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9. Modo de aquisição da propriedade móvel e imóvel NATURAIS ILHAS Interessam ao Direito Civil somente ilhas formadas em rios NÃO NAVEGÁVEIS (particulares), por pertencerem ao domínio particular, conforme prevê o Código de Águas ( Art. 23 do Decreto nº 24.643/34) Art. 20. São bens da União: Constituição Federal IV as ilhas fluviais (rios) e lacustres (lagos) nas zonas de fronteira; as ilhas oceânicas e as costeiras, e as referidas no art. 26, II (bens dos Estados); NATURAIS ILHAS Maria Silvia Zanella Di Pietro, doutrinadora do Direito Administrativo, entende que NÃO HÁ MAIS, sob a égide da CF/88 e da Lei nº 9.433/97, ÁGUAS PARTICULARES e, portanto, RIOS PARTICULARES, o que impossibilitaria a concepção de ilhas particulares. A água, nessa visão, é concebida como um BEM DO DOMÍNIO PÚBLICO, conforme Art. 1º, I, da citada lei, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. “ÁGUAS PARTICULARES” Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I - a água é um BEM DE DOMÍNIO PÚBLICO; NATURAIS ILHAS Apesar dessa visão do Direito Administrativo, de que a água é um BEM DO DOMÍNIO PÚBLICO, permanece para os civilistas a classificação dos rios em NAVEGÁVEIS (públicos) e NÃO NAVEGÁVEIS (privados) “ÁGUAS PARTICULARES” A despeito das ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares, estas pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, segundo as três regras seguintes: 1ª 2ª 3ª NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 1ª As ilhas que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais. No caso acima a ilha foi formada bem no meio do rio, no traço que representa o meio da formação de água ou álveo. Assim, a propriedade da ilha será metade do Proprietário X e metade do Proprietário Y. Art. 1.249, inciso I, do CC NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 2ª As ilhas que se formarem entre a linha que divide o álveo em duas partes iguais e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado Aqui, se a ilha se formar do lado esquerdo do meridiano, será de propriedade de X e, se se formar do lado direito, será de Y. Art. 1.249, inciso II, do CC NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 3ª As ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram Art. 1.249, inciso III, do CC Já a ilha que se formar pelo desdobramento de um novo braço do rio continua a pertencer ao proprietário do terreno à custa do qual se constituiu. No caso do desenho acima, será do Proprietário Y. ALUVIÃO NATURAIS O acréscimo paulatino de terras às margens de um curso de água, de forma lenta e imperceptível; os depósitos naturais ou desvios das águas pertencem aos donos dos terrenos marginais, segundo a regra de que o acessório segue o principal. O instituto é a ALUVIÃO PRÓPRIA, em que a “terra vem”. No exemplo acima, o Proprietário A tem um imóvel à beira de um rio, destinado às suas pescarias. Aos poucos, a sua propriedade vai aumentando, pois o movimento de águas traz terra para a sua margem. Eis um exemplo de aquisição originária da propriedade. ALUVIÃO NATURAIS As partes descobertas pelo afastamento das águas de um curso, denominadas ALUVIÃO IMPRÓPRIA, hipótese em que a “água vai”, o rio vai embora. Aqui, o Proprietário A percebe que adquiriu propriedade, pois o rio que fazia frente ao seu imóvel recuou. Surge, então, um espaço maior para construir, por exemplo, um deck destinado as suas pescarias. ALUVIÃO NATURAIS Quando a ALUVIÃO IMPRÓPRIA, hipótese em que a “água vai”, o rio vai embora, se formar em frente a imóveis pertencentes a proprietários diversos, far-se-á divisão entre eles, em proporção à testada que cada um dos imóveis apresentava sore a antiga margem. Há de se dividir, portanto, entre os Proprietários A e B, na proporção das testadas dos imóveis de cada um. AVULSÃO NATURAIS Segundo estabelece o Art. 1.251, caput, do CC, quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um imóvel e se juntar a outro, o dono deste último adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado No exemplo acima, verifica-se que o Proprietário A ganhou propriedade, enquanto B perdeu parte de sua faixa de terra ribeirinha. B poderá pleitear valores indenizatórios, no prazo de 1 ano ÁLVEO ABANDONADO NATURAIS ÁLVEO: o rio ou a corrente de água que seca, que desaparece Como determina o Art. 1.252 do CC, o álveo abandonado pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os imóveis marginais se estendem até o meio do álveo. No exemplo, a distribuição deve ser igual entre os Proprietários A e B, uma vez que a distância de suas margens ao centro do rio é a mesma. ARTIFICIAIS PLANTAÇÕES CONSTRUÇÕES Decorrem da atuação humana (Artigos 1.253 a 1.259 do CC) Exemplo: Ponte sobre córrego Exemplo: Cana de açúcar CONSTRUÇÕES e PLANTAÇÕES Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário (presunção relativa). Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. As construções e plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens imóveis por acessão física artificial, nos termos do Art. 79 do CC, segundo o qual: PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA Refere-se simplesmente à lógica de que O ACESSÓRIO DEVE SEGUIR, EM REGRA, O PRINCIPAL. Em questão de concurso para juiz do Tribunal de Justiça do Amazonas, a banca da Cespe (http://www.cespe.unb.br/concursos/TJ_AM_15_JUIZ/) trouxe como correta a seguinte assertiva: “Pelo PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA, a propriedade dos bens acessórios segue a sorte do bem principal, podendo, entretanto, haver disposição em contrário pela vontade da lei ou das partes”. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será OBRIGADO A RESTITUIR O INDEVIDAMENTE AUFERIDO, feita a atualização dos valores monetários Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, QUEM A RECEBEU É OBRIGADO A RESTITUÍ-LA, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado OUTROS MEIOS PARA SE RESSARCIR DO PREJUÍZO SOFRIDO 1ª REGRA. Aquele que semeia, planta ou edifica em TERRENO PRÓPRIO com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. TERRENO PRÓPRIO SEMENTES, PLANTAS OU MATERIAIS ALHEIOS ADQUIRE A PROPRIEDADE DESTES Mas FICA OBRIGADO A PAGAR-LHES O VALOR Além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. Exemplo da 1ª REGRA: alguém está guardando, por ato de amizade, cimento de outro em sua propriedade. Certo dia, se utiliza do cimento e constrói um galpão ali. Aquele que se utilizou do cimento terá a propriedade do que foi construído, mas por óbvio terá que pagar ao outro o cimento; sem prejuízo de danos, pois claramente agiu de má-fé, por saber perfeitamente que o cimento não era seu. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa 2ª REGRA. Aquele que semeia, plantaou edifica em TERRENO ALHEIO perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas ou construções Se a construção ou a plantação EXCEDER CONSIDERAVELMENTE O VALOR DO TERRENO, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo Se procedeu de BOA-FÉ: terá direito a indenização Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo Do artigo 1.255, e do seu parágrafo único, podem ser retiradas duas situações: 1ª (MÁ-FÉ). Alguém está ocupando a casa de um parente que se encontra viajando para o exterior por um ano. Aproveitando a ausência do familiar, esse alguém constrói, com material próprio, uma piscina no fundo da casa. O ocupante não terá qualquer direito, pois agiu de má-fé, eis que sabia que a propriedade não seria sua 2ª (BOA-FÉ). Se realizada alguma construção ou mesmo eventual plantação em valor superior ao do imóvel, aquele que construiu ou plantou adquirirá a propriedade do imóvel, tendo apenas que pagar uma indenização a ser fixada judicialmente, se não houver acordo entre as partes Nesta segunda hipótese, considera-se a construção ou a plantação como principal e o imóvel como acessório, em uma consagração do que se denomina como ACESSÃO INVERSA OU INVERTIDA, de acordo, inclusive, com o Princípio da Função Social da Propriedade. 3ª REGRA. Se de ambas as partes houver má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Presume- se má-fé do proprietário quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. EXEMPLO: imagine-se a situação em que o proprietário de um imóvel permite que alguém construa, com material próprio, pensando esse alguém que poderá adquirir o domínio do bem principal. Nesse caso, há má-fé recíproca ou bilateral, pois ambos pretendem o enriquecimento sem causa CONCLUSÃO: o proprietário ficará com o que foi construído, mas deverá indenizar quem construiu pelos valores gastos com a construção Em complemento... Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de NÃO PERTENCEREM AS SEMENTES, PLANTAS ou MATERIAIS A QUEM DE BOA-FÉ OS EMPREGOU EM SOLO ALHEIO. Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do semeador, plantador ou construtor. De acordo com o caput do Art. 1.257, as sementes, plantas ou materiais, além de aplicados em solo alheio, não pertencem a quem ali os empregou. Já no parágrafo único, quando não for indenizado pelo plantador, o proprietário das sementes poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida Semeador Proprietário das sementes Proprietário do solo 4ª REGRA. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à 20ª parte deste, adquire o construtor de boa- fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente (texto do Art. 1.258, caput) Tartuce traz o exemplo de alguém que constrói em sua propriedade uma churrasqueira com cobertura que invade o terreno alheio em percentual NÃO SUPERIOR A 5% deste (um vigésimo ou 1/20 avos). Se a construção foi de boa-fé, ou seja, se o construtor não sabe da invasão, poderá adquirir a parte invadida, desde que o valor da construção exceda o que se invadiu. Todavia, o construtor deverá indenizar o vizinho pela área perdida e por eventual desvalorização do imóvel restante 5ª REGRA. Está na previsão do parágrafo único do Art. 1.258. Prevê a indenização quando ocorre a construção em pequena parte do terreno vizinho, sendo maior a indenização na hipótese de MÁ-FÉ. O dispositivo pretende resolver os conflitos surgidos nos grandes centros urbanos onde, não raro, é frequente a invasão de pequena parte do terreno vizinho pelo construtor. FERE O BOM SENSO MANDAR DERRUBAR TODA UMA CONSTRUÇÃO, ÀS VEZES ENVOLVENDO UM PRÉDIO DE ATÉ VINTE ANDARES, ATINGINDO ADQUIRENTES DE BOA-FÉ Art. 1.258. Parágrafo único. Pagando em DÉCUPLO as perdas e danos previstos neste artigo, o CONSTRUTOR DE MÁ-FÉ adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. 6ª REGRA. Art. 1.259. Invasão SUPERIOR a 5% Em uma primeira situação, se a invasão superior a um vigésimo for de boa-fé, o construtor invasor adquire a propriedade do que foi invadido, mas responde por perdas e danos correspondentes ao valor que a invasão acrescer à sua construção, ao valor da área perdida e ao correspondente à desvalorização da área remanescente. Todos esses danos materiais devem ser provados por quem os alega, nos termos do Art. 402 do CC e do Art. 373, I, do CPC. Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio EXCEDER A VIGÉSIMA PARTE DESTE, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam O VALOR QUE A INVASÃO ACRESCER À CONSTRUÇÃO, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de MÁ-FÉ, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro Em complemento... Em uma primeira situação, se a invasão superior a um vigésimo for de boa-fé, o construtor invasor adquire a propriedade do que foi invadido, mas responde por perdas e danos correspondentes ao valor que a invasão acrescer à sua construção, ao valor da área perdida e ao correspondente à desvalorização da área remanescente. TODOS ESSES DANOS MATERIAIS DEVEM SER PROVADOS POR QUEM OS ALEGA, nos termos do Art. 402 do CC e do Art. 373, I, do CPC O dispositivo (Art. 1.259) determina que, se a invasão superior a um vigésimo ou 5% tiver sido de má-fé, o proprietário do imóvel invadido poderá requerer a sua demolição, sendo cabível, do ponto de vista processual, a ação demolitória. Além disso, poderá pedir as perdas e danos em dobro. Consagra-se, neste dispositivo, o CARÁTER PUNITIVO DA RESPONSABILIDADE CIVIL USUCAPIÃO Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m² cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex- companheiro que ABANDONOU O LAR, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural Art. 1.240-A USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ■ Aquisição originária da propriedade pelo possuidor da COISA MÓVEL, que a possuir como sua, durante 3 anos (usucapião ORDINÁRIA), com JUSTO TÍTULO e BOA-FÉ, contínua e incontestadamente (Art. 1.260). ■ Se a posse se prolongar por 5 anos, também haverá aquisição por usucapião (EXTRAORDINÁRIA), independentemente de título ou boa-fé (Art. 1.261). O JUSTO TÍTULO é um DOCUMENTO que faça o possuidor acreditar que é dono e a BOA- FÉ é o seu estado de espíritode sentir-se proprietário ► Em síntese: vê-se nos casos acima, no primeiro (■), a usucapião ORDINÁRIA de bem móvel, e, no segundo (■), a EXTRAORDINÁRIA USUCAPIÃO ORDINÁRIA (1.260) ● Posse mansa, pacífica e com intenção de dono (animus domini) por 3 (TRÊS) ANOS ● JUSTO TÍTULO e boa-fé. Para caracterização do que seja justo título, aplica-se o enunciado nº 86 do CJF/STJ, segundo o qual a expressão justo título, contida nos artigos 1.242 e 1.260 do CC, abrange TODO E QUALQUER ATO JURÍDICO HÁBIL, EM TESE, A TRANSFERIR A PROPRIEDADE, INDEPENDENTEMENTE DE REGISTRO USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA (1.261) ● Posse mansa, pacífica e com intenção de dono (animus domini) por 5 (CINCO) ANOS USUCAPIÃO DE VEÍCULOS ► Em OUTRO CASO, o TJRS entendeu que, havendo inércia em situação envolvendo a alienação fiduciária em garantia, o veículo pode ser adquirido pelo devedor fiduciante, por meio da usucapião EXTRAORDINÁRIA “Apelação - Ação de usucapião de bem móvel - Art. 1.261 do CC. Independentemente de justo título e boa-fé é possível deferir pretensão de AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE quando já implementado o prazo de CINCO ANOS de posse direta decorrente de contrato de alienação fiduciária. A inércia da instituição financeira em reaver o bem de sua propriedade (resolúvel) enseja o reconhecimento da posse ad usucapionem. Apelação desprovida. Unânime” (TJRS, Processo 70009337395, Porto Alegre, 13.ª Câmara Cível, relatora: Walda Maria Melo Pierro, 23.05.2006) ► Para o mesmo TJRS não haveria razão para se falar em usucapião mobiliária em caso de vigência de um contrato de arrendamento mercantil inadimplido, eis que a posse, em tal situação, é tida como precária: “Apelação cível - Ação de usucapião - Posse ordinária de bem móvel - Arrendamento mercantil - Posse precária - Não preenchimento dos requisitos do Art. 1.260 do CC. Em que pese ter o apelante a posse do veículo por mais de três anos, não passa de uma posse precária, porquanto existente contrato de arrendamento mercantil entre as partes e inadimplido. De modo que não teria ele como exercer a posse com animus domini, porquanto possui apenas e tão somente a posse direta do veículo por força do contrato de arrendamento mercantil, na simples condição de arrendatário. Donde se conclui que não se pode reconhecer a usucapião. Recurso conhecido e improvido. Unânime” (TJRS, Processo 70013344296, Caxias do Sul, 13.ª Câmara Cível, relator: Sergio Luiz Grassi Beck, 08.06.2006) ► A mesma premissa de impossibilidade de aquisição do bem por usucapião foi aplicada pelo STJ, em julgado publicado no informativo nº 425, em que o veículo objeto de alienação fiduciária foi transferido a terceiro, conforme consta no REsp 844.098/MG : “Usucapião. Veículo. Alienação fiduciária. (...) o CERNE DA QUESTÃO é saber se o automóvel que conta com GRAVAME DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA e transferido a terceiro pode ser adquirido por usucapião. Para o Min. Relator, a transferência a terceiro de veículo GRAVADO COMO PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA, À REVELIA DO PROPRIETÁRIO (credor fiduciário), constitui ATO DE CLANDESTINIDADE, incapaz de induzir posse (Art. 1.208 do CC), sendo, por isso mesmo, IMPOSSÍVEL A AQUISIÇÃO DO BEM POR USUCAPIÃO. De fato, em contratos com alienação fiduciária em garantia, sendo inerentes ao próprio contrato o desdobramento da posse e a possibilidade de busca e apreensão do bem, conclui-se que a transferência da posse direta a terceiros - porque modifica a essência do contrato, bem como a garantia do credor fiduciário - DEVE SER PRECEDIDA DE AUTORIZAÇÃO. Diante disso, a Turma conheceu do recurso e lhe deu provimento para julgar improcedente o pedido deduzido na inicial. REsp 844.098/MG, DJe 06.04.2009” (STJ, REsp 881.270/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 02.03.2010) ► QUESTÃO POLÊMICA se refere à USUCAPIÃO DE VEÍCULO FURTADO, havendo acórdãos do STJ pela sua impossibilidade em caso envolvendo a USUCAPIÃO ORDINÁRIA (Art. 1.260): “Recurso especial – Usucapião ORDINÁRIO de bem móvel – Aquisição originária – Automóvel furtado. Não se adquire por usucapião ORDINÁRIO veículo furtado. Recurso especial não conhecido”. (STJ, REsp 247.345/ MG, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.12.2001, DJ 25.03.2002, p. 272) ► Entretanto, há quem entenda pela admissão da USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA, uma vez que CESSA A VIOLÊNCIA no momento posterior à prática do ilícito, tendo início a partir daí a contagem do prazo legal (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais..., 2006, p. 344) “a apreensão física da coisa por meio de CLANDESTINIDADE (FURTO) ou VIOLÊNCIA (ROUBO) SOMENTE INDUZ A POSSE APÓS CESSADO O VÍCIO (Art. 1.208 do CC), de maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente para caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime. As peculiaridades do caso concreto, em que houve EXERCÍCIO DA POSSE OSTENSIVA de bem adquirido por meio de financiamento bancário com emissão de registro perante o órgão público competente, AO LONGO DE MAIS DE 20 ANOS, são suficientes para assegurar a aquisição do direito originário de propriedade, sendo irrelevante se perquirir se houve a inércia do anterior proprietário ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua posse” (STJ, REsp 1.637.370/RJ, 3.ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, j. 10.09.2019, DJe 13.09.2019) ► Adotando essa posição, à qual se filia Flávio Tartuce, há julgado do STJ (REsp 1637370) de 2019, no seguinte sentido: ► ESPECIFICAÇÃO (Artigos 1.269 a 1.271) Transformação da coisa em uma espécie nova, como consequência do trabalho do especificador, quando não é mais possível o retorno à forma anterior (Art. 1.269) Espécie de ATO JURÍDICO LÍCITO (Art. 185) por meio do qual é possível adquirir aquilo que resulta da especificação, ato que, diferente da acessão, não atribui ao proprietário da coisa principal o que lhe advier como acessório ► Na ESPECIFICAÇÃO, a aquisição se dá porque se cogita da MANIPULAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA que, depois de trabalhada, já não pode retornar ao estado anterior e, por isso, faz desaparecer a coisa que, como no caso do Art. 1.269, era parcialmente alheia e faz surgir outra, fruto do trabalho do especificador Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior ► Regras de ESPECIFICAÇÃO: O trabalho de alteração é considerado PRINCIPAL, enquanto a matéria-prima é ACESSÓRIA, razão pela qual A ATUAÇÃO DO ESPECIFICADOR DEVE PREVALECER ■ De todo modo, conforme Art. 1.271, o especificador deve INDENIZAR O VALOR DA MATÉRIA-PRIMA AO SEU DONO ❶ a espécie nova surgida SERÁ DE PROPRIEDADE DO ESPECIFICADOR, se não for possível retornar à situação anterior (Art. 1.269). ❷ SE TODA MATÉRIA-PRIMA FOR ALHEIA e não se puder reduzir à forma precedente, SERÁ DO ESPECIFICADOR DE BOA-FÉ A ESPÉCIE NOVA (Art. 1.270). EXEMPLO: ESCULTOR ENCONTRA PEDRA SABÃO E REALIZA UMA ESCULTURA. Após elaborar o trabalho, o escultor (especificador) vem a descobrir que a pedra é de terceiro. Nesse caso, A ESCULTURA SERÁ SUA, POIS AGIU DE BOA-FÉ. Entretanto, o escultor deverá indenizar o dono da pedra pelo seu valor, o que veda o enriquecimento sem causa, em relação à matéria-prima. ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 3ª REGRA: Sendo possível a redução ao estado anterior, ou quando impraticável, se A ESPÉCIE NOVA SE OBTEVE DE MÁ-FÉ, PERTENCERÁ AO DONO DA MATÉRIA-PRIMA (Art. 1.270, § 1º, do CC). Como a má-fé induz à culpa, não poderá o especificador que age por ela guiado adquirir a propriedade do produto da transformação. Desse modo, o dono da coisa nova será o proprietário da matéria-prima. Para o caso em que é impraticável a volta ao estado anterior, prevê o Art. 1.271 que O ESPECIFICADOR DE MÁ-FÉ NÃO TERÁ DIREITO SEQUER À INDENIZAÇÃOPELO TRABALHO. ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 4ª REGRA: EM QUALQUER CASO, inclusive no da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e qualquer outro trabalho gráfico em relação à matéria-prima, A ESPÉCIE NOVA SERÁ DO ESPECIFICADOR, SE O SEU VALOR EXCEDER CONSIDERAVELMENTE O DA MATÉRIA-PRIMA (Art. 1.270, § 2º, do CC). Esse excesso considerável deve ser analisado caso a caso, levando-se em conta o valor de mercado da matéria-prima (que também pode ser relevante) e a gravidade do trabalho efetuado. Também aqui, pelo que consta no Art. 1.271, o especificador que adquire a coisa nova deve indenizar o dono da matéria-prima pelo seu valor. DA CONFUSÃO, DA COMISTÃO (ou COMISSÃO) e DA ADJUNÇÃO (Arts. 1.272 a 1.274) Os três institutos jurídicos por igual constituem formas derivadas de aquisição da propriedade móvel e estão presentes quando coisas pertencentes a pessoas diversas se misturam de tal forma que é impossível separá-las. CONFUSÃO Mistura entre coisas líquidas (ou mesmo gases), em que não é possível a separação. Exemplo: ÁLCOOL E GASOLINA. As espécies confundidas podem ser iguais ou não COMISTÃO ou COMISSÃO Mistura entre coisas sólidas ou secas, não sendo possível a separação. Exemplo: AREIA E CIMENTO. Serve também de exemplo a mistura de cereais de safras diferentes, em que não é possível identificar a origem. ADJUNÇÃO Justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra, sendo impossível a separação. Exemplo: TINTA EM RELAÇÃO À PAREDE. Quanto à CONFUSÃO, COMISTÃO (ou COMISSÃO) e ADJUNÇÃO, 4 REGRAS são extraídas dos artigos 1.272 a 1.274 do CC, vide slides seguintes. 1ª REGRA: As COISAS PERTENCENTES A DIVERSOS DONOS, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, SENDO POSSÍVEL SEPARÁ-LAS SEM DETERIORAÇÃO. (Art. 1.272, caput, do CC) 2ª REGRA: NÃO SENDO POSSÍVEL A SEPARAÇÃO DAS COISAS, ou exigindo DISPÊNDIO EXCESSIVO, permanece o estado de indivisão, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado. (Art. 1.272, § 1º, do CC) Sendo possível retornar ao estado anterior (status quo ante), sem que isso desvalorize as coisas misturadas, esse é o caminho a ser percorrido. Cada um dos proprietários dos bens móveis terá direito ao valor que corresponder ao seu quinhão. COMO NÃO É POSSÍVEL DETERMINAR O QUINHÃO REAL, PROCURA-SE UM QUINHÃO IDEAL. Ainda quanto à 2ª REGRA: Se uma das coisas puder ser considerada principal, o dono desse principal o será do todo, indenizando os demais pelos valores que corresponderem aos seus quinhões (Art. 1.272, § 2º, do CC) Exemplo: Havendo mistura de areia e cimento e sendo impossível o retorno ao estado anterior, o dono da parte mais valiosa, no caso, do cimento, considerado principal, ficará com o todo, devendo indenizar o dono do acessório, no caso, o dono da areia. Aplicação inequívoca do PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA 3ª REGRA: Se a CONFUSÃO, a COMISTÃO (ou COMISSÃO) ou a ADJUNÇÃO se operou de má-fé, À OUTRA PARTE QUE ESTIVER DE BOA-FÉ CABERÁ ESCOLHER ENTRE: ● Adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida; ● Renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado de forma integral (Art. 1.273 do CC 2002); OU A norma tem a sua razão de ser, punindo o proprietário que agiu de má-fé no ato de misturar, o que induz à sua culpa. Por isso é que são colocadas à disposição do proprietário de boa-fé DUAS OPÇÕES, de acordo com a sua livre vontade. 4ª REGRA: Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à CONFUSÃO, COMISTÃO (ou COMISSÃO) ou ADJUNÇÃO, aplicam-se as normas dos artigos 1.272 e 1.273, conforme prevê o Art. 1.274 do CC. Para Flávio Tartuce, como o caso se iguala à ESPECIFICAÇÃO, houve um erro no Código Civil ao mencionar os artigos 1.272 e 1.273. Para o autor, em razão de tal igualação, HÁ DE SE APLICAR OS TERMOS DOS ARTIGOS 1.270 E 1.271. USUCAPIÃO DE BENS IMÓVEIS USUCAPIÃO A expressão vem do latim usucapio (tomar/adquirir pelo uso) Situação de aquisição do domínio, ou mesmo de outro direito real (usufruto/ servidão), pela posse prolongada, permitindo a lei que uma DETERMINADA SITUAÇÃO DE FATO ALONGADA (posse ad usucapionem ou usucapível) por certo intervalo de tempo se transforme em uma situação jurídica: Art. 1.208. Não induzem posse os ATOS DE MERA PERMISSÃO ou TOLERÂNCIA assim como não autorizam a sua aquisição os ATOS VIOLENTOS, ou CLANDESTINOS, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade Importante lembrar: A AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE Conforme Art. 1.208 do CC, EM SEDE DE PRINCÍPIO não é possível alegar usucapião na vigência de um contrato em que a posse é transmitida, por exemplo, como na locação e no comodato. * POLÊMICA surge quanto aos atos de mera permissão e tolerância em relação, por exemplo, ao BEM EM CONDOMÍNIO, particularmente nos casos envolvendo herdeiros Recurso Especial 1631859 Posse exclusiva Maria Helena Diniz sintetiza a referida polêmica a respeito da possibilidade de usucapião no condomínio. Segundo ela: Para que se torne possível a um condômino usucapir contra os demais, NECESSÁRIO SERIA DE SUA PARTE UM COMPORTAMENTO DE PROPRIETÁRIO EXCLUSIVO, ou a INVERSÃO DA SUA POSSE, abrangendo o todo e não apenas uma parte. O condômino para pretender a usucapião deverá TER SOBRE O TODO POSSE EXCLUSIVA, de maneira a cessar o estado de comunhão. POSSE EXCLUSIVA Mediante aplicação do PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA, particularmente a SUPRESSIO, que é a perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo, o julgado (REsp 214680) possibilitou, de forma indireta, a usucapião de uma área comum em um condomínio edilício – parte do corredor que dava acesso a alguns apartamentos. Art. 1.208. MERA PERMISSÃO ou TOLERÂNCIA de uso por parte dos condôminos, não haveria que se falar em usucapião. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS da posse ad usucapionem ou usucapível ● POSSE COM A INTENÇÃO DE DONO (animus domini) A intenção do usucapiente de SE TRANSFORMAR EM DONO DA COISA. Neste particular, é fundamental tomar conhecimento e destacar-se a possibilidade de ALTERAÇÃO NA CAUSA DA POSSE (interversio possessionis), por meio da qual se admite a usucapião em casos excepcionais, como na hipótese em que um locatário permanece no imóvel por cerca de trinta anos, não pagando os alugueis por cerca de vinte anos, tendo o locador desaparecido. No julgamento do REsp 154733, o STJ, mediante relatoria do Ministro Cesar Asfor Rocha, decidiu que: “NADA IMPEDE QUE O CARÁTER ORIGINÁRIO DA POSSE SE MODIFIQUE, motivo pelo qual o fato de ter havido no início da posse da autora um vínculo locatício, não é embaraço ao reconhecimento de que, a partir de um determinado momento, essa mudou de natureza e assumiu a feição de posse em nome próprio, sem subordinação ao antigo dono e, por isso mesmo, com força ad usucapionem. ● POSSE MANSA E PACÍFICA É aquela exercida sem qualquer manifestação em contrário de quem tenha legítimo interesse, ou seja, sem a oposição do proprietário do bem. Pois, se em algum momento houver contestação dessa posse pelo proprietário, desaparece o requisito da mansidão e, assim, a posse ad usucapionem. ● POSSE CONTÍNUA E DURADORA Somente possibilita a usucapião a posse sem intervalos, ou seja, sem interrupção. O Art. 1.243 do CC, contudo, admite a soma de posses sucessivas. Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. De acordo com o enunciado 497 da V Jornada de Direito Civil, e o disposto no Art. 493 do CPC,“o prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor”. ● POSSE JUSTA A posse usucapível deve se apresentar sem violência, clandestinidade ou precariedade. Se a situação fática for adquirida por meio de atos violentos ou clandestinos, não induzirá posse para os fins de usucapião, enquanto não cessar a violência ou a clandestinidade. ● POSSE DE BOA-FÉ E COM JUSTO TÍTULO Para a usucapião ORDINÁRIA, seja de bem móvel ou imóvel, a lei exige a boa-fé e o justo título (Arts. 1.242 e 1.260). ► A noção de JUSTO TÍTULO está intimamente ligada à boa-fé e nela se exterioriza, ganha solidez, isto é, o documento que faz crer a todos transferir a propriedade é justo título, de modo que caberá ao impugnante provar a existência de má-fé, tendo em vista que a BOA-FÉ SE PRESUME. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com JUSTO TÍTULO tem por si a PRESUNÇÃO DE BOA- FÉ, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. USUCAPIÃO ORDINÁRIA (Art. 1.242 e § único) Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com JUSTO TÍTULO e BOA-FÉ, o possuir por DEZ ANOS Parágrafo único. Será de CINCO ANOS o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou REALIZADO INVESTIMENTOS DE INTERESSE SOCIAL E ECONÔMICO São DUAS MODALIDADES de USUCAPIÃO ORDINÁRIA ● REGULAR ou COMUM (Art. 1.242, caput) Requisitos: ▪ Posse mansa, pacífica e ininterrupta com animus domini por 10 ANOS ▪ Justo título (todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, INDEPENDENTEMENTE DE REGISTRO) ▪ Boa-fé (Art. 1.201); ● POSSE-TRABALHO (Art. 1.242, § único) Posse qualificada pelo cumprimento de uma função social, em sentido positivo, por 5 ANOS ► Flávio Tartuce entende como DISPENSÁVEL o requisito ao lado da posse-trabalho, isto é, a existência de um DOCUMENTO HÁBIL registrado e cancelado posteriormente, como, por exemplo, um compromisso de compra e venda. Para o autor bastaria apenas a POSSE- TRABALHO, suficiente para se PRESUMIR A EXISTÊNCIA DA BOA-FÉ (boa-fé objetiva, no plano da conduta) e do justo título Neste contexto... USUCAPIÃO ORDINÁRIA USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA (Art. 1.238) Art. 1.238. Aquele que, por QUINZE ANOS, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, INDEPENDENTEMENTE DE TÍTULO E BOA-FÉ; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a DEZ ANOS se o possuidor houver ESTABELECIDO NO IMÓVEL A SUA MORADIA HABITUAL, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. São DUAS MODALIDADES de USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA ● USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA REGULAR ou COMUM (Art. 1.238, caput) Requisitos, em regra: Posse mansa, pacífica e ininterrupta, com animus domini e sem oposição por 15 ANOS; ● USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA POR POSSE-TRABALHO (Art. 1.238, § único) O prazo cai para 10 ANOS se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual ou houver realizado obras ou serviços de caráter produtivo, ou seja, se a função social da posse estiver sendo cumprida pela presença da posse-trabalho. Percebe-se, nos dois casos, que NÃO HÁ necessidade de se provar a BOA-FÉ e o JUSTO TÍTULO, por haver PRESUNÇÃO ABSOLUTA da presença de tais elementos Art. 1.228. (...) PODERES INERENTES À PROPRIEDADE. § 4o O proprietário também PODE SER PRIVADO DA COISA se o imóvel reivindicado consistir em EXTENSA ÁREA, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de CINCO ANOS, de CONSIDERÁVEL NÚMERO DE PESSOAS, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, OBRAS E SERVIÇOS CONSIDERADOS PELO JUIZ DE INTERESSE SOCIAL E ECONÔMICO RELEVANTE. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. A propósito da POSSE-TRABALHO POSSUIDORES PROPRIETÁRIA Ação dominial REIVINDICATÓRIA DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL e INDENIZAÇÃO devida pelos possuidores à proprietária USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL (Art. 191 da CF e Art. 1.239 do CC) Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por CINCO ANOS ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os IMÓVEIS PÚBLICOS NÃO SERÃO ADQUIRIDOS POR USUCAPIÃO. 1 hectare = 10.000 m² Também conhecida como USUCAPIÃO AGRÁRIA ou ESPECIAL RURAL Requisitos para a USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL, AGRÁRIA ou ESPECIAL RURAL ● Área não superior a 50 hectares (50 ha), localizada na zona rural. 50 hectares = 500.000 m² ● Posse de 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição e com ANIMUS DOMINI. Animus domini: uma vontade exercida sobre a coisa, elemento anímico, a intenção de tê-la para si, como proprietário. ● Utilização do imóvel para subsistência ou trabalho, que pode ser na agricultura, na pecuária, no extrativismo ou em atividade similar. O fator essencial é que a pessoa ou família esteja tornando produtiva a terra, por força de seu trabalho. ● Não ser proprietário de outro imóvel, seja ele rural ou urbano. NÃO HÁ, na usucapião constitucional, qualquer previsão quanto ao JUSTO TÍTULO e à BOA-FÉ, pois tais elementos se presumem de forma absoluta pela destinação que se dá ao imóvel, com o atendimento à sua FUNÇÃO SOCIAL. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA PRO MISERO (Art. 183 da CF, Art. 1.240 do CC e Art. 9º da Lei nº 10.257/01) Art. 183 da CF. Art. 183. Aquele que POSSUIR COMO SUA área urbana de até 250 m², por 5 ANOS, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, DESDE QUE NÃO SEJA PROPRIETÁRIO DE OUTRO IMÓVEL URBANO OU RURAL. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DE LAR (Art. 1.240-A do CC) Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m² CUJA PROPRIEDADE DIVIDA COM EX-CÔNJUGE ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Conforme Art. 10 do Estatuto da Cidade, com redação dada pela Lei no 13.465/2017, Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja INFERIOR A 250 m² por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. USUCAPIÃO URBANA COLETIVA (Lei nº 10.257/2001 - Estatuto da Cidade) Paraisópolis, São Paulo. Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por 10 ANOS consecutivos, trecho de terra INFERIOR A 50 HECTARES, adquirir-lhe-á a propriedade plena. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedadecoletiva de grupo tribal. USUCAPIÃO ESPECIAL INDÍGENA (Art. 33 da Lei nº 6.001/73 - Estatuto do Índio) A sentença DECLARA a usucapião, QUALQUER MODALIDADE DE USUCAPIÃO. O direito é obtido pelos requisitos de tempo e posse e mais boa-fé e justo título. Independe da sentença. O JUIZ LIMITA-SE A DECLARAR SITUAÇÃO JURÍDICA PREEXISTENTE. Fosse a sentença necessária para completar o direito, teria efeito constitutivo. Não é o que ocorre. Completado o prazo com os demais requisitos, o usucapiente já é proprietário. A sentença é decreto judicial que reconhece direito preestabelecido. A transcrição da sentença no registro imobiliário, com muito maior razão, também é mero requisito regularizador da situação jurídica do imóvel. Com o registro da sentença, terá o titular a situação do imóvel pacificada com relação a terceiros, obtendo o efeito erga omnes. Não tem o mesmo sentido da transcrição da transferência do negócio jurídico de alienação, necessário para a aquisição da propriedade. Art. 1.238. (...) podendo requerer ao juiz que assim o DECLARE POR SENTENÇA, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. USUCAPIÃO IMOBILIÁRIA ADMINISTRATIVA decorrente da legitimação da posse (Lei nº 13.465/2017) Art. 25. A legitimação de posse, instrumento de uso exclusivo para fins de regularização fundiária, constitui ato do poder público destinado a conferir título, por meio do qual fica reconhecida a posse de imóvel objeto da REURB (regularização fundiária urbana), com a identificação de seus ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é conversível em direito real de propriedade, na forma desta Lei Art. 27. O título de legitimação de posse poderá ser cancelado pelo poder público emitente quando constatado que as condições estipuladas nesta Lei deixaram de ser satisfeitas, sem que seja devida qualquer indenização àquele que irregularmente se beneficiou do instrumento. ► O Novo CPC ampliou a possibilidade da usucapião extrajudicial para todas as modalidades de usucapião imobiliária, DESDE QUE SEGUIDOS OS PROCEDIMENTOS NELE CONSAGRADOS. § 1º A legitimação de posse poderá ser transferida por causa mortis ou por ato inter vivos § 2º A legitimação de posse não se aplica aos imóveis urbanos situados em área de titularidade do poder público. ► O Art. 1.071 do CPC remete ao Art. 216-A da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), segundo o qual: Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, É ADMITIDO O PEDIDO DE RECONHECIMENTO EXTRAJUDICIAL DE USUCAPIÃO, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com: I - ATA NOTARIAL lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II - PLANTA E MEMORIAL DESCRITIVO assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes; III - CERTIDÕES NEGATIVAS dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - JUSTO TÍTULO ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel. § 1º O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido § 5º Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis § 4º O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias § 3º O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido § 2º Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância § 6º Transcorrido o prazo de que trata o § 4º deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5º deste artigo e achando-se em ordem a documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso § 7º Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei § 8º Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido § 9º A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião § 10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum
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