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Resumo - Semiologia Psiquiátrica

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Júlia Figueirêdo – HABILIDADES MÉDICAS IV 
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA: 
ASPECTOS DA ANAMNESE EM PSIQUIATRIA: 
 Avaliação e perguntas introdutórias: 
A linguagem utilizada deve se adequar ao 
contexto socioeconômico do paciente, assim 
com a suas culturas e valores morais e 
religiosos. 
Em caso de pacientes com bom nível 
intelectual, perguntas abertas são uma boa 
forma de se obter informações. No entanto, 
em indivíduos com quadros demenciais ou 
com algum impedimento que afete o 
intelecto, perguntas mais estruturadas são 
preferidas. 
1. Providenciar um local com um mínimo de 
privacidade e conforto para a entrevista 
(evitar lugares trancados e de difícil acesso 
ou evasão); 
2. Apresentar-se ao paciente e explicar o 
objetivo da entrevista; 
3. Dar início à entrevista com perguntas de 
cunho geral: Como o senhor se chama? 
Quantos anos têm? Com qual etnia você se 
identifica? Qual seu estado civil? Tem filhos? 
Com quem mora? Até que ano foi à escola? 
Qual sua profissão? Em que trabalha? Qual 
sua religião?; 
4. Identificar a queixa principal: o que te traz 
aqui? Como tem se sentido? Tem alguma 
dificuldade? Sente que algo não vai bem? 
Está se sentindo doente?; 
5. Como isso começou? Como têm passado 
nos últimos anos (ou meses, ou semanas)?; 
6. Quais os tratamentos que fez até hoje para 
combater esse problema? Quais foram os 
resultados desses tratamentos?; 
7. A que o senhor atribui os seus 
problemas?; 
8. Avaliar (implicitamente), desde o início da 
consulta, o modo de falar a mímica e a 
aparência física geral do paciente; 
9. Descrever as sensações que o paciente 
desperta no entrevistador, qual perfil é 
passado por ele. 
 História psiquiátrica: 
Descrever, preferencialmente com as 
palavras do paciente, os sintomas, sinais e 
comportamentos manifestados por ele, 
desde o início do último episódio até o 
presente momento: 
 Semiotécnica psiquiátrica: 
o Semiotécnica da Consciência: 
As alterações de consciência têm um 
forte impacto no funcionamento do 
sistema psíquico. Esse aspecto pode 
ser definido logo ao olhar o paciente, 
verificando se está dormindo ou 
desperto, mas também pode requerer 
uma avaliação da orientação espaço-
temporal. 
Pode ser realizado o teste da parede 
ou do papel branco, no qual o paciente 
é indagado a fitar atenta e fixamente 
em uma parede ou papel de cor 
branca. Quando há leve rebaixamento 
do nível de consciência, alucinações 
visuais podem ocorrer. 
o Semiotécnica da atenção: 
A forma mais simples e prática de se 
avaliar a atenção do paciente é 
pedindo-lhe que os pacientes olhem os 
objetos presentes no ambiente de 
consulta, pedindo que repitam tudo o 
que viram, de cabeça. 
A prova de repetição de dígitos (dígito 
span) consiste numa série de números 
pronunciados em voz alta, 
pausadamente, buscando minimizar 
as distrações para o examinado. Um 
adulto normal consegue fazer a 
repetição de seis a sete dígitos. 
o Semiotécnica da orientação: 
Júlia Figueirêdo – HABILIDADES MÉDICAS IV 
A orientação temporal busca avaliar a 
noção de passagem do tempo, 
indagando o paciente sobre a data da 
consulta, o período do dia no momento 
do atendimento, entre outros. Na 
orientação espacial, partindo do micro 
para o macroscópico, percebe-se a 
localização do paciente no ambiente, 
indagando-o acerca do andar do 
prédio no qual se realiza o 
atendimento, da cidade na qual se 
encontram, o estado, e o tempo gasto 
no percurso entre casa e o consultório, 
por exemplo. A orientação 
autopsíquica, por sua vez, busca 
determinar se o indivíduo se 
reconhece a si mesmo. 
o Semiotécnica da sensopercepção: 
 Alucinações auditivas: o 
examinador deve investigar se o 
paciente ouve vozes que não 
consegue explicar, explorando o 
cunho das mensagens, sua 
frequência, a característica dos 
emissores e o impacto destas na 
qualidade de vida do indivíduo. Se 
possível, deve-se anotar o que é 
reportado pelas alucinações, 
indagando ao entrevistado se ele 
acredita que tais estímulos sejam 
reais; 
 Alucinações visuais: as perguntas 
orbitam em torno da presença de 
visões de pessoas, animais, vultos 
ou sombras, sua mobilidade, 
vivacidade, frequência, coloração 
e regularidade dos aparecimentos. 
Questiona-se se o paciente pode 
descrever algumas dessas 
alucinações; 
 Alucinações olfatórias e 
gustativas: busca-se registrar 
percepções inexplicáveis de 
sabores ou odores num ambiente, 
além de sua intensidade, 
qualidade e frequência de 
ocorrência; 
 Alucinações táteis ou 
cenestésicas: 
Avalia-se a ocorrência de 
formigamentos, choques, agrados 
ou agressões sem que haja um 
sujeito por perto. O examinador 
pergunta a qualidade das reações 
a esses estímulos (boa ou ruim), 
se há a sensação de estímulos nas 
genitais ou na região interna do 
corpo. Para a avaliação 
cenestésica, indaga-se sobre a 
percepção de movimentos 
involuntários isolados ou 
generalizados, avaliando a 
interação do paciente com os 
objetos. 
o Semiotécnica da memória: 
Para avaliar a memória recente, o 
entrevistador deve perguntas ações 
triviais realizadas pelo paciente no dia 
ou na véspera da consulta, avaliando o 
padrão de respostas (ex.: que horas o 
senhor acordou hoje? O que comeu no 
jantar?). 
A investigação da memória remota 
pode tentar resgatar fatos marcantes 
do passado, como o casamento, a 
ocorrência ou não da paternidade, o 
conhecimento sobre alguma 
determinada habilidade. 
Múltiplos testes podem ser usados 
nesse momento, como o teste de 
memória verbal simples (ouvir 4 
palavras não relacionadas entre si e 
repeti-las após 10 minutos), teste de 
memória visual (apresenta e situa 
objetos, que devem ser associados a 
suas posições após 10 minutos), teste 
de memória verbal por associação 
(apresentar uma lista de antônimos e 
pedir que o paciente a complete após 
alguns minutos), e o teste de memória 
Júlia Figueirêdo – HABILIDADES MÉDICAS IV 
lógica (consiste em ouvir e repetir uma 
história com 15 itens distintos). 
o Semiotécnica da afetividade: 
Busca avaliar o humor predominante 
(ansioso, apático, triste e alegre), seus 
motivos e a frequência de ocorrência. 
Dentre a investigação de emoções e 
sentimentos, avalia-se a forma com a 
qual um paciente reage a determinado 
estímulo, expressando respostas 
verdadeiras ou falsas, excessivas ou 
brandas, e determinar as relações 
entre o indivíduo e sua família/amigos. 
o Semiotécnica da ideação e impulsos 
suicidas: 
A ideação, impulsos e planos suicidas 
devem ser sempre investigados, no 
caso de mínimas suspeitas. O tema 
deve ser tratado como algo delicado e 
pessoal, de modo circunspecto, mas 
franco. Após um contato inicial, deve-
se inquirir de modo que seja mais fácil 
para o paciente falar sobre o tema. 
É necessário determinar o 
comprometimento desse indivíduo 
com seus planos, indagando sobre o 
desejo de comprar (ou a efetivação da 
compra) de venenos, armas ou 
medicamentos. 
Alguns pacientes demandam maior 
atenção, como aqueles que: 
1. Tentaram o suicídio recentemente e 
mantém-se no contexto problemático 
inicial; 
2. Estavam muito deprimidos e 
"melhoram" subitamente; 
3. Pessoas que, embora neguem o 
impulso suicida, comportam-se de 
forma muito autodestrutiva, revelando 
o seu potencial suicida; 
4. Pessoas que "resolvem" seus 
negócios sem um motivo aparente. 
o Semiotécnica da praxia: 
Pesquisam-se as apraxias solicitando-
se ao paciente comandos simples, 
como fechar os olhos e lamber os 
lábios. Pede-se ao paciente que 
realize com a mão direita (e depois 
com a esquerda) ações cotidianas, 
como pentear os cabelos, escovar os 
dentes ou cortar as unhas. 
o Semiotécnica da volição e da 
psicomotricidade: 
Avalia-se a motivação do paciente, a 
espontaneidade de suas respostas e 
movimentos, bem como a capacidade 
de formular planos e executá-los.o Semiotécnica do pensamento: 
São realizadas perguntas de 
diferenciação ou comparação para 
avaliar o desenvolvimento e a 
abstração do pensamento 
(interpretação de metáforas e figuras 
de linguagem). 
A fluidez de pensamento pode ser 
avaliada ao longo de toda a entrevista, 
pontuando a velocidade, ritmo, forma e 
conteúdo das ideias expressas pelo 
paciente. 
Caso o pensamento seja 
desorganizado, incoerente, esses 
processos são do tipo confusional 
(alteração da consciência), demencial 
(alteração da cognição) ou deficitário 
(pobreza homogênea)? Há aspectos 
esquizotípicos ou obsessivos? 
o Semiotécnica da linguagem: 
Avalia-se a capacidade de produção 
da fala (espontaneidade, recusa em 
falar), a qualidade da linguagem 
(coerência, veracidade gramatical, 
repetições e tiques). 
o Semiotécnica do delírio de dos 
distúrbios de juízo e realidade: 
Busca identificar quadros de delírios 
persecutórios, delírios de referência, 
influência, de ciúmes ou cunho 
religioso, além de ideias de grandeza e 
pensamentos obsessivos e suas 
especificações (início, caráter do 
acometimento, consciência individual); 
o Semiotécnica da inteligência: 
Júlia Figueirêdo – HABILIDADES MÉDICAS IV 
Verifica a extensão do vocabulário e da 
capacidade de interpretação do 
paciente perante figuras de linguagem, 
associando os resultados obtidos ao 
grau de escolaridade informado pelo 
indivíduo. 
o Semiotécnica de episódios 
depressivos; 
o Semiotécnica de episódios maníacos; 
o Semiotécnica de síndromes ansiosas, 
como ataques de pânico, fobia social, 
ideias obsessivas, atos compulsivos 
ou episódios dissociativos.

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