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INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO56 Plaquetas O treinamento de alta intensidade e de curta duração pode aumentar as plaquetas. O exercício moderado e prolonga- do não parece modificá-las. ADAPTAÇÕES RESPIRATÓRIAS DURANTE O EXERCÍCIO A respiração é uma função vital do organismo, que tem como fim primordial o aporte de O2 da atmosfera até os tecidos e a eliminação de CO2 destes para o exterior. Para isso, o sistema respiratório usa uma série de músculos (músculos respiratórios), que produzem variações de pres- são e volume na cavidade torácica, possibilitando a aeração dos alvéolos. O processo respiratório pode ser dividido em duas fases, uma externa e outra interna. A respiração externa ocorre em três etapas: ventilação pulmonar, que significa troca de ar (entrada e saída) entre a atmosfera e os alvéolos pul- monares; difusão de O2 e CO2 entre os alvéolos e o sangue e perfusão dos alvéolos; e transporte de O2 até as células e de CO2 dos líquidos corporais até o pulmão. A respiração interna, ou respiração celular, implica a utilização de O2 e a produção de anidrido carbônico (CO2) pelos tecidos, reações metabólicas essenciais para a produ- ção de energia a partir dos alimentos. Todas essas etapas da respiração são reguladas e controladas pelos centros res- piratórios. Alguns aspectos merecem ser relembrados: � Os volumes pulmonares variam com a idade, com o sexo, com o tamanho corporal e especialmente com a altura e devem ser avaliados apenas com relação às normas que consideram esses fatores. � A ventilação pulmonar é ajustada para favorecer concentrações alveolares de oxigênio e dióxido de carbono que assegurem a aeração adequada do san- gue que passa pelos pulmões. � Não é possível avaliar o rendimento respiratório em indivíduos sadios a partir das medidas da função pulmonar sempre que estas se encontrem dentro da normalidade, seja em pessoas sedentárias sadias, treinadas ou esportistas de elite. A natação e o mer- gulho são os esportes que mais aumentam a capaci- dade vital e diminuem o volume residual, porque os músculos respiratórios lutam contra a pressão exer- cida pela água e melhoram sua capacidade aeróbia com o treinamento. � Volumes pulmonares acima do normal e capacidades pulmonares em alguns esportistas parecem ser devi- dos ao genótipo. Isso, acompanhado do treinamento específico dos músculos respiratórios, melhora o ren- dimento físico. O treinamento dos músculos respira- tórios favorece a manutenção de altos níveis de ven- tilação submáxima, uma vez que melhora a resis- tência ventilatória ao aumentar o número de enzi- mas aeróbias dos músculos ventilatórios. Assim, consegue-se um retardo no aparecimento da fadiga ventilatória, a qual está relacionada com uma sensa- ção de “falta de ar” e com um mal-estar local provo- cado pelos níveis de lactato sangüíneo. � O volume de ar corrente aumenta durante o exercí- cio, invadindo tanto o volume inspiratório de reserva como o volume expiratório. Em uma inspiração máxi- ma, mesmo quando uma pessoa respira com toda sua capacidade vital, o ar permanece nos pulmões. Esse volume pulmonar residual permite trocas contínuas de gás durante todas as fases do ciclo respiratório. � A ventilação alveolar é a parte da ventilação pulmo- nar por minuto que entra nos alvéolos e está impli- cada na troca gasosa com o sangue. A relação da ventilação alveolar com o fluxo sangüíneo pulmonar denomina-se relação ventilação/perfusão. Em repou- so e durante exercícios leves, a relação mantém-se em torno de 0,8 L. Isso indica que cada litro de san- gue pulmonar se relaciona a uma ventilação alveolar de 0,8 L. No exercício vigoroso, a ventilação alveolar em pessoas sadias aumenta de maneira despropor- cional, e a relação pode alcançar 5 L. � A ventilação pulmonar ou volume ventilatório máxi- mo (VVM) por minuto em repouso é de 6 L, embora possa chegar até 10 L. A fórmula é: VVM = freqüência respiratória × volume de ar corrente = 6 L/min = 12 × 0,5 L O aumento significativo da ventilação pulmonar por mi- nuto resulta de um aumento na profundidade, na freqüên- cia ou em ambas. Durante o exercício vigoroso, a freqüência respiratória de adultos jovens sadios aumenta normalmen- te para 35 a 45 respirações/min (embora tenham sido re- gistradas, em esportistas de elite, freqüências respiratórias tão altas quanto 60 a 76 durante exercício máximo). Volu- mes correntes de 2 L/min são comuns durante o exercício. Homens jovens sadios treinados alcançam, durante um exercício intenso, um volume ventilatório máximo de 140 a 180 L/min, e as mulheres, de 80 a 120 L/min. A diferença diminui nas esportistas de alto rendimento. Foram relata- dos valores de 200 L/min em homens esportistas de compe- tição de alto nível. Diminuem em pacientes com patologia obstrutiva até 40% do considerado normal para sua idade e tamanho corporal. 57MEDICINA DO ESPORTE Regulação da ventilação durante o exercício A realização do exercício produz modificações na dinâmica respiratória que se traduzem em taquipnéia e hiperpnéia (aumento na freqüência e na amplitude respiratórias, res- pectivamente); com isso, pretende-se satisfazer às grandes necessidades de O2 existentes durante a atividade física. Normalmente, existe uma fase precoce de desequilíbrio entre as exigências e os aportes, que é a dívida de O2. Quan- do a demanda é satisfeita, entra em uma fase de equilíbrio entre a captação e o consumo de oxigênio. Se o trabalho é de grande intensidade, chega o momento em que a adap- tação respiratória é insuficiente para compensar as neces- sidades. Nesse caso, volta a se criar a dívida de O2, passa- se ao metabolismo anaeróbio e surge uma intensa dispnéia (sensação de dificuldade para respirar). Nas competições esportivas, costuma-se realizar um tra- balho máximo que cria rapidamente dívida de O2, desem- bocando no metabolismo anaeróbio, o que pode acarretar uma rápida depleção quando as necessidades de O2 supe- ram amplamente os aportes. A dívida criada será compen- sada no período de recuperação, como se verá mais adiante neste capítulo. Embora aumentem tanto a freqüência como a amplitu- de respiratórias, esta última é a que mais aumenta, sendo denominada hiperpnéia do exercício. Antes do exercício, da mesma forma que ocorre no siste- ma cardiovascular, ocorrem fenômenos de pré-arranque, aumentando o volume ventilatório expiratório (VVE) à cus- ta da freqüência respiratória, principalmente. Durante atividades moderadas, a ventilação aumenta em relação ao VO2. Em uma respiração de até 30 L/min, o trabalho respiratório é realizado pelos músculos inspirató- rios, uma vez que a expiração é passiva, devido à elastici- dade toracopulmonar. Daí em diante, a respiração torna- se ativa, entram em jogo os músculos expiratórios e, ao chegar aos 100 L/min, intervêm também os músculos res- piratórios acessórios. Essa participação em bloco de todos os músculos respiratórios condiciona um VO2 que pode pri- var o resto do organismo de oxigênio, ou seja, a mobilização de ar durante o esforço físico consome O2, o que constitui um limite ventilatório para a realização do trabalho. Em indivíduos treinados, esse limite chega a 150 a 200 L/min; a mobilização de qualquer volume adicionado requer um aporte de O2 que repercute sobre o rendimento do organismo. Uma conclusão prática é que a realização de um trabalho aeróbio máximo nunca desenvolve níveis extremos de ven- tilação pulmonar. Por outro lado, a ventilação é limitada pela circulação, ou seja, pelo tempo que o eritrócito perma- nece em contato com a barreira hematogasosa e pode captar O2 alveolar (hematose). A regulação da respiração durante o exercício é o resulta- do da combinação de fatores neurais e químicos: � Regulação pré-exercício de origem neural (similar ao sistema cardiovascular), o que aumenta o incre- mento ventilatório antes do exercício a partir de in- formações das regiões do córtex motor que estimu- lam os neurônios respiratórios medulares. � Uma resposta reflexa, cuja origem se encontra na estimulação dos quimiorreceptorese dos mecanor- receptores musculares. � Elevação da temperatura muscular, que tem um efeito estimulador sobre os neurônios do centro respirató- rio, tendo relevância em exercícios de certa duração. � Mais tarde, os metabólitos procedentes dos músculos (CO2, ácido láctico) estimulam, diretamente ou por mediadores (H+), os quimiorreceptores aórticos e carotídeos e até mesmo os centros respiratórios, au- mentando a ventilação. Como demoram um certo tempo para ser produzidos, não podem ser a única causa de hiperventilação. Além disso, apenas sua presença não é suficientemente potente para desen- cadear as modificações que ocorrem em um exercício vigoroso. � A pressão de oxigênio (PaO2) aumenta e não cons- titui um estímulo para a ventilação. � A hiperventilação produz uma redução da PaCO2, circunstância que inibe a hiperventilação. No entan- to, esses fatores estimulantes sofrem oscilações entre o final da inspiração e o final da expiração (PaCO2 capilar e alveolar, mais alta no final da expiração e mais baixa no final da inspiração). Isso, associado a um provável aumento na sensibilidade dos quimior- receptores periféricos, provoca parte do estímulo hi- perventilatório durante o exercício. Regulação respiratória do equilíbrio ácido-básico durante o exercício O pH do sangue mantém-se levemente alcalino (7,4), quali- dade que não pode sofrer modificações importantes para a correta homeostase do organismo. A realização do exercício sempre gera um aumento na produção de CO2 e quase sem- pre de ácido láctico, com um aumento da concentração do íon hidrogênio (H+); por isso, durante o exercício há uma tendência à acidose metabólica. Isso pode ser compensado com sistemas tamponadores, presentes nos líquidos cor- porais, como o tampão bicarbonato, o fosfato e as proteí- nas plasmáticas. Esses sistemas químicos esgotam-se com certa rapidez, razão pela qual necessitam de tamponadores físicos, como os pulmões e os rins, os quais atuam a médio e longo prazos e, além disso, potencializam a atividade dos tamponadores químicos. Qualquer aumento dos H+ nos líquidos extracelulares e no plasma estimula o centro respiratório e provoca uma INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO58 hiperventilação. Isso reduz rapidamente o CO2 do sangue que sai com o ar expirado e facilita a recombinação de H+ com HCO3– , desaparecendo valências ácidas do meio. A magnitude potencial do pulmão como tamponador foi estimada como o dobro de todos os tampões químicos juntos. O treinamento anaeróbio permite desenvolver uma adaptação no esportista, que suporta níveis mais altos de ácido láctico e mais baixos de pH do que os que suportava antes do treinamento. Em resumo, os principais mecanismos que operam du- rante a regulação da ventilação pulmonar são: � Os centros respiratórios no tronco encefálico, que estabelecem a freqüência e a profundidade da res- piração. � Os quimiorreceptores centrais (no bulbo), que res- pondem às alterações de CO2 e H+. Quando qualquer um dos dois aumenta, o centro respiratório intensifi- ca a respiração. � Receptores periféricos no arco da aorta e na bifurca- ção da artéria carótida, que respondem a modifica- ções do O2, mas também do CO2 e dos H+. Durante o exercício, a ventilação aumenta quase imedia- tamente, devido à atividade muscular que estimula o centro respiratório. A isso, segue-se um aumento gradual por ele- vação da temperatura e das alterações químicas no sangue arterial produzidas pela atividade muscular. Entre os problemas associados com a respiração durante o exercício, encontram-se: dispnéia, hiperventilação e exe- cução da manobra de Valsalva. Dispnéia (respiração curta) � Sensação de dispnéia durante o exercício. Isso se apresenta com maior freqüência em pessoas com má condição física que tentam fazer exercícios intensos. � As concentrações de CO2 e H+ aumentam de forma importante. � Enviam estímulos fortes ao centro respiratório para aumentar a freqüência e a profundidade da ventila- ção. � Esses indivíduos não apresentam uma resposta ade- quada para restabelecer a homeostase normal, pelo mau condicionamento dos músculos respiratórios. Hiperventilação � Produz um incremento de ventilação, que aumenta a necessidade metabólica de O2, o que, em condições de repouso, reduz a PaCO2 no sangue arterial de 40 para 15 mmHg. Esse comportamento também reduz H+ com aumento do pH (alcalose). � Aumento do PO2 alveolar, não aumentando o PO2 sangüíneo, já que o sangue que sai dos pulmões está saturado com O2 a 98%. � A respiração rápida e profunda pode provocar tontu- ra e até perda de consciência, pela sensibilidade da regulação do sistema respiratório ao CO2 e ao pH. Exemplos no esporte: � Natação: hiperventilação antes da competição com a finalidade de melhorar a mecânica das braçadas durante os primeiros 8 a 10 s da prova. Isso é segura- mente uma desvantagem em provas de 200 m ou mais, pois caem os níveis de PaO2, o que dificulta a oxigenação muscular. � Imersão/esporte subaquático: perigoso, pois o O2 no sangue reduz criticamente antes que o acúmulo de CO2 indique que se deve subir à superfície. Manobra de Valsalva Ocorre quando se tenta levantar um objeto pesado ou quan- do se tenta estabilizar a parede do tórax. Isso ocorre por: � Fechamento da glote. � Aumento da pressão intra-abdominal, contraindo o diafragma e os músculos abdominais de forma forçada. � Aumento da pressão intratorácica, contraindo os músculos respiratórios de forma forçada. Tudo o que foi mencionado anteriormente diminui o retorno venoso, colapsando as veias grandes. Quando se mantém durante um tempo prolongado, o volume de san- gue que volta ao coração diminui, reduzindo o débito car- díaco, o que é muito perigoso para pacientes com HAS e doenças cardiovasculares. Pode ser uma razão para que um percentual importante dos atletas de halterofilismo apre- sente HAS. UTILIZAÇÃO DE ENERGIA DURANTE O EXERCÍCIO: SISTEMA DE MEDIÇÃO A produção de energia nas fibras musculares não pode ser medida diretamente no corpo, mas podem ser utilizados vários métodos indiretos de laboratório. Um desses é a ca- lorimetria direta e indireta. Calorimetria direta Apenas cerca de 40% da energia liberada durante o metabo- lismo de HC e gorduras é usada para produzir ATP. Os ou- tros 60% são utilizados para obter calor; por isso, um mo- do de estimar o ritmo e a intensidade da produção de ener- Capa Adaptações respiratórias durante o exercício Regulação da ventilação durante o exercício Regulação respiratória do equilíbrio ácido-básico durante o exercício Dispinéia (respiração curta) Hiperventilação Manobra de valsalva
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