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DESCRIÇÃO A Psicologia do Esporte no alto rendimento: ansiedade e estresse, atenção e concentração, Overtraining e recuperação. PROPÓSITO Identificar fenômenos psicofisiológicos importantes no alto rendimento, tais como ansiedade e estresse, atenção e concentração, Overtraining e recuperação, compreendendo como esses fatores estão diretamente ligados ao desempenho esportivo. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os impactos da ansiedade e do estresse no desempenho esportivo MÓDULO 2 Identificar a importância da ansiedade e concentração para o desempenho esportivo MÓDULO 3 Descrever a síndrome do Overtraining no alto desempenho INTRODUÇÃO As grandes competições esportivas, como Olimpíadas, Copa do Mundo e campeonatos mundiais, despertam a atenção das mídias, tendo como participantes os melhores atletas do mundo, geralmente, ídolos de muitos fãs do esporte. Isso permite que o contexto do alto rendimento seja um campo bem conhecido por todos nós, além de ser um tema bastante estudado pelas ciências do esporte. Sabemos que em todos os níveis da prática esportiva, onde há competição, por consequência, teremos algum tipo de pressão por resultados, seja ela exercida pelos próprios atletas, ou por técnicos, clubes, patrocinadores, entre outros. No alto rendimento, o nível elevado de competitividade exige que os mais diversos fatores, como físicos, técnicos, táticos e psicológicos, impostos para que o atleta tenha o melhor desempenho esportivo possível, sejam bem trabalhados ao longo de sua preparação. A Psicologia do Esporte no alto rendimento vai atuar na avaliação psicológica – aspectos comportamentais, cognitivos, de personalidade, entre outros – para montar um programa de intervenção que vise a melhoria da performance esportiva, além de promover saúde mental e bem-estar. Diante disso, vamos apresentar e trabalhar alguns fenômenos psicológicos que são importantes para o alto rendimento. Fonte: Shutterstock.com MÓDULO 1 Reconhecer os impactos da ansiedade e do estresse no desempenho esportivo ANSIEDADE E ESTRESSE NO ALTO DESEMPENHO O contexto do alto rendimento é marcado por muita pressão, exigência e busca por resultados. Além disso, as competições são decididas nos mínimos detalhes, por isso, qualquer fator de vantagem competitiva deve ser considerado no treinamento dos atletas. Tais aspectos tornam o atleta mais propício a desenvolver estresse e sintomas de ansiedade. Aqui, você entenderá um pouco mais sobre os conceitos de ansiedade e de estresse, como aparecem no alto rendimento e quais são suas consequências. Além disso, também serão abordadas as possíveis estratégias para lidar com tais questões. ANSIEDADE A ansiedade pode ser entendida como um fenômeno comum a todos os seres humanos, ocasionado pela antecipação de uma situação real ou imaginária, que provoca uma série de reações emocionais e fisiológicas. A ansiedade dita “normal” refere-se à reação saudável e essencial do organismo que faz o corpo entrar em estado de alerta diante de uma ameaça ou perigo real. Já a ansiedade atípica refere-se à antecipação de um futuro que sequer pode acontecer, sendo caracterizada pelo surgimento de reações fisiológicas, emocionais e cognitivas que são desconfortáveis e podem causar sofrimento ao indivíduo. Segundo Spielberger (1966), a ansiedade pode ser dividida em ansiedade-estado e ansiedade-traço. A ansiedade-estado refere-se a uma reação transitória, havendo uma variação na intensidade dos sinais. Já a ansiedade-traço refere-se àquela não transitória, sendo mais estável e apresentando sintomas geralmente mais intensos e duradouros. Com relação às manifestações da ansiedade, Weinberg e Gould (2017) dividem a ansiedade em cognitiva e somática. A cognitiva estaria relacionada ao âmbito mental, tendo forma de pensamento, enquanto a somática seria ligada aos aspectos físicos da ansiedade, que se expressa nos sintomas fisiológicos e abrange o grau de ativação máxima percebida. ATENÇÃO Os sintomas fisiológicos da ansiedade incluem taquicardia, sudorese excessiva, dores de cabeça frequentes, sensação de falta de ar, náuseas, desregulação do sono e do apetite, tontura, boca seca, diarreia, calafrios e ondas de calor. Dentre as consequências emocionais, identifica-se tensão e nervosismo constantes, além de inquietação, medo, angústia, apreensão e sensação de “estar no limite”. Há, ainda, os sintomas cognitivos, que envolvem pensamentos automáticos disfuncionais que podem influenciar na manutenção dos próprios sintomas. Com base na Terapia Cognitivo Comportamental, a ansiedade se origina a partir de uma interpretação distorcida da realidade. De acordo com o modelo cognitivo, não é uma situação em si que influencia nossas reações, mas o modo como a interpretamos (origem dos pensamentos automáticos) é que determinará nossas respostas físicas e emocionais, bem como nosso comportamento. Fonte: Shutterstock.com No contexto esportivo, a ansiedade pode aparecer quando o atleta estiver em uma competição importante e/ou desafiadora. Nesses casos, a maneira como ele encarar a situação determinará o surgimento ou não de ansiedade “negativa”, que pode, inclusive, ser paralisante. Weinberg e Gould (2017) apontam seis teorias que visam explicar o surgimento da ansiedade no atleta: a Teoria do Impulso, a Teoria do U Invertido, a Teoria IZOF, a Teoria da Ansiedade Multidimensional, a Teoria da Catástrofe e a Teoria da Inversão. TEORIA DO IMPULSO Considera que, quanto maior for a ansiedade do atleta, maior será seu desempenho. Porém, há fortes discordâncias com relação a essa teoria, principalmente, se levarmos em conta o fato de que a ansiedade, muitas vezes, pode paralisar o indivíduo, afetando negativamente o seu resultado. TEORIA DO U INVERTIDO Surgiu como uma outra tentativa de explicar a relação entre ativação e desempenho, frisando que, para um ponto ideal de preparação de qualquer atleta, são necessários altos níveis de ativação. TEORIA DA ZONA INDIVIDUAL DE DESEMPENHO IDEAL Refere-se à concepção de que a ansiedade não aparece igualmente para todos, variando de uma pessoa para outra. Além disso, também pontua que a ansiedade pode ser benéfica para o desempenho, contanto que se identifique qual o nível ideal para cada sujeito. TEORIA DA ANSIEDADE MULTIDIMENSIONAL Pontua que a ansiedade cognitiva interfere negativamente no desempenho do atleta, considerando que, quanto maior o nível deste tipo de ansiedade, menor será o desempenho. Há, ainda, a categoria somática, que aponta o aumento da ansiedade como um facilitador do desempenho. Porém, quando esse crescimento ultrapassa o nível ideal, o rendimento começa a cair. TEORIA DA CATÁSTROFE Afirma que o atleta pode sofrer um sério declínio em seu rendimento, caso o nível de ansiedade ideal seja ultrapassado, podendo resultar em uma grande dificuldade de recuperação. TEORIA DA INVERSÃO Aponta que a maneira como o atleta percebe seu estado de ativação é o que poderá influenciar seu desempenho. Aqui, afirma-se que o atleta deve interpretar as manifestações da ansiedade como algo agradável, e não como algo desconfortável. Porém, essa mudança na forma de interpretação não é algo tão simples. Há um extenso trabalho do psicólogo de identificação e questionamento dos pensamentos automáticos, a fim de ressignificar as formas de se interpretar as situações. No âmbito esportivo, há o que se chama de ansiedade pré-competitiva, que compreende a antecipação da competição, estando associada às pressões internas e externas que o atleta sofre. A ansiedade competitiva é marcada também pelo medo que o atleta tem de fracassar e desapontar a família, os treinadores e a torcida. Todo esse contexto, somado ao fato de que, quanto maior for a importância e a incerteza com relação ao resultado da partida, maior a probabilidade de o atleta experimentar ansiedade, é o que pode levar ao aumento da pré-competitiva. ESTRESSE O estresse pode ser entendido como um conjunto de reações que alteram osníveis de homeostase do organismo, podendo ser provocado por agentes físicos, psicológicos e/ou sociais. O contexto de alto rendimento exige muito dos seus atletas, o que aumenta a probabilidade de estresse físico neste meio, pois nele existe uma grande pressão e exigência somada à intensidade e ao volume dos treinamentos. HOMEOSTASE A homeostase (do grego homeo = “mesmo” e stasis = “estático”) indica a condição de estabilidade fisiológica necessária que o organismo realize suas funções adequadamente, a fim de manter o corpo em equilíbrio. Fonte: Shutterstock.com De forma geral, pode-se entender o estresse como um desgaste causado por uma tensão, cujas características englobam a intolerância, a desadaptação e a falta de habilidades para lidar com as exigências psíquicas do dia a dia. Além disso, tem como uma de suas principais consequências a redução do desempenho – algo que, no alto rendimento, é o mais exigido. Dentre as consequências observadas, inclui-se o aumento da excitabilidade, irritabilidade, agressividade e sensibilidade. Basicamente, o corpo do sujeito fica preparado para que ele esteja sempre na defensiva, pronto para enfrentar qualquer possível ameaça. javascript:void(0) Existem dois tipos de manifestação do estresse, conhecidos como eustresse e distresse. O eustresse refere-se a uma manifestação positiva do estresse, cujos estímulos acabam por atuar de maneira benéfica na vida do indivíduo. Em outras palavras, é o tipo de estresse que está relacionado à boa adaptação do sujeito às situações estressantes, em que sentimentos de superação de desafios, contentamento e realização se fazem presentes. O distresse, por sua vez, refere-se a uma manifestação negativa do estresse, envolvendo sintomas como irritabilidade, medo, tristeza e nervosismo. Apesar de as duas formas de estresse provocarem as mesmas reações em nível fisiológico, elas se diferenciam quanto à resposta que ocasionam no atleta. Sendo assim, é possível afirmar que há atletas que se adaptam bem ao contexto do alto rendimento e há os que encontram certa dificuldade nessa adaptação, devido às altas exigências, pressão e busca constante pelo melhor desempenho. Outras duas diferenciações quanto ao estresse são pontuadas por Selye (1974): o estresse de sobrecarga e o estresse de monotonia. Trazendo para o âmbito esportivo, podemos dizer que o estresse de sobrecarga refere-se à quando o atleta sofre uma redução no desempenho ocasionada pela exposição prolongada a excessivas exigências psíquicas, com as quais não consegue lidar. O estresse de monotonia, por sua vez, refere-se à situação em que o indivíduo é exposto a exigências que estão muito abaixo do que sua estrutura psíquica demanda. Há, ainda, a diferenciação proposta por Couto (1987) no que tange à duração do estresse. Nesse caso, haveria o estresse do tipo agudo e o estresse do tipo crônico. O agudo refere-se a uma breve manifestação do estresse, cujos impactos para a saúde do indivíduo são menores. Já o crônico é caracterizado pelo estresse que perdura por três ou mais semanas, podendo trazer sérias consequências para a saúde do atleta. LIDANDO COM A ANSIEDADE E COM O ESTRESSE NO ALTO RENDIMENTO Fonte: Shutterstock.com Uma das demandas que o psicólogo do esporte encontra ao trabalhar no contexto do alto rendimento é a de lidar com a ansiedade e o estresse que os atletas sofrem. Dentre as estratégias mais conhecidas para tratar essas questões, podemos citar aqui a técnica da respiração diafragmática, a Grounding, a imagética, o relaxamento muscular progressivo e a prática do Mindfulness. A técnica da respiração diafragmática, quando inserida na rotina do atleta, pode ser muito benéfica para amenizar os sintomas da ansiedade. Isso acontece porque, ao levar o ar para a região do abdômen, estando com a postura adequada, o ar circula melhor pelo corpo, o que permite a regulação dos batimentos cardíacos e promove a sensação de relaxamento. Fonte: OpenStax College/Wikimedia commons/ CC 3.0 Fonte: Shutterstock.com A técnica Grounding, também conhecida como “técnica 5-4-3-2-1”, consiste em fazer o atleta focar no momento presente, praticando a atenção plena. Ela utiliza os cinco sentidos do corpo humano (visão, audição, tato, olfato e paladar) para levar o atleta a se concentrar no aqui e agora, tirando o foco de preocupações com as incertezas futuras e trazendo sua atenção para aquilo que está a sua volta; para o que ele pode ver, ouvir e sentir através do tato, do olfato e do paladar. Fonte: Shutterstock.com A técnica da imagética consiste em fazer o atleta projetar mentalmente as situações que lhe causam ansiedade, de maneira a evocar todas as sensações e emoções que essas ocorrências causam, e se imaginar lidando eficazmente com cada uma delas. Essa técnica é eficaz para o manejo da ansiedade porque permite que o atleta ensaie mentalmente essas situações, de maneira a se preparar para lidar com elas quando, de fato, estiver enfrentando-as. Fonte: Shutterstock.com A técnica do relaxamento muscular progressivo ajuda a amenizar a tensão muscular, que é uma das manifestações da ansiedade e do estresse. Essa técnica consiste em fazer com que o atleta, deitado, faça exercícios de contração e descontração em cada grupamento muscular. Começando pelas pontas dos pés, o atleta deverá progredir, lentamente, no movimento de contração e descontração, até que se chegue à região da cabeça. É importante que os músculos faciais também estejam inclusos nesse processo de contração e descontração, visto que algumas pessoas acumulam a tensão em regiões como a testa, ao lado dos olhos e mesmo na região da mandíbula e do maxilar. A prática do Mindfulness tem se mostrado benéfica para a ansiedade por permitir que o atleta tire o foco dos pensamentos automáticos, principalmente os que se direcionam para as incertezas e preocupações do futuro, fazendo com que foque no momento presente, no aqui e agora. Essa prática está muito associada à meditação, porém, é importante destacar que sua prática vai muito além de você se sentar na posição de lótus, fechar os olhos e meditar. O termo Mindfulness significa atenção plena. Sendo assim, essa prática consiste em você levar sua atenção para aquilo que está fazendo no momento presente. Você pode praticá-la quando estiver tomando banho, fazendo comida e até mesmo escovando os dentes. Fonte: Shutterstock.com Quando falamos do contexto esportivo, é importante adaptarmos essas práticas de acordo com a rotina do atleta. Deste modo, ele pode praticar o Mindfulness quando estiver em qualquer atividade cotidiana e até mesmo quando estiver se exercitando na academia. Basta que ele leve sua atenção para cada detalhe que envolva a situação na qual se encontra. Por exemplo, se ele estiver correndo, deve-se ater às movimentações que o corpo faz, à sincronia dos movimentos e às sensações envolvidas nessa atividade. É justamente esse manejo do foco atencional que permite que o atleta se concentre no que é realmente importante no momento, naquilo que ele está fazendo agora, sem deixar que os pensamentos automáticos disfuncionais tomem conta e acabem por interferir negativamente em seu desempenho. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ANSIEDADE É UM FENÔMENO COMUM A TODOS OS SERES HUMANOS QUE, EM NÍVEIS ELEVADOS, PODEM ACABAR INTERFERINDO NEGATIVAMENTE NA VIDA DO INDIVÍDUO. PARA EXPLICAR SOBRE O SURGIMENTO DA ANSIEDADE, EXISTEM SEIS TEORIAS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDA A QUAIS TEORIAS SÃO ESSAS: A) Teoria da Inversão, Teoria do Impulso, Teoria da Catástrofe, Teoria do U Invertido, Teoria da Ansiedade Multidimensional e Teoria IZOF B) Teoria Pulsional, Teoria da Impulsão, Teoria Catastrófica, Teoria do U Invertido e Teoria IZOF C) Teoria IZA, Teoria da Inversão, Teoria do U Invertido, Teoria da Ansiedade Multifacetária, Teoria Catastrófica e Teoria Pulsional D) Teoria da Impulsão, Teoria IZA, Teoria da Catástrofe, Teoria Invertida, Teoria da AnsiedadeDimensional, Teoria do U Invertido E) Teoria Invertida, Teoria IZOAF, Teoria da Ansiedade Multimodal, Teoria do U Invertido, Teoria do Impulso e Teoria Catastrófica 2. O ESTRESSE PODE SER ENTENDIDO COMO UM CONJUNTO DE REAÇÕES QUE ALTERAM OS NÍVEIS DE HOMEOSTASE DO ORGANISMO. AO LONGO DO MÓDULO, VOCÊ VIU QUE EXISTEM ALGUMAS DEFINIÇÕES QUANTO AO CONCEITO DE ESTRESSE. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDA AOS TIPOS DE ESTRESSE QUE VOCÊ ESTUDOU AO LONGO DESTE MÓDULO: A) Eustresse, distresse, estresse de invariabilidade, estresse de acúmulo, eustresse agudo e distresse crônico B) Estresse de invariabilidade, estresse de acúmulo e endoestresse, exoestresse C) Estresse de invariabilidade, estresse de sobrecarga, eustresse agudo e eustresse crônico D) Eustresse, distresse, estresse de sobrecarga, estresse de monotonia, estresse agudo e estresse crônico E) Endoestresse, exoestresse, estresse de sobrecarga e estresse de invariabilidade GABARITO 1. A ansiedade é um fenômeno comum a todos os seres humanos que, em níveis elevados, podem acabar interferindo negativamente na vida do indivíduo. Para explicar sobre o surgimento da ansiedade, existem seis teorias. Assinale a alternativa que corresponda a quais teorias são essas: A alternativa "A " está correta. As teorias que buscaram explicar o surgimento da ansiedade, de acordo com o que foi visto ao longo do módulo, foram: Teoria da Inversão, Teoria do Impulso, Teoria da Catástrofe, Teoria do U Invertido, Teoria da Ansiedade Multidimensional e Teoria IZOF. 2. O estresse pode ser entendido como um conjunto de reações que alteram os níveis de homeostase do organismo. Ao longo do módulo, você viu que existem algumas definições quanto ao conceito de estresse. Assinale a alternativa que corresponda aos tipos de estresse que você estudou ao longo deste módulo: A alternativa "D " está correta. O estresse apresenta dois tipos de manifestações, denominadas eustresse, distresse. Além disso, pode ser diferenciado, segundo Selye (1974), como estresse de sobrecarga ou estresse de monotonia. Quanto à duração, de acordo com Couto (1987), podemos classificar o estresse como agudo ou crônico. MÓDULO 2 Identificar a importância da ansiedade e concentração para o desempenho esportivo ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO NO ALTO DESEMPENHO Certamente, você já deve ter ouvido falar sobre a importância da atenção e da concentração no contexto esportivo. Porém, muitas pessoas referem-se a esses termos sem, de fato, entendê-los, ou mesmo compreender de que maneira aparecem. Aqui, você entenderá sobre esses conceitos e como eles se aplicam no âmbito esportivo. Porém, antes, é importante explicar do que se trata. Atenção e concentração referem-se a habilidades cognitivas inerentes a todos os seres humanos. Algumas pessoas têm essas habilidades melhor desenvolvidas, enquanto outras, nem tanto. Porém, assim como a memória, o controle de impulsos e a velocidade de processamento podem ser estimulados, o que traz melhorias para o desempenho, seja ele esportivo, acadêmico ou profissional. Interessante, não é? Agora que já está familiarizado com a temática, trabalharemos mais profundamente sobre a atenção e a concentração, entendendo melhor essas habilidades e como aparecem no contexto esportivo. O QUE É A ATENÇÃO? A atenção refere-se à habilidade cognitiva que não somente direciona o foco, como seleciona quais informações são relevantes de se reter, além de também ter a função de alerta. Em outras palavras, esta capacidade é fundamental para que o indivíduo consiga absorver informações relevantes, o que facilitará o processo de antecipação de uma resposta eficaz e, consequentemente, favorecerá o desempenho. EXEMPLO No contexto esportivo, especificamente no futebol, podemos tomar como exemplo a posição de zagueiro para abordar sobre a atenção e sua eficácia para o desempenho. Para que o zagueiro desempenhe bem sua função dentro de campo, além da necessidade de possuir boas capacidades físicas, é necessário que ele tenha uma boa leitura de jogo. Entendendo não somente sua própria posição em relação ao jogo, mas também a de seus companheiros e, principalmente, o posicionamento dos atletas do time adversário. A partir dessa leitura, ele poderá antecipar possíveis movimentos do grupo rival, de modo a se preparar antecipadamente para a ação e, assim, obter alguma vantagem sobre o adversário. Fonte: Shutterstock.com Porém, sabemos que, na prática, há muito mais elementos envolvidos. Por exemplo, há os gritos dos torcedores, as falas do treinador e de seus colegas de equipe, dentre outros diversos estímulos visuais e auditivos que são comuns durante as partidas. Impedir que esses fatores não afetem negativamente o desempenho, para muitos, pode não ser uma tarefa tão fácil. Para lidar com esse turbilhão de informações, é necessário que o atleta consiga trabalhar bem todos seus tipos de atenção. Existem diferentes tipos de atenção, para diferentes demandas. De acordo com o que foi classificado por Muriel Lezak (1995), uma conceituada neuropsicóloga, existem quatro tipos de atenção, sendo elas: seletiva, sustentada, dividida e alternada. Apesar desta divisão, contudo, é importante ressaltar que ela é meramente teórica, pois nossas atividades mentais demandam o desempenho de mais de um dos tipos de atenção. ATENÇÃO SELETIVA A atenção seletiva refere-se à habilidade de um indivíduo de escolher focar em um ou mais de um estímulo em detrimento de outros não relevantes, podendo esses estímulos serem internos ou externos. A utilização deste tipo pode contemplar diversas situações. Trazendo para o âmbito esportivo de competição, o atleta emprega a atenção seletiva quando é orientado a ouvir uma informação e ignorar outras, como, por exemplo, focar nas orientações do treinador em vez das indicações dos colegas de equipe. Ou quando deve ignorar estímulos auditivos que podem interferir negativamente em sua prática, no caso de desconsiderar as vaias da torcida para focar naquilo que precisa realizar. Ou ainda quando precisa selecionar um único estímulo dentre outros vários, como se atentar às orientações do treinador, inibindo os ruídos de fundo provocados pelas torcidas. Fonte: Shutterstock.com ATENÇÃO SUSTENTADA A atenção sustentada, frequentemente, referida como “concentração”, é a habilidade de o indivíduo manter o seu foco em um determinado estímulo, durante um período. Sabe quando você precisa manter o foco em uma tarefa entediante? Então, você utiliza a atenção sustentada para manter o foco na tarefa em questão. No que tange ao contexto esportivo, pensemos nas competições de xadrez, onde o atleta precisa sustentar sua atenção no jogo por um longo período. Fonte: Shutterstock.com ATENÇÃO DIVIDIDA A atenção dividida refere-se à habilidade de administrar várias informações simultaneamente. Em outras palavras, o indivíduo consegue distribuir seus recursos atencionais para responder a vários estímulos ao mesmo tempo. Utilizemos agora o basquete como exemplo. O atleta deve ter atenção no time adversário, no seu próprio grupo, no tempo de contato com a bola, nas orientações do treinador, no cronômetro, enfim, em muitas coisas ao mesmo tempo. Outro bom exemplo que também podemos utilizar aqui é o dos pilotos de Fórmula 1, que além do foco na pista, também precisam estar atentos ao que os engenheiros falam pelo comunicador, atender às orientações dadas e manusear os comandos do carro. Detalhe: tudo isso a mais de 300 km/h. Fonte: Shutterstock.com ATENÇÃO ALTERNADA Comumente confundida com a atenção dividida, a alternada refere-se à habilidade de mudar repetitivamente o foco atencional. Sendo assim, não se trata de dividir a atenção para dar conta de diferentes estímulos ao mesmo tempo (como é o caso da atenção dividida), mas sim alternar o foco atencional entre um estímulo e outro de maneira repetitiva. Para exemplificar, podemos imaginar a situação do treinador puxar um de seus laterais para passaralgum tipo de informação, no meio do jogo. Nesse caso, o atleta precisou alternar a atenção tirando, por um momento, seu foco do jogo para absorver as orientações do treinador e, posteriormente, voltar sua atenção para o jogo. Fonte: Shutterstock.com ATENÇÃO Apesar dessas diferenciações quanto aos tipos de atenção, como já mencionado anteriormente, é importante frisar que o processamento de informações não se restringe ao uso de apenas uma categoria. Essa divisão, como já apontado, é meramente teórica; os tipos atuam de maneira conjunta em todas as nossas atividades mentais. O QUE É A CONCENTRAÇÃO? A concentração refere-se a uma habilidade cognitiva muito relacionada à atenção. Apesar de terem uma sutil diferença, ambos os termos estão intimamente relacionados. Isso porque, a concentração envolve utilização das atenções seletiva e sustentada. A seletiva, para selecionar o foco atencional, e a sustentada, para manter o foco sustentado por tempo suficiente até que a tarefa seja concluída de maneira satisfatória. No ambiente esportivo, o nível de concentração pode sofrer queda durante uma partida, caso o atleta se sinta de alguma maneira ameaçado pelo time adversário – já que este, eventualmente, pode se impor de maneira extremamente agressiva em campo – ou pelo próprio treinador – quando se utiliza de falas duras, como: “se errar, estará fora da próxima” ou “não admito erros”. Há, ainda, o fator interno do sujeito, pois os pensamentos e crenças que o atleta tem acerca de seu próprio desempenho, quando disfuncionais, também podem interferir nos níveis de concentração quando ele cometer algum tipo de erro, mesmo que esse deslize seja mínimo e que sua quantidade de acertos seja superior. A capacidade do atleta de inibir ou, ainda, de lidar corretamente com seus pensamentos e crenças disfuncionais, mostra-se importante para a manutenção da concentração em seu desempenho esportivo. De acordo com Jackson e Csikszentmihalyi (1999), a concentração se configura como uma das dimensões básicas do estado de flow. Segundo os autores, isso acontece porque a inibição de pensamentos irrelevantes e a imersão na tarefa a ser desempenhada está relacionada a uma mente disciplinada. Sendo assim, quanto maior for o nível de disciplina do atleta com relação ao seu grau de concentração, melhores as condições para experienciar o flow, o que, consequentemente, irá favorecer o desempenho esportivo. FLOW javascript:void(0) Estado que compreende o total envolvimento na prática, envolvendo sentimentos de prazer e de sucesso na tarefa desempenhada. Fonte: Shutterstock.com COMO DESENVOLVER HABILIDADES MENTAIS NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO? No âmbito do alto rendimento, a intervenção psicológica consiste não somente no trabalho com o gerenciamento das emoções, da ansiedade e do estresse, mas também no desenvolvimento de habilidades cognitivas que favoreçam o desempenho, dentre os quais estão a atenção e a concentração. Certamente, quando se trata dos aspectos psicológicos dos atletas, há necessidade de uma boa avaliação do sujeito e/ou de sua equipe, para compreender quais fatores podem estar interferindo negativamente sobre essas questões e, assim, realizar uma intervenção adequada e eficaz. Existem diversas técnicas e estratégias para trabalhar a atenção e a concentração dos atletas a fim de otimizar o seu desempenho, dentre as quais podemos destacar a técnica da respiração diafragmática consciente e a imagética. A respiração diafragmática, por si só, já se mostra eficaz para amenizar sintomas de ansiedade. Porém, quando falamos da prática consciente, cabe destacar que o processo envolve muito mais do que, simplesmente, respirar. Nessa técnica, o atleta precisa estar completamente consciente do processo da respiração, levando sua atenção para esse percurso desde o momento em que o ar toca o seu nariz, passando pelo caminho que percorre, até chegar à região do abdômen e pelo movimento que o corpo faz quando o ar entra e sai. Qual a sensação desse ar? Quando tocou seu nariz, sentiu que o ar era frio ou quente? Esse ar trouxe consigo algum aroma específico? Quais as sensações percebidas ao longo do seu corpo? A atenção deve se voltar para cada uma dessas “etapas” da respiração. É importante pontuar com os atletas que, eventualmente, podem surgir pensamentos aleatórios que acabam tirando o foco da respiração. Porém, é comum que ideias surjam e, quanto mais concentrado na prática o atleta estiver, mais rapidamente esses pensamentos serão identificados e logo poderá voltar seu foco para a respiração. A técnica da imagética, ou imagem mental, consiste basicamente no atleta projetar, mentalmente, uma determinada situação ou movimento para assim treinar mentalmente sua atuação. Estudos como o de Koehn e Diaz-Ocejo (2016) já evidenciaram que a imagética se mostra eficaz para auxiliar na concentração de objetivos e de aspectos cruciais do desempenho. COMENTÁRIO Apesar da eficácia destas técnicas e estratégias, é importante levarmos em conta a identificação dos fatores que estariam interferindo na performance do atleta, como já mencionado anteriormente. Isso ocorre porque, ainda que essas técnicas sejam bem aplicadas e bem assimiladas, existem outros fatores-chave como a fala do treinador, a maneira como se dirige aos atletas durante o jogo e os termos que ele utiliza. Estes são fatores que podem comprometer a concentração em campo. Imagine-se em uma situação parecida. Você está prestes a realizar uma prova, quando seu professor diz algo como “espero que tenham estudado bastante, pois não peguei leve”, ou qualquer outro termo que faça você questionar, mesmo que, por um breve momento, sua capacidade para realizar bem a prova. Algumas pessoas podem não ser afetadas. Porém, há pessoas que são impactadas por falas como essa, que podem trazer suas inseguranças à tona. O mesmo pode ser vivido no âmbito esportivo. Sendo assim, não podemos ignorar os pensamentos automáticos que surgem e a maneira como eles podem interferir na concentração e, consequentemente, no desempenho. A utilização de técnicas tradicionais da Terapia Cognitiva Comportamental – como o Registro de Pensamentos Disfuncionais, avaliação das evidências a favor e contra o pensamento, dentre outras – também são de grande importância, pois ajudarão o atleta a contestar esses pensamentos de maneira que eles não interfiram negativamente na sua prática esportiva. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ATENÇÃO REFERE-SE A UMA HABILIDADE COGNITIVA MUITO DEMANDADA NO ESPORTE QUE, APESAR DE AGIREM SIMULTANEAMENTE, PODE SER DIVIDIDA EM DIFERENTES TIPOS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRESPONDENTE AOS QUATRO TIPOS DE ATENÇÃO: A) Atenção seletiva, atenção sustentada, atenção dividida e atenção alternada B) Atenção ampla, atenção difusa, atenção dividida e atenção focada C) Atenção difusa, atenção sustentada, atenção focada e atenção seletiva D) Atenção dividida, atenção focada, atenção ampla e atenção alternada E) Atenção focada, atenção difusa, atenção seletiva e atenção alternada 2. A CONCENTRAÇÃO E A ATENÇÃO SÃO HABILIDADES QUE, APESAR DE TEREM UMA DIFERENÇA SUTIL, ESTÃO INTIMAMENTE ASSOCIADAS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDA AOS TIPOS DE ATENÇÃO ENVOLVIDAS NA CONCENTRAÇÃO: A) Atenção ampla e atenção focada B) Atenção dividida e atenção ficada C) Atenção difusa e atenção focada D) Atenção focada e atenção alternada E) Atenção seletiva e atenção sustentada GABARITO 1. A atenção refere-se a uma habilidade cognitiva muito demandada no esporte que, apesar de agirem simultaneamente, pode ser dividida em diferentes tipos. Assinale a alternativa correspondente aos quatro tipos de atenção: A alternativa "A " está correta. De acordo com Muriel Lezak (1995), os quatro tipos de atenção são: seletiva, sustentada, dividida e alternada. 2. A concentração e a atenção são habilidades que, apesar de terem uma diferença sutil, estão intimamente associadas. Assinale a alternativa que corresponda aostipos de atenção envolvidas na concentração: A alternativa "E " está correta. A concentração envolve dois tipos de atenção, a atenção seletiva, que seleciona o foco atencional, e a atenção sustentada, que permite a sustentação do foco por tempo suficiente. MÓDULO 3 Descrever a síndrome do Overtraining no alto desempenho OVERTRAINING NO ALTO DESEMPENHO Não é novidade a exigência para que os atletas aumentem constantemente o seu desempenho no alto rendimento. Para alcançar esse objetivo, muitas vezes, acontece de a intensidade e/ou volume de treino ultrapassarem a capacidade de recuperação do atleta. O entendimento dessa temática é importante para quem escolhe trabalhar com o alto rendimento, pois permite uma compreensão acerca dos fatores que, além de interferirem no desempenho, podem também afetar a saúde mental e o bem-estar dos atletas. A seguir, você verá o que é o Overtraining, seus tipos, suas consequências e a importância de uma recuperação adequada no contexto do alto rendimento. Fonte: Shutterstock.com OVERTRAINING: CARACTERIZAÇÃO O Overtraining, também conhecido por termos como Overfatigue, Overstrain, Sobretreinamento e Síndrome do Supertreinamento, pode ser caracterizado como um desequilíbrio psicofisiológico, causado por níveis de estresse que ultrapassam a capacidade do atleta de se recuperar adequadamente. Em outras palavras, é uma síndrome que envolve estressores, principalmente, físicos, mas também psicológicos e sociais que, quando combinados com pouco tempo de recuperação, interferem negativamente sobre o desempenho do atleta. Dado a grande demanda que existe no contexto do alto rendimento para que o atleta tenha o melhor desempenho possível, não é incomum a ocorrência de Overtraining, principalmente, pelo fato de que as altas cargas são importantes para o aumento da performance esportiva. Porém, é importante alertarmos aos riscos, pois, apesar de os clubes adotarem estratégias de monitoramento de estresse físico e mental, a maioria consiste no autorrelato dos próprios atletas que, muitas vezes, mascaram a realidade da dor, do estresse e mesmo da qualidade do descanso. Com relação às exigências para que o atleta alcance o seu melhor desempenho, é importante pontuar que estas nem sempre são feitas somente pelos treinadores. A autocobrança excessiva também pode estimular o atleta a treinar em volume e intensidade além do adequado, o que acaba influenciando na ocorrência do Overtraining. Essas situações são comuns devido à crença de que, quanto mais se treina, melhor será o desempenho. Porém, o que acontece é o contrário: o treino excessivo não otimiza, mas causa uma queda no rendimento esportivo. ATENÇÃO Algo importante de se destacar é que, apesar de o Overtraining interferir negativamente sobre o desempenho do atleta, essa interferência não ocorre somente no âmbito individual. Tratando-se de esporte coletivo, cada membro tem uma função para que o objetivo final seja alcançado. Sendo assim, quando um dos membros não consegue desempenhar bem sua tarefa, todo o grupo acaba sendo afetado. A preocupação com relação à ocorrência dessa síndrome se dá pelo risco de o Overtraining acarretar o afastamento tanto das atividades diárias de treinos, quanto das competições, podendo comprometer não apenas uma temporada inteira, como abreviar carreiras de atletas com alto potencial de crescimento. Isso acontece porque a sobrecarga física na qual o atleta se encontra, somada ao baixo nível de recuperação, o torna mais vulnerável a sofrer contusões ou lesões durante sua prática. Essa situação ocorre não somente com o treino das habilidades esportivas específicas da modalidade, mas também com o treinamento muscular realizado nas academias. Fonte: Shutterstock.com O Overtraining tem duas classificações: o crônico, caracterizado apenas como Overtraining, e o agudo, conhecido como Overreaching. À medida que ocorre o desequilíbrio entre o estresse e a recuperação do atleta, o Overreaching surge, durando entre uma e duas semanas. Quando se instala de forma frequente é configurado como Overtraining, que pode persistir por meses. Além dessas duas classificações, o Overtraining pode ainda ser caracterizado como simpático ou parassimpático. SIMPÁTICO PARASSIMPÁTICO Com relação à prevalência do Overtraining do tipo simpático, é mais comum de se observar em modalidades esportivas de predominância anaeróbicas, ou seja, aquelas que consistem em atividades de alta intensidade e curta duração – que se caracterizam por não utilizarem o oxigênio para a produção de energia. Como exemplo, podemos citar as corridas de velocidade, saltos e lançamentos. Já o Overtraining do tipo parassimpático ocorre geralmente em modalidades esportivas de predominância aeróbica, que englobam atividades que demandam maior consumo de oxigênio, estimulando o sistema cardiorrespiratório e vascular. Algumas modalidades que se enquadram nessa característica são a corrida, o ciclismo e natação. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com No que se refere aos sintomas, Alves, Costa e Samulski (2006), em seu artigo de revisão, compilaram diversos indicadores de Overtraining. Alguns desses indicadores são: alterações na frequência cardíaca, frequência respiratória aumentada, fadiga crônica, fadiga mental constante, redução do apetite, alterações no sono, instabilidade emocional, sensibilidade muscular, queda no desempenho, redução da capacidade máxima de rendimento, perda da coordenação, dificuldade de concentração, entre outros. Compreender os indicadores de Overtraining é de demasiada importância, pois quanto mais cedo for identificado, menores serão as chances de ocorrência de contusões e/ou de lesões. OVERTRAINING E BURNOUT: QUAL A DIFERENÇA? Por também apresentar sintomas de desgaste físico e mental, o Overtraining pode ser confundido com a Síndrome de Burnout. Trata-se, porém, de acometimentos distintos e entender essa diferença é importante para que o psicólogo possa traçar a melhor intervenção, auxiliando os atletas a manterem sua saúde mental e o seu bem-estar na prática esportiva. A Síndrome de Burnout é um acometimento psíquico caracterizado por um alto desgaste emocional e cognitivo, que pode se intensificar com o tempo e, por vezes, passa despercebido. Ela é causada pelo acúmulo de estresse e tensão por tempo prolongado, que são provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicologicamente exaustivas. Além do surgimento de aspectos como desmotivação e frustração em decorrência desse desgaste, o indivíduo sofre também com a queda de desempenho. Fonte: Shutterstock.com Dentre os sintomas da Síndrome de Burnout, podemos destacar o excesso de cansaço físico e mental, dificuldade de concentração, irritabilidade, dores de cabeça e dores no corpo, sentimentos de fracasso e insegurança. A longo prazo, pode desencadear sintomas de transtornos como depressão e ansiedade. O contexto do alto rendimento, por si só, é propício ao desenvolvimento, tanto da Síndrome de Burnout, quanto do Overtraining. Mas, então, como diferenciá-los? A ocorrência de Burnout, assim como a de Overtraining, se dá quando as demandas excedem a capacidade de o indivíduo lidar com elas de maneira adequada, havendo o envolvimento de uma forte sensação de cansaço e exaustão. Porém, quando falamos da Síndrome de Burnout, nos referimos a um acometimento que tem como principais características o estado de tensão emocional e o estresse crônico. Já o Overtraining, por sua vez, tem como principal sintoma o estado de intensa exaustão muscular, provocado pelo alto volume e alta intensidade dos treinos. Como reflexos, acaba por afetar negativamente a saúde mental e o bem-estar emocional e social do atleta. Algo interessante de pontuar é que, nos casos de Burnout, a prática de exercícios pode ser uma das estratégias para lidar com a síndrome. De modo contrário, para o Overtraining, o descanso é a recomendação principal. Porém,é importante destacar que a maneira de se lidar com a Burnout não se restringe à prática de exercícios. Até mesmo porque existe a ocorrência dessa síndrome no próprio contexto esportivo. Sendo assim, em síntese, no que se refere à Burnout, podemos dizer que seu surgimento ocorrerá quando o atleta estiver passando por um período de grande demanda, tendo como principal acometimento o estresse emocional e cognitivo. O Overtraining, por sua vez, ocorrerá quando a intensidade e o volume do treino físico exceder o tempo de recuperação do atleta, estando mais relacionado, portanto, ao desgaste físico que poderá interferir nas demais esferas da vida do atleta. RECUPERAÇÃO NO ALTO RENDIMENTO A recuperação dos treinos é de suma importância, principalmente, no alto desempenho. Como já vimos, trata-se de um contexto com muitas demandas e uma alta carga de treinamento. Sendo assim, é fundamental que haja equilíbrio entre os estressores (volume e intensidade dos treinos) e a recuperação, de forma a evitar a ocorrência de Overtraining, possibilitando o alcance do melhor desempenho. No que tange à recuperação, existem fatores que são de grande importância para esse processo, sendo: o restabelecimento do dano muscular, a reposição do estoque energético e a eliminação dos metabólitos produzidos pela prática do exercício. Isso ocorre porque, fisiologicamente, a intensidade está relacionada a fatores como a depleção de substrato energético, dano muscular mecânico, inflamação e fadiga do sistema nervoso central. Fonte: Salty View/Shutterstock.com Jade Barbosa nas Olímpiadas 2016. Para lidar com as consequências da alta intensidade de treino, comum no alto rendimento, muitos métodos têm sido adotados, como massagem esportiva, liberação miofascial e crioterapia. Porém, existem três pontos que são essenciais para uma boa recuperação: Alimentação saudável Repouso adequado Sono reparador ATENÇÃO Dependendo do nível de Overtraining do atleta, a tentativa de compensar o cansaço com um longo período de repouso parece não ser suficiente. Apenas em casos de Overreaching, forma mais atenuada do Overtraining, a supercompensação do período de recuperação se mostra, de fato, eficaz. Com relação à saúde mental, o processo de recuperação é demasiadamente importante. Dentre as consequências de uma reabilitação não adequada, podemos citar: problemas de memória, baixa produtividade, ansiedade, estresse e dificuldades de concentração. Uma outra consequência é o surgimento de pensamentos automáticos disfuncionais. A falta de descanso adequado pode deixar o atleta propício a ter pensamentos automáticos negativos ao longo do dia com relação a si mesmo, ao seu desempenho e, até mesmo, a seu relacionamento com os outros. Além disso, é possível identificarmos consequências a longo prazo, como insônia, depressão e diabetes. Dentre as estratégias que podem ser utilizadas, a fim de otimizar o processo de descanso, temos técnicas de relaxamento, como a respiração diafragmática e as práticas meditativas. Além disso, técnicas de imagem mental voltadas para o relaxamento também se mostram eficazes. Essas estratégias são eficientes, pois ajudam a desacelerar e a relaxar o corpo e a mente, a fim de que o atleta consiga se preparar para o momento de dormir, de modo que a função reparadora do sono seja eficaz. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O OVERTRAINING PODE SER CARACTERIZADO COMO UM DESEQUILÍBRIO PSICOFISIOLÓGICO, PROVOCADO POR UM ALTO VOLUME E ALTA INTENSIDADE NOS TREINAMENTOS COMBINADOS COM UMA RECUPERAÇÃO INSUFICIENTE. SABENDO DAS CONSEQUÊNCIAS DO OVERTRAINING PARA A SAÚDE MENTAL DO ATLETA, É IMPORTANTE SABER DO QUE SE TRATA ESSA SÍNDROME, QUAIS SÃO AS SUAS CARACTERÍSTICAS, E O QUE POSSIBILITARÁ A SUA IDENTIFICAÇÃO E INTERVENÇÃO ADEQUADA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO CORRESPONDE A UMA DAS CARACTERÍSTICAS DO OVERTRAINING. A) Pode ser classificado em Overreaching (sua forma aguda) ou Overtraining (sua forma crônica). B) Tem dois tipos: simpático e parassimpático. C) Tem como alguns de seus sintomas a fadiga mental constante, instabilidade emocional e dificuldade de concentração. D) Tem como principais características o estado de tensão emocional e o estresse crônico. E) Ocorre quando a intensidade e o volume do treino físico excedem o tempo de recuperação. 2. VIMOS O QUÃO IMPORTANTE É O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO NO ALTO RENDIMENTO. PARA AUXILIAR OS ATLETAS NESSE PROCESSO, EXISTEM ALGUMAS TÉCNICAS QUE O PSICÓLOGO DO ESPORTE PODE UTILIZAR. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDA A ALGUMAS DAS TÉCNICAS PERTINENTES AO TRABALHO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE PARA A RECUPERAÇÃO DOS ATLETAS: A) Liberação miofascial, respiração e meditação B) Relaxamento e crioterapia C) Liberação miofascial e práticas meditativas D) Práticas meditativas, crioterapia e respiração E) Respiração diafragmática, práticas meditativas e imagem mental GABARITO 1. O Overtraining pode ser caracterizado como um desequilíbrio psicofisiológico, provocado por um alto volume e alta intensidade nos treinamentos combinados com uma recuperação insuficiente. Sabendo das consequências do Overtraining para a saúde mental do atleta, é importante saber do que se trata essa síndrome, quais são as suas características, e o que possibilitará a sua identificação e intervenção adequada. Assinale a alternativa que não corresponde a uma das características do Overtraining. A alternativa "D " está correta. Apesar de o Overtraining interferir nas esferas psicológicas, emocionais e sociais da vida do atleta, sua principal característica é o estado de intensa exaustão muscular. O estado de tensão emocional e o estresse crônico foram pontuadas como as principais características da Síndrome de Burnout. 2. Vimos o quão importante é o processo de recuperação no alto rendimento. Para auxiliar os atletas nesse processo, existem algumas técnicas que o psicólogo do esporte pode utilizar. Assinale a alternativa que corresponda a algumas das técnicas pertinentes ao trabalho da Psicologia do Esporte para a recuperação dos atletas: A alternativa "E " está correta. Dentre as técnicas que cabem ao trabalho do psicólogo do esporte estão incluídas a respiração diafragmática, as práticas meditativas e a utilização de imagens mentais voltadas para o relaxamento. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Você aprendeu sobre conceitos de atenção e concentração no contexto do alto rendimento. Conheceu também tópicos importantes como Overtraining e recuperação, além de abordagens de aspectos como ansiedade e estresse, assim como as estratégias para lidar com tais fatores. Pontuamos os tipos de atenção que englobam as categorias seletiva, sustentada, dividida e alternada. Com relação à concentração, foi apontado que essa habilidade é, basicamente, uma junção da atenção seletiva com a sustentada. Ao abordarmos sobre o Overtraining e a recuperação, foi possível identificar o quanto as altas exigências, com foco no melhor desempenho, podem ser prejudiciais para a saúde não apenas física, mas também mental do atleta. A recuperação é de suma importância na vida de todo ser vivo e, no que tange ao contexto esportivo, cujas atividades envolvem uma alta intensidade e volume de treinamento, é essencial que os atletas se recuperem de forma adequada. Neste ponto, além de o fator psicológico auxiliar na identificação de distorções cognitivas e autocobrança excessiva, para que se possa intervir em prol do bem-estar do atleta, vimos que existem estratégias para que o processo de recuperação e descanso seja otimizado. Por fim, também trabalhamos a temática da ansiedade e do estresse, suas definições e quais estratégias os atletas poderiam aderir para lidar com tais aspectos, dado que podem ser demasiadamente prejudiciais não somente para o desempenho, mas para a saúde mental e o bem-estar do indivíduo. REFERÊNCIAS ALVES, R. N.; COSTA, L. O. P.; SAMULSKI, D. M. Monitoramento e prevenção do supertreinamento em atletas. Niterói: Rev. Bras. Med.Esporte, 2006. COUTO, H. A. Stress e qualidade de vida dos executivos. Cop. Rio de Janeiro, 1987 JACKSON, S.; CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow in Sports: the keys to optimal experiences and performances. Champaign, IL: Human Kinetics, 1999. KOEHN, S.; DIAZ-OCEJO, J. Imagery intervention to increase flow state: A single-case study with middle-distance runners in the state of Qatar. In: International Journal of Sport and Exercise Psychology, p. 1-14, 2016. LEZAK, M. D. Neuropsychological Assessment. 3. ed. New York: Oxford University Press, 1995. SELYE, H. Stress without distress. Filadélfia: Lippincott Williams & Wilkins, 1974. SPIELBERGER, C. D.; SMITH, L. H. Anxiety (drive), stress, and serial-position effects in serial- verbal learning. In: Journal of Experimental Psychology, 1966. WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6. ed. Trad. M. C. G. Monteiro, & R. M. Garcez. Porto Alegre: Artmed, 2017. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema: Veja: Como Anna Vitória Rodrigues e Ricardo da Costa Padovani abordam a importância do Mindfulness para atletas de alto rendimento no artigo: Mindfulness e o esporte competitivo: a importância para atletas de alto rendimento. Como Marco Túlio de Mello e Sergio Tufik trabalham a questão do estresse e Overtraining no alto rendimento no capítulo 9 do livro: Atividade Física, Exercício Físico e Aspectos Psicobiológicos. Pesquise: Psicologia do Esporte e do Exercício (Modelos Teóricos, Pesquisa e Intervenção), organizado por Erick Conde / Alberto Filgueiras, Luciana Angelo / Adriana Pereira e Cristianne Carvalho, e obtenha maior aprofundamento na área. CONTEUDISTA Bruno Barreto Santos CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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