma relação jurídica possuidora de caráter transitório que será estabelecida entre dois indivíduos: o devedor e o credor. • Para que identifiquemos determinada relação como sendo uma relação de obrigação é necessário que observemos alguns elementos, são eles: sujeito, objeto e vínculo jurídico. • Dentro dos ramos de prática forense, os operadores do direito de maneira inevitável acabam utilizando as obrigações. • Os direitos obrigacionais, pessoais ou de crédito se caracterizam por atribuírem a exigência de que algum indivíduo cumpra com determinada obrigação que contraiu outrem. 24 1 (INAZ DO PARÁ/CORE-PE – Assistente jurídico/2019) A palavra obrigação possui várias acepções de emprego cotidiano, no qual pelo menos duas são de destaque: a obrigação enquanto dever jurídico e a obrigação enquanto dever não jurídico. A obrigação que é sinônimo de dever, seja jurídico ou não, e a obrigação que é sinônimo de dever patrimonial são, respectivamente: a) ( ) Lato sensu e stricto sensu. b) ( ) Ab origine e ab intestato. c) ( ) Capitis diminutio e capitis patrilis. d) ( ) Casus deverdium e casus patronos. e) ( ) Ex lege e ex officio. 2 (INAZ DO PARÁ/CREFITO 16ª REGIÃO/MA – Advogado/2018) Mário Alencar, estilista famoso no cenário das celebridades, foi contratado pela atriz de sucesso, Beatriz Varela, para criar e costurar seu vestido de noiva que seria utilizado no dia do casamento. A partir da hipótese narrada, assinale a afirmativa correta: a) ( ) A relação obrigacional descrita tem como sujeito ativo Mário e sujeito passivo Beatriz em torno de uma obrigação cujo objeto imediato consiste em uma obrigação de fazer, fungível e que tem por fonte imediata a lei e fonte mediata o bem da vida desejado por Beatriz, que no caso é o vestido de casamento. b) ( ) A relação obrigacional descrita tem como sujeito ativo Beatriz e sujeito passivo Mário, em torno de uma obrigação que consiste em uma obrigação de fazer, fungível e o objeto mediato, o vestido de noiva e que tem por fonte imediataa lei e fonte mediata o contrato. c) ( ) O conflito obrigacional descrito tem como sujeito ativo Beatriz e sujeito passivo Mário, em torno de uma obrigação que consiste em uma obrigação de fazer, infungível e o objeto mediato, o vestido de noiva e que tem por fonte imediata a lei e fonte mediata o contrato. d) ( ) Não houve relação obrigacional neste caso. e) ( ) Por ser o vestido de noiva bem fungível, a relação obrigacional está eivada de nulidade. 3 (FMP Concursos/PGE-AC – Procurador do Estado/2017) Considere as seguintes afirmativas sobre o tema das obrigações no âmbito do Código Civil. Assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. b) ( ) Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível. AUTOATIVIDADE 25 c) ( ) Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato que se obrigou a não praticar. d) ( ) Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao credor, se outra coisa não se estipulou. e) ( ) A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica ou pela razão determinante do negócio jurídico. 4 (IDECAN/Câmara de Aracruz-ES – Procurador Legislativo/2016) Nos termos do Código Civil brasileiro, quanto ao direito das obrigações, é INCORRETO afirmar que: a) ( ) Na obrigação de dar coisa incerta, esta prescinde de indicação de gênero e quantidade. b) ( ) Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. c) ( ) Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. d) ( ) Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação. e) ( ) Na obrigação de dar coisa incerta não se faz necessária a indicação de quantidade. 5 (FUNDEP/Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro/SE – Procurador do Município/2014) A respeito do direito das obrigações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Até a tradição da coisa, os frutos percebidos são do devedor e os pendentes do credor. b) ( ) Nas obrigações de dar coisa incerta, determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence, necessariamente, ao devedor. c) ( ) Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor. Não havendo acordo, decidirá o juiz, findo o prazo por ele assinado para a deliberação. d) ( ) O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. e) ( ) A solidariedade, quando resulta da lei ou da vontade das partes, presume-se em favor do credor. 6 Maria, ao acompanhar o trabalho de Ângela pelas redes sociais e entender que é o tipo de pintura específica que pretende ter em sua casa, contratou Ângela para que esta se obrigasse, de maneira personalíssima, a fazer a pintura das paredes do quarto de seu bebê que está para nascer. Nesse caso, a obrigação de Ângela é de: a) ( ) Fazer infungível. b) ( ) Fazer fungível. c) ( ) Dar coisa incerta. d) ( ) Dar coisa certa. e) ( ) Entregar fungível. 26 27 TÓPICO 3 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Já iniciada a nossa introdução à Teoria Geral das Obrigações e ao adquirirmos entendimento acerca tanto da estrutura em que se organizam quanto das funções que desempenham as relações obrigacionais dentro do Direito Civil, passamos agora a, objetivamente, classificar as espécies de obrigações identificadas em nosso ordenamento jurídico. Para isso, iniciaremos este tópico com as relações fundamentais para nosso livro didático, as relações civis. Após, passaremos pela averiguação das diferenças entre obrigações naturais e morais, a fim de identificar quais dizem respeito ao mundo jurídico e quais não. Por fim, seremos levados à classificação basilar de nosso Código Civil acerca das relações obrigacionais, identificando e entendendo as obrigações de dar, fazer e não fazer. 2 OBRIGAÇÃO CIVIL Como já foi visto nos tópicos anteriores, obrigação no mundo jurídico é qualquer relação de crédito e débito que atinja o seu objetivo de solvência a partir do cumprimento desta. A obrigação civil é aquela da qual nasce um vínculo jurídico de prestação entre o credor e o devedor. Neste caso, o devedor da relação pode ser alvo de uma intervenção estatal por parte do credor, caso este não cumpra com a obrigação, ou seja, com o inadimplemento da obrigação, o credor terá o direito de intervir judicialmente para garantir o cumprimento por parte do devedor. A natureza da obrigação civil pode ser pessoal, personalíssima e material: a) Obrigação pessoal: é aquela que, apesar de assumida pelo devedor, poderá ser cumprida por uma terceira pessoa. b) Obrigação personalíssima: é aquela que somente poderá ser cumprida pelo devedor. c) Obrigação material: é aquela que consiste na entrega de um determinado bem. Além disso, é importante que saibamos que a obrigação civil possui por objeto alguma prestação que possa ser aferível de maneira econômica. A partir disso, as obrigações são classificadas da seguinte maneira: 28 UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 1) Quanto ao objeto O objeto da obrigação pode ser mediato ou imediato. a) Imediato: a conduta humana de dar, fazer ou não fazer. Exemplo: Obrigação da pessoa que vendeu um carro, devedor de obrigação, de dar a chave do carro adquirido para o credor, novo proprietário. b) Mediato: é caracterizado pela prestação em si. Exemplo: O que vai ser dado? A chave. 2) Quanto aos seus elementos: Como já visto anteriormente, a obrigação é composta por três elementos, que são: a) Elemento subjetivo: representado pelos sujeitos da relação (ativo e passivo). b) Elemento objetivo: representado pelo objeto da relação jurídica em questão. c) Vínculo jurídico existente entre os sujeitos da relação. É a partir desses elementos que conseguimos classificar as obrigações em: • Obrigação simples: são aquelas que aparecem representadas por todos os elementos de maneira singular. Isso quer dizer que uma obrigação simples será estruturada por apenas um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. • Obrigação composta ou complexa: diferentemente das obrigações simples, estas aparecem representadas por algum dos elementos, podendo ser todos ou qualquer um deles de maneira plural. Exemplo: uma obrigação que contenha dois sujeitos ativos, um sujeito passivo e um objeto. Entendemos, então, que: QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO OBJETO Imediato Mediato QUANTO AOS ELEMENTOS Subjetivo Objetivo Vínculo jurídico QUANTO AO MEIO E RESULTADO Meio Resultado FONTE: A autora TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 29 FONTE: A autora As obrigações compostas ou complexas, por sua vez, se subdividem em: a) Obrigações cumulativas: os objetos apresentam-se somados, ou seja, estão associados à conjunção "e". Exemplo: O cidadão devedor X deve dar para o cidadão credor Y um carro e uma moto. b) Obrigações alternativas: os objetos apresentam-se se alternando entre opções, ou seja, associados à conjunção "ou", pode ser um objeto substituído por outros, como opção do cidadão devedor. Exemplo: O cidadão devedor X deve dar para o cidadão credor Y o valor de R$ 10.000,00 ou um carro. c) Obrigações divisíveis: é quando a obrigação possui mais de um sujeito ativo e o objeto aparece dividido entre mais de um sujeito. Exemplo: quando se tem obrigação de dar determinada quantia em dinheiro somada para mais de um sujeito credor. Como uma dívida em que o montante é de R$ 100.000,00 e se possui dois credores, então a solvência ocorre ao se pagar R$ 50.000,00 para cada um dos dois credores. d) Obrigações indivisíveis:é quando a obrigação possui um objeto que não pode ser dividido entre mais de um sujeito ativo/credor. Exemplo: a entrega de um carro. e) Obrigações solidárias: são aquelas obrigações que decorrem das leis ou da vontade das partes, independentemente da divisibilidade do objeto. Para melhor absorção, visualizemos o esquema a seguir: FIGURA 1 – SUBDIVISÃO DAS OBRIGAÇÕES CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES SIMPLES COMPOSTA Cumulativas Alternativas Divisíveis Indivisíveis Solidárias Seguem alguns pontos relevantes sobre obrigações solidárias: 1- Essa solidariedade pode ser chamada tanto de solidariedade ativa quanto passiva. 2- Isso irá variar conforme o polo de sujeitos que estará representado de maneira plural dentro da relação em questão. 3- Quando qualquer dos devedores pode responder pela dívida inteira, este terá direito de regresso contra o restante dos sujeitos que não realizou a prestação. Exemplo: X e Y são sujeitos passivos de uma obrigação. Z é o sujeito 30 UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ativo e demanda a solvência total da dívida para X, que cumpre a prestação sozinho e, então, posteriormente, cobra de Y a parte que pagou a mais. 3) Quanto ao meio e resultado a) Obrigação de meio: ocorre quando o cidadão devedor (o sujeito passivo da obrigação) se compromete em fazer a melhor utilização da sua sabedoria, meios e técnicas para alcançar o resultado firmado entre ele e a outra parte da obrigação (credor/sujeito ativo). Contudo, esta relação se firma sem que o primeiro sujeito (devedor) se encontre responsabilizado nos casos em que o desejo final pretendido entre as partes não seja alcançado. Exemplo: a contratação de um profissional advogado. Este deverá utilizar todos os meios para conseguir obter a sentença desejada por seu cliente, mas em nenhum momento será responsabilizado caso não consiga atingir tal objetivo. b) Obrigação de resultado: ocorre quando o cidadão devedor (sujeito passivo) não apenas aproveita-se de todos os seus métodos, técnicas e sabedoria ao seu alcance para a chegar na aquisição do resultado pretendido. Mas, também, se compromete com a responsabilização caso o resultado alcançado seja diverso do esperado entre as partes. Dessa maneira, o cidadão devedor (sujeito passivo) só restará isento da obrigação firmada quando, finalmente, alcançar o resultado almejado pela parte credora (sujeito ativo). Exemplo: a contratação de uma empresa de transportes. O objetivo final da obrigação firmada é a entrega de determinado material para o credor (sujeito ativo). Assim, se mesmo com a utilização de todos os meios a disposição a transportadora não conseguir executar a entrega (obter o resultado), não estará exonerada da obrigação até que ela a execute. 3 OBRIGAÇÃO NATURAL E MORAL É importante que neste subtópico consigamos separar este espaço para classificarmos a diferenciação entre obrigações do tipo natural e moral. Ocorre que ambas são igualmente importantes e verificam-se comumente dentro dos negócios jurídicos. Quando se fala em moral, somos logo remetidos a uma obrigação proveniente da própria consciência humana. Esse tipo de obrigação, então, gera consequências apenas internas. Como exemplo podemos citar ações como não trair o namorado ou frequentar a igreja de sua religião em determinado dia da semana. Percebemos, então, que dentro das relações obrigacionais o inadimplemento de uma obrigação moral não dá direito ao credor de reivindicar judicialmente a solvência da obrigação pelo devedor, uma vez que nesses casos a obrigação é simplesmente um dever de consciência. Os embasamentos essenciais dos preceitos morais, assim como a execução de uma obrigação de cunho moral, sempre serão representados como uma generosidade e não como pagamento. TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 31 IMPORTANT E Importante lembrar: o cidadão que por livre e espontânea vontade cumprir uma prestação moral, também não terá direito ao arrependimento. A obrigação natural é possuidora de todas as particularidades de uma obrigação civil. Nesse tipo de obrigação é possível reconhecer a totalidade dos elementos de uma obrigação civil, quais sejam o credor, o devedor e o objeto. Entretanto, o fator que as diferencia é bastante essencial. A diferença está no fato de que, diferentemente de uma obrigação civil, a obrigação natural per si não traz a garantia jurídica de solvência da obrigação adquirida. IMPORTANT E Diferentemente da obrigação moral, na obrigação natural não há que se falar em generosidade, uma vez que o cumprimento desta é considerado um adimplemento. Na obrigação natural, o credor não possui a prerrogativa de exigência ao pagamento, assim como o devedor não pode exigir a devolução por arrependimento, e neste caso o objeto ficará nas mãos no credor a título de pagamento e não de generosidade. Com isto, concluímos que, ao determinar os conceitos fundamentais, é possível chegar nas definições acertadas sobre obrigações civil, moral e natural, uma vez que cada uma possui pequenas características diferenciadoras umas das outras. Vemos, então, que a obrigação civil é aquela que dá ao credor o direito de exigência judicial, já a obrigação moral é apenas um ato de generosidade, e, ainda, a obrigação natural é aquela em que não existe o direito de exigência por parte do credor, mas de qualquer forma, a solvência da obrigação é tida como adimplemento. Vejamos de maneira simplificada: • OBRIGAÇÃO CIVIL – existe vínculo jurídico o qual sujeita o devedor à realização de uma prestação em detrimento do interesse do credor. Isto confere ao credor o direito de ação contra o devedor inadimplente. • OBRIGAÇÃO MORAL – é aquela desempenhada com fundamento em dever de consciência, o que torna sua execução um ato de mera liberalidade e não de pagamento real. Não obstante, esse tipo de obrigação confere àquele 32 UNIDADE 1 | TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES que recebeu o pagamento a que chamamos de soluti retentio (retenção de pagamento, impedindo que o devedor uma vez tendo executado o pagamento, procure posterior restituição deste). Exemplo: o pagamento de gorjeta ao garçom. Uma vez pago, a indivíduo não poderá pedir de volta. • OBRIGAÇÃO NATURAL – embora não possua o respaldo exigência através de ação judicial, o seu adimplemento (cumprimento, execução) representará um pagamento real e não mera liberalidade (generosidade). Este fato também confere ao credor a soluti retentio, de modo que, quem a cumpriu, não tem direito de posteriormente exigir a restituição. Exemplo: pagamento de dívida de jogo ilegal. 4 OBRIGAÇÃO DE DAR E FAZER/NÃO FAZER Quanto à prestação das obrigações, temos a seguinte classificação: • Obrigações positivas: possuem como objeto uma prestação, um agir, que pode ser tanto de dar quanto de fazer algo, assim, possui a seguinte subclassificação: a) Obrigações de dar (pode ocorrer sobre coisa certa ou coisa incerta). b) Obrigações de fazer. • Obrigações negativas: possuem como objeto uma falta de ação, sendo estas as chamadas obrigações de não fazer. Agora, encaminharemos o presente tópico para suas questões finais, assim, passaremos a analisar de forma bastante detalhada cada uma das classificações das obrigações quanto as suas prestações. Iniciaremos pela obrigação positiva de dar. No direito das obrigações, ela pode ter, juridicamente, três sentidos: 1- Pode significar transferir a posse e a propriedade de alguma coisa; 2- Entregar alguma posse (exemplo: na locação, o locador tem a obrigação de transferir apenas a posse e não a propriedade), ou, ainda; 3- Restituir a posse e/ou a propriedade (exemplo: contrato de depósito). Fixa-se que, em qualquer um dos três sentidos apresentados, a obrigação de dar significa executar uma prestação de coisas. ATENCAO TÓPICO 3 | CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 33 A obrigação de dar, ainda, se encontra subclassificada em: a) Dar coisa certa: é aquela em que a prestação está relacionada a um bem específico ou individualizado.
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