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Cálculo Vetorial e Tensorial Aula 12 - Teorema de Stokes Prof. Ricardo Paszko Centro de Ciências Naturais e Humanas Universidade Federal do ABC Caṕıtulo 16 - Seção 8 - Teorema de Stokes O Teorema de Stokes é uma generalização para 3 dimensões do Teorema de Green. Enquanto o Teorema de Green relaciona uma integral dupla sobre uma região plana D com uma integral de linha em torno de sua curva fronteira (plana), o Teorema de Stokes relaciona uma integral de superf́ıcie em S com uma integral em torno da curva fronteira C (espacial). Teorema de Stokes - Seja S uma superf́ıcie orientada, lisa por partes, cuja fronteira é formada por uma curva C fechada, simples, lisa por partes, com orientação positiva. Seja ~F um campo vetorial cujas componentes têm derivadas parciais cont́ınuas em uma região aberta de R3 que contém S . Então∮ C ~F · d~r = ∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S . (1) Demonstração de um Caso Especial - Vamos supor que S seja a superf́ıcie do gráfico z = g(x , y), onde g tem derivadas parciais de segunda ordem cont́ınuas e (x , y) ∈ D é uma região plana simples com fronteira C1 (veja figura). Dado ~F = Pî + Qĵ + Rk̂ com derivadas parciais cont́ınuas, podemos aplicar a Eq. (2) da aula passada para o rotacional∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S = ∫∫ D [ − ( ∂R ∂y − ∂Q ∂z ) ∂g ∂x − ( ∂P ∂z − ∂R ∂x ) ∂g ∂y + ( ∂Q ∂x − ∂P ∂y )] dA. (2) Por outro lado, se x = x(t), y = y(t), a ≤ t ≤ b é uma representação paramétrica de C1, então uma representação paramétrica de C é x = x(t), y = y(t), z = g(x(t), y(t)), a ≤ t ≤ b e isso nos permite, com o aux́ılio da regra da cadeia, escrever a integral de linha espacial como uma integral de linha no plano∮ C ~F · d~r = ∫ b a ( P dx dt + Q dy dt + R dz dt ) dt = ∫ b a [ P dx dt + Q dy dt + R ( ∂z ∂x dx dt + ∂z ∂y dy dt )] dt = ∫ b a [( P + R ∂z ∂x ) dx dt + ( Q + R ∂z ∂y ) dy dt ] dt = ∮ C1 [( P + R ∂z ∂x ) dx + ( Q + R ∂z ∂y ) dy ] . Agora podemos usar o Teorema de Green para reescrever essa integral de linha em C1, novamente com a ajuda da regra da cadeia (lembre-se que z = g(x , y)), como uma integral dupla em D∮ C ~F · d~r = ∫∫ D [ ∂ ∂x ( Q + R ∂z ∂y ) − ∂ ∂y ( P + R ∂z ∂x )] dA = ∫∫ D [ ∂Q ∂x + ∂Q ∂z ∂z ∂x + ∂R ∂x ∂z ∂y + ∂R ∂z ∂z ∂x ∂z ∂y + R ∂2z ∂x∂y − ( ∂P ∂y + ∂P ∂z ∂z ∂y + ∂R ∂y ∂z ∂x + ∂R ∂z ∂z ∂y ∂z ∂x + R ∂2z ∂y∂x )] dA onde vemos que os termos finais de cada linha se cancelam 2 a 2 e os 6 termos restantes podem ser rearranjados exatamente como na Eq. (2), assim demonstrando a Eq. (1) do Teorema de Stokes nesse caso especial. � Exemplo 1 Calcule ∮ C ~F · d~r , onde ~F = −y2 î + x ĵ + z2k̂ e C é a curva da intersecção do plano y + z = 2 com o cilindro x2 + y2 = 1. Solução - A curva C é uma elipse como vemos na figura abaixo. Apesar de podermos calcular a integral de linha diretamente, vamos usar o Teorema de Stokes para facilitar, escolhendo por ex. a superf́ıcie S (em azul) que é plana. Para isso calculamos o rotacional de ~F ~∇× ~F = ∣∣∣∣∣∣ î ĵ k̂ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z −y2 x z2 ∣∣∣∣∣∣ = (1 + 2y)k̂ , que só tem componente em k̂ . Portanto basta a projeção de S nessa direção, ou seja, basta usarmos D no plano xy . Agora usando a Eq. (1), em coordenadas polares, temos∮ C ~F · d~r = ∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S = ∫∫ D (1 + 2y)dA = ∫ 1 0 ∫ 2π 0 (1 + 2r sin θ) dθ r dr = π . Exemplo 2 Use o Teorema de Stokes para calcular a integral ∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S , onde ~F = xz î + yz ĵ + xy k̂ e S é a parte da esfera x2 + y2 + z2 = 4 que está dentro do cilindro x2 + y2 = 1 e acima do plano xy (veja figura abaixo). Solução - Para encontrar C resolvemos as equações x2 + y2 = 1 e x2 + y2 + z2 = 4 em z , o que dá z = √ 3 (já que z > 0). Portanto, a equação vetorial para C é ~r(t) = cos t î + sin tĵ + √ 3k̂, 0 ≤ t ≤ 2π. Assim, ~r ′(t) = − sin t î + cos tĵ , além disso ~F (~r(t)) = √ 3 cos t î + √ 3 sin tĵ + sin t cos tk̂ , e, pelo Teorema de Stokes, temos∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S = ∮ C ~F · d~r = ∫ 2π 0 ~F (~r(t)) · ~r ′(t) dt = ∫ 2π 0 (− √ 3 cos t sin t + √ 3 sin t cos t)dt = 0 . Independência de Superf́ıcie Observe que, no Exemplo 2, calculamos a integral de superf́ıcie simplesmente sabendo os valores de ~F na curva fronteira C . Isso significa que, se tivermos outra superf́ıcie orientada com a mesma curva fronteira C , obteremos o mesmo valor para a integral de superf́ıcie! Em geral, se S1 e S2 são superf́ıcies orientadas com mesma curva fronteira orientada C e ambas satisfazem as hipóteses do Teorema de Stokes, então∫∫ S1 (~∇× ~F ) · d ~S = ∮ C ~F · d~r = ∫∫ S2 (~∇× ~F ) · d ~S . Esse fato é muito útil quando for dif́ıcil integrar sobre uma das superf́ıcies, mas for mais fácil integrar sobre a outra. Significado do Rotacional Suponha que C seja uma curva fechada orientada e ~v represente o campo de velocidade de um fluido. Considere a integral de linha∮ C ~v · d~r = ∮ C ~v · T̂ ds e lembre-se de que ~v · T̂ é a componente de ~v na direção do versor T̂ tangente à curva C . Isso significa que, quanto mais próxima a direção de ~v está da direção de T̂ , maior é o valor de ~v · T̂ . Assim,∮ C ~v · d~r é uma medida da tendência do fluido se mover em torno de C e é chamada de circulação de ~v em torno de C (veja figura). Seja P0 um ponto do fluido e seja Sa um pequeno disco com raio a e centro P0. Então o (~∇× ~F )(P) ≈ (~∇× ~F )(P0) para todos os pontos P de Sa, porque ~∇× ~F é cont́ınuo. Então, pelo Teorema de Stokes, temos a seguinte aproximação da circulação em torno do circunferência fronteira Ca∮ Ca ~v · d~r = ∫∫ Sa (~∇× ~v) · d ~S = ∫∫ Sa (~∇× ~v) · n̂ dS ≈ ∫∫ Sa (~∇× ~v)(P0) · n̂(P0) dS =(~∇× ~v)(P0) · n̂(P0)πa2. Essa aproximação se torna melhor quando a→ 0 e temos (~∇× ~v)(P0) · n̂(P0) = lim a→0 1 πa2 ∮ Ca ~v · d~r . Essa equação fornece a relação entre o rotacional e a circulação. Ela mostra que (~∇× ~v) · n̂ é a medida do efeito da rotação do fluido em torno do eixo n̂. O efeito de girar é maior em um eixo paralelo a ~∇× ~v . Finalmente, mencionamos que o Teorema de Stokes pode ser usado para demonstrar o Teorema 4 da Seção 5 (que afirma que, se ~∇× ~F = ~0 sobre R3, então ~F é conservativo). Pois pelos Teoremas 3 e 4 da Seção 3, sabemos que ~F é conservativo se∮ C ~F · d~r = 0 para todo caminho fechado C . Dado C , suponha que possamos achar uma superf́ıcie orientada S cuja fronteira seja C (isso pode ser feito, mas a demonstração requer técnicas avançadas). Então o Teorema de Stokes fornece∮ C ~F · d~r = ∫∫ S (~∇× ~F ) · d ~S = ∫∫ S ~0 · d ~S = 0. Uma curva que não seja simples pode ser quebrada em diversas curvas simples e as integrais ao longo dessas curvas simples são todas nulas. Somando essas integrais, obtemos ∮ C ~F · d~r = 0 para qualquer curva fechada C .
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