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Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • É a condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo procedente do estômago provoca sintomas desagradáveis e/ou complicações. • Seu diagnóstico é frequentemente baseado na presença de sintomas típicos (pirose e regurgitação) ou sintomas atípicos e extraesofágicos (dor torácica não cardíaca, tosse, pigarro e disfonia, por resposta à terapia supressora de ácido com um curso de tratamento com IBP, achados à endoscopia de lesões mucosas relacionadas ao refluxo e pelo monitoramento prolongado do refluxo pela pHmetria esofágica ou impedância-pHmetria esofágica. • Epidemiologia: o Acomete 12% da população urbana brasileira; o Sexo: igual entre homens e mulheres, mas entre homens é mais comuns apresentação de casos de: esofagite e esôfago de Barrett; o Aumento da idade é um fator importante na prevalência de complicações da DRGE. • Idade: aumenta com a idade; • Sexo: aparentemente mais prevalente em mulheres; • Gestação: aumenta durante a gestação; • Obesidade: mais frequente em obesos; • Hérnia hiatal: relaciona-se às formas mais graves; • Fatores genéticos: estudos sugerem participação genética. • Os fatores patogênicos na DRGE têm interação complexa. • As lesões características da DRGE ocorrem quando a mucosa do órgão é exposta ao refluxato gástrico que contém agentes agressores como ácido, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas. • Em condições normais, ocorrem episódios de refluxo de curta duração e rápida depuração, denominado refluxo fisiológico. • Numerosos fatores podem contribuir para o refluxo se tornar patológico, merecendo destaque as aberturas transitórias ou relaxamentos transitórios do esfíncter inferior do esôfago. Estes, ocorrem independentemente da deglutição, principalmente em indivíduos com pressão basal normal. Em alguns casos, que não constituem maioria, pode ocorrer hipotensão esfincteriana, como principal mecanismo fisiopatológico. • O refluxo gastroesofágico provoca diminuição da resistência do epitélio mucoso esofágico com dilatação do espaço intercelular e presença de erosões, porém, pode não ocorrer erosões, o que caracteriza a forma não erosiva da doença. Por outro lado, a dilatação do espaço intercelular é uma das mudanças morfológicas mais precocemente observadas no epitélio esofágico. Ela é observada tanto em pacientes com a doença erosiva quanto naqueles com a doença não erosiva, podendo, em teoria, ser o mecanismo gerador ou perpetuador dos sintomas, mesmo nos pacientes em tratamento com inibidores da bomba protônica (IBP). • A gravidade da esofagite é relacionada à duração, ao tempo de exposição ácida e ao pH do conteúdo gástrico refluído. • O refluxo ácido é muito mais comum que o refluxo não ácido (ou fracamente ácido) – envolvido na gênese da tosse, pigarro e globus. • A DRGE pode ser classificada em duas formas de apresentação, conforme a presença ou não de erosões ao exame endoscópico. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO INTRODUÇÃO Definição: A DRGE decorre da falha da barreira normal antirrefluxo em proteger contra quantidades frequentes e anormais de refluxo gastroesofágico. Refluxo gastroesofágico: conteúdo gástrico em movimento retrógrado sem esforço a partir do estômago para esôfago. FATORES DE RISCO POPULACIONAIS ETIOPATOGENIA, FISIOPATOLOGIA E APRESENTAÇÃO Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • Forma mais frequente. • Definida pela presença de sintomas desagradáveis associados ao refluxo, com ausência de erosões ao exame endoscópico. • A verificação de edema e eritema per se não caracterizam a ocorrência de DRGE-NE, a qual pode ser diagnosticada clinicamente com base na história clínica, embora a presença de sintomas típicos também não assegure o diagnóstico de forma definitiva. Assim, demanda a realização de um teste terapêutico, particularmente, em pacientes com menos de 45 anos de idade. • Apresentação clássica da doença, com sintomatologia clínica e presença de erosões ao exame endoscópico, a qual, embora importante, não apresenta especificidade elevada. • Classificação endoscópica da esofagite: classificação de Los Angeles: Grau A Uma ou mais erosões, confinada às pregas mucosas, menores do que 5 mm cada Grau B Uma ou mais erosões maiores do que 5 mm em sua maior extensão, não contígua entre os topos de suas pregas esofágicas Grau C Erosões contínuas (ou convergentes) entre os topos de pelo menos duas pregas, envolvendo menos do que 75% da circunferência do esôfago Grau D Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do esôfago • Existem evidências demonstrando que a infecção por H. pylori não tem relação com a DRGE e que sua erradicação não agrava seus sintomas. Portanto, tendo em vista a remissão de sintomas ou cicatrização de lesões, até o presente, não está indicada a pesquisa do H. pylori ou sua erradicação. • É a substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago por epitélio colunar contendo células intestinalizadas (metaplasia intestinal) em qualquer extensão do órgão. Trata-se de uma condição adquirida que resulta do refluxo gastroesofágico crônico. • Diagnóstico: Endoscopia digestiva alta e biópsias. Primariamente suspeitado pelo exame endoscópico, mas deve ser sempre confirmado pelo exame histológico de fragmentos de biópsia, o qual demostra metaplasia intestinal incompleta com presença de células caliciformes. • O dano maior ocorre mais pelo tempo prolongado de exposição ao pH ácido inferior a 4 do que pelo número de episódios de refluxo. DOENÇA DO REFLUXO NÃO EROSIVA (DRGE-NE) DOENÇA DO REFLUXO EROSIVA (DRGE-E) HELICOBACTER PYLORI ESÔFAGO DE BARRETT Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • É uma condição pré-maligna que se acredita ser o maior fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago distal. • A displasia, sinônimo de neoplasia intraepitelial, atualmente é o único marcador que pode ser utilizado para delinear a população de maior risco de câncer esofágico. No entanto, permanece desconhecido se a supressão ácida (farmacológica ou cirúrgica) poderia alterar a história natural da metaplasia (esofagite → metaplasia intestinal → displasia → neoplasia), embora, trabalhos recentes tenham sugerido que a terapia com IBP está associada à redução significativa do desenvolvimento de displasia nesses pacientes. • O risco de malignização (displasia a adenocarcinoma) parece estar relacionado com a extensão do epitélio metaplásico e é maior nos pacientes com o denominado esôfago de Barrett longo, maior que 3 cm. • Os pacientes com DRGE apresentam diferentes defeitos fisiopatológicos que não são efetivamente corrigidos com o tratamento, mas são atenuados pelo bloqueio do ácido que provém do estômago. Assim, é de se esperar que, após o tratamento da fase aguda da enfermidade, possam ocorrer recidivas com a suspensão do tratamento, particularmente nos casos mais graves. • O tratamento de manutenção desses pacientes deve ser considerado, sobretudo, nos casos de esofagite erosiva. • Anamnese cuidadosa, visando identificar os sintomas característicos, bem como definir sua intensidade, duração e frequência. Bem como, os fatores desencadeantes e de alívio, além de ser determinado o padrão de evolução da enfermidade no decorrer do tempo, assim como o impacto na qualidade de vida dos pacientes. • Sintomas típicos: o Pirose: algumas vezes chamada de azia, que é a sensação de queimação retroesternal que se irradia do epigástrio à base do pescoço, podendo atingir a garganta. o Regurgitação: percepção do fluxo do conteúdo gástrico refluído para a boca ou hipofaringe. • Apresentação de sintomas típicos duas ou mais vezes por semana,por no mínimo 4 a 8 semanas. • Sintomas associados: sialorreia, eructação, sensação de opressão retroesternal. • Condições que elevam a pressão intra-abdominal também podem exacerbar os sintomas, particularmente a obesidade. • É interessante observar que a intensidade é tão importante quanto a frequência dos sintomas e que existe relação entre a gravidade e a afetação da qualidade de vida. Isso vale tanto para a DRGE não erosiva quanto para a esofagite erosiva. A ausência de sintomatologia típica não descarta a hipótese de DRGE, tendo em vista as manifestações atípicas. Ao contrário, pacientes com laringite crônica, por exemplo, devem ser investigados quanto à presença de refluxo, até porque existe a possibilidade da ocorrência de refluxo não ácido ou fracamente ácido. O mesmo se aplica aos pacientes com apneia ou distúrbios do sono. • Sintomas atípicos: • Dor torácica não cardíaca: Depois de afastada a etiologia cardíaca, a DRGE costuma ser a causa mais comum de dor torácica. o Globus faringeus; o Asma; o Tosse crônica; o Fibrose pulmonar idiopática; o Apneia do sono; o Pneumonias de repetição; o Otite média; o Sinusite crônica; o Rouquidão; o Pigarro; o Desgaste do esmalte dentário. • Sinais e sintomas de alerta: (Frequentemente, estão associados a complicações) o Anemia; o Hemorragia digestiva; o Emagrecimento; o Disfagia; o Odinofagia; o Presença de sintomas de grande intensidade, principalmente os que têm início recente em pacientes idosos e/ou com história familiar de câncer. • Recomendação de grau A: Teste diagnóstico terapêutico (IBP administrado em dose plena por um período de 4 semanas) para pacientes com menos de 45 anos e com manifestações típicas. • Ainda assim, foi explicitamente recomendado que todo paciente com suspeita ou diagnóstico de DRGE realize a endoscopia digestiva alta (EDA) antes do início do tratamento.21 Essa orientação baseia-se no fato de que a EDA é um procedimento seguro e facilmente executado, amplamente disponível e de baixo custo em nosso meio. Permite a visualização direta da mucosa e aumenta a acurácia diagnóstica nos casos de DRGE erosiva. Isto, além de identificar RECIDIVAS DIAGNÓSTICO TESTE DIAGNÓSTICO TERAPÊUTICO Maria Beatriz Valença Gastroenterologia precocemente as complicações ou outras eventualidades, como neoplasias de esôfago e estômago. • Endoscopia digestiva alta: método de escolha. • Permite a caracterização da presença de erosões da mucosa esofágica e possibilita a realização de biópsias. Assim, o exame endoscópico possibilita a classificação da DRGE em doença erosiva ou não erosiva que poderá ter implicações diretas na forma de abordagem terapêutica. • As biópsias de esôfago têm indicação limitada apenas às complicações da doença: esôfago de Barrett, úlceras de esôfago e estenose esofágica, além de caracterizar o adenocarcinoma esofágico. • Forma não erosiva: sintomas típicos e com EDA normal. • Indicação restrita. • Esofagograma: sua indicação se baseia na capacidade do exame de avaliar dinamicamente a morfologia do órgão e o tempo de trânsito do contraste. Porém apresenta baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de DRGE e, por conseguinte, raramente está indicado. • Pode auxiliar na investigação de pacientes que referem disfagia e odinofagia, tornando-ser fundamental para caracterizar estenoses e ajudar na decisão terapêutica dessa complicação. • Pode demonstrar o refluxo do conteúdo gástrico após ingestão de contraste marcado com 99Tc. • Técnica não invasiva, porém caro e pouco disponível. • Diagnóstico de DRGE em crianças. • Útil para investigar as manifestações atípicas respiratórias. • Indicações: o Antes da realização de pHmetria: para precisar o local do esfíncter esofágico inferior para localização do sensor de pH; o Pré-operatório da DRGE, afastando acalasia ou distúrbios importantes de motilidade de esôfago, como, por exemplo, a esclerose sistêmica; o Investigação complementar de disfagia: principalemnet quando existe suspeita de alterações motoras de esôfago, como o esôfago em quebra-nozes e espasmo esofágico difuso. • A manometria de alta resolução procura superar as limitações da manometria convencional, possibilitando o emprego de um grande número de sensores de pressão, inclusive sensibilidade circunferencial, que faz com que a imagem final seja contínua e espacial. Apresenta maior especificidade na identificação dos tipos acalasia, obstrução funcional da junção esofagogástrica e na definição do espasmo esofágico. No que se refere à DRGE de modo geral, o método atualmente não apresenta grandes vantagens em relação à manometria convencional. • O monitoramento do pH intraesofágico pode ser realizado via cateter transnasal ou com cápsula telemétrica sem fio e pode detectar episódios de refluxo medindo as diminuições do pH esofágico. • Cateteres de impedância e pH posicionados por via transnasal no esôfago, avaliam a mudança da resistência elétrica conforme a composição química do material refluído e medem a direção do fluxo (anterógrado ou retrógrado), assim como, o pH esofágico. Assim, este último método é capaz de medir refluxos ácidos e não ácidos. • Método específico e sensível para o diagnóstico do refluxo ácido gastroesofágico e sua correlação com os sintomas referidos pelos pacientes. • Recentemente, o Colégio Americano de Gastroenterologia publicou recomendações para o uso de testes para o diagnóstico do refluxo gastroesofágico. São elas: o Para documentar a exposição ácida em paciente com endoscopia negativa, quando considerado para intervenção endoscópica ou cirúrgica; o Na avaliação de pacientes com sintomas típicos de refluxo que apresentam endoscopia negativa e que são refratários ao tratamento com IBP. EXAME ENDOSCÓPICO E BIÓPSIA DE ESÔFAGO RAIO-X CONTRASTADO DE ESÔFAGO (ESOFAGOGRAMA OU SERIOGRAFIA) CINTILOGRAFIA MANOMETRIA CONVENCIONAL E MANOMETRIA ESOFÁGICA DE ALTA RESOLUÇÃO pHmetria esofágica de 24 horas Maria Beatriz Valença Gastroenterologia • O exame não deve ser indicado rotineiramente, mas em certas condições também pode ser útil e auxiliar na conduta: o Na documentação da adequação do tratamento com IBP para controle ácido gástrico em pacientes com complicações como esôfago de Barrett; o Na avaliação de pacientes com sintomas atípicos que apresentam a endoscopia negativa e que são refratários ao tratamento com IBP. • Dispensa o uso de sondas, fios ou cabos. Na verdade, o sistema constitui o aperfeiçoamento da pHmetria de 24 horas, evitando algumas de suas limitações (como a dificuldade para a localização do eletrodo, possibilidade de deslocamento do cateter durante o período de exame, incômodos e limitações físicas e dietéticas para o paciente). • Permite o registro prolongado do pH esofágico por 96 horas. • Seu uso é restrito. • A cápsula é afixada temporariamente por sucção na mucosa do esôfago distal, de onde transmite, via radiotelemetria, sinais para o receptor que é preso ao cinto do paciente. Após o período de exame, a cápsula se desprende espontaneamente e é eliminada pelo tubo digestivo, e os sinais são analisados por um programa instalado em computador. • A impedância é a medida da resistência elétrica resultante de uma corrente elétrica gerada entre pares de eletrodos quando da passagem do bolo alimentar. Portanto, a determinação da impedância detecta a ocorrência de alterações na resistência à corrente elétrica por meio de eletrodos em pares posicionados no interior do esôfago (de maneira sequencial), por meio de um dispositivo de sonda. • O método é capaz de diferenciar o trânsito esofágico de sólidos ou líquidos, tanto nosentido anterógrado quanto no sentido retrógrado (refluxo gastroesofágico). • A impedância não caracteriza o refluxo de natureza ácida e, por isso, a monitoração do volume e conteúdo ácido do material refluído não pode ser determinado pelo método. Para obviar essa deficiência, é incorporado ao sistema um eletrodo de pH (impedância-pHmetria), que permite que o refluxato possa ser categorizado nas seguintes categorias: o ácido (pH < 4); o fracamente ácido (pH entre 4 e 7); o fracamente alcalino (pH > 7). • O Colégio Americano de Gastroenterologia orienta que o método de impedância-pHmetria pode ser útil nos seguintes casos: o Na avaliação de pacientes com sintomas de pirose e regurgitação e endoscopia negativa, a despeito de terapia adequada com IBP. Vale dizer que a acurácia diagnóstica aumentada da impedância sobre a pHmetria convencional é ainda maior quando o exame é realizado na vigência do tratamento com IBP; o Em pacientes com queixas primárias de dor torácica ou sintomas extraesofágicos (refratários ao tratamento), embora nesse caso a utilidade do método não tenha sido efetivamente comprovada. • A interpretação atual dos resultados da impedância se baseia na correlação de sintomas. A implicações terapêuticas de resultados anormais entretanto, não estão esclarecidas. • Bioimpedância: refluxos ácidos e não ácidos. • Objetiva controlar os sintomas, cicatrizar as lesões e prevenir as complicações. • Pode ser cirúrgico, clínico ou endoscópico (em fase de investigação). • A grande maioria dos pacientes se beneficia com o tratamento clínico, que deve abranger medidas comportamentais e farmacológicas, as quais devem ser implementadas simultaneamente. • Modificações comportamentais: o Elevação da cabeceira da cama (15 cm); o Moderação na ingestão dos seguintes alimentos, com observação à correlação com os sintomas: alimentos gordurosos, cítricos, café, chocolate, bebidas alcoólicas e carbonatadas, hortelã, tomate e derivados; o Cuidados com medicações “de risco”: anticolinérgicos, teofilina, ADTs, bloqueadores dos canais de cálcio, agonistas beta- adrenérgicos, alendronato; o Evitar deitar-se por duas horas após as refeições; o Evitar refeições copiosas; o Redução drástica ou cessação do tabagismo; o Redução do peso corporal nos casos de sobrepeso e obesidade. • A inibição da secreção ácida gástrica é benéfica no tratamento dos pacientes com DRGE, haja vista ocorrer a melhora dos sintomas e a cicatrização da esofagite. A probabilidade de cicatrização da esofagite está diretamente relacionada com a potência do efeito antissecretor da medicação pHmetria sem fio: cápsula Bravo IMPEDÂNCIA ESOFÁGICA TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO Maria Beatriz Valença Gastroenterologia utilizada. No plano do tratamento farmacológico, os fármacos disponíveis são: o Alcalinos (ou antiácidos) e sucralfato são empregados para neutralizar a secreção ácida gástrica, servindo apenas para controle imediato dos sintomas. São raramente empregados, estando indicados apenas em situações especiais para fornecer alívio sintomático passageiro para indivíduos com sintomas esporádicos; o O alginato é um polissacarídeo natural extraído da alga marrom que se polimeriza quando exposto ao ácido formando uma matriz de gel sobrenadante ao conteúdo gástrico que posteriormente é estabilizada por íons cálcio. Assim, uma combinação de alginato-antiácido tem se mostrado efetiva em prevenir o refluxo originário da bolsa ácida, compondo, desse modo, o racional para sua utilização na DRGE. A combinação de um inibidor da bomba protônica (IBP) com o alginato tem ganhado interesse crescente após a recente descoberta da bolsa ácida na porção proximal do estômago; o Bloqueadores dos receptores H2 da histamina (cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina) apresentam bons resultados para a cicatrização de esofagite erosiva leve, mas não são ideais para o tratamento de doença moderada a intensa ou quando longo período é necessário, já que apresentam taquifilaxia. São eventualmente prescritos em situações em que não pode ser utilizado o IBP; o Procinéticos (metoclopramida, domperidona e bromoprida) são eficazes para o alívio da pirose quando comparados a placebo. Porém, devem ser considerados medicamentos de exceção, uma vez que não aumentam o índice de cicatrização da esofagite. Podem ser utilizados apenas em associação com IBP em pacientes com quadro de dismotilidade associada à DRGE (p. ex., empachamento pós-prandial); o Inibidores da bomba de prótons constituem a classe de fármacos mais indicada para o tratamento da DRGE, apresentando resultados significativamente melhores do que as classes anteriormente citadas de medicamentos. Os índices de cicatrização são elevados, portanto, são seguras e eficazes para o tratamento prolongado. IBPs disponíveis no Brasil Omeprazol 40 mg Lansoprazol 30 mg Pantoprazol 40 mg Esomeprazol 40 mg Rabeprazol 20 mg Dexlansoprazol 60 g • Tempo de tratamento: o Casos agudos: 4 a 8 semanas; o Sintomas extraesofágicos ou complicações: dose dobrada por até 180 dias. • São indicados em dose plena para o tratamento inicial da DRGE não complicada ou em dose dobrada para pacientes com complicações (estenose, úlcera ou esôfago de Barrett) ou com manifestações atípicas (por período prolongado, em geral, de seis meses de tratamento). • Evidências sugerem fortemente os benefícios da utilização de IBP no tratamento de manutenção da DRGE (com ou sem esofagite erosiva). As doses do tratamento de manutenção costumam ser inferiores àquelas utilizadas no tratamento da fase aguda da enfermidade e, nesse sentido, os diferentes IBP se comportam de modo semelhante. • Tendo em vista que é necessária a ativação das bombas protônicas pelos alimentos para a estimulação da produção de ácido clorídrico, é recomendável a administração do IBP em jejum, 30 a 60 minutos antes da ingestão alimentar. Determinados pacientes hipersecretores podem necessitar de dose dobrada do IBP para alívio dos sintomas ou cicatrização da esofagite. • Efeitos adversos mais comuns dos IBPs: cefaleia, diarreia, constipação e dor abdominal. • Atenção especial deve ser dada ao uso dos IBP durante a gravidez, uma vez que, nessa condição, o omeprazol está enquadrado na categoria C e os outros IBP, assim como os antagonistas do receptor H2, na categoria B. • Indicações: o Esofagites redicivantes após tratamentos bem sucedidos, de no mínimo 6 meses; o Pacientes que apresentam complicações da DRGE, inclusive extraesofágicas; o Perspectiva de uso de IBP por longos anos; o Hérnias de grande volume em pacientes com risco de volvo ou perfuração; o Baixa idade. • Operação antirrefluxo, quer pela via laparotômica quer pela videolaparoscópica, é desenhada para diminuir a exposição esofágica ao suco gástrico pela criação de um mecanismo antirrefluxo sobre o esfíncter esofágico inferior. Como uma câmara de ar circular envolvendo o esôfago abdominal, quando ela se expande pela presença de ar deglutido durante a alimentação, “estrangula” o esôfago distal, a peristalse axial gástrica distal fisiológica empurra progressivamente o ar para o duodeno, e a válvula vai TRATAMENTO CIRÚRGICO Maria Beatriz Valença Gastroenterologia gradativamente afrouxando, livrando a zona esfincteriana da compressão pneumática extrínseca. • Os procedimentos cirúrgicos mais utilizados são as fundoplicaturas totais (Nissen) e parciais (Lind ou Toupet) feitas pela via laparoscópica, nas quais o esôfago distal é envolvido pelo fundo do estômago em 360° e 270°, respectivamente. Associa-se a elas o fechamento do hiato esofágico, fazendo-o retornar ao seu diâmetro normal. Nesses casos, o objetivoé restaurar o segmento intra-abdominal do esôfago, mantendo-o em posição anatômica, recriando uma zona de alta pressão na junção esofagogástrica. Aumenta-se, assim, a competência do esfíncter e indiretamente melhora-se a habilidade de clareamento do corpo esofágico e desaparecimento do processo inflamatório péptico que o refluxo estava promovendo. Das técnicas, a mais utilizada internacionalmente é a fundoplicatura total para os quadros de DRGE sem alteração da motilidade. • Complicação cirúrgica mais frequente: disfagia. • Não existe imperiosa necessidade de acompanhamento para os casos em que esses pacientes não apresentam recidiva dos sintomas e não têm complicações pépticas. Mas, no caso daqueles em que já existia presença de esôfago de Barrett, quando da indicação cirúrgica, há necessidade de acompanhamento preferencialmente endoscópico e biópsia da seguinte maneira: o Sem a presença de displasia – EDA a cada 03 anos; o Displasia de baixo grau: a cada ano; o Displasia de alto grau: revisão de lâmina após cirurgia ou ablação endoscópica.
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