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RESUMO 2 - PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE REAL NO PROCESSO PENAL

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RESUMO 2 - PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE REAL NO PROCESSO PENAL 
	
	Existe, quando se fala em sistemas processuais penais, uma divisão em dois grupos principais, podendo se considerar a existência de um terceiro, a depender da corrente doutrinária que se está a tomar como referência. São eles: 1) SISTEMA ACUSATÓRIO; 2) SISTEMA INQUISITIVO e 3) SISTEMA MISTO.
	A seguir uma tabela explicando as principais características de cada um:
	Acusatório
	Inquisitivo
	Misto
	Regimes democráticos
	Regimes ditatoriais
	Modelo intermediário
	Distinção entre as funções de acusar, defender e julgar;
Equilíbrio entre acuação e defesa
	O juiz reúne as funções de acusar, defender e julgar
Desigualdade entre acusação e defesa
	Inquisitivo garantista
	Para que a relação processual seja instalada, obrigatoriamente, deve existir acusação
	Juiz pode instalar a relação processual de ofício
	
	Contraditório e ampla defesa
Obediências às normas processuais e garantias constitucionais
	Não há observância de garantias processuais ou constitucionais
	Garantias processuais e constitucionais observadas
	Atos processuais são públicos (exceções excepcionais)
	Atos processuais não são públicos
	Restrições à publicidade do processo
	O juiz não pode produzir provas de ofício
	O juiz pode produzir provas de ofício
	O juiz pode produzir provas de ofício
Parte majoritária da doutrina considera que a Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no Brasil, a adoção do sistema processual penal acusatório. É o que se verifica do posicionamento de notáveis autores, como Eugênio Pacelli e Aury Lopes Júnior.
	OBSERVAÇÃO:
Até a entrada em vigor do denominado “Pacote Anticrime” era possível encontrar na doutrina brasileira referência ao modelo misto para definir a atuação do juiz criminal; ou seja, segundo tal corrente teríamos um sistema com feições acusatórias e inquisitoriais. A argumentação, para tanto, resvalava em alegações sobre ser a existência do inquérito policial, na fase pré processual, um indicativo do sistema misto, mas também em assertivas que apontavam determinados poderes atribuídos aos juízes pelo Código de Processo Penal como justificativa para essa classificação (PACELLI, 2019, p. 39).
Tal posicionamento, contudo, era (e segue sendo) refutado por autores como os dois supracitados, é o que se extrai de outro trecho da obra de Pacelli:
De todo modo, e, sobretudo, a partir da possibilidade de participação do acusado e de seu defensor no ato do interrogatório, não vemos como não se reconhecer, ou não vemos por que abdicar de um conceito acusatório de processo penal na atual ordem constitucional. Além disso, o fato de ainda existirem juízes criminais que ignoram as exigências constitucionais não justifica a fundamentação de um modelo processual brasileiro misto (PACELLI, 2019, p. 41).
Nas palavras de Aury Lopes Jr.:
Por esse motivo, a defesa do sistema misto é um engodo. Nessa estrutura inquisitória, o poder e o controle sobre a produção do saber não se veem diminuídos ou enfraquecidos pelo sistema acusatório, que chega tarde demais, quando todo o cenário já está montado. Quando entra em cena o (ingênuo) julgador, o cenário já está montado e o roteiro definido. Então lhe são apresentadas a “verdade histórica” e o juízo de fato, obtidos na fase inquisitória, para que ele diga o direito aplicável ao caso. O próprio contraditório passa a ser simbólico, e não real e efetivo (LOPES Jr, 2020, p. 572-573).
Intentando pacificar os entendimentos divergentes sobre a questão, o intitulado Pacote Anticrime (Lei nº 13.964 de 2019), ao introduzir uma série de modificações no diploma processual penal brasileiro, caminhou em direção ao maior esclarecimento legislativo sobre a estrutura acusatória do processo, incluindo o artigo 3º-A ao CPP, segundo o qual se estabelece, de maneira expressa, que o sistema processual penal adotado pelo Brasil é o acusatório
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)       (Vigência)
	Passada a apresentação, em linhas gerais, dos três grandes sistemas processuais penais e exposto o entendimento sobre se inserir o processo penal brasileiro numa estrutura acusatória, é possível debruçar-se com maior propriedade ao tema central deste excerto, qual seja o “PRINCÍPIO DA VERDADE REAL” e o processo penal.
	Segundo explicação extraída da obra de Norberto Avena o chamado princípio da verdade real, também conhecido como “princípio da verdade material” ou da “verdade substancial”, indica que no processo penal, em razão da natureza dos interesses e bens a serem protegidos, deve-se realizar todas as diligências necessárias e adotadas todas as medidas cabíveis para que se descubra como os fatos apurados realmente ocorreram, de forma a tornar o exercício do poder de punir do Estado (representado pelo seu braço penal) efetivo em relação ao agente que praticou ou concorreu para a prática de uma infração penal.
	Afirmar que a verdade real seria a meta do processo penal equivaleria a dizer, nesse sentido, que ao juiz incumbe impulsioná-lo com o objetivo de se aproximar ao máximo da verdade plena, real, esclarecendo os fatos, para que o ato de julgar se afaste de suposições, ficções e possa embasar-se, sim, na concretude da realidade.
	O autor menciona que esse princípio está concretizado em diferentes dispositivos no âmbito do Código de Processo Penal, por exemplo, pelo artigo 197 - ao condicionar o valor da confissão do réu à compatibilidade com as demais provas do processo – ou ainda, pelo artigo 566, que estabelece que não será declarada nulidade de um ato processual que não houver interferido na apuração da verdade substancial ou decisão da causa.
	Um ponto destacado no curso da explanação de Avena é o de que a busca pela verdade real não pode significar ou resultar em violação de direitos e garantias legislativas; a busca de que se fala se depara com limites colocados pela Constituição Federal e por leis infraconstitucionais também. Desse modo, ficaria vedada, por exemplo, a utilização de provas obtidas por meios ilícitos, ou fruto da violação ao sigilo de correspondência, telegráfico ou telemático, bancário, ou ainda, daquelas provas decorrentes de busca e apreensão domiciliar não autorizada pelo juiz competente, quando essa exigência se fizer necessária. 
	O doutrinador arremata suas considerações sobre o princípio da verdade real esclarecendo que, atualmente, a ideia de diferença entre uma verdade material/real e uma verdade formal (esta última como base para a construção do princípio da verdade formal que vigorava no processo civil), tem sido mitigada, de modo que a doutrina moderna estaria a caminhar para a defesa de uma só verdade, a ser perseguida pelo juiz, seja na esfera penal ou na esfera cível, num sentido de não facultar ao Poder Judiciário contentar-se com uma verdade aparente, coaduna com a noção de verdade formal.
	O que se teceu nas linhas acima deriva de um posicionamento que acolhe o princípio da verdade real como parte do arcabouço principiológico que rege o sistema processual penal brasileiro; no entanto, tal construção não é única, nem mesmo insuscetível a críticas. Autores como Aury Lopes Jr. e Eugênio Pacelli enxergam a relação entre a ideia de verdade real e o processo penal de maneira diferente, sinalizando para a necessidade de se desmistificar tal associação.
	Em seu Curso de Processo Penal, Pacelli expressa o que se acabou de afirmar no tópico “O mito e o dogma da verdade real”. Por ele esclarece que o princípio da verdade real foi (e ainda é) muito utilizado e aproveitado pelos aplicadores do Código de Processo Penal, exatamente pelo argumento da relevância dos interesses discutidos no processo penal, como se a seriedade das questões penais fosse suficiente para respaldar uma busca muito mais ampla e intensa pela verdade. 
Acrescenta que a busca da verdade real comandou, durante muito tempo, a instalação de práticasprobatórias, ainda que não previstas legalmente, autorizada sob a escusa da nobreza do propósito que é o alcance da “verdade”. Em sua visão, um dos maiores males advindos do princípio da verdade real foi a difusão de uma cultura inquisitiva que permeou o Estado em suas instâncias de persecução penal; a crença de que seria efetivamente possível, a ele, chegar à verdade viabilizou a ideia de necessidade insuperável de sua perseguição, fazendo disso uma meta central no processo penal.
Exemplo disso é o fato de que o princípio da verdade real era usado para legitimar eventuais desvios de autoridades públicas, ou ainda amparar a iniciativa probatória bastante ampla resguardada aos magistrados no processo penal brasileiro. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a consolidação de um sistema processual acusatório, tal estrutura restou não mais tolerada, pelo menos formalmente.
	Segundo Pacelli, toda a verdade judicial é uma verdade processual, posto que revelada, reconstruída no curso de um processo (seja ele cível ou penal), contando com a colaboração das partes. Enquanto o processo civil admite um tipo de verdade decorrente de presunção legal, frequentemente dita verdade formal, o processo penal, exigindo materialização da prova, sob incumbência da acusação quanto à existência do fato e autoria, liga-se à noção de uma verdade material. Assim, toma-se por inadequado falar em verdade real. É como explica:
Não só é inteiramente inadequado falar-se em verdade real, pois que esta diz respeito à realidade do já ocorrido, da realidade histórica, como pode revelar uma aproximação muito pouco recomendável com um passado que deixou marcas indeléveis no processo penal antigo, particularmente no sistema inquisitório da Idade Média, quando a excessiva preocupação com a sua realização (da verdade real) legitimou inúmeras técnicas de obtenção da confissão do acusado e de intimidação da defesa (PACELLI, 2021, p. 430).
	
Conclui, o autor, afirmando que a verdade material segue sendo um princípio processual de grande relevância em tema de prova, especialmente no tocante à exclusão de determinados tipos probatórios.
Seguindo o mesmo curso argumentativo, ainda com maior contundência, Aury Lopes Junior discute o lugar da verdade no processo penal. Inicia suas considerações afirmando ser um erro, advindo das transmissões mecânicas das categorias do processo civil para o processo penal, a centralidade da verdade enquanto legitimadora e objetivo no processo penal.
Para o autor a ideia de uma verdade real constitui-se como um mito, estritamente ligado à estrutura do sistema inquisitório, típico de sistemas políticos autoritários, nos quais admitia-se a busca de uma verdade a qualquer custo. Essa relação foi responsável por criar, então, uma cultura inquisitiva que se dispersou pelas agências estatais responsáveis pela persecução penal.
Em face de tais considerações, coloca, o doutrinador, que seria legitimada no processo penal a verdade formal ou processual, essa mais controlada quanto ao modo de obtenção e mais reduzida quanto ao conteúdo que informa, posto que coaduna com um modelo formalista que preza pelo respeito às regras, protegendo a liberdade do indivíduo contra a introdução de verdades substancialmente arbitrárias ou incontroláveis (LOPES JR, 2020, p.565).
Em sua visão ao se falar em “verdade real” confunde-se o “real” com o “imaginário”; dado que o crime está sempre no passado, é um fato histórico, memória, mas nunca real. A verdade processual jurídica, por sua vez, está no presente, colocando-se como fruto da integração do fato à norma. O intento não é glorificar a verdade processual, pois a ela também é possível dirigir críticas, mas efetivamente discutir o lugar ocupado pela verdade no processo penal.
A proposta de Aury Lopes Junior é expressa nos seguintes dizeres: 
A verdade (ainda que processual) não é fundante ou legitimante do processo, senão contingencial. Importa fortalecer o respeito às regras do devido processo e evitar-se o outro extremo – decisionismo (LOPES JR, 2020, p.569).
	Inserida no sistema acusatório, a verdade não é, nem deve ser fundante, não deve ser dada como função do processo penal, caso contrário cai-se no mito da verdade. Considerando-se esse o ponto de partida, o autor acrescenta que a decisão judicial não seria a revelação da verdade, qualquer que seja sua modalidade, mas o resultado do convencimento do juiz – formado pela via do contraditório e em respeito às regras do devido processo legal obrigatoriamente.
	Ressalta, o doutrinador, que não se trata de negar a verdade no processo penal - o que seria errôneo – mas tão somente de transpor a discussão para outra dimensão, na qual a verdade seria contingencial e não estruturante do processo, revelando um esforço para se conter a “ambição da verdade” que sempre ronda o processo penal perigosamente, e que se não limitada pode significar a morte do contraditório, representando um abalo em toda a estrutura do processo penal democrático e constitucional.
REFERÊNCIAS
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 17ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo penal. 25ª. Ed. São Paulo. Atlas, 2021.

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