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Tutorial 8: Lar de idosos 1. Estudar a incontinência urinária nos idosos e as consequências em sua qualidade de vida. Define-se a Incontinência Urinária (IU) como perda involuntária de qualquer volume de urina. Além da uretra, é possível haver extravasamento de urina de fontes extrauretrais, como fístulas ou malformações congênitas do trato urinário inferior. Os sintomas estão relacionados ao armazenamento (enchimento vesical), esvaziamento da bexiga (sintomas miccionais) e sintomas pós-miccionais. A incontinência urinária é uma condição altamente prevalente na população idosa. Considerada uma das grandes SÍNDROMES GERIÁTRICAS, compromete a qualidade de vida dos indivíduos afetados, familiares e cuidadores, além de acarretar aumento dos custos em saúde e resultar em institucionalizações precoces. A literatura faz referências à tendência de isolamento social ao qual estão sujeitos os incontinentes, e há indícios de que esses sentem-se mais solitários que os continentes. • ANATOMIA ➢ BEXIGA A bexiga é um órgão musculoelástico, oco, recoberto por epitélio transicional. Sua função primordial é servir de reservatório, sem dor ou extravasamento, para urina que é recebida de forma constante pela filtração glomerular (10 a 70 ml/h), para posteriormente eliminá-la com controle voluntário. Divide-se em CORPO e BASE (colo), os quais estão separados pelos ORIFÍCIOS URETERAIS. Como a base possui musculatura mais espessa, costuma ser menos distensível que o corpo durante o enchimento do órgão. O epitélio transicional faz referência à “transição” entre o epitélio cilíndrico simples do sistema tubular renal e o epitélio estratificado do terço distal da uretra. Na bexiga, possui três a sete camadas. A CAMADA SUPERFICIAL é composta por células especiais (“células em guarda- chuva”), de maior tamanho e forma plana. As células das CAMADAS MAIS PROFUNDAS têm o formato cilíndrico. Abaixo do epitélio e de sua membrana basal, está a LÂMINA PRÓPRIA (tecido conjuntivo frouxo) e, em seguida, a CAMADA MUSCULAR denominada de músculo detrusor da bexiga. Esse músculo constitui as paredes vesicais e é responsável pelo relaxamento e contração do órgão. As camadas externa e interna do músculo apresentam disposição longitudinal. A camada intermediária tem disposição circular. Essa musculatura apresenta rica inervação PARASSIMPÁTICA. O TRÍGONO VESICAL localiza-se na base da bexiga. É limitado superiormente pelos orifícios ureterais e inferiormente pela uretra proximal (óstio uretral interno). ➢ URETRA Apresenta luz virtual, que permanece ocluída, exceto durante a micção. Esse mecanismo é atribuído ao tônus da musculatura uretral, que mantém adequada pressão, associado aos fatores intrínsecos e extrínsecos da uretra, com inervação sensorial, autonômica e somática. O EPITÉLIO da uretra varia de epitélio escamoso estratificado (próximo ao meato uretral externo) a epitélio transicional (próximo à bexiga). Além do epitélio que forma extensas fibras longitudinais, a parede uretral é constituída por: Camada circular externa de músculo estriado que representa o esfíncter externo da uretra; Camada interna de musculatura lisa que se continua com a musculatura lisa do colo vesical. Sua VASCULARIZAÇÃO é proeminente, maior que a necessária para a provisão do órgão e possui papel relevante na pressão de fechamento uretral. • EPIDEMIOLOGIA O sexo feminino é o mais acometido (para todas as faixas etárias estudadas) devido a causas anatômicas e que o envelhecimento aumenta tanto a prevalência quanto a gravidade dos casos. 30 a 60% das mulheres idosas e 10 a 35% dos homens idosos na comunidade e até 80% dos institucionalizados têm incontinência urinária. • FISIOLOGIA O Trato Urinário Inferior é inervado por três fontes: as divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo e os neurônios do sistema nervoso somático. A MICÇÃO é um processo complexo e dinâmico cuja fisiologia envolve a integração de nervos periféricos, medula e centros encefálicos em córtex cerebral, ponte, bulbo e mesencéfalo. Estes CENTROS SUPERIORES dirigem aos órgãos do trato urinário inferior influências neurológicas excitatórias e inibitórias e recebem aferências sensitivas desses órgãos, como veremos a seguir. Centros controladores em áreas corticais (giros frontal e cingulado) e subcorticais promovem influência inibitória da micção em NÍVEL PONTINO e influência excitatória do ESFÍNCTER URETRAL EXTERNO, permitindo o controle voluntário da micção. Desta maneira, o esvaziamento vesical pode ser retardado até que se obtenham local e momento apropriados. O CENTRO PONTINO DA MICÇÃO (CPM) é essencial para a coordenação de todo o processo, graças à modulação dos efeitos opostos dos sistemas nervosos simpático e parassimpático no trato urinário inferior. Na FASE DE ESVAZIAMENTO VESICAL o CPM envia estímulos excitatórios (SNP) para MEDULA SACRAL e inibitórios (SNS) para COLUNA TORACOLOMBAR, enquanto na FASE DE ENCHIMENTO esse processo se inverte. a) A INERVAÇÃO SIMPÁTICA DO TUI emerge da medula em nível de T11 a L2, fazendo sinapses nos plexos hipogástrico e mesentérico inferior, antes de prosseguir pelo nervo hipogástrico até os receptores beta adrenérgicos (corpo vesical) e alfa adrenérgicos (colo vesical e uretra proximal). Fibras nervosas simpáticas também dirigem-se a gânglios parassimpáticos na parede do detrusor, exercendo ali efeito inibitório. A ativação das eferências simpáticas toracolombares produz liberação de NOREPINEFRINA no TUI, resultando em relaxamento do músculo detrusor (receptores β3) e contração do esfíncter uretral interno (receptores α1). b) A INERVAÇÃO PARASSIMPÁTICA origina-se de neurônios localizados na coluna intermediolateral dos segmentos S2-S4 da medula, sendo conduzida por meio de fibras pré-ganglionares pelo nervo pélvico até os gânglios do plexo pélvico. Este dá origem às fibras pós-ganglionares que se dirigem à bexiga. A ACETILCOLINA liberada pela ativação desses neurônios produz contração do detrusor pela ativação dos receptores M2 e M3 muscarínicos. Na uretra proximal o estímulo parassimpático promove a liberação de ÓXIDO NÍTRICO, o que leva ao relaxamento da musculatura lisa do esfíncter uretral interno. A ativação sacral parassimpática produz acetilcolina e oxido nítrico que resultam em contração detrusora e relaxamento da uretra proximal. c) A INERVAÇÃO SOMÁTICA do esfíncter uretral externo emerge do núcleo de onuf, localizado no corno anterior de um ou mais segmentos da medula espinal sacral (S2-S4), e prossegue pelo nervo pudendo, sem conexões com gânglios periféricos, até o esfíncter estriado. Há evidências de que o esfíncter uretral externo também receba influências simpática e parassimpática a partir de ramos dos nervos hipogástrico e pélvico. Durante a FASE DE ENCHIMENTO, a distensão da bexiga ativa neurônios sensitivos na parede vesical. Estes levam impulsos aferentes a centros controladores supraespinais (já mencionados anteriormente), produzindo a inibição do centro pontino da micção e ativação dos neurônios motores no núcleo de Onuf com consequente contração da musculatura estriada do esfíncter uretral externo via nervo pudendo. Simultaneamente ocorre ativação reflexa simpática (T11-L2) e, através do nervo hipogástrico, contração da musculatura lisa da uretra. O parassimpático é inibido e o detrusor relaxa, permitindo o armazenamento da urina. d) Inversamente, durante a FASE DE ESVAZIAMENTO VESICAL impulsos eferentes provenientes do CPM provocam inibição das fibras somáticas do núcleo de Onuf e relaxamento voluntário da musculatura estriada do esfíncter externo. Estes impulsos promovem também inibição simpática pré-ganglionar e estimulação parassimpática, resultando em contração do detrusor por meio dos receptores muscarínicos já descritos anteriormente. • IMPACTO DO ENVELHECIMENTO Entre as características que deixam o idosos maissuscetível destacam-se: a) Aumento nas fibras de colágeno na bexiga, acarretando diminuição da sua elasticidade; b) Os receptores de pressão também se alteram, explicando o surgimento de contrações intempestivas durante a fase de enchimento vesical; c) Hiperatividade do detrusor foi encontrada em 21% de idosos saudáveis e continentes na comunidade; d) A uretra torna-se mais fibrosa, menos flexível e com perda de sua densidade muscular, o que pode acarretar falha esfincteriana; e) Na mulher, o hipoestrogenismo contribui para menor irrigação dos tecidos. A mucosa uretral se atrofia e resseca, tornando-se mais sensível a infecções, o que favorece irritação dos receptores de pressão. f) Na vagina, as carências hormonais, a diminuição ou mesmo a ausência de atividade sexual, assim como as sequelas do parto e das intervenções ginecológicas, interferem na qualidade dos tecidos vaginais, no pH e na flora, favorecendo infecções; g) O períneo é fragilizado por diversas razões: envelhecimento muscular, carências hormonais, partos, gravidez, sequelas de intervenções uroginecológicas ou radioterapia pélvica. Alguns sintomas crônicos, tais como tosse e constipação intestinal, podem exercer pressão sobre essa fáscia muscular; h) No homem a hipertrofia benigna da próstata constitui o principal fator relacionado com alterações do fluxo urinário. A formação de um obstáculo urinário pode se manifestar por jato fraco, gotejamento terminal, aumento na frequência e noctúria; i) O envelhecimento renal provoca, por sua vez, diminuição do número de néfrons e, por consequência, uma redução da capacidade de concentrar urina. Esse fenômeno, junto com a diminuição da secreção de hormônio antidiurético, contribui para o aumento da frequência urinária. • CLASSIFICAÇÃO A continência é uma condição multifatorial que depende da integridade não apenas do trato urinário inferior e seu controle neurológico, descritos anteriormente, como também de cognição, mobilidade, destreza manual e motivação. Além disso, comorbidades clínicas e medicamentos podem influenciar a continência. Enquanto, em indivíduos jovens, incontinência normalmente resulta de disfunção do trato urinário inferior de maneira isolada, em idosos é comum a sobreposição de diversas causas. ➢ INCONTINÊNCIA URINÁRIA TRANSITÓRIA Caracteriza-se pela perda de urina precipitada por insulto psicológico, medicamentoso ou orgânico, que cessa ou melhora após o controle do fator desencadeante. As CAUSAS de incontinência urinária transitória e que são potencialmente reversíveis podem ser resumidas pelo mnemônico DIURAMID. O DELIRIUM, estado confusional agudo caracterizado por flutuação da consciência e desorientação, é extremamente prevalente entre idosos e a incontinência pode ser seu primeiro sinal. As INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO INFERIOR (“I”), por causar inflamação da mucosa vesical e consequente aumento da aferência sensitiva, podem contribuir para bexiga hiperativa e incontinência urinária. De maneira similar, a carência de estrógenos em idosas pode levar a URETRITE E VAGINITE ATRÓFICA (“U”), gerando irritação local e risco aumentado de infecções, bexiga hiperativa e incontinência urinária. Condições que cursem com RESTRIÇÃO DE MOBILIDADE (“R”) embora facilmente compreensíveis, são frequentemente subestimadas. Além das causas óbvias como artroses, paresias, imobilizações, outras como hipotensão postural e pós- prandial, calçados inapropriados e medo de cair podem dificultar a chegada ao toalete e justificar episódios de incontinência. O “A” refere-se a condições que cursam com AUMENTO DO DÉBITO URINÁRIO tais como: ingesta excessiva de fluidos, diuréticos, distúrbios hidroeletrolíticos (hiperglicemia, hipercalcemia), insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência venosa periférica, hipoalbuminemia. O “M” corresponde a lista de MEDICAMENTOS que, por diversos mecanismos, afetam a continência (Quadro 68.2). É uma das causas mais comuns em idosos. A IMPACTAÇÃO FECAL também contribui para sintomas urinários, provavelmente por irritação local ou compressão direta sob a parede vesical. O último “D”, por fim, corresponde aos diversos DISTÚRBIOS PSÍQUICOS (depressão, demência, psicose) que podem interferir na capacidade do paciente em reconhecer e responder adequadamente à sensação de bexiga cheia. Um paciente com depressão grave, por exemplo, pode perder a motivação para procurar um local apropriado para urinar. ➢ INCONTINÊNCIA URINÁRIA ESTABELECIDA a) INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESTRESSE Perda involuntária de urina que ocorre com o aumento da pressão intra-abdominal (tosse, espirro, atividade física) na ausência de contrações vesicais. É a principal causa em mulheres jovens e os mecanismos envolvidos são: HIPERMOBILIDADE URETRAL decorre do comprometimento do suporte anatômico dos órgãos pélvicos resultando em descenso e rotação do colo vesical e uretra proximal com incapacidade de fechamento adequado contra a parede vaginal anterior; fatores de risco incluem obesidade, partos vaginais, hipoestrogenismo e/ou cirurgias. A DEFICIÊNCIA ESFINCTERIANA INTRÍNSECA é a perda do tônus do esfíncter uretral secundária a lesão neuromuscular (trauma cirúrgico) ou atrofia uretral. No homem, a incontinência urinária de estresse é incomum. Quando presente, ocorre por DEFICIÊNCIA ESFINCTERIANA INTRÍNSECA secundária a cirurgias prostáticas (principalmente a prostatectomia radical) e mais raramente traumas pélvicos e lesões neurológicas (trauma raquimedular, espinha bífida). b) INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE URGÊNCIA É o tipo mais comum de incontinência estabelecida em idosos na comunidade. Caracteriza-se pela perda de urina precedida ou acompanhada de um desejo imperioso de urinar (urgência). A PERDA URINÁRIA é variável e depende da função do esfíncter uretral e da capacidade do paciente em suprimir a urgência. Acredita-se que resulte da hiperatividade do detrusor levando a contrações involuntárias deste durante a fase de enchimento vesical. Entre as CAUSAS destacam-se os transtornos neurológicos, anormalidades vesicais e idiopática. Em idosos, a hiperatividade do detrusor pode ocorrer em pacientes cuja contratilidade vesical está preservada e em pacientes com comprometimento da contratilidade da bexiga associado. Essa condição conhecida como “HIPERATIVIDADE DO DETRUSOR COM HIPOCONTRATILIDADE” é a mais frequente em idosos frágeis, cursa com volumes residuais pós-miccionais elevados e seu reconhecimento é importante para diferenciar outras causas de retenção urinária. BEXIGA HIPERATIVA é uma síndrome que inclui urgência urinária com ou sem incontinência, frequência elevada (oito ou mais micções em 24 h) e noctúria (dois ou mais despertares para urinar). c) INCONTINÊNCIA URINÁRIA POR HIPERFLUXO OU TRANSBORDAMENTO Incontinência que decorre de inabilidade de esvaziamento vesical devido a hipocontratilidade do músculo detrusor, a obstruções uretrais ou ambos. Em homens idosos a causa mais frequente é a obstrução uretral secundária a HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA. Na mulher é condição bem menos frequente; quando presente decorre de obstruções da via de saída após CIRURGIAS ANTIINCONTINÊNCIA ou PROLAPSOS GENITAIS GRAVES. Em idosos de ambos os sexos, impactação fecal e hipocontratilidade vesical secundária a neuropatia autonômica (cistopatia diabética) ou medicamentos com ação anticolinérgica também são causas frequentes. d) INCONTINÊNCIA URINÁRIA MISTA É a coexistência de mais de um tipo de incontinência no mesmo paciente. Condição frequente entre idosos, especialmente nas mulheres que apresentam hiperatividade do detrusor e deficiência esfincteriana associadas. e) INCONTINÊNCIA FUNCIONAL Tipo distinto de incontinência atribuído a fatores externos ao trato urinário, tais como comprometimento cognitivo, fatores ambientais que dificultem a chegada ao toalete, limitações físicase psíquicas. • ABORGADEM A avaliação do paciente com incontinência urinária deve ser sistemática e incluir anamnese detalhada, exame físico e avaliação complementar. ➢ ANAMNESE Importantes elementos a se considerar na história incluem características da perda urinária, quantidade, gravidade e sintomas associados (frequência, noctúria, urgência, esforço, hesitação). O DIÁRIO MICCIONAL consiste no registro da ingesta de líquidos, frequência, volume urinário, episódios de perda e circunstâncias a ela associadas nas 24 h. Informações adicionais como dor, hematúria, infecções recorrentes, prolapsos de órgãos pélvicos em mulheres, cirurgias prévias, radiação pélvica, suspeita de fístulas devem ser investigadas. Atenção especial às comorbidades clínicas e à lista de medicamentos utilizados pelo paciente. a) EXAME FÍSICO: O exame físico deve ser completo e incluir: Avaliação cognitiva, da mobilidade e funcionalidade do paciente; Exame neurológico detalhado que inclua avaliação de reflexos, sensibilidade, integridade das vias sacrais (reflexo bulbocavernoso); Toque retal para avaliação do tônus esfincteriano, presença de massas, fecalomas (em ambos os sexos) e avaliação prostática em homens; Exame pélvico, inspeção de prolapsos e atrofia genitais em mulheres; Teste de estresse: simples, pode ser realizado no consultório e pode documentar incontinência urinária de estresse. A paciente deve estar na posição supina, com a bexiga cheia e tossir vigorosamente. Se ocorrer perda simultânea sugere deficiência esfincteriana intrínseca, se a perda ocorrer alguns segundos após sugere contração detrusora induzida pela tosse. b) EXAMES LABORATORIAIS: Todos os pacientes com queixa de incontinência urinária devem realizar um sumário de urina para investigação de sinais de infecção, hematúria e glicosúria. Pacientes selecionados deverão realizar dosagem de eletrólitos, glicemia, ureia e creatinina de acordo com a suspeita clínica. c) MEDIDA DO VOLUME RESIDUAL PÓS-MICCIONAL: Útil para excluir retenção urinária significativa. Pode ser realizada por cateterização vesical ou ultrassonografia. Embora não seja necessária em todos os pacientes, aqueles com ALTO RISCO de retenção urinária como os portadores de diabetes, doenças neurológicas, sinais de hesitação miccional, antecedentes de retenção urinária e uso de anticolinérgicos devem realizá-la. Um valor maior que 200 m ℓ está associado a esvaziamento vesical inadequado e o paciente deve ser encaminhado ao especialista. d) ESTUDO URODINÂMICO: É um exame caro e invasivo; tem como objetivo avaliar a qualidade das contrações vesicais e dos esfíncteres uretrais. Compreende as seguintes etapas: cistometria, medida da pressão de perda sob esforço e urofluxometria. e) CISTOSCOPIA: Deve ser realizada quando houver suspeita de fístulas ou de outras patologias associadas (presença de hematúria, dor ou desconforto pélvico). • TRATAMENTO O manejo terapêutico deve ser individualizado, valorizando-se o tipo de incontinência, as condições médicas associadas, a repercussão, as preferências do paciente, a aplicabilidade, os riscos e os benefícios. O primeiro passo do tratamento consiste em estabelecer metas e objetivos a serem atingidos visando à melhora global na qualidade de vida do paciente. Alguns exemplos dos benefícios que a terapia pode proporcionar são: diminuição de sintomas como frequência, urgência e noctúria, diminuição no número de fraldas, absorventes, reinserção social e retardo em institucionalizações. ➢ TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO MÉTODOS CONSERVADORES: mudanças do estilo de vida e as terapias comportamentais. São tratamentos simples, sem efeitos adversos e de baixo custo. Em pacientes de idade avançada se deve priorizar a correção de fatores contribuintes como as comorbidades, a deterioração funcional e as iatrogenias medicamentosas. Dentre as intervenções sobre o estilo de vida destacam-se: perda de peso, não ingerir líquidos de forma abundante, evitar cafeína, álcool e tabaco, além de eliminar as barreiras físicas de acesso ao banheiro. As terapias comportamentais incluem exercícios para os músculos pélvicos (exercícios de Kegel), treinamento vesical, diário miccional, biofeedback e eletroestimulação. ➢ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO a) MEDICAÇÕES DE AÇÃO MISTA Propiverina: medicamento anticolinérgico usado para o tratamento da urgência urinária, frequência e incontinência de urgência, todos os sintomas da síndrome da bexiga hiperativa. É um antagonista muscarínico. 1x ao dia. Oxibutinina: medicamento anticolinérgico. 5 mg 12/12 h. Esse medicamento atua na incontinência urinária por quatro mecanismos diferentes: Potente ação antimuscarínica e não seletiva para os receptores muscarínicos vesicais; Leve ação no relaxamento do músculo liso mediante bloqueio dos canais de cálcio; Propriedades anestésicas locais; Propriedades anti-histamínicas. Solifenacina: agente antimuscarínico seletivo da bexiga, o qual tem maior especificidade para os receptores M3, quando comparados aos receptores M2, e tem maior potência contra os receptores M3 em músculo liso do que contra os receptores M3 em glândula salivar. 5 a 10 mg/24 h Tolterodina: É uma antagonista do receptor muscarínico com relativa seletividade pelos receptores da bexiga, atuando mais sobre estes do que sobre os receptores das glândulas salivares. 2 mg/12 h Trospium: Seu mecanismo de ação atua de maneira não seletiva sobre os receptores muscarínicos. Está disponível em formulações orais de liberação prolongada e imediata. 20 mg/12 h Darifenacina: antagonista altamente seletivo do receptor M3. 7,5 a 15 mg/dia Fesoterodina: É um antagonista competitivo do receptor muscarínico. Depois da administração oral, o composto é rapidamente convertido no seu metabólito ativo, a 5hidroximetiltolterodina, o qual é responsável por sua atividade antimuscarínica. 4 a 8 mg/24 h Propantelina: É um composto de amônio quaternário com uma ação antimuscarínica não seletiva. b) AGONISTAS DOS BETA-ADRENORRECEPTORES Mirabegron: Age ativando os beta-3-adrenorreceptores, relaxando o músculo detrusor e aumentando a capacidade vesical. Utilizado na incontinência urinária de urgência e bexiga hiperativa. Reduz a frequência e o número de episódios de incontinência urinária. A dose inicial recomendada é 25 mg/dia. Em pacientes com doença renal em estágio terminal ou com doença hepática grave, o uso desse medicamento não é recomendado. Os efeitos adversos relatados mais comuns são: distúrbios gastrintestinais, incluindo constipação intestinal, boca seca, dispepsia e náuseas. Agonista de receptor vaniloide: Estes receptores estão presentes nos neurônios sensoriais aferentes que inervam o detrusor e a uretra. Após a dessensibilização das fibras neurais da bexiga, a medicação suprime as contrações involuntárias do detrusor. c) INCONTINÊNCIA DE ESTRESSE Lembrando que a realização dos exercícios de Kegel demonstrou taxas de cura ou melhora aos 3 a 6 meses, de maneira que se considera esse tratamento como de primeira linha. Alfa-adrenérgicos (efedrina, fenilefrina): Estimulam a contração do músculo liso uretral. Porém, elevada taxa de efeitos adversos (arritmias cardíacas e hipertensão). Antidepressivos tricíclicos: Utilizam-se por seus efeitos anticolinérgicos e alfa-agonista. Duloxetina: É um potente antidepressivo inibidor da recaptação da norepinefrina e da serotonina. Sua capacidade de estimular o neurônio motor alfa-adrenérgico pudendo (núcleo de Onuf na medula espinal sacral) aumenta a contratilidade do esfíncter estriado uretral. A cirurgia é o tratamento de eleição para os pacientes que não responderam ao tratamento não farmacológico e para as IUE graves. O tratamento é baseado na utilização de faixas suburetrais de suporte (slings). Podemos usar também os esfíncteres artificiais. d) INCONTINÊNCIA DE URGÊNCIA Anticolinérgicos: São os mais utilizados no tratamento da incontinênciaurinária de urgência (IUU) e constitui a primeira linha de tratamento na bexiga hiperativa. Atuam bloqueando os receptores muscarínicos e deprimindo as contrações involuntárias do músculo detrusor. Os mais usados são fesoterodina e solifenacina. Antidepressivos: Normalmente, as doses empregadas são inferiores às utilizadas na depressão, portanto a toxicidade tende a ser menor. A imipramina é a mais estudada. Toxina botulínica. A toxina botulínica injetada no músculo detrusor, mediante cistoscopia, pode aliviar os sintomas da IU refratária ao tratamento anticolinérgico. Uma limitação importante é a elevada taxa de retenção urinária após o tratamento. e) INCONTINÊNCIA POR TRANSBORDAMENTO O tratamento mais efetivo é a cirurgia que é a melhor forma de tratar as dificuldades causadas por um útero miomatoso ou uma hiperplasia benigna de próstata. Uma alternativa à cirurgia para diminuir ou eliminar a urina residual é a sondagem intermitente. Até o momento da intervenção cirúrgica ou, no caso de não estar indicada, podem-se utilizar os fármacos. Utilizam-se alfa-bloqueadores e agonistas parassimpáticos, porém os dados da eficácia são controvertidos. 2. Estudar a relação entre a doença de Parkinson e os distúrbios miccionais. O SISTEMA NERVOSO é responsável pela coordenação precisa dos diferentes órgãos do trato urinário, garantindo a continência urinária durante o enchimento da bexiga e o esvaziamento completo da mesma durante a micção. Doenças ou traumatismos de diferentes partes do sistema nervoso podem afetar a coordenação dos órgãos do trato urinário e acarretar variadas formas de distúrbios da micção. Por serem causados por problemas neurológicos, os distúrbios da função vesical nestes pacientes também recebem o nome de “BEXIGA NEUROGÊNICA”. Entre as doenças neurológicas que mais frequentemente cursam com distúrbios do controle da micção destacam-se os acidentes vasculares cerebrais (derrames), a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, o traumatismo raquimedular (paraplégicos ou tetraplégicos) e outras. Em relação a DOENÇA DE PARKINSON, os sintomas urinários podem ser causados ou influenciados por diversos fatores: disfunção vésico-uretral decorrente de alteração neurológica própria da doença de Parkinson; alterações cognitivas que resultem em perda da percepção dos eventos miccionais; déficit motor incapacitante; e efeitos colaterais de medicamentos antiparkinsonianos (maioria tem efeito α-agonista). A fisiopatologia dos distúrbios do movimento é atribuída a uma disfunção nos núcleos da base. Acredita-se que estes núcleos sejam responsáveis pela modulação e facilitação de vários programas motores e cognitivos de origem cortical. Os corpos de Lewy são uma característica histopatológica da DP que pode ainda ser encontrada no locus ceruleo e em outras áreas, inclusive em neurônios autonômicos periféricos Na doença de Parkinson, pode ocorrer espasticidade do assoalho pélvico, onde os distúrbios de esvaziamento são predominantes e, nestes casos, o cateterismo intermitente, associado ou não a anticolinérgicos, deve ser instituído. O acometimento do sistema nervoso periférico pela presença de corpos de Lewy no sistema nervoso autonômico em pacientes com a DP avançada poderia explicar alterações urinárias esfincterianas e alguns casos de hiporreflexia do músculo detrusor da bexiga. Lewin e Porter, em 1965, demonstraram que a estimulação elétrica do globo pálido (faz parte dos gânglios da base) em gatos induz à inibição das contrações espontâneas da bexiga. Lesões neurológicas afetando esses núcleos resultam em diminuição do controle inibitório voluntário sobre o reflexo da micção produzindo HIPERREFLEXIA DETRUSORA, justificando as contrações desinibidas do músculo detrusor, desencadeadas a um baixo volume de urina. Esses efeitos inibitórios são exercidos por neurônios dopaminérgicos mediados pelos receptores D1, sobre o reflexo da micção. Segundo Araki e Kuno, a degeneração dos neurônios dopaminérgicos poderia promover sintomas irritativos urinários na DP, devido à perda dos impulsos inibitórios da substância negra sobre o centro pontino da micção, já que os núcleos da base, incluindo a substância negra, têm efeitos inibitórios sobre os reflexos da micção. 3. Entender os determinantes do asilamento no idoso na nossa sociedade. A necessidade de cuidados além dos domicílios deve-se à instalação de agravos crônicos com suas complicações e à indisponibilidade dos familiares no suporte contínuo que idosos dependentes necessitam, seja pela dificuldade em permanecer em casa por tempo integral, seja por impossibilidade de contratar profissionais especializados. Quanto aos motivos que leva m à institucionalização, encontram-se resultados distintos. No estudo, os fatores mais citados por familiares quando decidem institucionalizar o idoso são o número reduzido de integrantes da família, ausência de condições físicas, financeiras e psicológicas para prestar o cuidado em domicílio e o desejo do próprio idoso em não perturbar seus familiares. Problemas de relacionamento com os familiares, viuvez, múltiplas doenças e síndrome demencial também fazem parte. As Instituições de Longa Permanência (ILPs) no Brasil, apresentam uma realidade precária, isto é, estão muito abaixo das condições mínimas para o envelhecimento bem-sucedido. Quando o idoso passa a residir nestas instituições, ele tem uma drástica redução dos ambientes físico e social. Traz isolamento, inatividade física e mental, e, por conseguinte uma redução da qualidade de vida. 4. Conhecer a realidade do acesso do idoso aos serviços de saúde. ainda que tenha experimentado, com sucesso, uma série de avanços – como a sua difusão para a quase totalidade das cidades, o aumento da cobertura populacional e a estruturação da Estratégia Saúde da Família (ESF) –, ainda enfrenta problemas, e seu escopo de atuação, diferentemente do observado no discurso oficial das políticas, privilegia o manejo de doenças crônicas, com uma perspectiva predominantemente biomédica. Assim, em que pese aos avanços e à consolidação das políticas públicas de saúde, especialmente aquelas ligadas à APS, permanece o grande desafio à garantia da integralidade no cuidado ao idoso. A organização da atenção à saúde do idoso no âmbito da APS não deve privilegiar o diagnóstico e o tratamento de doenças, mas, antes, importa que os atores envolvidos ofertem um cuidado a esse grupo populacional, que contemple, adicionalmente, a promoção à saúde e ações preventivas e curativas, articuladas, de modo a garantir a integralidade. Ainda há escassez de estudos que objetivamente definam integralidade, o que, por consequência, dificulta a sua implementação. Nessa perspectiva, a integralidade da atenção ao idoso, no âmbito da APS, precisa incorporar, de fato, uma visão ampliada do indivíduo. É preciso chamar a atenção dos profissionais sobre a importância da observação de aspectos cognitivos, de humor, mobilidade e comunicação como domínios essenciais à saúde, ampliando o escopo de sua atuação para além das clássicas doenças crônicas.
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