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– – REMIT – RESPOSTA ENDOCRINO METABÓLICA E IMUNOLÓGICA AO TRAUMA Agressões deflagradas contra o organismo humano, independente da causa ou mecanismo, mobilizam um complexo conjunto de respostas que são iniciadas imediatamente e que se mostram fundamentais para a manutenção da homeostase e da vida. Sendo assim, não importa se a agressão está relacionada com a intencionalidade que resulta no trauma como, por exemplo, o que se verifica no ato cirúrgico, ou se resulta de uma casualidade relacionada a acidentes que poderão resultar em processos hemorrágicos e acometimentos teciduais diversos. Dessa forma, a chamada “REMIT” (Resposta Endócrino, Metabólica e Imunológica ao Trauma) refere-se justamente ao conjunto de reações de natureza endócrina, metabólica e imunológica desenvolvidas pelo organismo para tentar manter a homeostasia em circunstâncias relacionadas, como já mencionado, a traumas de etiologias diversas e desencadeadas por vários componentes, como perda sanguínea, lesão tecidual, ansiedade e dor. Estímulos nociceptivos são os gatilhos essenciais para dar início a tal resposta, variando de acordo com o tipo de trauma e a qualidade do mecanismo desencadeante. A fim de alcançar seu objetivo primordial, a REMIT precisa desencadear estratégias que visem a geração de energia, a manutenção de um volume efetivo intravascular, além de hipermetabolismo. Assim, torna-se premente a necessidade de promover estabilidade hemodinâmica, preservação do aporte de oxigênio, mobilização de substratos calóricos (glicose), além da redução da dor e manutenção da temperatura. O objetivo da REMIT é manter a homeostasia, reparando tecidos, contendo sangramentos a fim de restaurar a homeostase. A REMIT atua em situações onde se deflagrou uma resposta inflamatória, isto é: em traumas, infecções e cirurgias. Para que ocorra essa reposta é preciso de três fatores: - SNA íntegro, hipotálamo e hipófise íntegros e sincronizados. Como funciona: – – Quando temos um trauma, lesão tecidual, são acionados os nociceptores. São receptores da dor, a porção aferente, que quando acionados conduzem a informação ao hipotálamo que será o elemento que vai coordenar. O hipotálamo recebe a informação e coordena para onde cada informação deve ir. A porção eferente é a resposta do hipotálamo através da liberação de hormônios liberadores de outros hormônios, principalmente da hipófise, que deflagram a secreção hormonal. Na porção eferente temos dois eixos importantes: - Eixo autonômico-adrenal: tem a função de manter o fluxo sanguíneo adequado no local lesado. Então em momentos que ocorram sangramentos, ele atuará formando uma resposta a fim de controlar a situação. - Eixo hipotálamo-hipofisário: altera o metabolismo para focar no local da lesão, o objetivo é fornecer todo o substrato necessário para que ela se restaure da maneira adequada. Isso pode custar tecidos que estão em pleno funcionamento, para fornecer os substratos. A REMIT é uma resposta extremamente necessária para a homeostase corporal, mas é importante que se monitore o paciente pós trauma pois essa reposta pode ocorrer de maneira exacerbada, causando problemas para o paciente. O primeiro processo pós trauma que ocorre é a glicogenólise, quebra do glicogênio para fornecer glicose, a nível de fígado e músculo. Quando o estoque de glicogênio acaba, é preciso iniciar outra cascata de eventos para fornecer energia, que ocorrerá através da proteólise e lipólise (gliconeogênese). Esse processo de quebra para fornecer energia é caracterizada pela fase catabólica da resposta ao trauma. Durante cerca de 2 a 3 dias pós trauma, teremos a resposta catabólica, sendo o terceiro dia o dia do pico. - Nessa fase teremos a suprarrenal atuando através da resposta hipotalâmica, produzindo adrenalina e noradrenalina. E teremos os seguintes efeitos: – – - Taquicardia, hipertensão, taquipneia, atonia intestinal, oligúria e hipercoagulabilidade. Outro elemento da resposta é a ativação do ACTH e cortisol: - Como efeito teremos: redução de massa magra, hiperglicemia, formação de corpos cetônicos, balanço nitrogenado negativo e proteínas de fase aguda que são as interleutinas e os TNFs. ACTH e Sistema Renina Angiotensina Aldosterona: - Como efeito teremos retenção hídrica, hipernatremia, hipocalemia e alcalose. ADH: - Teremos como efeito a hiperglicemia, o ADH também será responsável pela oligúria, o paciente terá retenção e urina concentrada. GH: - Terá como efeito a hiperglicemia e a formação de corpos cetônicos. Condensando o que acontece na fase catabólica: O objetivo é promover a hiperglicemia para que se tenha mais glicose chegando no tecido lesado para que seja utilizada durante o reparo. – – As proteínas de fase aguda são usadas pela resposta inflamatória e a repercussão no organismo é a redução da massa muscular, desencadeia uma resposta inflamatória aguda e lentifica o processo de cicatrização. Essas proteínas fazem o processo de resposta imunológica e estão envolvidas com o processo de inflamação. Teremos o processo de cetose, hipocalemia e balanço hídrico positivo propiciando a formação de edema. Fase anabólica: O objetivo é recuperar o tecido desgastado usado para fazer o reparo da lesão. Nesse momento teremos a recuperação da massa magra e posteriormente, a reposição da massa gorda. O balanço nitrogenado que era negativo, se torna positivo e depois de normaliza. Modulação da REMIT Uma das preocupações do risco cirúrgico é se o paciente é capaz de tolerar a REMIT. E ainda que o paciente seja capaz de tolerar a REMIT, é preciso fazer um preparo adequado para controlar essa reposta. No trauma acidental não existe um planejamento, de modo que os eventos se sucedem de forma não controlada. Os agravos resultam em lacerações, esmagamentos e avulsões que normalmente estão associados a marcante contaminação. A perda consequente de volume sanguíneo geralmente é significativa, conduzindo a um déficit de perfusão que, se prolongado, pode provocar danos a célula e morte tecidual. Acompanhando tudo isso, temos dor, excitabilidade e medo intensos, justificando uma resposta orgânica mais exuberante. O trauma tecidual eletivo, decorrente de uma cirurgia, obedece a protocolos, configurando procedimentos orientados de forma calculada, planejada e monitorizada. Nessa perspectiva, embora a cirurgia eletiva cause dor, suprima a ingestão de alimentos e comumente leve a ressecção de órgãos e tecidos, o tratamento perioperatório se reveste de importância, uma vez que promove meios para atenuação das eventuais reações que possam ocorrer. Consequentemente, as respostas fisiológicas à cirurgia eletiva são de menor magnitude e menor morbidez e mortalidade quando comparadas ao trauma acidental. Como modular a REMIT: – – - Reduzindo a ferida cirúrgica: o fluxo de células e substâncias inflamatórias é proporcional ao tamanho da ferida cirúrgica. É preferível que a lesão seja a menor possível para que se tenha uma REMIT menor. - Bloqueio anestésico funcional: ao neutralizar o desencadeamento de impulsos nervosos pelos nociceptores, se diminui a resposta. Preparo: Pré-anestésico: reduzir a ansiedade pois ela também deflagra a REMIT. Peri-operatório: anestesia, pode ser geral ou locorregional. Resposta ao jejum: o jejum prolongado também estimula o REMIT por liberar estímulos que são desencadear a liberação de hormônios catabólicos. Manejo no jejum: Soro glicosado 5% 2000ml/dia (500ml de 6/6h). 400kcal/dia (cerca de 100g de glicose).