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1 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais BIOQUÍMICOS SÉRICOS ENZIMAS HEPÁTICAS O aumento da atividade sérica da enzima é tão maior quanto maior a quantidade dessa enzima que alcança a corrente sanguínea por causa de seu extravasamento de células lesionadas ou do aumento de sua produção. TESTES PARA DETECÇÃO DE LESÃO DE HEPATÓCITOS ALT Alanina-aminotransferase Alanina aminotransferase (ALT), é uma enzima de extravasamento que se apresenta livre no citoplasma. Em cães e gatos, a maior concentração de ALT é verificada em hepatócitos. Em cães e gatos porque a ALT é muito mais hepatoespecífica do que a AST. Doença ou lesão muscular grave pode causar aumento da atividade sérica de ALT, portanto também se deve considerar a possibilidade de necrose ou de lesão subletal de células musculares – tirar a dúvida, dosar creatinoquinase (CK). Causas: várias doenças hepáticas podem induzir aumento da atividade sérica de ALT. Hipoxia, alterações metabólicas que ocasionam acúmulo de lipídios nos hepatócitos, toxinas bacterianas, inflamação, neoplasia hepática, vários medicamentos e substâncias químicas tóxicas podem causar lesão de hepatócitos e subsequente extravasamento de ALT. Na lesão aguda, a atividade sérica de ALT é proporcional à quantidade de células lesionadas A atividade sérica de ALT também pode aumentar durante a fase de recuperação de lesão hepática, quando está ocorrendo regeneração ativa de hepatócitos; isso pode explicar por que nem sempre a atividade de ALT retorna ao normal tão rapidamente como se esperava. Pode haver doença hepática significativa, com atividade sérica de ALT normal ou apenas ligeiramente aumentada. Por exemplo, se a doença hepática for grave e houver diminuição marcante da massa tecidual do fígado, pode ser que a quantidade de hepatócitos remanescentes seja muito pequena ao ponto de ocasionar aumento marcante da atividade sérica da enzima. Pode haver necrose hepática aguda extensa com aumento mínimo de ALT. É possível notar aumento da atividade sérica de ALT em cães com hiperadrenocorticismo ou naqueles que receberam corticosteroides. Medicamentos anticonvulsivantes (p. ex., fenobarbital, primidona, fenitoína) também podem ocasionar discreto aumento da atividade sérica de ALT em cães AST Aspartato-aminotransferase. A aspartato aminotransferase (AST) está presente em maior concentração nos hepatócitos e nas células musculares (esqueléticas e cardíacas) de todas as espécies.9 AST não é uma enzima hepatoespecífica. AST é uma enzima de extravasamento encontrada predominantemente no citoplasma; cerca de 20% estão presentes nas mitocôndrias.80 O aumento da atividade sérica de AST pode ser causado por lesão letal ou subletal de hepatócitos ou de células musculares. Em equinos e ruminantes, com frequência, determina-se a atividade de AST como teste de detecção de rotina da lesão de hepatócitos. SDH Sorbitol desidrogenase Glutamato desidrogenase (GLDH) é uma enzima de extravasamento presente em maior concentração nas mitocôndrias dos hepatócitos. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2660-3/epub/OEBPS/Text/chapter26.html#c26-fn9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2660-3/epub/OEBPS/Text/chapter26.html#c26-fn80 2 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais Os mesmos tipos de lesões de hepatócitos, reversíveis e irreversíveis, que ocasionam aumento da atividade sérica de ALT provocam aumento da atividade sérica de GLDH. É possível verificar aumento da atividade sérica de GLDH em cães com hiperadrenocorticismo; também se tem documentado aumento em cães tratados com anticonvulsivantes. TESTES PARA DETECÇÃO DE COLESTASE FOSFATASE ALCALINA Fosfatase alcalina (ALP) (FA) é uma enzima de indução presente nas membranas celulares; é sintetizada por vários tecidos ou órgãos, como o fígado, os ossos, os rins, os intestinos, o pâncreas e a placenta. A maior parte da atividade sérica normal de FA é oriunda do fígado. Aumento da produção de ALP e de sua atividade sérica comumente é notado quando há colestase, maior atividade osteoblástica, indução por alguns medicamentos (principalmente em cães) e várias doenças crônicas. DOENÇA HEPATOBILIAR No fígado, a FA está presente nas células do epitélio biliar e nas membranas caniculares de hepatócitos Doenças hepatobiliares podem ocasionar aumento da atividade sérica de FA devido: o Maior produção da enzima o Solubilização de membranas pela ação de ácido biliares. o Extravasamento de vesículas de membranas, após lesão celular. O comprometimento do fluxo biliar induz aumento da produção de FA e o sequestro de sais biliares no sistema biliar causa solubilização de moléculas de FA aderidas à membrana celular. ATIVIDADE OSTEOBLÁSTICA Esses aumentos são mais comumente detectados em animais jovens em fase de crescimento. A cicatrização de fratura óssea provoca aumento localizado da atividade osteoblástica e elevação muito discreta da atividade sérica de FA. MEDICAMENTOS -EM CÃES Corticosteroides (exógenos ou endógenos) e anticonvulsivantes (p. ex., fenobarbital, fenitoína, primidona) induzem maior produção de FA pelos hepatócitos em cães. Em cães, podem ser Esses realizados outros testes auxiliares para diferenciar o aumento da atividade sérica de FA induzido por colestase daquele induzido por corticosteroides. Testes incluem mensurações das concentrações sérica e urinária de bilirrubina e do teor sérico de ácidos biliares, bem como testes para detecção de hiperadrenocorticismo. RAÇAS Aumento da atividade sérica de ALP relacionado com a raça foi constatado em cães das raças Husky Siberiano e Scottish Terrier. GAMA-GLUTAMILTRANSFERASE. É considerada uma enzima de indução. No caso de colestase e de hiperplasia biliar, nota- se aumento de produção e liberação de GGT. Para a detecção de doença hepática em cães, a GGT é mais específica, porém menos sensível, se comparada à FA. Para a detecção de doença hepática em gatos, a GGT é mais sensível, porém menos específica do que a ALP. Em geral, gatos com lipidose hepática apresentam aumento da atividade sérica de FA relativamente maior em comparação com GGT. 3 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA Os testes de função hepática incluem mensurações das concentrações séricas de substâncias que normalmente são removidas do sangue pelo fígado e, em seguida, metabolizadas ou excretadas pelo sistema biliar (p, ex., bilirrubina, ácidos biliares, amônia, colesterol) e de substâncias normalmente sintetizadas pelo fígado (p. ex., albumina, globulinas, ureia, colesterol e fatores de coagulação). BILIRRUBINA A bilirrubina é oriunda principalmente da degradação da hemoglobina. Os eritrócitos senescentes, que atingiram sua meia-vida normal, são fagocitados por células mononucleares, principalmente no baço, mas também no fígado e na medula óssea. A bilirrubina não conjugada (também denominada bilirrubina indireta) recentemente formada é liberada dos macrófagos, liga-se à albumina e é transportada no sangue até os sinusoides hepáticos, onde é liberada da albumina e penetra nos hepatócitos. Nos hepatócitos, a bilirrubina não conjugada é conjugada a grupos de carboidratos, formando bilirrubina conjugada (também denominada bilirrubina direta). A maior parte da bilirrubina conjugada é ativamente transportada contra o gradiente de concentração dos canalículos biliares e, então, excretada na bile. Outra parte volta para o sangue. A bilirrubina conjugada secretada nos canalículos biliares é excretada com a bile para o intestino delgado,no qual é transformada em urobilinogênio por meio de redução bacteriana. Cerca de 90% das moléculas de urobilinogênio são excretadas nas fezes na forma de estercobilinogênio O restante de urobilinogênio (10%), parte desse urobilinogênio é removida do sangue pelos hepatócitos e novamente excretada; outra parte do urobilinogênio é excretada na urina após filtração glomerular. HIPERBILIRRUBINEMIA O aumento da concentração sérica de bilirrubina (hiperbilirrubinemia) pode ser decorrente de três principais mecanismos patológicos. Eles incluem aumento da produção de bilirrubina (devido à destruição acelerada de eritrócitos), menor absorção ou conjugação de bilirrubina pelos hepatócitos e menor excreção de bilirrubina (colestase). Hiperbilirrubinemia pré-hepática. Aumento da produção de bilirrubina deve-se mais frequentemente à doença hemolítica (hemólise extravascular ou intravascular), mas também pode ser decorrente de hemorragia interna intensa e subsequente destruição de eritrócitos no local da hemorragia. Hiperbilirrubinemia hepática: pode ser decorrente da menor absorção ou conjugação de bilirrubina pelos hepatócitos. A diminuição da capacidade hepática funcional devido à doença hepática aguda ou crônica pode causar diminuição tanto na absorção quanto na conjugação de bilirrubina. 4 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais A diminuição da excreção de bilirrubina (colestase) pode ser de origem hepática ou pós- hepática e, em geral, deve-se à obstrução (parcial ou total) do sistema biliar, causando acúmulo de bile. A obstrução do fluxo biliar resulta em regurgitação de bilirrubina conjugada ao sangue. As obstruções são causadas por anormalidades que acometem diretamente o sistema biliar, tais como infecções ou neoplasias que comprimem ou lesionam ductos biliares, ou cálculos biliares. Entretanto, doenças que acometem primariamente o parênquima hepático também podem resultar em colestase por causarem tumefação de hepatócitos, o que provoca obstrução de pequenos canalículos biliares e impede o fluxo biliar normal. A obstrução de ducto biliar extra-hepático também pode ser secundária a lesões de intestino delgado ou de pâncreas, as quais podem causar colestase e hiperbilirrubinemia graves. O extravasamento de bile na cavidade abdominal em decorrência da ruptura de vesícula biliar ou de ducto biliar pode, também, resultar em hiperbilirrubinemia. ÁCIDOS BILIARES A mensuração da concentração sérica de ácidos biliares é um teste diagnóstico de rotina empregado para avaliar função hepática, colestase e anormalidades da circulação porta. Os ácidos biliares são sintetizados nos hepatócitos a partir do colesterol. Na maioria dos animais, o ácido cólico e o ácido quenodesoxicólico são os ácidos biliares primários. Após sua síntese, os ácidos biliares são conjugados com aminoácidos (principalmente taurina, na maioria dos animais) antes de sua secreção na bile. Os ácidos biliares são armazenados e concentrados na vesícula biliar. Os ácidos biliares depurados pelos hepatócitos são secretados no sistema biliar e recirculam; uma molécula de ácido biliar recircula várias vezes após a refeição. CAUSAS DO AUMENTO DA [ ] SÉRICA Anormalidades da circulação porta (p. ex., shunt portossistêmico, displasia microvascular hepatoportal, shunt adquirido secundário à cirrose hepática grave). Nesses casos, o sangue é desviado dos hepatócitos, prejudicando a depuração de primeira passagem dos ácidos biliares oriundos de circulação porta; assim, os ácidos biliares alcançam a circulação sanguínea sistêmica. Redução da massa hepática funcional. Esse é um importante fator em várias doenças hepáticas difusas (p. ex., hepatite, necrose, hepatopatia por glicocorticoide) que resultam em lesão de hepatócitos suficiente para prejudicar a absorção de ácidos biliares do sangue portal. Menor excreção de ácidos biliares na bile. Isso pode ser decorrente de colestase hepática ou pós-hepática de qualquer causa (obstrução, tumefação de hepatócitos, neoplasia, inflamação), colestase funcional ou associada à sepse, ou extravasamento do ducto biliar ou da vesícula biliar. Os ácidos biliares não competem com a bilirrubina quanto à absorção ou à metabolização pelos hepatócitos; portanto, é possível verificar hiperbilirrubinemia por hemólise sem aumento concomitante da concentração sérica de ácidos biliares. 5 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais AMÔNIA A amônia (predominantemente amônio, NH4+) é largamente produzida por bactérias do trato gastrintestinal durante a digestão normal, sendo absorvida no trato intestinal, e alcança a corrente sanguínea. É removida da circulação porta pelo fígado, no qual é utilizada na síntese de ureia e proteínas. Alteração no fluxo sanguíneo ao fígado ou na quantidade muito reduzida de hepatócitos funcionais pode resultar em aumento da concentração de amônia no sangue. O aumento do teor plasmático de amônia é mais comum em animais com shunt portossistêmico (shunt congênito ou secundário à cirrose grave). A elevação do teor de amônia no sangue pode ser verificada quando há perda de 60%, ou mais, da massa hepática funcional. ALBUMINA O fígado é o local de síntese de toda a albumina. Hipoalbuminemia: perda de 60 a 80% da função hepática. Hipoalbuminemia é muito comum em cães que apresentam doença hepática crônica. GLOBULINAS O fígado é o local de síntese da maioria das globulinas, com exceção das imunoglobulinas. No entanto, em geral, a concentração sérica de globulina não diminui tanto quanto a concentração de albumina; na insuficiência hepática é comum notar menor razão albumina:globulina. Em vários casos, a concentração de globulinas pode aumentar na doença hepática crônica como resultado da maior produção de proteínas de fase aguda ou de imunoglobulinas. GLICOSE A glicose absorvida no intestino delgado é transportada ao fígado pela circulação porta e, em seguida, alcança os hepatócitos. Os hepatócitos transformam a glicose em glicogênio, auxiliando no controle do conteúdo de glicose no sangue. Os hepatócitos também sintetizam glicose por meio de gliconeogênese e liberam a glicose armazenada por um mecanismo de glicogenólise. Em animais com insuficiência hepática, a glicemia pode estar diminuída ou aumentada. Pode haver aumento da glicemia quando há menor absorção hepática de glicose, resultando em hiperglicemia pós-prandial prolongada. A glicose pode estar diminuída por causa de menor atividade do mecanismo de gliconeogênese ou de glicogenólise nos hepatócitos. URÉIA A ureia é sintetizada nos hepatócitos a partir da amônia. Em animais com insuficiência hepática, a redução da massa hepática funcional resulta em menor taxa de conversão de amônia em ureia. Em consequência, a concentração sanguínea de amônia aumenta e a concentração de ureia no sangue (BUN) diminui. COLESTEROL A bile é a principal via de excreção do colesterol do organismo. Portanto, uma anormalidade no fluxo biliar (i. e., colestase) pode resultar em aumento da concentração sérica de colesterol (hipercolesterolemia). O fígado é também o principal órgão de síntese de colesterol. Vários cães e gatos com shunt portossistêmico (60 e 70%) apresentam hipocolesterolemia. 6 Amaríntia Rezende – Análises laboratoriais Em alguns tipos de insuficiência hepática, a menor síntese de colesterol pode ocasionar menor teor de colesterol no sangue (hipocolesterolemia). Caso a diminuição na síntese de colesterol seja a principal alteração causada pela insuficiência hepática, pode ocorrer hipocolesterolemia.Contudo, se a colestase for a alteração mais importante, poderá ocorrer hipercolesterolemia FATORES DE COAGULAÇÃO O fígado é fundamental no controle da coagulação, pois é o único órgão que sintetiza a maioria dos fatores de coagulação e também produz substâncias anticoagulantes como antitrombina, proteína C e proteína S. Além disso, a obstrução do fluxo biliar pode resultar em menor absorção de vitamina K, ocasionando diminuição da função dos fatores de coagulação dependentes dessa vitamina (fatores II, VII, IX e X) e de substâncias anticoagulantes (proteína C e proteína S). Em animais com doença hepática, é possível constatar tanto anormalidades de hemostasia quanto fibrinólise.
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