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princípio da indenização integral - direito do consumidor

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PRINCÍPIO DA INDENIZAÇÃO INTEGRAL
	O princípio da indenização integral, ou também denominado princípio da reparação integral, está consagrado no Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 6º, inciso VI. Trata-se, como alude o referido diploma, de um direito básico do consumidor “a efetiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.
	Conforme suscinta definição conferida por parte do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF):
O princípio da reparação integral dispõe que se o consumidor sofre um dano, a reparação que lhe é devida deve ser a mais ampla possível, abrangendo, efetivamente, todos os danos causados [...]. Os danos devem ser reparados de forma efetiva, real e integral, de forma a ressarcir ou compensar o consumidor.
	Assim como outros tantos princípios consagrados pelo CDC e aplicáveis aos contratos de transporte, entende o doutrinador Sérgio Cavalieri Filho que também o princípio da indenização integral norteia a conformação dos contratos de transporte terrestre ou aéreo. A partir de sua vigência, diga-se, foram afastadas as cláusulas limitativas da indenização previstas legal ou contratualmente.
	Aliás, necessário que se diga – mesmo não sendo o ponto central em debate no presente trabalho - que sua aplicação às relações de consumo, difere da perspectiva adotada pelo Código Civil para o mesmo princípio, sobretudo no tocante ao grau de culpa do causador do dano e eventual redução e/ou limitação da reparação indenizatória.
Antes de passar à explicação completa a respeito da posição contemplada pelo CDC sobre o princípio da reparação integral e sua aplicação, uma breve análise comparativa com o direito internacional será apontada, como forma de evidenciar a construção do que prevalece atualmente sob a perspectiva consumerista.
A Convenção da Varsóvia (Decreto nº 20.704 de 24 de novembro de 1931), promulgada para a unificação de certas regras relativas ao transporte aéreo internacional, por exemplo, em seu artigo 22, nº 1, dispunha expressamente pela limitação da indenização, nos seguintes termos:
No transporte de pessoas, limita-se a responsabilidade do transportador, à importância de cento e vinte e cinco, mil francos, por passageiro. Se a indemnização, de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da questão, puder ser arbitrada em constituição de renda, não poderá o respectivo capital exceder aquelle limite. Entretanto, por accordo especial com o transportador, poderá o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade 
	A jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, conforme explica Cavalieri Filho, inicialmente inclinou-se no sentido da prevalência da Convenção de Varsóvia sobre o Código de Defesa do Consumidor, aplicando entendimento no sentido de limitação de reparação indenizatória nos contratos de transporte, pelo critério da especialidade.
Bem mais tarde, adveio a promulgação da Convenção de Montreal (decreto nº 5.910 de 27 de setembro de 2006) que substituiu a Convenção de Varsóvia, também contendo cláusulas limitativas de indenização no transporte aéreo internacional. Observa-se de seu artigo 21 que para situações de morte ou lesões de passageiro a indenização estaria limitada a 100.000 Direitos Especiais de Saque[footnoteRef:1]. Para atraso no transporte (artigo 22, item 1) a indenização é limitada a 4.150 Direitos Especiais de Saque. E, ainda, por perda, avaria ou destruição da bagagem a indenização é limitada a 1.000 Direitos Especiais de Saque. [1: O Direito Especial de Saque é um instrumento monetário internacional que representa ativos de moedas estrangeiras. Foi criada em 1969, controlada pelo Fundo Monetário Internacional. O valor do DES é revisado a cada cinco anos pelo FMI.] 
A despeito da existência das duas Convenções internacionais, a construção que se alcançou atualmente, doutrinária e jurisprudencialmente, é a de que prevalece o Código Defesa do Consumidor regulamentando as relações de consumo envolvendo contratos de transporte de passageiros e, por conseguinte, entende-se pela vedação da limitação da indenização, mesmo que para as situações de transporte aéreo internacional e cláusulas previstas na Convenção de Montreal.
Nas palavras de Cavalieri Filho: “Subsiste a proibição do Código de Defesa do Consumidor por ser a Lei especial que disciplina todos os contratos que geram relações de consumo, entre os quais o de transporte de passageiros” (CAVALIERI FILHO; 2017, p. 286).
Também a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de vedar qualquer limitação ao princípio da reparação integral, quando se cogita de relações envolvendo o Código de Defesa do Consumidor:
[…] I – Em que pese a existência de precedentes desta Corte com posicionamento diverso, concluí que mais correta seria a adoção dos princípios insculpidos na Lei nº 8.078/1990, bem como da reparação efetiva e integral dos danos causados durante o contrato de transporte aéreo.
II – Os limites indenizatórios constantes da Convenção de Varsóvia não se aplicam a relações jurídicas de consumo, uma vez que, nas hipóteses como a dos autos, deverá haver, necessariamente, a reparação integral dos prejuízos sofridos pelo consumidor. […] [footnoteRef:2] [2: BRASIL. STJ, REsp 240078/SP, 3ª T., Rel. Min. Waldemar Zveiter, J. 13.03.2001. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=IMG&sequencial=46639&num_registro=199901077109&data=20010827&formato=HTML>. Acesso em: 13 jun. 2020.
] 
No mesmo sentido, a fundamentação abaixo, constante do julgamento do REsp 218.288/STJ, também debatendo o Código de Defesa do Consumidor e a Convenção de Varsóvia, no sentido da aplicação da legislação protetiva dos consumidores 
[…]. No entanto, após refletir sobre o assunto, concluí que mais correta seria a adoção da reparação efetiva e integral dos danos causados durante o contrato de transporte aéreo, com base nos princípios insculpidos pela Lei nº 8.078/1990.
Isso porque, este tipo de avença encontra-se sob o império da mencionada lei, eis que a empresa transportadora se enquadra na definição de fornecedor do art. 3º, bem como o serviço por ela prestado ajusta-se à noção de serviço constante do § 2º [footnoteRef:3] [3: BRASIL. STJ, REsp 218288/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, J. 19.02.2001. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=IMG&sequencial=58528&num_registro=199900501462&data=20010416&formato=HTML>. Acesso em: 14 jun. 2020.] 
	Reforça-se, em sendo assim: o Código de Defesa do Consumidor disciplinando as relações de consumo de forma específica, acaba por excluir a aplicabilidade de normas que não atendam de forma efetiva e ampla os interesses dos consumidores; exatamente por isso, a observância ao artigo 6º, inciso VI – fixando o princípio da reparação efetiva – mostra-se como garantia apta e necessária a tutelar adequadamente os interesses dos consumidores lesados. Tal entendimento, aplicado aos contratos de transporte, é valido também para se analisar as cláusulas limitativas de indenização previstas nos artigos 246 e 257 do Código Brasileiro de Aeronáutica, vez que o transportador aéreo (interno), enquanto prestador de serviço público concedido pela União deve também se submeter ao regime de indenização integral, previsto pelo CDC.
	Por fim, pontua-se que, por disposição do Código Civil de 2002 (artigo 734) é vedada qualquer cláusula de não indenizar no contrato de transporte.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Felipe Cunha de. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL: UM PARALELO ENTRE O CÓDIGO CIVIL E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 2017. Disponível em: http://www.rkladvocacia.com/principio-da-reparacao-integral-um-paralelo-entre-o-codigo-civil-e-o-codigo-de-defesa-do-consumidor/#_ftn46. Acesso em: 14 jun. 2020.
BRASIL. Decreto nº 5.910, de 27 de junho de 2006. Convenção de Montreal. Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5910.htm. Acesso em: 13 jun. 2020.
 . Decreto nº 20.704, de 24 de novembrode 1931. Convenção de Varsóvia. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D20704.htm. Acesso em: 13 jun. 2020.
 . STJ, REsp 218288/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, J. 19.02.2001. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=IMG&sequencial=58528&num_registro=199900501462&data=20010416&formato=HTML>. Acesso em: 14 jun. 2020.
 . STJ, REsp 240078/SP, 3ª T., Rel. Min. Waldemar Zveiter, J. 13.03.2001. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=IMG&sequencial=46639&num_registro=199901077109&data=20010827&formato=HTML>. Acesso em: 13 jun. 2020.
Princípio da Reparação Integral. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-1/principios-do-cdc/principio-da-reparacao-integral. Acesso em: 13 jun. 2020.

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