Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BRADIARRITMIAS Toda arritmia com FC<60 bpm ou <50 bpm em indivíduos bem condicionados. Elas podem ser absolutas ou relativas: ● Relativas: situações que se espera o aumento da FC, mas esta não se eleva o suficiente. Ex: o Criança com febre e FC normal (o esperado seria taquicardia) o Adulto séptico hipotenso e FC normal (o esperado seria taquicardia) ● Absolutas: causas específicas, determinam sintomas e tem FC <50 bpm. Ex: o Bradicardia juncional com FC de 40 a 45 o Bradicardia por BAVT com FC de 28bpm Classificação quanto aos sintomas: ● Assintomática ● Sintomática: o Tonturas, palpitações, mal-estar vago o Graves: Baixo DC manifesto por síncope, choque, convulsões (como no BAVT), piora da ICC, insuficiência coronariana, insuficiência cerebral. Bradicardia sinusal: É a bradicardia mais comum. Ocorre com FC <60 bpm mas com todos os determinantes de normalidade de um ritmo elétrico preservado. Temos um ritmo regular, ondas P que antecedem todos os QRS, intervalo PR fixo e normal (entre 0,12 a 0,20s// 120 a 200 ms) e o QRS estreito que tem um duração < 0,12s. O ritmo sinusal indica a presença do enlace atrioventricular fixo (antes de cada QRS tem uma P) com um intervalo PR com retardo fisiológico no nó AV. É frequente por conta do bom condicionamento cardiovascular com a prática regular de atividades físicas (causa mais comum). Não tem nenhuma conduta terapêutica nesse indivíduo. Avalie como o paciente tolera o ritmo em repouso e em atividade. Se o paciente não apresentar sintomas, não é necessário tratamento. Caso o paciente seja sintomático (cefaleia, tontura, dor no peito, AVE, sintomas de baixo débito) devido à baixa frequência, em geral o tratamento inicial inclui: ● Oxigênio suplementar (se indicado) ● Estabelecimento de acesso IV ● Obtenção de ECG de 12 derivações Se a bradicardia persistir apesar de oxigenação e ventilação adequadas. ● Atropina (1 mg EV em bolus a cada 3-5min - dose máxima de 3 mg) Paciente que não responder à Atropina: ● Adrenalina OU ● Marca-passo OU ● Dopamina OBS: No contexto de infarto do miocárdio (IM), a bradicardia sinusal é geralmente temporária. A FC lenta pode ser benéfica no paciente que teve IM, se não existirem sintomas provocados pela frequência lenta. Isso ocorre porque a demanda por oxigênio é menor quando a FC é baixa. Doença (disfunção) do nó sinusal (DNS): Definição: distúrbios da geração e/ou da condução do estímulo sinusal (dificuldade de sua passagem do nódulo sinoatrial para o tecido atrial), caracterizando a incapacidade cardíaca de desempenhar sua função de marcapasso, isto é, não desempenha o controle regular da FC. Mais prevalente nos idosos (acomete cerca de 1/600 idosos > 65 anos), embora possa ser identificada em todas as faixas etárias. Em cçs ocorre por imaturidade do nó sinusal, que tende a amadurecer com o tempo. A dç do nó sinusal pode determinar em casos graves: ● Bradicardia em situações inapropriadas → a FC é incompatível com a atividade realizada pelo paciente (ex, atividade física, pacientes com febre e sepse). É comum em idosos. ● Pausas ou bloqueios sino-atriais → problemas na geração ou condução para o tecido atrial. É comum em idosos. ● Não raramente está associada a: - BAV: o sistema de condução e de geração do estímulo cardíaco envelhece mais precocemente do que o esperado. - Taquicardias atriais: ao não receber o estímulo que vinha do nó sinusal, as células começam a gerar estímulos na tentativa de manter a normalidade do funcionamento cardíaco. Assim um grupo de células determinam despolarizações muito rápidas (frequentes FC altas) determinando as taquicardias atriais paroxísticas. - Flutter ou FA paroxística: como não tem um organização da estimulação atrial pelo nó sinusal que está disfuncional, os átrios podem começar a fibrilar e ter um flutter atrial. Se eu tiver um flutter ou FA sustentada, não estando em um ritmo sinusal, não defino a presença dos bloqueios sinoatriais, somente uma vez que o paciente reverter a arritmia. Voltando ao ritmo sinusal, somos capazes de ver que aquele nó está doente e tem algum grau de bloqueio atrial e isso passa a ser o determinante da FA paroxística. - Síndrome bradi/taqui: uma bradicardia extrema (repouso do tecido atrial por muito tempo) altera a repolarização do tecido atrial e aumenta a capacidade do tecido atrial de gerar estímulos intrínsecos. Muitas vezes, na recuperação da bradicardia pode ter uma taquicardia subsequente. Essa taquiarritmia é revertida espontaneamente voltando ao ritmo sinusal anterior. Mais de 50% dos pacientes com DNS apresentam essa síndrome, principalmente com manifestação de síncopes. Essas síncopes foram mediadas pela bradicardia extrema. Isso também indica uma doença difusa e instabilidade importante do sistema de condução, pois na maioria das vezes não é apenas o nó sinusal que está doente/disfuncional, podendo existir também algum grau de BAV. Nesses casos devem usar marca-passo dupla câmara atrial e ventricular. Sd bradi/taqui: Manifestações clínicas: ● Pode ser assintomática ● Sintomática: tonturas, vertigens, pré-síncope, síncope, palpitações ○ O que mais se destaca dos sintomas são as palpitações. ● Pacientes que evoluem para FA (desorganização da contração atrial) podem ter embolização cerebral ou sistêmica (membros, artelhos). Etiologias: ● Causas intrínsecas: senilidade (mais comum), doença reumática (jovens), cirurgias cardíaca (inflamação do tecido miocárdico), miocardites, pericardites, radioterapia (em região torácica atinge o coração e provoca inflamação e disfunção do nó sinusal). ○ Essas doenças causam disfunções transitórias do nó sinusal, pois à medida que são controladas, a DNS desaparece, exceto na senilidade onde a doença vai persistir. ○ A causa intrínseca merece a consideração de tratamentos definitivos com base na estimulação cardíaca artificial. ● Causas extrínsecas: hipotermia (incomum no Brasil), hipotireoidismo, drogas (digitálicos, BB, BCC, metildopa, lítio) (a retirada da droga melhora o processo de disfunção sinusal) Tratamento: Se sintomas graves por bradicardia: na sala emergência tratar com drogas capazes de prover uma taquicardia artificial naquele momento nesses pacientes. ● Atropina: tira completamente o estímulo vagal que freia o ritmo cardíaco/ condução cardíaca portanto o coração acelera naturalmente. ○ Dose: 1 mg em bolus a cada 3-5 minutos. Pode repetir de 3, 5 ou 10 minutos se necessário. Dose máxima: 3 mg. ○ A resposta é eficiente quando a um incremento de pelo menos 50 % da FC anterior. ○ Desvantagem: meia vida muito curta. ● Dopamina: alternativa à atropina. É um agente tanto dopa, beta e alfa adrenérgico usado no paciente para se manter com uma FC mais elevada. ○ Dose de 5-20 mcg/kg/min IV (infusão continua). ● Marca-passo transcutâneo (provisório): indicado se o paciente tem bradicardia sintomática que não reverte/não se estabiliza. A colocação de um marca passo definitivo vai ser definida pelo cardiologista. No paciente com DNS, antever a necessidade de implantar marca-passo no cabo ventricular, pois as doenças geralmente andam de mão dadas - se o nó sinusal tem disfunção, muito provavelmente o nó AV também tem ou vai ter uma disfunção futura, então o melhor marca- passo nesse caso é o marca-passo de dupla câmara com um cabo atrial e um cabo ventricular. Ritmo Juncional de Escape: O ritmo juncional se inicia acima dos ventrículos, por isso, o complexo QRS é estreito e o ritmo regular, com frequências entre 40 e 60 bpm. Caso a despolarização da junção AV ocorra a uma FC < 40 bpm, o ritmo resultante é designado bradicardia juncional. Isso pode parecer confuso, já que a frequência normal da junção AV é bradicárdica; no entanto, o termo bradicardia juncionalse refere a uma frequência inferior ao normal para a junção AV. É frequente na doença do nó sinusal. O paciente pode ser assintomático ou pode ter sinais e sintomas associados à baixa FC e à redução do DC. O tratamento depende da causa e sintomas apresentados. Caso estes estejam relacionados com a FC lenta, o tratamento deve incluir: oxímetro de pulso e oxigênio suplementar, se indicado; acesso IV, ECG de 12 derivações e atropina IV. Reavalie a resposta e continue monitorando o paciente. Outras intervenções que podem ser consideradas para o tratamento da bradicardia sintomática incluem infusões IV de epinefrina, dopamina ou isoproterenol ou a colocação de MPTC. É importante reconhecer as semelhanças e diferenças entre a administração de dopamina, epinefrina e isoproterenol no tratamento da bradicardia sintomática. Esses fármacos são administrados por infusão IV contínua titulada até a resposta clínica desejada: ● Dopamina: A velocidade de infusão correta depende do peso do paciente, seu intervalo de dose varia de 5 a 20 mcg/kg/min. ● Isoproterenol: A infusão não é baseada no peso do paciente e varia de 2 a 10 mcg/min. ● Epinefrina: a infusão é administrada na dosagem de 2 a 10 mcg/min; no entanto, durante o atendimento pós- parada cardíaca, a epinefrina é infundida à velocidade de 0,1 a 0,5 mcg/kg/min. Ritmo de Escape Ventricular: O ritmo de escape ventricular, ou ritmo idioventricular, ocorre à frequência de 20 a 40 bpm. Os complexos QRS são largos, porque os impulsos começam nos ventrículos, fora da via de condução normal. Quando a FC diminui < 20 bpm, pode ser referido como ritmo agônico. Pct com pulso e sintomático devido à baixa FC, o tratamento deve incluir: oxímetro de pulso e oxigênio suplementar, se indicado; acesso IV, ECG de 12 derivações e atropina IV. Reavalie a resposta do paciente e continue a monitorá-lo. Caso a atropina seja ineficaz, a colocação de MPTC ou infusão IV de dopamina, epinefrina ou isoproterenol pode ser tentada. Devem ser evitados antiarrítmicos ventriculares (ex, lidocaína), uma vez que podem abolir a atividade ventricular, possivelmente causando assistolia no paciente com ritmo de escape ventricular. Caso o paciente não respire e não tenha pulso, apesar da aparente atividade elétrica organizada no monitor, existe atividade elétrica sem pulso (AESP). O tratamento da AESP deve incluir RCP de alta qualidade, oxigênio, acesso vascular, possível colocação de dispositivo de VA avançada e pesquisa da causa de base. BAV: Os BAV são divididos em 3 graus. Quanto maior o grau mais grave é o processo, menor é a frequência de resposta ventricular (FC) e portanto maior a quantidade de sintomas que esse paciente pode manifestar. ● O BAV de 1º grau e 2º grau tipo I (Wencheback) são chamados de bloqueios AV não avançados (ou benignos) e são chamados assim pois normalmente não necessitam de marca-passo. ● O BAV 2º grau tipo II e BAVT são chamados de bloqueios AV avançados (ou malignos), precisam de marca-passo praticamente em todos os casos. BAV de 1º grau: Ritmo sinusal regular (tem P que antecede todo QRS, PR é fixo, QRS estreito). No entanto, o intervalo PR (PRi) (do início da onda P ao início do QRS) é um intervalo longo > 0,20 segundos (ou 200 milisegundos). O estimulo nasce no nó sinusal, mas é retardado mais que o esperado no nó AV, gerando uma lentificação da condução. Na maioria das vezes é assintomático. Causas: doença de chagas, aumento do tônus vagal (vagotonia causada por atividade física regular), infarto de parede inferior, miocardite, drogas cronotrópicas negativas (como digitálicos, ACC e BB). Tratamento: ● Correção da causa base: reverte o BAV facilmente, não tendo necessidade de monitorização prolongada do paciente. ● Mesmo tratamento da bradicardia sinusal: Se o paciente não apresentar sintomas, não é necessário tratamento. Caso o paciente seja sintomático devido à baixa frequência, em geral o tratamento inicial inclui: oxigênio suplementar (se indicado), acesso IV, ECG de 12 derivações e, se persistente, atropina (1 mg EV em bolus a cada 3-5min - dose máx 3 mg). Obs: uma vez constatado que o BAV de 1º grau não evolui para as formas mais avançadas, não há a necessidade de marca-passos definitivos. Exceção: infarto extenso de parede inferior, pois além do BAV de 1 grau também tem a presença de bloqueio de ramos novos (direito /esquerdo), podendo o BAV 1º grau evoluir para BAV mais avançados. Esses pacientes são monitorizados por período maior, e se não houver reversão de um ritmo sinusal com PRi normal sem BAV de 1º grau, esses são candidatos à marca-passo (raro). BAV 2º grau tipo 1 (Wenckebach ou Mobitz 1): Ocorre aumento do intervalo PR até que uma onda P não consegue passar para o ventrículo portanto não gera QRS (onda P bloqueada). É como se o nó AV cada vez que passa um estímulo ele se cansa mais. É essencial que o PR aumente gradualmente, esse aumento gradual são os episódios/períodos de Wenckebach. O intervalo PR imediatamente após a onda P bloqueada é o menor de todos (o bloqueio significa o descanso do nó AV, passando o próximo estímulo) sem alargamento do PRi. A medida que o PRi vai aumentando, o intervalo RR vai reduzindo, até que surja a onda P bloqueada e o intervalo RR aumenta bruscamente. Pode ser um processo contínuo ou transitório. Causas: ● IAM inferior, miocardiopatia chagásica, intoxicação digitálica, uso de drogas cronotrópicas negativas (como BB, ACC). ● Aumento do tônus vagal em crianças normais por imaturidade do sistema de condução do estímulo. Tratamento: ● Sem tratamento específico ● Suspensão de drogas envolvidas, se for o caso ● Mesmo tratamento da bradicardia sinusal: Se o paciente não apresentar sintomas, não é necessário tratamento. Caso o paciente seja sintomático devido à baixa frequência, em geral o tratamento inicial inclui: oxigênio suplementar (se indicado), acesso IV, ECG de 12 derivações e, se persistente, atropina (1 mg EV em bolus a cada 3-5min - dose máx 3 mg). ● No IAM inferior é quase sempre transitório, não necessitando de marca-passos. ○ Exceção: quando o IAM inferior for extenso com BAV de 2ºgrau e bloqueio de ramo novo → monitorar para reverter o BAV em curto prazo com trombólise ou angioplastia, e caso não reverta, são candidatos a marca-passos. BAV 2º grau tipo II (Fenômeno de Hay ou Mobitz 2): Os PRi dos P que geram QRS permanecem constantes e normais. Mas contém ondas P que não conduzem para o ventrículo. Assim são ondas P normal, PRi normal e QRS normal e de repente uma P bloqueada. No caso tem um 2 ondas P para 1 QRS, mas poderia ter períodos de 3:1, 4:1, 5:1. É um bloqueio súbito e inesperado da onda P (perda do enlace AV intermitente), denotando um BAV avançado. Causas: ● Senilidade ● Doença de Chagas ● IAM de parede inferior (mais comum) ● Miocardites Tratamento: ● Geralmente evolui para BAVT ● Indicação formal para implante de MPTV → MPD MPTV = marca-passo temporário transvenoso MPD = marca-passo definitivo BAV 3º grau (BAVT): O nó AV está tão doente que ele não permite a passagem de nenhum estímulo do átrio para o ventrículo. O átrio tem um estímulo próprio seja sinusal ou não e o ventrículo também tem um estímulo próprio. Então, existe uma dissociação completa entre os estímulos atriais e estímulos ventrículos, com ausência do enlace AV. Nenhuma onda P gera QRS, elas não comandam a geração do estímulo ventricular. No átrio, o ritmo pode ser sinusal ou fibrilação atrial. Ex: Pacientes com BAVT e FA - a maioria tem a doença do nó sinusal que degenerou para FA. Nos ventrículos, o estímulo pode surgir na porção baixa do nó AV (ritmo juncional de QRS estreito), no feixe his purkinje ou ainda dentro do próprio ventrículo (idioventricular de QRS largo).juncional: idioventricular: Obs: O estímulo idioventricular tem uma frequência de contração baixa (FC = 20 a 40 bpm). A frequência baixa pode gerar síncope, a síncope mediada pelo BAVT ou BAV tipo 2 é chamada de síndrome de Adam Stock. Não deveria fazer atropina pois efeito paradoxal. Causas: ● Intoxicação por drogas cronotrópicas negativas ● Doenças degenerativas (senilidade) ● Isquemia miocárdica aguda ○ Obs: IAM de parede inferior: a parede inferior depende da coronária direita e a coronária direita gera o ritmo atrioventricular que nutre o nó atrioventricular. Se tiver uma oclusão proximal terá uma isquemia importante no nó AV a ponto de ter um BAVT que muitas vezes é transitório. ● Miocardiopatia chagásica Tratamento: ● Atropina, dopamina ou epinefrina EV ○ Como esses pacientes tem uma FC menor e são sintomáticos podemos tratar com atropina ou dopamina ou epinefrina (aumentam a FC). ● MPTV → MPD ○ Esses pacientes precisam colocar primeiramente um marca-passo temporário transvenoso e posteriormente um marca-passo definitivo. Emergência de uma bradicardia - protocolo do ACLS: Mesmo se não conseguir identificar qual o tipo de arritmia, identificar no paciente os sintomas (como sintomas de baixo DC, tontura/vertigem ou qualquer outro decorrente da bradicardia) → levar para sala de emergência, monitorizar e seguir o fluxograma do ACLS: Se o paciente tem sintomas de baixo débito vai ser feito primeiro a atropina (1mg) que pode ser repetida de 3 em 3min, de 5 em 5min até uma dose máxima de 3mg para manter esse ritmo sinusal mais adequado. Pode usar a dopamina (5 a 20 microgramas/kg/min) ou diluir adrenalina (2 a 10 microgamas/min sem levar em consideração o peso) e esse paciente precisa ser visto pelo cardiologista para ganhar um marca-passo provisório se for muito sintomático, se tiver uma razão real para aquela bradicardia, e se for um BAV avançado vai ficar com o marca-passo provisório até o implante do marca-passo definitivo. Embora a administração de cálcio não faça parte do algoritmo de bradicardia sintomática, o cálcio IV é útil no tratamento de muitos tipos de bradiarritmias, especialmente aquelas que ocorrem devido a overdose de bloqueadores dos canais de cálcio (p. ex., verapamil, diltiazem) ou hipercalemia.
Compartilhar