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1 Disciplina: Introdução à Psicopedagogia Autores: M.e Luanza Pavi Revisão Conteúdos: M.e Maria Tereza Costa / M.e Romário Keiti Pizzatto Fugita Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Luanza Pavi Introdução à Psicopedagogia 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA PAVI, Luanza. Introdução à Psicopedagogia / Luanza Pavi – Curitiba, 2016. 54 p. Revisão de Conteúdos: Maria Tereza Costa / Romário Keiti Pizzatto Fugita. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Introdução à Psicopedagogia – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-5475-058-9 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais, e grupos de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da Disciplina Nesta disciplina será apresentada uma imersão no cenário de que ainda é novo para a sociedade apesar de ser bastante estudado. Por isso, as aulas foram divididas para, no primeiro momento, esclarecer um pouco do histórico do desenvolvimento do processo educacional, de maneira que se consiga compreender do que se trata a psicopedagogia, seu objeto de estudo e as bases teóricas desse campo do saber. Após essa abordagem, serão exploradas as formas de atuação da psicopedagogia, o público para o qual ela é voltada e as funções que desempenha no processo de ensino-aprendizagem. Na sequência, em uma análise mais panorâmica será verificado como os valores institucionais, morais e pessoais, devem ser defendidos pelos profissionais dessa área com a apresentação do código de ética. 6 Aula 1- Breve histórico da Educação e Fundamentos da Psicopedagogia: Definindo o Objeto de Estudo Apresentação da Aula O objetivo desta aula é a inserção no âmbito psicopedagógico com as contribuições de diversos autores dessa área de conhecimento. Para tanto, as reflexões serão iniciadas a partir de um breve histórico da educação, isto é, como a mesma foi vista na Idade Antiga, na Idade Média e na Idade Moderna. A análise histórica vai permitir a compreensão das etapas que a educação superou até adquirir as formas atuais, moldadas por autores consagrados. A consciência desse panorama através das épocas também leva a perceber a importância da psicopedagogia, além da definição do objeto de seu estudo, isso dá ao psicopedagogo a confiança necessária para atuar na profissão. 1. Introdução aos Fundamentos e História da Psicopedagogia Antes de trabalhar mais a fundo a psicopedagogia, que se trata de uma ciência que trabalha os processos cognitivos, afetivos e sociais como meio de interação e conhecimento das potencialidades e dificuldades do aprendiz, inicialmente será acompanhado o trajeto histórico percorrido por essa ciência para compreender como a psicopedagogia chegou e onde se encontra na atualidade. 1.1. Abordagem Histórica da Educação A seguir serão trazidas considerações das condições históricas da educação que permitirão a associação com alguns problemas atuais, e darão a consciência da importância do trabalho pedagógico e da sua relação com as condições psicológicas para um aprendizado de qualidade. 1.1.1 A Educação na antiguidade Ao falarmos da Educação na antiguidade, estamos fazendo uma referência à essência do que esteve presente na humanidade em determinado tempo, como também às possibilidades imanentes a um 7 determinado universo humano, que contribuiu para o enriquecimento de componentes fundamentais para o curso do processo histórico (SOUZA, 2006, p. 16). Conforme verificado por Souza (2006), nessa época ainda não havia um sistema de educação implantado, isto é, não estava determinada uma metodologia adequada ao processo educacional. Nesse período, o homem possuía uma concepção própria do mundo, que era, sobretudo, sugerida pelo meio social e pelos membros mais velhos da sociedade. Souza (2006) afirma que a convenção social daquela época ditava como as pessoas “deveriam ser” desde o momento em que nasciam e, com as coisas que observavam e escutavam, as crianças absorviam ideias e sentimentos elaborados por gerações anteriores. Ou seja, eram moldadas pelas influências do ambiente no qual viviam. De maneira semelhante, os homens, nessa época, interiorizavam as normas e valores sociais. 1.1.2 Educação na Idade Média Fonte: https://oplum2.wordpress.com/2012/05/28/a-educacao-infantil-na-idade-media-ricardo- costa/ Falar de educação na Idade Média implica no conhecimento desse período histórico que revolucionou as mentes mais ativas dessa época. Sabe-se que se trata de um momento histórico marcado pelas angústias do homem, pelas doenças desconhecidas e, ainda, pelo antagonismo entre as luzes e as trevas, assim como o bem e o mal, e o certo e o errado. Mas, quanto a isso, é necessário tomar cuidado, pois ao contrário do que se costuma conhecer, trata-se de um momento, embora turbulento, marcado por grandes produções culturais, sendo estas, sobretudo, ancoradas no contexto da fé. 8 Souza (2006) ao falar sobre a Idade Média, observa que se trata literalmente “no meio”, isto é, no meio da evolução da história da humanidade em que, num primeiro momento, existe tamanha dependência do clero para se alcançar formação intelectual. No entanto, a mesma autora confirma que, posteriormente, os dogmas impostos pelo clero são questionados, permitindo que novas ideias apareçam. De acordo com essa perspectiva, inúmeras foram às tentativas de não permitir que o clero dominasse o conhecimento e cultura da época. No entanto, a realidade se impunha conforme esclarecido abaixo: Quando não era possível ao bispo zelar pela disciplina e pelo controle da doutrina cristã, esse poder era delegado a um representante escolhido pela Igreja. Ele recebia o nome de scholasticus e sua função era, segundo Giordini (1982, p. 292), a de “assumir a direção da escola-catedral, zelando pela manutenção da ordem, e encontrando, não raro, nessa missão, sérias dificuldades [...] (SOUZA, 2006, p. 65). Sobre este período histórico, é fundamental destacar que a produção de conhecimento estava fortemente associada ao antagonismo entre fé e razão: (...) períodode enormes destruições e em que a maldade humana se fez presente muitas vezes, em nome de Deus, não se deixou de pensar que é pela educação que se faz uma sociedade e por meio dela se pode renascer das supostas “cinzas” causadas pelas trevas da Idade Média (SOUZA, 2006, p. 76). Assim, percebe-se que a religião exercia grande influência na educação do homem. Aqui, é possível falar de um método e de um sistema religioso de ensino, onde o homem encontrava-se sob o domínio das ideias religiosas. 1.1.3 Educação na Idade Moderna O marco na Idade Moderna esteve nas denúncias feitas contra os abusos da Igreja e pela figura de Lutero, que colocou em questão o papel do Papa e do Vaticano. Esse período também foi marcado pela crescente industrialização, a qual trouxe a necessidade de capitalização do saber, de maneira que se tornasse rentável. No trecho abaixo se tem uma melhor visão sobre as transformações do saber e da educação nesse período da história, onde trata-se da razão que está sobreposta. 9 O século XVI é também o século da elaboração de uma nova ciência, aquela que vai impulsionar não só o outro olhar sobre o mundo, mas também trará outro conceito de saber. (...). É o início do racionalismo que será não só a base de todo o edifício da ciência moderna, como influenciará os processos pedagógicos, em que o espaço para o ensino das ciências da natureza tende a se tornar mais explícito (SOUZA, 2006, p. 91-92). Portanto, a educação que há séculos era produzida pelo Clero, passa a ser laica, racional, científica, moral e crítica às tradições do passado. Saiba Mais É preciso que atenção aos acontecimentos desse período, por mais que haja uma luta contra a detentora do saber, a religião, não se trata de uma luta que para se chamar de “democratização do saber” em função do homem. Na verdade, trata-se muito mais de interesses políticos e econômicos, do que de fato sociais. Ainda que seja possível falar e se referir a esse período como um momento histórico em que se verifica o nascimento de um modelo ideal de educação, ainda se diz de um momento em que a preocupação se dava, sobretudo, em relação à produtividade e, nesse sentido, a formação da juventude era em busca de uma maioridade autônoma e produtiva. Basicamente, a partir desse conhecimento sobre cada uma dessas épocas históricas, é importante notar que houve grande transformação no que diz respeito à educação. Mas então, “O que isso tem a ver com o que se pretende nesta disciplina?” Se na Idade Moderna começou a se discutir sobre um ideal pedagógico preocupado com a produtividade, isso implica dizer que, nesse período, já é possível pontuar a formação de salas de aulas – não semelhante com as que existem hoje, mas que, sem dúvida, eram compostas por alunos e professores. É nesse momento, então, que os olhares científicos passam a perceber que a forma como um indivíduo aprende, não necessariamente é semelhante à forma como o outro aprende, ainda que estes estejam aprendendo o mesmo ofício, sob as mesmas diretrizes, ditadas por um mesmo mestre do saber. Preocupados com a capitalização do saber, muitas vezes o mestre, em sala de aula, pelo volume de conteúdos e compromissos com as tarefas e metas a 10 serem desenvolvidos, não consegue identificar ou até mesmo intervir de maneira prática e efetiva as dúvidas dos alunos, as quais, mais tarde, têm a probabilidade de ocasionar algum “problema de aprendizagem”, que passa a ser foco de olhares interessados. Naquela época, era necessário que se aperfeiçoasse o ato de aprender; e que se ditasse um padrão produtivo de aprendizagem, para que este tivesse seu funcionamento voltado às necessidades capitais regidas pelo momento histórico do capitalismo. Portanto, compreende-se, que isso só se tornará possível depois de compreender os problemas que interferiam no processo de aprendizagem. Até aqui foi abordada uma visão crítica, a qual trouxe a necessidade de conhecer melhor o padrão de aprendizagem do ser humano. Embora não seja esse o objetivo, enfatiza-se que algo semelhante ocorreu com o nascimento da Psicologia. A psicologia não nasceu voltada para compreender o sofrimento e a angústia humana; mas, foi fundada para atender os ideais capitalistas da época, de maneira que tornasse possível a previsão acerca do comportamento humano. Para Refletir Qual relação, em termos de produtividade pedagógica, pode ser feita da Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna, pontue elementos de cada época que caracteriza a abordagem pedagógica correspondente? Para essa reflexão, é possível pontuar que a educação já viveu vários momentos e de cada um tira-se um aproveitamento. Portanto, o aprimoramento em cada fase histórica do Sistema Educacional é de suma importância para que os objetivos sejam realizados. Dentro dessas pontuações históricas, um detalhe que destaca é o fato de que as ações eram mais capitalistas do que sociais, isso permite visualizar o desenvolvimento tanto da psicologia quanto da Psicopedagogia, de maneira que se possa chegar o mais próximo da compreensão da dimensão afetiva do ser humano, ainda que cada um desses conhecimentos apresente propósitos específicos e distintos. 11 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para aprofundar seus conhecimentos e relacionar a Educação com a Psicopedagogia indica-se para sua leitura, o livro da Laura Monte Serrat Barbosa (2010). 1.2. Fundamentos da psicopedagogia: algumas considerações sobre o termo e definições sobre o seu objeto de estudo Ao tratar sobre a Psicopedagogia, sabe-se que as indagações são inúmeras e os autores que abordam esse tema buscam chegar ao menos a um consenso de que alguns ajustes ainda precisam ser tomados para esclarecer ainda mais o termo e conceito. Uma questão a ser levantada é: “Seria a Psicopedagogia uma aplicação da Psicologia à Pedagogia? ” “Ou trata-se das práticas da Pedagogia aplicadas as práticas da Psicologia? ” Ao contrário do que se pensa, a resposta pode não ser tão simples assim. Essa realidade é visualizada no livro A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da Prática (BOSSA, 2007), o qual oferece base para construir parte dos conhecimentos a respeito do tema, conforme a citação da autora: O termo Psicopedagogia apresenta-se, hoje, com uma característica especial. Quanto mais tentamos elucidá-lo, menos claro ele nos parece. (...). Como diz Lino de Macedo (1992), “o termo já foi inventado e assinala de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes razões da produção de um conhecimento científico: o de ser meio, o de ser instrumento, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou aplicada” (BOSSA, 2007, p. 5). É possível perceber, nessa colocação, que não se trata de apenas aplicar a Psicologia à educação ou a educação à Psicologia, mas de um conhecimento produzido no limite desses dois campos de saberes, e não a partir deles, de forma que não é o primeiro nem o segundo, é uma área do conhecimento que se construiu com o que se sabe sobre os dois. 12 Relativo a esses questionamentos, é necessário admitir o caráter interdisciplinar da Psicopedagogia. Bossa (2007) afirma que esse caráter significa buscar conhecimento em outros campos do saber e, a partir disso, criar o seu próprio objeto de estudo. Por esse motivo não se tem a possibilidade de falar que se trata apenas da aplicação da Psicologia na Pedagogia. Barthes (1988, p.99) diz: O interdisciplinar, de que tanto se fala, não está em confrontar disciplinas já constituídas das quais, na realidade, nenhuma consente em abandonar-se. Para se fazer interdisciplinaridade, não basta tomar um “assunto” (tema) e convocar em torno duas ou três ciências. A interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a ninguém. Reitera-se o caráter interdisciplinarque evidencia que a Psicopedagogia não se define como uma mera aplicação da Psicologia a Pedagogia. Ambas, sem dúvida, fornecem subsídios importantes para a prática psicopedagógica, mas que não bastam para a realização e atuação dessa ciência. Como se pode perceber, a ideia de criação de um objeto de estudo próprio, apresentada pelo conceito de interdisciplinaridade, coincide com a proposta da Psicopedagogia, que dedica sua atenção a um objeto de estudo criado pela sua atuação prática e desenvolvido pela consistência teórica. 1.3. A Psicopedagogia e seu Objeto de estudo Para compreender melhor o objeto de estudo da Psicopedagogia, primeiramente é necessário ter clareza dos sujeitos envolvidos nesse processo, os quais passarão por um acompanhamento clínico ou institucional. E também para que nós, enquanto profissionais, podendo enxergá-los da maneira correta, contemplando-os como indivíduos que não separam as questões afetivas, cognitivas, sociais e familiares, mas pelo contrário, que nascem e chegam aos seus diversos ambientes da mesma maneira, ou seja, como seres cognoscentes. 13 Saiba Mais Barbosa (2007 p.92), conceitua ser cognoscente com as seguintes palavras: Este ser cognoscente é um ser que nasce incompleto, que não possui todos os seus comportamentos determinados de forma biológica. Para sobreviver, necessita relacionar-se com sua cultura, apropriar-se das ferramentas sociais, desejar viver, conviver, aprender e conhecer, respeitando o ambiente do qual faz parte constitutiva, os conhecimentos já produzidos através da história, nas diferentes culturas, a ética de ser humano e sujeito universal. Sendo assim o sujeito, quando nasce, não está completo, no sentido de ter noções básicas de relacionamento com as pessoas, com a sociedade e com o mundo no qual está inserido. É por conta dessa necessidade que o bebê, ao longo dos seus dias, cultiva, aos poucos, contato com os demais indivíduos que irão lhe ensinar valores. Na concepção de Parolin e Portilho (2003) fica esclarecido que essa ideia está relacionada com um sujeito que, para aprender, pensa e age numa atmosfera de sensações e de conhecimentos, que pode ser tanto subjetiva quanto objetiva, da mesma forma que coletiva ou individual. Nesse sentido, o objeto de estudo da Psicopedagogia é a aprendizagem humana em sua essência social, afetiva e cognitiva. Trata-se, portanto, de estudar o sujeito na sua particularidade e no seu contexto social, cabendo, então, ao psicopedagogo, motivá-lo para a tomada de consciência sobre as ferramentas necessárias para sua aprendizagem e para o convívio adequado. Dentro dessa visão, trata-se, pois, da construção de um olhar e de uma escuta diferenciada, voltada para o processo de ensino e aprendizagem, de maneira que se possa conhecer os sintomas para analisá-los e finalmente, buscar soluções para os problemas encontrados (BARBOSA, 2001). Outros autores também procuram definir e delimitar o objeto de estudo da Psicopedagogia. Na visão de Kiguel (1983) esse conceito diz respeito ao processo de aprendizagem humana com seus padrões evolutivos, podendo esses ser normais ou patológicos, e a influência que o meio (escola, família e sociedade) exerce sobre o indivíduo. Em outras palavras, estamos direcionados em como o sujeito aprende e a importância do meio neste processo. 14 Neves (1991) além de definir o ato de aprender como o objeto de estudo da Psicopedagogia, aponta também o ato de ensinar como parte desse processo, levando em consideração o meio no qual o mesmo ocorre. A isso, acrescenta-se a relevância de incluir a realidade interna do indivíduo, isto é, estudar o ato de conhecer em sua complexidade, atentando-se aos aspectos afetivos, cognitivos e sociais do sujeito. Ainda preocupado com a complexidade relacionada às questões que dizem respeito ao processo de aprendizagem, Scoz (1992), ao abordar o objeto de estudo da Psicopedagogia, contempla não só este processo, mas também as dificuldades que esse processo pode encontrar no decorrer do aprender de cada indivíduo. Ainda na linha teórica de Scoz (2000) é contemplado que a integração entre a subjetividade e a objetividade nos processos de aprendizagem é o princípio que norteia a atuação da Psicopedagogia, sendo esta responsável por compreender a construção de conhecimento por parte do sujeito, a que chama sujeito epistêmico, e também a constituição do sujeito a partir do conhecimento, a que chama sujeito desiderativo ou desejante. Em resumo, há um consenso no que diz respeito ao objeto de estudo da Psicopedagogia, o qual conduz à consideração da aprendizagem humana como sendo esse objeto, ainda que o objeto de estudo da psicopedagogia seja abordado de maneiras diferentes pelos mais distintos autores. No entanto, o mais importante quanto a conhecer e delimitar o objeto de estudo, é conhecer as origens dessa ciência que transformou a maneira de se pensar as dimensões da aprendizagem, ou seja, quando passa a se contemplar não apenas aspectos de sala de aula, mas colocar junto a esse processo o sujeito como um todo: aquele que pensa, sente, age e interage. 1.4. Breve histórico da Psicopedagogia Ao falar sobre um breve histórico da educação, tem-se como início na emergência do período industrial, consequência da preocupação com a produtividade e, obviamente, com tudo aquilo que pode atrapalhar a possibilidade de maximizar a produção. É nesse contexto que surge a preocupação e a disponibilidade de uma área que tenha condições teóricas e práticas para atender as demandas na clínica, na instituição e nas demais instâncias, com o objetivo de 15 corroborar com as avaliações e pareceres construídos para os sujeitos encaminhados com alguma queixa e de um possível problema de aprendizagem, os quais precisam ser analisados pelas intervenções psicopedagógicas. A princípio, a contribuição da área médica ficou responsável por estudar a causa desses problemas, propondo possíveis intervenções, sobretudo no período da Primeira guerra mundial, a qual permitiu que fosse estudado o cérebro de soldados feridos, de maneira que se tornasse possível compreender a relação das áreas danificadas com as funções aparentemente prejudicadas (BARBOSA, 2001). É, então, no final do século XIX, que se inicia a investigação das causas que interferiam na aprendizagem do sujeito. Nomes como Esquirol (1772-1840), Decroly (1871-1932) e Séguin (1812-1880) marcaram esse momento colaborando para tanto (Ibid., 2001). É possível verificar que o início da Psicopedagogia ocorreu na Europa no século XX. Andrade (2004), por exemplo, atribui o nascimento de Psicopedagogia à década de 20, no momento em que surgiu o primeiro centro de Psicopedagogia do mundo na França, estando este fortemente ligado ao pensamento psicanalítico de Lacan. Já Bossa (1994) atribui esse nascimento à criação dos primeiros centros Psicopedagógicos em Paris, por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco, no ano de 1946. Nessa época, a autora esclarece, esses centros deveriam auxiliar crianças e adolescentes que apresentavam desvios de comportamento. A ideia era reeducá-las para o meio a partir de acompanhamento psicopedagógico, o qual consistia em ações de classificações dos desvios de aprendizagem, seguidas da elaboração de planos de trabalho, que tinham como base a psicologia, a psicanálise e a pedagogia. Na citação que segue abaixo, pode-se visualizar um pouco melhor sobre esse momento inicial. (...) num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E, ainda, a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processode aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da Psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto do processo terapêutico, e o principal objetivo é a investigação da etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do proces-samento da aprendizagem, considerando todas as variáveis que intervêm neste processo (RUBINSTEIN, 1987, p.103). 16 Importante A Psicopedagogia vem para contribuir com as análises e investigações, com o intuito de desencadear alguns processos para a avaliação e a intervenção na caminhada de um sujeito. Barbosa (2002) complementa que, tal como na Europa, os Estados Unidos também vivenciaram um momento de preocupação com as dificuldades de aprendizagem. No entanto, o movimento americano fez crescer a crença de que esses problemas eram oriundos de causas orgânicas, o que influenciou até pouco tempo a intervenção da Psicologia Escolar, enquanto o movimento Europeu fez nascer a Psicopedagogia. Andrade (2004) nos esclarece que essa influência se dá com: A primeira Universidade do país que surge no século XVIII organizada institucionalmente nos parâmetros europeus. Muitos espanhóis emigraram para a colônia para fazer fortuna e voltar para a corte. Trouxeram na bagagem as ideias e a cultura de valorização do conhecimento mantendo sempre com a Europa profícuo intercâmbio, de tal forma que as ideias revolucionárias de Freud e seus seguidores não encontraram barreiras para conquistar o novo continente (ANDRADE, 2004, p. 1). Importante A Psicopedagogia trabalha com a aprendizagem do ser humano. No sujeito que apresenta uma dificuldade específica, um processo avaliativo e de intervenção pode ser realizado; com a pessoa que busca a psicopedagogia para prevenir possíveis dificuldades, um acompanhamento pode ser construído. Visca (1935-2000), um dos pioneiros da Psicopedagogia na Argentina, chegou ao Brasil com o objetivo de criar os Centros de Estudos Psicopedagógicos (CEPs), visando difundir a linha teórica que fundamentava a Psicopedagogia defendida por ele: a Epistemologia Convergente, uma linha que propunha a integração entre a Psicologia genética de Piaget (1896-1980), a Psicologia Social de Pichon Rivière (1907-1977) e a Psicanálise freudiana (BARBOSA, 2001). Na Argentina, segundo Visca (1987, p.33), a Psicopedagogia nasce como uma ocupação empírica que buscava compreender as crianças com dificuldades 17 de aprendizagem, cujas causas estavam sendo estudadas tanto pela medicina quanto pela psicologia. Mais tarde, a psicopedagogia alcançou sua independência enquanto ciência, na medida em que se consagrou enquanto conhecimento científico, construindo seu objeto de estudo e recursos de diagnóstico e de prevenção. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA A corrente de Jorge Visca também será abordada em uma de nossas disciplinas, e apresenta várias pontuações relevantes a respeito de abordagens psicopedagógicas. A mesma pode ser acompanhada no livro cujo título é Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente (1985). O Brasil foi influenciado tanto pela Europa quanto pelas tendências americanas. Mas foi por intermédio da Argentina que aconteceu a construção do conhecimento psicopedagógico brasileiro. Nomes como o de Sara Paín (1931), Alícia Fernández (1944) e Jorge Visca (1935-2000) marcaram a influência argentina no país, enriquecendo essa área de conhecimento (BARBOSA, 2001) Vale destacar que no Brasil, na década de 70, os problemas de aprendizagem eram considerados ainda com uma ligação aos fatores orgânicos, em função da influência americana, fazendo perdurar uma atuação essencialmente médica e organicista no tratamento de questões relacionadas ao fracasso escolar. Nessa época, os problemas de aprendizagem eram considerados e associados aos problemas neurológicos, cenário esse que só começou a se modificar na década de 80, quando se iniciou uma teoria social e política a respeito do fracasso escolar (BOSSA, 2007). Ainda assim, com toda a transformação que sofreu esse cenário, foi a partir de uma herança médico-pedagógica que nasceram os primeiros cursos de Psicopedagogia no país, marcando o início de uma atuação profissional essencialmente – mas não somente – organicista. É válido destacar que, nesse momento inicial, a Psicopedagogia ganhou espaço no Brasil, sendo trazida por exilados argentinos, em meio à época em que 18 estava em vigor o regime militar em países da América Latina, em que a liberdade de expressão estava posta em risco, e é nesse panorama que a Psicopedagogia chegou ao Brasil. Foi apenas ao final da década de 70, com a criação, em São Paulo, das Sedes Sapientiae, que surgiu o seu primeiro curso de especialização. Atualmente, conta-se com mais de 120 especializações nessa área no país. Curiosidade No Paraná, e mais especificamente em Curitiba, um grupo de profissionais foram os pioneiros nesse estudo, como: Evelise Portilho, Isabel Portilho, Laura Monte Serrat Barbosa, dentre outros. É possível acompanhar o trabalho de Evelise Portilho na seguinte reportagem Tipos de Aprendizagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=88I8ku7XkmI É com o intuito de compreender a mudança no cenário de atuação do psicopedagogo, ocorrida ao longo do tempo, que serão apresentados os dois momentos distintos do objeto de estudo da Psicopedagogia. 1.4.1. Dois momentos distintos do objeto – Psicopedagogia Depois de conhecer a respeito do percurso histórico da Psicopedagogia, e mais a definição do que se considera como objeto de estudo dessa ciência, é possível pontuar que nem sempre esse objeto foi abordado da mesma maneira como é feito hoje, por conta da sua evolução histórica, como qualquer ciência, que ao longo dos anos tem suas teorias renovadas, assim como revistas acrescentadas para um melhor andamento das formações de seus profissionais; uma autora que alerta sobre esse tema é Bossa (2007). A aprendizagem humana, num primeiro momento, era vista sob um olhar ainda imaturo dentro de uma perspectiva dos profissionais que se dedicavam a essa prática. Talvez, um olhar ainda pouco elaborado por estarem focados na reeducação daqueles com déficits de aprendizagem, isto é, no sujeito que se encontra em situações de uma não-aprendizagem; ou aqueles que aprendem com dificuldade e/ou lentidão. É preciso destacar que, ao se referir à situação de não- aprendizagem, trata-se de uma perspectiva social, na qual estão inseridos: 19 instituição de ensino, instituição família, grupos sociais, condição econômica e cultural, o que contextualiza a situação de aprendizagem. Poderia estar relacionado ao fato de o sujeito estar vivendo em grupos de práticas e ideologias com muitas diferenças e a dificuldade apresentada por ele, indicar que algo não está adaptado nesta dinâmica. Nesse contexto, estaria a intervenção baseada em um modo de tratamento de uma enfermidade, cujo principal objetivo é fazer desaparecer o sintoma e tornar possível a “cura pedagógica” de casos isolados, trazendo à tona, a possibilidade de o sujeito aprender normalmente em condições melhores (ANDRADE, 2004). Quando a atenção incide sobre o “sujeito que não aprende”, pode haver uma tendência de ignorar a compreensão das várias facetas da aprendizagem desse sujeito. Nesse sentido, há o risco de se preocupar mais com reinserção do sujeito no contexto social e na sua readaptação a padrões traçados pela sua realidade externa, do que com a compreensão da sua forma singular de aprender, levando em conta sua realidade interior e as habilidades que esse sujeito apresenta, ainda que sejam distintas do que se espera socialmente. Caso os profissionais prossigam dessa forma, pode existir a possibilidade de não dar a devida importância aos aspectos e noções dos “problemas de aprendizagem”; equem sabe até simplificar um processo que precisa e deve ser aprofundado. No entanto, se esse movimento não for realizado, é como se fosse estabelecido aquilo que é certo e aquilo que é errado, desconsiderando o tempo, o momento e a forma de cada um aprender. Portanto, evidencia-se um primeiro momento de estudo marcado pela busca de se reestabelecer padrões de aprendizagem, a partir de parâmetros sociais previamente estabelecidos, não levando em conta a singularidade do indivíduo. Não apenas a Psicanálise, mas também outros campos do saber corroboraram sobre esses aspectos, os quais serão abordados nas próximas aulas. Por exemplo, a noção da “não aprendizagem” deixa de ser considerado um rótulo imobilizador do sujeito, passando a ser vista como algo que apresenta uma série de significados que não se opõe ao ato de aprender, e que precisam ser trabalhados pelo psicopedagogo, seja na Clínica ou na Instituição, dependendo do direcionamento e da queixa levada para cada atuação psicopedagógica. No que diz respeito ao afastamento da condição de “não aprendizagem” de um rótulo imobilizador do sujeito, Parolin (2011) traz uma abordagem muito 20 interessante, na qual alerta sobre a importância de não restringir o conceito de aprendizagem à mera apropriação de conhecimentos, o que, como discutido anteriormente, evitaria o que há pouco foi tratado como a simplificação de um processo que precisa e deve ser aprofundado. Nesse sentido, necessariamente, ao falar de aprendizagem, há um convite para diferentes conexões sobre como ocorre o ato de aprender do sujeito, estando direta e indiretamente relacionado ao que a autora chama de “clima emocional” em que ocorre a aprendizagem. Nesse segundo momento do objeto de estudo, existe uma relação com o sujeito que estuda e aprende constantemente, contrariando, dessa forma, a noção de uma aprendizagem padrão, delimitada e fechada. Fala-se, então, de um instante em que a história de vida do sujeito, suas relações sociais e sua individualidade são contempladas. Fonte: Elaborado pelo DI É preciso considerar que nessa forma de pensar os caminhos da aprendizagem, é possível encontrar uma série de desafios e que cabe ao psicopedagogo, trabalhar de maneira a contribuir com outros saberes a esse respeito. Além disso, precisa-se voltar a atenção para o que foi tratado durante as aulas como: sensibilizar a relação do psicopedagogo em relação ao sujeito que também contribui e sente as nuances da sua aprendizagem. 21 O que nos falta para que sejamos explícitos, são modelos conceituais e, além deles, uma visão global graças à qual nossas ideias dos seres humanos como indivíduos e como sociedade possam harmonizar-se melhor. Não sabemos, ao que parece, deixar claro nós mesmos como é possível que cada pessoa isolada seja uma coisa única, diferente de todas as demais; um ser que, de certa maneira, sente, vivência e faz o que não é feito por nenhuma outra pessoa; um ser autônomo e, ao mesmo tempo, um ser que existe para outros e entre outros, com os quais compõe sociedades de estrutura cambiáveis, com histórias não pretendidas ou promovidas por qualquer das pessoas que as constituem, tal como efetivamente se desdobram ao longo dos séculos, e sem as quais o indivíduo não poderia sobreviver quando criança, nem aprender a falar, pensar, amar ou comportar-se como um ser humano (ELIAS, 1994, p.68). É por meio dessa consciência, na qual cada pessoa é vista como singular e a mesma que traz consigo uma bagagem com suas experiências, que foi possível construir uma nova percepção a respeito do objeto de estudo. É com essa perspectiva que se dirige para o próximo momento de estudo, com o objetivo de compreender essa nova percepção que permite novos caminhos e novos olhares sobre as dificuldades de aprendizagem. Dessa forma, iniciamos nossa próxima aula, convidando você, aluno, a refletir sobre as origens teóricas da psicopedagogia, de maneira que possa conhecer e estudar seus fundamentos. Atividade de Aprendizagem Com base no que foi estudado nesta aula, explique a diferença entre a psicopedagogia iniciada na América e na Europa, e quais características dessas duas foram abordadas pela psicopedagogia brasileira. Resumo da Aula Nesta aula foi apresentado um breve histórico da psicopedagogia, na qual a mesma só vem a ser moldada mesmo no século XX, mas antes disso já existiam estudos a respeito para contribuir com a formação da psicopedagogia. Na sequência entrou em pauta a delimitação do objeto de estudo da psicopedagogia, com uma dualidade sendo discutida, a da análise mais superficial evitando a imposição de limites no processo de aprendizagem e o da análise mais profunda que tende a ser bastante impositiva. De modo que fica a critério do 22 psicopedagogo um estudo sobre o caso em questão para decidir a melhor análise a ser adotada. Aula 2: Embasamento teórico do trabalho psicopedagógico Apresentação da Aula Nesta aula será abordada a interdisciplinaridade como característica de destaque para a Psicopedagogia, pela oportunidade que esse campo do saber tem de construir seu próprio objeto de estudo e lançar a ele olhares que trazem a compreensão diferente do que é oferecido por outros campos de saberes. No entanto, mesmo que haja uma percepção distinta acerca do seu objeto, a Psicopedagogia, como ciência, precisa interagir constantemente com as outras áreas, profissionais e teóricas. Inicialmente será traçado um trajeto a respeito das origens teóricas da Psicopedagogia, de maneira que seja possível conhecer e estudar seus fundamentos. 2. Embasamento teórico do trabalho psicopedagógico Para iniciar a fundamentação de teorias psicopedagógicas, é preciso destacar momentos importantes da história da humanidade num contexto histórico, como verificado na aula anterior, e a partir deles verificar os motivos que levaram às contestações e aos estudos que embasam a psicopedagogia. 2.1 Breves Considerações A Psicopedagogia teve seu marco inicial ao acompanhar a evolução histórica, onde se deu a necessidade de estudar aspectos encontrados e relacionados à aprendizagem, ou seja, as habilidades e as limitações dos indivíduos. Portanto, para efetivar um acompanhamento para compreender esses aspectos foi preciso aprofundar a teoria e as pesquisas junto com as queixas advindas dos vários contextos, os quais os sujeitos pertenciam e pertencem. 23 Vocabula rio O que significa o termo “queixa” dentro da psicopedagogia? É uma situação, um problema ou até um déficit relacionado à aprendizagem de um sujeito. Para continuar esse pensamento, Paín (1985) contribui ao dizer que: [...] nesse lugar do processo de aprendizagem coincidem um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas [...] (p.15). Logo, não são apenas sujeitos que estão marcados pelo aspecto da inconstância e pelas contradições típicas do ser humano que se estuda na psicopedagogia, mas que se relacionam; que possuem um arsenal biológico também responsável pelas questões cognitivas e de aprendizagem, os quais estão fundamentalmente associados a um momento histórico e também social, enfim, são vários os aspectos que são levados em consideração. É pensando no constante preparo do psicopedagogo, em que se torna primordial conhecer as teorias que embasam a formação desse profissional e auxiliam também nas articulações com a sua prática. Para iniciar as discussões, se verifica nas palavras de Barone (1992): [...] a prática psicopedagógica vem colocando questões ainda pouco discutidas, de manejo difícil e geradora de conflitos. Isto porque seu “paciente”, o sujeito com dificuldade de aprendizagem, apresenta, quase sempre, um quadro de comprometimentos que extrapola o campo de ação específicode diferentes profissionais, envolvendo dificuldades cognitivas, instrumentais e afetivas (BARONE, 1992, p. 113). Por considerar que a atuação psicopedagógica também está interligada com outras áreas e demais profissionais, como o neurologista, fisioterapeuta, fonoaudióloga, dentre outros, que se torna importante conhecer suas teorias e campo de atuação, para que possamos dar voz e vez ao trabalho, muitas vezes, multidisciplinar dentro dos acompanhamentos e avaliações psicopedagógicas. Ademais, já é parte do trabalho profissional do psicopedagogo lidar com essa complexidade, que interage e se relaciona constantemente com o seu meio. Por isso, demanda múltiplos conhecimentos e cobra constante aperfeiçoamento 24 para que estes profissionais estejam habilitados a contribuir para uma intervenção prática e eficaz. Nesse sentido, a seguir é possível acompanhar algumas teorias que contribuem para essa formação e atuação. (PAROLIN, 2011) Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Os livros, Psicopedagogia: teoria e prática (2005) e Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento psicope-dagógico (2006), cujas respectivas autoras são Circe Ferreira Lomonico e Olívia Porto, apresentam visões de muito interesse para o psicopedagogo. Eles relacionam bastante os elementos de fundamentação da psicopedagogia, seus elementos teóricos, às aplicações dentro do contexto escolar, vinculando os conceitos a exemplos de abordagens que podem ser utilizados como exemplos pelo profissional. 2.2 As ciências e as abordagens que contribuem com o exercício da Psicopedagogia Clínica e Institucional Nesse momento serão abordadas linhas teóricas que podem auxiliar no embasamento para atuar como psicopedagogos nos vários contextos: clínica, instituição, empresa, hospital, terceiro setor e outros. Por esse motivo, no início das aulas foi discutido sobre o movimento histórico da Psicopedagogia e junto posicionou-se o sujeito que está envolvido nesse processo de prevenção e intervenção, o qual não apenas se relaciona com o mundo, mas pensa, sente, age e interage com toda as suas vivências como bagagem de história de vida. Bossa (2007) esclarece que o homem cognoscente, como visto na aula anterior, se forma a partir das suas relações familiares, grupais e institucionais, sendo estas responsáveis por contextualizar todo o processo de aprendizagem pelo qual passa o indivíduo. Portanto, é possível compreender que se necessita atentar para o processo de aprendizagem ou para os problemas de aprendizagem, levando em consideração alguns fatores como os meios em que esse sujeito está inserido e situações também durante as análises psicopedagógicas. Logo, para 25 uma atuação eficaz do psicopedagogo, é necessário pensar em quais situações se instituem os problemas de aprendizagem, isto é, em qual contexto, em qual momento e sob quais condições eles aparecem, ou seja, é possível compreender que o ser humano é constituído de vários contextos e para acontecer uma aprendizagem significativa é preciso considerar questões cognitivas, afetivas, familiares e sociais que formam o sujeito aprendiz. Importante Antes de abordar a epistemologia genética façamos uma reflexão da imagem a seguir, no sentido de entender como funciona esse sujeito, do que ele se constitui cerebralmente e quais são as relações realizadas ou cadeias de informação utilizadas no seu cotidiano. A Epistemologia Genética, teoria oriunda de Piaget, apresenta muitas contribuições em que, as pessoas mesmo inseridas numa perspectiva biológica, tem como aprender e obter algumas explicações sobre como um sujeito passa de um nível de conhecimento para outro, isto é, ela descreve e explica como uma criança passa do conhecimento concreto para o conhecimento abstrato e, assim, organiza o conhecimento do adulto (PALÁCIOS, 2004, p. 27). Piaget (1896 – 1980) elucida a respeito de como se dá o conhecimento a partir da interação do sujeito com os objetos e também com os outros. Sua teoria apresenta fases do desenvolvimento humano, esclarecendo como se compõe essa interação, sugerindo, então, a evolução da aquisição do conhecimento, a qual parte do princípio do desconhecimento do mundo em direção à capacidade de aprender sobre aquilo que está em sua volta. As contribuições para a Psicopedagogia advindas da Epistemologia e da Psicologia genética se faz presente como o meio de compreender como os campos do saber tornam possível ao homem o aprender, e talvez o aprofundamento sobre a gênese do conhecimento. Assim, é necessário destacar também a importância e a contribuição de outras áreas para a prática e a construção teórica da Psicopedagogia. A linguística, por exemplo, destaca: 26 (...) a compreensão da linguagem como um dos meios que caracterizam o tipicamente humano e cultural: a língua enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica (BOSSA, 2000, p. 18). Com acesso aos livros e aos estudos de Lacan (1901-1981), um psicanalista francês, é possível perceber a importância da linguística, não só no que diz respeito à apreensão da língua, mas sua relevância para a constituição do indivíduo enquanto sujeito social, pois é a partir da aquisição da linguagem que o sujeito poderá atribuir significados a significantes, deixando, assim como refere-se Lacan, de ser um mero “bolo de carne” de que veio ao mundo. Ou seja, o ser humano passa a ter espaço para comunicação direta com o universo no qual está inserido. Independentemente de suas habilidades e limitações, a interação, de alguma forma, acontecerá. Saiba Mais A ideia de significado e significante, presente na obra do filósofo e linguista Saussure (1857-1913) aparece da seguinte maneira: pensemos em um objeto qualquer, um lápis. O “lápis”; o objeto em si, aquele pedaço de madeira que reveste grafite, destinado à escrita, é o significado. Sobre este possuímos uma imagem universal, ainda que se mude a forma como o mesmo é feito (longo ou curto, verde ou vermelho). Já a palavra falada e/ou escrita se refere ao que chamamos de significante. Este sim muda de acordo com a língua. Podemos falar pencil em inglês ou lápis em espanhol. Para uma compreensão mais conceitual sobre os termos, sugerimos a leitura de “Para compreender Saussure”, de Carvalho (1976). Após essa contribuição, há também a neurociência que abre caminho para a compreensão dos aspectos físicos e biológicos das questões cerebrais, o que também traz a possiblidade de entender a aprendizagem, seus processos e funcionamentos. Neste momento, é possível se questionar se alguma dessas ciências surgiram para responder especificamente a problemática da aprendizagem humana. No entanto, já é possível pontuar que o objetivo não esteve firmado nesse foco. A psicologia, a epistemologia genética, a linguística e tampouco a neurociência estão centradas em responder as perguntas que dizem respeito a 27 nuances da aprendizagem humana. No entanto, fornecem ferramentas e instrumentos para realizarmos reflexões sobre. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Uma opção para aprofundar seus estudos nas questões da neurociência, segue a indicação do livro do Vitor da Fonseca, Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem (2007). Entender melhor essa máquina e orquestra que é o cérebro humano traz vários esclarecimentos sobre o processo de aprendizagem. Com o objetivo de tornar mais acessível à maneira como essas teorias contribuem veja um exemplo que pode acontecer e, com o seu conhecimento e prática psicopedagógica, daqui para frente, após o curso, você terá o preparo para atuar. Para Refletir Imagine uma criança com dificuldades para aprender a ler e a escrever. A primeira providência a ser tomada é recorrer aos conhecimentose atuações prévias e analisar as contingências sob as quais está ocorrendo o processo de aprendizagem dessa criança. É necessário, portanto, avaliar se a metodologia utilizada pela instituição de ensino está sendo a mais adequada, ou se a relação entre professor e aluno está inviabilizando o processo de aprendizagem dessa criança. Antes de esgotar todas as possibilidades de respostas, é necessário avaliar se está sendo tratado um caso de comprometimento físico e/ou biológico, ou de um caso de anóxia perinatal, resultante de oxigenação insuficiente do cérebro. Nessa situação, problemas como a dislexia podem afetar a criança. No entanto, somente após um diagnóstico minucioso, o profissional poderá intervir e mediar o processo em busca do reestabelecimento da aprendizagem do sujeito, de modo a diminuir os aspectos negativos, resultantes da alteração pelo qual foi acometido. 28 Tendo isso em vista, é de extrema necessidade que o psicopedagogo se mantenha atualizado no que diz respeito às produções teóricas que poderão complementar e contribuir para a sua formação e atuação prática. 2.3. Como se aprende? As diversas relações traçadas entre a psicopedagogia e as áreas afins primam em permitir algumas posturas teóricas distintas, que poderão abraçar os mais variados estilos de aprendizagem, como, identificar o estilo de aprender de cada um: o reflexivo, que diz respeito aos sujeitos que são mais observadores, ponderados e que buscam se aprofundar. O pragmático compreende os sujeitos mais práticos, que buscam a aplicabilidade das informações recebidas. O teórico que prefere integrar aquilo que pode observar à teoria; e, por fim, o ativo, que contempla os sujeitos que possuem gosto por se arriscar em experiências e desafios novos. Neste momento apresenta-se a definição de aprendizagem para que você possa refletir sobre o termo e, como é possível, utilizá-lo dentro de sua atuação psicopedagógica. Para Bossa (2007), a aprendizagem trata do processo responsável por fazer a inserção do indivíduo ao mundo da cultura. A partir dessa conceituação é possível entender que esta é responsável por permitir ao indivíduo, criar em seu interior, representações simbólicas sobre o mundo. Uma observação a ser feita é que essa visão não se diferencia do que foi explorado sobre a linguística, dentro da concepção lacaniana. Nesse sentindo, pode-se considerar a aprendizagem como um processo pelo qual o indivíduo adquire sua língua, de maneira a atribuir significados reais ao mundo que pertence. Isso justifica, então, a afirmação de Bossa (Ibid.) sobre a aprendizagem enquanto responsável por inserir o sujeito na sociedade. A psicopedagogia, portanto, tem sua atuação nas possibilidades geridas em avaliar, intervir e elaborar um processo preventivo, terapêutico e corretor, o qual visa compreender, desde a queixa levada ao profissional, até as avaliações realizadas durante o trabalho psicopedagógico para encontrar, e/ou pontuar, as limitações do processo de aprendizagem do indivíduo. É relevante compreender que: 29 [...] o conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito (BOSSA, 2007, p. 22). É importante pontuar que a atuação da psicopedagogia vai além de tomar conhecimento da queixa apresentada pelo sujeito, pois é preciso que o profissional, ao iniciar o atendimento psicopedagógico, tenha como objetivo traçado o seu plano de ação e de intervenção, ou seja, as hipóteses do que pode estar acontecendo com o paciente em avaliação são levantados e depois, por meio de instrumentos e análises, serão compreendidos os possíveis diagnósticos. Contudo, isso não quer dizer que se tem em mãos algo fechado, estático, em razão de se considerar o ser humano e suas várias dimensões (cognitiva, emocional e social) e seus meios de convivência também. Ao contemplar as alterações subjetivas do aprender como “problemas”, é preciso que o profissional esteja atento para não imobilizar o sujeito a partir de um rótulo. Sobre isso, é discutido algo semelhante em aula, ao falar sobre aspectos da “não aprendizagem”. É importante que haja a clareza que, ao lidar com o “sujeito com dificuldades para aprender”, se está diante de um sujeito que apresenta uma forma própria de aprender, mesmo que essa forma destoe daquela que muitos consideram “normal”. Para Refletir O que vem a ser normalidade? O que se pode definir como normal ou não no que diz respeito à aprendizagem? É preciso ter nítido que uma definição de normalidade pode ser muito imprecisa ao tratar de a possibilidade do sujeito apreender sobre o mundo. O que se alerta é que a concepção de normalidade é relativa. O que se pode pontuar como uma situação próxima é que em alguns países, como o Brasil, por exemplo, o parto da mulher é realizado na posição horizontal. Já em alguns países africanos, o parto da mulher é realizado na posição vertical. Analisando esses dois casos, pode se perguntar qual a forma normal de se realizar o parto: “na posição vertical ou na posição horizontal?” Porém percebe-se que não existe uma resposta de que uma ou outra forma está correta, pois depende a forma como se aprendeu. A grande questão a ser solucionada é que a noção de 30 normalidade deve, necessariamente, ser conduzida de acordo com o espaço ocupado por cada um nos meios em que vive. Importante Na realidade, o que mais importa nesse processo de aprendizagem no curso de Psicopedagogia e com a formação pessoal e profissional é compreender o ritmo e o estilo de aprender de cada ser humano; acima de tudo respeitar as habilidades e as dificuldades emergentes em cada situação. Trazendo essa noção de relatividade para a atuação prática, logo se pensa, por exemplo, naquilo que foi abordado na aula anterior sobre os estilos de aprendizagem. Supondo, em um contexto de sala de aula, uma situação em que o professor conduz sua disciplina de maneira bastante objetiva e teórica, utilizando pouco ou nenhum exemplo prático a respeito dessa teoria. O sujeito que aprende de maneira teórica, muito possivelmente se adaptaria a esse estilo de ensino mais facilmente do que o estilo pragmático, para o qual a aplicabilidade das informações recebidas é muito importante, isso se não for fundamental. Dessa maneira, é de suma importância que psicopedagogos estejam atentos e com os sentidos e as atenções voltados para as ações e encaminhamentos Psicopedagógicos propostos para cada indivíduo, como no caso as questões referentes aos “problemas de aprendizagem”. Caberá ao profissional da Psicopedagogia, disponibilizar-se não só teoricamente, mas, principalmente, de maneira que considere o sujeito como o “ser cognoscente”: o que pensa, sente, age e interage consigo mesmo, com o outro e com o mundo em que vive. Para Refletir Que tipo de ambiente se oferece para os sujeitos em questão? Eles estão adequadamente adaptados no seu meio? Qual a função do profissional enquanto psicopedagogo dentro das Instituições? Que postura será ou deveria ser adotada? 31 Atividade de Aprendizagem Uma vez que se reconheça os alunos como seres, de acordo com as palavras de Barbosa (2007), cognocentes quais outros elementos devem ser observados de acordo com outros teóricos trazidos nesta aula? Resumo da Aula Nessa aula foi verificado o processo de acompanhamento psicopedagógico para lidar com alunos quando eles apresentam alguma dificuldade de aprendizagem, ressaltando o respeito à diferença que é necessário para não impor barreiras para o desenvolvimento desse aluno. Além disso, se tratou da contribuição e da limitação que outras áreas oferecem ao trabalho psicopedagógico, em que há umaabordagem bem específica repleta de detalhes de cada área separada, mas ao mesmo tempo não há a percepção de possíveis combinações de fatores verificados separadamente em cada área. Aula 3: A crescente profissionalização do Psicopedagogo Apresentação da Aula Nesta aula será discutido a respeito da recente profissionalização do pedagogo, uma vez que a tendência de expansão dessa profissão acarreta na necessidade de uma regulamentação da profissão. Com isso, as três formas de atuação psicopedagógica são descritas, a preventiva, a clínica, e a teórica, enfatizando a correlação que esses métodos de trabalho apresentam ao lidar com o objeto de estudo da psicopedagogia. 3. O Psicopedagogo e sua crescente profissionalização O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico 32 que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo (BOSSA, 2007, p. 22). Após delimitar o objeto de estudo psicopedagógico, bem como conhecer um pouco das bases teóricas que norteiam a prática psicopedagógica, ainda restam algumas questões, como: quais são as formas de atuação e onde pode atuar o psicopedagogo. Esses são os aspectos a serem tratados nesse módulo. O Psicopedagogo pode atuar em instituições como escolas, centros comunitários, empresas, hospitais, ONGs, dentre outros. O trabalho também pode ser realizado na clínica, o qual acompanha, de maneira individual, o sujeito, onde o profissional está constantemente em contato com o meio em que ele está inserido, ou seja, escola, família, grupos, e demais contextos. Conforme a primeira citação desta disciplina há um alerta importante: mais necessário do que definir onde atua o psicopedagogo, é compreender, epistemologicamente sua atuação; ou seja, em que se baseia e como é abordado o seu objeto de estudo. Bossa (2007) apresenta três principais formas de atuação desse profissional, sendo elas: clínica, preventiva e teórica; e ainda ressalta que embora cada uma tenha seu espaço de atuação, elas interagem entre si quando necessário para desenvolver o trabalho. Como o próprio nome diz, o trabalho preventivo baseia-se em controlar e extinguir os problemas que podem ocorrer durante o processo de aprendizagem. Trata-se de uma atuação que visa orientar o processo de ensino-aprendizagem e cabe ao psicopedagogo identificar possíveis queixas que venham limitar, de alguma forma, o desenvolvimento da aprendizagem. Além disso, é direcionado ao psicopedagogo, as possíveis orientações sobre as formas mais adequadas de metodologias que devem ser utilizadas para um indivíduo ou determinado grupo (BOSSA, 2007). Nessa forma de atuação, se discute sobre três níveis de prevenção. O primeiro diz respeito a uma atuação que possui como objetivo a redução da frequência com que aparecem os problemas de aprendizagem, atuando diretamente sobre as questões didático-metodológicas, ocorridas na transmissão do conhecimento. O segundo nível, consiste em diminuir, bem como tratar os problemas de aprendizagem já existentes, a partir de uma atuação conjunta com a instituição, firmada num plano diagnóstico da realidade desta. No terceiro nível, o 33 grande objetivo é erradicar os problemas existentes, a partir dos encaminhamentos e procedimentos clínicos. Para exemplificar e evidenciar a parte prática dessa atuação, é possível acompanhar a seguir: No caso da alfabetização, no primeiro nível caberá ao Psicopedagogo, junto ao professor, estabelecer métodos de ensino compatíveis, não só com as novas construções teóricas, mas, principalmente, voltados ao seu público alvo, o qual se destina o processo de alfabetização. Supondo que se trata de um caso de dificuldades de leitura, tendo como base o segundo nível de atuação, buscando um diagnóstico em grupo e seguindo para uma intervenção didática e metodológica, de maneira a encontrar as causas do problema e buscar saná-las. O último nível de atuação preventiva contempla situações específicas em que ocorrem problemas de leitura e/ou escrita, com a finalidade de tratar e evitar maiores problemas em um único indivíduo ou grupo (BOSSA. 2007). É o que aponta com clareza, Fernández (1991): [...] A intervenção do psicopedagogo no processo de diagnóstico das classes de alfabetização é muito importante para o sucesso dos alunos nos anos iniciais de sua escolarização, pois os grupos de crianças são sempre heterogêneos quanto aos conhecimentos já adquiridos nas diversas áreas do conhecimento, ou seja, o seu conhecimento prévio, portanto, as crianças não chegam à escola com o mesmo desenvolvimento real, como também não mostrarão ao educador os mesmos processos de maturação em via de serem consolidados na zona proximal e, tampouco, terão as mesmas possibilidades na zona potencial. Cada criança mostra-se como um ser único, com capacidades, limitações, motivações, habilidades, atitudes e interesses específicos (FERNÁNDEZ, 1991, p.81-82). Importante O caráter preventivo de atuação do Psicopedagogo pode auxiliar dentro de uma reconstrução dos processos e definir novos conhecimentos, vislumbrando novas formas de aprender e ensinar, bem como conceber novas formas de avaliar o conhecimento. Dessa maneira, junto às instituições, em sua ação preventiva o Psicopedagogo deve adotar uma postura crítica no que diz respeito, por exemplo, ao fracasso escolar, e trabalhar de maneira a construir melhorias à prática pedagógica nas escolas. 34 Como se pode perceber, a atuação preventiva do trabalho psicopedagógico engloba os elementos que envolvem não só a aprendizagem, mas como os vínculos que se estabelecem ao longo da vida dos indivíduos, de maneira a torná- los satisfatórios para as questões que dizem respeito à aprendizagem. Em suma, trata da dialética do sujeito em relação ao objeto, de maneira que essa relação se estabeleça eficazmente. É possível sublinhar que a instituição onde ocorre o trabalho preventivo torna-se objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos didáticos e metodológicos, além da dinâmica institucional que, comumente, podem interferir na aprendizagem. No que diz respeito à prática clínica, o trabalho é feito em consultórios, e visa atender “às alterações da aprendizagem sistemática e/ou assistemática de natureza patológica” (BOSSA, 2007, p.24). Essa prática que pode acontecer tanto em clínicas particulares, em centros de saúde e até em instituições, no horário de contraturno, trabalha condições adversas do sujeito, como, por exemplo, a autoestima que, muitas vezes, se perde no contexto escolar, social, dentro de empresa ou demais contextos, de maneira a levá-lo a compreender e conhecer suas potencialidades. A área clínica deve se ocupar, ainda, da avaliação psicopedagógica do sujeito que apresenta dificuldades de aprendizagem e que requer um atendimento terapêutico (PEREIRA, 2007). Ainda que o profissional, enquanto psicopedagogo, esteja preparado para a prática terapêutica, muitas vezes é necessário que, mesmo tendo mapeado e colocado em andamento o seu plano de intervenção, construa seu olhar diagnóstico junto aos demais profissionais que pertencem a outros campos do saber, como psicólogos, fonoaudiólogos e neurologistas; isso porque, ainda que o profissional esteja voltado para as produções teóricas desses campos do conhecimento, muitas vezes a prática interventiva escapa à possibilidade de intervenção do Psicopedagogo. Conforme Rubinstein (2002), a intervenção psicopedagógica clínica não está mais limitada ao uso de recursos técnicos em si mesmo, mas leva em conta a relação transferencial que é estabelecida entre o sujeito da aprendizagem e o psicopedagogo. Segundo a autora, é a partir do manejo da transferência que pode- se conseguir efeitosterapêuticos para o sujeito da aprendizagem, no que diz 35 respeito a este compreender sua posição frente ao saber, bem como conhecer suas questões com a escolaridade. A autora propõe, então, que se pense um estilo de intervenção que contemple o discurso social, os conflitos existenciais mais amplos, sem ignorar os conflitos inerentes à própria singularidade do sujeito. Por fim, a atuação teórica constrói o seu embasamento profissional para a sua atuação por meio do estudo aprofundado sobre o processo de aprendizagem, bem como sobre o processo educacional, no qual é possível compreender uma implicação na necessidade de atualização por parte do profissional, a partir do contato com outros campos dos saberes que podem contribuir para a compreensão do objeto de estudo. Ressalta-se que é de suma importância deixar clara a diferença entre o trabalho clínico e preventivo. O primeiro diz respeito a um trabalho de orientação, o qual visa encontrar um caminho eficaz para o ato de aprender, levando em consideração o sujeito em sua totalidade, isto é, o sujeito que age e interage com o mundo. Já o trabalho clínico busca atuar em relação ao problema de aprendizagem já instalado. Ademais, vale ressaltar que essas três formas de atuação, embora se diferenciem, devem estar constantemente em contato uma com as outras. Como foi possível verificar na primeira aula, a maneira de atuar da Psicopedagogia nem sempre foi assim. Trata-se, portanto, de uma mudança de atuação que, sem dúvidas, trouxe benefícios à prática. Historicamente, houve dois momentos: um momento inicial, em que a psicopedagogia servia, sobretudo, a uma prática de reeducação do sujeito que concebia a não aprendizagem como uma espécie de falha do sistema cognitivo do indivíduo. Nessa concepção, o primeiro momento de atuação, que logo demonstra limitações, é onde se buscava uma semelhança no processo de aprendizagem, que pouco considerava as individualidades do sujeito, tampouco fazia uma leitura daquilo que queria dizer o ato do “não aprender”. Pode se dizer que era um momento onde a atuação psicopedagógica encontrava-se muito influenciada pelos ideais de cunho econômico e capitalista. Noutro instante, o ato do “não aprender” passa a ser visto com novos olhares, e a ser tratado como um sintoma/uma queixa, o qual contém significados, e ao contrário do que se pensava, não se opõe ao ato de aprender. 36 Para Bossa (2007) há uma fase marcada pela atenção dada à singularidade, a diversidade, e também à história de vida do sujeito. Além disso, a autora chama atenção para o fato do sujeito permanecer em constante aprendizagem, o que difere da existência de uma visão onde o sujeito nascia e morria da mesma maneira, na qual não havia uma continuidade, mas eram pensadas em formas acabadas de aprendizagem. Importante Um dos aspectos que se percebe ao lidar com indivíduos é a sua religião, que muitas vezes tem influência no comportamento e nos valores que essa pessoa. Para o psicopedagogo, é importante levar em conta a religiosidade da família de um aluno ao acompanhar o seu processo de aprendizagem, além de respeitar a religião dele, o profissional deve verificar se a mesma é respeitada no ambiente escolar e familiar. Com relação a preconceito religioso, há mecanismos do governo de denúncia que existem para garantir a liberdade religiosa, como pode ser visto no vídeo, Comitê Nacional da Diversidade Religiosa - Pelo direito à livre crença (e não crença), disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hnGPTVHjGnw No que diz respeito ao momento de atuação da Psicopedagogia, será abordada a Psicanálise como uma das teorias que embasam essa ciência. 3.1. Outras concepções para a Psicopedagogia É difícil dizer se o que exerceu mais influência sobre nós e teve importância maior foi a nossa preocupação pelas ciências que nos eram ensinadas, ou pela personalidade de nossos mestres. É verdade, no mínimo, que esta segunda preocupação constituía uma corrente oculta e constante em todos nós e, para muitos, os caminhos das ciências passavam apenas através de nossos professores (Freud, In: Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar, 1914). O final do século XIX foi marcado por uma descoberta que pode ter colaborado com algumas alterações quanto à concepção de homem vigente até então. Logo, remete-se a descoberta do inconsciente, que está atrelada a atuação de Freud (1825 – 1893). No entanto, é importante a colocação de que antes disso, pensava-se o homem a partir de um ideal cartesiano, isto é, animal racional e pensante. Com a descoberta do inconsciente o homem passa a ser visto como não 37 sendo senhor de suas próprias ações. Desta maneira, pode-se traduzi-la da seguinte forma: muitas vezes sou aquilo que racionalmente não gostaria de ser, ou, então, muitas vezes, quero aquilo que racionalmente não poderia querer. Para compreensão da psicanálise não tem como não mencionar Freud - Austríaco que seguia uma brilhante carreira como médico neurologista, e após um período de sua trajetória profissional, passou a atuar como discípulo do eminente médico parisiense Charcot (1825 – 1893), que na época havia se tornado notório por tratar diversas perturbações psíquicas com o método hipnótico. Os primeiros contatos de Freud com Charcot fizeram com que ele se atentasse ao poder do tratamento hipnótico em casos de histeria e enfermidades, cujos sintomas não possuem origem física. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE FILME Um trecho dessa realidade pode ser assistido no filme Freud: Além da Alma, de 1962. No filme, se tem uma história biográfica de Sigmund Freud, desde como ele já era um estudioso neurologista até encontrar com Charcot que voltou a atenção para outros aspectos da natureza humana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yYAMQ__Ije4 É possível notar que Freud, ao utilizar a hipnose como método terapêutico, percebeu a existência de uma instância psíquica no sujeito que opera enquanto a sugestão do tratamento hipnótico está sendo dada, ou seja, opera de forma inconsciente (aquilo que é desconhecido pelo sujeito, isto é, que está alheio a sua consciência). É possível relacionar isso com a realidade encontrada, não só na escola, mas na faculdade, no trabalho, nas empresas e hospitais (campo de atuação da Psicopedagogia) quando o sujeito aprendente ou o profissional, dentro do seu ambiente de trabalho, ainda não apresenta a assimilação ou consciência do que aprendeu, ou das instruções dadas por terceiros. Por esse motivo, talvez de uma maneira inconsciente ou consciente, dependendo da situação, executa uma 38 atividade sem saber o seu porque, a finalidade de ter construído esse caminho, escolhida determinada estratégia ou atitude. Por exemplo, quando o sujeito não é orientado durante determinada atividade, ele pode vir a fazer as coisas aleatoriamente. No entanto, a partir do momento que o responsável ou o professor é o mediador dessa situação, ele tem condições e meios para tomar consciência do que precisa ser feito para resolver tal situação. Assim, o exercício de reflexão é de suma importância e deve ser praticado para que os sujeitos tenham, claramente, o porquê, o para que e como utilizar, na sua prática, cada aprendizagem conquistada. Para Refletir O que você acha que acontece quando aprendemos alguma coisa? Será que todos seguem o mesmo ritmo e tem as mesmas habilidades? A partir dessa constatação, outro olhar passa a ser contemplado para com o indivíduo em acompanhamento psicopedagógico. A psicanálise revela que está modificado o rumo não só dos tratamentos médicos já constituídos, mas o rumo da forma de se pensar o sujeito que sofre do que será chamado de “dores afetivas e emocionais”. Jorge (2000) compreende que a nova visão de sujeito, contemplada por Freud e posteriormente conceituadatambém por Lacan, não coincide com aquela que as teorias do desenvolvimento se referem, tendo o embasamento na lógica física do organismo, mas está relacionada ao sujeito que não obedece à lógica da instância consciente. Esse fato esclarece o que inicialmente foi discutido a respeito do sujeito que “não é senhor de sua própria razão”, ou melhor, senhor de si mesmo. Um questionamento, nesse momento, pode ser levantado em como essa nova concepção de homem pode ter contribuído para outra forma de se pensar o sujeito durante o processo de aprendizagem. Além disso, como já verificado anteriormente, nem a psicanálise e nem outros campos de saberes que participam da fundamentação da psicopedagogia foram elaborados com o objetivo de responder à problemática da aprendizagem humana, mas oferecem meios para refletir, cientificamente, sobre a mesma. 39 A preocupação freudiana estava voltada as abordagens clínicas, sobretudo para o tratamento das neuroses pelas quais as pessoas eram acometidas, visando amenizar os mais variados sofrimentos cuja origem não se justificava por afecções físicas. No entanto, sabe-se que sua filha, Anna Freud, tentou apresentar uma concepção freudiana sobre - o que faz com que uma pessoa seja um desejador do saber - permitindo, assim, uma linha de compreensão a respeito da aprendizagem, ainda que esse não fosse, em nenhum momento, o foco daquele autor. Saiba Mais No que diz respeito a essa vertente, é preciso compreender que num momento inicial, antes do advento da psicanálise, a psicologia exerceu uma forte influência na visão de homem, trazendo a ideia de um ser da razão, mensurável e previsível, o que acabou criando uma expectativa de que o sujeito deveria aprender segundo uma lógica existente. No entanto, aos poucos, essa visão foi dando espaço a uma nova percepção acerca desse sujeito, sobretudo depois da compreensão de que os sujeitos não são tão previsíveis quanto se pensava, principalmente quando se trata dos seus comportamentos e emoções. A psicanálise teve seu marco diante da compreensão que se tem de que, a partir da lógica do inconsciente, o sujeito possui um estilo próprio e singular de se relacionar com o mundo. Por essa razão, compreende-se a singularidade de um olhar diferenciado, preocupado menos com padrões sugeridos pela realidade externa do sujeito, e mais com o próprio sujeito, sendo este olhar adotado pela Psicopedagogia. A partir desse pressuposto é possível pontuar que atrás do “sujeito problema” há uma forma particular de aprendizagem, que precisa ser decodificada de maneira especial, e que não tenha a mesma abordagem das tradicionais. O “não aprender”, dentro dessa perspectiva e desse olhar, passa a ser visto como um sintoma/uma queixa do sujeito, carregado de significados, e não como um problema isolado que diz respeito ao simples processo de reeducação ditado pelas diretrizes vigentes ou até mesmo por um trabalhado desenvolvido com o sujeito, de maneira inconsciente e ausente de objetividade. 40 Melanie Klein (Nasio, 1995), que é psicanalista pós-freudiana, pode contribuir com esse enfoque ao ilustrar, de maneira objetiva, a inserção de jogos e atividades lúdicas no tratamento de sujeitos que não respondiam, de maneira satisfatória, à metodologia pedagógica utilizada durante o processo de ensino- aprendizagem. Para Refletir Por um momento, verifique como se constitui uma orquestra, todos tocam o mesmo instrumento? Não! Porque cada integrante possui uma habilidade para tocar determinado instrumento, respeitando o seu tempo e momento, certo? E como se deve agir em sala de aula, no ambiente de trabalho, em casa e na sociedade? Procurando estratégias e ferramentas que possam auxiliar cada um alcançar seus objetivos de maneira satisfatória. No livro Contribuições à Psicanálise, Klein (1970) esclarece que no jogo infantil a criança revela sua realidade interna, na medida em que revela simbolicamente conteúdos que, muitas vezes, não expressa verbalmente. Isso quer dizer que toda atividade lúdica, de acordo com a concepção da autora, é acompanhada de um sentido que está direta e indiretamente relacionado com as vivências da criança no momento, e funciona como uma espécie de comunicação entre a criança e o adulto. Nesse sentido, o jogo da criança não deve ser compreendido como uma simples brincadeira, mas, antes disso, trata-se de uma forma de trazer à tona a realidade do sujeito, revelando muito da constituição psíquica desse sujeito. Para essa escrita, vale ressaltar que a leitura feita por Klein (1970) dos jogos lúdicos infantis, está baseada no modelo de interpretação dos sonhos, proposto por Freud. Por isso a importância de dispor durante o curso, os instrumentos que podem ser utilizadas ao longo da avaliação e mesmo da intervenção, seja na clínica ou na instituição. É dentro desta preocupação que é possível colocar que a psicanálise permite, então, uma possibilidade de se repensar o ato de aprender, na medida em que traz novos elementos de reflexão sobre os processos educativos, chamando a 41 atenção para a história individual do sujeito, com o propósito de contribuir com uma nova teoria sobre o funcionamento do aparelho psíquico. A partir dessas contribuições, é possível a transmissão de uma ética fundamental ao educador, que diz respeito à relação estabelecida entre este e o sujeito da aprendizagem, conforme muito bem pontuado por Kupfer (1989, p.15): A psicanálise pode transmitir ao educador (e não a Pedagogia) uma ética, um modo de ver e de entender sua prática educativa. É um saber que pode gerar, dependendo, naturalmente, das possibilidades subjetivas de cada educador, uma posição, uma filosofia de trabalho. Dessa forma, compreende-se a ética como importante ferramenta para a prática psicopedagógica, na medida em que dita uma relação filosófica de trabalho, isto é, embasada no respeito ao próximo e na preocupação dos limites estabelecidos entre o profissional e o sujeito de aprendizagem. Atividade de Aprendizagem Com base nos conceitos que discutem a respeito do inconsciente das pessoas influenciando os seus atos, é possível verificar algum comportamento que foge do controle racional no ambiente de sala de aula? Quais deles podem ser definidos como dificuldade de aprendizagem? Resumo da aula Nesta aula, foi discutido a respeito das formas de atual do psicopedagogo, clínica, preventiva e teórica. Sendo elas muito interligadas o que leva a uma abordagem preventiva ser elaborada através da experiência pelas atuações clínicas e sendo atualizada constantemente a respeito de novas contribuições teóricas. Foram verificadas as contribuições de Freud com a psicanálise para o estudo individual de cada caso, e pontuações a respeito de respeito à religião e ética ao lidar com esses indivíduos. AULA 4: Ética e psicopedagogia 42 Apresentação da Aula Nesta aula, será apresentada a influência da ética no comportamento pessoal e nas relações interpessoais e profissionais das pessoas, com um foco maior para o ponto de vista do psicopedagogo. Na sequência serão mostrados alguns artigos que constam no código de ética do psicopedagogo, que são um conjunto de normativas que servem como guia para a atuação do profissional até o surgimento de uma legislação a respeito. 4. Embasamento do Conhecimento Psicopedagógico Aproxima-se do final da disciplina, mas antes de já iniciar a discussão desta última aula, será recordado, rapidamente, sobre aquilo que foi abordado anteriormente. Esta sucinta revisão irá permitir uma melhor compreensão do caminho metodológico escolhido para ser trabalhada nesta disciplina. Nas aulas, foi discutido como a história do desenvolvimento do processo educacional contribuiu para compreender a necessidade de se dedicar atenção às questões referentes ao processo de aprendizagem.
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