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Epicuro - Cuidado da alma e Tetrapharmacon

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EPICURO: CUIDADO DA ALMA E TETRAPHARMACON
Bruno Barbedo Carrasco1
Epicuro foi um filósofo grego do período helenístico nascido em Samos, em
341 a.C., que viveu até os 72 anos e faleceu em Atenas por volta de 270 a.C. Tal
como outros filósofos de seu tempo, sua filosofia se direcionava para uma ética e
uma prática do cuidado de si, o que o diferenciava era propor um modo de vida em
favor da busca do prazer por meio da ausência da dor e das inquietações.
Sua filosofia tinha como intuito proporcionar o cuidado da alma, por meio de
uma vida tranquila e simples, apontando a importância da avaliação de nossas
escolhas e busca de prazeres “da alma”, aqueles que mais prolongados, ao invés de
prazeres meramente imediatos. O epicurismo foi uma das filosofias mais importantes
na antiguidade grega, tendo perdurado por cerca de sete séculos no mundo
greco-romano.
Para Epicuro, o mais importante era nos dedicar a atividades prazerosas, com
intuito de se obter uma vida feliz e tranquila. Porém, não bastava qualquer atividade
prazerosa, era preciso avaliar suas consequências, com intuito de nos direcionar
para os prazeres que nos proporcionam a tranquilidade da alma, e cujas
consequências proporcionam a menor quantidade de dor ou sofrimento.
O filósofo entendia o prazer como o princípio e o fim de uma vida feliz, mas
constatou que nem sempre avaliamos bem os prazeres que escolhemos, assim,
muitas vezes acabamos nos tornando vítimas de desejos que não nos proporcionam
a felicidade juntamente com a tranquilidade. Ele entendia que ser feliz não consistia
em buscar muitos prazeres ou qualquer tipo de prazer, mas nos dedicar aos
prazeres que alimentam a nossa alma.
1 Graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de
filosofia e em psicoterapia fenomenológico-existencial, pós-graduando em aconselhamento filosófico.
A felicidade, em sua perspectiva, seria resultante de um estado de ausência
de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Trata-se de um estado de
serenidade, que é alcançado por meio da reflexão filosófica e de uma profunda
avaliação sobre nossa vida e nossas escolhas. Epicuro defendia que todas as
pessoas poderiam alcançar a felicidade, e não era preciso muito para ser feliz, uma
das principais condições consistia em avaliar o que escolhemos e o que rejeitamos.
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se
canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado
jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem
afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela
já passou, é como se dissesse que ainda não chegou, ou que já passou
a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto
ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através
da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder
envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário,
portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta
presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.
(EPICURO, 2002, p. 21-22)
Sua proposta nos convida a tomar conhecimento sobre aquilo que nos gera
prazer e alegria, e aquilo que nos gera dor ou frustraçõe. Procuramos a felicidade
em muitas coisas, mas segundo o filósofo bastavam poucas para uma vida feliz,
como estar em boas companhias, viver em liberdade e dedicar um tempo para
avaliar a própria vida. Nenhum desses elementos demandam dinheiro, mas boas
escolhas.
Para Epicuro, a filosofia tinha um caráter prático, ao invés de especular sobre
o mundo e a verdade, seria mais interessante se utilizada para olhar para nós
mesmos, de modo a alcançar o conhecimento do que nos possibilita uma vida mais
feliz e tranquila. Em suas palavras: “(...) o conhecimento seguro dos desejos leva a
direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do
espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz” (2002, 35p.).
A felicidade, para o filósofo, consistia na ausência de dores e preocupações,
e para isso bastava o conhecimento e a autoavaliação. Sua filosofia tinha como
intuito proporcionar uma vida feliz, portanto, o filosofar não era apenas uma questão
de raciocínio ou abstração, mas envolvia necessariamente ações para consigo
mesmo, uma prática ética de cuidado de si.
Uma vida feliz seria o mesmo que uma vida simples, como por exemplo se
encontrar com bons amigos de tempos em tempos para conviver e compartilhar
atividades; viver de maneira autossuficiente, em liberdade, sem depender de outras
pessoas; e, acima de tudo, dedicar-se um tempo para avaliar a própria vida, pois
nossas angústias diminuem conforme dedicamos um tempo para refletir sobre elas.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso,
portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona
ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da
vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica,
predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para
enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.
(EPICURO, 2002, p. 41)
Para que isso fosse possível, o filósofo sugere um certo afastamento das
distrações da cidade, para se ter um tempo e espaço que possibilitem repensar a
nossa vida e as nossas escolhas. Por isso, Epicuro escolheu um jardim, distante da
cidade, para construir a sua casa e convidar amigos para viverem próximos,
tornando este um espaço próprio para viver, conviver e filosofar, longe do tumulto do
comércio e mais próximo do silêncio e da natureza.
Por influências da filosofia de Demócrito (460-370 a.C.), Epicuro não concebia
a alma como uma instância eterna, mas mortal, por isso defendia a necessidade de
se viver bem a vida. Mesmo que curta deve ser bem vivida, pois não adiantaria viver
muito se a vida não for bem aproveitada. Viver bem tem mais relação com a
qualidade de vida do que com a quantidade, portanto a necessidade de se atentar
para o que, a cada momento, escolhemos e rejeitamos, de modo a priorizar aquilo
que nos fornece uma tranquilidade da alma.
Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de
mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de
uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso
que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que
remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa
perturbação toma conta dos espíritos.
(EPICURO, 2002, p. 45)
Na perspectiva de Epicuro, o prazer é o início e o fim de uma vida feliz,
juntamente com a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.
Portanto, o prazer é um bem, pois pode ser escolhido ou recusado, por isso mesmo
devemos aproveitar e escolher bem os prazeres que nos dedicamos. Não se trata do
prazer do “gozo dos sentidos”, mas do prazer que proporciona uma tranquilidade.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos
aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos
sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso
pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam
erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e
de perturbações da alma.
(EPICURO, 2002, p. 43)
Os melhores prazeres não são aqueles que nos colocam em movimento, mas
os que nos possibilitam a sensação de repouso, a ausência de sofrimentos do corpo
e da alma. O prazer em movimento é aquele que advém da satisfação de um desejo,
mas que pode se transformar em insatisfação quando não realizado. Já o prazer em
repouso possibilita uma saciedade constante que não é perturbada pelo sofrimento
ou pelo desejo. Por isso, o principal prazer não é o do corpo, mas o da alma, ele é
mais profundo e completo. O corpo vive apenas a sensação presente, enquanto que
a alma recorda do passado e se remete ao futuro.
Portanto, a busca dos prazeres não deve corresponder a qualquer tipo de
prazer, mas prazeres escolhidospor meio de uma avaliação sobre o que eles podem
nos proporcionar. Alguns prazeres podem trazer sofrimentos e algumas dores
podem proporcionar prazer. Mas o verdadeiro prazer consiste naquele que
possibilita uma ausência de dor no corpo e a tranquilidade da alma, por isso o prazer
em repouso, ao invés do prazer em movimento.
Neste sentido, a ética de Epicuro propõe a busca dos prazeres que não
causem dores ou perturbações, propondo viver de maneira prudente e simples,
buscando assim alcançar uma paz de espírito. Seus ensinamentos nos convidam
para cuidado para com a vida e um cálculo dos prazeres, priorizando a qualidade ao
invés da quantidade.
O cuidado com a alma proposto por Epicuro se aproxima do que hoje
entendemos por terapia, que visa lidar com nossas angústias e ansiedades. Para
isso ele indicou quatro remédios para a alma, o Tetrapharmakon, que consiste em:
não temer os deuses, não se alarmar por conta da morte, perseguir o que é bom e
suportar o que é mau.
O filósofo não nega os deuses, mas também não entende que eles sejam
capazes de intervir no mundo. Sua cosmologia é materialista, portanto ele parte da
perspectiva de que tudo é composto de átomos e vazios. As divindades não podem
fazer nada de mau às pessoas, e temer elas seria uma perda de tempo.
Além disso, o medo da morte também é desnecessário, pois ela cessa a
nossa sensação, e além disso não há uma continuidade espiritual. Ele entende que
a morte não é nada, pois o bem e o mal estão nas sensações, morrer seria então
não mais sentir. O mais importante não é a duração da vida, mas a qualidade desta,
portanto, a forma como é vivida.
Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais
abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo
bem vivido, ainda que breve.
(EPICURO, 2002, p. 31)
Para ele, tudo o que é bom é simples e pode ser alcançado facilmente. Se
uma pessoa está com fome, uma refeição lhe basta, desde que seja de acordo com
a fome que a pessoa esteja sentindo no momento. Um prato muito cheio poderia
fazer mal a quem que tem pouca fome, do mesmo modo que um prato com pouca
comida não fará bem ao que tem mais fome.
Segundo Epicuro, o mal é algo que não devemos nos preocupar, pois não há
sofrimento ou dor que seja eterna, toda dor e qualquer sofrimento cessa num
momento, e além disso podemos nos dispor de diversas atividades para não nos
alarmar com as dores durante o tempo que elas duram, assim poderemos minimizar
as dores e ampliar os prazeres.
Portanto, precisamos ficar atentos às nossas buscas. Quando nos dedicamos
a buscar um fim específico, isso pode não nos fazer bem, pois nos esforçamos muito
tentando algo que podemos não conseguir, ou que podemos perder, e nas duas
situações o resultado será a frustração. Se não temos como conseguir uma coisa ou
manter a mesma, seria perda de tempo se gastar para sua busca.
O prazer a ser buscado não é o da abundância ou do exagero, mas o da
sabedoria, do bom uso de nossas escolhas, que nos possibilita sentir satisfeitos.
Para isso é necessário um certo tempo e distanciamento para avaliar bem o que
desejamos e o que realmente nos proporcionará prazer.
Após esta apresentação introdutória sobre a filosofia de Epicuro e o cuidado
da alma, chega o momento de relacionar esta filosofia com uma situação prática.
Ana tem 19 anos e sofre uma pressão social por não ter conseguido entrar no curso
superior almejado pela família, assim se sentindo desanimada, inclusive seus
familiares acreditam que ela esteja num quadro depressivo.
Partindo do Epicurismo, o primeiro procedimento seria possibilitar a Ana um
certo afastamento das demandas sociais, inclusive aquelas de sua família, de modo
a colocar em avaliação seu desejo ou interesse pelo curso superior, bem como as
consequências deste.
Como ela não conseguiu entrar no curso superior, é possível avaliar outros
possíveis desejos de Ana, quais deles podem ser realizados, que a possibilitem uma
sensação de felicidade e tranquilidade da alma. Se ela realmente se interessa pelo
curso superior, pode-se colocar questões sobre seus intuitos com o curso: encontrar
pessoas, ter uma atividade, estudar um tema específico, adquirir uma formação,
entre outras?
Essas questões podem possibilitar a perspectiva de outras escolhas, que
geram prazeres duradouros e serenidade. Por exemplo, se ela deseja fazer um
curso superior para estar próxima de pessoas de sua idade e fazer amigos, ela pode
buscar encontrar amigos em outros ambientes. Se ela deseja o curso para estudar
um tema específico, pode fazer cursos livres, ler livros sobre, participar de grupos de
estudos. Se ela busca o curso como uma atividade ou hobby, ela pode avaliar quais
outras atividades também lhe proporcionam prazer e se dedicar a elas.
Mas se ela realmente deseja o curso superior e não consegue passar no
vestibular, é preciso constatar que esse desejo pode lhe trazer frustração, mas que
esse sofrimento também passará, pois nenhum sofrimento é eterno. Constatando
isso, ela pode procurar fazer outro curso, outra faculdade ou se dedicar mais aos
estudos por algum tempo, para que seja possível passar no próximo vestibular.
Essas são algumas das possibilidades a partir de uma breve análise da leitura
de Epicuro, a partir da ‘Carta sobre a felicidade’ e de textos relacionados. De um
modo geral, a aplicação de sua filosofia tem como intuito proporcionar uma melhor
avaliação de nossos desejos e a escolha daqueles que nos possibilitem uma vida
mais feliz e tranquila.
Referências Bibliográficas:
EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Trad.: Álvaro Lorencini e Enzo Del
Carratore. São Paulo: UNESP, 2002.
GHIRALDELLI JR, Paulo. A filosofia como medicina da alma. São Paulo: Manole,
2011.
GOMES, Táura Oliveira. A ética de Epicuro: um estudo da carta a Meneceu. Revista
Eletrônica UFSJ. São João del-Rei, n. 5, p.147-162, jul. 2003.
maio de 2021
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