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EVOLUÇÃO HISTORICA DO PENSAMENTO ECONOMICO 4)4 4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO ECONÖMICO O pensamento econômico evoluiu pari passu com os períodos da histó- ria da humanidade. Desde a fase da agricultura primitiva, que permitiu o surgimento de núcleos humanos sedentários, em substituição ao nomadismo dos povos caçadores, os atos, fatos e fenômenos econômi- cos foram sendo gradativamente objeto de análises de causas e efeitos, até a definitiva constituição da economia como ciência, com seus pre- cursores no século XVIII e seu fundador, Adam Smith, na era do classi- cismo liberal. Afase da economia natural, com os agrupamentos humanos vivendo em estado LI selvagem,emconstantenomadismo em busca da caça,representa mais longo periodo da história da humanidade. Com a pesca e os primeiros rudimentos da agricultu- a, gue substituíram a cata dos produtos da natureza, os agrupamentos humanos passaram a evoluir do seu estado selvagem, atingindo a fase pastoril, despontando os embriôes da sociedade e do patriarcalismo e aqueles das artes e conhecimentos. Esse fato representou a eclosão de novas técnicas no aproveitamento dos recursos naturais, prenunciando o nascimento das ciências, a estruturação da propriedade, de início coletiva, com as trocas a partir de doações recíprocas, até a utlização de produtos de maior procura, servindo como unidade aferidora dos escambos que se multiplicavam. Criado com Scanner Pro , deEconnaPoltr,Elcmento Aagricultura - conformerecentespesquisasde um grup0 dcarqueologosno americanos liderados por F. Wendorf, que há quase vinte anos escaVia a regiao deWa Kubbanya, às margens do Nilo, próxima do limite do Egito com o ucdiO- teriasurgid, há 17 ou 18 mil anos nessa área da África, e não há oito mil anos no sudeste daÁsia,n chamado Crescente Fértil, que abrange os atuais territórios do Libano, Siria, Ira e aque Wendorf fundamenta a sua teoria no achado, na regiào egipcia, de artetatos depedh tosca- pedras de moer, pilöes e outros-a seu ver utilizados para atransformaçãod cereais em farinha, levando-o à crença de que, nessa regiào, já se cultivasse algumtipode planta. Ele, prosseguindo nas buscas, localiz0u sementes de trigo, cevada, lentilha,gra de-bico e tâmaras. Conforme anota J. Reis, o arqueólogo Wendorf afirma que taisprod tos se originaram de plantas cultivadas e não de vegetais nativos, em estado selvagem,hi 17 ou 18 mil anos, quando grande parte da Europa era ainda coberta pelo gelo ea plantações eram feitas nas margens alagadiças do Nilo. Premicdos pela necessidade decorrente das tensões do meio ambiente epressåodo excesso populacional, Os povos nômades, dedicados à caça, à pesca e à colheita de produtos nativos, passaram à atividade agrícola, tornando-se sedentários, surgindoassim as aglomeraçòes humanas estáveis, berço das cidades e da civilização. Após essa longa fase, costuma-se assinalar cinco grandes períodos na históriada humanidade, caracterizando a lenta e gradativa evolução do pensamentoeconômnico Tais períodos evolutivos são os seguintes: D Antigüidade clássica (primeira fase), do ano 4000 ao ano 1000 antes da ea crisi Nessa fase situam-se China, Babilônia, Egito, Assíria, Mesopotâmia e outrascivilizações Também nessa fase é que situamos o período dos tempos bíblicos, com osensinamentos e procedimentos consignados no Antigo Testamento, do ano 2500 ao ano 100 aC, em Novo Testamento, no primeiro século da era cristà. ID Antigüidade (segunda fase), abrangendo a civilização greco-romana e indodo ano 1000 a.C. até a queda do Império Romano do Ocidente (ano 476 de nossaera). II) Idade Média (500 a 1500), período conhecido por era medieval oufeudalismo ) Mercantilismo (do século XVI ao XVIID, fasedaRenascençaenaqualcomea a configurar-se o capitalismo, nas suas formas comercial e financeira. V Revoluçāão Filosóficae Industrial (1750 a 1850), quando se estrutura opens mento econômico, com base no racionalismo filosófico e nas invenções mecânicas,dando origem ao capitalismo industrial. Nessa fase do pensamento econômico é quesurgeno precursores da ciência econômica, com a denominada Fisiocracia ou Escola Fisiocril seguida pelos economistas Clássicos ou Liberais, quando nasce a ciência econõmicaca" a obra do seu fundador, Adam Smith (1723-1790). Merecem menção, ainda, as correntes teóricas modernas, como asEscolasHedonis Escola Psicológica (marginalismo) e Escola Matemática ou deLausanne - eacoen do pensamento econômico moderno, o keynesianismo, liderada por JohnMaynardKeyte (1883-1946), notável economista inglės. Criado com Scanner Pro Evolução histórica do pensamento económico 4.20 PENSAMENTOECONÔMICONAANTIGÜIDADE CLASSICA Nessa fase da evoluçāo da humanidade, abrangendo os povos da China, Îndia, Assíria, Babilônia, Mesopotâmia, Egito e outros da Antigüidacde orien- tal e ocidental (do ano 4000 ao ano 1000 a.C.), a atividade econômica era ainda embrionária, numa economia de subsistência e autoconsumo. NTo longo período da primeira fase da Antigüidade, os fatos econômicos surgiam natu- I N ralmernte e a atividade econômica era ainda embrionária. Nāo se podia cogitar de economia social naquelas sociedades ainda não estruturadas e sem um intercâmbio constante ou regular de bens e serviços. Os agrupamentos humanos ainda não se haviam impregnado das características de sociabilidade. As sociedades familiares ain- da se encontravam em fase incipiente. Quando o nomadismo tribal passou a ser subs- tituído pela fixação dos primeiros grupos nas sociedades patriarcais, surgiu o direito de propriedade na economia agrária. O trabalho, nessas sociedades da Antigüidade oriental e ocidental, era geralmente escravo, sendo raro ou reduzido o comércio entre Os diferentes agrupamentos, prevalecendo uma economia de subsistência ou de autoconsumo, sem a preocupação da formação de "sobras" destinadas às trocas ou ao escambo. As trocas nasceram de doações recíprocas, como ainda hoje se observa entre as tribos mais primitivas do Brasil, no ritual das permutas de oferendas ou de presentes. A compra-e-venda somente foi possível com a moeda, nmedida do valor e elemento facilitador da troca, quando o ato único da doação passou a ser decomposto em duas operações distintas: "compra e venda". Os regimes, nessas civilizações da Antigüidade, eram no geral teocráticos e obedien- tes à férrea disciplina e controle total do comércio pelos seus dirigentes. Embora existindo um intercâmbio econômico rudimentar e a moeda como facilitador das trocas tivesse já evoluído para as suas características mais sensíveis, deixando de ser representada pelos bens mais raros nos diferentes estágios evolutivos (peixes, conchas do mar, penas, aves, gado, sal) para assumir modalidades intrínsecas com a utilização dos metais, os fatos econômicos ainda não mereciam estudos especiais, o mesmo ocorrendo com a atividade econômica. Os fenömenos econômicos exerciamo seu efeito, sem que houvesse uma preocupa- ção de analisá-los em suas inter-relações de causa e efeito. Eles existiame produziam os seus efeitos sem que ainda houvessem despertadoo interesse por uma análise de conjun- to ou sistematização. Não havia ainda um clima propício para o surgimento de uma ciencia econômica. Os fatos e fenômenos econômicos estavam ainda ligados às ciências filosóficas, religiosas e jurídicas, à moral e à política, também ainda não totalmente estruturadas. Criado com Scanner Pro Elementos de tconoma Polbca Mesmo assim, conforme observação de John Fred Bell, em sua História dopensa. mento economico, nos tempos do Antigo Testamento as pessoas se entregavam amuitas práicas que têm correspondentes no capitalismo moderno. Realizaram negócios ecomer ciaram, criaram pequenos excedentes, tiveram propriedades privadas, praticaram adivi. são do trabalho, formaram mercados, usaram um sistema de dinheiro e preços eassimpor diante. De modo geral, os seus problemas foram iguais aos de uma economia maiscom- plexa e diferiram principalmente em grau. As necessidades humanas tinham de seraten didas e os materiais para tanto eramtambém escassos. 4.3 A ATIVIDADE ECONÖMICA NOSDENOMINADOs TEMPOSBIBLICOS(2500 a.C.a 100 da eracristā) Nos tempos biblicos, que abrangem os principios emanados do Antigo Testamento (2500 a 125 a.C.) e do Novo 7estamento, no primeiro século da era cristă, embora ainda bastante reduzida a atividade econômica, sur- giam os embriðes dos conceitos de propriedade, herança, salário, tributos, moeda e práticas comerciais. AS normas emanadas do Antigo Testamento foram-se consolidando ecorporificando Anum largo período, desde o ano 2500 até o ano 125 a.C. O Novo Testamentoabrange cerca de um século, a partir do nascimento de Cristo. Esses tempos bíblicos representam um dos maiores espaços de tempo registrados pela história escrita da humanidade. Nessas eras mais recuadas na História, já é possível deparar-se com conceitos varia- dos de propriedade, a partir da propriedade imobiliária ou das terras, quando as tribos nomades, vivendo da caça e da pesca, em atividade predatória, fixaram-se em cenas áreas, domesticando animais, semeando o solo e promovendoa criação. Surgia o direio de propriedade, traduzida em pequenas áreas. O Antigo Testamento considerava as pe- quenas propriedades como a fonte principal do vigor dos agrupamentos humanos, embo ra alguns escritores desse Antigo Testamento houvessem condenado a posse permanente da terra, conforme se lê nos Salmos "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam" (24:1). Gradativamente, foi-se fortalecendoa propriedade hereditária, não se pemitindo a sua venda sem o consentimento de todos os membros da familia, dando-se preferência ao parente mais próximo. Um dos exenmplos mais antigos de venda é citado porJeremias (32:6-15), em que a compra de um campo é registrada na "terra de Benjamin, por 17siclos de prata", com documento de compra devidamente testemunhado e selado de acordo com a lei e o costume. Não apenas a propriedade mas também as leis de herança foram delineadas por Moisés, quando o filho mais velho, ou o primogênito, tinha a primazia na reivindicação da Criado com Scanner Pro fvoxo hstóricadopersamentoeconómico propriedade herdada. Não existindo filhos varões, o direito passava à filha. Não tendo o casal nenhum filho, a propriedade se transmitia aos irmãos, tios e demais herdeiros, pelo grau de parentesco. As terras geralmente não eramconsicderacdasde propriedade individual, mas pertencentes ao clà ou à família, sendo que tais normas mantiveram constante a unidade social, o que muito contribuiu para a unificação das tribos de Israel. Também as posses, nesses tempos biblicos, eram consideradas como sinal de influên- cia, sendo que a riqueza era medida em terras, animais, escravos, peças de prata, talentos (moeda) e metais preciosos. A agricultura era a ativicdade preferida, substituindo a pastoril, sendo no Egito que, pela vez primeira, a ativicacde agrária apareceu em forma permanente. A indústriaeo comércio não representavam ainda atividade ou prática de relevo. Apenas raros excedentes eram negociados. Os canaanitas e filisteus, seguidos pelos fenícios, foram Os primeiros mercadores. No início transportavam tecidos de linho e là, produzidos pelas esposas hebraicas. Essas fiandeiras foram as mais antigas artifices registradas na História. Também merece menção históica a regra bíblica conhecida por Sétimo Ano ou Ano Sabático, prática emanada da origem numérica na história da Criação "Havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a obra que tinha feito" (Gênesis, 2:2). A prática emanada dessa regra bíblica teve profundas implica- çoes sociais e econômicas. Tal diretiva, contida no Exodo (23:10-11), determinava seis anos de cultivo das terras. E mais, que "no sétimo a soltaráse deixarás descansar". Essa lei foi consignada no Levitico (25:4-17), não se permitindo qualquer atividade agrícola nesse Sétimo Ano. Não era permitido mesmo semear, colher e armazenar; nem mesmo "o que nascer de si mesmo da tua sega não segarás". O professor John Fred Bell, em sua obra História do pensamento econômico, da qual extraímos esses dados sobre os ensinamentos bíblicos, diz que o princípio sabático, ou do sétimo dia, também foi aplicado às dívidas, beneficiadas com moratória no ano sétimo, sendo que nesse mesmo ano os escravos eram postos em liberdade, embora tal lei somen- te se aplicasse aos hebreus. Se o escravo solicitasse ficar novamente com o seu antigo senhor, seria contratado como servidor, cessando a servidão no Ano do Jubileu, contado com base no número de sete sábados do ano. No qüinquagésimo ano ou no mês sétimo, tinha início o Ano do Jubileu, que os historiadores dizem ter sido um plano puramente ideal, sem aplicação prática, pois não é mencionado no Deuteronômio, consolidação das leis de Moisés, e não mereceu menção de profetas posteriores, como Isaías e Miquéias. 4.4 INSTITUTOS JURÍDICOS E ECONÕMICOS COM ORIGENS NA ANTIGŪIDADE CLÁSSICA Nos tempos mais remotos da humanidade, encontramos os rudimentos dos principais institutos jurídicos e econômicos, como o dinheiro cunha- do, contratos comerciais, especialização no trabalho, direitos de proprie- dade e de herança e até sanções contra manobras especulativas e de açambarcamento e fraudes em pesos e medidas. Criado com Scanner Pro Elemerto5 de tconormaPoRca Tnportantes institutos jurídicos e econômicos tiveram suas origens nessa faseaperdetse Tna nebulosa do tempo. O ano sétimo, aplicado à agricultura, continha umasábiaprá. ca, a da alternância nas culturas, com o descanso da terra, e com isso garantindo-sea onservaào do solo. direito do primogènito à herança assegurava aintegridadetemitoral da propriedade, evitando o seu parcelamento ou pulverização em áreas menores.Tam bem já se evidenciavam inúmeras ocupaçòes, dentro de uma embrionáriaespecialização do trabalho, sendo que o Novo Testamento menciona muitas indústriaseocupações. No reinado de Salomào, a braços com a construção de obras públicas, comoestradas e pontes, foi criada uma espécie de tributo, na forma de obrigação de trabalho(corvéia) Mais tarde surgia o dizimo, cobrado em espécie, para ajudar os pobres, e acapitação, pagamento feito pelos homens, para sustento do Templo. Quando os hebreusforam subjugados, tinham de pagar impostose tributos aos faraós egípcios e aospersas.0 dízimo se fundamentava na capacidade de pagar, e a capitação era aplicada sobreos homens, independentemente de seus bens pessoais. Começavam a surgir desigualdades de bens e riquezas, condenadas por Isaías,que também denunciou seu uso supérfluo, na forma de adornos e jóias. O vocibulo tributo tinha muitos significados na Biblia, ora representandodonativos em dias festivos, ora oferenda a um senhor ou dirigente, ora representando multa,puni- ção ou confisco, revestindo-se também da modalidade de servidão perpétua ouserviço cativo. Existiam ainda as obrigações coercitivas dos judeus, em dinheiro ou emespécie, para com os seus sacerdotes. Embora prevalecesse o trabalho escravo, surgem notícias de salários. O maisantigo registro está na Escritura Sagrada, quando Labão pagou a Jacó, não em dinheiro, masem espécie (Gênesis, 29:15-20 e 30:32); ou quando a filha do faraó prometeu pagarsalárioà irmà de Moisés para que esta o criasse (Exodo, 2:9). No Levitico (19:23), vamosencontrar principio do pronto pagamento ao jornaleiro, e Jeremias (22:13) afirmava: "oassalariado pobre nào deve ser oprimido por meio do seu salário". Ainda conforme Bell, a predominância da escravatura, naqueles tempos,embora tivesse caráter patriarcal, fez com que os salários e as ocupações fossem tão poucocita dos. Também em matéria tributária, por não existir um Estado na acepção ampla,mas monarquias e governos teocráticos, inexistiram tributos. A única menção encontramosno reinado de Salomão. Mesmo assim, no Antigoe no Novo Testamento, eraenfatizadaa responsabilidade pública pelos órfäos, viúvas e dependentes. Ainda nessa asehistórica conhecida como dos tempos bíblicos, mas abrangida pela Antigüicade, que remontaao ano4000 a.C., existiam normas regulamentadoras do comércio, com graves puniçoesa fraude ou à desonestidade. Os pesos e medidas eram padronizados, com severavigiläncia contra possiveis adulteraçoes. Até mesmo regulamentações contrárias aespeculação, açambarcamentos, monopólio e elevações artificiais de preços merecem registrohistóieco José, que chegou a dirigente do Egito (1739 a.C.), contrariando tais disposiçoes,amaze nou alimentos durante os sete anos de abastança, garantindo os sete anos seguintesde fome, controlando o mercado de cereais durante 14 anos, abalando seriamente aproprie dade privada do Egito. A usura era rigorosamente proibida pelas leis mosaicas, embora na sua concepçãoorig nal se referisse a empréstimos em espécie e não às taxas de juros na concepgãomodema. Criado com Scanner Pro Evolucãohistôrica do pensamento económico A condenação da usura, implicando que não se deveria emprestar "nem à usura de dinheiro, nemà usura de comida, nemà usura de qualquer coisa que se empreste à usura" (Deuteronomio, 23:19), foi abrandada no Novo Testamento. Em uma de suas parábolas, o servo que temia perder um talento, e por issoo enterrou, foi severamente repreendido por não ter "colocado odinheiro nas màos dos banqueiros, o que faria o capital aumentar com os juros" (Mateus, 25:27). Mesmo a reação de Jesus contra os cambistas no Templo, "transformando a casa de oração em covil de ladrões" (Mateus, 21:13), deve ser interpretada contra a profanação do Templo e não pela transação em si. O dinheiro cunhado, cuja criação alguns historiadores atribuem aos líibios, e outros, aos persas, surgiu no século VIll a.C. Originariamente o dinheiro era representado por barras de ouro Ou de Prata. As mais antigas moed pela Biblia, foram o adarcão e o darquemão, ou dracma. Tudo indica terem sido provavel- mente os dáricos persas de ouro, surgidos no reinado de Dario, pesando cerca de 130 gramas, a moeda-ouro padrào até o tempo de Alexandre, o Grande. cunhadas, citadas Somente em período muito posterior é que os judeus passaram a utilizar dinheiro cunhado e próprio. Desde sua volta do cativeiro (536 a.C.), até o ano 141 a.C., no tempo de Simão Macabeu, não existia uma moeda nacional. A licença para cunhagem foi conce- dida por Antíoco VII. As moedas eram siclos e meios-siclos de prata ou ouro. A partir dos útimos anos do Antigo Testamento, já estavam em uso moedas romanas e gregas. Esse é o resumo do mundo econômico, que remonta do ano 4000 a.C. até o ano 1000 a.C., no início das civilizaçôes de Roma e Grécia. Os tempos bíblicos, como vimos, medeiam entre 2500 e 125 a.C. (Antigo Testamento) e, no primeiro século da nossa era, com o Novo Testamento. Sobre os registros humanos dessa longa era, a emergir da econo- mia dos povos mais primitivos, vivendo da caça e da pesca, em constante nomadismo, até a fase dos povos pastores (economia pastoril) e ingressando na fase da economia agrícola, os fatos e os fenômenos econômicos (dos quais os mais característicos são o trabalho e as trocas) naturalmente existiam e produziam seus efeitos. Mas não houve percepção para um aprofundamento no estudo dessa dinâmica nem para sistematização em seqüência de causa e efeito, da qual pudessem emergir leis econômicas, o que somente ocorreu com o surgimento da ciência econômica, a partir dos precursores da Escola Fisiocrata e com Adam Smith no ano 1776 da nossa era. 4.5 AS CONTRIBUIÇÕES DA CIVILIZAÇÃO GRECO-ROMANA (1000 a.C. a 476 d.C.) PARA O PENSAMENTO ECONÖMICO No segundo ciclo da história da humanidade, do ano 1000 a.C. até o ano 476 da era cristā, assinalando a queda do Império Romano do Ocidente, prevaleceu a civilização greco-romana, com importantes contribuições no estudo de idéias sobre riqueza, valor econômico e moeda. Nessa fase, pela vez primeira, surgiram as expressòes economia e econômico, va- lor e utilidade. Criado com Scanner Pro Elementos de EconomiaPoitca onforme ficou demonstrado, na Antigüidade clássica, abrangendo ascivilizaçõesmais antigas, como as de Babilônia, China, Assíria, Mesopotāmia, Fgito e outras,desdeo ano 4000 até o ano 1000 a.C., os fatos e os fenômenos económicos nãomereceram especial atenção, dadas as condições próprias dessas sociedades ainda primitivas,subjugadas por governos teocráticos e com seus povos em regime de escravidão. A atividadeeconó. mica ainda não dispunha de necessários instrumentos e instituiçòes, desenvolvendose embrionariamente, em compartimentos sociais geralmente estanques, predominandouma economia de auto-subsistëncia em agrupamentos isolados, com mercados restritosedes providos de meios de transporte terrestres e com navegação costeira, ainda nãoseaven turando ao mar aberto. A partir da civilização greco-romana, no ano 1000 a.C., nota-se umapreocupação pelos fatos econômicos, surgindo estudos embrionários sobre riqueza, valoreconômicoe moeda. Assim é que Xenofonte, pensador grego (440-355 a.C.), em sua obra Oseconómi. COs, discorreu sobre a utilidade e as riquezas econômicas, sobre a agricultura e sua impor tancia econômica, e afirmava que a riqueza estava intimamente relacionada com asneces sidades humanas. Foi o primeiro a utilizar a expressão economia e económico. Aindana Grécia, Platào (i27-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), em seus estudos eandlses, revestiram-se, respectivamente, de características socialistas e conservadoras. Platàodeli neou um Estado a ser governado por filósofos, aprovava a escravidão e preconizavaa diminuição das populações por uma depuração da raça, quer restringindo-se oscasamen tos entre os menos dotados de bens ou fortuna, quer pela eliminação dos velhos oudas crianças deficientes, por ele considerados economicamente inúteis. Foi um autênticopre cursor de Malthus e acentuava a importância da divisão do trabalho ou daespecializaçio de funçoes e ressaltava o papel de destaque a ser emprestado às elites culturais. Interessante a prevalência de certos mandamentos e normas, surgidas na Antigüide de, integrando os padròes sociais, culturais, éticos e econômicos atuais. Assimé que,nas civilizações egipcias, mesopotâmicas, hebraicas e outras, vamos nos deparar comseveras admoestações contra a avareza, o orgulho e a arrogância. São freqüentes ascondenações dos profetas contra o acúmulo das riquezas, o apelo à justiça social, a exigência dahones tidade nas transaçöes comerciais, os estimulos à beneficência e forte simpatia pelasclasses pobres. Foram normas de conduta, a par dos seus conceitas sobre a propriedade e a função dos dirigentes, que se projetaram no temp0, impregnando as culturas gregae romana, atingindo o pensamento da Idade Média e da Igreja e chegando àatualidade Foram idéias embrionárias do capitalismo e das diferentes escolas socialistasmodemas A civilização grega também trouxe, como vimos, importantes contribuiçöes AGrécia aniga, ocupando as ilhas e penínsulas do Mar Egeu, entre a Ásia Menor e a Europasuk oriental, ocupou uma das regiðes das quais se originou a maior parte da nossacivilizaçao e cultura. Os gregos foram precedidos pelos egeus, originários da Ásia Menor eÁfica cuja civilização despontou no ano 3000 a.C. Ao cessar o nomadismo das tribosprimitivas, os gregos lixaram-se na terra, cultivando-a, fundando vilas e estruturando a propriedade privada do solo. Gradativamente as vilas se desenvolveram, surgindo unidadesmaiores ou cidades (põlis). As cidades organizadas foram o equivalente grego do Estadomodemo. A cidade-estado passou a representar um poder soberano, com suas próprias leis,seus próprios exércitos e seus próprios deuses. Surgiram centenas de cidades-estados nasilhas do Mar Egeu e na costa da Asia Menor, cada uma com sua administração própria, flores Criado com Scanner Pro Evolucdohstórica do pensamernto eonómico cendo a civilização grega a partir do ano 1000 a.C. com um elevado conceito de unidade politica ideal, concebida por seus filósofos, sendo Atenas a maior das cidades-estados, ocupando a Península Ática. Com a expansão territorial grega, para o leste e oeste da área mediterrânea, intensi-ficou-se o comércio nào apenas com as ilhas vizinhas mas também com a Åfrica, Asia Menor e Itália ocidental. O Mediterrâneo transformou-se num mundo grego, e colônias gregas foram instaladas nas regiòes do Mar Báltico, França, Espanha, no Delta do Nilo e norte da Africa. Aexpansåão colonial grega determinou um sensível desenvolvimento do seu comér- cio e indústria. A cunhagem de dinheiro foi adotada no século VII a.C. O aumento nos custos do governo determinou a criação de impostos e de taxas alfandegárias. Prevaleceu a escravatura. O declínio da civilização começou com os conflitos entre suas cidades- estados. Atenas sucumbiu no ano 404 a.C., Esparta em 371 a.C. e Tebas em 362 a.C. guerra entre Esparta e Corinto foi uma luta sangrenta entre a democracia e a oligarquia. Restam, dessa civilização, muitos ensinamentos. De seus filósofos ficou-nos o comu- nismo utópico de Platão, em sua Repiblica, e seus escritos sobre a produçãoea riqueza e os seus limites; e de Aristóteles, suas análises sobre a sociedade privada, declarando que a propriedade comunal preconizada por seu mestre Platão retiraria o incentivo à produ- ção. Procedeu profundas análises sobre a teoria do dinheiro, as trocas e o valor, e sobre as funções da moeda. Foi o maior filósofo da Antigüidade e tutor de Alexandre, o Grande. 4.6 O IMPÉRIO ROMANO E SUA CONTRIBUIÇÃO AO PENSAMENTO ECONÖMICO As contribuições culturais, políticas, jurídicas e econômicas de Roma, embora nào tão valiosas quanto aquelas da Grécia, não deixaram de intluen- ciar o mundo de então, notadamente no referente à economia agrária. N históriadacivilizaçãodeRomavamosencontrarmuitosdoselementosquecarac L terizam o moderno capitalismo. Embora a história romana tenha se evidenciado mais por lutas de conquistas, construindo em primeiro estágio uma República e depois um Império mundial, dominando toda a área do Mediterrâneo, incluindo Asia Menor, norte da Africa, França (Gália), Espanha, abrangendo partes da Europa Cenural até o rio Danúbio e chegando à Inglaterra e à Escócia, suas contribuições culturais, políticas e econômicas não podem ser subestimadas. Na verdade a contribuição de Roma para o pensamento ocidental não pode ser comparada à da Grécia, que enriqueceu a civilização com sua literatura, filosofia, escultu- ra, com suas instituições políticas e administrativas. Os romanos foram principalmente Criado com Scanner Pro Elementos de tconomaP estadistas, juristas e construtores de impérios. Os 200 anos sem gueras de suahisiós (Pax Romana), perdurando do ano 31 a.C. a 180 de nossa era, favoreceu suaeconona notadamente sua agricultura. A sua expansão agricola foi uma das determinantesdae pansão do poderio politico do império. O declínio da sua agricultura toi a principalcals da sua queda. A poltica de expansão comercial de Roma, proporcionando-lhe vultos0s lCm despertou a rivalidade com o poder comercial de outros povos, notadamente deCana Os acordos comerciais foram substituídos pelos conflitos armados, retletidos nasGueT Pünicas. Consolidava-se a sua expansă cidas, aumentavam as despesas do governo, criavam-se impostos sempre maiselevadog nascia a agiotagem, a riqueza se concentrava em mãos de minorias, surgiam bancosem que as classes mercantes prósperas procediam a transações financeiras, aparecendoorg nizações especializadas para a coleta dos tributos e para contratar obras públicas.Hisora dores, comoJ. B. Breasted (Ancient times, 1944), dão-nos conta de vendas deaçõesie companhias no Fórum romano, em negócios semelhantes ao das modernas bolsasdevalb res (cf. John Fred Bell, História). comercial, as funções do dinheiro jáeramconte Interessantes semelhanças sociais com a era atual, notadamente naseconomiasdo Terceiro Mundo, são detectadas na história de Roma. A grande acumulação deriquezs pessoais determinava um hiato entre grupos sempre mais ricos e outros,representantesd maioria absoluta, dos mais pobres. Surgiam as magníficas obras suntuárias, querefletam o consumo ostensivo dos grupos mais ricos ou do Estado sempre mais poderoso,traduzidis na grandiosidade dos templos, foros, arcas e adornos, aquedutos e estradas 4.7 CAUSAS SOCIAIS E ECONÖMICAS DODECLÍNIO E QUEDA DO IMPERIO ROMANO Concentração das riquezas, abandono do campo, tributos excessivose opressiva intervenção do Estado foram causas determinantes daderoca- da da civilização de Roma. grande sustentáculo econômico do Império Romano, amainadas asgueras,aindi se encontrava nos campos e na pequena agricultura. Mas os pequenos emédis proprietários de terras, empobrecidos pelos tributos crescentes, muitos delesperdendoa vida nas guerras em terras distantes, foram cedendo lugar aos grandes proprietários,su gindo os latifúndios improdutivos, apesar de os nobres, ao se apossarem das teas,en pregarem mais intensamente o trabalho escravo. Mėsmo assim, expulsos ospequens proprietários para as cickades, Os campos despovoaram-se e a produçio de cereaisdea Não havia estimulos com a mão-de-obra escrava e também ocortin a importação dePe dutos agricolas de regiöes da Africa e Sicília. Criado com Scanner Pro Evolucão histórica do pensamento econômico Surgiam as crises de escassez de alimento para o povo. Os antigos pequenos proprie tários passavam à condição de colonos dos grandes senhores latifundiários, transforman- do-se em servos da terra. A queda de Roma teve como uma de suas principais causas o declínio da sua agricul- tura. Também a intervenção estatal com um excesso de regulamentações e um sistema opressivo de tributos foram causas a influenciarem o declínio do império, gerando insatis- fações e convulsões sociais. A civilização romana conheceu duas fases distintas- a agrária e a urbana. As ativi- dades comerciais foram intensas e a agricultura despertou estudos de Plínio, Catão, Var- rão, Columela e outros, interessados não apenas em aperfeiçoar métodos e processos agricolas como em reformar o sistema de propriedade da terra. Reformas agrárias foram tentadas por Caio Graco e Tibério Graco, nos anos 133 a 123 a.C. Plínio, o Antigo (79-23 a.C.), dizia que o latifúndio destruiu a Itália. Foi quando os proprietários ricos passaram a absorver as propriedades próximas, de pequenose médios proprietários, à força ou por toda a sorte de pressões e subterfúgios. Catão (234-149 a.C.) combateu a grande proprie- dade e chegou a enumerar as características ideais da média e pequena propriedade rural. Todos esses escritores previram o empobrecimento social e do Estado, defendendo uma "volta à terra". Apesar disso, prosseguia o êxodo rural e aumentavanm as necessidades urbanas de alimentos. De Roma recebemos como principal legado suas normas jurídicas. O Direito Roma- no atravessou os séculos, impregnando as legislações modernas, passando a ter especial significado para o pensamento econômico moderno e o capitalismo, uma vez que as atividades econômicas repousam na sanção legal, o mesmo ocorrendo com as instituições capitalistas e quando o próprio Estado é um conceito politico legal. A sistemática jurídica romana evoluiu desde a fundação de Roma (753 a.C.) durante 13 séculos seguidos, até a morte de Justiniano (565 d.C.), após a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). As Leis das Doze Tábuas, codificadas no ano 450 a.C., marcam o início do Direito Romano. O jus civile foi sendo estratificado de 450 a 330 a.C., representando a lei para os cidadãos romanos, de suas normas ficando excluídos ós estrangeiros. Pelo crescente afluxo de estran- geiros, mais tarde surgia o jus gentium, leis comuns a todas as nações (336 a 31 a.C.). Finalmente, com Justiniano, surgia o Código que levou seu nome, conhecido por Corpus Juris Civilis, que chegou a tabelar juros, sendo que o imperador Diocleciano, com seus famosos editos, também tabelou preços, estabelecendo o conceito do justo preço, com base numa taxa de lucro excedente ao custo de produção. A grande concentração das riquezas por grupos minoritários, as grandes proprieda- des rurais improdutivas, a servidão dos pequenos e médios agricultores, a separaçãosempre maior entre ricos e pobres e a crescente escassez de alimentos foram causas econômicas do declínio do Império Romano que, conjugadas com causas políticas, deter- minaram a sua queda e subjugação pelas hordas bárbaras vindas de todas as direções, por mar e por terra. Encontraram terreno fácil com a anarquia interna, tumultos e insurreições nas cidades e nos campos e devido, ainda, à ruptura da unidade moral da sociedade, mais acentuada pela perseguição aos cristãos. Ruíam as indústrias, despovoava-se o campo, as cidades eram saqueadas, rompia-se a estrutura legal e econômica do império. A ausência de liberdade e o domínio da injustiça, a subjugação do cidadão e da economia pelo Criado com Scanner Pro Elementos de EconomiaPolitica governo aceleraram ainda mais a queda de Roma, e de muitas de suas instinuições. Impos tos opressivos, abandono do cannpo, tabelamento de preços, fixaçâo de salárioscausaram danos irreversíveis às estruturas e à moral dos próprios cidadãos. A queda de Roma coincidiu com o nascimento do Cristianismo, que surgiu das ruínas do Império Romano, transformando a orgulhosa cidade dos césares em centro do maior movimento revolucionário no mundo, legalmente reconhecido pelo imperador Constantino, no ano 311, então residindo na nova sede do império, em Constantinopla 4.8 AECONOMIAMEDIEVAL A partir da queda do Império Romano do Ocidente, no ano 476, tinha início um dos períodos mais longos na história da humanidade, conheci do por Idade Média, ou sistema feudal. A economia monetária e de preços substitufa aquela das trocas diretas, consolidando-se o sistema salarial e germinando as características capitalistas da economia moderna. om a queda do Império Romano, no ano 476, teve início uma importante faseda história da humanidade, conhecida por Idade Média. Esse longo periodo, queperdu rou por dez séculos, ou mil anos, foi um dos mais importantes, pois do ano 500 aoano 1500 ocorreu a junção das culturas de muitos povos, bárbaros ou não civilizados, que afluíram para o Império Romano já em ostensivo declínio. Enquanto visigodos,ostrogodos, teutoes ou germanos e os francos localizavam-se na parte ocidental da Europa, a panesul era conquistada pelos muçulmanos, que fecharam o Mediteraneo às populaçõesocidentais Os cinco séculos seguintes à queda de Roma, do ano 500 ao ano 1000, foramde grande ebulição, assinalados por migrações, guerras, absorção de povosconquistados, OcorTendo uma grande fusao de povos e de culturas. Aumentavam as necessidadeseco nomicas e politicas e desenhavam-se os contornos dos futuros Estados da EuropaOciden tal. Abria-se uma nova era para a humanidade, com uma nova concepção de vida, o Cristianismo, nascido coma queda de Roma. Seus ensinamentos, a partir da sualegaliza cao por um decreto do ano 311, passarama ser disseminados por toda a Europa,crescen- do em vigor e em influência. Conforme Bell, "Igrejas e mosteiros foram estabelecidos e tornaram-se poderosos.A greja provou ser o maior agente de perpetuação da culura, disseminação do sabere desenvolvimento da administração pública. Com o tempo os bispos da Igrejaassumiram poderes tanto temporais como seculares". A orgulhoOsa civilização romana havia desaparecido, mercê de seus errossociais, polticos e económicos. O declinio da agricultura, substituida pela economia urbana,foi uma das principais causas económicas dessa débácle. Outras de natureza social e politict Criado com Scanner Pro Evouco historica do pensamento econdmico são assinaladas pelos historiadores. "A população romana diminuía; as negociatas e a comupção degradaram a cidadania; os negócios declinaram; a moeda ficou sem lastro; o abastecimento de metais preciosos tornou-se inadequado, os preços mostraram-se incer- tos e prevaleceu o caos econômico" (Bell, História). Não admira que a anarquia política nascesse desse caos econômico e social, transformando o antes todo-poderoso Estado em presa fácil dos bárbaros do norte e permitindo aos muçulmanos penetrarem posterior- mente pelo sul. O Cristianismo trouxe um novo conceito da dignidade humana ao condenar a escra- vatura e ao defender a fraternidade entre os homens. Do mesmo modo condenava a acumulação de riquezas e a exploração dos menos afortunados. Tais ensinamentos eram verdadeiramente revolucionários, contrapondo-se ao pensamento grego e romano, favo- rável à escravidão e contrário aos princípios da dignidade do trabalho e das ocupações. A lgreja passou a exercer grande influência civilizadora, disseminando as artes, o saber e exaltando as virtudes. Muitos entendem de modo contrário, julgando que esses dez séculos caracterizam uma fase obscurantista na história. Na verdade ocorreu um retorno à atividade rural. A Igreja, por intermédio dos seus conventos e mosteiros, tornou-se proprietária de grandes áreas. Além de centros de estu- dos e de meditação, esses mosteiros representaram os núcleos em torno dos quais sur- giam novas cidades, multiplicando-se as ocupações, progredindo o artesanato traduzido em templos magníficos e em repositórios de arte, admirados até hoje. A terra transformou-se na riqueza por excelència. Retornava-se à economia agrária, acentuada a partir do século VIIL. Nascia o regime feudal, caracterizado por propriedades onde os senhores e os trabalhadores viviam indiretamente do produto da terra ou do solo. Erammédias ou grandes propriedades rurais, auto-suficientes econômica e politicamente, obedientes à autoridade do senhor ou proprietário e nas quais os servos exerciam suas atividades agricolas ou artesanais. Eram os nobres os senhores, daí denominarem-se os feudos baronias ou ducados. O soberano, embora dirigisse o Estado, não possuía influên- cia ou poder de decisão nos feudos, onde a autoridade máxima era a do senhor da gleba e onde trabalhavam, fraternalmente, os seus servos. 4.9 IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÖMICA DAS CRUZADAS As Cruzadas representaram a reação dos países católicos, que, a partir do ano 1096, objetivaram a reconquista da Terra Santa e a abertura do sul do Mediterräneo aos povos ocidentais, fechado pelos islamitas, ou muçulma- nos. Tiveram significativa importância, ampliando as possibilidades de comércio com a Ásia Menor e o norte da Áftica possibilitando o retorno do medievalismo à economia urbana. Criado com Scanner Pro Elementos de tconoma Poltca Dara romper o domínio islamita, ou muçulmano, sobre a área do Mediterrâneo, formá. ram-se as legiðes das Cruzadas. As Cruzadas tiveram início n ano 1096,objetivando a reconquista da Terra Santa e a restauração do Cristianismo. Suas conseqüencias econó. micas também foram significativas. Novos mercados se abriam e o comércio voltava ao seu antigo esplendor. Ressurgiam as cidades e a economia feudal, caracterizando a fase agrária do primeiro período da Idade Média (500 a 1000), cedia lugar à economia urbana. As populações se adensavame os excedentes passavam a servir de intercâmbio entre as sociedades até então isoladas. Com as Cruzadas tinha início o declínio dos senhores feudais. Aeconomia das cidades atingia altos níveis. Surgiam os grandes centros comerciais, traduzidos inicial. mente nas famosas feiras medievais, realizadas ao lado dos castelos feudais ou dos mosteiros, atraindo mercadores de todas as regiòes, as mais distantes, apesar da precarie- dade dos transportes e do perigo dos salteadores. Nasciam as regras e leis reguladoras das trocas, dos empréstimos, do crédito e do câmbio. Foi nessa fase que passaram a emergir as características do Estado moderno e é nela que os pesquisadores vào encontrar os primórdios do capitalismo. Isso porque a econo- mia monetária e de preços passava a substituir a economia de escambo ou de trocas diretas, de produto por produto. Consolidava-se a propriedade dos meios de produção e O sistema salarial tornava-se regra. A Igreja fez-se presente, com os seus rígidlos principios de justiça comutativa, pres- crevendo regras garantidoras tanto para o comprador como para o vendedor. Asmercado- rias deviam ser vendidas pelo preço mais aproximado aoseu custo de produção (justum pretium). Os salários, por representarem elemento preponderante nesse custo, deviam, também, ser o quanto possível justos, garantindo ao trabalhador uma remuneração con- digna, de modo a mantê-lo em sua própria classe social. Também o lucro devia ser justo, reprimindo-se os excessos de concorência, a especulação e as práticas monopolistas Com o desenvolvimento do comércio incentivava-se a indúsıria, e com a conjugação dessa atividade impulsionou-se a expansão econômica. No fim da ldade Média, comas descobertas, nasciam o comércio mundial e o capitalismo moderno. Portanto, foi na Idade Média, conhecida por era medieval, com prevalência do siste ma feudal (feudalismo), que nascia o capitalismo. Em sua primeira fase,caracteristicamen te de natureza agrária, não se observaram grandes surtos econðmicos. A produção era manufatureira, estando a cargo dos artífices ou artesaos. Pelas dificuldades de transporte, Os agrupamentos sociais exercitavam uma economia de auto-suficiência, não havendo preocupaçoes por riquezas, pois a moral religiosa continha os excessos de bens e a Ostentação. O rompimento do domínio muçulmano sobre o Mediterrâneo, a partir dlasCruzadas, ampliou as possibilidades de comércio daquelas unidades políticas e econômicas repre- sentadas pelos feudos. Os servos da gleba passavam à condição de arrendatários, apro dução apresentava excedentes, as vias de comunicação ampliavam-se, facilitando o inter câmbio entre os feudos, surgiam novas cidades, e a economia urbana, a assinalar asegun- da fase medieval, a partir do ano 1000, multiplicava a produção e a especializaçāo de funções pelo incremento da divisão do trabalho. A economia monetária substituía a economia natural, das trocas dliretas. O trabalho também assumia suas caracteristicas Criado com Scanner Pro Evotucãohistonica do pensamento econðmico atuais, passando a ser remunerado por uma contraprestação em dinheiro. Nasciam as corporações de artes e oficios, embriðes do moderno sindicalismo, enquanto os pa- troes ou mestres associavam-se para a defesa dos seus direitos. 4.10 AS cORPORAÇÕES DE ARTES E OFÍCIOS E OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA CANÖNICA Na fase da economia urbana medieval ocorreu um incremento do artesa- nato, pela crescente especialização dos trabalhadores. Patrões e emprega dos, então denominados mestres e artifices, conviviam fraternalmente. As relações entre o capital e o trabalho eram praticamente familiares e a economia da época obedecia a rígidos princípios morais, emanados da doutrina canônica e dos doutores da Igreja. om as Cruzadas, como vimos, a área do Mediterrâneo ficou livre do cerco e do Udomínio dos muçulmanos, ampliando-se as oportunidades de comércio com a Asia Me- nor e o norte da África. Ressurgia a economia urbana e dinamizava-se a ativicade econômica. Apesar desse progresso, ainda nãao havia ocorido uma dissociação entre o capital e o trabalho. As relações entre os patrões, ou mestres, e os trabalhadores, ou artífices, eram fraternas. Era comum o artífice, em sua fase de aprendizado, ser acolhido na casa do mestre, com ele coabitando como seu familiar, e até mesmo solicitando sua autorização para casar. Após a fase do aprendizado e realizando uma manufatura considerada perfeita por um conselho de mestres, o artífice poderia galgar à posição de mestre ou patrão, tornando-se produtor autônomo. Vale ressaltar o papel desempenhado pelas coporações de artifices e de produtores e mercadores. Elas tiveram grande importância para o surto do modermo capitalismo. O comércio então já era realizado por meio de dinheiro, instrumentos de crédito e sistemas ainda imperfeitos de contabilidade. Realizavam-se empréstimos, utilizavam-se cartas de câmbio para transações entre praças diferentes, de modo a evitar-se a remessa de nume- rărio, pelo perigo oferecido nas estradas por parte dos salteadores. O lucro já era perse- guido e o empréstimo a juros passava a ser usual, apesar das proibições da lgreja contra a usura. O sistema salarial tornava-se regra e a produção começou a centralizar-se em grandes grupos de estrutura complexa. Em muitos casos os salários eram fixados pela autoridade política da cidade ou pela autoridade eclesiástica, sendo severas as penas contra a especulação ou as manobras fraudulentas no comércio, notadamente as práticas monopolistas. Nascia o motivo-lucro. As atividades econômicas, notadamente a partir dos séculos XI e XII, foram signilica- tivamente afetadas pela doutrina canônica da Igreja, fruto do escolasticismo. Os escolásticos, Criado com Scanner Pro Elementos de tconoma Poltbca cujos integrantes de maior destaque foram Santo Tomás de Aquino (1225-1274) eNicolau Oresmo (1320-1382), defenderam a aceitação da filosofia e da ciência gregas e muçulma nas, especialmente as de Aristóteles. Adotaram um método dialético e um raciocinio silogístico para apresentar suas doutrinas, procurando reconciliar a fé com a razão, orga. nizando todos os conhecimentos dentro da teologia, autoridade suprema. Na doutrina e filosofia dos escolásticos é que vamos encontrar, dentro daeconomia a codificação das leis e regras temporais que iriam balizar, por muitos séculos, astransa çoes comerciais e a atividade econômica dos homens. Principalmente Santo Tomás de Aquino, em sua Suma teológica, procurava reconciliar o dogma teológico com as condi- çoes reais da vida econômica. A partir da obra desses escolásticos, com a aplicação na ldade Média após o século XII da doutrina canônica, passavam a estratificar-se os princi pais norteadores do moderno Capitalismo. Assim é, conforme John Fred Bell- que tanto utilizamos neste retrospecto históri co que Santo Tomás de Aquino, concordando com Aristóteles, declarava que aposse da propriedade privada não contrariava a lei natural. E mais, enfatizava ser desejável a produção sob o sistema da propriedade. A riqueza deveria ser utilizada para conduzir o homem a uma vida vituosa e o comércio seria atividade licita, mesmo perseguindo um lucro, desde que exercitado para manter a vida da família ou em beneficio do país. 0 valor era considerado como inerente à mercadoria e visando o preço justo a refletir o custo de produção, dando origem a uma teoria do valor de troca com base nessemesmo custo. O corolário dessa concepção era a justificativa moral do comércio, visando o bem comum e garantindo igual vantagem para ambas as partes intervenientes na operação de compra e venda. A usura e as fraudes eram repelidas. Quanto aos salários, a doutrina canônica estabelecia o princípio de que "digno éo obreiro do seu salário" (Lucas, 10:7). Preconizava também o pagamento pontual, com base na regra do Antigo Testamento de que os jornaleiros deveriam ser pagos antes do pôrdo-sol (Deuteronômio, 24:14-15) e em quantia justa, isto é, a necessária para que o trabalhador mantivesse o seu padrão de vida. Santo Tomás de Aquino reconhecia que tal salário justo era parte componente do custo de produção e determinante do preço. Outro destacado doutor da Igreja, o clérigo francês Nicolau de Oresmo, tambémteve idéias avançadas sobre economia, caracterizando o dinheiro como medida de troca e ressaltando a utilização do ouro e da prata para a cunhagem da moeda, por suas qualida- des intrinsecas, estabelecendo regras sobre o custo dessa cunhagem e preconizando san- oes contra a sua falsificação. No final da Idade Média, nascia a era dos descobrimentos e expansão dosmercados. Nascia a sociedade capitalista e a economia nacional a substituir a doméstica, comespe cial énfase à indústria e ao comércio. A mão-de-obra emergia da escravidão e da servidào para sua atual condição de liberdade dependente do sistema salarial. A partir da Renascença, "muitos dos seculares ensinamentos e práicas religiosas cederam lugar ante o crescimento inevitável de uma economia capitalista. As práticasda cobrança de juros eram mais fortes do que as teorias a elas contrárias, e o conceito do preço justo, baseado no custo de produçăão, em sentido restrito, incluía, a essa altura, um lucro. Cessoua énfase dada à interpretação asceta das necessidades, sendo encontrada mais felicidade em satisfazê-las do que em as reprimir. Com a Reforma veio a liberalização Criado com Scanner Pro Evotucãohistónica do pensamento económico ma- inig do dogma religioso, não mais podendo a Igreja se interpor no caminho do crescimento do comércioe dos negócios. A lgreja fez concessðes, mas não podia abandonar seus princí- pios básicos. Ela e a religião tornaram-se finalmente coisas separadas de outra fase do pensamento construída essencialmente sobre atividades formadoras de riqueza. As práti- cas econômicas passavam a abrir o seu próprio caminho em um emaranhado de teologia, ensinamentos éticos e conceitos legais de justiça, de modo a assentar as bases da análise e do pensamento econômico independentes" (John Fred Bell). A partir de então, no início do século XVI, nasciam os Estados novos e fortes e a fase conhecida por sistema mercantil ou mercantilismo. Floresciam as artes, a poesia e as ciências. Ainda na fase medieval, merece ser lembrado que o então superior dos dominicanos, Raymond Pennafort, persistia na condenação do juro, enquanto Santo Tomás de Aquino tendia a adaptar o pensamento teológico às novas condições econômicas de um mercado a ampliar-se, preconizando a utilização social da propriedade. Gradativanmente a cobrança dos juros passou a ser tolerada, com base nos riscos inerentes aos empréstimos. Oficial mente, porém, somente em meados do século XVIII a Igreja passou a concordar com a cobrança dos juros. 4.11 MERCANTILISMO O mercantilismo foi um regime de nacionalismo econômico.Fazia da riqueza o principal fim do Estado. Assinalou, na história econômica da humanidade, o início da evolução dos Estados modernos e das novas concepções sobre os fatos econômicos, notadamente sobre a riqueza. om o crescimento e o desenvolvimento das cidades, com o incremento do intercâm- bio nāo apenas entre comunas próximas, mas cada vez mais distantes, e com a des- coberta das terras do Novo Mundo, a fisionomia social, econômica e política da época, tão profundamente moldada pelo medievalismo que preponderara por dez séculos, passou a sofrer profunda transformação. Novos conceitos surgiam em matéria comercial e de pro- dução. E, à medida que enfraquecia o sentimento religioso, operava-se uma centralização políitica, observando-se a criaçāo das nações modernas e das monarquias absolutas, ger- mes do capitalismo moderno. A fase do mnercantilismo foi uma decorrência do cresci- mento do capitalismo comercial, representando, com o capitalismo industrial do início do século XVII, a economia politica pré-clássica. A economia particularista da sociedade medieval, a partir do fortalecimento das comunidades nacionais, e a cisão ocorrida no universalismo do poder espiritual da Igreja, decorrente da Reforma e da expansão do mundo pelas descobertas e a revolução técnica, determinaram o declínio do feudalismo como sistema de produção. Novos métodos na agricultura, a acumulação do capital comercial pelo incremento do comércio internacio- Criado com Scanner Pro Elementos de EconomiaPoitica Ovosnal, o surgimento da figura do empresário ou do grande mercador que determinavanovd processos de produção, substituindo pequenas unidades isoladas e métodos primitivosde transformação, modificaram por completo o principio até entao predominante emmatéria de criação e circulação das riquezas. A organização comercial passou a ser o centroda atividade ou da vida econômica, e a riqueza, o centro da vida social. Essas, pois, as circunstâncias que determinaram a eclosão da doutrina mercanilista afirmando que a arte de governar deve aplicar-se no sentido da acumulação dasmoedas e dos metais preciosos. A finalidade precípua do Estado, no entender dosmercantlistas deveria ser a de encontrar os meios necessários para que o respectivo país adquirissea maior quantidade possível de ouro e prata. Em tal sentido foram baixadas dezenasde regulamentos, procurando disciplinar a indústria e o comércio, impedindo ao máximoas importagoes e favorecendo as exportações. Pretendiam os mercantilistas que a balança comercial fosse sempre a mais favorável possível, pois nào ignoravam que aeventual vantagem da exportação sobre a importaçăo representaria, sem dúvida, umacompensa- ção em ouro e prata. Conforme Theobaldo Miranda Santos, a concepção mercantilista, considerando os metais preciosos como a base de toda a riqueza nacional, levou as nações a absorver o comércio e a indústria, que passaram a representar ramos da administração pública. A escola mercantilista, que foi no campo da economia um reflexo da revolução ideológica do Renascimento e da Reforma, foi a precursora do capitalismo de Estado que viria a florescer no século XX, na forma de um neomercantilismo. O mercantilismo recebeu seu nome da palavra latina mercator (mercador), umavez que considerava o comércio como a base fundamental para o aumento dasriquezas Também é denominado colbertismo, por ter sido aplicado na França por Colbert,minis- tro de Luís XIV, como o fora na Inglaterra por Cromwell. Renasceu, modernamente, soba denominação de neomercantilismo. Na verdade, a grande maioria das modernas na- ções procura fomentar o seu comércio e a indústria, mediante leis de favorecimento e incentivOs. Foram os mercantilistas os primeiros a estabelecer, na era moderna, os princípios de uma politica econômica, emprestando grande relevo ao Estado, de cujo poderiodepende a riqueza da nação. Para eles o indivíduo era simples instrumento da riqueza nacional, enquanto no liberalismo o indivíduo se transforma no agente privilegiado da atividade econômica. O mercantilismo predominou até o início do século XVII, quando ocorreu uma reação contra os excessos do absolutismo e das regulamentações. Durante suaprevalência, revestiu-se de diferentes formas: a) o mercantilismo espanhol, também conhecidopor bulionismo, palavra derivada do vocábulo inglês bullion, significando lingote. Seusteo* ricos principais foram Ortize Olivares, preconizando a proibição da exportação de lingo tes de ouro, para incremento da riqueza interna; b) o mercantilismo inglês, cujos prin cipais adeptos foram Thomas Mun, J. Child e W. Temple, pretendendo um cotinuado balanço mercantil favorável, pelo incentivo às exportações, por meio de contratos de importações com cláusula obrigando o país vendedor a adquirir certos volumes demerca dorias inglesas; c) o mercantilismo francês, cujos principais teóricos foram J. Boin eA. Montchrétien. Diferentemente do inglės, que era comercialista, o mercantilismo francés Criado com Scanner Pro 49Evouçaohistónicado pensamento econðmico foi industrialista, procurando estimular a indústria interna, por meio de monopólios estatais, como temos exemplo com a indústria de porcelana de Sevres e os tapetes Gobelin, na França, na época de Colbert, razào pela qual esse mercantilismo foi também conhecido por colbetismo, como vimos antes. O Brasil-Colônia foi influenciado pelo mercantilismo, o qual obrigava o comércio colonial exclusivamente por internmédio das metrópoles. Somente com a chegada de D. Joào VI ao Brasil foram eliminadas as restrições mercantilistas, permitindo-se a instalação de indústrias nativas e o comércio direto com as demais nações. 4.12 ESCOLA FISIOCRATA Fisiocracia significa governo da natureza. Foi o primeiro sistema cientí-. fico em economia a substituir o empirismo dos mercantilistas. Representa o individualismo econômico, gerador do liberalismo capitalista. onforme Weber, "não se pode considerar como ciència o conjunto de preceitos de upolítica prática que surgiu nos séculos XVI e XVII e conhecido, comumente, pelo nome de mercantilismo". A partir do século XVII, com a doutrina dos fisiocratas, é que a ciência econômica foi constituída num conjunto de leis, operando-se a sua definitiva constituição. Guitton declara que a Escola Fisiocrata teve o grande mérito de apresentar, pela primeira vez, na segunda metade do século XVII, uma concepção sistemática da ciência econômica. É,pois, cronologicamente, a primeira de todas as escolas econômicas. Afirmavam os fisiocratas a existência de uma ordem natural, reguladora dos fenô menos econômicos. Declarando tal ordem providencial, isto é, que a vida econômica se organiza e reorganiza automaticamente, daí deduziram a sua primeira contribuição de vulto-o não-intervencionismo do Estado na vida econômica, que iria transformar-se no célebre lema dos clássicos: laissezfaire, laissez-passer. O movimento fisiocrático representou uma reação contra o empirismo e o estatismo mercantilista, defendendo a plena liberdade da atividade economica. Conforme Souza Gomes, "as grandes perturbações econômicas, trazidas pela aplicação do mercantilismo, provocaram forte reação, que se orientou em três sentidos principais: de caráter cientifico, contra a precaução exclusiva da 'arte econômica' ou economia aplicada; liberal, contra o abuso intervencionista; individualista, contra a absorção do indivíduo pelo Estado. Nota- va-se a necessidade de procurar a explicação científica para os fenômenos econômicos. Mas só em meados do século XVIIl se afirma a reação científica, soba forma de uma teoria e doutrina que tomará o nome de liberalismo e individualismo econômicos. Na França essa doutrina surgirá com o nome de fisiocrata e, na Inglaterra, com o nome de Escola Clássica" (0 que devemos conbecer de moedas, preços e bancos, p. 45). Criado com Scanner Pro Elementos de EconomaPoltca Outrossim. para os fisiocratas, somente a terra ou a natureza representam um fator economico produtivo. Por força desse princípio, apenas as atividades diretamente relacio nadas com a terra, como as agricolas e extrativas, eram economicamente produtivas, visto que, no seu entender, só da terra poderia resultar um produto liquido, isto é, umexcedente resultante da riqueza criada sobre a riqueza consumica. O interesse individual foi levadoàs ltimas conseqüências, tanto que as suas concepçoes teoricas partiam do pressupostode que o interesse pessoal,. para encontrar o que Ihe é mais vantajoso, deve ser deixadoentre. gue a si mesmo, e que o justo preço depende da livre concorrência. Entendiam, ainda,que, sendo os fenômenos econômicos providencialmente ordenados (ordem natural), a vida econômica se organiza naturalmente. A fisiocracia foi, assim, uma doutrina organicistae naturalista, influenciada pelo racionalismo do século XVI, essencialmente libertário,disse minado pelos enciclopedistas. Como conseqüência de ordem prática, emanada doprincipio da prevalência da agricultura como fonte de riqueza, decorreu a teoria do imposto único, que deveria incidir sobre a renda da terra, na modalidade de tributo teritorial. François Quesnay, nascido em 1694 e falecido em 1774, foi o fundador dafisiocracia e por muitos é considerado como o fundador da economia verdadeiramente científica.Ao menos foi quem primeiro considerou, de modo unitário, os fatos e fenômenoseconômi- cos. A circulação das riquezas foi tratada pela primeira vez por Quesnay, que eramédico de profissão. Igualmente franceses foram outros destacados fisiocratas (oueconomistas, como se denominavam)-Turgot, Dupont de Nemours, Mércier de la Rivière eMirabeau. 4.13 EScOLA CLASSICA OU LIBERAL Contrariando a Escola Fisiocrata, a Escola Liberal ou Clássica afirmou que a verdadeira fonte de riquezas é o trabalho. Tal corrente, denominada individualista, prega a iniciativa individual como base do progresso e da evolução social e econômica. A Escola Liberal, Clássica ou Individualista surgiu com as obras de Adam Smith eDavid LARicardo, respectivamente em 1776 e 1817. Refutando o unilateralismo fisiocrático produtividade preponderante e exclusiva do fator natureza), embora concordandocom as críticas dessa corrente contra o mercantilismo, os economistas clássicos, lideradospor Smith, passam a investigar as leis naturais que dominama vida econômica. Afirmamque O seu principio regulador se encontra na livre concorrência, que por sua vez conduz a divisão do trabalho, sendo esse o fator verdadeiramente produtivo, o verdadeiroagente da produçao; e a natureza seria o fator originário. Desenvolvem, a seguir, a suafamosa teoria do câmbio e o seu sistema de relações econômicas. Quatro grandes princípios dominam a teoria liberal econômica: liberdade deempres propriedade privada; liberdade de contrato e liberdade de câmbio. Sobrepairando a as princípios fundamentais da economia clássica, encontramos a lei da oferta e daprocura Criado com Scanner Pro
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