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Anamnese DEFINIÇÃO • Anamnese (aná = trazer de novo e mnesis = memória) significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e a pessoa doente. • De início, devesse ressaltar que a anamnese é a parte mais importante da medicina: primeiro, porque é o núcleo em torno do qual se desenvolve a relação médico paciente, que, por sua vez, é o principal pilar do trabalho do médico; segundo, porque é neste momento que os princípios éticos passam de conceitos abstratos para o mundo real do paciente, consubstanciados em ações e atitudes; terceiro, porque é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico somente é bem utilizado se o lado humano da medicina é preservado. ❖ Possibilidades e objetivos da anamnese ✓ Estabelecer condições para uma adequada relação médico-paciente ✓ Conhecer, por meio da identificação, os determinantes epidemiológicos do paciente que influenciam seu processo saúde-doença. ✓ Fazer a história clínica registrando, detalhada e cronologicamente, o problema atual de saúde do paciente. ✓ Avaliar, de maneira detalhada, os sintomas de cada sistema corporal. ✓ Registrar e desenvolver práticas de promoção da saúde. ✓ Avaliar o estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais, familiares e ambientais que influenciam seu processo saúde- doença. ✓ Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem como suas condições socioeconômicas e culturais. Em essência, a anamnese é uma entrevista, e o instrumento de que nos valemos é a palavra falada. A anamnese é um instrumento para a avaliação de sintomas, problemas de saúde e preocupações, e registra as maneiras como a pessoa responde a essas situações, abrindo espaço para a promoção da saúde. ❖ A anamnese pode ser conduzida das seguintes maneiras: ✓ Deixar que o paciente relate livre e espontaneamente suas queixas sem nenhuma interferência do médico, que se limita a ouvi-lo. Essa técnica é recomendada e seguida por muitos clínicos. A medicina narrativa é inteiramente baseada nesta técnica. O psicanalista apoia se integralmente nela e chega ao ponto de se colocar em uma posição na qual não possa ser visto pelo paciente, para que sua presença não exerça nenhuma influência inibidora ou coercitiva. ✓ Conduzir a entrevista de maneira mais objetiva, técnica denominada anamnese dirigida, tendo em mente um esquema básico. O uso dessa técnica exige rigor técnico e cuidado na sua execução, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas. ✓ Outra maneira seria o médico deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo. TEMPO DE DURAÇÃO Nas doenças agudas ou de início recente, em geral apresentando poucos sintomas, é perfeitamente possível conseguir uma história clínica de boa qualidade em 10 a 15 min, ao passo que nas doenças de longa duração, com sintomatologia variada, não se gastarão menos do que 30 a 60 min na anamnese. SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE A anamnese se inicia com perguntas do tipo: “O que o(a) senhor(a) está sentindo?”. Isso parece fácil, mas, tão logo o estudante começa seu aprendizado clínico, ele percebe que não é bem assim. Não basta pedir ao paciente que relate sua história e anotá- la. Muitos pacientes têm dificuldade para falar e precisam de incentivo; outros – e isto é mais frequente – têm mais interesse em narrar as circunstâncias e os acontecimentos paralelos do que relatar seus padecimentos. Aliás, o paciente não é obrigado a saber como deve relatar suas queixas. O médico é que precisa saber como obtê-las. A resposta do paciente quase sempre nos coloca diante de um sintoma; portanto, antes de tudo, é preciso que se tenha entendido claramente o que ele quis expressar. A informação é fornecida na linguagem comum, cabendo ao médico encontrar o termo científico correspondente, elaborando mentalmente um esquema básico que permita uma correta indagação de cada sintoma. ❖ Elementos componentes da anamnese • Identificação ✓ Nome: é o primeiro dado da identificação. Registra-se o nome completo do paciente, sem abreviações. ✓ Idade: registra-se em dias ou meses, no caso de crianças abaixo de 1 ano de idade e em anos, no caso de indivíduos acima de 1 ano de vida. ✓ Sexo/gênero: registra-se masculino ou feminino. ✓ Cor/etnia: branco, pardo, preto, etnia indígena, etnia asiático... ✓ Estado civil: registram-se as opções: casado(a), solteiro(a), divorciado(a), viúvo(a) e outros. Os outros podem ser: separado(a) – sem homologação do divórcio ou companheiro(a) – pessoa que vive em união estável. ✓ Profissão: é a atividade exercida pelo paciente, de forma profissional, e habilitada por um órgão legal competente. Exemplos: médico, professor, engenheiro, eletricista etc. ✓ Ocupação atual/Local de trabalho: a ocupação refere-se à atividade produtiva a que o paciente exerce, ao trabalho do dia a dia, suas atribuições. Exemplo: um profissional educador físico, que exerce, atualmente, a ocupação de personal trainer ou de preparador físico. Neste item também pode-se registrar casos especiais, em que o paciente não está exercendo suas atividades profissionais, devido a licença trabalhista ou aposentadoria. ✓ Naturalidade: local onde o paciente nasceu. ✓ Procedência: este item geralmente refere-se à residência anterior do paciente. Por exemplo, ao atender a um paciente que mora em Goiânia (GO), mas que anteriormente residiu em Belém (PA), deve-se registrar esta última localidade como a procedência. ✓ Residência: anota-se a residência atual (nesse local deve ser incluído o endereço do paciente). ✓ Nome da mãe: anotar o nome da mãe do paciente é, hoje, uma regra bastante comum nos hospitais no sentido de diferenciar os pacientes homônimos. ✓ Nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante: o registro do nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante de crianças, adolescentes, idosos, tutelados ou incapazes (p. ex., problemas de cognição) faz-se necessário para que se firme a relação de corresponsabilidade ética no processo de tratamento do paciente. ✓ Religião: a religião à qual o paciente se filia tem relevância no processo saúde doença. Alguns dados bastante objetivos, como a proibição à hemotransfusão em testemunhas de Jeová e o não uso de carnes pelos fiéis da Igreja Adventista, têm uma repercussão importante no planejamento terapêutico. ✓ Filiação a órgãos/instituições previdenciárias e planos de saúde: ter conhecimento desse fato facilita o encaminhamento para exames complementares, outros especialistas ou mesmo a hospitais, nos casos de internação. • Queixa principal Neste item, registra-se a queixa principal ou o motivo que levou o paciente a procurar o médico, repetindo, se possível, as expressões por ele utilizadas e a duração. Como perguntar: • “Qual o motivo da consulta?” • “Porque o(a) senhor(a) me procurou?” • “O que o(a) senhor(a)está sentindo?” • “O que o(a) está incomodando?” Exemplos de queixa • “Dor de estomago há 3 dias” • “Dor de cabeça há 6 meses” • “Falta de ar há 1 ano” • História da doença atual A história da doença atual (HDA) é um registro cronológico e detalhado do motivo que levou o paciente a procurar assistência médica, desde o seu início até a data atual. Parte principal da anamnese • Transcrever a linguagem “não técnica do paciente” para a linguagem técnica. Relato dos Acontecimentos com 5 PERGUNTAS: • Cronologia (começo, meio e fim). 1. QUANDO começou? 2. COMO começou? 3.Como EVOLUIU? 4. Qual TRATAMENTO? 5. Como está ATUAL? Sintoma-guiaDesigna-se como sintoma guia o sintoma ou sinal que permite recompor a história da doença atual com mais facilidade e precisão; por exemplo: a febre na malária, a dor epigástrica na úlcera péptica, as convulsões na epilepsia. Contudo, isso não significa que haja sempre um único e constante sintoma-guia para cada enfermidade. Como analisá-lo: 1. Localização. 2. Características. 3. Quantidade/intensidade. 4. Evolução/periodicidade. 5. Situação em que ocorre. 6. Fatores agravantes e atenuantes. 7. Manifestações associadas. Exemplo: “paciente relata que há 36 horas começou a apresentar dor lombar à direita, tipo cólica, de forte intensidade, com irradiação para fossa ilíaca direita. Refere que a dor melhora com o decúbito ventral e priora ao urinar. Também relata náuseas, vômitos e disúria, iniciados há aproximadamente 12 horas. Conta que os sintomas se intensificaram nas últimas horas.” • Interrogatório sintomatológico Essa parte da anamnese, denominada também anamnese especial ou revisão dos sistemas, constitui, na verdade, um complemento da história da doença atual. O interrogatório sintomatológico documenta a presença ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. Interrogar sobre: 1. Sintomas gerais 2. Pele e fâneros 3. Cabeça e pescoço 4. Tórax Abdome 5. Sistema geniturinário 6. Sistema hemolinfopoético 7. Sistema endócrino 8. Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades 9. Músculos 10. Artérias, veias, linfáticos e microcirculação 11. Sistema nervoso 12. Exame psíquico e avaliação das condições emocionais. oBS: tem um pdf só para isso. • Antecedentes pessoais e familiares Antecedentes pessoais Considera-se avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo saúde doença. Os passos a serem seguidos abrangem os antecedentes fisiológicos e antecedentes patológicos. • A avaliação dos antecedentes pessoais fisiológicos inclui os seguintes itens: gestação e nascimento, desenvolvimento psicomotor e neural e desenvolvimento sexual. • A avaliação dos antecedentes pessoais patológicos inclui os seguintes itens: Doenças sofridas pelo paciente, alergia, cirurgias, traumatismo, transfusões sanguíneas, história obstétrica [anotar número de gestações (G); número de partos (P); número de abortos (A); número de prematuros e número de cesarianas (C) (G – P – A – C)], paternidade, imunizações [anotar as vacinas (qual; época da aplicação/doses], medicamentos em uso (anotar: qual, posologia, motivo, quem prescreveu). Antecedentes familiares Os antecedentes começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se for casado, inclui-se o cônjuge e, se tiver filhos, estes são referidos. Não se esquecer dos avós, tios e primos paternos e maternos do paciente. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade. Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em que ocorreu. Pergunta-se sistematicamente sobre a existência de enxaqueca, diabetes, tuberculose, hipertensão arterial, câncer, doenças alérgicas, doença arterial coronariana (infarto agudo do miocárdio, angina de peito), acidente vascular cerebral, dislipidemias, úlcera péptica, colelitíase e varizes, que são as doenças com caráter familiar mais comuns. Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário (hemofilia, anemia falciforme, rins policísticos, erros metabólicos), torna-se imprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso e, nesse caso, recorre-se às técnicas de investigação genética. ❖ Hábitos de vida Este item, muito amplo e heterogêneo, documenta hábitos e estilo de vida do paciente e está desdobrado nos seguintes tópicos: • Alimentação • Ocupações anteriores • Atividades físicas • Hábitos ❖ Condições socioeconômicas e culturais As condições socioeconômicas e culturais avaliam a situação financeira, vínculos afetivos familiares, filiação religiosa e crenças espirituais do paciente, bem como condições de moradia e grau de escolaridade. Este item está desdobrado em: • Habitação • Condições socioeconômicas • Condições culturais • Vida conjugal e relacionamento familiar