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Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. CARDIOLOGIA VETERINÁRIA Clínica 1 Chegada do paciente: 1º PASSO → IDENTIFICAÇÃO (raça, tamanho, espécie, sexo, idade 2º PASSO → ANAMNESE GERAL (histórico, queixa clínica, manifestações clínicas) 3º PASSO → ANAMNESE ESPECÍFICA (perguntas como “cansaço fácil? Respiração dificultada?”) 4º PASSO → EXAMES FÍSICOS E COMPLEMENTARES (em cardiologia, os exames complementares auxiliam no estadiamento da doença do animal) 5º PASSO → ESTADIAMENTO E TRATAMENTO 6º PASSO → MONITORIZAÇÃO FREQUENTE DO PACIENTE E ACOMPANHAMENTO ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva): Não é um diagnóstico, e sim uma consequência de alguma doença cardíaca de base. É considerada uma síndrome clínica, sendo a IC o estágio final de uma cardiopatia de base, quando surgem os sinais clínicos. Quando o coração está insuficiente, há redução do débito cardíaco (DC), não suprindo as taxas metabólicas. Devido a isso, ocorre a ativação de mecanismos compensatórios de origem neuro-hormonais e/ou remodelamento miocárdico, na tentativa de compensar a redução da perfusão tecidual, e dessa forma há o surgimento dos sinais clínicos da ICC (é um processo longo e progressivo). Etiologia da insuficiência cardíaca: • Doenças que geram sobrecarga de volume: • Valvopatias degenerativas (degeneração da válvula mitral) • Persistência do ducto arterioso • Doenças que geram sobrecarga de pressão: • Hipertensão arterial sistêmica • Estenoses valvares (aortica ou pulmonar) • Insuficiência miocárdica: • Cardiomiopatia dilatada (disfunção sistólica) • Cardiomiopatia hipertrófica (disfunção diastólica) • Comprometimento do enchimento: • Tamponamento cardíaco (efusão pericárdica) FINAL COMUM DESSAS DOENÇAS → REDUÇÃO DO DC → ATIVAÇÃO DOS MECANISMOS COMPENSATÓRIOS → INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Câmaras cardíacas no ultrassom → corte apical 4 câmaras /// Mosaico de cores. Fonte: material apresentado na aula. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Fonte: material apresentado na aula. A válvula não fecha corretamente (sobra espaço entre os folhetos da válvula mitral) e o sangue volta turbilhonando o que gera o som de sopro que se pode auscultar (sobrecargas de volume). Fonte: material apresentado na aula. Corte transversal, corte do “cogumelo” (parte de cima: septo interventricular; em baixo: parede livre do ventrículo esquerdo; duas pontinhas do lado: músculos papilares). Sobrecargas de pressão. Quando hipertrofia: paredes mais espessas, e região hiperecoica é acúmulo de fibrose (disfunção diastólica). Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Mecanismos Compensatórios (Fisiopatologia): Fonte: material apresentado na aula. REDUÇÃO DC → ATIVA SNS (simpático) E SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA (SRAA) • Arco aórtico e seio carotídeo no coração: possuem barorreceptores ✓ PRESSÃO BAIXA → BARORRECEPTORES → ESTIMULA SNS → LIBERA CATECOLAMINAS → VASOCONSTRIÇÃO (aumento RVP) E AUMENTO DA FC → AUMENTO DC E PERFUSÃO • Nos rins ✓ QUEDA NA PERFUSÃO RENAL → LIBERAM RENINA → ATIVAÇÃO SRAA → ANGIOTENSINA II PROMOVE VASOCONSTRIÇÃO E ESTIMULA LIBERAÇÃO DE ALDOSTERONA → RETENÇÃO DE SÓDIO E ÁGUA → AUMENTO DO VOLUME CIRCULANTE (volemia) → AUMENTO DO DC • DC = Força de contração + Volume circulante + Resistência vascular. • Esse mecanismo ativo faz com que o coração trabalhe mais (aumento de O2 e da taxa metabólica do miocárdio) para vencer a pressão alta e o alto volume circulante, que reduz o débito cardíaco novamente, e ativa os mecanismos compensatórios novamente e gera um ciclo, agravando o remodelamento e diminuindo débito cardíaco, até chegar em um ponto que o volume não consegue manter dentro dos vasos e isso leva a extravasamento tecidual, gerando o edema e a efusão (alta pressão hidrostática). O objetivo do tratamento é tentar parar os mecanismos compensatórios e ajudar a reduzir a sobrecarga cardíaca. *renina: converte angiotensinogênio → angiotensina I → ECA converte angiotensina I em angiotensina II, a qual promove aumento de contratilidade, vasoconstrição e fibrose miocárdica, além de estimular a liberação de aldosterona, a qual garante a reabsorção de sódio e água e fibrose miocárdica. Ciclo vicioso: redução DC → ativação sistemas neuro-hormonais (SNS e SRAA) → vasoconstrição, taquicardia e fibrose miocárdica → remodelamento cardíaco/ventricular → redução DC... Remodelamento Cardíaco Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. Fonte: material apresentado na aula. SOBRECARGA DE VOLUME → DILATAÇÃO SOBRECARGA DE PRESSÃO → HIPERTROFIA CONCÊNTRICA Tipos de pacientes: • Paciente cardiopata é aquele que só tem uma doença cardíaca que não reduz débito cardíaco (sopro de grau pequeno); • O paciente cardiopata que tem manifestações clínicas (intolerância ao exercício, cansaço fácil, etc), é um cardiopata que está com insuficiência cardíaca; • O paciente que já apresenta edema ou congestão é cardiopata com insuficiência cardíaca sugestiva. Manifestações clínicas: • Insuficiência cardíaca congestiva ✓ Esquerda: edema pulmonar, dispneia e ortopneia. Falha do VE. ✓ Direita: Ascite, efusão pleural e edema de membro. Falha do VD. Primeiro vai ter aumento das câmaras cardíacas direitas, depois hepatomegalia (congestão), e depois a ascite (líquido extravasa para o abdômen). As veias jugulares podem ficar engurgitadas. ✓ O gato pode fazer efusão pleural tanto por ICCE quanto por ICCD. ✓ O cão só faz efusão pleural por ICCD. ✓ É mais raro o felino apresentar ascite pela cardiopatia e tosse por ICC. ✓ ICC biventricular: falha nos dois ventrículos. ✓ Dilatação AE → comprime o brônquio principal esquerdo, que tem receptores de tosse → tosse no paciente (canino, gato raramente tosse por doença cardíaca). Aumento de volume do átrio → o sangue que chega não consegue entrar → acumula na veia pulmonar → extravasamento tecidual e edema pulmonar (sangue extravasa do vaso para o alvéolo) → dificuldade respiratória (dispneia, pode ter taquipneia), cianose (ocorre primeiro o aumento do AE, depois das veias pulmonares, e por último o edema pulmonar). ✓ Dilatação AD → acúmulo de sangue na veia cava cranial e caudal → engurgitamento da veia jugular → depois hepatomegalia (por congestão) → depois extravasamento de líquido para o abdome (ascite) e por fim, edema de membro. É CONSEQUENTE! A efusão pleural ocorre por congestão da veia cava cranial (veias intertorácicas desembocam nela), aumenta pressão de vaso intercostal. ✓ O líquido da ascite que é drenado possui uma coloração serosanguinolenta. ✓ Caquexia cardíaca: pior prognóstico. Ocorre menor absorção de nutrientes, por edema de vasos intestinais na região mesentérica, e por aumento de metabolismo. ESTADIAMENTO E MANEJO TERAPÊUTICO DE UM PACIENTE CARDIOPATA IC = desordem de PRÉ-CARGA + PÓS-CARGA + CONTRATILIDADE (as três juntas ou separadas) ✓ Pré-carga: volume de sangue presente no ventrículo no momento máximo/final da diástole (antes da sístole). Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. ✓ Pós-carga: trabalho que o coração deve realizar para vencer a resistência e ejetar o volume de sangue. ✓ Contratilidade: capacidade que o músculo cardíaco tem de se contrair. ✓ OBJETIVO DO TRATAMENTO: REDUZIR PRÉ E PÓS-CARGA E VOLUME CIRCULANTE (para controlar edema e efusão), E AUMENTAR CONTRATILIDADE (dependendo das manifestações clínicas do paciente). • Para redução de pré-carga: VASODILATADORES→ principalmente venodilatadores, aumenta o suporte de sangue pelas veias (assim chega menos sangue no coração por minuto). Se utilizar o que age sobre as artérias, reduz resistência, e facilita a ejeção. DIURÉTICOS→ Elimina líquido. DIETA • Para reduzir a pós-carga: VASODILATADORES → em artériase arteríolas, para diminuir a resistência. • Para aumentar a contratilidade: • INOTRÓPICOS POSITIVOS → Aumentam a força de contração. SEMPRE SE UTILIZA DIURÉTICOS NA MENOR DOSE EFICAZ POSSÍVEL! (Se for utilizado mais do que precisa, reduz volume circulante, reduz débito cardíaco e ativa sistemas compensatórios, o que agrava a doença cardíaca, além de afetar os rins. VOCÊ SÓ QUER ELIMINAR O EXCEDENTE!). SEMPRE SE UTILIZA VASODILATADORES NA MENOR DOSE POSSÍVEL! (Se for utilizado mais do que precisa, gera queda na PA, reduzindo DC e ativa sistemas compensatórios, o que agrava doença cardíaca. É EXTREMAMENTE NECESSÁRIO ESTADIAR A DOENÇA CARDÍACA, PARA SE ESCOLHER A TERAPIA A SER UTILIZADA! • Furosemida em grande quantidade pode causar diminuição da perfusão renal, diminui taxa de filtração glomerular o que pode gerar insuficiência renal aguda ou se em continuidade, doença renal crônica. • Um paciente cardiopata em estágios mais avançados, se torna refratário ao tratamento, e pode desenvolver doença renal em consequência do problema cardíaco, o que piora o prognóstico e gera a síndrome cardiorrenal. ESTADIAMENTO: SINTOMATOLOGIA CLÍNICA + EXAMES COMPLEMENTARES Fonte: material apresentado na aula. • Estágio A: shihtzu, poodle, pinscher, yorkshire, boxer, dobermann, fila brasileiro, dogue alemão, SRD brasileiro, persa, maine coon, etc. • Estágio B1: ASSINTOMÁTICOS SEM REMODELAMENTO CARDÍACO OU REMODELAMENTO DISCRETO (pode ter sopro mitral na ausculta, e degeneração valvar mitral no ECO). • Estágio B2: ASSINTOMÁTICOS COM REMODELAMENTO CARDÍACO (no RX pode ter aumento da silhueta cardíaca, ECO com alterações, aumento de tamanho de A e V, sem sinais de ICC como edema Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. pulmonar, efusão pleural, dispneia...mas pode ter tosse e taquicardia decorrentes do remodelamento cardíaco, como aumento do AE por exemplo). • Estágio C: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS CONGESTIVAS (edema pulmonar, ascite, efusão pleural, etc). Dois grupos → C1: PRECISA DE TRATAMENTO EMERGENCIAL; C2: MEDICAÇÃO EM CASA PARA CONTROLE DE EDEMA PULMONAR OU HISTÓRICO DE EVENTO CONGESTIVO. • Estágio D: PACIENTE REFRATÁRIO AO TRATAMENTO. Também tem D1 e D2. • Pacientes no estágio A sem sinal nenhum, nem sopro, não é necessária consulta específica com cardiologista, mas sempre é bom ir ao veterinário frequentemente, para manutenção da saúde! • Para pacientes de grau B1 a reavaliação é de 6 meses a 1 ano, só volta antes se o animal apresentar cansaço fácil, ou mudança de comportamento. De B1 para B2 a mudança é rápida. • De B1 para B2 em gatos, se não tem remodelamento de átrio esquerdo é B1, se tem é B2. • Para visualizar remodelamento atrial, se divide o diâmetro do átrio esquerdo pelo diâmetro da aorta, a relação tem que ser menor que 1,6. Fonte: material apresentado na aula. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. • ESTÁGIO A NÃO PRECISA DE TRATAMENTO! • ESTÁGIO B1 NÃO TRATA, SÓ FAZ ACOMPANHAMENTO! • ESTÁGIO B2 DEVE SER TRATADO PARA RETARDAR A PROGRESSÃO DA DOENÇA! • ESTÁGIOS C (C1 emergencial e C2 em casa) E D TRATA! • Pimobendan é um medicamento inodilatador (aumenta DC), que tem efeito inotrópico (aumenta força de contração) e dilatador , mas é um medicamento muito caro. Ele retarda a ativação de mecanismos compensatórios. • iECA é um inibidor da enzima conversora de angiotensinogênio (geralmente se usa iECA para hipertensão em DRC ou hiperadrenocorticismo). Porém não há estudos que comprovam o benefício do seu uso em doenças valvares, apenas em casos de cardiomiopatia dilatada. • Gato B2 só se utiliza anti-agregador plaquetário (para prevenção de trombose). • Pode usar também dieta para cardiopata, que previne a caquexia cardíaca. • O paciente C1 já tem insuficiência cardíaca congestiva (congestão, edema pulmonar agudo). • Normalmente drenagem hospitalar de fluidos. Denise Ramos Pacheco Prof. Dr. Matheus Matioli Mantovani – UFU, 2021. • Furosemida: para eliminação de líquidos. • Butorfanol: não causa tantas alterações hemodinâmicas, é mais seguro para esses pacientes. • Nitroprussiato de sódio: vasodilatador arterial e venoso, em infusão contínua. • Pimobendam: dá se o animal tiver condição de tomar medicação oral, apenas. Se ele não tiver condição, dá a dobutamina. • Dobutamina não pode ser feito via oral, só intravenoso, porque tem efeito rápido, é um inotrópico positivo que aumenta a força de contração! • Se aumentar a PA → vasodilatadores e inotrópicos • Tratamento para casa, animal saiu do edema pulmonar. • A espironolactona também pode usar, pois tem efeito cardioprotetor (ela possui baixo efeito diurético, pois é antagonista da aldosterona → no coração a aldosterona se liga ao cardiomiócito e induz apoptose celular, gerando fibrose no miocárdio). Mesmo usando a iECA, o organismo tem outras vias de liberação de aldosterona, então por este motivo se deve usar essa medicação. • Pode usar iECA, pois o animal já tem SRAA ativo de forma crônica. • Pimobendam: retarda progressão da doença e e melhora o DC. • Furosemida: ajudar no controle de edema e efusão (NA MENOR DOSE EFICAZ!), alguns pacientes conseguem estabilizar em 1 mg/kg a cada 24 horas, mas tem pacientes que precisam de mais (2 mg/kg a cada 8 horas por exemplo) → Monitorar a FR do animal em repouso (em casa), se estiver acima de 40 mrm pode ser que esteja em edema pulmonar ou retendo líquido (deve estar abaixo de 40 mrm) → orientar os tutores. ESTÁGIO D: ajuste de doses e associação de medicações (vasodilatadores, antiarrítmicos, etc).
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