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Introdução à Psicopedagogia

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Disciplina: Introdução à Psicopedagogia 
Autores: M.e Luanza Pavi 
Revisão Conteúdos: M.e Maria Tereza Costa / M.e Romário Keiti Pizzatto Fugita 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso 
Ano: 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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direitos autorais. 
 
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Luanza Pavi 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução à Psicopedagogia 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2016 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
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FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
PAVI, Luanza. 
Introdução à Psicopedagogia / Luanza Pavi – Curitiba, 2016. 54 p. 
Revisão de Conteúdos: Maria Tereza Costa / Romário Keiti Pizzatto 
Fugita. 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. 
Material didático da disciplina de Introdução à Psicopedagogia – 
Faculdade São Braz (FSB), 2016. 
 ISBN: 978-85-5475-058-9 
 
 
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
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dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
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comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
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dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais, e grupos 
de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração entre 
professores e estudantes. 
 
 
Bons estudos e conte sempre conosco! 
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Apresentação da Disciplina 
 
Nesta disciplina será apresentada uma imersão no cenário de que ainda é 
novo para a sociedade apesar de ser bastante estudado. Por isso, as aulas foram 
divididas para, no primeiro momento, esclarecer um pouco do histórico do 
desenvolvimento do processo educacional, de maneira que se consiga 
compreender do que se trata a psicopedagogia, seu objeto de estudo e as bases 
teóricas desse campo do saber. 
Após essa abordagem, serão exploradas as formas de atuação da 
psicopedagogia, o público para o qual ela é voltada e as funções que desempenha 
no processo de ensino-aprendizagem. Na sequência, em uma análise mais 
panorâmica será verificado como os valores institucionais, morais e pessoais, 
devem ser defendidos pelos profissionais dessa área com a apresentação do 
código de ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1- Breve histórico da Educação e Fundamentos da Psicopedagogia: 
Definindo o Objeto de Estudo 
 
Apresentação da Aula 
 
O objetivo desta aula é a inserção no âmbito psicopedagógico com as 
contribuições de diversos autores dessa área de conhecimento. Para tanto, as 
reflexões serão iniciadas a partir de um breve histórico da educação, isto é, como 
a mesma foi vista na Idade Antiga, na Idade Média e na Idade Moderna. A análise 
histórica vai permitir a compreensão das etapas que a educação superou até 
adquirir as formas atuais, moldadas por autores consagrados. A consciência desse 
panorama através das épocas também leva a perceber a importância da 
psicopedagogia, além da definição do objeto de seu estudo, isso dá ao 
psicopedagogo a confiança necessária para atuar na profissão. 
 
1. Introdução aos Fundamentos e História da Psicopedagogia 
 
Antes de trabalhar mais a fundo a psicopedagogia, que se trata de uma 
ciência que trabalha os processos cognitivos, afetivos e sociais como meio de 
interação e conhecimento das potencialidades e dificuldades do aprendiz, 
inicialmente será acompanhado o trajeto histórico percorrido por essa ciência para 
compreender como a psicopedagogia chegou e onde se encontra na atualidade. 
 
1.1. Abordagem Histórica da Educação 
 
A seguir serão trazidas considerações das condições históricas da educação 
que permitirão a associação com alguns problemas atuais, e darão a consciência 
da importância do trabalho pedagógico e da sua relação com as condições 
psicológicas para um aprendizado de qualidade. 
 
1.1.1 A Educação na antiguidade 
 
Ao falarmos da Educação na antiguidade, estamos fazendo uma 
referência à essência do que esteve presente na humanidade em 
determinado tempo, como também às possibilidades imanentes a um 
 
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determinado universo humano, que contribuiu para o enriquecimento de 
componentes fundamentais para o curso do processo histórico (SOUZA, 
2006, p. 16). 
 
Conforme verificado por Souza (2006), nessa época ainda não havia um 
sistema de educação implantado, isto é, não estava determinada uma metodologia 
adequada ao processo educacional. Nesse período, o homem possuía uma 
concepção própria do mundo, que era, sobretudo, sugerida pelo meio social e pelos 
membros mais velhos da sociedade. 
Souza (2006) afirma que a convenção social daquela época ditava como as 
pessoas “deveriam ser” desde o momento em que nasciam e, com as coisas que 
observavam e escutavam, as crianças absorviam ideias e sentimentos elaborados 
por gerações anteriores. Ou seja, eram moldadas pelas influências do ambiente no 
qual viviam. De maneira semelhante, os homens, nessa época, interiorizavam as 
normas e valores sociais. 
 
1.1.2 Educação na Idade Média 
 
 
Fonte: https://oplum2.wordpress.com/2012/05/28/a-educacao-infantil-na-idade-media-ricardo-
costa/ 
Falar de educação na Idade Média implica no conhecimento desse período 
histórico que revolucionou as mentes mais ativas dessa época. Sabe-se que se 
trata de um momento histórico marcado pelas angústias do homem, pelas doenças 
desconhecidas e, ainda, pelo antagonismo entre as luzes e as trevas, assim como 
o bem e o mal, e o certo e o errado. Mas, quanto a isso, é necessário tomar cuidado, 
pois ao contrário do que se costuma conhecer, trata-se de um momento, embora 
turbulento, marcado por grandes produções culturais, sendo estas, sobretudo, 
ancoradas no contexto da fé. 
 
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Souza (2006) ao falar sobre a Idade Média, observa que se trata literalmente 
“no meio”, isto é, no meio da evolução da história da humanidade em que, num 
primeiro momento, existe tamanha dependência do clero para se alcançar 
formação intelectual. No entanto, a mesma autora confirma que, posteriormente, 
os dogmas impostos pelo clero são questionados, permitindo que novas ideias 
apareçam. De acordo com essa perspectiva, inúmeras foram às tentativas de não 
permitir que o clero dominasse o conhecimento e cultura da época. No entanto, a 
realidade se impunha conforme esclarecido abaixo: 
 
Quando não era possível ao bispo zelar pela disciplina e pelo controle da 
doutrina cristã, esse poder era delegado a um representante escolhido 
pela Igreja. Ele recebia o nome de scholasticus e sua função era, segundo 
Giordini (1982, p. 292), a de “assumir a direção da escola-catedral, 
zelando pela manutenção da ordem, e encontrando, não raro, nessa 
missão, sérias dificuldades [...] (SOUZA, 2006, p. 65). 
 
Sobre este período histórico, é fundamental destacar que a produção de 
conhecimento estava fortemente associada ao antagonismo entre fé e razão: 
 
(...) períodode enormes destruições e em que a maldade humana se fez 
presente muitas vezes, em nome de Deus, não se deixou de pensar que 
é pela educação que se faz uma sociedade e por meio dela se pode 
renascer das supostas “cinzas” causadas pelas trevas da Idade Média 
(SOUZA, 2006, p. 76). 
 
Assim, percebe-se que a religião exercia grande influência na educação do 
homem. Aqui, é possível falar de um método e de um sistema religioso de ensino, 
onde o homem encontrava-se sob o domínio das ideias religiosas. 
 
1.1.3 Educação na Idade Moderna 
 
O marco na Idade Moderna esteve nas denúncias feitas contra os abusos 
da Igreja e pela figura de Lutero, que colocou em questão o papel do Papa e do 
Vaticano. Esse período também foi marcado pela crescente industrialização, a qual 
trouxe a necessidade de capitalização do saber, de maneira que se tornasse 
rentável. 
No trecho abaixo se tem uma melhor visão sobre as transformações do 
saber e da educação nesse período da história, onde trata-se da razão que está 
sobreposta. 
 
 
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O século XVI é também o século da elaboração de uma nova ciência, 
aquela que vai impulsionar não só o outro olhar sobre o mundo, mas 
também trará outro conceito de saber. (...). É o início do racionalismo que 
será não só a base de todo o edifício da ciência moderna, como 
influenciará os processos pedagógicos, em que o espaço para o ensino 
das ciências da natureza tende a se tornar mais explícito (SOUZA, 2006, 
p. 91-92). 
 
Portanto, a educação que há séculos era produzida pelo Clero, passa a ser 
laica, racional, científica, moral e crítica às tradições do passado. 
Saiba Mais 
É preciso que atenção aos acontecimentos desse período, 
por mais que haja uma luta contra a detentora do saber, a 
religião, não se trata de uma luta que para se chamar de 
“democratização do saber” em função do homem. Na 
verdade, trata-se muito mais de interesses políticos e 
econômicos, do que de fato sociais. 
 
Ainda que seja possível falar e se referir a esse período como um momento 
histórico em que se verifica o nascimento de um modelo ideal de educação, ainda 
se diz de um momento em que a preocupação se dava, sobretudo, em relação à 
produtividade e, nesse sentido, a formação da juventude era em busca de uma 
maioridade autônoma e produtiva. 
Basicamente, a partir desse conhecimento sobre cada uma dessas épocas 
históricas, é importante notar que houve grande transformação no que diz respeito 
à educação. Mas então, “O que isso tem a ver com o que se pretende nesta 
disciplina?” 
Se na Idade Moderna começou a se discutir sobre um ideal pedagógico 
preocupado com a produtividade, isso implica dizer que, nesse período, já é 
possível pontuar a formação de salas de aulas – não semelhante com as que 
existem hoje, mas que, sem dúvida, eram compostas por alunos e professores. É 
nesse momento, então, que os olhares científicos passam a perceber que a forma 
como um indivíduo aprende, não necessariamente é semelhante à forma como o 
outro aprende, ainda que estes estejam aprendendo o mesmo ofício, sob as 
mesmas diretrizes, ditadas por um mesmo mestre do saber. 
Preocupados com a capitalização do saber, muitas vezes o mestre, em sala 
de aula, pelo volume de conteúdos e compromissos com as tarefas e metas a 
 
10 
 
serem desenvolvidos, não consegue identificar ou até mesmo intervir de maneira 
prática e efetiva as dúvidas dos alunos, as quais, mais tarde, têm a probabilidade 
de ocasionar algum “problema de aprendizagem”, que passa a ser foco de olhares 
interessados. Naquela época, era necessário que se aperfeiçoasse o ato de 
aprender; e que se ditasse um padrão produtivo de aprendizagem, para que este 
tivesse seu funcionamento voltado às necessidades capitais regidas pelo momento 
histórico do capitalismo. Portanto, compreende-se, que isso só se tornará possível 
depois de compreender os problemas que interferiam no processo de 
aprendizagem. 
Até aqui foi abordada uma visão crítica, a qual trouxe a necessidade de 
conhecer melhor o padrão de aprendizagem do ser humano. Embora não seja esse 
o objetivo, enfatiza-se que algo semelhante ocorreu com o nascimento da 
Psicologia. 
A psicologia não nasceu voltada para compreender o sofrimento e a angústia 
humana; mas, foi fundada para atender os ideais capitalistas da época, de maneira 
que tornasse possível a previsão acerca do comportamento humano. 
Para Refletir 
Qual relação, em termos de produtividade pedagógica, pode 
ser feita da Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna, pontue 
elementos de cada época que caracteriza a abordagem 
pedagógica correspondente? 
 
Para essa reflexão, é possível pontuar que a educação já viveu vários 
momentos e de cada um tira-se um aproveitamento. Portanto, o aprimoramento em 
cada fase histórica do Sistema Educacional é de suma importância para que os 
objetivos sejam realizados. 
Dentro dessas pontuações históricas, um detalhe que destaca é o fato de 
que as ações eram mais capitalistas do que sociais, isso permite visualizar o 
desenvolvimento tanto da psicologia quanto da Psicopedagogia, de maneira que 
se possa chegar o mais próximo da compreensão da dimensão afetiva do ser 
humano, ainda que cada um desses conhecimentos apresente propósitos 
específicos e distintos. 
 
11 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Para aprofundar seus conhecimentos 
e relacionar a Educação com a 
Psicopedagogia indica-se para sua 
leitura, o livro da Laura Monte Serrat 
Barbosa (2010). 
 
1.2. Fundamentos da psicopedagogia: algumas considerações sobre 
o termo e definições sobre o seu objeto de estudo 
 
Ao tratar sobre a Psicopedagogia, sabe-se que as indagações são inúmeras 
e os autores que abordam esse tema buscam chegar ao menos a um consenso de 
que alguns ajustes ainda precisam ser tomados para esclarecer ainda mais o termo 
e conceito. 
Uma questão a ser levantada é: “Seria a Psicopedagogia uma aplicação da 
Psicologia à Pedagogia? ” “Ou trata-se das práticas da Pedagogia aplicadas as 
práticas da Psicologia? ” Ao contrário do que se pensa, a resposta pode não ser 
tão simples assim. Essa realidade é visualizada no livro A Psicopedagogia no 
Brasil: Contribuições a partir da Prática (BOSSA, 2007), o qual oferece base para 
construir parte dos conhecimentos a respeito do tema, conforme a citação da 
autora: 
 
O termo Psicopedagogia apresenta-se, hoje, com uma característica 
especial. Quanto mais tentamos elucidá-lo, menos claro ele nos parece. 
(...). Como diz Lino de Macedo (1992), “o termo já foi inventado e assinala 
de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes razões 
da produção de um conhecimento científico: o de ser meio, o de ser 
instrumento, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou aplicada” 
(BOSSA, 2007, p. 5). 
 
É possível perceber, nessa colocação, que não se trata de apenas aplicar a 
Psicologia à educação ou a educação à Psicologia, mas de um conhecimento 
produzido no limite desses dois campos de saberes, e não a partir deles, de forma 
que não é o primeiro nem o segundo, é uma área do conhecimento que se construiu 
com o que se sabe sobre os dois. 
 
12 
 
Relativo a esses questionamentos, é necessário admitir o caráter 
interdisciplinar da Psicopedagogia. Bossa (2007) afirma que esse caráter significa 
buscar conhecimento em outros campos do saber e, a partir disso, criar o seu 
próprio objeto de estudo. Por esse motivo não se tem a possibilidade de falar que 
se trata apenas da aplicação da Psicologia na Pedagogia. Barthes (1988, p.99) diz: 
 
O interdisciplinar, de que tanto se fala, não está em confrontar disciplinas 
já constituídas das quais, na realidade, nenhuma consente em 
abandonar-se. Para se fazer interdisciplinaridade, não basta tomar um 
“assunto” (tema) e convocar em torno duas ou três ciências. A 
interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a 
ninguém. 
 
Reitera-se o caráter interdisciplinarque evidencia que a Psicopedagogia não 
se define como uma mera aplicação da Psicologia a Pedagogia. Ambas, sem 
dúvida, fornecem subsídios importantes para a prática psicopedagógica, mas que 
não bastam para a realização e atuação dessa ciência. 
Como se pode perceber, a ideia de criação de um objeto de estudo próprio, 
apresentada pelo conceito de interdisciplinaridade, coincide com a proposta da 
Psicopedagogia, que dedica sua atenção a um objeto de estudo criado pela sua 
atuação prática e desenvolvido pela consistência teórica. 
 
1.3. A Psicopedagogia e seu Objeto de estudo 
 
Para compreender melhor o objeto de estudo da Psicopedagogia, 
primeiramente é necessário ter clareza dos sujeitos envolvidos nesse processo, os 
quais passarão por um acompanhamento clínico ou institucional. E também para 
que nós, enquanto profissionais, podendo enxergá-los da maneira correta, 
contemplando-os como indivíduos que não separam as questões afetivas, 
cognitivas, sociais e familiares, mas pelo contrário, que nascem e chegam aos seus 
diversos ambientes da mesma maneira, ou seja, como seres cognoscentes. 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Saiba Mais 
Barbosa (2007 p.92), conceitua ser cognoscente com as 
seguintes palavras: 
 
Este ser cognoscente é um ser que nasce incompleto, que não 
possui todos os seus comportamentos determinados de forma 
biológica. Para sobreviver, necessita relacionar-se com sua cultura, 
apropriar-se das ferramentas sociais, desejar viver, conviver, 
aprender e conhecer, respeitando o ambiente do qual faz parte 
constitutiva, os conhecimentos já produzidos através da história, nas 
diferentes culturas, a ética de ser humano e sujeito universal. 
 
Sendo assim o sujeito, quando nasce, não está completo, no sentido de ter 
noções básicas de relacionamento com as pessoas, com a sociedade e com o 
mundo no qual está inserido. É por conta dessa necessidade que o bebê, ao longo 
dos seus dias, cultiva, aos poucos, contato com os demais indivíduos que irão lhe 
ensinar valores. 
Na concepção de Parolin e Portilho (2003) fica esclarecido que essa ideia 
está relacionada com um sujeito que, para aprender, pensa e age numa atmosfera 
de sensações e de conhecimentos, que pode ser tanto subjetiva quanto objetiva, 
da mesma forma que coletiva ou individual. 
Nesse sentido, o objeto de estudo da Psicopedagogia é a aprendizagem 
humana em sua essência social, afetiva e cognitiva. Trata-se, portanto, de estudar 
o sujeito na sua particularidade e no seu contexto social, cabendo, então, ao 
psicopedagogo, motivá-lo para a tomada de consciência sobre as ferramentas 
necessárias para sua aprendizagem e para o convívio adequado. 
Dentro dessa visão, trata-se, pois, da construção de um olhar e de uma 
escuta diferenciada, voltada para o processo de ensino e aprendizagem, de 
maneira que se possa conhecer os sintomas para analisá-los e finalmente, buscar 
soluções para os problemas encontrados (BARBOSA, 2001). 
Outros autores também procuram definir e delimitar o objeto de estudo da 
Psicopedagogia. Na visão de Kiguel (1983) esse conceito diz respeito ao processo 
de aprendizagem humana com seus padrões evolutivos, podendo esses ser 
normais ou patológicos, e a influência que o meio (escola, família e sociedade) 
exerce sobre o indivíduo. Em outras palavras, estamos direcionados em como o 
sujeito aprende e a importância do meio neste processo. 
 
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Neves (1991) além de definir o ato de aprender como o objeto de estudo da 
Psicopedagogia, aponta também o ato de ensinar como parte desse processo, 
levando em consideração o meio no qual o mesmo ocorre. A isso, acrescenta-se a 
relevância de incluir a realidade interna do indivíduo, isto é, estudar o ato de 
conhecer em sua complexidade, atentando-se aos aspectos afetivos, cognitivos e 
sociais do sujeito. 
Ainda preocupado com a complexidade relacionada às questões que dizem 
respeito ao processo de aprendizagem, Scoz (1992), ao abordar o objeto de estudo 
da Psicopedagogia, contempla não só este processo, mas também as dificuldades 
que esse processo pode encontrar no decorrer do aprender de cada indivíduo. 
Ainda na linha teórica de Scoz (2000) é contemplado que a integração entre a 
subjetividade e a objetividade nos processos de aprendizagem é o princípio que 
norteia a atuação da Psicopedagogia, sendo esta responsável por compreender a 
construção de conhecimento por parte do sujeito, a que chama sujeito epistêmico, 
e também a constituição do sujeito a partir do conhecimento, a que chama sujeito 
desiderativo ou desejante. 
Em resumo, há um consenso no que diz respeito ao objeto de estudo da 
Psicopedagogia, o qual conduz à consideração da aprendizagem humana como 
sendo esse objeto, ainda que o objeto de estudo da psicopedagogia seja abordado 
de maneiras diferentes pelos mais distintos autores. 
No entanto, o mais importante quanto a conhecer e delimitar o objeto de 
estudo, é conhecer as origens dessa ciência que transformou a maneira de se 
pensar as dimensões da aprendizagem, ou seja, quando passa a se contemplar 
não apenas aspectos de sala de aula, mas colocar junto a esse processo o sujeito 
como um todo: aquele que pensa, sente, age e interage. 
 
1.4. Breve histórico da Psicopedagogia 
 
Ao falar sobre um breve histórico da educação, tem-se como início na 
emergência do período industrial, consequência da preocupação com a 
produtividade e, obviamente, com tudo aquilo que pode atrapalhar a possibilidade 
de maximizar a produção. É nesse contexto que surge a preocupação e a 
disponibilidade de uma área que tenha condições teóricas e práticas para atender 
as demandas na clínica, na instituição e nas demais instâncias, com o objetivo de 
 
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corroborar com as avaliações e pareceres construídos para os sujeitos 
encaminhados com alguma queixa e de um possível problema de aprendizagem, 
os quais precisam ser analisados pelas intervenções psicopedagógicas. 
A princípio, a contribuição da área médica ficou responsável por estudar a 
causa desses problemas, propondo possíveis intervenções, sobretudo no período 
da Primeira guerra mundial, a qual permitiu que fosse estudado o cérebro de 
soldados feridos, de maneira que se tornasse possível compreender a relação das 
áreas danificadas com as funções aparentemente prejudicadas (BARBOSA, 2001). 
É, então, no final do século XIX, que se inicia a investigação das causas que 
interferiam na aprendizagem do sujeito. Nomes como Esquirol (1772-1840), 
Decroly (1871-1932) e Séguin (1812-1880) marcaram esse momento colaborando 
para tanto (Ibid., 2001). 
É possível verificar que o início da Psicopedagogia ocorreu na Europa no 
século XX. Andrade (2004), por exemplo, atribui o nascimento de Psicopedagogia 
à década de 20, no momento em que surgiu o primeiro centro de Psicopedagogia 
do mundo na França, estando este fortemente ligado ao pensamento psicanalítico 
de Lacan. Já Bossa (1994) atribui esse nascimento à criação dos primeiros centros 
Psicopedagógicos em Paris, por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco, no ano 
de 1946. Nessa época, a autora esclarece, esses centros deveriam auxiliar 
crianças e adolescentes que apresentavam desvios de comportamento. A ideia era 
reeducá-las para o meio a partir de acompanhamento psicopedagógico, o qual 
consistia em ações de classificações dos desvios de aprendizagem, seguidas da 
elaboração de planos de trabalho, que tinham como base a psicologia, a 
psicanálise e a pedagogia. 
Na citação que segue abaixo, pode-se visualizar um pouco melhor sobre 
esse momento inicial. 
 
(...) num primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca 
e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos 
portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a 
remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. E, 
ainda, a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a 
compreensão do processode aprendizagem e a relação que o aprendiz 
estabelece com a mesma, o objeto da Psicopedagogia passa a ser mais 
abrangente: a metodologia é apenas um aspecto do processo terapêutico, 
e o principal objetivo é a investigação da etiologia da dificuldade de 
aprendizagem, bem como a compreensão do proces-samento da 
aprendizagem, considerando todas as variáveis que intervêm neste 
processo (RUBINSTEIN, 1987, p.103). 
 
16 
 
 
Importante 
A Psicopedagogia vem para contribuir com as análises e 
investigações, com o intuito de desencadear alguns processos 
para a avaliação e a intervenção na caminhada de um sujeito. 
 
Barbosa (2002) complementa que, tal como na Europa, os Estados Unidos 
também vivenciaram um momento de preocupação com as dificuldades de 
aprendizagem. No entanto, o movimento americano fez crescer a crença de que 
esses problemas eram oriundos de causas orgânicas, o que influenciou até pouco 
tempo a intervenção da Psicologia Escolar, enquanto o movimento Europeu fez 
nascer a Psicopedagogia. Andrade (2004) nos esclarece que essa influência se dá 
com: 
 
A primeira Universidade do país que surge no século XVIII organizada 
institucionalmente nos parâmetros europeus. Muitos espanhóis 
emigraram para a colônia para fazer fortuna e voltar para a corte. 
Trouxeram na bagagem as ideias e a cultura de valorização do 
conhecimento mantendo sempre com a Europa profícuo intercâmbio, de 
tal forma que as ideias revolucionárias de Freud e seus seguidores não 
encontraram barreiras para conquistar o novo continente (ANDRADE, 
2004, p. 1). 
Importante 
A Psicopedagogia trabalha com a aprendizagem do ser humano. 
No sujeito que apresenta uma dificuldade específica, um processo 
avaliativo e de intervenção pode ser realizado; com a pessoa que 
busca a psicopedagogia para prevenir possíveis dificuldades, um 
acompanhamento pode ser construído. 
 
Visca (1935-2000), um dos pioneiros da Psicopedagogia na Argentina, 
chegou ao Brasil com o objetivo de criar os Centros de Estudos Psicopedagógicos 
(CEPs), visando difundir a linha teórica que fundamentava a Psicopedagogia 
defendida por ele: a Epistemologia Convergente, uma linha que propunha a 
integração entre a Psicologia genética de Piaget (1896-1980), a Psicologia Social 
de Pichon Rivière (1907-1977) e a Psicanálise freudiana (BARBOSA, 2001). 
Na Argentina, segundo Visca (1987, p.33), a Psicopedagogia nasce como 
uma ocupação empírica que buscava compreender as crianças com dificuldades 
 
17 
 
de aprendizagem, cujas causas estavam sendo estudadas tanto pela medicina 
quanto pela psicologia. Mais tarde, a psicopedagogia alcançou sua independência 
enquanto ciência, na medida em que se consagrou enquanto conhecimento 
científico, construindo seu objeto de estudo e recursos de diagnóstico e de 
prevenção. 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
A corrente de Jorge Visca também será 
abordada em uma de nossas disciplinas, e 
apresenta várias pontuações relevantes a 
respeito de abordagens psicopedagógicas. A 
mesma pode ser acompanhada no livro cujo 
título é Clínica Psicopedagógica: 
epistemologia convergente (1985). 
 
O Brasil foi influenciado tanto pela Europa quanto pelas tendências 
americanas. Mas foi por intermédio da Argentina que aconteceu a construção do 
conhecimento psicopedagógico brasileiro. Nomes como o de Sara Paín (1931), 
Alícia Fernández (1944) e Jorge Visca (1935-2000) marcaram a influência 
argentina no país, enriquecendo essa área de conhecimento (BARBOSA, 2001) 
Vale destacar que no Brasil, na década de 70, os problemas de 
aprendizagem eram considerados ainda com uma ligação aos fatores orgânicos, 
em função da influência americana, fazendo perdurar uma atuação essencialmente 
médica e organicista no tratamento de questões relacionadas ao fracasso escolar. 
Nessa época, os problemas de aprendizagem eram considerados e associados aos 
problemas neurológicos, cenário esse que só começou a se modificar na década 
de 80, quando se iniciou uma teoria social e política a respeito do fracasso escolar 
(BOSSA, 2007). 
Ainda assim, com toda a transformação que sofreu esse cenário, foi a partir 
de uma herança médico-pedagógica que nasceram os primeiros cursos de 
Psicopedagogia no país, marcando o início de uma atuação profissional 
essencialmente – mas não somente – organicista. 
É válido destacar que, nesse momento inicial, a Psicopedagogia ganhou 
espaço no Brasil, sendo trazida por exilados argentinos, em meio à época em que 
 
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estava em vigor o regime militar em países da América Latina, em que a liberdade 
de expressão estava posta em risco, e é nesse panorama que a Psicopedagogia 
chegou ao Brasil. Foi apenas ao final da década de 70, com a criação, em São 
Paulo, das Sedes Sapientiae, que surgiu o seu primeiro curso de especialização. 
Atualmente, conta-se com mais de 120 especializações nessa área no país. 
Curiosidade 
No Paraná, e mais especificamente em Curitiba, um grupo de 
profissionais foram os pioneiros nesse estudo, como: Evelise 
Portilho, Isabel Portilho, Laura Monte Serrat Barbosa, dentre 
outros. É possível acompanhar o trabalho de Evelise Portilho 
na seguinte reportagem Tipos de Aprendizagem. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=88I8ku7XkmI 
 
É com o intuito de compreender a mudança no cenário de atuação do 
psicopedagogo, ocorrida ao longo do tempo, que serão apresentados os dois 
momentos distintos do objeto de estudo da Psicopedagogia. 
 
1.4.1. Dois momentos distintos do objeto – Psicopedagogia 
 
Depois de conhecer a respeito do percurso histórico da Psicopedagogia, e 
mais a definição do que se considera como objeto de estudo dessa ciência, é 
possível pontuar que nem sempre esse objeto foi abordado da mesma maneira 
como é feito hoje, por conta da sua evolução histórica, como qualquer ciência, que 
ao longo dos anos tem suas teorias renovadas, assim como revistas acrescentadas 
para um melhor andamento das formações de seus profissionais; uma autora que 
alerta sobre esse tema é Bossa (2007). 
A aprendizagem humana, num primeiro momento, era vista sob um olhar 
ainda imaturo dentro de uma perspectiva dos profissionais que se dedicavam a 
essa prática. Talvez, um olhar ainda pouco elaborado por estarem focados na 
reeducação daqueles com déficits de aprendizagem, isto é, no sujeito que se 
encontra em situações de uma não-aprendizagem; ou aqueles que aprendem com 
dificuldade e/ou lentidão. É preciso destacar que, ao se referir à situação de não-
aprendizagem, trata-se de uma perspectiva social, na qual estão inseridos: 
 
19 
 
instituição de ensino, instituição família, grupos sociais, condição econômica e 
cultural, o que contextualiza a situação de aprendizagem. 
Poderia estar relacionado ao fato de o sujeito estar vivendo em grupos de 
práticas e ideologias com muitas diferenças e a dificuldade apresentada por ele, 
indicar que algo não está adaptado nesta dinâmica. 
Nesse contexto, estaria a intervenção baseada em um modo de tratamento 
de uma enfermidade, cujo principal objetivo é fazer desaparecer o sintoma e tornar 
possível a “cura pedagógica” de casos isolados, trazendo à tona, a possibilidade 
de o sujeito aprender normalmente em condições melhores (ANDRADE, 2004). 
Quando a atenção incide sobre o “sujeito que não aprende”, pode haver uma 
tendência de ignorar a compreensão das várias facetas da aprendizagem desse 
sujeito. Nesse sentido, há o risco de se preocupar mais com reinserção do sujeito 
no contexto social e na sua readaptação a padrões traçados pela sua realidade 
externa, do que com a compreensão da sua forma singular de aprender, levando 
em conta sua realidade interior e as habilidades que esse sujeito apresenta, ainda 
que sejam distintas do que se espera socialmente. 
Caso os profissionais prossigam dessa forma, pode existir a possibilidade 
de não dar a devida importância aos aspectos e noções dos “problemas de 
aprendizagem”; equem sabe até simplificar um processo que precisa e deve ser 
aprofundado. No entanto, se esse movimento não for realizado, é como se fosse 
estabelecido aquilo que é certo e aquilo que é errado, desconsiderando o tempo, o 
momento e a forma de cada um aprender. Portanto, evidencia-se um primeiro 
momento de estudo marcado pela busca de se reestabelecer padrões de 
aprendizagem, a partir de parâmetros sociais previamente estabelecidos, não 
levando em conta a singularidade do indivíduo. 
Não apenas a Psicanálise, mas também outros campos do saber 
corroboraram sobre esses aspectos, os quais serão abordados nas próximas aulas. 
Por exemplo, a noção da “não aprendizagem” deixa de ser considerado um rótulo 
imobilizador do sujeito, passando a ser vista como algo que apresenta uma série 
de significados que não se opõe ao ato de aprender, e que precisam ser 
trabalhados pelo psicopedagogo, seja na Clínica ou na Instituição, dependendo do 
direcionamento e da queixa levada para cada atuação psicopedagógica. 
No que diz respeito ao afastamento da condição de “não aprendizagem” de 
um rótulo imobilizador do sujeito, Parolin (2011) traz uma abordagem muito 
 
20 
 
interessante, na qual alerta sobre a importância de não restringir o conceito de 
aprendizagem à mera apropriação de conhecimentos, o que, como discutido 
anteriormente, evitaria o que há pouco foi tratado como a simplificação de um 
processo que precisa e deve ser aprofundado. Nesse sentido, necessariamente, 
ao falar de aprendizagem, há um convite para diferentes conexões sobre como 
ocorre o ato de aprender do sujeito, estando direta e indiretamente relacionado ao 
que a autora chama de “clima emocional” em que ocorre a aprendizagem. 
Nesse segundo momento do objeto de estudo, existe uma relação com o 
sujeito que estuda e aprende constantemente, contrariando, dessa forma, a noção 
de uma aprendizagem padrão, delimitada e fechada. Fala-se, então, de um instante 
em que a história de vida do sujeito, suas relações sociais e sua 
individualidade são contempladas. 
 
Fonte: Elaborado pelo DI 
É preciso considerar que nessa forma de pensar os caminhos da 
aprendizagem, é possível encontrar uma série de desafios e que cabe ao 
psicopedagogo, trabalhar de maneira a contribuir com outros saberes a esse 
respeito. Além disso, precisa-se voltar a atenção para o que foi tratado durante as 
aulas como: sensibilizar a relação do psicopedagogo em relação ao sujeito que 
também contribui e sente as nuances da sua aprendizagem. 
 
21 
 
 
O que nos falta para que sejamos explícitos, são modelos conceituais e, 
além deles, uma visão global graças à qual nossas ideias dos seres 
humanos como indivíduos e como sociedade possam harmonizar-se 
melhor. Não sabemos, ao que parece, deixar claro nós mesmos como é 
possível que cada pessoa isolada seja uma coisa única, diferente de todas 
as demais; um ser que, de certa maneira, sente, vivência e faz o que não 
é feito por nenhuma outra pessoa; um ser autônomo e, ao mesmo tempo, 
um ser que existe para outros e entre outros, com os quais compõe 
sociedades de estrutura cambiáveis, com histórias não pretendidas ou 
promovidas por qualquer das pessoas que as constituem, tal como 
efetivamente se desdobram ao longo dos séculos, e sem as quais o 
indivíduo não poderia sobreviver quando criança, nem aprender a falar, 
pensar, amar ou comportar-se como um ser humano (ELIAS, 1994, p.68). 
 
É por meio dessa consciência, na qual cada pessoa é vista como singular e 
a mesma que traz consigo uma bagagem com suas experiências, que foi possível 
construir uma nova percepção a respeito do objeto de estudo. É com essa 
perspectiva que se dirige para o próximo momento de estudo, com o objetivo de 
compreender essa nova percepção que permite novos caminhos e novos olhares 
sobre as dificuldades de aprendizagem. 
Dessa forma, iniciamos nossa próxima aula, convidando você, aluno, a 
refletir sobre as origens teóricas da psicopedagogia, de maneira que possa 
conhecer e estudar seus fundamentos. 
Atividade de Aprendizagem 
Com base no que foi estudado nesta aula, explique a diferença 
entre a psicopedagogia iniciada na América e na Europa, e 
quais características dessas duas foram abordadas pela 
psicopedagogia brasileira. 
 
Resumo da Aula 
 
 Nesta aula foi apresentado um breve histórico da psicopedagogia, na qual a 
mesma só vem a ser moldada mesmo no século XX, mas antes disso já existiam 
estudos a respeito para contribuir com a formação da psicopedagogia. 
 Na sequência entrou em pauta a delimitação do objeto de estudo da 
psicopedagogia, com uma dualidade sendo discutida, a da análise mais superficial 
evitando a imposição de limites no processo de aprendizagem e o da análise mais 
profunda que tende a ser bastante impositiva. De modo que fica a critério do 
 
22 
 
psicopedagogo um estudo sobre o caso em questão para decidir a melhor análise 
a ser adotada. 
 
Aula 2: Embasamento teórico do trabalho psicopedagógico 
 
Apresentação da Aula 
 
Nesta aula será abordada a interdisciplinaridade como característica de 
destaque para a Psicopedagogia, pela oportunidade que esse campo do saber tem 
de construir seu próprio objeto de estudo e lançar a ele olhares que trazem a 
compreensão diferente do que é oferecido por outros campos de saberes. No 
entanto, mesmo que haja uma percepção distinta acerca do seu objeto, a 
Psicopedagogia, como ciência, precisa interagir constantemente com as outras 
áreas, profissionais e teóricas. 
Inicialmente será traçado um trajeto a respeito das origens teóricas da 
Psicopedagogia, de maneira que seja possível conhecer e estudar seus 
fundamentos. 
 
2. Embasamento teórico do trabalho psicopedagógico 
 
Para iniciar a fundamentação de teorias psicopedagógicas, é preciso 
destacar momentos importantes da história da humanidade num contexto histórico, 
como verificado na aula anterior, e a partir deles verificar os motivos que levaram 
às contestações e aos estudos que embasam a psicopedagogia. 
 
2.1 Breves Considerações 
 
A Psicopedagogia teve seu marco inicial ao acompanhar a evolução 
histórica, onde se deu a necessidade de estudar aspectos encontrados e 
relacionados à aprendizagem, ou seja, as habilidades e as limitações dos 
indivíduos. Portanto, para efetivar um acompanhamento para compreender esses 
aspectos foi preciso aprofundar a teoria e as pesquisas junto com as queixas 
advindas dos vários contextos, os quais os sujeitos pertenciam e pertencem. 
 
23 
 
Vocabula rio 
O que significa o termo “queixa” dentro da psicopedagogia? É 
uma situação, um problema ou até um déficit relacionado à 
aprendizagem de um sujeito. 
 
 
Para continuar esse pensamento, Paín (1985) contribui ao dizer que: 
 
[...] nesse lugar do processo de aprendizagem coincidem um momento 
histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito 
associado a tantas outras estruturas teóricas [...] (p.15). 
 
Logo, não são apenas sujeitos que estão marcados pelo aspecto da 
inconstância e pelas contradições típicas do ser humano que se estuda na 
psicopedagogia, mas que se relacionam; que possuem um arsenal biológico 
também responsável pelas questões cognitivas e de aprendizagem, os quais estão 
fundamentalmente associados a um momento histórico e também social, enfim, 
são vários os aspectos que são levados em consideração. 
É pensando no constante preparo do psicopedagogo, em que se torna 
primordial conhecer as teorias que embasam a formação desse profissional e 
auxiliam também nas articulações com a sua prática. Para iniciar as discussões, se 
verifica nas palavras de Barone (1992): 
 
[...] a prática psicopedagógica vem colocando questões ainda pouco 
discutidas, de manejo difícil e geradora de conflitos. Isto porque seu 
“paciente”, o sujeito com dificuldade de aprendizagem, apresenta, quase 
sempre, um quadro de comprometimentos que extrapola o campo de ação 
específicode diferentes profissionais, envolvendo dificuldades cognitivas, 
instrumentais e afetivas (BARONE, 1992, p. 113). 
 
Por considerar que a atuação psicopedagógica também está interligada com 
outras áreas e demais profissionais, como o neurologista, fisioterapeuta, 
fonoaudióloga, dentre outros, que se torna importante conhecer suas teorias e 
campo de atuação, para que possamos dar voz e vez ao trabalho, muitas vezes, 
multidisciplinar dentro dos acompanhamentos e avaliações psicopedagógicas. 
Ademais, já é parte do trabalho profissional do psicopedagogo lidar com 
essa complexidade, que interage e se relaciona constantemente com o seu meio. 
Por isso, demanda múltiplos conhecimentos e cobra constante aperfeiçoamento 
 
24 
 
para que estes profissionais estejam habilitados a contribuir para uma intervenção 
prática e eficaz. Nesse sentido, a seguir é possível acompanhar algumas teorias 
que contribuem para essa formação e atuação. (PAROLIN, 2011) 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Os livros, Psicopedagogia: teoria e prática 
(2005) e Psicopedagogia Institucional: teoria, 
prática e assessoramento psicope-dagógico 
(2006), cujas respectivas autoras são Circe 
Ferreira Lomonico e Olívia Porto, 
apresentam visões de muito interesse para o 
psicopedagogo. Eles relacionam bastante os 
elementos de fundamentação da 
psicopedagogia, seus elementos teóricos, às 
aplicações dentro do contexto escolar, 
vinculando os conceitos a exemplos de 
abordagens que podem ser utilizados como 
exemplos pelo profissional. 
 
2.2 As ciências e as abordagens que contribuem com o exercício da 
Psicopedagogia Clínica e Institucional 
 
Nesse momento serão abordadas linhas teóricas que podem auxiliar no 
embasamento para atuar como psicopedagogos nos vários contextos: clínica, 
instituição, empresa, hospital, terceiro setor e outros. Por esse motivo, no início das 
aulas foi discutido sobre o movimento histórico da Psicopedagogia e junto 
posicionou-se o sujeito que está envolvido nesse processo de prevenção e 
intervenção, o qual não apenas se relaciona com o mundo, mas pensa, sente, age 
e interage com toda as suas vivências como bagagem de história de vida. 
Bossa (2007) esclarece que o homem cognoscente, como visto na aula 
anterior, se forma a partir das suas relações familiares, grupais e institucionais, 
sendo estas responsáveis por contextualizar todo o processo de aprendizagem 
pelo qual passa o indivíduo. Portanto, é possível compreender que se necessita 
atentar para o processo de aprendizagem ou para os problemas de aprendizagem, 
levando em consideração alguns fatores como os meios em que esse sujeito está 
inserido e situações também durante as análises psicopedagógicas. Logo, para 
 
25 
 
uma atuação eficaz do psicopedagogo, é necessário pensar em quais situações se 
instituem os problemas de aprendizagem, isto é, em qual contexto, em qual 
momento e sob quais condições eles aparecem, ou seja, é possível compreender 
que o ser humano é constituído de vários contextos e para acontecer uma 
aprendizagem significativa é preciso considerar questões cognitivas, afetivas, 
familiares e sociais que formam o sujeito aprendiz. 
Importante 
Antes de abordar a epistemologia genética façamos uma reflexão 
da imagem a seguir, no sentido de entender como funciona esse 
sujeito, do que ele se constitui cerebralmente e quais são as 
relações realizadas ou cadeias de informação utilizadas no seu 
cotidiano. 
 
A Epistemologia Genética, teoria oriunda de Piaget, apresenta muitas 
contribuições em que, as pessoas mesmo inseridas numa perspectiva biológica, 
tem como aprender e obter algumas explicações sobre como um sujeito passa de 
um nível de conhecimento para outro, isto é, ela descreve e explica como uma 
criança passa do conhecimento concreto para o conhecimento abstrato e, assim, 
organiza o conhecimento do adulto (PALÁCIOS, 2004, p. 27). 
Piaget (1896 – 1980) elucida a respeito de como se dá o conhecimento a 
partir da interação do sujeito com os objetos e também com os outros. Sua teoria 
apresenta fases do desenvolvimento humano, esclarecendo como se compõe essa 
interação, sugerindo, então, a evolução da aquisição do conhecimento, a qual parte 
do princípio do desconhecimento do mundo em direção à capacidade de aprender 
sobre aquilo que está em sua volta. 
As contribuições para a Psicopedagogia advindas da Epistemologia e da 
Psicologia genética se faz presente como o meio de compreender como os campos 
do saber tornam possível ao homem o aprender, e talvez o aprofundamento sobre 
a gênese do conhecimento. Assim, é necessário destacar também a importância e 
a contribuição de outras áreas para a prática e a construção teórica da 
Psicopedagogia. 
 A linguística, por exemplo, destaca: 
 
 
26 
 
(...) a compreensão da linguagem como um dos meios que caracterizam 
o tipicamente humano e cultural: a língua enquanto código disponível a 
todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, 
evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica (BOSSA, 2000, p. 
18). 
 
Com acesso aos livros e aos estudos de Lacan (1901-1981), um psicanalista 
francês, é possível perceber a importância da linguística, não só no que diz respeito 
à apreensão da língua, mas sua relevância para a constituição do indivíduo 
enquanto sujeito social, pois é a partir da aquisição da linguagem que o sujeito 
poderá atribuir significados a significantes, deixando, assim como refere-se Lacan, 
de ser um mero “bolo de carne” de que veio ao mundo. Ou seja, o ser humano 
passa a ter espaço para comunicação direta com o universo no qual está inserido. 
Independentemente de suas habilidades e limitações, a interação, de alguma 
forma, acontecerá. 
Saiba Mais 
A ideia de significado e significante, presente na obra do filósofo 
e linguista Saussure (1857-1913) aparece da seguinte maneira: 
pensemos em um objeto qualquer, um lápis. O “lápis”; o objeto 
em si, aquele pedaço de madeira que reveste grafite, destinado 
à escrita, é o significado. Sobre este possuímos uma imagem 
universal, ainda que se mude a forma como o mesmo é feito 
(longo ou curto, verde ou vermelho). Já a palavra falada e/ou 
escrita se refere ao que chamamos de significante. Este sim 
muda de acordo com a língua. Podemos falar pencil em inglês 
ou lápis em espanhol. Para uma compreensão mais conceitual 
sobre os termos, sugerimos a leitura de “Para compreender 
Saussure”, de Carvalho (1976). 
Após essa contribuição, há também a neurociência que abre caminho para 
a compreensão dos aspectos físicos e biológicos das questões cerebrais, o que 
também traz a possiblidade de entender a aprendizagem, seus processos e 
funcionamentos. 
Neste momento, é possível se questionar se alguma dessas ciências 
surgiram para responder especificamente a problemática da aprendizagem 
humana. No entanto, já é possível pontuar que o objetivo não esteve firmado nesse 
foco. A psicologia, a epistemologia genética, a linguística e tampouco a 
neurociência estão centradas em responder as perguntas que dizem respeito a 
 
27 
 
nuances da aprendizagem humana. No entanto, fornecem ferramentas e 
instrumentos para realizarmos reflexões sobre. 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Uma opção para aprofundar seus estudos nas 
questões da neurociência, segue a indicação 
do livro do Vitor da Fonseca, Cognição, 
Neuropsicologia e Aprendizagem (2007). 
Entender melhor essa máquina e orquestra 
que é o cérebro humano traz vários 
esclarecimentos sobre o processo de 
aprendizagem. 
 
Com o objetivo de tornar mais acessível à maneira como essas teorias 
contribuem veja um exemplo que pode acontecer e, com o seu conhecimento e 
prática psicopedagógica, daqui para frente, após o curso, você terá o preparo para 
atuar. 
Para Refletir 
Imagine uma criança com dificuldades para aprender a ler e a 
escrever. A primeira providência a ser tomada é recorrer aos 
conhecimentose atuações prévias e analisar as contingências 
sob as quais está ocorrendo o processo de aprendizagem 
dessa criança. É necessário, portanto, avaliar se a metodologia 
utilizada pela instituição de ensino está sendo a mais 
adequada, ou se a relação entre professor e aluno está 
inviabilizando o processo de aprendizagem dessa criança. 
Antes de esgotar todas as possibilidades de respostas, é 
necessário avaliar se está sendo tratado um caso de 
comprometimento físico e/ou biológico, ou de um caso de 
anóxia perinatal, resultante de oxigenação insuficiente do 
cérebro. Nessa situação, problemas como a dislexia podem 
afetar a criança. No entanto, somente após um diagnóstico 
minucioso, o profissional poderá intervir e mediar o processo 
em busca do reestabelecimento da aprendizagem do sujeito, 
de modo a diminuir os aspectos negativos, resultantes da 
alteração pelo qual foi acometido. 
 
 
28 
 
Tendo isso em vista, é de extrema necessidade que o psicopedagogo se 
mantenha atualizado no que diz respeito às produções teóricas que poderão 
complementar e contribuir para a sua formação e atuação prática. 
 
2.3. Como se aprende? 
 
As diversas relações traçadas entre a psicopedagogia e as áreas afins 
primam em permitir algumas posturas teóricas distintas, que poderão abraçar os 
mais variados estilos de aprendizagem, como, identificar o estilo de aprender de 
cada um: o reflexivo, que diz respeito aos sujeitos que são mais observadores, 
ponderados e que buscam se aprofundar. O pragmático compreende os sujeitos 
mais práticos, que buscam a aplicabilidade das informações recebidas. O teórico 
que prefere integrar aquilo que pode observar à teoria; e, por fim, o ativo, que 
contempla os sujeitos que possuem gosto por se arriscar em experiências e 
desafios novos. 
Neste momento apresenta-se a definição de aprendizagem para que você 
possa refletir sobre o termo e, como é possível, utilizá-lo dentro de sua atuação 
psicopedagógica. Para Bossa (2007), a aprendizagem trata do processo 
responsável por fazer a inserção do indivíduo ao mundo da cultura. A partir dessa 
conceituação é possível entender que esta é responsável por permitir ao indivíduo, 
criar em seu interior, representações simbólicas sobre o mundo. 
Uma observação a ser feita é que essa visão não se diferencia do que foi 
explorado sobre a linguística, dentro da concepção lacaniana. Nesse sentindo, 
pode-se considerar a aprendizagem como um processo pelo qual o indivíduo 
adquire sua língua, de maneira a atribuir significados reais ao mundo que 
pertence. Isso justifica, então, a afirmação de Bossa (Ibid.) sobre a aprendizagem 
enquanto responsável por inserir o sujeito na sociedade. 
A psicopedagogia, portanto, tem sua atuação nas possibilidades geridas em 
avaliar, intervir e elaborar um processo preventivo, terapêutico e corretor, o qual 
visa compreender, desde a queixa levada ao profissional, até as avaliações 
realizadas durante o trabalho psicopedagógico para encontrar, e/ou pontuar, as 
limitações do processo de aprendizagem do indivíduo. É relevante compreender 
que: 
 
 
29 
 
[...] o conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação 
fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a 
possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, 
reconhecendo que o saber é próprio do sujeito (BOSSA, 2007, p. 22). 
 
É importante pontuar que a atuação da psicopedagogia vai além de tomar 
conhecimento da queixa apresentada pelo sujeito, pois é preciso que o profissional, 
ao iniciar o atendimento psicopedagógico, tenha como objetivo traçado o seu plano 
de ação e de intervenção, ou seja, as hipóteses do que pode estar acontecendo 
com o paciente em avaliação são levantados e depois, por meio de instrumentos e 
análises, serão compreendidos os possíveis diagnósticos. Contudo, isso não quer 
dizer que se tem em mãos algo fechado, estático, em razão de se considerar o ser 
humano e suas várias dimensões (cognitiva, emocional e social) e seus meios de 
convivência também. 
Ao contemplar as alterações subjetivas do aprender como “problemas”, é 
preciso que o profissional esteja atento para não imobilizar o sujeito a partir de um 
rótulo. Sobre isso, é discutido algo semelhante em aula, ao falar sobre aspectos da 
“não aprendizagem”. 
É importante que haja a clareza que, ao lidar com o “sujeito com dificuldades 
para aprender”, se está diante de um sujeito que apresenta uma forma própria de 
aprender, mesmo que essa forma destoe daquela que muitos consideram “normal”. 
Para Refletir 
O que vem a ser normalidade? O que se pode definir como 
normal ou não no que diz respeito à aprendizagem? É preciso 
ter nítido que uma definição de normalidade pode ser muito 
imprecisa ao tratar de a possibilidade do sujeito apreender 
sobre o mundo. O que se alerta é que a concepção de 
normalidade é relativa. 
 
O que se pode pontuar como uma situação próxima é que em alguns países, 
como o Brasil, por exemplo, o parto da mulher é realizado na posição horizontal. 
Já em alguns países africanos, o parto da mulher é realizado na posição vertical. 
Analisando esses dois casos, pode se perguntar qual a forma normal de se realizar 
o parto: “na posição vertical ou na posição horizontal?” Porém percebe-se que não 
existe uma resposta de que uma ou outra forma está correta, pois depende a forma 
como se aprendeu. A grande questão a ser solucionada é que a noção de 
 
30 
 
normalidade deve, necessariamente, ser conduzida de acordo com o espaço 
ocupado por cada um nos meios em que vive. 
Importante 
Na realidade, o que mais importa nesse processo de 
aprendizagem no curso de Psicopedagogia e com a formação 
pessoal e profissional é compreender o ritmo e o estilo de 
aprender de cada ser humano; acima de tudo respeitar as 
habilidades e as dificuldades emergentes em cada situação. 
 
Trazendo essa noção de relatividade para a atuação prática, logo se pensa, 
por exemplo, naquilo que foi abordado na aula anterior sobre os estilos de 
aprendizagem. Supondo, em um contexto de sala de aula, uma situação em que o 
professor conduz sua disciplina de maneira bastante objetiva e teórica, utilizando 
pouco ou nenhum exemplo prático a respeito dessa teoria. O sujeito que aprende 
de maneira teórica, muito possivelmente se adaptaria a esse estilo de ensino mais 
facilmente do que o estilo pragmático, para o qual a aplicabilidade das informações 
recebidas é muito importante, isso se não for fundamental. 
Dessa maneira, é de suma importância que psicopedagogos estejam 
atentos e com os sentidos e as atenções voltados para as ações e 
encaminhamentos Psicopedagógicos propostos para cada indivíduo, como no 
caso as questões referentes aos “problemas de aprendizagem”. Caberá ao 
profissional da Psicopedagogia, disponibilizar-se não só teoricamente, mas, 
principalmente, de maneira que considere o sujeito como o “ser cognoscente”: o 
que pensa, sente, age e interage consigo mesmo, com o outro e com o mundo em 
que vive. 
Para Refletir 
Que tipo de ambiente se oferece para os sujeitos em questão? 
Eles estão adequadamente adaptados no seu meio? Qual a 
função do profissional enquanto psicopedagogo dentro das 
Instituições? Que postura será ou deveria ser adotada? 
 
 
31 
 
Atividade de Aprendizagem 
Uma vez que se reconheça os alunos como seres, de acordo 
com as palavras de Barbosa (2007), cognocentes quais outros 
elementos devem ser observados de acordo com outros 
teóricos trazidos nesta aula? 
 
Resumo da Aula 
 
Nessa aula foi verificado o processo de acompanhamento psicopedagógico 
para lidar com alunos quando eles apresentam alguma dificuldade de 
aprendizagem, ressaltando o respeito à diferença que é necessário para não impor 
barreiras para o desenvolvimento desse aluno. 
Além disso, se tratou da contribuição e da limitação que outras áreas 
oferecem ao trabalho psicopedagógico, em que há umaabordagem bem específica 
repleta de detalhes de cada área separada, mas ao mesmo tempo não há a 
percepção de possíveis combinações de fatores verificados separadamente em 
cada área. 
 
Aula 3: A crescente profissionalização do Psicopedagogo 
 
Apresentação da Aula 
 
Nesta aula será discutido a respeito da recente profissionalização do 
pedagogo, uma vez que a tendência de expansão dessa profissão acarreta na 
necessidade de uma regulamentação da profissão. 
Com isso, as três formas de atuação psicopedagógica são descritas, a 
preventiva, a clínica, e a teórica, enfatizando a correlação que esses métodos de 
trabalho apresentam ao lidar com o objeto de estudo da psicopedagogia. 
 
3. O Psicopedagogo e sua crescente profissionalização 
 
O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico 
onde se dá esse trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico 
 
32 
 
que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de 
abordar o seu objeto de estudo (BOSSA, 2007, p. 22). 
 
Após delimitar o objeto de estudo psicopedagógico, bem como conhecer um 
pouco das bases teóricas que norteiam a prática psicopedagógica, ainda restam 
algumas questões, como: quais são as formas de atuação e onde pode atuar o 
psicopedagogo. Esses são os aspectos a serem tratados nesse módulo. 
O Psicopedagogo pode atuar em instituições como escolas, centros 
comunitários, empresas, hospitais, ONGs, dentre outros. O trabalho também pode 
ser realizado na clínica, o qual acompanha, de maneira individual, o sujeito, onde 
o profissional está constantemente em contato com o meio em que ele está 
inserido, ou seja, escola, família, grupos, e demais contextos. 
Conforme a primeira citação desta disciplina há um alerta importante: mais 
necessário do que definir onde atua o psicopedagogo, é compreender, 
epistemologicamente sua atuação; ou seja, em que se baseia e como é abordado 
o seu objeto de estudo. 
Bossa (2007) apresenta três principais formas de atuação desse 
profissional, sendo elas: clínica, preventiva e teórica; e ainda ressalta que 
embora cada uma tenha seu espaço de atuação, elas interagem entre si quando 
necessário para desenvolver o trabalho. 
Como o próprio nome diz, o trabalho preventivo baseia-se em controlar e 
extinguir os problemas que podem ocorrer durante o processo de aprendizagem. 
Trata-se de uma atuação que visa orientar o processo de ensino-aprendizagem e 
cabe ao psicopedagogo identificar possíveis queixas que venham limitar, de 
alguma forma, o desenvolvimento da aprendizagem. Além disso, é direcionado ao 
psicopedagogo, as possíveis orientações sobre as formas mais adequadas de 
metodologias que devem ser utilizadas para um indivíduo ou determinado grupo 
(BOSSA, 2007). 
Nessa forma de atuação, se discute sobre três níveis de prevenção. O 
primeiro diz respeito a uma atuação que possui como objetivo a redução da 
frequência com que aparecem os problemas de aprendizagem, atuando 
diretamente sobre as questões didático-metodológicas, ocorridas na transmissão 
do conhecimento. O segundo nível, consiste em diminuir, bem como tratar os 
problemas de aprendizagem já existentes, a partir de uma atuação conjunta com a 
instituição, firmada num plano diagnóstico da realidade desta. No terceiro nível, o 
 
33 
 
grande objetivo é erradicar os problemas existentes, a partir dos encaminhamentos 
e procedimentos clínicos. Para exemplificar e evidenciar a parte prática dessa 
atuação, é possível acompanhar a seguir: 
No caso da alfabetização, no primeiro nível caberá ao Psicopedagogo, junto 
ao professor, estabelecer métodos de ensino compatíveis, não só com as novas 
construções teóricas, mas, principalmente, voltados ao seu público alvo, o qual se 
destina o processo de alfabetização. Supondo que se trata de um caso de 
dificuldades de leitura, tendo como base o segundo nível de atuação, buscando um 
diagnóstico em grupo e seguindo para uma intervenção didática e metodológica, 
de maneira a encontrar as causas do problema e buscar saná-las. O último nível 
de atuação preventiva contempla situações específicas em que ocorrem problemas 
de leitura e/ou escrita, com a finalidade de tratar e evitar maiores problemas em um 
único indivíduo ou grupo (BOSSA. 2007). 
É o que aponta com clareza, Fernández (1991): 
 
[...] A intervenção do psicopedagogo no processo de diagnóstico das 
classes de alfabetização é muito importante para o sucesso dos alunos 
nos anos iniciais de sua escolarização, pois os grupos de crianças são 
sempre heterogêneos quanto aos conhecimentos já adquiridos nas 
diversas áreas do conhecimento, ou seja, o seu conhecimento prévio, 
portanto, as crianças não chegam à escola com o mesmo 
desenvolvimento real, como também não mostrarão ao educador os 
mesmos processos de maturação em via de serem consolidados na zona 
proximal e, tampouco, terão as mesmas possibilidades na zona potencial. 
Cada criança mostra-se como um ser único, com capacidades, limitações, 
motivações, habilidades, atitudes e interesses específicos (FERNÁNDEZ, 
1991, p.81-82). 
 
 
 
 
 
 
 
Importante 
O caráter preventivo de atuação do Psicopedagogo pode auxiliar 
dentro de uma reconstrução dos processos e definir novos 
conhecimentos, vislumbrando novas formas de aprender e 
ensinar, bem como conceber novas formas de avaliar o 
conhecimento. Dessa maneira, junto às instituições, em sua ação 
preventiva o Psicopedagogo deve adotar uma postura crítica no 
que diz respeito, por exemplo, ao fracasso escolar, e trabalhar de 
maneira a construir melhorias à prática pedagógica nas escolas. 
 
34 
 
 
Como se pode perceber, a atuação preventiva do trabalho psicopedagógico 
engloba os elementos que envolvem não só a aprendizagem, mas como os 
vínculos que se estabelecem ao longo da vida dos indivíduos, de maneira a torná-
los satisfatórios para as questões que dizem respeito à aprendizagem. Em suma, 
trata da dialética do sujeito em relação ao objeto, de maneira que essa relação se 
estabeleça eficazmente. 
É possível sublinhar que a instituição onde ocorre o trabalho preventivo 
torna-se objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os 
processos didáticos e metodológicos, além da dinâmica institucional que, 
comumente, podem interferir na aprendizagem. 
No que diz respeito à prática clínica, o trabalho é feito em consultórios, e 
visa atender “às alterações da aprendizagem sistemática e/ou assistemática de 
natureza patológica” (BOSSA, 2007, p.24). Essa prática que pode acontecer tanto 
em clínicas particulares, em centros de saúde e até em instituições, no horário de 
contraturno, trabalha condições adversas do sujeito, como, por exemplo, a 
autoestima que, muitas vezes, se perde no contexto escolar, social, dentro de 
empresa ou demais contextos, de maneira a levá-lo a compreender e conhecer 
suas potencialidades. 
A área clínica deve se ocupar, ainda, da avaliação psicopedagógica do 
sujeito que apresenta dificuldades de aprendizagem e que requer um atendimento 
terapêutico (PEREIRA, 2007). Ainda que o profissional, enquanto psicopedagogo, 
esteja preparado para a prática terapêutica, muitas vezes é necessário que, mesmo 
tendo mapeado e colocado em andamento o seu plano de intervenção, construa 
seu olhar diagnóstico junto aos demais profissionais que pertencem a outros 
campos do saber, como psicólogos, fonoaudiólogos e neurologistas; isso porque, 
ainda que o profissional esteja voltado para as produções teóricas desses campos 
do conhecimento, muitas vezes a prática interventiva escapa à possibilidade de 
intervenção do Psicopedagogo. 
Conforme Rubinstein (2002), a intervenção psicopedagógica clínica não 
está mais limitada ao uso de recursos técnicos em si mesmo, mas leva em conta a 
relação transferencial que é estabelecida entre o sujeito da aprendizagem e o 
psicopedagogo. Segundo a autora, é a partir do manejo da transferência que pode-
se conseguir efeitosterapêuticos para o sujeito da aprendizagem, no que diz 
 
35 
 
respeito a este compreender sua posição frente ao saber, bem como conhecer 
suas questões com a escolaridade. A autora propõe, então, que se pense um estilo 
de intervenção que contemple o discurso social, os conflitos existenciais mais 
amplos, sem ignorar os conflitos inerentes à própria singularidade do sujeito. 
Por fim, a atuação teórica constrói o seu embasamento profissional para a 
sua atuação por meio do estudo aprofundado sobre o processo de aprendizagem, 
bem como sobre o processo educacional, no qual é possível compreender uma 
implicação na necessidade de atualização por parte do profissional, a partir do 
contato com outros campos dos saberes que podem contribuir para a compreensão 
do objeto de estudo. 
Ressalta-se que é de suma importância deixar clara a diferença entre o 
trabalho clínico e preventivo. O primeiro diz respeito a um trabalho de orientação, 
o qual visa encontrar um caminho eficaz para o ato de aprender, levando em 
consideração o sujeito em sua totalidade, isto é, o sujeito que age e interage com 
o mundo. Já o trabalho clínico busca atuar em relação ao problema de 
aprendizagem já instalado. 
Ademais, vale ressaltar que essas três formas de atuação, embora se 
diferenciem, devem estar constantemente em contato uma com as outras. 
Como foi possível verificar na primeira aula, a maneira de atuar da 
Psicopedagogia nem sempre foi assim. Trata-se, portanto, de uma mudança de 
atuação que, sem dúvidas, trouxe benefícios à prática. 
Historicamente, houve dois momentos: um momento inicial, em que a 
psicopedagogia servia, sobretudo, a uma prática de reeducação do sujeito que 
concebia a não aprendizagem como uma espécie de falha do sistema cognitivo do 
indivíduo. Nessa concepção, o primeiro momento de atuação, que logo demonstra 
limitações, é onde se buscava uma semelhança no processo de aprendizagem, 
que pouco considerava as individualidades do sujeito, tampouco fazia uma leitura 
daquilo que queria dizer o ato do “não aprender”. Pode se dizer que era um 
momento onde a atuação psicopedagógica encontrava-se muito influenciada pelos 
ideais de cunho econômico e capitalista. 
Noutro instante, o ato do “não aprender” passa a ser visto com novos 
olhares, e a ser tratado como um sintoma/uma queixa, o qual contém significados, 
e ao contrário do que se pensava, não se opõe ao ato de aprender. 
 
36 
 
Para Bossa (2007) há uma fase marcada pela atenção dada à 
singularidade, a diversidade, e também à história de vida do sujeito. Além 
disso, a autora chama atenção para o fato do sujeito permanecer em constante 
aprendizagem, o que difere da existência de uma visão onde o sujeito nascia e 
morria da mesma maneira, na qual não havia uma continuidade, mas eram 
pensadas em formas acabadas de aprendizagem. 
Importante 
Um dos aspectos que se percebe ao lidar com indivíduos é a sua 
religião, que muitas vezes tem influência no comportamento e nos 
valores que essa pessoa. Para o psicopedagogo, é importante 
levar em conta a religiosidade da família de um aluno ao 
acompanhar o seu processo de aprendizagem, além de respeitar 
a religião dele, o profissional deve verificar se a mesma é 
respeitada no ambiente escolar e familiar. 
Com relação a preconceito religioso, há mecanismos do governo 
de denúncia que existem para garantir a liberdade religiosa, como 
pode ser visto no vídeo, Comitê Nacional da Diversidade Religiosa 
- Pelo direito à livre crença (e não crença), disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=hnGPTVHjGnw 
 
No que diz respeito ao momento de atuação da Psicopedagogia, será 
abordada a Psicanálise como uma das teorias que embasam essa ciência. 
 
3.1. Outras concepções para a Psicopedagogia 
 
É difícil dizer se o que exerceu mais influência sobre nós e teve 
importância maior foi a nossa preocupação pelas ciências que nos eram 
ensinadas, ou pela personalidade de nossos mestres. É verdade, no 
mínimo, que esta segunda preocupação constituía uma corrente oculta e 
constante em todos nós e, para muitos, os caminhos das ciências 
passavam apenas através de nossos professores (Freud, In: Algumas 
reflexões sobre a psicologia do escolar, 1914). 
 
O final do século XIX foi marcado por uma descoberta que pode ter 
colaborado com algumas alterações quanto à concepção de homem vigente até 
então. Logo, remete-se a descoberta do inconsciente, que está atrelada a atuação 
de Freud (1825 – 1893). No entanto, é importante a colocação de que antes disso, 
pensava-se o homem a partir de um ideal cartesiano, isto é, animal racional e 
pensante. Com a descoberta do inconsciente o homem passa a ser visto como não 
 
37 
 
sendo senhor de suas próprias ações. Desta maneira, pode-se traduzi-la da 
seguinte forma: muitas vezes sou aquilo que racionalmente não gostaria de ser, 
ou, então, muitas vezes, quero aquilo que racionalmente não poderia querer. 
Para compreensão da psicanálise não tem como não mencionar Freud - 
Austríaco que seguia uma brilhante carreira como médico neurologista, e após um 
período de sua trajetória profissional, passou a atuar como discípulo do eminente 
médico parisiense Charcot (1825 – 1893), que na época havia se tornado notório 
por tratar diversas perturbações psíquicas com o método hipnótico. 
Os primeiros contatos de Freud com Charcot fizeram com que ele se 
atentasse ao poder do tratamento hipnótico em casos de histeria e enfermidades, 
cujos sintomas não possuem origem física. 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE FILME 
Um trecho dessa realidade pode ser assistido 
no filme Freud: Além da Alma, de 1962. No 
filme, se tem uma história biográfica de 
Sigmund Freud, desde como ele já era um 
estudioso neurologista até encontrar com 
Charcot que voltou a atenção para outros 
aspectos da natureza humana. Disponível em: 
 
https://www.youtube.com/watch?v=yYAMQ__Ije4 
 
É possível notar que Freud, ao utilizar a hipnose como método terapêutico, 
percebeu a existência de uma instância psíquica no sujeito que opera enquanto a 
sugestão do tratamento hipnótico está sendo dada, ou seja, opera de forma 
inconsciente (aquilo que é desconhecido pelo sujeito, isto é, que está alheio a sua 
consciência). 
É possível relacionar isso com a realidade encontrada, não só na escola, 
mas na faculdade, no trabalho, nas empresas e hospitais (campo de atuação da 
Psicopedagogia) quando o sujeito aprendente ou o profissional, dentro do seu 
ambiente de trabalho, ainda não apresenta a assimilação ou consciência do que 
aprendeu, ou das instruções dadas por terceiros. Por esse motivo, talvez de uma 
maneira inconsciente ou consciente, dependendo da situação, executa uma 
 
38 
 
atividade sem saber o seu porque, a finalidade de ter construído esse caminho, 
escolhida determinada estratégia ou atitude. 
Por exemplo, quando o sujeito não é orientado durante determinada 
atividade, ele pode vir a fazer as coisas aleatoriamente. No entanto, a partir do 
momento que o responsável ou o professor é o mediador dessa situação, ele 
tem condições e meios para tomar consciência do que precisa ser feito para 
resolver tal situação. Assim, o exercício de reflexão é de suma importância e deve 
ser praticado para que os sujeitos tenham, claramente, o porquê, o para que e 
como utilizar, na sua prática, cada aprendizagem conquistada. 
Para Refletir 
O que você acha que acontece quando aprendemos alguma 
coisa? Será que todos seguem o mesmo ritmo e tem as 
mesmas habilidades? 
 
A partir dessa constatação, outro olhar passa a ser contemplado para com 
o indivíduo em acompanhamento psicopedagógico. A psicanálise revela que está 
modificado o rumo não só dos tratamentos médicos já constituídos, mas o rumo da 
forma de se pensar o sujeito que sofre do que será chamado de “dores afetivas e 
emocionais”. 
Jorge (2000) compreende que a nova visão de sujeito, contemplada por 
Freud e posteriormente conceituadatambém por Lacan, não coincide com aquela 
que as teorias do desenvolvimento se referem, tendo o embasamento na lógica 
física do organismo, mas está relacionada ao sujeito que não obedece à lógica da 
instância consciente. Esse fato esclarece o que inicialmente foi discutido a respeito 
do sujeito que “não é senhor de sua própria razão”, ou melhor, senhor de si mesmo. 
Um questionamento, nesse momento, pode ser levantado em como essa 
nova concepção de homem pode ter contribuído para outra forma de se pensar o 
sujeito durante o processo de aprendizagem. Além disso, como já verificado 
anteriormente, nem a psicanálise e nem outros campos de saberes que participam 
da fundamentação da psicopedagogia foram elaborados com o objetivo de 
responder à problemática da aprendizagem humana, mas oferecem meios para 
refletir, cientificamente, sobre a mesma. 
 
39 
 
A preocupação freudiana estava voltada as abordagens clínicas, sobretudo 
para o tratamento das neuroses pelas quais as pessoas eram acometidas, visando 
amenizar os mais variados sofrimentos cuja origem não se justificava por afecções 
físicas. No entanto, sabe-se que sua filha, Anna Freud, tentou apresentar uma 
concepção freudiana sobre - o que faz com que uma pessoa seja um desejador do 
saber - permitindo, assim, uma linha de compreensão a respeito da aprendizagem, 
ainda que esse não fosse, em nenhum momento, o foco daquele autor. 
Saiba Mais 
No que diz respeito a essa vertente, é preciso compreender 
que num momento inicial, antes do advento da psicanálise, 
a psicologia exerceu uma forte influência na visão de 
homem, trazendo a ideia de um ser da razão, mensurável e 
previsível, o que acabou criando uma expectativa de que o 
sujeito deveria aprender segundo uma lógica existente. No 
entanto, aos poucos, essa visão foi dando espaço a uma 
nova percepção acerca desse sujeito, sobretudo depois da 
compreensão de que os sujeitos não são tão previsíveis 
quanto se pensava, principalmente quando se trata dos seus 
comportamentos e emoções. 
 
A psicanálise teve seu marco diante da compreensão que se tem de que, a 
partir da lógica do inconsciente, o sujeito possui um estilo próprio e singular de se 
relacionar com o mundo. Por essa razão, compreende-se a singularidade de um 
olhar diferenciado, preocupado menos com padrões sugeridos pela realidade 
externa do sujeito, e mais com o próprio sujeito, sendo este olhar adotado pela 
Psicopedagogia. 
A partir desse pressuposto é possível pontuar que atrás do “sujeito 
problema” há uma forma particular de aprendizagem, que precisa ser decodificada 
de maneira especial, e que não tenha a mesma abordagem das tradicionais. O “não 
aprender”, dentro dessa perspectiva e desse olhar, passa a ser visto como um 
sintoma/uma queixa do sujeito, carregado de significados, e não como um 
problema isolado que diz respeito ao simples processo de reeducação ditado pelas 
diretrizes vigentes ou até mesmo por um trabalhado desenvolvido com o sujeito, 
de maneira inconsciente e ausente de objetividade. 
 
40 
 
Melanie Klein (Nasio, 1995), que é psicanalista pós-freudiana, pode 
contribuir com esse enfoque ao ilustrar, de maneira objetiva, a inserção de jogos e 
atividades lúdicas no tratamento de sujeitos que não respondiam, de maneira 
satisfatória, à metodologia pedagógica utilizada durante o processo de ensino-
aprendizagem. 
Para Refletir 
Por um momento, verifique como se constitui uma orquestra, 
todos tocam o mesmo instrumento? Não! Porque cada 
integrante possui uma habilidade para tocar determinado 
instrumento, respeitando o seu tempo e momento, certo? E 
como se deve agir em sala de aula, no ambiente de trabalho, 
em casa e na sociedade? Procurando estratégias e 
ferramentas que possam auxiliar cada um alcançar seus 
objetivos de maneira satisfatória. 
 
No livro Contribuições à Psicanálise, Klein (1970) esclarece que no jogo 
infantil a criança revela sua realidade interna, na medida em que revela 
simbolicamente conteúdos que, muitas vezes, não expressa verbalmente. Isso 
quer dizer que toda atividade lúdica, de acordo com a concepção da autora, é 
acompanhada de um sentido que está direta e indiretamente relacionado com as 
vivências da criança no momento, e funciona como uma espécie de comunicação 
entre a criança e o adulto. Nesse sentido, o jogo da criança não deve ser 
compreendido como uma simples brincadeira, mas, antes disso, trata-se de uma 
forma de trazer à tona a realidade do sujeito, revelando muito da constituição 
psíquica desse sujeito. Para essa escrita, vale ressaltar que a leitura feita por Klein 
(1970) dos jogos lúdicos infantis, está baseada no modelo de interpretação dos 
sonhos, proposto por Freud. 
Por isso a importância de dispor durante o curso, os instrumentos que 
podem ser utilizadas ao longo da avaliação e mesmo da intervenção, seja na clínica 
ou na instituição. 
É dentro desta preocupação que é possível colocar que a psicanálise 
permite, então, uma possibilidade de se repensar o ato de aprender, na medida em 
que traz novos elementos de reflexão sobre os processos educativos, chamando a 
 
41 
 
atenção para a história individual do sujeito, com o propósito de contribuir com uma 
nova teoria sobre o funcionamento do aparelho psíquico. 
A partir dessas contribuições, é possível a transmissão de uma ética 
fundamental ao educador, que diz respeito à relação estabelecida entre este e o 
sujeito da aprendizagem, conforme muito bem pontuado por Kupfer (1989, p.15): 
 
A psicanálise pode transmitir ao educador (e não a Pedagogia) uma ética, 
um modo de ver e de entender sua prática educativa. É um saber que 
pode gerar, dependendo, naturalmente, das possibilidades subjetivas de 
cada educador, uma posição, uma filosofia de trabalho. 
 
Dessa forma, compreende-se a ética como importante ferramenta para a 
prática psicopedagógica, na medida em que dita uma relação filosófica de trabalho, 
isto é, embasada no respeito ao próximo e na preocupação dos limites 
estabelecidos entre o profissional e o sujeito de aprendizagem. 
Atividade de Aprendizagem 
Com base nos conceitos que discutem a respeito do 
inconsciente das pessoas influenciando os seus atos, é 
possível verificar algum comportamento que foge do controle 
racional no ambiente de sala de aula? Quais deles podem ser 
definidos como dificuldade de aprendizagem? 
 
Resumo da aula 
 
Nesta aula, foi discutido a respeito das formas de atual do psicopedagogo, 
clínica, preventiva e teórica. Sendo elas muito interligadas o que leva a uma 
abordagem preventiva ser elaborada através da experiência pelas atuações 
clínicas e sendo atualizada constantemente a respeito de novas contribuições 
teóricas. 
Foram verificadas as contribuições de Freud com a psicanálise para o 
estudo individual de cada caso, e pontuações a respeito de respeito à religião e 
ética ao lidar com esses indivíduos. 
 
AULA 4: Ética e psicopedagogia 
 
 
42 
 
Apresentação da Aula 
 
Nesta aula, será apresentada a influência da ética no comportamento 
pessoal e nas relações interpessoais e profissionais das pessoas, com um foco 
maior para o ponto de vista do psicopedagogo. 
Na sequência serão mostrados alguns artigos que constam no código de 
ética do psicopedagogo, que são um conjunto de normativas que servem como 
guia para a atuação do profissional até o surgimento de uma legislação a respeito. 
 
4. Embasamento do Conhecimento Psicopedagógico 
 
Aproxima-se do final da disciplina, mas antes de já iniciar a discussão desta 
última aula, será recordado, rapidamente, sobre aquilo que foi abordado 
anteriormente. Esta sucinta revisão irá permitir uma melhor compreensão do 
caminho metodológico escolhido para ser trabalhada nesta disciplina. 
Nas aulas, foi discutido como a história do desenvolvimento do processo 
educacional contribuiu para compreender a necessidade de se dedicar atenção às 
questões referentes ao processo de aprendizagem.

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