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Mário Sales Leucemia Mielóide Crônica Introdução - LMC LEUCEMIA = Malignidade proveniente de células tronco hematopoiéticas MIELOIDE = Proveniente da Linhagem Mielóide CRÔNICA = Células maduras • Neoplasia Mielóide | • Síndrome Mieloproliferativa ◦ Definição: - Neoplasia de células tronco hematopoiética pluripotentes - Caracterizada pelo gene de fusão BCR-ABL – resultado de translocação balanceada dos cromossomos 9 e 22 – t(9;22)(q34;q11) - Formação do Cromossomo Philadelphia (Ph) (der(22q) BCR – Breakpoint Cluster Region | ABL – Abelson Tyrosine Kinase – Proto-oncogene → Desregulação de replicação celular e apoptose → Replicação “monoclonal” excessiva = Leucemia Mielóide Crônica Epidemiologia - LMC: ◦ Doença de caráter insidioso ◦ Incidência de 2,3 – 100.000 em homens 1,2 – 100.000 em mulheres ◦ Corresponde a cerca de 15% das Leucemias nos Adultos | ◦ Normalmente diagnosticada entre 5ª e 6ª décadas de vida (55-70 anos) | ◦ Corresponde a < 3% das Leucemias na Infância ◦ Fatores de Risco: - Radiação Ionizante Ex: Expostos a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki | - Radioterapia para tratamento oncológico | - Fraca relação com outros agentes leucemogênicos como: Benzenos Agentes alquilantes (ex: quimioterápicos) MS Mário Sales I. Reconhecer casos suspeitos de Leucemia Mielóide Crônica Manifestações Clínica - LMC: ◦ Assintomáticos – identificação por alterações laboratoriais ◦ Sintomas comuns: - Fadiga - Febre - Plenitude pós prandial - Sudorese noturna - Perda de peso - Priapismo - Esplenomegalia (50 a 90%) - Alterações visuais - Artrite gotosa - Eventos trombóticos e hemorrágicos são incomuns (<5%) Fases de LMC: ◦ Fase Crônica - Mais comum ao diagnóstico - Geralmente assintomática ou oligossintomática ◦ Fase Acelerada - Queixas de adinamia, fadiga, piora de plenitude pós-prandial por esplenomegalia - Sintomas constitucionais como febre, perda de peso e sudorese ◦ Crise Blástica - Clínica de insuficiência medular II. Identificar as principais alterações laboratoriais Laboratório - LMC: ◦ Marcos diagnósticos para suspeita de Leucemia Mielóide Crônica: - Leucocitose (comumente com neutrofilia) | - Desvio até formas imaturas no Hemograma (Ex: Metamielócitos, Mielócitos, Bastões e, às vezes, até blastos) - Basofilia | - Eosinofilia | - Trombocitose (> 450.000/mm³) - Sinais laboratoriais de alto turn over celular: ↑ Lactato Desidrogenase, ↑ Ácido Úrico ◦ LMC Fase - Classificação OMS 2016 - Fase Crônica: Blastos < 10% no sangue periférico ou medula óssea - Fase Acelerada: Blastos 10-19% sangue periférico ou medula óssea Aumento de Leucocitose apesar de tratamento alvo Basófilos > 20% Trombocitose > 1.000.000/mm³ ou Trombocitopenia < 100.000/mm³ Alterações clonais cromossomiais (ex: trissomia 8; isocromossomo 17q) - Crise Blástica: Blastos > 20% no sangue periférico ou medula óssea Proliferação de blastos extramedular (ex: sarcoma granulocítico) III. Entender mecanismo fisiopatológico da Leucemia Mieloide Crônica O cromossomo Philadelphia (Ph) está presente em 90 a 95% dos casos de leucemia mielóide crônica. O cromossomo Ph é o produto de uma translocação recíproca entre os cromossomos 9 e o cromossomo 22, t (9; 22). Durante essa translocação, uma parte do cromossomo 9 contendo o oncogene ABL é translocado para o cromossomo 22 e fundido no gene BCR. O gene de fusão quimérica BCR-ABL é responsável pela produção da tirosina quinase da oncoproteína bcr-abl. A oncoproteína bcr-abl apresenta atividade não controlada da tirosina quinase, que desregula a proliferação celular, diminui a adesão das células leucêmicas ao estroma da medula óssea e protege as células leucêmicas da morte celular programada normal. A LMC ocorre quando uma célula progenitora hematopoiética pluripotente anormal inicia a produção excessiva de células de linhagem mieloide, primariamente na medula óssea, mas também em locais extramedulares (ex., baço, fígado). Embora a produção de granulócitos predomine, o clone neoplásico inclui eritrócitos, megacariócitos, monócitos e mesmo algumas células B e T. As células-tronco normais são retidas e podem emergir após a supressão por fármaco do clone da LMC. MS Mário Sales IV. Reconhecer principais métodos diagnósticos Diagnóstico - LMC: ◦ Clínico: Esplenomegalia; Perda de peso; Sudorese; Plenitude pós prandial; Fadiga; Adinamia ◦ Laboratoriais: Leucocitose + Formas jovens mieloides circulantes + Anemia ou Trombocitopenia/Trombocitose; Baixa Fosfatase | Alcalina Leucocitária ◦ Molecular: PCR qualitativo para BCR-ABL1: p210 kDa | p230 kDa | p190 kDa (←↑) ◦ Genético: presença da translocação t(9;22) – cromossomo Ph (Philadelphia) ◦ Histológico: Mielograma + Biópsia de Medula Óssea Hasford score: Tamanho do Baço | Idade | Níveis hematimétricos | Com terapia alvo atual: – essas estratificações de risco clássicas se tornaram menos necessárias V. Tratamento alvo ideal e forma de avaliar resposta clínica Tratamento inicial: ◦ Inibidores de Tirosina kinase (ITKs) - 1ª Geração: Imatinibe - 2º Geração: Dasatinibe Nilotinibe Após implementação dos ITK’s - ◦ Sobrevida Global: Pré era ITK - < 20% em 5 anos Pós era ITK - 90% em 10 anos O que fazer até início dos ITK’s? ◦ Enquanto aguarda resultados de estudo moleculares: I. Se paciente apresentar Leucocitose > 100.000/mm³ - Citorredução: Química: Hidroxiureia 1-4 g/dia II. Mecânica (apenas se sinais clínicos de Síndrome de Leucostase e comprometimento de órgão alvo): Leucoaférese – retirada por aférese de componente leucocitário Tratamento: ◦ Com advento dos ITK’s a LMC tornou-se uma doença de caráter crônico ◦ Maior prevalência de LMC na atualidade devido à maior sobrevida global alcançada após diagnóstico e com a introdução dos inibidores de tirosina quinase ◦ Transplante de Medula Óssea Alogênico – único tratamento curativo antes da implementação dos ITK – tornou-se linha terapêutica para falha aos ITK’s ou para aqueles que apresentam Crise Blástica ◦ Avaliação molecular seriada – Avaliação de resposta a cada 3 meses MS Mário Sales V. Tratamento alvo ideal e forma de avaliar resposta clínica ◦ CRISE BLÁSTICA: - Tratamento mais aceito conduzir como Leucemia Aguda associado a ITK’s - Pode haver transformação de LMC para Leucemia Mieloide Aguda (~70% dos casos) Leucemia Linfoblástica Aguda (~30% dos casos) - Conduzir com protocolo de indução orientado para cada subtipo de Leucemia Aguda + ITK vs. ITK’s isolado - Considerar transplante de medula óssea alogênico durante primeira remissão Importante saber: ◦ Principais efeitos adversos dos ITK’s: - Imatinibe: Toxicidade Medular (principalmente neutropenia) Distúrbios gastrointestinais (diarreia, náuseas, vômitos) Exantema Edema (periorbital e periférico) Insuficiência cardíaca – raro | Alterações eletrolíticas - Dasatinibe: Toxicidade medular (Neutropenia e trombocitopenia) ESPECÍFICAS: I.Derrame pleural Aumento na incidência em pacientes idosos e doses mais altas | II.Hipertensão Pulmonar - Nilotinibe: Hiperglicemia | Aumento Lipase | Prolongamento intervalo QT Aumento de eventos Cardiovasculares (Síndrome coronariana; Acidente vascular encefálico) CUIDADO EM PACIENTES DE ALTO RISCO CARDIOVASCULAR Importante saber: ◦ Opções em falha terapêutica: - Principal causa -> mutação BCR-ABL (ex: T315I) -> Novos Inibidores de Tirosina Kinase: I. Bosutinibe | II. Ponatinibe (aprovado para casos com mutação T315I) ◦ Tratamento pode ser interrompido? - Estudos demonstrando taxas de remissão prolongada após pelo menos 2 anos de tratamento com resposta molecular maior - Mais indicado no contexto de estudos clínicos - Requer maior vigilância – Quantificação de BCR-ABL mensal | - Difícil na prática clínica diária ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------◦ Leucemia Mieloide Crônica - Neoplasia Mielóide constituída por síndrome mieloproliferativa de células maduras, porém nem sempre funcionais. - Evolução com esplenomegalia, sintomas constitucionais e, em casos mais graves, manifestações clínicas de insuficiência medular (Febre / Sangramentos/ Astenia-Adinamia) - Advento de terapia alvo com inibidores de tirosina quinase modificaram a história natural da doença e melhorou a sobrevida global desses pacientes - Doença de caráter crônico, mas precisa ATENÇÃO para manejo correto --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- MS Mário Sales Caso 1 - Paciente, sexo masculino, 56 anos, comparece à consulta com queixas de plenitude pós prandial e perda de peso não intencional de 5 kg nos últimos 6 meses (65 -> 60 kg). Nega febre ou outros sintomas constitucionais. - Foi realizado exames laboratoriais para avaliação, que demonstrou o seguinte hemograma: - Hb 12,5 g/dL - Leucócitos 120.000/mm³ - Plaquetas: 600.000/mm³ Metamielócitos: 7% | Mielócitos: 11% | Bastão: 13% | Blastos: 1% Neutrófilos: 68% Basófilos: 2% | Eosinófilos: 1% | Linfocitos: 1% - Leucocitose | - Desvio escalonado | - Basofilia | - Eosinofilia | - Trombocitose - A única alteração no exame físico era a presença de um baço palpável 8,5 cm do rebordo costal esquerdo, indolor, bordas rombas Como realizar o diagnóstico do paciente com leucocitose e esplenomegalia? - Pesquisa qualitativa via PCR para BCR-ABL1 - Realizar estudo de medula com Mielograma e Biópsia de Medula Óssea (demonstrando hiperplasia da série mielóide; aumento da relação Granulócitos:Eritrócitos; celularidade medular aumentada para idade) - Coleta de Cariótipo por banda G pelo aspirado medular Após o diagnóstico molecular: ◦ Classificar fase em que a doença se encontra ◦ Classificar risco da doença (?) | ◦ Definir tratamento adequado MS
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