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Mariana Costa Teixeira TROMBOFLEBITE SUPERFICIAL Condição frequente em que há trombose de uma veia superficial e reação inflamatória da veia e dos tecidos perivenosos. Quadro Clínico: - Dor no trajeto venoso; - Rubor; - Empastamento (veia é palpada como um cordão duro e doloroso). Etiologia - Trauma por procedimentos médicos (cateterismo com dissecção de veia, infusões venosas). Ocorre irritação do endotélio com alteração da osmolaridade-pH do líquido infundido e o tempo de infusão. - Decorrente do uso de drogas injetáveis - Complicação das varizes (surge em cerca de 15% dos pacientes com essa afecção). - Idiopática Pode se apresentar como o primeiro sintoma de uma vasculite como a tromboangiíte obliterante, doença de Buerger, síndrome paraneoplásica, trombofilia. Em geral, trata-se de um quadro benigno, porém, pode evoluir para trombose profunda. A evolução para trombose profunda está relacionada ao comprometimento de veias maiores como as veias safenas. A tromboflebite pode também surgir juntamente com uma trombose profunda, principalmente nas tromboflebites extensas e múltiplas. Diagnóstico - Clínico - USG Em casos de tromboflebite de veia safena magna que atinja a coxa ou em tromboflebites múltiplas deve ser realizado o exame para excluir um trombo extenso, penetrando a veia femoral ou trombose concomitantemente em outras veias profundas, podendo provocar embolia pulmonar. Tratamento 1. Medidas locais: aplicação de calor, agentes tópicos a base de heparinoides. Em caso de dor muito intensa, pode-se associar um anti- inflamatório não esteroide por VO. 2. Anticoagulantes Uso restrito para os casos em que existe trombose profunda associada. 3. Casos de tromboflebites extensas e atingindo múltiplas veias O paciente é colocado na posição de Trendelenburg com períodos alternados de deambulação + heparina em doses terapêuticas (5-7 dias). A anticoagulação é mantida, após esse período, apenas quando há comprometimento de veias profundas. Tromboflebite de v. safena magna atingindo o joelho - Mapeamento dúplex: verificar extensão do trombo (pode atingir o 1/3 proximal da coxa ou mesmo penetrar a veia femoral profunda sem causas sintomas locais). Nesses locais, a ligadura da veia safenafemoral é indicada para evitar a propagação do trombo e a emboliza~çao de sua causa para o pulmão. Veia safena está dilatada: Outra opção cirúrgica é a extração da veia ainda na fase aguda, com bons resultados em relação à diminuição dos sintomas e à evolução tardia. Tromboflebite Traumática A TVS pode ocorrer após um traumatismo direto, geralmente em um dos membros. O sinal de sua presença é um cordão doloroso, acompanhando o trajeto de uma veia em justaposição à área do traumatismo. Com frequência, há equimose indicando extravasamento de sangue associado à lesão. A tromboflebite no local de uma infusão endovenosa é resultado da ação de fármacos irritantes, soluções hipertônicas e, mais raramente, de lesão da íntima, causada pelo cateter, particularmente quando o dispositivo para acesso é mantido em uma veia periférica por um período longo. Esse quando de TVS é visto em pacientes hospitalizados ou naqueles ambulatoriais que estejam utilizando drogas ou sendo submetidos à terapia com fármacos. Hiperemia, dor e sensibilidade ao tato geralmente indicam seu desenvolvimento enquanto está sendo feita a infusão. O segmento venoso trombótico mantém-se como um cordão ou uma massa por dias ou semanas após ter sido interrompida a terapia endovenosa. Tromboflebite em Veias Varicosas A tromboflebite superficial ocorre com frequência nas veias varicosas, fato que pode ser um antecedente comum na evolução para a TVP. Algumas vezes a TVS envolve um conjunto de varicosidades bem distantes do tronco principal da safena. Apesar de ser possível a ocorrência de trombose após traumatismo local, o processo ocorre com maior frequência em varicosidades sem qualquer desencadeante, provavelmente como resultado de estase. Manifestação A tromboflebite se manifesta como um nódulo doloroso e endurecido circundado por uma zona de eritema em uma veia varicosa previamente observada. O sangramento é raro e ocorre nos casos em que há reação inflamatória estendendo-se pela parede da veia e pele no tornozelo. Trombose localizada e enduração lenhosa, algumas vezes com veias superficiais trombosadas, circundam as úlceras de estase, em razão de inflamação com células redondas e da produção de citocina. Tromboflebite e Infecção Infecção latente pode ser um fator para o desenvolvimento de tromboflebite e, pode ser exacerbada após cirurgias, tratamentos injetáveis, traumatismos ou exposição à radioterapia. Foram observadas infecções por aeróbios, anaeróbios e mistas em casos de TVS. Dentre os micro-organismos aeróbios estão: 1. Staphylococcus aureus; 2. Pseudomonas; 3. Klebsiella. Os anaeróbios incluem: 1. Peptostreptococcus; 2. Propionibacterium; 3. Bacteroides fragilis; 4. Prevotella; 5. Fusobacterium. Fungos: 1. Fusarium proliferatum. Nos casos de TVS em crianças e neonatos, assim como nos indivíduos idosos, pode haver septicemia em 1/3 dos pacientes. A maioria manifesta sinais de localização, mas deve-se empreender uma busca com índice alto de suspeita de localização intravenosas em idosos e lactentes com febre de origem obscura. O tratamento envolve suspensão da canulação, excisão imediata de veias supuradas e administração dos antibióticos sistêmicos apropriados. Tromboflebite Migratória Tromboses repetidas em veias superficiais de localização variada, comumente envolvendo MMII. Relato de associação ao carcinoma (adenocarcinoma) – tromboflebite migratória prevalente nos casos de carcinoma de cauda de pâncreas. Ocorre nas vasculites, como a poliarterite nodoso (poliarterirte nodosa) e a doença de Buerger. Doença de Mondor: Tromboflebite das Veias Superficiais da Mama A TVS envolvendo as veias da face anterolateral da porção superior da mama ou da região que se estende desde a porção inferior da mama atravessando a dobra submamária na direção do limite costal e da região epigástrica é conhecida como doença de Mondor. - Estrutura em forma de cordão sensível à palpação ao se esticar a pele e solicitar ao paciente que levante o braço. Deve-se investigar a existência de doença maligna. A doença de Mondor ocorre após cirurgia mamaria, com uso de ACO, na deficiência hereditária de proteína C e na presença de anticorpos anticardiolipina. Formas Incomuns - Doença de Mondor Peniana: tromboflebite da veia dorsal do pênis – doença rara. Fatores etiológicos: intercurso sexual excessivamente prolongada, cirurgias para hernia e, como em outras formas de tromboflebite superficial, pode haver envolvimento de veias profundas. É necessária a realização de ecodoppler nesses casos para afastar a possibilidade de TVP. Terapia: anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e ressecção da veia dorsal do pênis nos casos que não estejam respondendo ao tratamento clínico. - Tromboflebite Superficial em Veias Digitais Palmares: envolvimento venosos= sobre articulações interfalangianas proximais. Prognóstico e Tratamento Prognostico depende da etiologia, extensão e se há ou não progressão concomitante para o sistema venoso profundo. A TVS requer exame com ecodoppler inicialmente seguido por outros seriados para vigilância. Quando a TVS persiste ou sofre recorrência, está indicada a investigação sobre anormalidades da coagulação: - Proteína C; - Proteína S; - Antitrombina III; - Resistência à proteína C ativada. OBS: essa investigação deve ser feita, sobretudo, em mulheres com historia de recorrência e que fazem uso de ACO.TROMBOSE VENOSA PROFUNDA Pode ocorrer em qualquer veia do sistema venoso profundo: 1. Seios venosos do cérebro; 2. Veias viscerais; 3. Veias dos membros. Ocorrem com maior frequência: TVP de MMII e pelve. Epidemiologia Cerca de 70% dos casos ocorre como complicação de outra doença clínica, no pós-operatório, trauma ou pós- parto. 30% são tromboses ditas espontâneas – pela ausência de eventos desencadeantes. Fisiopatologia Tríade de Virchow 1. Estase sanguínea 2. Lesão endotelial 3. Hipercoagubilidade. Etiologia Multifatorial – fatores genéticos, fatores ambientais. A maioria dos casos de TVP se inicia nas veias das pernas, principalmente nos seios venosos valvulares e nos seios venosos dos músculos da panturrilha, devido à sua disposição anatômica que propicia a lentidão do fluxo venoso, principalmente durante o repouso, imobilidade prolongada ou anestesia geral. Esta lentidão do fluxo leva à formação de pequenos turbilhoes que facilitam o acúmulo de plaquetas e fatores de coagulação ativados, que acabam por formar a cabeça do trombo, que se adere à parede venosa. Com a evolução do processo, o trombo se prolonga na direção do fluxo venoso, constituindo a cauda do trombo. Essa cauda do trombo pode desprender-se e migrar para o pulmão (embolia pulmonar), ou obstruir a luz venosa, causando os sintomas da TVP, e em seguida, manter a obstrução venosa ou se recanalizando, causar a destruição das válvulas, alterações que a longo prazo podem levar ao quadro de síndrome pós-trombótica. A TVP dos MMII é mais comum no membro esquerdo, possivelmente pela disposição anatômica dos vasos em que a artéria ilíaca direita comprime a veia ilíaca esquerda, diminuindo seu fluxo. Diagnóstico - Dor Dor em MMII, causada pela distensão da própria veia, pelo processo inflamatório vascular e perivascular e pelo edema muscular que expande o volume dos músculos no interior da fáscia muscular distensível, ocasionando pressão sobre terminações nervosas. A dor pode ser constante, mesmo no repouso, ou surgir quando o paciente anda ou movimenta a perna. Nos quadros mais graves de obstrução femoroilíaca a dor costuma ser mais intensa, chegando mesmo a ser excruciante, como nos casos de obstrução extensa das vias principais e da circulação colateral (flegmasia cerúlea). - Edema Devido ao aumento da pressão hidrostática venosa e capilar, diminuindo a absorção de líquido intersticial. Deve-se sempre suspeitar fortemente de TVP quando um paciente apresentar EDEMA EM UM SÓ MEMBRO, ou quando embora exista edema bilateral, ele já é ou se torna maior em um dos membros. Raramente o paciente refere aumento do numero e do calibre de veias superficiais. - Outros sintomas: febre, taquicardia e mal-estar podem ser referidos como os primeiro sinais de TEV (tromboembolismo venoso). Deve-se pensar em TVP ou EP em doentes acamados que desenvolvem febre ou mal- estar sem outra causa aparente. Investigação - Antecedentes: moléstias recentes, principalmente trombose venosa, embolia pulmonar ou tromboflebites anteriores, neoplasias, moléstias cardiovasculares, infecciosas, hematológicas, vasculites, repouso e/ou operações ou parto recentes, traumatismos e fraturas. - Uso de medicamentos (estrógenos, principalmente). - Antecedentes familiares: história familiar de TVP (trombofilia de origem genética). Exame Físico dos Membros Deve ser realizado em TODOS os doentes com queixas nos MMII; Deve ser realizado diariamente nos pacientes acamados por qualquer causa, independente de queixas. - INSPEÇÃO Avaliar trajetos venosos superficiais visíveis (veias colarterais); Cianose; Palidez; Edema subcutâneo (compressão digital da pele); Edema muscular (aumento da consistência da musculatura à palpação suave e pela menor mobilidade da panturrilha quando balançada manualmente, estando as pernas semifletidas); Dor à palpação muscular; Dor à palpação dos trajetos venosos. MANOBRAS: - Sinal de Homans Dorsiflexão passiva do pé, com a perna estendida – com a palma de uma das mãos o examinador pressiona a planta do pé, de maneira a felti-lo, e com a outra mantém a perna em posição. Ao mesmo tempo, observa-se a reação do doente e indaga sobre a dor na panturrilha. - Flegmasia Alba Dolorosa Refere-se ao quadro em geral encontrado na trombose do segmento venoso femoroilíaco: caracteriza-se por dor e dema intensos em todo o membro e, frequentemente, palidez, pela presença de vasoespasmo, com diminuição, às vezes, dos pulsos distais. - Flegmasia Cerúlea Dolorosa Obstrução total ou quase total das veias da extremidade com trombose do segmento femoroilíaco, das veias que normalmente atuam como colaterais e, frequentemente, das veias poplíteas e da perna. Maioria como evolução da flegmasia alba. Edema intenso e o membro se torna cianótico, frio e tenso. A dor é excruciante. Os dedos do pé e da perna podem tornar-se quase pretos e formam-se bolhas contendo líquido sero-hemorrágico. Sua evolução é grave, podendo evoluir para gangrena da extremidade, sendo alta a incidência de EP e a mortalidade. Diagnóstico Imagem - Flebografia (padrão ouro); Radiografia do sistema venoso após injeção de contraste em uma veia do pé. - USG com doppler (não invasivo)* - Tomografia Computadorizada Auxilia no diagnóstico da trombose das veias cava inferior, superior e seus ramos. - RNM Venografia por RNM tem sido útil para veias ilíacas e veia cava inferior, uma área em que o doppler tem sua utilidade limitada. Testes Sanguíneos - Amostra de sangue periférico 1. Produtos da degradação da fibrina, complexos trombina-natitrombina e inibidores da ativação do plasminogênio estão em concentração aumentada. - Dímero D (DD) Produto da degradação de fibrina; Não é um marcador muito específico para TVP (pode estar presentes em casos de cirurgia recente, trauma, câncer e sepse). Pode ser utilizado como adjuvante no diagnóstico. Tratamento - Heparina Manter TTPa em 60-80 segundos - Varfarin Obter INR (razão normalizada internacional) de 2,5 a 3,0. Nível de recorrência aumenta com o tempo prolongado para se estabelecer anticoagulação adequada. Deve-se alcançar níveis terapêuticos dentro de 24 horas. Prescrição: 1. Heparina 80U/kg em bolus, seguida de uma infusão de 15 U/kg. 2. O TTPa deve ser avaliado 6h após qualquer mudança na dosagem da heparina. 3. Varfarin é iniciado no mesmo dia. Se ele for iniciado sem heparina, existe um risco de estado de hipercoagubilidade transitória, porque os níveis de proteínas C e S caem antes de outros fatores vitamina K dependentes serem depletados. - Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) à pacientes ambulatoriais, funcionando como ponte para a terapia com varfarin. DURAÇÃO: 1. Tempo mínimo de tratamento de 3 meses. 2. Paciente com histórico de recorrência de quadro de TVP/estado de hipercoagubilidade: anticoagulação por toda a vida – na ausência de contraindicações. INR esperado: 2 a 3. CONSIDERAÇÕES: - Anticoagulação oral é teratogênica. NÃO UTILIZAR DURANTE A GESTAÇÃO. - Gestante com TVP: utilizar HBPM. Complicações da Heparinoterapia - Hemorragia (discretas – hematúria, equimoses – ou graves – hemorragia retroperitoneal ou subdural). Tende a ocorrer entre o 7º dia de utilização e com associação de antiagregantes plaquetários. Punções durante o uso de heparina estão associada ao maior risco de desenvolver hemorragias. - Trombocitopenia: complicação não hemorrágica comum. Ocorre em 3% dos pacientes que recebem heparina por um período igual ou superior a 5 dias, podendo resultar em trombose venosa ou arterial. - Osteoporose Pode ocorrer em tratamentos prolongados. -Alopecia Transitória - Febre - Dor em queimação nos pés - Aumento dos níveis séricos de transaminases. Antagonistas da Vitamina K (AVK) Anticoagulantes orais, também denominados agentes antivitamina K (varfarina sódica) produzem seu efeito anticoagulante pela interferência na interconversão cíclica da vitamina K e da epoxivitamina K. São indicados para prevenção primária do tromboembolismo venoso (trombose venosa profunda e/ou tromboembolismo pulmonar), tratamento por mais de 3 meses após trombose venosa profunda, tratamento por mais de 6 meses após TEP ou recorrência de trombose venosa profunda e prevenção de embolia sistêmica em paciente com prótese cardíaca mecânica ou fibrilação atrial com alto risco para AVCI. Controle da Anticoagulação Oral - Tempo de Protrombina (TP) com a razão de normatização internacional (RNI ou INR). RNI poderá ser feito a cada a 4 a 5 semanas, contanto que não ocorra nenhuma das situações: hemorragia, mudança na dose de AVK, adição ou suspensão de medicamentos,s mudança nas condições clínicas do paciente ou grandes mudanças no hábito alimentar. CONTRAINDICAÇÕES PARA O USO DE ANTICOAGULANTE - Moléstias hemorrágicas - Pacientes com sangramento (úlcera gastrodudodenal, varizes de esôfago) - Primeiros dias após grandes cirurgias (neurocirurgias e AVC não hemorrágico até 4 a 6 semanas) - Insuficiência renal grave. Caso a trombose seja extensa, atingindo a região iliofemoral, principalmente se existe também suspeit de embolia pulmonar: indicação de colocação de filtro de veia cava. Tratamento Fibrinolítico - Sistêmico 1. Uroquinase (UK) 2. Ativador Tissular do Plasminogênio (TAP) 3. Estreptoquinase (SK) - Fibrinólise por Cateter Profilaxia - Deambulação precoce - Meias elásticas de compressão progressiva - Heparina em minidose - HBPM - Anticoagulantes orais (antagonistas da vitamina K – AVK) - Drogas inibidoras da agregação plaquetária (AAS). TEMPO DE INÍCIO E MANUNTENÇÃO DA PROFILAXIA - Início 12 horas após término da operação - Duração variável: 25-30 dias.
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