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Caso Clínico Identificação: LMC, sexo masculino, leucoderma, 10 anos, estudante, natural de Belo Horizonte (MG) Queixa principal: “Náuseas e vômitos” História da Moléstia Atual: Mãe de LMC vai ao pronto socorro com seu filho devido náuseas e vômitos que começaram a 12 horas, sendo que o menino descreve sentir se cansado. Mãe relata ainda que há 2 semanas LMC começou a urinar na cama novamente e vem bebendo muita água e comendo muito, porém percebe seu filho emagrecido. História Social: Mora em um apartamento em bairro nobre da região de BH, se exercita frequentemente, apresenta uma alimentação baseada principalmente em carboidratos simples. História Familiar: Pai portador de HAS, Mãe hígida e irmão hígido. Ao exame físico: Prostrado, anictérico, acianótico, hipocorado (+/4+), pele e mucosas secas e turgor cutâneo diminuído, apresenta padrão respirátorio de respiração de Kussmaul, seguida por períodos de apneia, hálito com odor de frutas. FR de 25irpm e FC de 120bpm. Exames laboratoriais: Parâmetro Resultado Valor de referência Hemograma Eritrograma Eritrócitos 4,6 milhões/ mm3 4,5-5,9 milhões/mm3 Hemoglobina 15g% 12,0-17,5 g% Hematócrito 42% 40-52% VCM 80 fL 80-100 fL HCM 28 pg 26-34 pg Leucograma Leucócitos 19.000 / mm3 4.500-11.000/mm3 Metamielócitos 0% 0-1% Bastonetes 17% 0-4% Segmentares 58% 36-66% Eosinófilos 3% 0-4% Basófilo 0% 0-1% 1. Determine o significado de todos os termos técnicos desconhecidos mencionados no caso. 2. Considerando o relato do paciente e os exames físicos e laboratoriais qual a principal hipótese diagnóstica? Relacione os principais fatores que corroboram com a hipótese diagnóstica A principal hipótese diagnóstica é cetoacidose diabética devido a uma diabetes melitus tipo I. O principal fato que nos leva a pensar em diabetes é a glicemia de 350mg/dl, associada de sintomas de hiperglicemia como a polipsia, polifagia e perda recente de peso do paciente, sendo que podemos pensar que é do tipo I por se tratar de uma criança de 10 anos. Os critérios diagnósticos para a cetoacidose diabética são: glicemia acima de 250, um ph abaixo ou igual a 7,3, bicarbonato abaixo de 15 e uma presença de cetonúria ou cetoanemia. O paciente descrito acima se encaixa em todos os critérios, nos levando acreditar que possui um caso de cetoacidose diabética. Além de todas essas informações bioquímicas a clínica também sugere fortemente esse quadro, uma vez que o paciente apresentou vômito, náuseas, comuns em crianças que entram nesse quadro, a padrão respirátorio de Kussmaul descrito no exame físico do paciente, apresentava-se postado, desidrato (hipocorado e com diminuição do turgor cutâneo e mucosas secas), hálito cetônico (hálito com odor de frutas) e tanto sua frequência cardíaca quanto respiratórios se mostraram alteradas. Linfócitos 20% 20-40% Monócitos 2% 2-8% Plaquetas 280.000/mm3 140 000-450 000/mm3 Gasometria Arterial pH 7,1 7,35 a 7,45 pCO2 22 mmHg 35 a 45 mmHg pO2 80 mmHg 80 a 100 mmHg HCO3 10 22-26 mmol/L Outros exames Glicemia capilar 350mg/dl inferior a 200mg/dl 2 horas após refeição TGO 20 U/L 5-40 U/L; TGP 30U/L 7-56 U/L. Cetonúria 2+ Negativo Na 138meq/l 135-145 mmol/L K 4,7 meq/l 3,6-5,1 3. Explique a fisiopatologia da doença apresentada pelo paciente A diabetes melitus tipo I é uma doença autoimune de origem genética que ocorre a partir da destruição das células beta pancreáticas, sendo um processo mediado por linfócitos T e macrófagos. Por meio dessa destruição o paciente entra em um quadro de deficiência de insulina, o levando a uma hiperglicemia, quando esse quadro evolui e se mantém por muito tempo pode gerar uma cetoacidose diabética. Quando o corpo entra em uma grande deficiência de insulina ele entra em um quadro de lipólise descontrolada, aumentado a concentração plasmática de ácidos graxos livres e glicerol, além disso, no músculo, a alanina começa a ter seus níveis aumentados devido ao catabolismo celular. Tanto a alanina quanto o glicerol começam a servir de substrato para a gliconeogênese no fígado. O glucagon, que se encontra elevado devido à baixa concentração de insulina, começa a estimular o processo de gliconeogênese no fígado e a conversão mitocondrial de AGL em cetonas. Os principais cetoácidos produzidos são: ácidos acetoacético e beta-hidroxibutirato, que são ácidos orgânicos fortes que levam a acidose metabólica, o corpo tenta a compensar com respirações profundas compensatórias (padrão respirátorio de kussmaul). A cetona derivada do ácido acetoacético começa a se acumular no sangue e é lentamente liberada através da respiração, dando origem ao hálito cetônico. Além do glucagon, outros hormônios, devido ao estresse e a diminuição da oferta de glicose, entram em ação como o hormonio do crescimento, cortisol e catecolaminas, eles acabam por aumentar a resistência aos efeitos da insulina em tecidos periféricos e estimulando a gliconeogênese e cetogênese A hiperglicemia acaba por levar a uma diurese rica em glicose, uma vez que a concentração plasmática da mesma excede o limiar de filtração. Dessa forma, inicia-se um quadro de diurese osmótica e perda de água, levando a uma desidratação, poliúria e polidipsia. Em relação aos íons temos que durante a CAD ocorre uma perda de diversos eletrólitos (Na, K, VL, PO4, Ca). O íon potássio é importante na CAD, sendo que no ínicio da acidose ele é trocado pelas células por íos H+, fazendo com que o K seja liberado na corrente sanguínea. Com o aumento dos níveis séricos de potássio ele começa a ser perdido na urina. Além disso, é perdido do corpo por meio de vomito, cetonúria (que requer a excreção de íons como o sódio e o potássio) e devido a diurese osmótica. Além disso, por causa da depleção de volume o paciente começa a ter um hiperaldosteronismo que também leva a excreção de potássio. Por mais que a depleção de potássio total do corpo ocorra, os níveis plasmáticos podem se encontrar normais, elevados ou diminuídos 4. Em relação a causa de base do quadro que o paciente apresenta qual seria o tratamento e recomendações adequadas Por se tratar de um paciente com diabetes melitus do tipo 1 ele necessita de instrução nutricional, evitando alimentos hiperglicemiantes e levando uma dieta saudável para evitar ganho de peso ele deve se exercitar regularmente, sendo necessário o uso da insulina, podendo ou não estar acompanha de certos antidiabéticos orais, recomendados em ocasiões especiais Os objetivos do controle glicêmico são: • Glicemia pré-prandial entre 80 e 130 mg/dL (4,4 a 7,2 mmol/L) • Aumento máximo pós-prandial (1 a 2 h após o início da refeição) glicemia < 180 mg/dL (10 mmol/L) • Concentrações de HbA1C < 7% 5. Explique a importância da medida dos íons para o tratamento e acompanhamento da condição do paciente Quando o paciente chega ao hospital com suspeita de CAD entre os exames requeridos pelos médicos logo no ínicio se encontram o sódio, o potássio e o cloro, esses íons são essenciais para a homeostase, sendo que durante a CAD podem guiar o tratamento, podendo indicar piora ou melhora do paciente. Durante a CAD é essencial a terapia de reposição eletrolítica e de fluídos, sendo que a ela é capaz de restaura o volume circulante, a água e sódio aos níveis normais intracelulares, a filtração glomerular, levando a maior depuração de glicose e cetonas no sangue. A monitorização dessa terapia deve ocorrer para evitar taxas excessivas da administração de fluídos, de modo a não exacerbar o risco de edema cerebral, uma vez que essa grave complicação já foi associada a diminuição de sódio corrigido. Durante a terapia da insulina um íon tem papel especial, o potássio, uma vez que ele é fundamental para determinar se ocorrerá o ínicio da insulina terapia ou não. Pessoas em CAD com uma concentraçãoplasmática de potássio abaixo de 3,3 mEq/L não podem iniciar a insulina terapia, uma vez que essa pode piorar o quadro do paciente, já que a correção com administração de insulina e a correção da acidose levam o potássio para dentro das células, o que pode levar a uma hipocalemia grave tornando o paciente predisposto a evoluir para arritmias cardíacas. Referências: ABURJELI, Bruna et al. Cetoacidose diabética em pediatria. Relato de caso , Rev Med Minas Gerais, ano 2009, v. 19, n. 4, p. 61-63, 17 set. 2020. COLLETT-SOLBERG, Paulo. Cetoacidose diabética em crianças: revisão da fisiopatologia e tratamento com o uso do método de duas soluções salinas. Jornal de Pediatria, Jornal de Pediatria, ano 2001, v. 77, n. 1, p. 9-16. FERREIRA, Leandro et al. Diabetes melito: hiperglicemia crônica e suas complicações. Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, Santo andré, v. 35, n. 3, p. 182- 188, 8 nov. 2011. WOLFSDORF, Joseph et al. Diabetic Ketoacidosis in Infants, Children, and Adolescents: A consensus statement from the American Diabetes Association. Diabetes care, ano 2006, v. 29, n. 5, p. 1150-1559. ZOPPI, Daniel. Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar (EHH) e Cetoacidose Diabética (CAD) na Sala de Urgência. Revista Qualidade HC, ano 2016, p. 1-7
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