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Alterações fisiológicas senescentes dos sistemas: respiratório e imune SISTEMA RESPIRATÓRIO Com o envelhecimento há grandes modificações tanto na arquitetura quanto na função pulmonar, contribuindo para o aumento da frequência de pneumonia, aumento da probabilidade de hipoxia e diminuição do consumo máximo de oxigênio pela pessoa idosa. Os primeiros sinais de piora da respiração pulmonar já podem ser vistos por volta dos 25 anos. Os pulmões se tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos, com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. Pulmão tem uma perda de elasticidade. A inspiração e a expiração se dão da mesma forma no adulto. Na inspiração participam os músculos intercostais externos para elevarem as costelas e o diafragma, responsável por 75% do aumento do volume torácico durante a respiração de repouso. A expiração se faz, basicamente, de forma passiva. Também estão envolvidos os músculos intercostais internos que, ao se contraírem, puxam as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico. Caso seja necessário às musculaturas abdominal e dos ombros podem participar como músculos auxiliares. Além das alterações descritas, há falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a PCO2 , PO2 e ao pH, limitando a adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre certo grau de sarcopenia, daí a capacidade de a função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória, tornando a tosse menos vigorosa. A função mucociliar é lenta, prejudicando a limpeza de partículas inaladas e facilitando a instalação de infecções. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade de as fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. A consequência é a inadequada oxigenação do sangue, enquanto a PCO2 não se altera. A produção do surfactante está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante os alvéolos poderão colabar na expiração, fazendo atelectasias. O surfactante também tem função protetora, impedindo a entrada de partículas, e aumenta a capacidade de os macrófagos pulmonares destruírem bactérias. Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. SISTEMA IMUNOLOGICO: RESPOSTA IMUNE INATA: Estudos acerca da resposta imune inata mostram que numericamente, seus componentes - neutrófilos, monócitos, células dendríticas e Natural Killer (NK) - estão preservados em idosos saudáveis, contudo, a atividade funcional dessas células aparece comprometida. Neutrófilos: O recrutamento dessas células ocorre através da liberação de mediadores inflamatórios por macrófagos teciduais. No local de agressão, os neutrófilos são capazes de fagocitar patógenos e eliminá-los, intracelularmente, através da produção de radicais livres e enzimas proteolíticas dentro de vesículas. No envelhecimento, não há redução no número de neutrófilos, nem na neutrofilia resultante de infecção aguda. Mas ocorre uma redução da atividade dessas células. Ou seja, a função e não o número de neutrófilos diminui com o envelhecimento. Ocorre diminuição da atividade quimiotáxica em resposta a fatores derivados do complemento, o que provoca atraso na chegada dos neutrófilos ao local da infecção. Também foi relatada redução da atividade fagocítica, disfunção na produção de radicais livres e diminuição na habilidade em responder aos fatores que aumentam a sobrevida. Monócitos e macrófagos: Com o envelhecimento, ocorre uma redução no número de monócitos circulantes. Monócitos e macrófagos de idosos saudáveis apresentam prejuízo na fagocitose e na produção de radicas livres (implicando em prejuízo no combate à infecção) e na apresentação de antígenos. Uma vez instalada a infecção, idosos possuem menor habilidade de prevenir a sua propagação. Leve estado pró-inflamatório basal (sem a presença de doenças) por todo o corpo do idoso, que poderia influenciar a patogênia de várias situações crônicas relacionadas ao envelhecimento e que são afetadas pela inflamação - maiores níveis de citocinas séricas pró- inflamatórias (como Interleucina-6, Interleucina-1 e Fator de Necrose Tumoral-α) e de proteínas de fase aguda (como proteína C-reativa). Menor produção de citocinas por macrófagos durante infecções. A maturação de células dendríticas, cujo papel central é a apresentação de antígenos aos linfócitos T é defeituosa e sua causa é atribuída a alterações redox em consequência da diminuição de glutationa (antioxidante). Já foi demonstrado que o defeito na apresentação antigênica observado em indivíduos idosos leva a redução na proliferação de linfócitos T e a diminuição na produção de citocinas, como a IL-2 e a IL-12. Em outro trabalho, foi observada diminuição na coestimulação entre linfócitos T e células apresentadoras de antígeno de idosos, caracterizada pela baixa expressão das moléculas CD80 e CD86 nos monócitos. Como consequência, esses indivíduos apresentavam diminuição da resposta à vacinação contra a influenza. Com relação à família de receptores do tipo TOLL (TLR) - reconhecimento rápido de patógenos -, a redução substancial de TLR1/2 em monócitos - susceptibilidade aumentada a infecções. Com relação aos neutrófilos, processos eram significamente menores em idosos. Quanto a alterações no repertório de células NK, que desempenham importante papel na imunovigilância, embora escassos, indicam que o percentual dessas células se mantém constante na circulação, com atividade citotóxica preservada. Recentes evidências associam deficiências na via de sinalização que controla a produção de citocinas em células NK, através do receptor de membrana CD94 expresso nessas células com o desenvolvimento de artrite. Nos idosos, o número de células NK está aumentado. Entretanto, a atividade individual de cada célula encontra-se reduzida com a idade. Parece haver uma compensação da redução na atividade através do aumento do número dessas células. RESPOSTA IMUNE HUMORAL: O percentual de linfócitos B periféricos e a produção de anticorpos não são significativamente menores em idosos saudáveis. Vários trabalhos relatam alterações no switch de imunoglobulinas com aumento preferencial das subclasses IgA e IgG, e, ainda, o comprometimento da afinidade dos anticorpos produzidos. Ainda um aspecto acerca da resposta humoral que vale ressaltar é a necessidade de interação entre linfócitos B e T para a produção de diferentes classes de anticorpos. Em indivíduos idosos, essas interações podem ser defeituosas, vez que linfócitos T CD4+ senescentes apresentam expressão reduzida do ligante de CD40, uma molécula de importância crucial para a ativação de linfócitos B por células T. De uma forma mais geral, pode-se afirmar que o avanço da idade per se é caracterizada pela diminuição de respostas de linfócitos B clonotípicos contra novos antígenos extracelulares. Linfócitos B: para que os linfócitos B sejam ativados e a produção de anticorpos ocorra, linfócitos B devem se ligar a linfócitos TH2, apresentando o antígeno do agente infeccioso ao linfócito T. Essa ligação linfócito B – antígeno – linfócito TH2 induz o linfócito T a ativar o linfócito B. Nos idosos, o número de linfócitos B totais não está alterado, entretanto há uma redução no número de linfócitos B naive, concomitantemente com um aumento no número de linfócitos B de memória. O aumento do número de linfócitos B de memória parece ser uma compensação desta redução, e não parece ocorrer devido à exposiçãocrônica a certos tipos de agentes infecciosos (como no caso dos linfócitos T). Os mecanismos de defesa mediados por anticorpos estão deteriorados em idosos. Isso parece ocorrer principalmente devido a falhas em linfócitos T helper em induzir a ativação de linfócitos B. Muitos estudos relataram uma diminuição na capacidade em produzir anticorpos de alta afinidade a determinados agentes infecciosos. Também foi relatado um aumento de auto-anticorpos com o envelhecimento. RESPOSTA IMUNE ADQUIRIDA: A involução do timo ocorre paralelamente a uma inibição na produção do hormônio do crescimento e de IL-7, fundamentais para a maturação dos linfócitos. Como consequência da atrofia tímica, em células senescentes ocorre redução da população e da diferenciação de linfócitos T virgens e de sua capacidade de resposta ao antígeno. Além disso, estudos sobre transdução de sinais mostram que a mobilização de cálcio, a fosforilação de proteínas, a ativação de quinases e a ativação do ciclo celular estão modificados nos linfócitos T virgens de indivíduos idosos. Em contrapartida à redução do pool de células virgens, é observado maior acúmulo de linfócitos T com fenótipo de memória. Esse fato, porém, não se traduz em maior resistência a agentes infecciosos, uma vez que a ativação funcional dessas células é fraca assim como são reduzidos os níveis das citocinas pró-inflamatórias produzidas por elas. Além disso, devido à senescência celular, após contato com algum agente infeccioso pode ocorrer a seleção de clones menos eficientes. Novas observações sugerem que em condições fisiológicas, linfócitos T CD4 e CD8 de tenham um comportamento similar quando submetidas a estímulo antigênico crônico. Nos idosos, a infecção persistente por citomegalovírus (CMV) induz a expansão preferencial de clones CD8+ e apresenta similaridades com as respostas autoimunes. É, portanto plausível que a infecção persistente por CMV em idosos possa influenciar no aumento de linfócitos T CD8 de memória, porém, como demonstrado, essas células apresentam capacidade coestimuladora defeituosa pela baixa expressão da molécula CD2817. A reposta CMV-específica tem sido associada como um biomarcador do envelhecimento do sistema imune e o aumento progressivo nos títulos de anticorpos antiCMV em indivíduos idosos está relacionado com rápido declínio cognitivo. Linfócitos T: Com o envelhecimento, linfócitos T de memória tornam-se mais numerosos em relação a linfócitos T naive. A escassez de linfócitos T naive pode resultar numa pior resposta à novas infecções pelos idosos (pneumonia, tuberculose, infecções do trato urinário, da pele e de tecidos moles. Já, o excesso de linfócitos T de memória está implicado em maior produção de citocinas, contribuindo para o estado pró-inflamatório dos idosos.
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