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1 Proliferação Celular Hanna Briza Módulo II: Proliferação Celular Problema 3: Impacto psicológico! Objetivo 1: Analisar o CA de mama considerando conceito, fatores de risco, etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, prognóstico e prevenção. Objetivo 2: Descrever os impactos biopsicossociais na mulher com CA de mama. Objetivo 3: Descrever os achados e as alterações de mamografia e de ultrassom de mama. CÂNCER DE MAMA CONCEITO O câncer de mama é uma doença multifatorial, genética (dependente de lesão do DNA) e epigenética (independente de modificações na sequência do DNA). Desenvolve-se a partir de uma alteração inicial em uma célula da unidade ductolobular. Um clone de célula modificado se expande e gera novos danos ao DNA e aos mecanismos de reparo dessas modificações. A proliferação incontrolável das células epiteliais que margeiam os ductos ou os lóbulos, surge em função de alterações genéticas, sejam elas hereditárias ou adquiridas por exposição a fatores ambientais ou fisiológicos. Tais alterações genéticas podem provocar mudanças no crescimento celular ou na morte celular programada, levando ao surgimento do tumor. ANATOMIA DA MAMA Normalmente as mamas estão mais desenvolvidas em mulheres, uma vez que tanto homens quanto mulheres possuem mama (inclusive, ambos podem apresentar câncer de mama). Entretanto nos homens a mama quase não apresenta gordura (o tecido adiposo é o responsável pelo tamanho do seio) e as glândulas mamárias não se desenvolvem. Ao contrário das mulheres, que apresentam glândulas mamárias como acessórios para a reprodução e amamentação da prole. As mamas encontram-se superficiais e proeminentes na parede torácica anterior. A base circular da mama estende-se verticalmente da 2ª a 6ª costela e transversalmente da margem lateral do esterno até a linha axilar média, entretanto uma pequena parte da glândula mamária pode se estender ao longo da borda ínfero-lateral do músculo peitoral maior até a axila (relacionando-se ainda com os Mm. serrátil anterior e oblíquo externo). Na sua porção mais apical, encontra-se a papila mamária circundada por uma área de pele circular pigmentada, denominada de aréola. HISTOLOGIA DA MAMA Do ponto de vista histológico, a mama é constituída por pele, tecido celular subcutâneo e tecido mamário propriamente dito (constituído pelo parênquima e pelo estroma de sustentação da mama). No parênquima mamário, encontramos os ductos lactíferos, que dão origem a brotamentos que formam 15 a 20 lóbulos de tecido glandular, que constituem as glândulas mamárias. O seio lactífero é uma porção dilatada de cada ducto. Os ductos de cada glândula convergem de forma radial até o mamilo para a ejeção de leite. As glândulas mamárias são glândulas sudoríparas modificadas e, portanto, não possuem cápsula ou bainha especial. 2 Proliferação Celular Hanna Briza Os alvéolos que secretam leite estão dispostos como uvas em cacho. Durante a gestação, a glândula mamária aumenta e novos tecidos glandulares são formados. Entretanto, durante o ciclo menstrual, pode haver aumento da mama devido uma maior deposição de gordura por hormônios gonadotróficos (LH e FSH). As mamas crescem durante a puberdade devido ao desenvolvimento das glândulas mamárias e pela deposição de gordura, a qual irá dar o contorno arredondado e volume aos seios. O estroma mamário é constituído de tecido gorduroso e fibroso, exercendo função de sustentação do tecido mamário funcional. Apresenta contato direto com este parênquima. VASCULATURA DA MAMA E DRENAGEM LINFÁTICA O suprimento arterial e feito por ramos derivados da artéria torácica interna (ramo da A. subclávia), artéria torácica lateral e toracoacromial (ramos da A. axilar), além de artérias intercostais posteriores. A drenagem venosa da mama é principalmente levada para a veia axilar, podendo também ser drenada para a veia torácica interna. É importante conhecer a drenagem linfática das mamas devido ao seu papel na metástase das células cancerígenas. Os vasos linfáticos se origem, principalmente, nos espaços lobulares, pré-lobulares e pele. A linfa da papila, aréolas e lóbulos da glândula segue para o plexo linfático subareolar. 75% da linfa é drenada para linfonodos axilares. O restante (25%) é drenado para linfonodos paraesternais, mama oposta e linfonodos abdominais. Os vasos linfáticos na pele da mama (exceto na papila mamária e aréola) drenam para linfonodos axilares, cervicais profundos inferiores e infraclaviculares e também para linfonodos paraesternais de ambos os lados. EPIDEMIOLOGIA Segundo tipo de tumor maligno mais frequente no Brasil e no mundo (somando mulheres e homens), perde somente para o câncer de pele. O risco de câncer de mama aumenta com a idade. Era muito incomum o desenvolvimento de câncer de mama em mulheres abaixo de 30 anos, regra que vem sendo contrariada ultimamente. No mundo: segundo o Global Cancer Project, foi estimado 1.671.149 novos casos de câncer de mama em 2012, com 521.907 mortes por câncer de mama naquele ano. A cada ano, aproximadamente 25% dos casos novos de câncer em mulheres correspondem a tumores de mama. O número de casos novos de câncer de mama estimados para o Brasil em 2016 é superior a 57 mil segundo o INCA, com um risco estimado em torno de 50 casos para cada 100 mil mulheres. A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela população mundial, apresenta uma curva ascendente e representa a primeira causa de morte por câncer na população feminina brasileira, com 11,28 óbitos por 100 mil mulheres em 2009. O câncer de mama representa mais de 12% dos óbitos de causa conhecida notificados em 2014, de acordo com o INCA e dados do DATASUS. 3 Proliferação Celular Hanna Briza As regiões Sul e Sudeste são as que apresentam as maiores taxas, com 12,7 e 12,62 óbitos por 100 mil mulheres em 2009, respectivamente. O aumento da incidência se dá em países desenvolvidos e industrializados, numa taxa de 1% a 2% ao ano, enquanto as taxas de mortalidade diminuem em escala menor. No Brasil, as taxas de mortalidade pela doença se mantêm. Apesar da etiologia desconhecida, numerosos fatores de risco influenciam no seu desenvolvimento, como: fatores genéticos, hormonais, metabólicos e ambientais. Assim, o câncer de mama constitui um grave problema de saúde pública e faz jus a grandes investimentos em pesquisa, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. É importante salientar que o câncer de mama também acomete homens. Cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama incidem no sexo masculino. FATORES DE RISCO Os fatores de risco são eventos que irão aumentar o risco para desenvolvimento do câncer de mama. Eles podem ser divididos: Em alto risco Moderado risco Levemente aumentado. No estudo de Modena, foi avaliado o risco de desenvolver câncer de mama durante a vida, sendo observada uma incidência de 50%-80% nas pacientes portadoras de mutação genética conhecida, 30%-50% nas pacientes de alto risco, 18%-30% nas com risco intermediário e 6%-18% nas com risco levemente aumentado. SEXO: Ser mulher é fator de risco. É bem mais frequente no sexo feminino, que representa 99% dos casos. O sexo masculino é acometido por 1% dos tumores malignos de mama. No entanto, essa estimativa pode aumentar nos casos de ginecomastia de diversas etiologias. IDADE: O pico de incidência de câncer de mama é controverso na literatura. Para fins didáticos, consideramos como fator de risco idade superior a 40 anos. RAÇA BRANCA: A incidência de câncer de mama é maior na raça branca do que na negra, mas não há diferença nos índices de mortalidade. As mulheres asiáticas possuem o menor risco para a doença. ANTECEDENTE PESSOAL COM CÂNCERDE MAMA: Mulheres com história prévia de câncer de mama possuem risco de 50% de desenvolver um câncer microscópico e um risco de 20 a 25% de desenvolver um câncer clinicamente aparente na mama contralateral. HISTÓRIA FAMILIAR: O passado de câncer de mama em parentes de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) aumenta o risco da doença de 2,0 a 2,5 vezes. Em parentes de segundo e terceiro graus esse risco aumenta em 1,5 a 2,0 vezes. Podem indicar predisposição genética associada à presença de mutações em determinados genes. Entretanto, o câncer de mama de caráter hereditário (predisposição genética) corresponde a cerca de 5 a 10% do total de casos. ANTECEDENTE PESSOAL DE OUTROS TIPOS DE CÂNCER E RT PARA LINFOMA DE HODGKIN: A história de outros tipos de tumor, principalmente de endométrio, ovário ou cólon, e a história de radioterapia (RT) mediastinal para linfoma de Hodgkin aumentam a probabilidade de um câncer de mama subsequente. LESÕES HISTOLÓGICAS INDICADORAS DE RISCO: São consideradas como fatores de risco as doenças benignas com padrão proliferativo (hiperplasia ductal ou lobular), principalmente se houver atípica. Já foi demonstrado que o risco relativo de câncer de mama é de 2,5 a 5,3 vezes maior para as hiperplasias atípicas, e de 1,6 a 1,9 para as hiperplasias sem atípica. O carcinoma ductal in situ (precursor) e o carcinoma lobular in situ (marcador de risco e precursor) também são lesões de risco. Cabe aqui lembrar que alguns autores não consideram o carcinoma lobular in situ um precursor (apenas um marcador de risco). CICATRIZ RADIAL OU LESÃO ESCLEROSANTE COMPLEXA: Pode simular um câncer de mama, tanto em exames histopatológicos (macroscopia e microscopia) quanto na mamografia. Estudos recentes sugerem que a cicatriz radial está associada a um risco aumentado de câncer de mama futuro. Normalmente, representa um achado 4 Proliferação Celular Hanna Briza em tecido mamário excisado devido à outra anormalidade. Em geral, é múltipla. Ocasionalmente pode ser tão grande a ponto de ser detectada pela mamografia. Nestes casos, descreve-se uma massa espiculada indistinguível do carcinoma, que requer estudo histopatológico para diferenciação. HISTÓRIA MENSTRUAL: MENARCA PRECOCE E MENOPAUSA TARDIA A idade da primeira menstruação e a idade de início da menopausa interferem no surgimento do câncer de mama. Quanto mais precoce a idade da menarca (antes de 11 anos) e tardia a da menopausa (após os 55 anos), maior a chance de doença. Mulheres submetidas à ooforectomia antes da menopausa apresentam risco relativo menor. OBS.: De acordo com o Manual “Controle dos Cânceres de Colo Uterino e Mama” do Ministério da Saúde (2013), a menarca precoce é definida como a idade da primeira menstruação menor que 12 anos e a menopausa tardia é aquela instalada após os 50 anos de idade. A primiparidade idosa também é definida como a primeira gravidez após os 30 anos. HISTÓRIA OBSTÉTRICA: NULIPARIDADE E PRIMIPARIDADE IDOSA O câncer de mama é mais frequente entre as nulíparas e as primíparas idosas, após os 30 anos (Ministério da Saúde) ou 35 anos (alguns livros didáticos). A primeira gestação antes dos 20 anos parece exercer efeito protetor contra o aparecimento da doença. USO DE ANTICONCEPCIONAIS ORAIS (ACO): O uso de ACO, de acordo com alguns estudos parece aumentar um pouco o risco de Ca de mama. As mulheres que suspenderam o uso de ACO há 10 anos ou mais têm o risco semelhante ao das mulheres que nunca usaram pílula. No entanto, de forma geral, o uso de ACO parece não influenciar o risco de Ca de mama, exceto naquelas mulheres que possuem predisposição genética, isto é, as que são portadoras de mutações no BRCA. TERAPIA HORMONAL: A associação de estrogênios conjugados e de progesterona na terapêutica da síndrome climatérica aumentou o risco de câncer de mama. A maioria dos estudos concluiu que este risco é maior principalmente quando o uso é superior a dez anos. FATORES NUTRICIONAIS: DIETAS RICAS EM GORDURA Uma recente metanálise demonstrou que dietas ricas em gorduras elevam a frequência do câncer de mama. Ele é mais encontrado entre as obesas, sobretudo na pós-menopausa. USO CRÔNICO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS: A relação entre álcool e câncer de mama está associada com a ingestão diária. Quanto maior a dose, maior será o risco de desenvolver câncer de mama. A ingestão regular de álcool, mesmo que em quantidade moderada 30 g/dia, é considerada um fator de risco. AGENTES QUÍMICOS: É maior a incidência do câncer de mama nos países em que o consumo de DDT é maior, fato que ocorre analogamente em outros tipos de tumores. RADIAÇÃO IONIZANTE: A exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 40 anos é fator de risco. FATORES GEOGRÁFICOS: A doença é mais comum em países desenvolvidos e industrializados, fato que justifica sua maior incidência na Europa e América do Norte. SEDENTARISM: É considerado um fator de risco, enquanto a prática de atividade física é considerada um fator protetor. GENÉTICA: No ano de 1994, foi evidenciada a primeira mutação genética deletéria envolvida com o câncer de mama e ovário, nomeada BRCA 1. Atualmente, são conhecidas algumas mutações que interferem no aparecimento do câncer de mama. As de maior contribuição na frequência de aparecimento do câncer de mama são as mutações no gene BRCA 1 e BRCA 2. MUTAÇÃO NO GENE BRCA 1: É uma mutação que ocorre no braço longo do cromossomo 17, que codifica uma proteína que age como supressora tumoral. É responsável por 40% dos casos de câncer com envolvimento genético. Aumenta o risco de câncer, sobretudo na pré-menopausa. MUTAÇÃO NO GENE BRCA 2: É uma mutação que ocorre no braço longo do cromossoma 13. Este cromossoma também é inativo durante o processo de 5 Proliferação Celular Hanna Briza oncogênese. A mutação aumenta o risco de doença principalmente na pós- menopausa. FISIOPATOLOGIA A primeira célula maligna aparece no epitélio ductal susceptível, ativada por fatores genéticos ou ambientais, tais como radiação e agentes químicos. O epitélio de revestimento ductal, formado basicamente por uma ou duas camadas celulares, inicia sua proliferação motivado por estímulos hormonais, fato que acarreta uma elevação do número de células acima da membrana basal. Denominamos essa proliferação epitelial de hiperplasia típica. Na maior parte das vezes essa proliferação epitelial cessa nesse estágio, sem traduzir perigos posteriores. No entanto, em determinadas situações, os gatilhos da iniciação tumoral alteram o protótipo celular, culminando na chamada hiperplasia atípica, ou seja, ocorrência de atipias leves em espaços restritos. As hiperplasias atípicas evoluem para os reais precursores morfológicos dos carcinomas invasores, os carcinomas intraductais ou intralobulares. O carcinoma intraductal ou intralobular, pelos mais diferentes estímulos – angiogênicos, hormonais, enzimáticos, entre outros – continuam sua proliferação celular, rompem a membrana basal ductal, penetram no estroma mamário, podem permear e embolizar os vasos sanguíneos e linfáticos do sistema de circulação da mama, e evoluir para carcinoma invasor. A história natural do câncer de mama pode ser dividida em: FASE PRÉ-CLÍNICA: compreende o intervalo de tempo entre o surgimento da primeira célula maligna e o desenvolvimento do tumor até atingir condições de ser diagnosticado clinicamente FASE CLÍNICA: inicia a partir deste momento. Existe incerteza sobre a sequência de eventos iniciais da evolução do câncer da mama. Admite-se que o carcinoma da mama passe por uma fase in situ, onde a membrana basal está preservada, evoluindo para a ruptura desta membrana, progredindo para a forma infiltrativa ou invasiva (carcinoma infiltrante ou invasor). Porém, estudos de biologia molecular apontam para a possibilidade de o carcinoma invasor ter origemdiferente do carcinoma in situ, podendo se tratar de entidades distintas e não fases evolutivas de uma mesma doença. O carcinoma invasor pode permanecer por tempo variável como doença local, ou seja, limitada à mama, ou evoluir com propagação regional e disseminação à distância. No carcinoma da mama, a disseminação ocorre principalmente a partir da via linfática e mais raramente por via hematogênica pura. Além da riqueza de capilares linfáticos existentes na mama, ocorre a formação de novos vasos linfáticos peritumorais. A parede desses vasos é altamente permeável, podendo permitir a penetração de células malignas no interior do vaso, dando início ao processo de disseminação tumoral. Uma vez dentro dos canais linfáticos, estas células são transportadas pela linfa até atingir o primeiro gânglio de drenagem da região tumoral, chamado linfonodo sentinela. A partir deste, os êmbolos tumorais poderão seguir até atingir as cadeias ganglionares regionais comprometendo outros linfonodos, principalmente os da cadeia axilar e com menor frequência os da cadeia mamária interna. Seguindo o fluxo linfático, as células tumorais embolizadas podem ultrapassar os linfonodos regionais, chegar à circulação sanguínea e atingir alvos mais distantes, podendo levar a formação de implantes tumorais metastáticos. Geralmente, o câncer da mama cresce lentamente. Porém, eventualmente, apresenta crescimento rápido e maior possibilidade de disseminação. Esse comportamento heterogêneo está relacionado a características próprias do tumor, tais como grau de diferenciação histológica e presença de receptores moleculares, que determinam sua velocidade de crescimento e potencial de originar metástases, podendo ainda ser influenciado por outros fatores, como a exposição a estímulos hormonais, resposta imune e estado nutricional. TEMPO DE DUPLICAÇÃO CELULAR O período médio de duplicação celular é de aproximadamente 100 dias. Se o tempo de duplicação de um tumor fosse constante e ele se originasse de uma única célula, aproximadamente somente após oito anos é que seria obtido um tumor de 1 cm. 6 Proliferação Celular Hanna Briza METÁSTASES À DISTÂNCIA Embora o câncer de mama possa disseminar para qualquer órgão, o envolvimento de ossos, pulmões e fígado ocorre em mais de 85% das mulheres que desenvolvem metástase à distância. Alguns autores também consideram o cérebro como um sítio de metástases à distância. É importante lembrar que o carcinoma infiltrante tende a se disseminar, preferencialmente, pela via linfática ou pela via hematogênica. EM RESUMO: Epitélio Normal → Hiperplasia Epitelial Típica → Hiperplasia Epitelial Atípica → Carcinoma Intraductal ou Intralobular → Carcinoma Invasor OBS.: Ainda não se sabe se todos os tumores passam necessariamente por todos esses estágios. Entretanto, já é consenso na literatura que o processo de proliferação celular ocorre de forma insidiosa. CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO CA DE MAMA: O câncer de mama apresenta um grupo de neoplasias epiteliais malignas com grande diversidade estrutural. Em torno de 70 a 80% dos casos são classificados como carcinoma ductal invasor sem que seja realizada a diferenciação entre os subtipos de carcinoma ductal que, por vezes, apresentam melhor prognóstico. CARCINOMA IN SITU: Corresponde à doença local, ou seja, à lesão restrita ao epitélio. Em outras palavras: não ocorre infiltração do estroma. Comumente, é abordado como uma etapa na sequência de eventos que vai da hiperplasia ao carcinoma invasor. No entanto, é importante reconhecer que nem sempre este processo é contínuo. Assim, é provável que nem todos os carcinomas in situ evoluam para a forma invasiva e, inversamente, que nem todo carcinoma invasor passe obrigatoriamente pela etapa in situ. É classificado nas formas lobular e ductal. Os adjetivos ductal e lobular não se referem necessariamente à topografia da lesão na árvore ductal, mas ao fenótipo celular, já que praticamente todas as formas se originam da unidade ducto terminal-lobular. As neoplasias lobulares originam-se quase sempre a partir dos ácinos, lesões ductais podem originar-se tanto em ácinos quanto em ductos e, frequentemente, ocupam os dois compartimentos da árvore mamária. CARCINOMA DUCTAL IN SITU (CDIS) É considerada lesão precursora do câncer de mama. Na maioria das vezes, tem prognóstico favorável. Caracteriza-se à microscopia pela presença de dilatação da luz dos ductos e pelo achado de células de padrão ductal com alterações malignas que não invadem a membrana basal. O tipo celular característico é a célula grande, poligonal, coesa, com tendência aos arranjos ductal e/ou papiliforme e graus variáveis de atipia nuclear. A disposição dessas células no interior dos ductos define os subtipos histológicos. Os principais são: Cribiforme: caracteriza-se por proliferação celular que deixa espaços regulares, em geral redondos, de bordas nítidas. Representa o subtipo de melhor prognóstico no que se refere ao risco de recidiva e invasão. Micropapilar: apresenta tufos de células neoplásicas fazendo saliência em direção ao lúmen, desprovidos de eixo vascular. Normalmente é encontrado em associação ao cribiforme. Papilar: apresentação semelhante ao micropapilar, mas com eixos fibrovasculares evidentes. Possui bom prognóstico. Sólido: as células ocluem totalmente o espaço luminal dos ductos envolvidos. Comedoco carcinoma: é o de pior prognóstico, caracterizado pela distensão dos ductos envolvidos, anaplasia celular e necrose central, comumente associado ao carcinoma inflamatório. O material necrótico frequentemente sofre calcificação, que pode ser detectada na mamografia. Comumente, evolui para invasão e o grau da necrose parece ser o fator de maior predição para o risco de recorrência na mama 7 Proliferação Celular Hanna Briza ipsilateral após o tratamento. Os subtipos podem ser encontrados em associação uns com os outros, principalmente nas formas não comedo. São as chamadas formas mistas. O risco de acometimento da mama contralateral não é característico do CDIS. CARCINOMA LOBULAR IN SITU (CLIS) Não se apresenta como lesão palpável, normalmente não há expressão mamográfica, e não é visível macroscopicamente ao exame histopatológico. Constitui um achado microscópico incidental a partir de um tecido mamário removido cirurgicamente por outro motivo. É detectado mais frequentemente na pré-menopausa, sugerindo influência hormonal no desenvolvimento ou manutenção dessa lesão. O padrão histológico é o de hiperplasia lobular atípica, com presença de células epiteliais pequenas, não coesas, dispostas no interior dos ácinos e, por vezes, com extensão para os ductos terminais e intermediários. Alguns autores não o consideram uma lesão precursora como o CDIS. Por outro lado, outros autores (Page e Fisher) o consideram como uma lesão precursora do câncer de mama. Esta questão permanece uma polêmica na literatura. No entanto, todos os autores concordam que o CLIS representa um indicador biológico de aumento de risco para o desenvolvimento de um tumor invasor, devido ao seu grande potencial para multicentricidade e bilateralidade. Devido aos motivos expostos anteriormente, o CLIS deve ser tratado com biópsia excisional e acompanhamento meticuloso. Alguns autores sugerem a realização da mastectomia profilática bilateral. CARCINOMAS INFILTRANTES (INVASIVOS): Corresponde à doença invasiva, ou seja, quando ocorre infiltração do estroma mamário. CARCINOMA DUCTAL INFILTRANTE É o tipo de câncer de mama invasivo mais comum, correspondendo a 70 a 80% das lesões invasivas diagnosticadas após biópsia. A capacidade de provocar reação estromal é que produz diferentes formas de apresentação, determinando retração de pele quando há reação fibrótica intensa, ou abaulamentos quandoo crescimento é tuberoso e com pouca fibrose. Esta reação estromal pode ser intensa, resultando em estroma denso e firme, responsável por sua antiga denominação como carcinoma cirroso. Esta característica parece ser responsável pela frequente massa palpável de consistência pétrea ao exame clínico, e pela grande expressão radiológica e ultrassonográfica, com presença de lesão sólida típica dos carcinomas invasivos. O prognóstico é bom em casos de carcinoma ductal isolado, e péssimo em casos de metástases. CARCINOMA LOBULAR INFILTRANTE É pouco frequente. Corresponde a 5 a 10% na maioria das séries. O achado típico é de uma área mal definida, infiltrada, espessada na mama, com pouca expressão mamográfica. Apresenta maior tendência à bilateralidade e multicentricidade. Está mais associado ao uso da TH do que o câncer ductal invasivo. Normalmente não observamos lesão macroscópica. Microscopicamente, evidenciam-se células pequenas e ovais, que infiltram o estroma na forma característica, em “fila indiana”. A perda da coesão que caracteriza as células neoplásicas deste tipo histológico está relacionada com a perda da expressão do gene da molécula de adesão da E-caderina. Células em anel de sinete podem ser observadas. Em 2/3 dos casos há associação com o CLIS. Em alguns casos, o CDIS também pode estar presente. CARCINOMA MUCINOSO (COLOIDE) Possui crescimento lento e se distingue pelo acúmulo de mucina ao redor das células tumorais. Em determinadas situações, atinge grandes volumes. Parece ser mais comum em pacientes mais idosas. Normalmente apresenta aparência gelatinosa ao exame macroscópico, com tendência a serem bem circunscritos. É caracterizado por proliferação de grupamentos de células redondas, uniformes com mínima quantidade de citoplasma eosinófilo. Os grupamentos de células neoplásicas variam em tamanho e forma, podendo ser encontrados arranjos 8 Proliferação Celular Hanna Briza tubulares, papilíferos, cribiformes ou trabeculares. Pertence ao grupo das lesões invasivas com bom prognóstico. CARCINOMA TUBULAR Responde por aproximadamente 2% dos carcinomas de mama. É caracterizado pela presença de estruturas tubulares ou glandulares bem formadas infiltrando o estroma. Os túbulos tendem a ser alongados, com presença de células colunares e frequentemente há protusões citoplasmáticas apicais. Raramente, apresenta metástases axilares. Também possui bom prognóstico. CARCINOMA MEDULAR Representa 5% dos carcinomas de mama. É circunscrito ao exame macroscópico e, em alguns casos, há presença de necrose ou hemorragia ao redor. As células tumorais são pouco diferenciadas (alto grau histológico) e possuem uma reação linfocitoplasmática em associação. São considerados os seguintes critérios anatomopatológicos para o diagnóstico de carcinoma medular: Padrão de crescimento sincicial em mais de 75% do tumor; Ser histologicamente circunscrito; Estruturas glandulares e tubulares ausentes; Células neoplásicas com núcleos muito pleomórficos, de alto grau (grau 3) e nucléolos evidentes; Infiltrado inflamatório linfoplasmático. Todos esses critérios devem estar presentes para o seu diagnóstico. Normalmente, o prognóstico é mais favorável do que o do câncer ductal infiltrante, apesar da sua aparência histológica ruim. Ocorre mais frequentemente em pacientes mais jovens e tem sido associado a mutações do BRCA-1. DOENÇA DE PAGET É uma desordem do mamilo e aréola, caracterizada clinicamente pela aparência eczematoide, com a presença de erosão e descamação. Histologicamente, caracteriza-se pela presença de células tumorais que acometem a epiderme das papilas mamárias. É obrigatória a distinção deste tumor com o eczema areolar. A destruição da papila é a principal característica da doença de Paget. Ao contrário do eczema, afeta primeiramente o mamilo e em seguida a aréola. A realização da biópsia está indicada em caso de persistência do prurido apesar do uso de corticoterapia tópica. A biópsia objetiva a diferenciação entre eczema e doença de Paget. Estudos recentes têm evidenciado que o tratamento conservador da Doença de Paget pura com radioterapia é uma alternativa factível. CARCINOMA INFLAMATÓRIO É uma forma distinta de câncer de mama localmente avançado, caracterizado clinicamente por eritema, edema, calor e endurecimento da pele, com o aspecto característico em “casca de laranja” (peau d’orange). Pode haver ou não a presença de nódulo palpável. Histologicamente caracteriza-se pela invasão das células tumorais no sistema linfático regional e à distância. A biópsia deve ser realizada a partir de amostras da pele, tecido subcutâneo e parênquima. CARCINOMA PAPILÍFERO Responde por 1 a 2% dos carcinomas de mama. Incidem preferencialmente na pós- menopausa. Normalmente, acometem a região central da mama. Constitui-se de nódulo não encapsulado de células neoplásicas epitelioides ou fusocelulares, sem papilas bem formadas. A ausência de células mioepiteliais no interior da lesão é característica. Frequentemente, manifesta-se com derrame papilar sanguinolento. HISTÓRIA NATURAL Com relação à história natural, calcula-se que, na maioria dos casos, o câncer de mama demora aproximadamente 8 anos (e trinta duplicações sucessivas) para chegar ao tamanho de 1 cm. Contudo, com 1 mm de diâmetro já teria capacidade de metastatização. Em seu crescimento, pode invadir a pele da mama, aréola e mamilo, determinando retrações e ulcerações. Sua disseminação metastática ocorre por via linfática e sanguínea. As metástases linfáticas podem acometer linfonodos axilares, mamários internos e supraclaviculares homolaterais; em menor frequência, 9 Proliferação Celular Hanna Briza acometem também os linfonodos axilares e supraclaviculares contralaterais, chegando inclusive, em casos mais avançados, aos linfonodos de cadeias inguinais. As metástases sanguíneas podem ocorrer por invasão tumoral das veias ou por drenagem dos vasos linfáticos para o tronco venoso jugulo-subclávio. Os órgãos mais acometidos são pulmão, ossos, fígado e cérebro. Podem ocorrer metástases para os ovários, formando o denominado tumor de Krukemberg. QUADRO CLÍNICO Na fase inicial, o câncer de mama geralmente é assintomático, o que dificulta sua detecção precoce. O sinal mais detectado pela paciente é a presença de um nódulo endurecido na mama, o que ocorre em cerca de 80% dos casos; outras vezes a paciente relata a presença de um espessamento, leve endurecimento ou um discreto incômodo, queixa que deve ser valorizada pelo médico. Pode ocorrer saída espontânea de secreção pelo mamilo, sendo que a secreção hemorragia está mais associada à presença de lesão maligna. A dor mamária quase sempre está associada a lesões benignas. A retração do mamilo e da aréola geralmente surge associada a tumores maiores. Ainda nas formas mais avançadas, surge o edema cutâneo, com dilatação dos poros, o que determina um aspecto de casca de laranja. Ulcerações com infecção secundária e hemorragia também podem surgir nesta fase. A hiperemia cutânea ocorre nos casos mais avançados ou no carcinoma inflamatório; lesões eczematoides em mamilo e aréola ocorrem na doença de Paget. ANAMNESE E EXAME FÍSICO O diagnóstico do câncer começa com a anamnese, quando devem ser valorizadas pelo médico as queixas do paciente. O exame físico será de grande importante para a suspeita diagnóstica e orientação dos exames complementares. Este compreende inspeção (estática e dinâmica) e a palpação. Na inspeção estática, a paciente fica sentada em frente ao médico, com os braços abaixados, apoiados sobre o joelho; será então observado se há alguma das alterações na pele da mama, coloração, simetria das mamas, aréolas e mamilos etc. Na inspeção dinâmica, a paciente ergue os braços acima da cabeça; nesta posição podem surgir retraçõesde mamas, aréolas ou mamilos não visíveis na inspeção estática ou ocorrer a acentuação de pequenas alterações já existentes. A seguir, a paciente coloca as mãos sobre os quadris, que são pressionados, levando à contração dos músculos peitorais, o que poderá evidenciar tumorações fixas ao músculo. A palpação deve ser feita com a paciente deitada e com as mãos sob a cabeça. Nesta posição, a palpação contra o gradil costal favorece a percepção de pequenos nódulos ou espessamentos. O aparecimento de nódulo de consistência elástica e móvel pode sugerir – na dependência da idade e das queixas da paciente – a presença de cisto ou de fibroadenoma. As neoplasias malignas geralmente apresentam-se como nódulos de consistência mais endurecida, às vezes pétrea, de pouca mobilidade ou como um espessamento endurecido e um pouco difuso. Com a paciente sentada, palpam-se as axilas e as fossas supraclaviculares na procura de linfonodos com aumento de tamanho e consistência. Aliás, toda a cadeia linfática pertinente a drenagem da mama deve ser avaliada: linfonodos cervicais, supraclaviculares e axilares. Obs.: Dividindo-se a mama em quatro quadrantes, temos a seguinte prevalência quanto a localização dos tumores: 50% no quadrante superior externo; 11% no quadrante inferior externo; 15% no superior interno; 6% no inferior interno. Na região retromamilar, temos a incidência de 18% dos tumores. Não há diferenças importantes entre a incidência na mama esquerda ou direita na literatura. Obs.: Lembre-se: a presença de tumor endurecido, de forma variável, contornos irregulares, limites imprecisos e fixo (aderido a planos profundos) ou pouco móvel é a apresentação clássica, mas nem sempre ela é encontrada. Não se esqueça que os tumores podem, ainda, se apresentar como assimetrias de volume importantes ou edema linfático de pele. Os casos avançados podem revelar abaulamentos e retrações da pele, ulcerações da pele ou da papila e tumores exofíticos. 10 Proliferação Celular Hanna Briza PREVENÇÃO PRIMÁRIA Quimioprevenção A quimioprevenção é o termo usado para o uso de tamoxifen na prevenção primária ao câncer de mama. O tamoxifen funciona como um competidor do estrógeno pelos receptores hormonais presentes nas glândulas mamárias e nas células neoplásicas. Na realidade, o tamoxifen é uma droga análoga ao estrógeno, mas que realiza uma ação contrária a este hormônio nos receptores das células mamárias neoplásicas. O uso deste tratamento preventivo faz com que a célula mamária deixe de ser estimulada pelo estradiol. Este tratamento é utilizado apenas para mulheres que apresentam risco iminente em desenvolver tumores de mama, como mutações genéticas nos genes BRCA-1 e BRCA-2 que, quando sofrem mutação, os riscos aumentam em até 90% para que a mulher, durante a vida, desenvolva câncer de mama. Esta prevenção primária, quando utilizada para pacientes enquadrados em grupos de risco, reduz até 70% o risco de eles desenvolverem câncer. Mastectomia profilática Outra maneira de prevenção para aqueles casos de maiores riscos é a mastectomia profilática que é mais viável para aqueles casos em que há mutação dos genes BCRA (devido ao risco de 90% de desenvolver o câncer de mama). Nesta cirurgia, retira-se o parênquima mamário, buscando preservar a pele e o mamilo. Hoje em dia, contudo, a técnica vem caindo em desuso pois mesmo que o risco caísse consideravelmente, não zerava. Além disso, a autoestima e a satisfação das mulheres que realizam esta cirurgia não foi o esperado. RASTREIO (PREVENÇÃO SECUNDÁRIA) E DIAGNÓSTICO Enquanto a prevenção primária consiste na tentativa de eliminar as chances de manifestar a doença, a prevenção secundária consiste no diagnóstico precoce, sendo necessária, para isso, a realização de exames específicos. Devido aos poucos sinais e a nenhum sintoma do câncer inicial da mama, à constatação de que os melhores resultados terapêuticos ocorrem nos casos mais precoces e à inexistência de tratamento totalmente eficaz para o câncer avançado, o diagnóstico precoce adquire grande importância. Nos países desenvolvidos, os denominados screenings compreendem a associação do exame mamário mensal para mulher, exame clínico anual e mamografia. No Brasil, contudo, é impossível a realização de mamografias por toda a população feminina acima dos 35 anos de idade, mesmo bianualmente, devido ao seu custo. Os principais exames que servem para a realização de diagnóstico precoce são: Autoexame: O autoexame, como o próprio nome sugere, é aquele realizado pela própria paciente. É realizado de forma padronizada, sistemática e periódica, normalmente uma vez por mês e uma semana após o término da menstruação para as mulheres que estão na menacme. Só é capaz de identificar o nódulo em fase clínica (maior que 1 cm). Apesar de estudos observacionais iniciais demonstrarem um aumento na detecção de tumores e também na sobrevida, ensaios clínicos posteriores não conseguiram comprovar sua eficácia e ainda demonstraram existência de riscos à saúde associados à sua prática ao aumentarem o número de intervenções para doenças benignas. 11 Proliferação Celular Hanna Briza O autoexame não deve ser confundido com a prática ocasional da observação e autopalpação da mama, no contexto do conhecimento do próprio corpo. A autopalpação eventual da mama é uma estratégia de diagnóstico precoce do câncer, cujo objetivo é tornar as mulheres mais conscientes do aspecto normal de suas mamas, das variações normais e dos sinais de alerta. Dessa forma, a autopalpação contribui para ampliar a capacidade de identificar, de forma mais precoce possível, o aparecimento de sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama, sem a necessidade de serem ensinadas a realizar um método padronizado de autoexame. Mamografia (MMG) A mamografia como método de detecção precoce deve ser realizada (conforme orientação da Sociedade Brasileira de Mastologia), primeiramente, aos 35 anos (mamografia de base), bianualmente dos 40 aos 49 e anualmente a partir dos 50 anos. A radiação na realização da denominada mamografia de alta resolução é mínima (0,1 rad por incidência), o que não constitui risco para a paciente. Este tipo de mamografia permite analisar pequenas estruturas de até 0,2mm, como as microcalcificações. Está indicada para as pacientes com idade acima dos 35 anos, porque nos pacientes mais jovens o parênquima mamário é muito mais denso e radiopaco, o que dificulta sua interpretação. Quando há suspeita de neoplasia maligna, a mamografia poderá ser realizada em pacientes com limiar abaixo do citado. Os principais sinais radiológicos da malignidade são: As microcalcificações (sinal mais precoce, mas que representam alterações benignas em 80% dos casos); Nódulos de contornos especulados, estrelados ou lobulados, com densidade aumentada e com forma irregular; Alterações do padrão arquitetural da mama, espessamento cutâneo e retração da pele e do complexo aréolo-papilar. Para um melhor entendimento da mamografia, criou-se a classificação bi-RADS, que padroniza os resultados e determina condutas a partir das chances de malignidade. Ultrassonografia É um bom método propedêutico que pode ser utilizado por pacientes com idade abaixo de 35 anos, pois, diferentemente da mamografia, permite uma melhor avaliação do parênquima mamário jovem, detectando nódulos em mamas mais densas, sendo importante também para o diagnóstico diferencial entre nódulos sólidos e cistos. Este método não detecta nódulos menores do que 0,5 cm e nem microcalcificações. É um método que assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e císticos. Alguns achados ultrassonográficos são sugestivos de malignidade, tais como: Margens irregulares Hipoecogenicidade e textura heterogênea (achadoinespecífico), Diâmetro craniocaudal (anteroposterior) maior do que o diâmetro laterolateral (nódulo “mais alto que largo”) Presença de sombra acústica posterior Contornos microlobulares, entre outros. 12 Proliferação Celular Hanna Briza Tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética São exames menos vantajosos do que a mamografia em termos de diagnósticos do tumor mamário. Contudo, podem ser complementares no estadiamento, permitindo um estudo mais detalhado dos linfonodos da axila, fossa supraclavicular e mediastino. Biópsia O diagnóstico definitivo é feito pela biópsia e exame citológico ou histológico. A biópsia de lesões suspeitas de malignidade, porém impalpáveis, detectadas pela mamografia, necessita ser realizada com a participação do radiologista. É realizada então uma biópsia excisional, sob anestesia local e incisão periareolar, sempre que possível, com retirada da área de tecido mamário ao redor do gancho (para identificação do tipo do tumor); o material é imediatamente radiografado e, no caso de ausência de lesão suspeita, uma nova ressecção deve ser realizada, mais ampla, ao redor da área anteriormente retirada. Confirmado pela radiologia, o material é então encaminhado para exame histopatológico. A biópsia por punção aspirativa com agulha fina (PAAF) é um procedimento simples, realizada em consultório ou ambulatório, com seringa descartável de 10 ml e agulha 25x7 (22G). O material colhido de nódulos líquidos devem ser colocados em um frasco contendo álcool absoluto na mesma quantidade do material aspirado. Este exame, porém, não fornece dados necessários ao patologista para o diagnóstico do tipo do carcinoma. No caso de nódulos sólidos ou espessamentos, após a introdução da agulha até o seu centro, o material recolhido é posto sobre uma lâmina de vidro para avaliação citológica. Outro procedimento diagnóstico é a punção com agulha grossa, com retirada de fragmento histológico (core-biopsy), indicada para lesões impalpável da mama. Nos casos em que ocorre saída de secreção pelo mamilo, a citologia poderá detectar – principalmente nas descargas sanguinolentas – a presença de um carcinoma intraductal. A secreção deve ser colhida colocando-se uma lâmina de vidro sobre a gota do derrame, evitando-se tocar na superfície do mamilo. Realiza- se então um esfregaço e a lâmina é imediatamente fixada em álcool e encaminhada para exame. Obs: O diagnóstico das metástases por via sanguínea pode ser feito com a realização de radiografias de tórax, cintilografias ósseas e cerebral, ultrassonografia abdominal e pélvica, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética. É realizada também a dosagem dos marcadores CA 15.3 e antígeno cárcino-embrionário (CEA). RASTREIO SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDE: BAIXO RISCO (QUEM NÃO É ALTO RISCO) Exame clínico anual a partir dos 40 anos Clínico + MMG anuais (máximo de 2 anos) a partir dos 50 – 69ª ALTO RISCO (PARENTE DE 1º GRAU COM CÂNCER < 50 ANOS, PARENTE DE 1º GRAU COM CÂNCER BILATERAL, PARENTE MASCULINO COM CÂNCER DE MAMA) Clínico + MMG anuais a partir dos 35 anos ESTADIAMENTO O estadiamento do câncer de mama é de fundamental importância para o planejamento terapêutico e o prognóstico. A mais atual e utilizada classificação é 13 Proliferação Celular Hanna Briza a do Sistema TNM (Tumor – linfonodos – metástases a distância), correlacionada ao estádio clínico e preconizadas pela AJCC (American Joint Committee of Cancer Staging) e UICC (Union Internationale Contre le Cancer). TRATAMENTO O tratamento do câncer de mama, à exceção de alguns casos iniciais, é realizado de forma multidisciplinar, englobando a cirurgia, radioterapia, quimioterapia antineoplásica, endocrinoterapia e, em muitos casos, a psicoterapia. Cirurgia Exceção feita a um pequeno grupo de neoplasias malignas da mama, a cirurgia deve ser o primeiro meio de cura deste câncer. É inclusive a forma de tratamento mais antiga do câncer de mama (realizada no século II a.C. por Galeno e em 1883 por William Halsted). A cirurgia consiste na retirada da lesão neoplásica e no restante da mama, incluindo, na maioria das vezes, a retirada de linfonodos axilares (esvaziamento axilar). A retirada da mama e dos linfonodos axilares consiste na mastectoma radical. Existe ainda um procedimento conservador realizado casos com diagnóstico precoce, que substitui a mastectomia radical pela quadrantectomia (retirada do quadrante mamário acometido pelo tumor), linfadenectomia axilar e radioterapia de mama. Contudo, a retirada da cadeia de linfonodos axilares resulta em consequências desagradáveis como edema no membro superior correspondente, tendência à celulite, dor, erisipela, dormência, etc. Portanto, para avaliar a real necessidade da retirada desses linfonodos, faz-se a técnica do linfonodo sentinela: cerca de 3 a 4 horas antes da cirurgia de mastectomia, o cirurgião injeta um corante (como o azul de metileno) na região. Sabidamente, como toda a drenagem linfática da mama passa pelos linfonodos axilares, observa-se que o primeiro linfonodo a se corar é o chamado linfonodo sentinela. Nesse momento, o cirurgião retira o linfonodo e repassa-o para o patologista (presente na sala de cirurgia), o qual realizará, por meio de um processo conhecido como congelação, a avaliação desse linfonodo, vasculhando possíveis células metastáticas que porventura teriam alcançado a corrente linfática daquela mama. Se o resultado for negativo, o cirurgião pode decretar a cirurgia como encerrada, sem ser necessária a retirada dos linfonodos, partindo apenas para a ressecção da lesão na mama. Caso contrário, é aconselhável a realização da quadrantectomia radical. 14 Proliferação Celular Hanna Briza Nos sarcomas, o tratamento cirúrgico indicado é a mastectomia total, sem linfadenectomia axilar, pois a metastatização ganglionar destes tumores é muito rara. Quimioterapia antineoplásica Este tratamento compreende a quimioterapia adjuvante (realizada após a cirurgia, com o intuito de destruir as micrometástases existentes), a quimioterapia neoadjuvante ou primária (com a finalidade de reduzir tumores volumosos, facilitando o procedimento cirúrgico e melhorando os resultados de sobrevida e intervalo livre de doença) e a quimioterapia do câncer metastático. Radioterapia Radioterapia do câncer de mama está geralmente associada aos demais procedimentos terapêuticos, estando indicada após a cirurgia conservadora da mama (5000 cGy em cinco semanas). Está indicada também nos casos avançados, com finalidade paliativa e antálgica, e nas metástases ósseas e cerebrais. Endocrinoterapia (hormonioterapia) Pode ser ablativa ou aditiva, adjuvante ou para tratamento de doença metastática. É indicada principalmente para aqueles tumores que ainda apresentam receptores de estrógeno e progesterona (avaliados pela imunohistoquímica), isto é, receptores hormonais positivos. A endocrinoterapia ablativa é realizada através da ooforectomia, nas pacientes em pré-menopausa e, em alguns casos, da adrenalectomia. A endocrinoterapia aditiva é realizada com o tamoxifen (20 mg por dia, via oral, durante dois anos; droga sintética de ação antiestrogênica, que, competindo com o estrógeno, liga-se aos receptores deste hormônio formando o complexo receptor-tamoxifen que, translocado para o núcleo da célula, impede a divisão celular) e o acetato de megestrol (160 mg por dia, via oral; é um agente progestagênico que apresenta atividade antitumoral mediada através dos receptores de progesterona, tendo também in vitro uma ação citotóxica direta em cultura de células malignas humanas de câncer de mama). Obs: Sabe-se ainda que, antes da menopausa, a principal fonte de estrógenos na mulher é o ovário,sendo seguida pelo córtex da adrenal e pela gordura. Após a menopausa, o córtex da adrenal contribui com a maior parte da produção por meio da conversão de colesterol por meio da enzima aromatase. Portanto, o uso de inibidores de aromatase nas mulheres pós-menopausa vem constituindo um tratamento muito importante, sendo mais viável que o próprio tamoxifen. A vantagem do tratamento com inibidores de aromatase com relação ao tamoxifeno está na ação não específica desta droga: por agir como o estrógeno, além de agir sobre as células da mama, ele estimula o endométrio, podendo causar neoplasias endometrais. Além disso, o uso de tamoxifen predispõe o aparecimento de efeitos colaterais diversos: tromboses pulmonares, amenorreias, etc. Os inibidores de aromatase, por sua vez, podem causar dores articulares e não protege a massa óssea como faz o tamoxifen. Tratamento por anti-corpos monoclonais 20% dos casos de câncer de mama apresentam células neoplásicas que expressam uma proteína de membrana que serve como um sinalizador tumoral denominado cerbB2. Esta proteína, quando presente, sinaliza ao núcleo um estímulo de replicação celular, o que significa que, pacientes que expressam esta proteína têm uma tendência maior ao crescimento do tumor. Hoje em dia, são disponibilizados tratamentos com anticorpos monoclonais que agem sobre essas proteínas e diminuem a sua expressão, melhorando o prognóstico desses pacientes. Há também medicamentos como o avastrim que age sobre a angiogênese, diminuindo a formação de novos vasos no local da lesão neoplásica. 15 Proliferação Celular Hanna Briza Obs: Tratamento da doença localmente avançada: ▪ Tumores operáveis: mastectomia com esvaziamento axilar para depois fazer uso de quimioterapia adjuvante. ▪ Tumores inoperáveis: quimioterapia neoadjuvante e, só depois, a cirurgia. FORMAS ESPECIAIS DE CÂNCER DE MAMA DOENÇA DE PAGET É o tipo de câncer de mama que se caracteriza clinicamente pela presença de uma lesão eczematoide e crostrosa, de coloração avermelhada, no mamilo e na aréola. Pode estar associada ou não a doença palpável. Histologicamente, caracteriza-se por células grandes, com citoplasma pálido e núcleos grandes, irregulares e hipercromáticos. O diagnóstico diferencial mais importante deve ser feito com o eczema da aréola, geralmente de natureza alérgica. O tratamento consiste na mastectomia radical. CÂNCER DE MAMA NO HOMEM Ocorre em cerca de 1% dos casos de câncer de mama. Caracteriza-se geralmente por um nódulo endurecido, retroareolar e indolor. Pode haver retração do mamilo e da aréola, saída de secreção hemorrágica e ulceração. O diagnóstico, apesar de ser mais precoce do que na mulher, devido ao escasso parênquima glandular, muitas vezes é retardado pelo não-comparecimento do paciente ao médico, que pensa tratar-se de alterações sem gravidade. O diagnóstico diferencial mais importante é com a ginecosmastia (que é mais frequente, de acometimento bilateral, mas que também pode ser unilateral). A mamografia e a ultrassonografia são muito úteis na propedêutica, que se completa com a cito-punção e a biópsia. O tratamento básico é a cirurgia de Patey (retirada da mama acometida e de seus respectivos linfonodos, preservando as massas musculares), nos casos sem infiltração do músculo peitoral maior ou a cirurgia de Halsted (retirada da mama comprometida, dos músculos peitoral maior e menor e dos linfonodos axilares, tudo em monobloco), nos casos com infiltração. CARCINOMA INFLAMATÓRIO É uma das formas mais graves de câncer de mama devido à rapidez com que se desenvolve. Caracteriza-se pela presença de êmbolos tumorais nos vasos linfáticos subdérmicos, representando-se clinicamente por eritema, edema, tumefação, calor e dor. A sua incidência é baixa. Com a evolução do quadro clínico, o eritema passa a acometer toda a mama, com coloração variando de vermelha a púrpura; a mama fica endurecida e pode ocorrer ulceração, retração de papila e aréola e edema cutâneo (com aspecto de casca de laranja). Apresenta metástases auxiliares rapidamente, evoluindo a seguir com metástases em fossa supraclavicular e metástases a distância. O diagnóstico diferencial deve ser feito com a mastite aguda (esta geralmente ocorre em mulheres na fase puerperal, associada à dor intensa, febre e leucocitose), com a doença de Paget nas fases mais avançadas e com mastite de células plasmáticas. O tratamento básico para o carcinoma inflamatório não disseminado é iniciado com a quimioterapia antineoplásica (três ciclos com esquema FAC); nos casos com remissão completa, o tratamento é completado com radioterapia e mais oito ciclos de FAC; nos casos com remissão parcial, mastectomia radical (em última instância) e mais oito ciclos de FAC; nos casos sem remissão, radioterapia, mastectomia radical e quimioterapia antineoplásica.
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