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Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 Bradiarritmias Definição • Bradiarritmia é um ritmo com FC < 60 bpm, que pode ou não estar associado a sintomas e a uma doença cardíaca ou sistêmica. • Pode ser temporária ou não. • Geralmente sintomática quando FC < 50. • Classificada como relativa quando a FC está dentro dos valores de normalidade, mas encontra-se abaixo da FC exigida pela demanda metabólica. • Podem ocorrer devido: ▪ Disfunção do nó sinusal – pode levar a bradiarritmia ▪ Doença do nó sinusal (DNS) – quando a disfunção do nó sinusal é acompanhada de sintomas ▪ Bloqueio atrioventriculares (BAVs) Epidemiologia • Bradicardia sinusal é comum em atletas (vagotônicos) e durante o sono • DNS e BAVs são comuns em idosos com comorbidades • Raro em crianças – Lúpus neonatal (BAVT congênito), hipoxia e hipertensão intracraniana Etiologia Causas intrínsecas • Degeneração idiopática – idosos (células são substituídas por fibrose com o tempo) • Isquemia – pós infarto, pode alterar função do NSA, bloqueios atrioventriculares de graus variados ou bloqueio de ramos específicos do sistema de condução. • Doenças de depósito – Amiloidose e sarcoidose • Iatrogenia pós cirurgia – lesão no sistema de condução durante cirurgia cardiovascular • Doenças infecciosas – endocardite infecciosa (pode formar abscessos e comprometer a função nodal), Chagas e Lyme (autoanticorpos contra o sistema de condução) Causas extrínsecas • Farmacológico – doses altas de betabloqueadores (metoprolol), Bloqueador de canais de cálcio (Diltiazem), antiarrítmicos (Amiodarona), Digoxina e anestésicos gerais (midazolam). • Hipotireoidismo – diminuição do metabolismo e do estímulo catecolaminérgico • Distúrbios hidroeletrolíticos – hipercalemia (↓K+) e hipocalcemia (↑Ca2+) • Síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono • Hipertensão intracraniana – tríade de Cushing (Bradipneia, Bradicardia e Hipertensão sistêmica) • Hipotermia • Vasovagal – reflexo vasovagal, mais comum em mulheres magras • Hipersensibilidade do seio carotídeo – mais comum em homens idosos “compressão o pescoço” Fisiopatologia • O coração possui células com propriedades de automatismo, principalmente no NSA. • O automatismo é a capacidade que essas células possuem de desencadear espontaneamente um potencial de ação que despolarize a célula. • O NSA possui células com melhor adaptação para esse automatismo, apresentando maior frequência de disparos, sendo responsável por ditar a frequência de disparos do estímulo cardíaco. • A células do NSA podem ser estimuladas pelo SNA simpático e parassimpático: ▪ Estímulos simpáticos (adrenérgicos) aumentam o automatismo do NSA, aumentando a FC. (estimula todo o coração) ▪ Estímulos colinérgicos reduzem a FC. (estimula apenas o NSA e NAV) Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 • Em situações que o NSA está doente, o ritmo pode ser iniciado por áreas ectópicas do átrio, que também apresentam automatismo, mas com frequência menor. • Ritmos do NAV e ventriculares são mais lentos, com FC<50bpm e frequentemente sintomáticos. Quadro clínico • Ocorre normalmente quando a FC está menor que 50-45 bpm. • Os sintomas são inespecíficos: ▪ Intolerância aos esforços ▪ Dispneia ▪ Tontura ▪ Turvação visual ▪ Pré-síncope e síncope • Avaliar o pulso do paciente e solicitar um ECG. Tipos de bradiarritmias: 1- Disfunção do nó sinusal ▪ Bloqueios sinoatriais (BSA) ▪ Pausas sinusais ▪ Síndrome bradicardia-taquicardia 2- Boqueio atrioventriculares (BAV): ▪ BAV 1° grau ▪ BAV 2° grau ▪ BAV 3° grau Disfunção do nó sinoatrial • Pode ser um problema na geração ou na saída do estímulo elétrico do NSA. • Pode aparecer em indivíduos normais em situações de vagotomia (vômito, emoções, estimulação do seio carotídeo e micção), uso de fármacos (parassimpaticomiméticos, betabloqueadores, BCCA, amiodarona, clonidina, propafenona, digitálicos) e nas intoxicações exógenas. • A causa mais frequente é a substituição das células do NSA por fibras de colágeno em idosos (devido a hipoperfusão por processo aterosclerótico) Bradicardia sinusal • Bradicardia com onda P sinusal (positiva em D1 e aVF) e sempre antes do complexo QRS Bloqueio sinoatrial (BSA) • Estímulo é gerado no nó sinoatrial, mas não é conduzido ou é transmitido com atraso aos átrios e ventrículos. • Resulta em uma pausa entre duas ondas P ou sua ausência. • No ECG o intervalo sem QRS geralmente é duas vezes o intervalo RR normal e não precedidas de ondas P. • O nó sinoatrial é composto por células que produzem o estimulo elétrico (Células P) e células periféricas que transmitem o impulso para o átrio (células T). O estímulo das células P é bloqueado na periferia, por isso o BSA é também denominado bloqueio de saída do nó sinusal. Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 Classificações: BSA de 1° grau – atraso na condução do impulso do NSA. Não é detectado no ECG normal, pois o impulso não é visível BSA de 2° grau – bloqueios intermitentes na condução ▪ Tipo 1 (fenômeno de Wenckebach) – encurtamento progressivo do intervalo P-P até aparecer um intervalo P-P mais longo (impulso bloqueado). O intervalo P-P mais longo é menor que a soma de dois intervalos anteriores. ▪ Tipo 2 (tudo ou nada) – um intervalo sem ondas P que equivale aproximadamente a duas vezes o intervalo P-P anterior (pode ser 3 ou 4 vezes maior) BSA de 3° grau – Bloqueio completo. No ECG é registado a ausência de ondas P. Deve ser confirmado por ECG prévio com ritmo sinusal ou estudo eletrofisiológico, pois é indistinguível da parada sinusal. Pausa sinusal • Causada pela ausência de impulsos elétricos no NSA. • Ausência de onda P (silêncio atrial) com intervalo muito maior que no bloqueio sinoatrial. • No ECG, os intervalos P-P anteriores a pausa são constantes e o intervalo P-P da pausa é menor que o dobro do intervalo anterior. • É frequente encontrar pausas sinusais maiores que 2 segundos sem sintomas associados, sem implicar em disfunção do NSA. • Uma pausa maior que 3 segundos é considerada sugestiva de disfunção do NSA. Síndrome Bradi-Taqui • Apresenta-se como episódios de bradicardia sinusal seguidos por taquiarritmia. • Taquiarritmias terminam espontaneamente produzindo pausa sinusal prolongada. • Por disfunção do NSA outros marca-passos exercem o controle (ritmo de suplência) de forma desorganizada. Distúrbios de condução atrioventricular • São distúrbios da condução decorrentes da lentificação da condução nos átrios, no nó atrioventricular (NAV), ou no feixe de His e seus ramos. • Há um bloqueio ou retardo acentuado da condução do estímulo elétrico dos átrios para os ventrículos. • Podem ser benignos (ocorrem na NAV) ou malignos (ocorrem no feixe de His ou em seus ramos direito/esquerdo), dependendo da altura em que ocorrem. Classificação: BAV de 1° grau • Ocorre apenas um retardo na condução do NAV, perceptível por um intervalo P-R aumentado (>0,2 segundos – 1 quadrado grande) • O local onde ocorre o retardo é tipicamente o NAV (supra-hissiano) • O atraso pode ser nos átrios e no restante do sistema de condução. • O QRS alargado fala a favor de problemas na condução distal e QRS estreito indica retardo no NAV. Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 BAV de 2° grau • Onda P é bloqueada na junção atrioventricular. Podendo ser dividida em: 1. Mobitz tipo 1 – defeito no feixe de His • De evolução mais insidiosa, ocorre um aumento progressivo do intervalo P-R (fenômeno de Wenckebach), até que uma onda P é bloqueada e não é correspondida por um QRS. • É um bloqueio supra-hissiano. • É uma bradiarritmia benigna. 2. Mobitz tipo 2 – Infra-hissiano (região dos ramos) • Pode progredirabruptamente para BAV total (BAVT). • Alguns estímulos atriais são conduzidos e outros não. • Não há variação do intervalo P-R. • Geralmente, é infra-hissiano, mas pode ser intra- hissiano. • R não varia. 3. Tipo 2.1 • Onda P conduzida que alterna com uma onda P bloqueada. • Como não existe dois intervalos PR consecutivos, não é possível determinar se é tipo 1 ou 2 (não dá para determinar se o PR varia ou é constante). • Deve-se realizar um exame complementar como o Holter. 4. Avançado • Se observa mais de uma onda P consecutivas. • Maior risco e pior prognóstico. • Pode ocorrer bradicardia severa sintomática. BAV de 3° grau ou BAV total (BAVT) • Interrupção completa do estímulo do NSA para os ventrículos, • No ECG, ondas P dissociadas do complexo QRS, embora sejam regulares entre si (P-P regular e R-R regular). • Átrio e ventrículos cada um no “próprio ritmo”. • BAV mais grave e com maior risco de instabilidade hemodinâmica. Diagnóstico e exames complementares ECG convencional de 12 variações • Importante para determinar a FC e ritmo cardíaco • Possibilita o diagnóstico de bloqueios cardíacos do tipo atrioventriculares ou bloqueio de ramos e outras arritmias. Holter • Gravação do ritmo cardíaco por 24 a 48 horas • Permite identificar arritmias paroxísticas, quantificar batimentos normais e anormais, correlacionar sintomas com alteração no ritmo, avaliar efeitos de antiarrítmicos, detectar episódios de isquemia miocárdica. • Permite análise de arritmias durante atividades normais e durante o sono. Ecocardiograma doppler Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 • Permite analisar o tamanho do coração, das válvulas, a contração do músculo e de regiões não funcionantes. • Importante a realização em pacientes assintomáticos, pois a bradicardia pode levar à dilatação das câmaras cardíacas. Teste ergométrico • ECG durante esforço físico do paciente • Permite identificar arritmias induzidas pelo esforço e avaliar o prognóstico de uma arritmia. • Mais útil para a observação de taquiarritmias, mas pode avaliar a resposta de pacientes bradicárdicos ao exercício (principalmente se há queixa de intolerância à exercícios) Estudo eletrofisiológico • Colocação de eletrodos intracardíacos para registro e estimulação miocárdica. • Avalia a função do NSA e a condução atrioventricular. • Deve ser solicitado quando outros exames não conseguirem elucidar o diagnóstico ou prognóstico de uma possível bradiarritmia. Tratamento Emergência • Indicado tratamento de emergência nos pacientes bradicárdicos que apresentarem: ▪ Redução significativa da PAS, com sinais clínicos de baixo débito cardíaco. ▪ Quando surgirem focos de despolarização ectópica. Sintomas de instabilidade (5 Ds) – 1 já é suficiente ▪ Diminuição da PA (hipotensão) ▪ Desmaio ▪ Diminuição do nível de consciência ▪ Dispneia ▪ Dor torácica Tratamento • Manutenção de vias aéreas • Assistência à ventilação por oxigênio suplementar • Monitorização cardíaca e oxímetro de pulso • Avaliação da PAS e estabelecimento de acesso venoso • Realização de ECG convencional ✓ Atropina 0,5 mg EV repetida a cada 3 a 5 minutos (dose máxima de 3,0 mg) • Se progressão, implante de marca-passo (se emergência, marca-passo transcutâneo) **Atropina não terá efeito para pacientes transplantados, com BAV de 2° Grau tipo II e BAVT e deve ser evitada nas bradiarritmias por hipotermia** • Ausência de reversão do quadro e pacientes com bloqueio atrioventricular (BAV) de 2º grau, Mobitz tipo II e BAV de 3º grau: ▪ Devem ser preferencialmente tratados com marcapasso transcutâneo e drogas adrenérgicas como medidas temporizadoras enquanto o paciente aguarda colocação de marcapasso transvenoso. ✓ Adrenalina 2 a 10 ug/minuto ✓ Dopamina 2 a 10 ug/kg/minuto Marca-passo transcutâneo • Dever ser usado rapidamente nas bradiarritmias resistentes à atropina, BAV severo (Mobitz 2 e terceiro grau) e pacientes com sintomas graves • Pás adesivas conectadas ao tórax do paciente Posições: ▪ Uma no precórdio e a outra no dorso do hemitórax esquerdo, posterior ao coração. (mais eficaz) ▪ Uma no hemitórax direito, na região do 2° espaço intercostal e outra no ápice do coração. • Paciente precisa de sedação leve e analgesia efetiva (opioides, fentanil ou ketamina). Gabryell G. Machado de Rezende – MED T4 • Deve ajustar a corrente um pouco acima da corrente mínima para a captação elétrica do QRS. • Pulso femoral ou carotídeo devem ser palpados para confirmar se cada QRS está sendo efetivo. Indicação de marca-passo cardíaco • Bradicardia sinusal • BAV sintomático • Bradicardia devido medicações de uso essencial do paciente • BAV com assistolia >3 segundos • Ritmo de escape < 40 bpm • BAV pós operatório • Doença neuromuscular • BAV completo intermitente • BAV 2° grau Mobitz II intermitente • Bloqueio de ramo alternante • Síncope recorrente por massagem de seio carotídeo Bradiarritmia estável • Identificar bradiarritmia • Investigar causas e tratar causas • Avaliar internação • Programar implantação de marca-passo definitivo se necessário (BAV 2 ° Mobitz II e BAVT) • Se for intoxicação por bloqueador de canal de cálcio ou betabloqueador, o glucagon está indicado (bolus de 5-10 mg em alguns minutos seguido de infusão contínua de 1 a 5 mg/h)
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