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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS GUARULHOS - SP 1 SUMÁRIO 1 INICIAÇÃO AOS CONCEITOS E MÉTODOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL SEGUNDO AS ABORDAGENS DA LINGUA MODERNA ................................................ 4 1.1 Qual o papel da linguística? ..................................................................................... 4 2 PROBLEMAS E LIMITES DAS TEORIAS GRAMATICAIS ........................................ 6 2.1 Os processos de Comunicação ............................................................................. 10 3 LÍNGUA COMO SISTEMA HETEROGÊNIO ........................................................... 12 3.1 Comunicação: Os processos da comunicação ...................................................... 14 3.2 Os elementos da comunicação .............................................................................. 14 3.3 Tipos de comunicação ........................................................................................... 18 3.4 Níveis de Linguagem ............................................................................................. 19 3.5 Padrão Formal Culto e Padrão Coloquial .............................................................. 21 3.6 Funções da Linguagem ......................................................................................... 21 4 SIGNIFICADO SOCIAL DAS FORMAS VARIANTES .............................................. 26 4.1 Definindo linguagem .............................................................................................. 26 4.2 Fala ........................................................................................................................ 27 4.3 Língua .................................................................................................................... 29 4.4 Língua x fala .......................................................................................................... 31 4.5 O homem o mundo e a língua................................................................................ 35 5 FERDINAND DE SAUSSURE PERCURSO DE ESTUDO DA LÍNGUAS ................ 39 6 SIGNO LINGUISTICO.............................................................................................. 41 6.1 A teoria do Signo Linguístico segundo Saussurre ................................................. 43 7 SIGNO, SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE ............................................................... 43 8 IMUTABILIDADE E MUTABILIDADE DO SIGNO .................................................... 50 9 A ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO ................................................... 52 9.1 Possíveis hierarquias entre significante e significado ............................................ 53 10 A DUPLA ARTICULAÇÃO DA LÍNGUA ................................................................... 55 11 RESUMINDO CONCEITOS BÁSICOS .................................................................... 58 12 RELAÇÕES SIGMÁTICAS E CORRELAÇÕES PARADIGMÁTICAS ...................... 60 11.1 Relações Sintagmática .......................................................................................... 60 11.2 As relações Paragmáticas ..................................................................................... 60 12 NIVÉIS DE SINTAGMA E PARADIGMA .................................................................. 61 12.1 Níveis de Sintagma ................................................................................................ 62 12.2 Níveis de Paradigma .............................................................................................. 62 14 PONTOS DE VISTA SINCRÔNICO E DACRÔNICO .............................................. 65 13 VARIAÇÃO LINGUISTICA E ENSINO ..................................................................... 69 13.1 Linguagem e Sociedade ........................................................................................ 69 13.2 Linguagem e Indivíduo ........................................................................................... 71 14.3 Indivíduo e Sociedade ........................................................................................... 72 14.4 Ninguém quer ouvir Kaspar Hauser ....................................................................... 73 14.5 A relação de língua e sociedade em “Philos” ......................................................... 76 14.6 Conceito Linguístico ............................................................................................... 78 14 TEORIA DA VARIAÇÃO: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................................................................... 79 14.1 As relações entre as teorias da mudança e a história da(s) língua(s) ................... 90 15 DIMENSÕES EXTERNA E INTERNA DA VARIAÇÃO LINGUISTICA ..................... 97 15.1 Variação estável ou mudança em curso? ............................................................ 104 15.2 O estudo da mudança linguística em tempo aparente ......................................... 105 15.3 As variáveis sociais na caracterização dos processos de variação e mudança .. 106 16 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA .... 108 16.1 Tendências atuais da linguística no Brasil ........................................................... 112 16.2 Variações: A Multiformidade Da Língua ............................................................... 115 16.3 Variação histórica ................................................................................................ 116 16.4 Variação geográfica ............................................................................................. 118 16.5 Variação social ..................................................................................................... 120 17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA: ....................................................................................... 128 4 2 INICIAÇÃO AOS CONCEITOS E MÉTODOS DA DESCRIÇÃO GRAMATICAL SEGUNDO AS ABORDAGENS DA LINGUA MODERNA Fonte:www.queconceito.com.br De acordo com diversos conceitos e definições existentes a linguística nada mais é do que o estudo científico que se dedica aos fenômenos de dois tipos de linguagem, a verbal e a oral. Contudo, tal definição tem gerado controvérsias em razão das múltiplas conceituações do termo linguagem. Para diversos linguistas, estudiosos da linguística, a questão “o que é linguagem? ” Pode ser comparada as perguntas “de onde vim? ” ou “para onde vou?”. Sendo assim, definir o que é língua e também o que é linguística, acaba se tornando uma tarefa extremamente complexa. 2.1 Qual o papel da linguística? Por se tratar do estudo dos fenômenos da língua, a linguística tem um importante papel ao difundir as descobertas e conhecimentos da linguagem, afinal, toda e qualquer mudança que ocorre com a escrita reflete mudanças também na fala. https://www.resumoescolar.com.br/portugues/linguagem-e-comunicacao/ https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/razao-x-sentidos/ 5 Na tentativa de cumprir com o objetivo de estudar a linguagem humana a linguística acaba se ramificando de duas formas: 1. Linguística Geral: tem como função desenvolver uma espécie de metodologia de pesquisa que compreenda desde a delimitação de alguns conceitos até a discussão de alguns modelos descritivos dos chamados fenômenos linguísticos, assumindo um caráter teórico mais geral. 2. Linguística Descritiva: Como o próprio nome sugere, observa e descreve línguas a partir de técnicas e métodos específicos com o intuito de compreender a estrutura, e também, como as línguas funcionam. Portanto, determina a natureza e os traçosresponsáveis pela composição da língua. Sendo assim, a linguística geral teria como finalidade formular hipóteses acerca da presença de nomes e verbos em todas as línguas, enquanto isso, a linguística descritiva demonstra de forma empírica se tais hipóteses são verdadeiras. O linguista estuda a linguagem verbal, a gramática e a evolução dos idiomas. Ele investiga as línguas das diversas sociedades e sua relação com outros idiomas. Analisa a estrutura e a sonoridade das palavras e das sentenças, o significado dos termos e das expressões idiomáticas, bem como as diferenças de uso por grupos regionais ou sociais. Pode trabalhar na elaboração de material didático e no planejamento de projetos de alfabetização. A informática e a estatística são ferramentas fundamentais de pesquisa. Em interação com especialistas em psicologia, esse bacharel estuda os processos que envolvem a linguagem e a mente. Com profissionais de informática, pode dedicar-se ao desenvolvimento de linguagem artificial. https://www.resumoescolar.com.br/matematica/funcao-do-1o-grau-funcao-quadratica-e-estudo-do-sinal/ https://www.resumoescolar.com.br/portugues/emprego-dos-tempos-indicativo-e-subjuntivo-no-estudo-dos-verbos/ 6 3 PROBLEMAS E LIMITES DAS TEORIAS GRAMATICAIS Diferentemente do que os americanos e europeus, de origem anglo saxônica e eslava, os povos latinos como nós, brasileiros, damos pouca importância na qualidade da comunicação interpessoal e profissional. Preocupamo-nos muito mais com a qualidade do que falamos e demonstramos, do que com o entendimento que o outro, o ouvinte, ou o destinatário da mensagem terá. Na maioria das vezes ficamos concentrados naquilo que a outra pessoa está dizendo pensando no que iremos responder. Um dos ditados mais populares demonstra isso com clareza: “Para um bom entendedor, meia palavra basta”. Essas distorções nesse processo de comunicação levam muitas vezes a uma concentração de energia, para justificarmos, ou explicarmos, mais uma vez, o que queríamos realmente transmitir. Ficamos procurando minimizar conflitos, esclarecer dúvidas, que muitas vezes não existiriam se toda essa energia estivesse direcionada no processo eficiente da comunicação. Muitas das dificuldades nos relacionamentos pessoais e, problemas nas organizações originam-se nos processos de comunicação deficientes e viciados. Um dos maiores vícios é que percebendo que temos desenvoltura para expressão, verbal, escrita ou outra, achamos que somos bons comunicadores. Entretanto existe uma diferença fundamental entre informação e comunicação. Informar é um ato unilateral, que apenas envolve a pessoa que tem uma informação a dar. Comunicação é tornar algo comum. Fazer-se entender, provocar no outras reações. Outro vício, não menos importante, é nossa incapacidade de ouvir. Precisamos saber falar, escrever, demonstrar sentimentos e emoções, mas igualmente importante no processo é estarmos preparados para ouvir. Observe que muitas vezes numa conversa é fácil identificar que as pessoas estão muito mais preocupadas com a maneira que irão responder. Numa análise mais fria não estão ouvindo. Se podemos facilitar porque complicar? O custo de uma comunicação deficiente, não se revela apenas nas relações organizacionais, causa profundo mal-estar e sérios conflitos pessoais. 7 Fonte: www.pedagogiaaopedaletra.com Uma das alternativas para tornar a comunicação com qualidade é entendermos como o processo de comunicação se realiza. Não se trata de analisarmos cada diferente tipo de comunicação, mas de identificar certos pontos em comuns entre elas. A forma como se relacionam e se processam nos mais diferentes ambientes e situações. Um modelo de processo de comunicação, entre tantos outros, elaborado por Berlo, em 1963, apresenta alguns elementos comuns: o emissor: é a pessoa que tem algo, uma ideia, uma mensagem, para transmitir, ou que deseja comunicar; o codificador: o tipo, ou a forma que o emissor irá exteriorizar; a mensagem: é a expressão da ideia que o emissor deseja comunicar; o canal: é o meio pelo qual a mensagem seja conduzida; o decodificador: é o mecanismo responsável pela decifração da mensagem pelo receptor; e o receptor: o destinatário final da mensagem, ideia etc. O modelo: O significado, a compreensão e a realimentação são componentes muito importantes da comunicação. Cabe ao emissor verificar se o significado de sua ideia foi compreendido pelo receptor. Este por sua vez realimenta o sistema e temos a partir daí 8 grandes possibilidades de um processo de comunicação saudável. Em outras palavras o receptor quando retorna ao emissor o que entendeu da sua mensagem está dando qualidade ao processo e iniciando o diálogo. Quando alguma coisa ocorre nesse processo, de forma que o significado do emissor é diferente da compreensão do receptor, temos aquilo que foi denominado ruídos de comunicação. Os ruídos podem ser originados em qualquer um dos elementos do processo, emissor, canal ou receptor. Existe uma extensa literatura que apresenta exemplos de tipos de ruídos mais comuns. Dentre eles, destacam-se: a ausência do feedback (a realimentação positiva) e o medo de se comunicar. Precisamos, compreendendo melhor como funciona o processo, praticar e reconhecer como estamos nos comunicando. Reduzir e eliminar os ruídos conhecidos pelos quais somos responsáveis. E se for para aprender um pouco mais, quando você for se comunicar com alguém, preste atenção na comunicação não verbal. A comunicação não verbal é muito importante nas relações que mantemos com as pessoas, observando poderemos verificar algumas maneiras de identificar ruídos e eliminá-los. Aqui algumas dicas ou técnicas para um observador: Olhos – São os órgãos mais expressivos do corpo. Os olhos dizem se alguém está feliz, triste, interessado, exaltado, surpreso, mentindo, doente ou em uma dezena de outros estados. Temos muito pouco controle sobre o que os olhos “dizem”. Rosto – A boca pode parecer mal humorada, fazer careta, beicinho, sorrir ou expressar imponência. Rosto vermelho, corado, pode revelar desconforto, embaraço ou falta de emergia física. Uma sobrancelha levantada é capaz de calar uma criança que grita. Corpo – Nossa sociedade tira profundas (e nem sempre bem fundamentadas) conclusões sobre as pessoas, segundo sejam altas, baixas, gordas ou magras. 9 Postura – Inclinado, ajoelhado, com os ombros caídos numa postura curvada ou de pé e ereto – todas essas posturas criam imagens diferentes na mente dos outros. Experimente contar algo muito alegre, uma piada, por exemplo, curvado para frente, como se estivesse olhando para os pés. Cabelos – Algumas pessoas fazem julgamento de outras com base na cor dos cabelos (toda loira é burra, por exemplo) ou no fato de ele ser natural ou não. A quantidade de cabelos que restam na cabeça de um homem pode ser significativa para certas pessoas, assim como a existência de bigode ou barba – e como ele cuida de um ou de outro. O corte de cabelos é, muitas vezes, um indicador de valores, crenças religiosas, ou status socioeconômico da pessoa. Gestos – Os movimentos de mão reforçam ou contradizem o que é dito, e até podem servir como substitutos das palavras. Todo cuidado é pouco. Roupas – Livros inteiros tem sido escritos sobre como as roupas “falam”, em especial nos ambientes profissionais. Voz – As mensagens vocais incluem tom, altura, ênfase, inflexão, ritmo, volume, vocabulário, pronúncia, dialeto e fluência. Estudos demonstraram que esses fatores são cinco vezes mais potentes do que as próprias palavras externadas. Toque – Apesar dos tabus que se desenvolveram nos últimos tempos em relação ao toque nos locais de trabalho. Algumas organizações estão ensinando seus profissionais a usar o toque para melhorar a comunicação com osclientes. A mensagem de toque mais importante é o aperto de mão – por acaso não lhe diz um bocado sobre a outra pessoa? Comportamento – “As palavras mostram a inteligência de um homem, mas as ações seu pensamento” - Eclesiastes. As pessoas observam 10 constantemente seu comportamento para descobrir o que há de verdade por trás de suas palavras. Espaço Pessoal – Corresponde à distância que mantém entre você e os outros, quando fala com eles. Às vezes, uma pessoa invade o que a outra estabeleceu como seu espaço pessoal. Essa distância varia de cultura para cultura, de região para região. Dois árabes ficam mais próximos um do outro em uma conversa do que dois alemães. Tempo – O que seu uso do tempo diz aos outros? Você faz as pessoas esperarem e chega atrasado a reuniões? Gosta de explicar as coisas nos seus míiiiiniiiiimooooos detalhes? Você deixa de cumprir os prazos finais combinados? Existem uma centena de outras técnicas de comunicação verbal a serem observadas, entretanto, me parece que as que coloquei no texto são as mais comuns. 3.1 Os processos de Comunicação Observe a fala do vendedor: “Quem sabe o senhor desenha para nós?” Se o comprador soubesse desenhar, o problema estaria resolvido facilmente. Ele poderia lançar na mão de um outro meio de expressão que não fosse a fala. O homem dispõe de vários recursos para se expressar e se comunicar. Esses recursos podem utilizar sinais de diferente natureza. Tais sinais admitem a seguinte classificação: a) Verbais; b) Não-Verbais; Quando esses sinais se organizam formando um sistema, eles passam a constituir uma linguagem. 11 Observe: “ O Incêndio destruiu o Edifício Z” Para expressar o mesmo fato, foram utilizadas duas linguagens diferentes: a) Linguagem Não-Verbal - Qualquer código que não utiliza palavra; b) Linguagem Verbal - Código que utiliza a palavra falada ou escrita; Linguagem é todo sistema organizado de sinais que serve como meio de comunicação entre os indivíduos. Mas, além dessa, há outras formas de linguagem, como a pintura, a mímica, a dança, a música e outras mais. Com efeito, por meio dessas atividades, o homem também representa o mundo, exprime seu pensamento, comunica- se e influencia os outros. Tanto a linguagem verbal quanto à linguagem não-verbal expressam sentidos e, para isso, utilizam-se de signos, com a diferença de que, na primeira, os signos são constituídos dos sons da língua (por exemplo, mesa, fada, árvore), ao passo que nas outras exploram-se outros signos, como as formas, a cor, os gestos, os sons musicais, etc. Em todos os tipos de linguagem, os signos são combinados entre si, de acordo com certas leis, obedecendo a mecanismos de organização. 12 4 LÍNGUA COMO SISTEMA HETEROGÊNIO Uma diferença muito nítida vai encontrar no fato de que a linguagem verbal é linear. Isto quer dizer que seus signos e os sons que a constituem não se superpõem, mas se sucedem destacadamente um depois do outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita. Em outras palavras, cada signo e cada som são usados num momento distinto do outro. Essa característica pode ser observada em qualquer tipo de enunciado linguístico. Na linguagem não-verbal, ao contrário, vários signos podem ocorrer simultaneamente. Se na linguagem verbal, é impossível conceber uma palavra encavalada em outra, na pintura, por exemplo, várias figuras ocorrem simultaneamente. Quando contemplamos um quadro, captamos de maneira imediata a totalidade de seus elementos e, depois, por um processo analítico, podemos ir decompondo essa totalidade. Fonte: www.huffingtonpost.com O texto não-verbal pode em princípio, ser considerado dominantemente descritivo, pois representa uma realidade singular e concreta, num ponto estático do tempo. Uma foto, por exemplo, de um homem de capa preta e chapéu, com a mão na maçaneta de 13 uma porta é descritiva, pois capta um estado isolado e não uma transformação de estado, típica da narrativa. Mas podemos organizar uma sequência de fotos em progressão narrativa, por exemplo, assim: I. Foto de um homem com a mão na maçaneta da porta; II. Foto da porta semiaberta com o mesmo homem espreitando o interior de um aposento; III. Foto de uma mulher deitada na cama, gritando com desespero; Como nessa sequência se relata uma transformação de estados que se sucedem progressivamente, configura-se a narração e não a descrição. Essa disposição de imagens em progressão constitui recurso básico das histórias em quadrinhos, fotonovelas, cinema etc. Sobretudo com relação a fotografia, ao cinema ou a televisão, pode-se pensar que o texto não-verbal seja uma cópia fiel da realidade. Também essa impressão não é verdadeira. Para citar o exemplo da fotografia, o fotógrafo dispõe de muitos expedientes para alterar a realidade: o jogo de luz, o ângulo, o enquadramento, etc. A estatura do indivíduo pode ser alterada pelo ângulo de tomada da câmera, um ovo pode virar uma esfera, um rosto iluminado pode passar a impressão de alegria, o mesmo rosto, sombrio, pode dar impressão de tristeza. Mesmo o texto não-verbal, recria e transforma a realidade segundo a concepção de quem o produz. Nele, há uma simulação de realidade, que cria um efeito de verdade. Os textos verbais podem ser figurativos (aqueles que reproduzem elementos concretos, produzindo um efeito de realidade) e não-figurativos (aqueles que exploram temas abstratos). Também os textos não-verbais podem ser dominantemente figurativos (as fotos, a escultura clássica) ou não-figurativos e abstratos. Neste caso, não pretendem sumular elementos do mundo real (pintura abstrata com oposições de cores, luz e sombra; esculturas modernas com seus jogos de formas e volumes). 14 4.1 Comunicação: Os processos da comunicação Teoria da comunicação; O esquema da comunicação: Existem vários tipos de comunicação: as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, por e- mails, internet, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado pode comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, e-mails, etc. Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem, e se constitui por um certo número de elementos, indicados no esquema abaixo: Esses elementos serão explicados a seguir: 4.2 Os elementos da comunicação a) O emissor ou destinador é o que emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo (firma, organismo de difusão, etc.) b) O receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem; pode ser um indivíduo, um grupo, ou mesmo um animal ou uma máquina (computador). Em todos estes casos, a comunicação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver 15 uma incidência observável sobre o comportamento do destinatário (o que não significa necessariamente que a mensagem tenha sido compreendida: é preciso distinguir cuidadosamente recepção de compreensão). c) A mensagem é o objeto da comunicação; ela é constituída pelo conteúdo das informações transmitidas. d) O canal de comunicação é a via de circulação das mensagens. Ele pode ser definido, de maneira geral, pelos meios técnicos aos quais o destinador tem acesso, a fim de assegurar o encaminhamento de sua mensagem para o destinatário: Meios sonoros: voz, ondas sonoras, ouvido... Meios visuais: excitação luminosa, percepção da retina... De acordo com o canal de comunicação utilizado, pode-se empreender uma primeira classificação das mensagens: as mensagens sonoras: palavras, músicas, sons diversas; as mensagens tácteis: pressões, choques, trepidações, etc.; as mensagens olfativas: perfumes, por exemplo; as mensagens gustativas: tempero quente (apimentado) ou não... Observação: um choque, um aperto de mão, um perfume sóconstituem mensagens se veicularem, por vontade do destinador, uma ou várias informações dirigidas a um destinatário. A transmissão bem-sucedida de uma mensagem requer não só um canal físico, mas também um contato psicológico: pronunciar uma frase com voz alta e inteligível não é suficiente para que um destinatário desatento a receba. e) O código é um conjunto de signos e regras de combinação destes signos; o destinador lança mão dele para elaborar sua mensagem (esta é a operação de codificação). O destinatário identificará este sistema de signos (operação de decodificação) se seu repertório for comum ao do emissor for comum ao do emissor. Este 16 processo pode se realizar de várias maneiras (representaremos por dois círculos os repertórios de signos do emissor e do receptor): 1º Caso: A comunicação não se realizou; a mensagem é recebida, mas não compreendida: o emissor e o receptor não possuem nenhum signo em comum. Exemplos: mensagem cifrada recebida por um receptor que ignora o código utilizado; neste caso, poderá haver uma operação de decodificação, mas ela será longa e incerta; Conversa entre um brasileiro e um alemão, em que um não fala a língua do outro. 2º Caso: A comunicação é restrita; são poucos os signos em Comum. Exemplos: Conversa entre um inglês e um estudante brasileiro de 1º grau que estuda inglês há um ano. 3º Caso A comunicação é mais ampla; entretanto, a inteligibilidade dos signos não é total: certos elementos da mensagem proveniente de E não serão Compreendidos por R. 17 Exemplos: Um curso de alto ministrado a alunos não preparados para recebe-lo. 4º Caso: A comunicação é perfeita: todos os signos Emitidos por E são compreendidos por R (O inverso não é verdadeiro, mas estamos Considerando um caso de uma comunicação Unidirecional: ver mais abaixo.) Não basta, no entanto, que o código seja comum para que se realize uma comunicação perfeita; por exemplo, dois brasileiros não possuem necessariamente a mesma riqueza de vocabulário, nem o mesmo domínio sintaxe. Finalmente, deve ser observado que certos tipos de comunicação podem recorrer simultaneamente à utilização de vários canais de comunicação e de vários códigos (exemplo: o cinema). f) O referente é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos reais aos quais a mensagem remete. Há dois tipos de referentes: Referente situacional: constituído pelos elementos da situação do emissor e do receptor e pelas circunstâncias de transmissão da mensagem. Assim é que quando uma professora dá a seguinte ordem à seus alunos: “coloquem o lápis sobre a carteira”, sua mensagem remete a uma situação espacial, temporal e a objetos reais. Referente textual: constituído pelos elementos do contexto linguístico. Assim, num romance, todos os referentes são textuais, pois o destinador (o romancista) não faz alusão salvo raras exceções - à sua situação no 18 momento da produção (da escrita) do romance, nem a do destinatário (seu futuro leitor). Os elementos de sua mensagem remetem a outros elementos do romance, definidos no seu próprio interior. Da mesma forma, comentando sobre nossas recentes férias na praia, num bate-papo com os amigos, não remetemos, com a palavra “praia” ou com a palavra “areia”, as realidades presentes no momento da comunicação. 4.3 Tipos de comunicação Comunicação unilateral é estabelecida de um emissor para um receptor, sem reciprocidade. Por exemplo, um professor, um professor durante uma aula expositiva, um aparelho de televisão, um cartaz numa parede difunde mensagens sem receber resposta. Comunicação bilateral se estabelece quando o emissor e o receptor alternam seus papéis. É o que acontece durante uma conversa, um bate-papo, em que há intercâmbio de mensagens. 19 4.4 Níveis de Linguagem Texto: Aí, Galera “Jogadores de futebol podem ser vítimas de Estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um Jogador de futebol dizendo ‘estereotipação’? E, no Entanto, por que não? - Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. - Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais Esportistas, aqui presentes ou no recesso de seus lares. - Como é? - Aí, galera. - Quais são as instruções do técnico? - Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção. Coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, Aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, Concatenarmos um contragolpe agudo, com parcimônia de Meios e extrema objetividade, valendo-nos na desestruturação Momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão Inesperada do fluxo da ação. - Kahn? - É pra dividir no meio e ir pra cima pra pega eles sem calça. - Certo. Você quis dizer mais alguma coisa? - Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, Talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado Por razões, inclusive, genéticas? - Pode. - Uma saudação para a minha progenitora. - Como é? - Alô, mamãe! 20 - Estou vendo que você é um, um... - Um jogador que confunde o entrevistador, pois Não corresponde à expectativa de que o atleta seja um Ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim Sabota a estereotipação? - Estreou? - Um chato? - Isso.” Luís Fernando Veríssimo. A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em Portugal, no ano de 1536. Reflexo do momento histórico - a Europa vivia o auge do movimento renascentista, apresentava um conceito clássico de gramática: “a arte de falar e escrever corretamente”. Em outras palavras: só falava e escrevia bem quem segue o padrão imposto pela gramática normativa, o chamado nível ou padrão formal culto. Quem fugisse desse padrão incorria em erro, não importando o que, para quem e para que se estava falando. Qualquer que fosse o interlocutor, o assunto, a situação, a intenção do falante, era o padrão formal culto que deveria ser seguido. Hoje, entende-se que o uso que cada indivíduo faz da língua depende de várias circunstâncias: do que vai ser falado e de que forma, do contexto, do nível social e cultural de quem fala e de para quem se está falando. Isso significa que a linguagem do texto deve ser adequada à situação, ao interlocutor e a intencionalidade do falante. Voltemos ao texto acima (Aí, galera). As falas do jogador de futebol são inadequadas ao contexto: a seleção vocabular, a combinação das palavras, a estrutura sintática e a frase extensa (releia, por exemplo, a terceira resposta do jogador, num único longo período) fogem da situação a que a fala está relacionada, ou seja, uma entrevista dada ainda no campo de jogo durante um programa esportivo. E o mais curioso é que o jogador tem nítida consciência de qual é a função da linguagem e de qual é o seu papel como falante, tanto que, ante a surpresa do entrevistador, passa do padrão formal culto para o padrão coloquial, mais adequado àquela situação: 21 “ - Uma saudação para a minha progenitora.” Tradução, em linguagem coloquial: “_Alô, mamãe!” Assim, podemos reconhecer em uma mesma comunidade que utiliza um único código – a língua portuguesa, por exemplo – vários níveis e formas de expressão. 4.5 Padrão Formal Culto e Padrão Coloquial De maneira geral, podemos distinguir o padrão coloquial do padrão formal culto. Padrão Formal Culto – é a modalidade de linguagem que deve ser utilizada em situações que exigem maior formalidade, sempre tendo em conta o contexto e o interlocutor. Caracteriza-se pela seleção e combinação das palavras, pela adequação a um conjunto de normas, entre elas, a concordância, a regência, a pontuação, o emprego correto das palavras quanto ao significado, a organização das orações e dos períodos, as relações entre termos, orações, períodos e parágrafos. Padrão Coloquial – faz referência à utilização da linguagem em contextos informais, íntimos e familiares, que permitem maior liberdade de expressão. Esse padrão mais informal também é encontrado em propagandas, programas de televisão ou de rádio, etc. 4.6 Funções da Linguagem As funções da linguagem são seis: Função referencial ou denotativa; Função emotiva ou expressiva; Função Fática; Função conativa ou apelativa; 22 Função metalinguística; Função poética, Leia os textos a seguir: Texto A A índia Everson, da tribo Caiabi, que deu à luz a três meninas, através de uma operação cesariana, vai ter alta depois de amanhã, após ter permanecido no Hospital Base de Brasília desde o dia 16 de março. No início, os índios da tribo foram contrários à ideia de Everson ir para o hospital mas hoje já aceitam o fato e muitos já foram visitá- la. Everson não falava uma palavra de Português até ser internada e as meninas serão chamadas de Luana, Uiara e Poitara. Jornal da Tarde, 13 jul. 1982 Texto B Uma morena Não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto – se tomada com cuidado, verto água limpa sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos, num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, mesmo assim insisto: meus gestos, minhas palavras são magrinhos como eu, e tão morenos, que esboçados a sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, pressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha. Para beber, além do chá, raramente admito um cálice de vinho branco, mas que seja seco para não esbrasear em excesso minha garganta em ardores... ABREU, Caio Fernando. Fotografias. In: Morangos mofados. 2. ed. São Paulo, Brasiliense, 1982. p. 93) 23 Texto C - Você acha justo que se comemore o Dia Internacional da mulher? - Nada mais justo! Afinal de contas, você está entendendo, a mulher há séculos, certo, vem sendo vítima de exploração e discriminação, concorda? Já houve alguns avanços, sabe, nas conquistas femininas. Você percebeu? Apesar disso, ainda hoje a situação da mulher continua desfavorável em relação à do homem, entende? Texto D Mulher, use o sabonete X. Não dispense X: ele a tornará tão bela quanto à Estrelas de cinema. Texto E Mulher. [Do lat. Mulheres.] S. f. 1. Pessoa do sexo feminino após a puberdade. [Aum.: mulherão, mulheraça, mulherona.] 2. Esposa. FERREIRA, Aurélio Buarque de H. Novo dicionário da língua portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975. Texto F A mulher que passa Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca! Oh! Como és linda, mulher que passas Que me sacia e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos, são poesia. 24 Teus sofrimentos, melancolia. Teus pelos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Meu Deus, eu quero a mulher que passa! MORAIS, Vinícius de. A mulher que passa. In:____. Antologia poética. 4. ed. Rio de Janeiro, Ed. Do autor, 1960. p.90. Todos os textos lidos, o tema é um só: mulher. No entanto, a maneira de cada autor varia. O que provoca essa diversificação é o objetivo de cada emissor, que organiza sua mensagem utilizando uma fala específica. Portanto, cada mensagem tem uma função predominante, de acordo com o objetivo do emissor. a) Função Referencial ou denotativa No texto A a finalidade é apenas informar o receptor sobre um fato ocorrido. A linguagem é objetiva, não admitindo mais de uma interpretação. Quando isso acontece, predomina a função referencial ou denotativa da linguagem. Função referencial ou denotativa é aquela que traduz objetivamente a realidade exterior ao emissor. b) Função emotiva ou expressiva No texto B, descrevem-se as sensações da mulher, que faz uma descrição subjetiva de si mesmo. Nesse caso, em que o emissor exterioriza seu estado psíquico, predomina a função emotiva da linguagem, também chamada de função expressiva. Função emotiva ou expressiva é aquela que traduz opiniões e emoções do emissor. c) Função Fática No texto C, o emissor utiliza expressões que tentam prolongar o contato com o receptor, testando frequentemente o canal. Neste caso, predomina a função fática da linguagem. 25 Função fática é aquela que tem por objetivo iniciar, prolongar ou encerrar o contato com o receptor. d) Função conativa ou apelativa A mensagem do primeiro texto contém um apelo que procura influir no comportamento do receptor. Nesse caso, predomina a função conativa ou apelativa. São características dessa função: Verbos no imperativo; Presença de vocativos; Pronomes de 2ª pessoa. Função conativa ou apelativa é aquela que tem por objetivo influir no comportamento do receptor, por meio de um apelo ou ordem. e) Função metalinguística O texto E, é a transição de um verbete de um dicionário. Essa mensagem explica um elemento do código – a palavra mulher – utilizando o próprio código nessa explicação. Quando a mensagem visa a explicar o próprio código ou utiliza-o como assunto, predomina a função metalinguística da linguagem. Função metalinguística é aquela que utiliza o código como assunto ou para explicar o próprio código. f) Função Poética A preocupação intencional do emissor com a mensagem, ao elabora-la, caracteriza a função poética da linguagem. Função poética é aquela que enfatiza a elaboração da mensagem, de modo a ressaltar seu significado. É importante observar que nenhum texto apresenta apenas uma única função da linguagem. Uma função sempre predomina num texto, mas nunca é exclusiva. 26 5 SIGNIFICADO SOCIAL DAS FORMAS VARIANTES Fonte: www.espaco-crescer.com 5.1 Definindo linguagem Desde os primórdios da humanidade, o homem já possuía a necessidade de se comunicar. Mesmo não existindo a exata formação das palavras como atualmente, eles emitiam sons vocálicos que demonstravam seu modo de ver o mundo físico, como também expressavam suas sensações: fome, medo, insegurança, tristeza. Desta maneira, a língua(gem) não é fruto de pesquisa de longos anos. O indivíduo já nasce com esse instinto e habilidade racional. É a posse da língua(gem) o que mais claramente distingue o homem dos outros seres. A linguagem verbal, entretanto, passou a ser desenvolvida a partir do momento em que o homem julgou necessário criar uma expressão sonora que representasse o próprio elemento. Os nomes têm essa missão: nomear os seres. Assim, ao pronunciarmos a palavra fogo, imaginamos automaticamente a imagem a que se reporta essa palavra, devido ela pertencer ao campo natural. Contudo, a expressão “Eu te odeio”, não permite essa mesma “mentalização”, em virtude de a palavra não poder ser representada no campo natural. Por isso, o homem precisou moldá-la na forma de linguagem verbal. Muitas palavras trazem uma carga de conhecimentos históricos que 27 se acoplam ao seu significado, moldando, às vezes, de tal maneira o seu sentido que elas passam a ter um cunho preconceituoso, pejorativo. É preciso um cuidado maior, para que o falante não seja o responsável pela perpetuação do preconceito. A língua é um produto da cultura, também é um instrumento de manifestação dela, que se adapta ao meio ese modifica, conforme variem as necessidades e as condições de seus falantes. A língua(gem) é interação, visto que proporciona ao indivíduo a possibilidade de exercer atividade sobre o outro, sobre si mesmo e sobre o mundo. É independente de estímulo: não necessita de alguém para ativá-la. Desta forma, compreende-se que a língua(gem) é uma atividade essencialmente humana, histórica e social. Se bem conduzida, pode ser uma aliada na luta contra os preconceitos sociais, pois é a partir de seu uso que observamos, compreendemos e interagimos com o mundo natural. 5.2 Fala A interação verbal entre os sujeitos é possível por meio das palavras e pode ser realizada por meio da fala e/ou da escrita. Dependendo da situação comunicativa, os usuários das línguas podem eleger qualquer um dos diferentes níveis de linguagem para interagir verbalmente com os outros. Isso significa que existem linguagens diferentes para ocasiões distintas, ou seja, em toda situação comunicativa, os falantes elegem o nível de linguagem mais adequado para que tanto o emissor quanto o receptor das mensagens possam compreender e ser compreendidos. Nível 1: Norma culta/padrão Como sabemos, cada língua possui sua estrutura e muitas delas possuem um conjunto de regras responsável pelo funcionamento dos elementos linguísticos. Esse conjunto de regras é conhecido como gramática normativa. Nela, os usuários da língua encontram a norma-padrão de funcionamento da língua chamada de “padrão ou culta”, a qual deve, ou pelo menos deveria, ser de conhecimento e acessível a todos os falantes https://www.infoescola.com/sociologia/preconceito/ http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/fala-escrita.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/fala-escrita.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/fala-escrita.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/diferentes-formas-linguagem.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/comunicacao.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/comunicacao.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/estrutura-das-palavras.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/ http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/norma-culta-x-variacoes-linguisticas.htm 28 da mesma comunidade linguística. Utilizar a norma culta da língua portuguesa, por exemplo, não significa comunicar-se de maneira difícil e rebuscada. Embora à língua padrão seja atribuído certo prestigio cultural e status social, o uso da linguagem culta está menos relacionado à questão estética e muito mais associado à sua democratização, já que esse é o nível de linguagem ensinado nas escolas, nos manuais didáticos, cartilhas e dicionários das línguas etc. Nível 2: Linguagem coloquial/informal/popular A linguagem coloquial é aquela utilizada de maneira mais espontânea e corriqueira pelos falantes. Esse nível de linguagem não segue a rigor todas as regras da gramática normativa, pois está mais preocupado com a função da linguagem do que com a forma. Ao utilizar a linguagem coloquial, o falante está mais preocupado em transmitir o conteúdo da mensagem do que como esse conteúdo vai ser estruturado. De maneira geral, os falantes utilizam a linguagem coloquial nas situações comunicativas mais informais, isto é, nos diálogos entre amigos, familiares etc. Nível 3: Linguagem regional/regionalismo A linguagem regional está relacionada com as variações ocorridas, principalmente na fala, nas mais variadas comunidades linguísticas. Essas variações são também chamadas de dialetos. O Brasil, por exemplo, apresenta uma imensa variedade de regionalismos na fala dos usuários nativos de cada uma de suas cinco regiões. Nível 4: Gírias A gíria é um estilo associado à linguagem coloquial/popular como meio de expressão cotidiana. Ela está relacionada ao cotidiano de certos grupos sociais e podem ser incorporadas ao léxico de uma língua conforme sua intensidade e frequência de uso pelos falantes, mas, de maneira geral, as palavras ou expressões provenientes das gírias são utilizadas durante um tempo por um certo grupo de usuários e depois são substituídas por outras por outros usuários de outras gerações. É o caso, por exemplo, http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/paises-que-falam-portugues.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/variacoes-linguisticas.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/linguagem-coloquial.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/funcoes-linguagem-1.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/funcoes-linguagem-1.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/niveis-de-fala.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/dialetos-registros-no-portugues-brasileiro.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/as-regioes-brasil.htm http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/giria-1.htm 29 de uma gíria bastante utilizada pelos falantes nas décadas de 80 e 90: “chuchu, beleza”, mas que, atualmente, está quase obsoleta. Nível 5: Linguagem vulgar A linguagem vulgar é exatamente oposta à linguagem culta/padrão. As estruturas gramaticais não seguem regras ou normas de funcionamento. O mais interessante é que, mesmo de maneira bem rudimentar, os falantes conseguem compreender a mensagem e seus efeitos de sentido nas trocas de mensagens. Podemos considerar a linguagem vulgar como sendo um vício de linguagem. Veja alguns exemplos bastante recorrentes em nossa língua: “Nóis vai” “Pra mim ir” “Vamo ir” 5.3 Língua Os estudos sobre a linguagem são tão antigos como a própria língua, e a prova disso são aqueles realizados na Grécia antiga, na qual os filósofos se dedicaram ao estudo da argumentação e retórica. No entanto, nesta época ainda não havia um campo dedicado especificamente ao estudo da linguagem, pois os estudos se davam no âmbito da filosofia. A linguística como uma ciência autônoma só iria seguir séculos depois, mais especificamente no século XIX, com os estudos de Saussure. Mas o verdadeiro ponto de virada de sua história na linguística, mesmo que ele não soubesse na época, foi uma série de 3 cursos sobre linguística que ministrou na Universidade de Genebra. Em 1919, 3 anos após sua morte, alunos que haviam comparecido aos cursos ministrados, compilaram os conteúdos e suas anotações e editaram o “Curso de linguística geral”. Este livro têm uma importância ímpar para a linguística, pois além de fincar as bases de todos os estudos que se desenvolveram posteriormente, é a fundação para o estabelecimento da linguística moderna como um campo de estudo autônomo dentro das ciências humanas. http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/vicios-linguagem.htm https://www.resumoescolar.com.br/portugues/linguagem-e-comunicacao/ https://www.resumoescolar.com.br/historia/resumo-da-grecia-antiga-a-polis-de-esparta/ https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/resumo-sobre-filosofia/ https://www.resumoescolar.com.br/quimica/construindo-a-ciencia/ https://www.resumoescolar.com.br/historia/historia-do-livro/ https://www.resumoescolar.com.br/quimica/formulacao-nomenclatura-e-classificacao-das-bases/ https://www.resumoescolar.com.br/biologia/ciencias-exatas-e-biologicas/ 30 Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, Suíça, em 26 de novembro de 1857. Filho de um naturalista, no começo de sua vida acadêmica se concentrou em estudos de química e física, mas ao conhecer os estudos da linguagem através de um filólogo amigo de sua família, se convenceu que este era seu verdadeiro campo de estudos. Em 1876, iniciou seus estudos na Universidade de Leipzig, e aos 21 anos publicou sua tese sobre o sistema de vogais em línguas indo-europeias primitivas, a qual foi amplamente aceita e elogiada pela acadêmica. A partir daí começou a lecionar em francês gótico, alto alemão, sânscrito e filologia indo-europeia. Ao retornar para Genebra, continuou a ensinar sânscrito e também linguística histórica. Os membros de uma comunidadelinguística, de comum acordo, aceitam um conjunto de símbolos vocais arbitrários para serem utilizados em sua comunicação interna: é o que conhecemos como língua; e, por isso, ela existe na e para a sociedade. “As línguas são casos particulares de um fenômeno geral, a linguagem, que é estudado pela Linguística Geral” (VANOYE, 1986, p. 29). Como sistema de linguagem, a língua se constitui de sons vocais específico cos (fonemas), com os quais se constroem as formas linguísticas. Segundo Dinneen, citado por Heclker e Back (1988, p. 34-36), as línguas são: Sonoras - é a primeira forma de manifestação da língua (muito tempo depois é que vem a língua escrita; há mais ou menos 6.000 anos). O aparelho articulatório é responsável pelos sons (fonemas) de todas as línguas; Lineares - os sons são produzidos numa sequência linear, e a representação simbólica desses sons também é linear. Alguns povos escrevem da direita para esquerda, de cima para baixo; contudo não deixam de respeitar o caráter línea criativas - a língua funciona de acordo com determinados padrões que são comuns a um número ilimitado de expressões, mas que são diferentes na referência. É o domínio desses padrões que permite ao falante compreender e criar orações que ele nunca ouviu ou emitiu antes; Singulares (únicas) - cada língua apresenta padrões que se diferenciam da outra. Quando estudamos uma língua estrangeira, precisamos aprender novos padrões; Semelhantes - se não existisse nada em comum entre as línguas (universais linguísticos) seria muito difícil aprender uma língua estrangeira. Veja que quanto maior a semelhança entre as línguas (da mesma família, por exemplo), menos difícil o processo de aprendizagem. Todo e qualquer ser humano percebe o mundo que o cerca de forma https://www.resumoescolar.com.br/geografia/suica/ https://www.resumoescolar.com.br/fisica/introducao-historico-e-correntes-da-fisica/ 31 semelhante. Sistemáticas finito, isto quer dizer que eles são reutilizados de acordo com um - como os símbolos utilizados numa língua são em 4 conjunto de regras de combinação que é determinado por um sistema. Podemos então considerar a língua como um super-sistema, formado por sistemas menores, tais como sistema fonológico, morfológico, sintático e semântico; Significativas - os sons emitidos na fala estão diretamente relacionados com nossas atividades sociais; Arbitrárias - não há relação direta ou motivada entre o som que emitimos e a mensagem que é expressa no ato comunicativo. As ideias expressas correspondem às imagens acústicas diferentes em cada língua; Convencionais - os falantes fazem um acordo social sobre formação e uso das unidades linguísticas. As mesmas expressões, em contexto similar, designam os mesmos objetos e seres para os membros de uma comunidade linguística; Sistemas de contrastes - cada som (fonema) é diferente de outro som, pois se assim não o fosse, não haveria condições de estabelecer a comunicação. Eles são justapostos de acordo com determinadas regras e através de contrastes nos permitem uma satisfatória comunicação dentro da comunidade linguística. 5.4 Língua x fala Antes de conceituar o que é língua e fala, comecemos por desmistificar a relação entre linguagem e língua. Para Saussure (2006), não podemos confundir a linguagem com a língua e tratarmos as duas como sendo a mesma coisa, porque enquanto a linguagem é heterogênea – várias formas – a língua, para ele, é de natureza homogênea. O mestre da Linguística (2006, p. 17) afirma que: Para nós, ela [língua] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Saussure (2006) segue mostrando que a língua pode ser estudada separada da linguagem, pois ela é apenas uma parte da linguagem. Contudo, língua e fala são estreitamente relacionadas. O autor (2006, p. 27) afirma: “[...] a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é 32 necessária para que a língua se estabeleça [...]”. O pai da Linguística (2006, p. 22) ainda ressalta que: “[...] a língua não está completa em nenhum [indivíduo] só na massa ela existe de modo completo”. A língua só existe a partir de acordos feitos entre membros de uma comunidade, assim como nas demais instituições existentes. Entretanto, o autor distingue a língua das demais instituições, apenas por que ela tem uma natureza peculiar, sendo essa característica o que a define. Na visão de Saussure (2006, p. 23), a língua constitui-se num sistema de signos que, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas. Para ele, signos linguísticos são a relação 10 entre um conceito e uma imagem acústica, sendo o conceito uma ideia, um pensamento que serve para interpretar o mundo, e uma imagem acústica a impressão psíquica de uma sequência articulada de sons (vogais, consoantes e semivogais). O mestre (2006, p. 22) definiu ainda fala como sendo: “Um ato individual de vontade e inteligência” e também “combinações individuais, dependentes da vontade dos que falam; atos de fonação igualmente voluntários, necessários para a execução dessas combinações”. A partir das definições de língua e de fala, infere-se que a fala conduz à língua; na verdade, uma depende da outra. A diferença entre as duas, como nos explica Saussure (2006, p.22): “A língua não constitui, pois, uma função do falante: é o produto que o indivíduo registra passivamente [...]. Já para a fala temos que, “[...] é, ao contrário, um ato individual de vontade e inteligência [...]”. É interessante como Fiorin (2011, p.81) descreve, ao afirmar que, para Saussure: Língua opõe-se a fala, porque a língua é coletiva e a fala é particular, portanto, a língua é um dado social e a fala é um dado individual. Além disso, a língua é sistemática e a fala é assistemática. Pessoas que falam a mesma língua conseguem comunicar-se porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua. Assim, constata-se que a permanência de uma língua em um determinado contexto social, precisa do exercício da fala, sendo por meio dela que a língua é efetivada e estabelecida em um grupo social. De acordo com esse pensamento, Silvio Elia (2001, p. 5) define língua como estrutura e como instituição, sendo, primeiro a língua na sua estrutura física, depois a língua como instituição e, por fim, de acordo com o uso em uma comunidade linguística, ou seja, a língua em seu uso social. Para o autor (2001, p. 7), comunidade linguística é: 33 “[...] todo agrupamento humano dotado de um código verbal comum que, podendo não ser exclusivo, a todos se impõe, por meio de normas que funcionam como força de coesão e solidariedade social”, ou seja, essa comunidade interage por meio de uma língua. Desse ponto de vista, ressalta-se que uma comunidade é composta de uma língua que representa, além de um símbolo, um fator de identidade cultural. Ela só existe em decorrência de espécie de contrato coletivo que se estabelece entre as pessoas e ao quais todos aderiram. A língua é um patrimônio histórico, cultural, reconhecido oficialmente 11 por um Estado, como forma de comunicação em suas relações internas e externas, conforme afirma Silvio Elia (2001, p. 15). Existem alguns traços sociolinguísticos que definem como uma língua se estabelece em uma determinada comunidade linguística. Silvio Elia (2001) destaca alguns: o primeiro traço é a língua berço; essa característica é dada quando a língua nasce em um determinado país, tomemos por exemplo a Língua Portuguesa (que será objeto de estudo nos próximos capítulos). Portugal é o berço da Língua Portuguesa, característicaúnica e própria dele. O segundo traço é a língua materna, esta é a primeira língua aprendida pelo falante, geralmente na infância, dos lábios de sua mãe ou de parente próximos. Outro traço sociolinguístico é a língua oficial – é a língua que o Estado reconhece como válida em sua vida política e administrativa. O quarto chama-se língua nacional, tem-se por essa a língua falada sem contrastes em toda a extensão do País. Um traço interessante (e o mais recente) é o da língua de cultura, está permite o acesso à cultura e sendo ela mesma um patrimônio cultural. O sexto traço é gerado da língua de cultura, sendo ele por sua vez a língua padrão, como o próprio nome estabelece, é a língua reconhecida pela comunidade nacional e que se ensina nas escolas. Podemos classificar o outro traço como língua transplantada que é a língua levada de um país para o outro e lá estabelecida; e como exemplo temos a Língua Portuguesa, que após se estabelecer como língua oficial de Portugal, foi levada por meio da expansão marítima a vários países, se expandindo por vários lugares e é hoje uma das línguas mais faladas do mundo. Para compreendermos melhor o processo de formação e estabelecimento da língua portuguesa no território brasileiro, é necessário que 34 retornemos às suas origens, a língua latina. Assim entenderemos como foram as modificações que o latim sofreu até a formação do Português atual. Desde os primórdios da humanidade, o homem já possuía a necessidade de se comunicar. Mesmo não existindo a exata formação das palavras como atualmente, eles emitiam sons vocálicos que demonstravam seu modo de ver o mundo físico, como também expressavam suas sensações: fome, medo, insegurança, tristeza. Desta maneira, a língua(gem) não é fruto de pesquisa de longos anos. O indivíduo já nasce com esse instinto e habilidade racional. É a posse da língua(gem) o que mais claramente distingue o homem dos outros seres. A linguagem verbal, entretanto, passou a ser desenvolvida a partir do momento em que o homem julgou necessário criar uma expressão sonora que representasse o próprio elemento. Os nomes têm essa missão: nomear os seres. Assim, ao pronunciarmos a palavra fogo, imaginamos automaticamente à imagem a que se reporta essa palavra, devido ela pertencer ao campo natural. Contudo, a expressão “Eu te odeio”, não permite essa mesma “mentalização”, em virtude da palavra não poder ser representada no campo natural. Por isso, o homem precisou moldá-la na forma de linguagem verbal. Muitas palavras trazem uma carga de conhecimentos históricos que se acoplam ao seu significado, moldando, às vezes, de tal maneira o seu sentido que elas passam a ter um cunho preconceituoso, pejorativo. É preciso um cuidado maior, para que o falante não seja o responsável pela perpetuação do preconceito. A língua é um produto da cultura, também é um instrumento de manifestação dela, que se adapta ao meio e se modifica, conforme variem as necessidades e as condições de seus falantes. A língua(gem) é interação, visto que proporciona ao indivíduo a possibilidade de exercer atividade sobre o outro, sobre si mesmo e sobre o mundo. É independente de estímulo: não necessita de alguém para ativá-la. Desta forma, compreende-se que a língua(gem) é uma atividade essencialmente humana, histórica e social. Se bem conduzida, pode ser uma aliada na luta contra os preconceitos sociais, pois é a partir de seu uso que observamos, compreendemos e interagimos com o mundo natural. 35 5.5 O homem o mundo e a língua Se, como diz o linguista, o papel da Linguística é o de delimitar-se a si própria, é lícito que suas fronteiras sejam tão permeáveis, que discussões intermináveis como a tenuidade das fronteiras entre a semântica e a pragmática seja perpetuada. Quando Saussure legou à fala a obscuridade, não imaginava que ela voltaria às claras e tentasse novamente definir esses inconstantes limites. Locutores, ouvintes, situações, retóricas deixam de ser ignorados e passam a incorporar certas teorias linguísticas que admitem que os recursos para a expressão dos sentidos são os mais diversos e não se encontram todos enclausurados nos limites do enunciado, dentro da língua – se é que se pode definir o que lhe é interno e externo; outra indefinição. Voltemos agora às bases: a semântica considera que o fulcro dos sentidos é um sistema de referências cultural e antropológico. Os sentidos da língua podem ser encontrados na própria língua, nos enunciados, nas retomadas, anáforas, polissemias, homonímias, pressupostos... como se a língua estivesse pronta e nos fosse instituída em algum momento pelos homens e sua cultura; como se fosse um armazém cheio de provisões para os discursos, ambíguas ou não. Mas aqui, neste texto e instituto, adota-se outra concepção: a língua é uma constituição, está sempre “em processo” sendo construída a diversas mãos, nas diversas práticas discursivas. Como então garantir que o sistema de referências seja estável, como se os falantes não mais produzissem sentidos que fundamentassem a cultura e suas relações? Ilusão. O sistema de referências está também “em processo” a cada enunciação. Não quero aqui negar a semântica, mas mostrar como ela pode estabelecer relações dinâmicas com a pragmática, sem dogmatismos. Creio que outrora já discuti a importância da semântica para resolver o problema do jornalista do filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Lá o mistério era descobrir o significado de rosebud. Não houve pragmática que resolvesse o mistério, pois não se podia encontrar nenhum referente – dentro ou fora da língua. É através da primazia da semântica que Ulisses escapa do Ciclope. Os irmãos do monstro, limitaram-se a um universo referencial onde o significado 36 de ninguém não tem referente no mundo, como se fosse um referente nulo, ou algo parecido. Não levaram em consideração o contexto, locutor, etc. É através dos dados abaixo discutirei alguns aspectos sobre semântica e pragmática para que a explicação não fique apenas teórica, mas também lúdica. Arriscando agora uma esquizofrenia metalinguística, podemos notar já na frase anterior um implícito. Dizer “não apenas teórica, mas também lúdica” implica duas coisas: teorias são enfadonhas e análises de dados não o são. Esses implícitos não necessitam do conhecimento de elementos da enunciação para serem apreendidos, eles estão marcados no próprio enunciado através de apenas e mas também. Partamos aos dados: “Errar é humano” é um clichê, um enunciado cuja estrutura é repetida em diferentes enunciados, tal qual as palavras compostas, e remetem a um referente na língua que, nesse caso, significa generalizadamente que: o erro pode ser perdoado, afinal, todos erram. Em diversas enunciações podemos encontrá-lo: quando alguém quer consolar um amigo que errou algumas perguntas de uma prova; quando alguém quer se desculpar por ter traído o cônjuge, etc. Nesses contextos o nosso clichê pode ser equivalente a desculpas, podendo assumir assim um caráter performativo que será diferente e muito mais preocupante num contexto como o apresentado na charge de Quino. O humor da piada concentra-se justamente no ato perlocutório realizado por esse enunciado que vai provocar no paciente, no mínimo, um certo desespero; enquanto esse mesmo enunciado, num contexto como o do marido traidor, provocaria, para ser muito otimista, compaixão. Os médicos, supostos enunciadores, realizam um ato ilocutório de remissão – tal qual Pilatos, lavam suas mãos. As teorias de Austin, que introduzem efetivamente a pragmática nos limites da linguística, se não utilizadas para a análise de enunciados como o anterior, deixaria à análise exclusivamente semântica uma certa incapacidade de interpretação. É a pragmática que nos permite rirmos da charge, e não um fenômeno da língua como a ambiguidade causada por uma homonímia ou polissemia.Algo parecido ocorre na música Gol Anulado da dupla Bosco/Blanc: “Quando você gritou mengo No segundo gol do Zico 37 Tirei sem pensar o cinto E bati até cansar”. Nesse caso mengo assume, mesmo sem a intenção do locutor, um caráter performativo pois, através de um ato perlocutório e de todo um contexto envolvido, provoca a ira no marido. Há aqui que se considerar toda a história do locutor e a enunciação (um jogo entre Vasco e Flamengo) para interpretar o efeito de sentido atribuído pelo ouvinte. Vejamos agora um dado de uma crônica de Veríssimo: - Na noite em que fui concebido – suponho que tenha sido uma noite – eu era um entre milhões de espermatozoides. Mas só eu cheguei ao óvulo de mamãe. Ou será bilhões? - Acho que é óvulo mesmo. - Não. Os espermatozoides. É milhões ou bilhões? - Kahn... Não sei. (...) - Então, imagina o seguinte. Pense bem. Amendoim. - Amendoim. Estou pensando nele. Amendoim. - Não. Me passe o amendoim e pense o seguinte. (...) A saber: os interlocutores acima estão bêbados. Primeiramente, se considerássemos os dêiticos destacados, encontraríamos um problema. Sabemos que quem fecunda o óvulo é um espermatozoide, porém, como podemos atestar no fui concebido, o locutor é um homem e não um gameta masculino, desautorizando a utilização dos eus conseguintes. Para que o interlocutor não considere o locutor demente, é necessário um trabalho de identificação de pressupostos e, como não há nenhuma marcação no enunciado, não são pressupostos, são subentendidos. É necessário que o interlocutor leve em consideração as condições pragmáticas atuantes no momento da enunciação, só assim ele poderá entender que o locutor considera que ele próprio considera-se o gameta – meia verdade – que, saído do epidídimo, fecundou, se desenvolveu e culminou nele. Outro problema encontra-se quando o locutor pergunta sobre a quantidade de óvulos e o interlocutor responde uma pergunta que não era a feita 38 pelo locutor. A resposta certamente é fruto da bebida, mas pode ser analisada tanto através da semântica quanto da pragmática. Se o interlocutor desconhecesse o significado da palavra óvulo e de bilhões, ele poderia, através do contexto, classificá-las num mesmo campo semântico, possibilitando que houvesse uma confusão com relação aos seus significados. Mas, assim mesmo, o contexto seria necessário. Podemos também considerar que há algum problema referente às leis do discurso. Uma das máximas discursivas está sendo violada: o locutor fere o princípio da cooperação, ele não explicita claramente se sua pergunta se refere à quantidade de espermatozoides ou à nomenclatura de óvulo. Porém o locutor se esforça para cooperar, escolhe uma das alternativas e responde a pergunta do locutor egoísta. Normalmente não haveria problema algum na pergunta, mas há que se considerar o estado alcoólico dos interlocutores. Última questão referente também às leis do discurso: amendoim. Novamente o locutor não coopera. Ele considera que o seu interlocutor vá interpretar o implícito, o subentendido de seu enunciado, mas considera errado. O interlocutor interpreta amendoim como um ato performativo, uma ordem para pensar, quando a ordem era para passar o pratinho de amendoim. Se os interlocutores estivessem um pouco mais bêbados, talvez não interpretassem nem os pressupostos dos enunciados, as homonímias, ou mesmo o significado, o referente da palavra. Os sentidos das preposições ficam mais enriquecidos se analisados através de fatores semânticos e pragmáticos. No entanto, a resistência em se admitir que a pragmática é essencial para a análise dos dados lega à Linguística uma eterna indefinição de seus limites. Insistem em deixar o homem e seu mundo fora da língua que estão construindo constantemente. 39 6 FERDINAND DE SAUSSURE PERCURSO DE ESTUDO DA LÍNGUAS Fonte:www.conceitos.com Linguista suíço nascido em Genebra, fundador da moderna linguística científica. Filho de um eminente naturalista, foi orientado para seguir os estudos em linguística por um filólogo e amigo da família, Adolphe Pictet (1799-1875). Estudou Física, Química na universidade alemã de Leipzig, enquanto continuava estudando linguística fazendo cursos de gramática grega e latina. Convencido de que seu futuro estava nos estudos da linguagem, ingressou na Sociedade Linguística de Paris. Ainda estudante, publicou seu único livro, um brilhante estudo em linguística comparativa que firmou sua reputação: Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes (1879). Posteriormente estudou sânscrito, celta e indiano, em Berlim e doutorou-se em Leipzig com a tese De l’emploi du génitif absolu en sanscrit (1880), uma tese sobre o uso do caso genitivo em sânscrito. Ensinou linguística histórica na École des Hautes Études, em Paris (1881-1891), especialmente Sânscrito, Gótico e Alto Alemão e depois Filologia Indo-europeia. Voltou para Genebra, Suíça, para ensinar linguística indo-europeia e sânscrito (1901-1913) e os 40 célebres cursos de linguística geral (1907-1913) na Universidade de Genebra, cidade onde morreu. Sua notoriedade veio com a publicação da obra póstuma, Cours de linguistique générale (1916), textos dos cursos ministrados durante seus últimos anos de vida na Universidade de Genebra, recolhidos e organizados por seus discípulos suíços Charles Bally (1865-1947) e Albert Séchehaye (1870–1946). Após a morte de Saussure, seus discípulos esperavam encontrar em seus manuscritos a imagem fiel de suas geniais lições. Qual o quê! O mestre destruía os rascunhos que escrevia, as gavetas de sua escrivaninha estavam quase vazias. O jeito foi reunir as anotações minuciosas de seus alunos, compará-las e recriar cuidadosamente o pensamento do pioneiro da linguística. O resultado deste trabalho foi a publicação do "Curso de Linguística Geral". Filho de uma família abastada, Ferdinand de Saussure estudou desde cedo inglês, grego, alemão, francês e sânscrito. Com o objetivo de continuar a tradição científica de sua família, em 1875, estudou física e química na Universidade de Genebra. Em 1877, aos 21 anos, Ferdinand de Saussure publicou o livro "Memória sobre as Vogais Indo-europeias". Três anos depois o estudioso defendeu sua tese de doutorado, "Sobre o Emprego do Genitivo Absoluto em Sânscrito". Em 1881, Ferdinand de Saussure assumiu a cátedra de linguística comparada na Escola de Altos Estudos de Paris. Em 1886 tornou-se membro da Sociedade Linguística de Paris e no ano seguinte foi para Leipzig, na Alemanha, completar seus estudos. Transferiu-se em 1891 para a Universidade de Genebra, lecionando linguística indo-europeia e sânscrito até 1906, quando passou a professor titular de linguística. Saussure foi professor na Universidade de Genebra até sua morte, aos 55 anos. Seus discípulos Charles Bally e Albert Sechehaye organizaram as anotações dos alunos de Saussure realizadas durante seus cursos universitários. Em 1915 foi publicado o já mencionado "Curso de Linguística Geral", considerado a obra fundadora da linguística moderna. 41 7 SIGNO LINGUISTICO Fonte:www.conceitos.com Para Saussure, a língua é um sistema de signos formados pela junção do significante e do significado, ou seja, da imagem acústica e do sentido. Esses saberes contribuem muito para a alfabetização e letramento, pois, nesse processo, o sujeito parte do concreto, por meio de desenhos para um conhecimento abstrato, relacionado ao mundo da escrita. A relevância do signo linguístico se faz presente, uma vez que ele precisa ser compartilhado socialmente e, dessa forma, representa uma etapa final do processo de alfabetização. Partindo de escritas pictográficas a ideográficas até chegar a uma escrita silábica e, consequentemente, à alfabética, o sujeito, em fase de alfabetização,traça o caminho que Saussure descreve por meio do significante e do significado pelos quais os signos são abarcados. É com o intuito de demonstrar como os saberes relacionados ao significado e ao significante são relevantes para o processo de alfabetização, principalmente na aquisição da escrita, é que este trabalho foi proposto. Na primeira seção, este texto descreve e explica a Teoria de Saussure sobre signo linguístico. Em seguida, será demonstrado com exemplos e atividades de crianças no período de alfabetização escolar como ocorre o processo de transição de uma escrita em que o conceito é privilegiado para um processo em que se privilegia o significante. Por fim, o texto traz alguns comentários finais sobre 42 as contribuições de Saussure para o entendimento do processo de alfabetização e letramento. A ideia de signo linguístico envolve duas dimensões mentais estreitamente interligadas: trata-se de um conceito e paralelamente de um som associado a ele. Assim, o conceito é o resumo do signo linguístico, enquanto que o som é uma marca mental que permanece em nosso cérebro. Entre o conceito e o som há uma relação recíproca. Em outras palavras, o conceito ou significado e o som ou significante interagem na mente de um falante. Vamos imaginar uma nuvem, o significante se refere à sucessão de sons para referir à nuvem (temos na memória como se pronuncia esta palavra e já escutamos em alguma ocasião), ao mesmo tempo, o significado da nuvem se refere ao conjunto de características gerais que constituem uma nuvem (sua cor, forma e tamanho). Quando falamos ocorrem três fenômenos diferenciados. O primeiro é o processo psíquico na qual os conceitos constroem uma imagem ou uma impressão digital acústica (neste processo, o cérebro transmite para os órgãos da fonação um impulso correlativo à imagem acústica). Em seguida ocorre um processo físico, pelo qual as ondas sonoras se propagam da boca ao ouvido, assim quando se escuta uma imagem acústica o cérebro identifica o som e o associa ao conceito. Neste último processo, o conceito mental realiza o caminho oposto, isto é, da mente para a emissão de uma palavra. De acordo com Saussure, o signo linguístico é a associação de uma ideia ou um conceito com forma sonora ou escrita. Assim, qualquer pessoa que fala português associa a palavra lápis à determinada imagem. Desta maneira, quando dizemos a palavra lápis pensamos em uma série de ideias ligadas entre si (um pedaço de madeira alongado com outro de grafite em seu interior que serve para escrever). O processo mental pelo qual associamos um significado a um significante tem uma série de características: 1) Há uma linearidade, uma vez que as palavras não são pronunciados simultaneamente; 2) Há uma articulação de sons (monemas, morfemas e lexemas); 3) Há uma arbitrariedade (a relação entre significante e significado mudam em cada língua, de modo que o significante é diferente em cada idioma, mas seu significado permanece o mesmo... 43 7.1 A teoria do Signo Linguístico segundo Saussure Ferdinand de Saussure (1857/1913) é considerado hoje o pai da linguística moderna. Em sua formação acadêmica, o Comparativismo indo-europeu dominava os estudos da linguística. Nessa fase, o objetivo era, inicialmente, identificar-se com as ciências da natureza, entendendo que as línguas nascem, crescem e morrem, assim como os organismos. Porém, um movimento culturalista surge e acredita que as línguas não existem por si mesmas, mas são instrumentos culturais que sofrem influências sociais, históricas, geográficas etc. Entretanto, Saussure se opõe ao método histórico- comparatista existente até então. Para ele, a linguística da época tratava de diversos aspectos com nomes iguais. Assim, Saussure, primeiro, tenta dar à linguística uma linguagem unívoca e se preocupa em delimitar o objeto de estudo e um método específico para essa ciência. E dentre tantos aspectos estudados, Saussure cria a Teoria do Signo Linguístico e seus princípios (CARVALHO, 2000). Ele não deixou muitos escritos em vida, apenas alguns artigos e sua tese de doutorado. O livro “Curso de Linguística Geral”, muito conhecido, é um resultado de uma compilação de aulas feita por dois alunos (Charles Bally e Albert Sechehaye) nas aulas de Linguística Geral, entre 1906 e 1911, na Universidade de Genebra. É baseando-se, principalmente, nesta obra que este trabalho explanará sobre o signo linguístico. 8 SIGNO, SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE Em seu Cours de linguistique générale, Saussure formulou o modelo clássico do signo linguístico, estabelecendo alguns axiomas básicos sobre o problema da significação. O primeiro axioma é o da relação indissolúvel entre um conceito e uma imagem acústica. “O signo linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica.” (Edição De Mauro,1994, p. 98) [...] “O signo linguístico é pois uma entidade psíquica com duas faces” que pode ser representado com a figura seguinte, adaptada do modelo saussuriano: 44 Veja o exemplo a seguir: Fonte:www.marcioferreri.blogspot.com Signo linguístico Depois de definir signo linguístico, Saussure constatou que a arbitrariedade é uma característica básica do signo linguístico. Contudo, é preciso fazer uma ressalva sobre o termo arbitrário. Não se deve pensar que o falante escolhe livremente o significante. O signo linguístico “é imotivado, isto é, arbitrário com relação ao significado” (p. 101), ou seja, com respeito ao significado, o significante não tem nenhuma relação natural com a realidade. “Imutabilidade e mutabilidade do signo” do Cours, Saussure afirma que a comunidade linguística impõe ao falante um significante e que o “signo linguístico escapa à nossa vontade”. De fato, seja qual for o momento histórico em que focalizarmos o idioma, a língua evidencia-se sempre como uma herança de épocas anteriores. Podemos imaginar que, 45 num momento preciso, se estabeleceu uma correlação entre um significante e um significado, ou seja, foi atribuído um conceito a um referente; contudo, esse fato quase nunca é constatado. A certidão de nascimento das palavras não é registrada. Por conseguinte, estamos diante de um paradoxo. De um lado, parece que o falante tem total liberdade de escolha do signo linguístico, podendo categorizar e recategorizar os dados da realidade livremente, embora use modelos de categorização prontos que a educação linguística introjetou em sua mente. De outro lado, o vocabulário da língua manifesta-se como um acervo cultural – um produto herdado das gerações precedentes. E é por causa dessa herança que Saussure reitera o fato de que o signo é imutável. Segundo Saussure, o signo resiste a qualquer substituição arbitrária porque a língua é uma instituição social. A primeira razão para justificar a imutabilidade do signo é exatamente o fato de ele ser arbitrário. Como argumenta Saussure, se o signo fosse fundamentado em uma norma racional poderia ser contestado; mas como isso não ocorre, o caráter arbitrário da sua cunhagem o protege contra substituições. A segunda razão é o número elevadíssimo de signos (palavras) de uma língua. Assim sendo, o vastíssimo vocabulário de uma língua, formando um sistema estruturado, impõe à comunidade dos falantes um mecanismo tão complexo que ela é impotente para transformá-lo. E finalmente deve-se considerar a inércia a toda inovação linguística. Continuemos a parafrasear/ refletir sobre as ideias de Saussure. A língua é utilizada por todos a todo momento; “difundida na comunidade dos falantes e manipulada por ela, a língua é algo de que todos os indivíduos se servem todo dia. Nesse sentido, não se pode estabelecer comparação entre ela e as outras instituições. As prescrições de um código, os ritos de uma religião, os sinais marítimos, etc., só ocupam simultaneamente um determinado número
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