Prévia do material em texto
Avaliação psicológica com propósito clinico, psicodiagnóstico ou diagnóstico psicológico Alicia Vitória | Graduanda em Psicologia | IG: @aliciavit_ Contextualização sobre a psicologia clinica A psicologia clinica vai se especializar no comportamento humano por meio de diferentes aportes teóricos que vão englobar avaliação, diagnóstico, intervenção, tratamento, pesquisa e ensino. O psicólogo clinico vai tentar entender as características, sintomas, funcionamento psíquico para explicitar diagnósticos do indivíduo. No final do século XIX e início do século XX o psicólogo clinico trabalhava com testes, provas psicométricas de cunho intelectual que predominavam uma classificação. Com o tempo, com o surgimento das abordagens mais dinâmicas e surgimento de novos testes, passou a dar mais atenção as individualidades e incluir aspectos mais qualitativos na compreensão diagnostica do sujeito. Avaliação x psicodiagnóstico Avaliação psicológica: Conceito amplo. Psicodiagnóstico: Avaliação estritamente feita com propósitos clínicos Testagem x psicodiagnóstico Testagem: Um tipo de recurso da avaliação. Psicodiagnóstico: Utiliza outros procedimentos/ instrumentos além dos testes para obtenção dos dados psicológicos. Etapas do psicodiagnóstico ① Contato inicial à entrevista; ② Aplicação de testes e técnicas projetivas; ③ Encerramento do processo, com devolutiva; ④ Elaboração do documento. Condução de um processo psicodiagnóstico O psicólogo clinico realiza as avaliações através dos dados obtidos e tem os objetivos bem definidos e orientados para a resolução do problema, mas ele não da atenção apenas as inadequações, ele também observa as potencialidades do sujeito avaliado. Sendo assim, o psicodiagnóstico seria um processo cientifico, bipessoal, de duração limitada de tempo e que compreende uma série de passos: ① Determinar os motivos do encaminhamento ou consulta e levantar dados sobre a história pessoal do paciente (psicológica, social, escolar, médica, profissional); ② Definir hipóteses e os objetivos da avalição e estabelecer o contrato de trabalho com o paciente ou responsável; ③ Fazer o plano de avalição (instrumentos e técnicas usados); ④ Administrar as estratégias e instrumentos usados; ⑤ Corrigir ou levantar qualitativamente e quantitativamente as estratégias e instrumentos usados; ⑥ Interligar os dados colhidos com as hipóteses iniciais e os objetivos da avaliação; ⑦ Formular as conclusões definindo potencialidades e vulnerabilidades; ⑧ Comunicar os resultados através da entrevista de devolução e do laudo psicológico. Encerrar o processo de avaliação. A procura pelo psicodiagnóstico pode ser feita pelo paciente ou por encaminhamento de outros profissional, neste caso o que acontece é que as informações obtidas parecem não ser suficientes para compreender o caso, ou seja, esse profissional já fez as suas observações e colheu informações, mas ainda tem em mente questões que precisam ser respondidas. Assim, para melhor compreensão há requisitos importantes que devem constar em uma solicitação que o outro profissional deva fazer/informar: Trabalhar com o paciente a necessidade de um encaminhamento; Apresentar questões claras para facilitar a determinação dos objetivos; Informar fatos, sintomas ou outros dados importantes do comportamento e da história de vida do paciente; Encaminhar o paciente, se for possível, sob a ação mínima de medicamentos; Informar sobre os medicamentos usados pelo paciente e seus efeitos; { em contexto clínico } Alicia Vitória | Graduanda em Psicologia | IG: @aliciavit_ Caso seja necessária uma reavaliação informar quais aspectos necessários para essa finalidade; Entrar em contato com o psicólogo o numero de vezes que for necessário para fornecer ou solicitar informações. Devido à alta carga de ansiedade que o encaminhamento de um psicodiagnóstico possui, é necessário que nos primeiros contatos o psicólogo construa um bom entendimento que diminua a ansiedade e a defensiva do paciente, aumentando sua confiança, além de explicar todos os passos do processo através de um contrato de trabalho claro e preciso. Nesse contrato deve ficar esclarecido: Que não se trata de um processo de psicoterapia, pois ali terá um tempo e duração bem delimitados; Consentimento formal do paciente através do termo de consentimento livre e esclarecido para proteger tanto a pessoa avaliada como o psicólogo avaliador; Que o paciente tem liberdade para interromper o processo a qualquer momento se desejar; Crianças, adolescentes e adultos dependentes devem ser acompanhados por um responsável; No caso de crianças e adolescentes o contrato deve ser feito, além dos responsáveis, também com o paciente para que eles entendam o objetivo, a frequência, a duração e questões como o sigilo e a definição de papeis (o papel da pessoa que busca ajuda – o paciente – e o papel do avaliador – o psicólogo –.) Depois de ser definido a necessidade do paciente com o encaminhamento, é definido o objetivo. Os mais frequentes estão relacionados as áreas da educação, saúde e direito: Avaliação simples do desempenho cognitivo n Classificação de resultados de testes psicométricos para avaliar o score e determinar o QI; Avaliação de déficit cognitivo e disfunção cerebral n Identificar e mensurar funções de memória, atenção, percepção, aprendizagem e etc; Classificação nosológica n Identificar características e sintomas obtidos por entrevistas e instrumentos; Diagnóstico diferencial n Investigar irregularidades ou inconstâncias do quadro sintomático ou de resultados de testes para avaliar níveis de funcionamento ou psicopatologias; Avaliação compreensiva dinâmica n Investigar através de entrevistas e testes projetivos o funcionamento da personalidade; Prevenção n Identificar antes vulnerabilidades, avaliando riscos e fazendo estimativas de fraquezas e forças do ego para analisar a capacidade de enfrentar situações difíceis e estressantes; Avaliação forense n Investigar aspectos relacionados a insanidade e competência para exercício da função de cidadão. Vai fornecer elementos para tentar resolver questões relacionadas a causas cíveis (avaliar se o indivíduo está apto a resolver questões como administrar bens, tomar decisões, assinar documentos e etc) ou criminais (avaliar se o individuo é apto ou não a responder criminalmente pelo ato praticado). Entrevista Cada sujeito é único em suas características e a procura ou encaminhamento mostra que há uma situação que precisa do psicólogo o acolhimento, ajuda e orientação para o entrevistado., portanto o psicólogo deve demonstrar sensibilidade com as informações que serão apresentadas. O psicólogo pode usar de técnicas/ procedimentos para observar comportamentos, colher informações e combinar/relacionar diversos eventos, levantar hipóteses, estabelecer conclusões e emitir recomendações e encaminhamentos. Capacitação, experiência e aperfeiçoamento são requisitos básicos, mas os valores humanos são fundamentais para estabelecer uma atmosfera confortável e confiável, tais como: Empatia; Autenticidade n Qualidade de ser espontâneo, autêntico e verdadeiro; Cordialidade n Tendência a agir de maneira cooperativa e generosa; Aceitação n Atitude receptiva e sem julgamentos, transmitindo respeito e consideração pelo paciente, envolvendo respeito, afeto e simpatia. Diferentes tipos de entrevista são feitas durante o processo de avaliação e elas vão se caracterizar pelo objetivo, sendo elas: entrevista inicial, entrevistas durante o processo e entrevista de encerramento (devolutiva). Além disso, também podem ser estruturadas, semiestruturadas ou não estruturadas (livres). A entrevista inicial pode ser semiestruturada, por exemplo, e depois o psicólogo pode conduzirde forma mais livre para que o paciente possa expressar mais livremente sobre o motivo do encaminhamento ou consulta. Alicia Vitória | Graduanda em Psicologia | IG: @aliciavit_ Entrevista Inicial Nessa entrevista o acolhimento do paciente é de fundamental importância porque aqui vão ser definidos as metas dos outros encontros. Ela será influenciada pela motivação do paciente, pois aquele que vem por livre e espontânea vontade percebe a existência da dificuldade e estabelece mais facilmente uma aliança de trabalho, enquanto que aquele que vem encaminhado pode não entender os motivos do encaminhamento e se tornar mais resistente para se envolver, cabendo ao psicólogo conduzir o processo. Durante o processo São realizadas outras entrevistas durante o processo para conhecer melhor a história e o estado mental do paciente, além de colher dados e levantar hipóteses sobre o paciente, seu grupo familiar e seu ambiente social; as perguntas e hipóteses só se completam após o levantamento de toda a história do paciente. O psicólogo vai relacionar os dados apontados no encaminhamento com os dados levantados nas hipóteses como possíveis causas, aqui constrói-se um plano de avaliação individualizado definindo os procedimentos/técnicas/testes que poderão ser usados para responder as perguntas/hipóteses levantadas. Devolutiva Depois de passar todas as entrevistas, o psicólogo deve analisar e interpretar os dados e respostas relacionando com as informações obtidas na história do paciente e na aplicação dos procedimentos/técnicas/testes. Depois disso é feita a devolutiva. Nessa entrevista, semiestruturada, o psicólogo vai comunicar os resultados do psicodiagnóstico e oferecer esclarecimentos, como para o paciente esse é um momento de respostas às suas dificuldades, existe diferenças em cada tipo de devolução: para o paciente adulto a devolução é feita com ele; adultos dependentes é feito com os responsáveis; crianças e adolescentes é feita primeiro com os pais e depois com os jovens para abordar suas potencialidades e dificuldades. Em alguns casos, quando os resultados da devolutiva podem deprimir ou deixar os familiares e/ou pacientes ansiosos, é marcado uma consulta extra para que eles possam falar sobre isso, porém deixando bem claro que não será prolongada para além dessa consulta para que não seja confundido com o processo de psicoterapia. Testes psicológicos Em um psicodiagnóstico é indicado usar mais de um teste por considerar que nenhum instrumento sozinho vai abranger a pessoa como um todo, portanto é indicado um conjunto de testes para tentar diminuir a margem de erro. Problemas nas habilidades, capacidades e conhecimentos especiais podem ser mensurados pelos testes de aptidão (psicométricos), onde esse tipo irá responder questões sobre os comportamentos passados e futuros avaliando os comportamentos atuais. Já os testes de personalidade (projetivos), que explicam as reações das pessoas, impressões marcantes e atributos típicos, vão tentar mensurar o estado psicológico por meio das respostas pessoais que vão revelar dados relacionados as suas características pessoais. Para que os resultados sejam alcançados é necessário que, além de se seguir à risca as instruções, se tenha condições básicas no ambiente físico, gerenciamento do contexto clinico e se certificar do estado físico e psicológico do examinado, assim coisas como motivação, interesse e desejo de se submeter ao processo de avaliação irão influenciar, como por exemplo: Casos de internação psiquiátrica n Considerar o estado mental e possibilidade de impregnação por medicamentos que podem diminuir a motivação para o trabalho e alterar o rendimento nas provas; Avaliação forense (realizado por imposição judicial) n Pode ocorrer resistência para responder os testes, não cooperação e distorção consciente e proposital das respostas. Documentos escritos Na devolutiva, além de ocorrer de forma oral a transmissão dos resultados, também é entregue um laudo ou informe escrito (relatório) ao paciente ou familiares. O laudo é um documento que expõe os procedimentos usados e os resultados mais relevantes do paciente, fazendo uma junção da história do paciente, dos resultados obtidos através dos instrumentos usados e da compreensão clinica do caso, e tem como finalidade comunicar de forma compreensível os aspectos avaliados. Ele precisa ser Resolução n.002/2003 do CPF: Teste psicológico é um instrumento de avaliação ou mensuração de características psicológicas, de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que se dispõe a lei n. 4.119/62. Alicia Vitória | Graduanda em Psicologia | IG: @aliciavit_ explicito, coerente e organizado, por isso o psicólogo precisa se preocupar com a linguagem que vai ser usada, evitando usar termos universais e ambíguos com pouca qualidade técnico-cientifica e termos excessivamente técnicos. Por isso, é possível estruturar por meio de itens: Identificação n Tópico que identifica o paciente, o psicólogo, quem solicitou o encaminhamento e porque solicitou; Descrição da demanda n Informações sobre a demanda encaminhada, seus motivos, razões e expectativas; Procedimentos n Descrição dos procedimentos feitos e instrumentos usados e porque (cientificamente) foram usados; Análise n Exposição, sem afirmações ainda, sobre os dados colhidos; Conclusão n Exposição do resultado e/ou considerações, encerrando com o documento com a indicação do local, data de emissão, assinatura do psicólogo e seu numero do CRP. O CFP orienta que o material decorrente de procedimentos, testes psicológicos e documentos escritos devem ser guardados em um lugar seguro por um período mínimo de 5 anos.