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Fichamento Libertação ou descolonização, In: História das colonizações - Das Conquistas às independências, séculos XIII a XX. Cap.11 - Marc Ferro

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Marc Ferro. “Libertação ou descolonização”, In: História das colonizações – Das conquistas às 
independências, séculos XIII a XX. Cia das Letras, 1996, Cap. 11. 
 A descolonização atropelada 
Ferro inicia o capítulo relatando a esperança dos povos libertados sobre a origem de 
uma nova ordem, que a estabilidade chegaria após as lutas pela liberdade, entretanto, “as 
desigualdades de ontem deram lugares a outras” (FERRO, 1996, p. 389). Durante um momento 
os movimentos de libertação pensaram que esses conflitos criados pelo período colonial teriam 
acabado para sempre, na verdade nunca pararam de ganhar força. 
Com a Revolução Industrial, a valorização da etnia para clientes ou aliados políticos 
criou uma rede de discriminações e violência. A Grã-Bretanha, que controla todo o círculo 
comercial, forçou que os novos Estados a submeterem a um novo pacto colonial, para que as 
indústrias europeias controlem parcialmente a economia, assim, a Grã-Bretanha comanda o 
Peru e a Argentina, a Alemanha comanda a produção de café na Guatemala, os norte-
americanos em Cuba controlam as terras açucareiras, além do império bananeiro ordenado por 
Boston e das alfândegas, assim concentrando o lucro e as negociações econômicas em apenas 
uma aliança. 
O autor ressalta que os ingleses ao chegarem na América, não atribuíram a dominação 
uma ideologia como fizeram na África, que afirmavam colonizar em nome da civilização. Os 
Estados Unidos, por sua vez, querendo exportar o seu “puritanismo”, seguindo a base de sua 
independência e da revolução que fizeram, gostariam de conduzir os latino americanos a uma 
administração “saudável” de seus negócios, a fim de controlar seus orçamentos e seus países. 
“O senhor continuava sempre a ser o senhor” (FERRO, 1996, p. 391). 
Assim, Roosevelt “liberta” Cuba dos espanhóis, e em nome da sua “segurança”, os 
Estados Unidos coloniza novamente o território cubano, a América Central, o Panamá, entre 
outros. Porém isso não se limitou a América espanhola, Indonésia e Coreia do Sul são 
submetidos a vigilância contra o comunismo, ação que iniciou a Guerra do Vietnã, por exemplo. 
“(...) a América Latina abriu suas portas para os investimentos estrangeiros, 
essencialmente norte-americanos. Essa ajuda direta ou indireta sempre se fez 
em nome da luta “pela democracia”, “contra a subversão”, segundo os 
princípios de rigor moral que política norte-americana pretende encarnar.” 
(FERRO, 1996, p. 391) 
A África negra, foram um dos locais que passaram por uma colonização de classe, como 
aponta Ferro, segundo o primeiro ministro de Camarões, Assalé, uma massa que se acreditava 
soberana criaram uma classe de privilegiados que se isolavam do restante, e portanto, eles não 
pararam de serem ocupados. Muitas das pessoas dessa classe se encontravam em cargos 
públicos, que absorviam 64% do orçamento de Daomé, por exemplo. “Uma vida inteira de 
trabalho não valia mais do que dois meses de salário de um parlamentar.” 
 Com a descontentamento da população em relação a política de seus países e 
principalmente as condições de vida, em contraponto a reivindicação dos trabalhadores que já 
não aceitavam mais os trabalhos maçantes e pesados que eram mal remunerados, o Estado, 
como é o caso da França, começou a trazer imigrantes que realizavam uma mão de obra mais 
flexível do que a nacional, além de mais barata e privadas dos poucos direitos, entretanto, ao 
longo dos anos, esses grupos de imigrantes se estabeleceram nos países, criaram famílias, 
aumentando o número de gastos para o país. 
 Não podendo mais importar a mão de obra do Terceiro Mundo, os economistas 
ocidentais, principalmente norte-americanos, criaram fábricas em suas ex-colonias, como 
Filipinas, Singapura e México, com mão de obra vinda das periferias. “Pouco a pouco, os países 
ex-colonizadores vão se beneficiando indiretamente do trabalho desse proletariado da periferia” 
(FERRO, 1996, p 394). 
 Ferro afirma que um dos traços dominantes da colonização foi o processo de unificação 
do mundo, isso aumentou as desigualdades entre países colonizadores e os outros. No Extremo 
Oriente, houve uma resposta a esse processo imperialista, que esse “sistema muntinacional” 
não necessariamente deve seguir um modelo ocidental. Segundo o autor, a ocidentalização do 
mundo ligada a colonização, resultou na uniformização das instituições, desde a “democracia 
representativa” até as das ditaduras. 
 Houve uma unificação cultural, onde Europa e Estados Unidos propagandeiam 
tendências ao resto do mundo. Um dos exemplos usados por Ferro é a dança, como o tango, um 
estilo criado por negros, e o samba brasileiro, artes que foram branqueadas e que após apagaram 
seu passado negro, viraram moda por todo o mundo. 
Outro tipo de uniformização é a da comunicação. Atualmente uma notícia, que não seja 
de bairros ou de pequenos jornais locais, usam a mesma foto, a mesma descrição, como Ferro 
aponta ligue a televisão em Londres, Cairo ou em Lima e assista basicamente as mesmas 
imagens. Isso faz com que se diminua a produção de notícias autônomas. A dificuldade de 
realizar uma contra informação as notícias que passam na grande mídia é extremamente grande, 
com pessoas que não tem direito a imagem ou a palavra. 
“Cada sociedade gera sua própria contra-história diante da uniformização do 
conhecimento histórico” (FERRO, 1996, p. 402) ou seja, para toda narrativa eurocêntrica que 
vemos propagando no mundo, há uma contra-história abordando a versão de um povo que 
presenciou a colonização, o imperialismo, de outro ponto de vista, na visão do colonizado. 
Ferro aborda o último fenômeno que marca a era pós colonial, o questionamento do 
“progresso” da história. No Ocidente do século XX, vemos a espada ser tomada por números e 
gráficos, que prometiam não enganar mais ninguém, os cientistas e políticos comandavam a 
economia e a política, mas também as artes, que chegou em tal ponto a decidir quem estava em 
perfeito juízo, quem merecia viver. Um exemplo disso foi a Alemanha nazista, que em nome 
da ciência genética decidiu quem tinha direto a vida. 
Diante do surgimento de ideologias que combatem essas ações em nome da ciência está 
a ecologia e o integrismo, porém, segundo o autor o cruzamento dessas duas linhas de 
pensamento fez ressurgir três conflitos. 
1. Conflitos territoriais e tradicionais, onde impõe-se a lei do sangue, da raça. 
2. A rápida evolução econômica, onde se criou uma situação do tipo colonial dentro 
da própria sociedade. Onde o dinheiro é o principal objetivo, e a revolta contra 
isso tem várias bandeiras, como a luta de classes, por exemplo. 
3. Welfare State, onde povos que fortalecem o avanço da educação e da abertura 
para o mundo, se consideram superiores culturalmente e não admitem ser 
dependetes. 
Os problemas citados reforçam a realidade de que restam mentalidades coloniais, como 
por exemplo, a referência aos povos colonizados como pessoas “preguiçosas” e que 
deviam ser colonizadas/escravizadas, caso ao contrário jamais trabalhariam. 
Por fim, o autor conclui que a uniformização mental do mundo, visando o dinheiro como 
rei, contribui cada vez mais para que a colonização esteja muito longe do “fim”.

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