Buscar

Sebenta Obrigações I David

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
Regência: DÁRIO MOURA VICENTE 
 
Introdução ..................................................................................................................................... 3 
Fontes do Direito das Obrigações ............................................................................................... 3 
Sistematização Legal em 2 títulos ............................................................................................... 5 
Direito Comparado das Obrigações ............................................................................................ 5 
Princípios Gerais dos Direitos Obrigações................................................................................... 6 
Conceito de Obrigação ................................................................................................................. 10 
Distingue-se de outras situações ............................................................................................. 10 
O Direito de Crédito ................................................................................................................. 10 
Características e Elementos das Obrigações ........................................................................... 11 
Requisitos sobre o devido na prestação .................................................................................. 13 
Modalidades ............................................................................................................................ 14 
Fontes das Obrigações ............................................................................................................. 18 
CONTRATOS ................................................................................................................................. 20 
Noção, fontes normativas e fundamentos da sua eficácia ...................................................... 20 
Modalidades dos Contratos: .................................................................................................... 21 
Culpa na formação dos contratos (culpa in contrahendo) ...................................................... 23 
Contratos de Adesão ............................................................................................................... 25 
Contratos Preliminares ............................................................................................................ 28 
CONTRATO-PROMESSA ........................................................................................................ 28 
PACTO DE PREFERÊNCIA....................................................................................................... 32 
Pacto de Opção .................................................................................................................... 34 
Contratos a Favor de Terceiro ................................................................................................. 34 
1. Contratos a Favor de Terceiro stricto sensu ..................................................................... 34 
2. Contrato em Favor de Pessoa a Nomear .......................................................................... 36 
3. Contrato com Eficácia de Proteção de Terceiros .............................................................. 36 
RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................................................................. 37 
1. Facto Voluntário .................................................................................................................. 38 
2. Ilicitude do facto .................................................................................................................. 39 
3. Culpa .................................................................................................................................... 40 
4. Dano .................................................................................................................................... 42 
5. Nexo de Causalidade ........................................................................................................... 43 
Responsabilidade Civil Objetiva/pelo Risco ............................................................................... 44 
Responsabilidade do Comitente – art. 500º ........................................................................ 44 
Responsabilidade do Estado e outras pessoas coletivas públicas – art. 501º ...................... 45 
Responsabilidade por Danos causados por Animais – art. 502º .......................................... 45 
Responsabilidade por Acidentes causados por Veículos – art. 503º ................................... 45 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
2 
 
Responsabilidade por danos na condução de instalação de energia ou gás– art. 509º ...... 47 
Responsabilidade do Produtor ............................................................................................ 47 
Responsabilidade pelo Sacrifício/Factos Lícitos ........................................................................ 48 
Obrigação de Indemnizar ......................................................................................................... 48 
Concurso de Matéria Contratual e Extracontratual .................................................................. 50 
 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
3 
 
Introdução 
Direito das Obrigações assumiu-se como um eco jurídico do sistema de ordenação, produção e distribuição 
dos bens na sociedade económica de mercado 
 
Obrigações – ramo1 do direito civil2 de acordo com a divisão germânica. 
➢ Prende-se com os atos jurídicos voluntários, constituição de empresas, compensação 
dos danos, gestão de negócios e etc. 
o Muito relacionado com o tráfego de bens numa economia de mercado 
➢ Há sistemas jurídicos sem “Obrigações” – EUA e Reino Unido – não agregam numa 
disciplina só uma “teoria geral das obrigações” (isso só acontece na família romano-
germânica) 
➢ Conceito unificador é a OBRIGAÇÃO3 – art. 397º – vínculo jurídico por virtude do qual 
uma pessoa fica adstrita para com a outra à realização de uma prestação 
o Permitiu que se desenvolvesse jusculturalmente um conjunto de situações com 
a mesma estrutura que são disciplinadas pelas mesmas regras – racionalização 
do Direito 
o Estrutura típica em que alguém está adstrito a algo no interesse de outrem 
▪ ≠ Direitos Reais: aí alguém tem domínio de um bem; é estruturalmente 
diferente 
▪ ≠ Direito da Família e Sucessões: aí agrupam-se situações em função de 
um critério institucional e não estrutural 
▪ Geram-se sobreposições e normalmente prevalece o critério 
institucional 
➢ Doutrina alemã desenvolveu o conceito e tornou-o mais amplo: a relação obrigacional 
é complexa e não tem só obrigações stricto sensu – em que alguém tem o direito de 
crédito e outro o dever de prestar algo; há uma série de deveres jurídicos acessórios 
que têm de acompanhar e integrar a relação (ex: boa fé) 
 
Fontes do Direito das Obrigações 
1. Fontes Internas – mais importantes em número e relevância 
• Código Civil – fonte legal – livro segundo do art. 397º a 1250º; em que parte do regime 
está no livro primeiro (artigos do negócio jurídico) que o completa 
• + Legislação avulsa – fonte legal – no final do CC 
o Revela-se uma tendência para codificação e uma tendência para a 
descodificação – devido às diretrizes europeias que faz surgir documentos 
extravagantes que complementam o direito codificado 
▪ Dário: descodificação não é positiva pois retira a unidade – o legislador 
tem que ter o cuidado de incorporar no CC as matérias reguladas fora 
 
1 Lima Pinheiro: Ramo do Direito é um subsistema normativo formado por normas, princípios e nexos 
intrassistemáticos sendo delimitado e ordenado. 
2 Direito Civil = direito privado comum; regula as relações entreas pessoas ou das pessoas com outras 
entidades, mas estas sem poder de autoridade 
3 Conceito milenar com origem no Direito Romano, surgindo nas Institutiones de Justiniano como: vínculo 
jurídico pela força do qual estamos obrigados a pagar algo a outrem de acordo com as leis da cidade 
• Romanos eram mais restritos; CC é mais amplo e rigoroso 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
4 
 
dele 4(Alemanha em 2002, França em 2016) – codificação é um valor 
em si mesmo e deve ser preservado, pois facilita o acesso ao Direito e 
assegura coerência nos regimes jurídicos 
• Jurisprudência – sendo que a nossa jurisprudência é problemática por ser díspar 
o AUJ (Acordão de Uniformização de Jurisprudência): STJ pretende definir uma 
jurisprudência uniforme 
o Jurisprudência constante que se consolida e se torna fonte 
 
• Princípios Jurídicos – não estão nas normas, mas inferem-se delas e tornam-se muito 
importantes no entendimento das normas legais e no preenchimento de lacunas5. Para 
resolver um caso não se subsume uma norma apenas. 
 
2. Fontes Internacionais 
• Convenções internacionais – que o Estado Português ratifica – ex: contratos, 
responsabilidade civil, convenção de Montreal (1999) sobre transportes, compra e 
venda de mercadorias (ONU, 1980) 
 
3. Fontes Europeias 
• Diretivas – ato jurídico da UE que não é diretamente aplicável e tem de ser adaptado e 
integrado na ordem jurídica interna portuguesa por Lei ou Decreto-Lei; fazem surgir as 
leis avulsas 
o Tribunal aplica a fonte mais próxima (interna) mas a diretiva tem papel 
importante na interpretação da transposição 
 
o Não há visão de conjunto europeia e muitas vezes há contradições 
▪ Ideia de CC, ou de código de contratos, europeu teve aval do 
parlamento europeu, fizeram-se trabalhos preparatórios (entre 1985 e 
2003), em 2005 surgiu um projeto análogo para a responsabilidade civil 
e em 2008 surgiu o “quadro comum de referência” – mas o projeto 
fracassou 
➢ Dário: parece inviável um CC europeu pois há países (de 
common law) sem o conceito de obrigação; subsistem grandes 
diferenças entre os países; não seria muito útil pois até agora 
não foi 
 
Há europeização das fontes, manifestada pela transposição de diretivas, mas 
fundamentalmente as fontes continuam a ser de fonte interna. 
 
 
 
 
 
 
4 Nosso código do consumo não está codificado sendo um exemplo negativo desta descodificação 
5 Art. 9º + 10º (em que o espírito do sistema são os princípios); princípios como a boa fé, autonomia 
privada e etc. 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
5 
 
Sistematização Legal em 2 títulos 
1. Obrigações em Geral (8 capítulos) 
• Legislador decidiu fazer biografia normativa da obrigação: do nascimento, até que se 
extingue e com as vicissitudes pelo meio – matérias fundamentais das obrigações em 
geral 
o Obedece à lógica da TGDC em que 1º estão as normas comuns à matéria das 
obrigações em geral e depois tudo o que é específico/especial 
▪ Parte-se do geral para o particular sendo que ao ver um caso tem que 
se fazer ao contrário e vir da norma especial até à geral 
▪ Assegura-se uma maior uniformidade 
2. Contratos em Especial (Direito dos Contratos) 
 
Direito Comparado das Obrigações 
Não há regime europeu uniforme para as obrigações apesar das tentativas. 
➢ O Direito das Obrigações contende com realidades mais vastas a nível económico, 
político e etc. que se altera de país para país. 
 
As perspetivas são muito diferentes acerca de como as partes devem agir. 
Distinguem-se 2 grandes conceções: 
• Família Romano-Germânica – generalidade da Europa continental; fonte principal é a 
lei 
o Visão de solidariedade e justiça nas relações interpessoais 
• Famílias de Common Law – realidade anglo-americana; fonte principal é o precedente 
em tribunal 
o Visão utilitarista e liberal da liberdade e da não existência de limitações 
 
A comparação jurídica vai evidenciar uma enorme diferença em figuras-chave do Direito dos 
Obrigações. 
 
1. Contrato 
Romano-Germânica: 
a) É necessário acordo de vontades, troca de consentimentos (mútuo consentimento) 
tendo um objeto (à luz do art. 280º) – é todo o negócio bilateral: muito vasto e com 
matérias de várias naturezas 
b) Não gera apenas obrigações, há também deveres jurídicos acessórios de conduta – o 
conteúdo obrigacional é mais vasto 
c) Exige-se uma certa equivalência das prestações para que o contrato vincule – nível de 
justiça comutativa, ex: proibição do negócio usurário, alteração de circunstâncias 
Common Law: 
a) Realidade com alcance mais restrito e de visão utilitarista – não basta só o acordo de 
vontades, tem que haver a consideração (contrapartida negociada da prestação a que 
uma pessoa se vincula): não há contratos gratuitos 
b) Não aceitam a boa fé como princípio geral das Obrigações pelo que não há deveres 
acessórios; sujeição apenas à obrigação e ao estipulado 
c) Os contratos são “sacro-santos” e nada pode fazer rever os contratos originais 
(influência do liberalismo) 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
6 
 
2. Responsabilidade Civil 
França: muito ampla – qualquer dano causado por falta deve ser indemnizado (1804). Uma 
aplicação sem limitações seria catastrófica, ex: concorrência, desvio de clientela causa falta, mas 
não pode gerar responsabilidade civil 
Common Law: princípio da tipicidade – só os “torts” ilícitos é que dão origem a responsabilidade 
civil; estão elencados nos precedentes dos tribunais. Hipóteses restritas da jurisprudência. 
Alemanha: não tem uma cláusula geral mas também não tem tipicidade – há 3 cláusulas com os 
bens jurídicos indemnizáveis ao serem afetados por atos danosos. 
Portugal: art. 483º - cláusula geral mas que indica os caracteres da ilicitude para que seja 
indemnizável. 
“direito de outrem” – direitos absolutos de tutela erga omnes 
“normas de proteção de interesses” – normas de concorrência desleal 
+ casos de exercício abusivo do direito (art. 334º) 
 
3. Responsabilidade Pré-Contratual 
Portugal: art. 227º 
Common Law: não aceitam a boa fé; a Câmara dos Lordes julgou o caso Walford vs. Miles em 
que diz que não responsabilidade pré-contratual 
 
 
Princípios Gerais dos Direitos Obrigações 
Princípios – proposições jurídicas com elevado grau de indeterminação que, exprimindo diretamente um 
fim ou valor da ordem jurídica, constitui diretriz de solução 
 
1. Autonomia Privada 
Instituto Jurídico6 que é uma faculdade dos particulares, dentro dos limites da lei e limitado 
pelos outros princípios. 
• Espaço de liberdade reconhecido a cada pessoa para agir como entende – 
"Permissão genérica de atuação jurígena". Possibilidade de alguém estabelecer os 
efeitos jurídicos que se irão repercutir na sua esfera jurídica. 
o Permite encontros de vontade 
o Manifestações ao nível da decisão – “fazemos a nossa própria lei” 
• Num sentido estrito, a autonomia privada é a área na qual as pessoas podem 
desenvolver as atividades jurídicas que entenderem. Na ocorrência de factos 
voluntários – originários da vontade7. É limitada pela lei, ordem pública, moral e bons 
costumes. 
o Liberdade de Celebração: permite fazer determinados atos – liberdade de 
dizer sim ou não a atos jurídicos. 
o Liberdade de Estipulação: permite estabelecer os efeitos desse acordo – que 
cláusulas é que fazem o contrato ser realizado com o conteúdo que 
queremos. 
 
6 Instrumento técnico-jurídico que sintetiza um conjunto de normas de caráter juscultural e 
compreensivo, fornecendo quadros gerais para orientação geral 
7 Contemplação do princípio constitucional do art. 26º/1 do livre desenvolvimento da personalidade (que 
projeta a dignidade da pessoa humana) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
7 
 
o Decide-se dentro do Direito o que se pode ou não fazer e o regime jurídico 
que passa a vigorar – sem tipicidadeem que se pode acrescentar cláusulas 
o Art.º 405 – Autonomia privada subjacente a este artigo de liberdade 
contratual. 
• Tem como limite a autonomia privada das outras pessoas – é restringida também pela 
proteção da parte mais fraca 
Com a liberdade vem a responsabilidade (a estipulação estabelece um regime que temos de 
cumprir) – só se pode imputar responsabilidade a quem é verdadeiramente livre. 
 
2. Equivalência das Prestações e Proporcionalidade 
CC assenta na ideia que numa relação contratual deverá haver equilíbrio nas prestações das 
partes – tem-se também em conta a alteração de circunstâncias que pode por em perigo esse 
equilíbrio das partes. 
Há exigência de proporcionalidade nas sanções contratuais que uma parte pode exigir à outra 
– a cláusula penal em que o art. 812º atende à equidade; nas CCG é o art. 19º 
 
3. Proteção da parte mais fraca na relação jurídica 
Ideia de justiça distributiva. 
Ordem jurídica dá maior tutela à parte que seja mais fraca – ex: situações de arrendamento, 
mediação financeira, trabalho e etc. 
Limita a autonomia privada num “favor debitoris” em que se favorece o devedor – ex: devedor 
pode pagar a prestação no seu domicílio (sem custos deslocação); art. 684º em que o credor não 
pode tomar como sua a coisa hipotecada (proíbe pacto comissório) 
 
4. Boa fé 
No vínculo obrigacional há regras de comportamento que, adequadamente respeitada, 
proporcionarão a satisfação do direito de crédito mediante prestação do devedor, sem que 
resultem danos para as partes. 
Abrange toda a vida da obrigação e postula uma conduta leal, honesta e atenta à outra parte 
– donde decorrem deveres acessórios de conduta. 
Conceito indeterminado mas que sustenta as decisões e as normas – cerne de vários regimes 
jurídicos em que a resolução das questões é com um sentido de ética e de regras de atuação. 
• Objetiva: Apela a uma regra exterior e que as pessoas devem observar – modos de 
atuação (conforme os valores dominantes da ordem jurídica). Quando diz como se tem 
que comportar. Tem várias projeções (responsabilidade pré-contratual, art. 227º; integração 
de negócios, art. 239º; abuso do direito, art. 334º; alteração de circunstâncias, art. 437º; 
complexidade das obrigações, art. 762º/2) 
Tutela da Confiança: confiança das pessoas nas relações que se estabelecem 
interpessoalmente. Não equivale a crença! Devem ser definidos os pressupostos para 
se tutelar o princípio da confiança 
➢ Tem que ser criada a relação – a outra pessoa tem que agir em boa fé subjetiva 
no sentido ético. 
➢ Tem de ser justificada – elementos objetivos capazes de provocarem uma 
crença plausível: elementos razoáveis, suscetíveis de provocar a adesão de uma 
pessoa normal através de um ato de outrem ou facto. 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
8 
 
➢ Investimento na confiança – desenvolvimento de uma atuação (escolha de 
opções) baseada nessa confiança e agindo em conformidade. 
➢ Imputação da confiança – existência de um autor em quem confiar. Não pode 
haver frustração da confiança 
 
Primazia da Materialidade Subjacente: as atuações jurídicas são atinentes à substância 
e não à aparência. Tutela-se o valor da essência – o que verdadeiramente está por trás. 
São avaliados materialmente de acordo com as efetivas consequências que acarretam. 
Ex: A pede a B que se faça passar por ele para comprar uma casa, na aparência B é que 
comprou mas na realidade foi A 
• Subjetiva: estado do sujeito – como se devia comportar. Direito valoriza o estado de 
conhecimento, ignorância ou consciência de determinados factos. 
o Sentido Psicológico: está de boa-fé quem pura e simplesmente desconhecesse 
ou estivesse convencido de certo facto ou estado de coisas, por muito óbvio que 
fosse. O que está na nossa cabeça – se sabe ou não. É irrelevante a necessidade 
de saber ou não. 
o Sentido Ético: está de boa-fé quem se encontra num estado de 
desconhecimento não culposo, ou seja, está de má-fé quem desconhece aquilo 
que deveria conhecer. Postula os deveres de cuidado e indagação – exige o 
mínimo de diligência à pessoa que esta convencida (porque não investigou, o 
que é exigido). O dever de saber é relevante. Ex: A queria construir casa em zona 
protegida, mas não sabe que é uma zona protegida, mas também não quis saber 
– agiu de má-fé. 
 
5. Retribuição por enriquecimento sem causa 
Art. 473º/1 – enriquece à custa alheia e sem causa é inadmissível e gera obrigação (de restituir 
o empobrecimento) 
• Pode-se sempre questionar se o enriquecimento é injustificado, dado que estamos 
numa economia de mercado 
 
6. Indemnização dos danos por atos ilícitos culposos 
Encarado com cautela pois na vida em sociedade é inevitável causarmos danos a outrem e se 
não houver dolo, por via da regra, não é indemnizável. 
• Transferência do dano do lesado para outrem opera-se mediante constituição de 
obrigação de indemnização, através da qual se deve reconstituir a situação que existiria 
se não tivesse ocorrido o evento lesivo (art. 562º) - ocorre imputação de danos quando a 
lei considera existir, não apenas um dano injusto para o lesado, mas também uma razão 
de justiça que justifica que esse dano seja transferido para outrem (imputação do dano). 
o Imputação de danos por culpa: baseia-se numa conduta ilícita e censurável do 
agente (função reparatória e sancionatória); 
o Imputação de danos pelo risco: conceção de uma justiça distributiva; 
o Imputação de danos pelo sacrifício: lei permite que, por valor superior, se 
sacrifique um bem ou um direito, havendo depois uma compensação. 
 
Art. 483º - cláusula geral mas que indica os caracteres da ilicitude para que seja indemnizável. 
• Nem todo o dano é indemnizável (não vigora o que se extrai do “memirem laedere”), só 
quando a lei o manda (“causum sentit dominus”) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
9 
 
7. Princípio da Responsabilidade Patrimonial 
O credor, em caso de não cumprimento, pode executar o património do devedor para obter 
a satisfação dos seus créditos. 
• Art. 817º põe à disposição do credor a autoridade do Estado para que o devedor cumpra 
o crédito sendo essa ação de cumprimento se a prestação for possível. 
• Se não for possível em virtude de facto imputável ao devedor, só se pode exigir 
indemnização (art. 798º, 808º e 801º) - sujeição à execução dos bens do devedor (art, 
601º), só dos bens do devedor (art. 817º, exceção no 818º que remete para a fiança, art. 
627º) e estando os credores em pé de igualdade (não hierarquização dos direitos de 
crédito - art. 604º) 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
10 
 
Conceito de Obrigação 
Essencialmente há um direito de uma das partes a que a outra lhe preste algo – é sempre em 
relação 
➢ Alguém pode exigir e alguém tem que prestar 
➢ Há direito de crédito e outro tem dever de débito 
➢ Direitos de crédito são direitos a uma prestação 
 
OBRIGAÇÃO – art. 397º – vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para 
com a outra à realização de uma prestação8 
➢ Doutrina alemã desenvolveu o conceito e tornou-o mais amplo: a relação obrigacional 
é complexa e não tem só obrigações stricto sensu – em que alguém tem o direito de 
crédito e outro o dever de prestar algo; há uma série de deveres jurídicos acessórios 
que têm de acompanhar e integrar a relação (ex: boa fé) 
 
Distingue-se de outras situações 
≠ Dever Jurídico: necessidade de alguém adotar certa conduta imposta pela lei. 
Nas obrigações há deveres jurídicos de prestar, mas há mais deveres jurídicos na nossa ordem 
jurídica – como o respeito pelos direitos absolutos. 
➢ O dever de prestar é jurídico, mas específico perante uma ou mais pessoas 
determinadas (ou determináveis) e não perante a generalidade das pessoas (é direito 
relativo e não absoluto) 
 
≠ Ónus: “dever” que proporciona vantagens, mas cujo cumprimento não pode ser exigido 
(situação jurídica que quando o “dever” é violado não é ilícito)➢ Situações absolutas – não estão numa relação jurídica. 
➢ Para se ter uma vantagem tem que se sujeitar a uma desvantagem 
➢ Ónus jurídicos – não há um dever (se houvesse, como nas obrigações, ao não ser 
cumprido agir-se-ia ilicitamente e poderia haver sanções) mas ao se desincumbir de 
cumprir, não há sanções, mas não há vantagens – assenta numa permissão. Ex: ónus da 
prova, não é um dever provarem-se os factos, mas ao fazê-lo ganha-se o caso. 
o Menezes Cordeiro: é um regime particular que se distingue dos deveres e das 
obrigações e é reservado para o direito processual 
 
≠ Estado de Sujeição: alguém pode ver a sua esfera jurídica alterada unilateralmente por outra 
pessoa (sujeito ao direito potestativo de outrem – Lado passivo dos direitos potestativos). 
➢ Não tem dever jurídico e não tem que fazer em prol da outra, apenas tem que se sujeitar 
aos efeitos imediatos do direito potestativo alheio 
 
O Direito de Crédito 
Engloba: 
➢ A prestação (conduta do devedor) 
➢ O património (bens do devedor 
 
8 David Festas: Prestação é comportamento devido pelo devedor 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
11 
 
Debate e querela entre as teorias personalistas (crédito como direito sobre a pessoa do devedor; 
crédito como direito à prestação do devedor) vs. teorias realistas (crédito como direito sobre os 
bens do devedor; crédito como relação de patrimónios; crédito como direito à transmissão dos 
bens do devedor; crédito como expetativa da prestação, acrescida dum direito real de garantia 
sobre o património do devedor) vs. teorias mistas vs. teorias da complexidade do vínculo 
obrigacional 
➢ Menezes Leitão: obrigação não é direito incidente sobre os bens do devedor, é antes um 
vínculo pessoal entre dois sujeitos, através do qual um deles pode exigir que o outro 
adote determinado comportamento em seu benefício. Há o direito subjetivo à 
prestação (pois o devedor estava vinculado ao seu cumprimento) - o Estado só intervém 
pelo património do devedor para satisfazer o direito de crédito. 
Distinguem-se dos: 
• Direitos Reais – sobre coisas, absolutos (oponibilidade erga omnes - o direito real persegue a 
coisa onde quer que ela se encontre e pode sempre ser exercido), imediatos, plenamente 
hierarquizáveis, inerentes a uma coisa, dotados de sequela e hierarquizáveis entre si, na medida 
que a constituição de um direito implica a perda de legitimidade para posteriormente constituir 
outro. 
 
Características e Elementos das Obrigações9 
Obrigações caracterizam-se pela: 
1. Patrimonialidade - suscetibilidade da obrigação ser avaliável em dinheiro, tendo 
conteúdo económico. 
• Art. 398º/2 afasta a necessidade de ter caráter pecuniário – devendo apenas 
corresponder a um interesse do credor, digno de proteção legal (quando se 
referem a situações jurídicas - e não quando dizem respeito a outras ordens 
normativas - religião, moral, cortesia - a juridicidade é excluída). 
• Existe uma patrimonialidade tendencial - geralmente têm natureza patrimonial e 
por isso a obrigação corresponde a um passivo no património do devedor e o 
crédito corresponde a um ativo no património do credor. 
2. Mediação ou colaboração devida - exige-se a colaboração do credor para que o 
devedor consiga realizar o seu crédito 
3. Relatividade 
• A) prisma estrutural: caráter estruturalmente relativo e não absoluto, pois há o 
direito de exigir uma prestação a outrem - e só entre esses na relação jurídica; 
• B) prisma de eficácia: 
i. Cunha Gonçalves defendia a não eficácia externa das obrigações sendo 
que os direitos de crédito só podiam ser violados pelo devedor, não tendo 
terceiros responsabilidade pela sua frustração. 
ii. Menezes Cordeiro e Galvão Telles entendem o dever geral de respeito 
que todos têm de não lesar direitos alheios que abrangeria os direitos de 
crédito e tinha tutela delitual (art. 483º), 
iii. Menezes Leitão, Manuel de Andrade e Antunes Varela entendem posição 
intermédia em que não existe um dever geral de respeito dos direitos de 
 
9 A autonomia deste tamo de direito não é uma característica pois é natural que surjam situações estruturalmente 
obrigacionais noutros ramos do Direito, mas que não perdem a sua natureza de obrigações por lá estarem inseridas 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
12 
 
crédito mas admite alguma oponibilidade excecional dos créditos perante 
terceiros, através do princípio do abuso de direito (art. 334º), quando têm 
uma atuação lesiva do direito de crédito num exercício inadmissível de 
liberdade de ação e autonomia privada. Só o devedor deve ser 
responsabilizado mas isso não significa que em certos casos a obrigação 
possa ter eficácia externa e um terceiro ser responsabilizado. 
Os elementos da Obrigação são: 
1. Sujeitos – pessoas entre as quais se constitui a obrigação; 
• Credor (quem beneficia) + Devedor (quem presta) -> que o podem ser 
mutuamente 
• Pessoas singulares ou plurais (dependente se tem 1 ou mais pessoas) 
• Cumprimento da obrigação só se estabelece entre pessoas determinadas ou 
determináveis – devido à relatividade das obrigações e não ao direito absoluto 
erga omnes 
• Eficácia das Obrigações – regra geral temos uma eficácia interna (característica 
da relatividade) em que o direito de A é perante B e em princípio A não pode pedir 
indemnização a C por este ter aliciado a B incumprir (os terceiros não podem ser 
chamados por uma lesão de um direito de crédito, devido à concorrência da economia 
de mercado) 
o Pode haver eficácia externa quando se ultrapassam limites da liberdade 
contratual (sendo um deles o abuso de direito do art. 334º) – se C queria lesar 
A, então podemos estar perante exercício abusivo da liberdade de C contratar 
B, pelo que é ilícito e o art. 483º pode atribuir responsabilidade civil extra-
contratual 
o Pela via indireta há formas de responsabilizar 
o Pode também ser tutelado pela concorrência desleal no código da propriedade 
industrial 
 
2. Objeto 
• Imediato – conteúdo da obrigação (direitos e deveres; crédito e débito) 
o Não se cinge apenas aos deveres de prestação e engloba os outros 
deveres da relação obrigacional mais complexa 
➢ Dever de efetuar a prestação principal (elemento determinante 
que lhes atribui individualidade própria) + deveres secundário 
(com o fim de complementar a prestação principal, sujeitos a 
ação de cumprimento. Ex: entrega de documentos relativos à 
coisa, art. 882º/2) + deveres acessórios (através da boa fé, 
permite que a execução corresponda à plena satisfação de 
interesses)10 
➢ Também pode acarretar sujeições, poderes ou faculdades (art. 
777º/1, 813º, 539º, 543º) e exceções (art. 303º, 428º, 754º) 
 
 
10 A violação da prestação principal leva à resolução do contrato e a violação da prestação acessória pode 
levar a responsabilidade pelos danos causados (mas uma violação sistemática pode levar a perda de 
confiança pelo que se pode resolver o contrato). Incumprimento – art. 1817º - pede-se ao tribunal que 
obrigue a cumprir: título executivo que pode ser específico ou geral (por exemplo para o contrato-
promessa) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
13 
 
o Art. 772º exige que na execução as partes ajam de acordo com a boa fé 
– só assim se cumpre o contrato – boa fé diz como a prestação deve ser 
efetuada. 
• Mediato – a prestação em si 
o Art. 398º: A prestação fixa-se pela autonomia privada 
 
3. Facto Constitutivo – obrigações podem constituir-se de várias formas 
• Pactos Voluntários: Contrato e Negócio Jurídico Unilateral 
• Outros que não dependem da vontade: Gestão de Negócios; Enriquecimento 
sem Causa; Responsabilidade Civil 
 
4. Garantia – para que haja obrigação civil tem que estar dotada de garantia 
• Geral: credor em caso de incumprimento pode atacar património dodevedor – 
garantia que existe por força da lei (ex: penhora) 
• Especiais: existe por vontade das partes 
o Pessoais: alguém assume cumprir a obrigação por outro e para tal afeta 
o seu património (ex: fiança) 
o Reais: há certos bens que são dados como garantia para que se o 
devedor não cumprir, o credor satisfaça a prestação (ex: hipoteca) 
 
Requisitos sobre o devido na prestação 
1. Suscetível de Proteção Legal (art. 398º/2) – não se exige patrimonialidade 
(convertibilidade em dinheiro) na prestação mas exige-se que o interesse do credor seja 
digno de proteção legal. A prestação constitui o objeto da obrigação e as partes têm a 
faculdade de determinar o seu conteúdo dentro dos limites da lei - articulação dos art. 
280º, 400º e 401º 
2. Determinado ou Determinável (art. 400º) – lei admite que no momento ainda não 
se saiba exatamente e depois pode definir-se por uma das partes ou por terceiro; sem 
estipulação contratual compete ao tribunal (nº2) 
• Em caso de indeterminação aplica-se o art. 400º - sendo tal um ato jurídico simples. 
• Se não der, o NJ é nulo por ser indeterminável e o 400º não o pode suprir. 
3. Possível (art. 401º) – se não for possível a prestação não é vinculativa, ex: tentar 
cobrar direitos de autor sobre um livro em domínio público 
• Para que uma impossibilidade conduza à nulidade do negócio jurídico é 
necessário que ela constitua uma impossibilidade originária (art. 401º/1) 
i. Art. 401º/2 admite casos em que a prestação é originariamente 
impossível mas o NJ é celebrado com a eventualidade de se tornar 
possível (ex: prestação de coisa futura, art. 399º em que devedor fica 
obrigado a diligências para entregar a coisa, art. 880º). 
ii. Impossibilidade deve ser absoluta e objetiva (art. 401º/3) e não subjetiva 
(pois obrigações podem ser realizadas por qualquer pessoa, art. 767º/1, 
devendo o devedor fazer-se substituir) 
• Se for superveniente o NJ não é nulo mas a prestação extingue-se pelo art. 790º 
4. Lícito – conformidade à lei e ao Direito, não contrariando deveres jurídicos: normas de 
caráter injuntivo como limite à autonomia privada (art. 280º e 281º). É um vício que 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
14 
 
atinge originariamente o contrato, sendo nulo (ou parcialmente válido dependendo do 
caso). 
5. Não contrariedade à ordem pública e aos bons costumes 
 
Modalidades 
Em função do TIPO DE PRESTAÇÃO: 
1. Prestações de Coisas – objeto é a entrega de uma coisa. Sendo possível distinguir 
entre a prestação do devedor e a coisa a prestar, o direito de crédito só incide sobre a 
prestação do devedor (não tem direito sobre a coisa, isso só nos Direitos Reais, mas o 
direito a uma prestação que consiste na entrega de uma coisa) 
• Divide-se em: de dare, praestare ou restituere 
• Prestação principal + Prestação secundária (complementa a prestação principal) 
Ex: contrato para criar um site (prestação principal), fornece ao empregado um 
computador (prestação secundária). 
2. Prestações de Factos – objeto é a realização de uma conduta (o seu interesse não 
corresponde a nenhuma realidade independente dessa prestação). Pode ser uma 
prestação de facto material ou de facto jurídico. 
• Divide-se em: de facere, non facere ou de pati 
• Pode ser de facto positivo (obrigação de fazer), de facto negativo (obrigação de 
não fazer) ou de suportação 
 
3. Prestação Fungível – prestação que pode ser realizada por outrem que não o devedor, 
que se pode fazer substituir no cumprimento (art. 767º/1). 
• Regra geral que pode admitir execução específica (art. 827º, 828º, 829º, 830º) 
4. Prestação Infungível – só o devedor pode realizar a prestação (art. 767º/2 - 
infungibilidade natural ou infungibilidade convencional). 
• Pode admitir sanção pecuniária compulsória mas pode acarretar a extinção (art. 
791º) 
 
5. Prestação Instantânea – execução ocorre num único momento. 
• Podem ser fracionadas (fixação prévia mas dividida em frações. Decurso do 
tempo não interessa. Ex: pagar em prestações) 
6. Prestação Duradoura – execução prolonga-se no tempo (realização global depende 
do decurso de um período temporal). 
• Periódicas/Repetidas: verifica-se obrigações distintas em função do decurso do 
tempo. Ex: pagar a renda, é em função do tempo da locação que se paga 
• Continuadas: onde a boa fé tem um papel mais importante. Ex: por inquilino 
pagar a renda, o que arrenda tem de garantir por mais um mês o usufruto. 
 
7. Prestação de Resultados – devedor vincula-se a obter determinado resultado, 
respondendo por incumprimento se tal não fosse alcançado. Ex: encomenda que não 
chega a tempo 
8. Prestação de Meios – devedor apenas estaria obrigado a atuar com diligência para 
obter um resultado. Ex: médico a tratar doente 
• Crítica de Gomes da Silva e Menezes Leitão: não há espaço no nosso direito para 
esta distinção 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
15 
 
9. Prestação Determinada –completamente determinada no momento da constituição. 
10. Prestação Indeterminada – determináveis, o que ocorre no momento do 
cumprimento. (Art. 400º) 
 
Em relação aos SUJEITOS 
1. Sujeito Indeterminado – art. 511º - credor pode não ficar logo determinado, mas o 
devedor deve sê-lo. 
 
2. Obrigações Plurais – pluralidade das partes na relação obrigacional. 
• Vinculação de várias pessoas para com outra (pluralidade passiva) 
• Vinculação de uma pessoa para com outras (pluralidade ativa) 
• Vinculação de várias pessoas para com outras (pluralidade mista) 
 
3. Obrigações Conjuntas (ou parciárias) – cada um dos devedores só está vinculado a 
prestar ao credor ou credores a sua parte na prestação e cada credor só pode exigir a 
cada devedor essa mesma parte. 
• Regra geral – prestação é realizada por partes e cada devedor presta a parte a 
que se vinculou. 
4. Obrigações Solidárias – art. 512º e ss. – caracterizadas pela identidade da prestação 
em relação a todos os sujeitos da obrigação, a extensão integral do dever de prestar ou 
direito à prestação em relação respetivamente a todos os devedores ou credores, e o 
efeito extintivo comum da obrigação caso se verifique a realização do cumprimento por 
um ou a apenas um deles. 
• Art. 513º - solidariedade só existe quando resulta da lei ou da vontade das 
partes 
 
• Solidariedade Passiva: qualquer um dos devedores está obrigado perante o 
credor a realizar a prestação integral 
o Relações Externas – maior eficácia do direito do credor, que se pode 
exercer integralmente contra qualquer um dos devedores (art. 512º/1 
e 519º/1), não podendo estes invocar a divisão (art. 518º). Credor pode 
optar por demandar conjuntamente os devedores renunciando à 
solidariedade (art. 517º). Admite-se que o credor renuncie à 
solidariedade perante um devedor, conservando o direito à prestação 
por inteiro sobre os restantes (art. 527º) 
o Relações Internas – não é extensível; o devedor que satisfazer a 
prestação acima da parte que lhe competir adquire um direito de 
regresso11 sobre os outros devedores, pela parte que a estes compete 
(art. 524º) 
• Solidariedade Ativa: qualquer um dos credores pode exigir do devedor a 
realização da prestação integral 
o Relações Externas – um dos credores pode exigir a realização integral 
da prestação ao devedor (art. 512º/1). Devedor pode escolher a que 
 
11 Meios de defesa: compensação e direito de regresso. Podem ser meios de defesa comum (qualquer 
condevedor pode invocar – ex: obrigação nula) ou meios de devesa pessoal (apenas 1 pode invocar de 
forma interna e externa podendo até prejudicar outros). A prescrição só vale face ao credor e não afeta 
os condevedores. 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
16 
 
credor satisfaz a prestação (art. 528º/1) que se não aceita incorre em 
mora (art. 813º). Realização exonera o devedor (art. 532º) 
o Relações Internas – o credor cujo direito foi satisfeito além da parte que 
lhe competiana relação tem a obrigação de satisfazer aos outros a 
parte que lhes cabe no crédito comum (art. 533º) - direito de regresso 
ativo dos outros credores sobre o credor que recebeu a prestação. Lei 
presume igualdade das partes (art. 516º) mas pode não o ser. 
• Solidariedade Mista: qualquer um dos credores pode exigir a qualquer um dos 
devedores a prestação devida por todos os devedores e credores. 
 
5. Obrigações Plurais Indivisíveis Conjuntas – art. 535º – prestação tem que ser 
exigida de todos os devedores simultaneamente. Se se extinguir obrigação a um dos 
devedores, a parte desse devedor onerado será redistribuída pelos restantes devedores 
(art. 536º) 
 
6. Outras obrigações plurais - obrigações correais (pluralidade mas crédito uno), 
disjuntas (pluralidade mas apenas um escolhido como sujeito na relação) e em mão 
comum (pluralidade por ser património de mão comum sendo um vínculo coletivo 
 
Em relação ao OBJETO 
1. Obrigações Naturais – art. 402º e ss. – característica da não exigência judicial da 
prestação12, resumindo a tutela jurídica à possibilidade do credor conservar a prestação 
espontaneamente realizada (soluti retentio). Exclui-se a repetição do indevido (são 
exceção ao art. 476º) 
• Situações de obrigações proscritas (art. 304º/2) 
• Jogo e aposta (art. 1245º) 
• Pagamento ao filho de uma compensação por obter bens para os pais (art. 
1895º/2) 
i. Guilherme Moreira: defende como relações de facto 
ii. Galvão Telles + Antunes Varela: constitui um dever oriundo de outras 
ordens normativas, cujo cumprimento a lei atribuiria efeitos jurídicos 
iii. Manuel de Andrade + Almeida e Costa + Vaz Serra + Menezes Cordeiro: 
obrigações jurídicas imperfeitas, sendo o regime diferente dos outros 
porque não permite a execução 
iv. Menezes Leitão: não constitui verdadeira obrigação jurídica na medida 
que não há vínculo jurídico. É a lei que recusa o credor natural a tutela 
jurídica desse direito ao negar-lhe a faculdade de exigir judicialmente o 
cumprimento. Não existe um direito primário à prestação, como direito 
de crédito. O cumprimento da obrigação natural é juridicamente não 
devido. A lei limita-se a reconhecer causa jurídica à prestação realizada 
espontaneamente, tutelando a aquisição pelo credor. 
 
12 Cumprimento é um dever ético e de justiça não sendo assistidas pela garantia geral e em juízo não se 
pode exigir a realização coativa – à partida sujeitas ao mesmo regime que as outras e se cumprir 
espontaneamente tem que atender à boa fé; o devedor depois de prestar não pode exigir que a prestação 
lhe seja devolvida 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
17 
 
v. Dário Moura Vicente: o credor tem alguma tutela portanto pode dizer-
se que em aceção muito ampla estamos perante obrigação, se bem que 
não no sentido do CC 
 
2. Obrigações Genéricas – art. 539º e ss. – objeto da prestação apenas se encontra 
determinado quanto ao género 
• Tem que sofrer Concentração: processo de individualização do espécime dentro 
do género. Passagem de genérica a específica. Escolha do devedor (regra geral 
do art. 539º, exceções no art. 542º) dentro dos ditames da boa fé na integração 
do NJ - como indica o art. 400º ao falar da determinação 
• Indeterminação inical coloca o problema de saber em que momento se 
transfere a propriedade, que interessa para o regime do risco (art. 796º). Só se 
pode dar com o conhecimento de ambas as partes (art. 408º/2). Transferência 
da propriedade ocorre no momento da concentração da obrigação, não se 
exigindo que essa concentração seja conhecida de ambas as partes. Que é 
quando? 
i. Teoria da escolha – Thöl: ocorre quando o devedor procede à 
separação dentro do género das coisas que pretende usar para cumprir 
a obrigação. Risco correria depois para o credor. 
ii. Teoria do envio – Puntschart: simples separação não basta, o devedor 
tem que proceder ao envio para o credor das coisas com que pretende 
cumprir a obrigação. Risco era pelo credor a partir do momento do 
transporte. 
iii. Teoria da entrega – Jhering: só com o cumprimento da obrigação. Risco 
era do devedor antes da entrega. 
o Solução da lei no art. 540º (que consagra irrelevância da 
escolha ou envio, devedor continua a ter que entregar coisas do 
mesmo género pelo que ainda não se concentrou) com exceções 
no art. 541º (1ª - contrato modificativo da obrigação que se 
substitui uma genérica por uma específica; 2ª - ocorre por facto 
de natureza; 3ª - mora do credor não impede realização de nova 
escolha) 
o Quando a escolha é do credor ou de terceiros a lei adota no art. 
542º a teoria da escolha 
 
3. Obrigações Específicas – tanto o género como os espécimes da prestação estão 
determinados 
 
4. Obrigações Alternativas – art. 543º e ss. – convenciona-se 2 prestações, ou entrega-
se uma ou outra e escolhe-se pelo interesse ou pelo estipulado pelo contrato; uma é 
concretizável através de uma escolha (que geralmente pertence ao devedor). Não se 
consideram alternativas as obrigações condicionais (em que se realiza uma em caso de 
se verificar a condição e outra caso não se verifique) 
• Impossibilidade Casual – art. 545º - ocorre fenómeno de redução da obrigação 
alternativa à prestação que ainda seja possível. 
• Impossibilidade Imputável a uma das partes com escolha de terceiro 
i. Antunes Varela: terceiro escolha se indemnização ou a outra prestação; 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
18 
 
ii. Menezes Cordeiro e Menezes Leitão: terceiro perde faculdade de 
realizar a escolha (só pode fazê-lo entre duas prestações possíveis e não 
entre prestação e indemnização) 
 
5. Obrigações com faculdade alternativa – convenciona-se que se pode substituir a 
prestação através de outra prestação que não a convencionada; prestação determinada 
mas devedor tem a faculdade de substituir o objeto da prestação por outro 
 
6. Obrigações Pecuniárias – têm por objeto dinheiro e visam proporcionar ao credor o 
valor dele 
• Obrigações de quantidade - têm por objeto quantidade de moeda com curso 
legal no país. 
i. Art. 550º - princípio do curso legal (só em espécies de moedas a que o 
Estado reconheça função liberatória genérica) 
ii. Princípio do nominalismo monetário13 (consideração é o valor nominal 
da moeda independentemente de qual seja o seu valor de troca no 
momento do cumprimento) 
• Obrigações em moeda específica - art. 552º com duas modalidades - obrigações 
em certa espécie monetária e obrigações em valor de certa espécie monetária 
• Obrigações em moeda estrangeira - Obrigações Valutárias Próprias 
(cumprimento só pode ser realizado em moeda estrangeira – proteção do 
credor), Obrigações Valutárias Impróprias (moeda estrangeira funciona apenas 
para através do câmbio saber a quantidade de moeda nacional devida), 
Obrigações Valutárias Mistas (faculdade alternativa de o devedor escolher) 
 
7. Obrigações de Juro/ Obrigação de Capital – correspondem à remuneração da 
cedência ou do diferimento da entrega de coisas fungíveis (capital). Os juros podem ser 
remuneratórios, compensatórios, moratórios e indemnizatórios. 
• Lei prevê a possibilidade de pagar em juros e fixa taxa de juro legal, proibindo o 
que exceda muito de tal e os juros sobre juros (anastocismo) – art. 559º, art. 
559º-A, art. 560º 
 
Fontes das Obrigações 
Menezes Leitão: as obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos. 
➢ É fonte de obrigações o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional (situações 
muito heterogéneas) 
➢ Art. 405º e ss. apresenta enumeração: contratos, negócios unilaterais, gestão de 
negócios, enriquecimento sem causa, responsabilidade civil 
 
 
1) Fontes de obrigações que resultam da autonomia privada: contratos, negócios unilaterais - 
negócios jurídicos 
 
13 Não há correção monetária nos pagamentos acordados (podia propiciar o aumentoda inflação) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
19 
 
2)Fontes de obrigações que não resultam da autonomia privada: obrigação de indemnização 
(responsabilidade delitual, obrigacional, pelo risco e por factos lícitos ou sacrifícios), gestão de 
negócios, enriquecimento sem causa - resultam da lei, que atribui a certos pressupostos o efeito 
jurídico da constituição de uma obrigação. 
 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
20 
 
CONTRATOS 
Noção, fontes normativas e fundamentos da sua eficácia 
Contrato é modalidade essencial do negócio jurídico – definido no art. 405º: princípio orientador 
do negócio está definido na parte das obrigações, mas devia de estar na parte geral pois há 
contratos não obrigacionais (ex: Casamento). 
 
Negócios Unilaterais e Contratos 
Critério da quantidade de partes no negócio. 
Unilateral – negócio só tem uma parte (art. 457º) ex: testamento, confirmação 
Bilateral – se o negócio tem 2 partes – pode ser também Multilateral – Contrato 
 
O que é uma parte? 
Parte é diferente de pessoa (podem estar mais que uma pessoa do mesmo lado do negócio) e 
diferente de declaração negocial (podem haver várias declarações negociais no mesmo sentido). 
➔ Parte delimita-se pela ideia de titular de um interesse (de Jhering) – há tantas partes 
num negócio jurídico quantos interesses14 individualizáveis hajam; a cada interesse 
corresponde uma parte15 
 
Noção de Contrato é muito importante para todos os ramos de direito. 
• Significado ideológico – manifestação da autonomia privada numa demonstração de 
liberdade 
• Significado económico – relevância enquanto instrumento essencial para 
funcionamento económico (contratação) 
 
Há uma convergência/encontro de vontades (art. 232º). 
➔ Contrato é manifestação da vontade, mas esta não basta: é necessário uma vontade de 
vinculação e a manifestação da vontade (princípio do consensualismo não impõe forma, 
art. 219º) 
 
Precisam de uma causa: função económica-social da celebração do contrato (o porquê do NJ) 
➔ Generalidade dos contratos exige-o, exceto os negócios abstratos em que a sua validade 
não depende da causa 
o Há fronteiras discutíveis sobre a exigência da causa, que tem de ser lícita 
 
Dário: Contrato = acordo de vontades no sentido de atribuição de efeitos jurídicos + vontade 
de vinculação + licitude 
 
O contrato está regulado no CC e noutras leis e regimes normativos, baseando-se em vários 
princípios: 
• Princípio da Liberdade Contratual – autonomia privada: art. 405º (balizado pelos art. 
280º, 281º 
 
14 Interesse – tenho interesse num bem quando tenho necessidades que esse bem está apto a satisfazer 
15 Menezes Cordeiro: parte = efeitos do negócio 
➢ Menezes Leitão discorda e o ênfase é no modo de formação - contrato assume-se como resultado 
de duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente concordantes entre si, 
de onde resulta uma unitária estipulação de efeitos jurídicos. 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
21 
 
• Princípio da boa fé – desde o princípio da tutela da confiança ao da materialidade 
subjacente, concretizam a boa fé16 
• Princípio da equivalência das prestações 
• Princípio pacta sunt servanda 
• Princípio eficácia relativa dos contratos: art. 406º/2 – vem em torno da discussão da 
eficácia externa (exceção à regra da eficácia inter partes)17 
• Princípio do consensualimo: art. 219º - geralmente há uma desnecessidade de qualquer 
forma especial para a celebração do contrato. 
 
Modalidades dos Contratos: 
Multiplicidade de Negócios Jurídicos (categoria magna que sintetiza a autonomia privada) com 
critérios diferentes e, por isso, sobreponíveis. 
Estas modalidades são as mais comuns, embora possam haver outras. 
➢ São sobreponíveis (são vários os critérios que as distinguem) 
➢ Algumas têm subclassificações 
➢ Classificações têm consequências jurídicas ao nível do regime 
 
Bilateral ou Unilateral 
Sendo que também se chamam (Dário): 
Contratos Sinalagmáticos e Não-Sinalagmáticos 
Sinalagma liga as prestações e as contraprestações que, no mesmo negócio, são a causa 
jurídica e o fundamento um do outro – sem uma não se pode exigir a outra. 
o Sinalagmáticos – nexo de reciprocidade entre as obrigações dos contraentes: 
partes assumem obrigações recíprocas em que uma está na interdependência 
da outra. Situações de “só se… se” – simultaneamente credor e devedor. 
▪ Com o contrato cria-se um nexo entre as prestações (sinalagma genético) 
que se mantém no sentido de que uma prestação não pode ser executada 
sem a outra (sinalagma funcional) 
o Não-Sinalagmáticos – posição/deveres das partes não são correspectivos: não 
dependem uma da outra e uma parte tem situação passiva e outra ativa. Ex: 
doação de uma casa, mas ao doar dou o encargo de lá ficar com a avozinha – 
apenas uma das partes assume uma obrigação e a contraparte não tem deveres, 
apenas o encargo 
 
Direito privado ou Direito público 
 
Obrigacionais, reais, familiares e sucessórios 
Origem na técnica de divisão do CC – relacionado com os efeitos que o negócio produz numa 
figura multiusos plástica e adaptável. 
Podem produzir mais que um destes efeitos: extinguem, modificam, transferem ou fazem surgir 
uma situação jurídica no âmbito de cada um 
Ex: penhor, hipoteca 
 
 
 
16 Que acompanha toda a contratação 
17 Várias posições da doutrina 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
22 
 
Contratos reais quod constitutionem vs. reais quod efectum 
Quanto ao modo de formação. 
 
Obrigacionais e Reais 
Quanto aos efeitos - eficácia jurídica que pode ser constitutiva, transmissiva, modificativa ou extintiva. 
Geralmente, em coisa determinada, a propriedade transfere-se no momento do acordo de ambas as partes 
- exceção nas obrigações genéricas em que a propriedade só se transfere no momento da concentração da obrigação, 
art. 540º 
➢ Transferência da propriedade é sempre por efeito do contrato - tornou-se comum para maior 
proteção a celebração de uma cláusula de reserva de propriedade (art. 409º) em que o alienante 
reserva para si a propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra 
parte. Protege o vendedor dos credores do comprador e ainda pode resolver o contrato pelo art. 
801º/1. O risco é dividido de acordo com o proveito que cada um tirava da situação jurídica de que 
era titular. 
 
Comutativos e Aleatórios 
Ambas as atribuições patrimoniais são certas vs. pelo menos uma das atribuições patrimoniais 
é incerta (quanto existência ou conteúdo) 
 
Onerosos e Gratuitos 
Atribuições patrimoniais para ambas as partes vs. atribuições patrimoniais para uma só parte 
 
Nominados e Inomidados 
Nominados – aqueles que a lei designa por um nomen iuris 
Inominados – a lei não designa e são sempre atípicos 
 
Típicos e Atípicos 
Critério de estar ou não regulado. 
Típicos – aqueles previstos na lei, com o regime regulado: 
Atípicos – não previstos na lei, mas que as partes podem estabelecer segundo a sua 
autonomia privada 
 
Cada vez vão surgindo mais contratos atípicos – há novos contratos que são úteis ao consumidor 
e a lei não os contempla; muitos surgem pelos usos 
Ex: leasing (alocação financeira); crédito documentário; concessionário financeiro; garantias 
bancárias autónomas 
 
Podem ser Mistos – têm características de vários contratos típicos da lei 
Que regras se lhes aplicam? 
• Teoria da Combinação/Conjugação – Hoeninger: aplicação combinado dos dois regimes, 
art. 1028º/1 
• Teoria da Absorção – Lotmar: aplica-se um único regime contratual, o tipo predominante 
(que nem sempre existe), art. 1028º/3 
• Teoria da Analogia – Screiber: não se aplica nenhum deles e reconhece-se a autonomia 
do contrato misto como atípico 
• Teoria da Integração: como está omisso na lei, integra-se por analogia e atendendo ao 
sistemaSebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
23 
 
o Dário: há casos sem elemento preponderante, outros com e outros que não se 
pode reconduzir a um só 
 
União de Contratos 
Celebração conjunta de vários contratos, unidos entre si (possibilita a individualização face 
ao conjunto embora com um nexo que os une) 
• União externa - sem qualquer laço de dependência e apenas celebrados ao mesmo 
tempo. Ex: ir a café e pedir bolo, café e cigarros. 
• União interna - relação de dependência em que só se aceita um em função do outro. Ex: 
só compro este pc se venderem também impressora 
• União alternativa - partes pretendem um ou outro contrato ocorrendo ou não certa 
condição. Ex: arrendo casa em Lisboa e Porto mas só vigora o arrendamento quando 
souber onde fui colocado 
 
Contraentes celebram contratos diferentes e autónomos mas com a mesma finalidade. Ex: 
project finance (com celebração de muitos contratos) 
Menezes Cordeiro: dois ou mais negócios são colocados numa situação de 
interdependência originando diversos efeitos jurídicos. 
 
 
Culpa na formação dos contratos (culpa in contrahendo) 
Figura que vem desde o CC italiano de 1942 (embora com anterior influência alemã; na 
Alemanha só se positivou em 2002). CC português foi dos primeiros a regulamentar (Vaz Serra 
estava muito atento ao estrangeiro) embora fosse pouco aplicado e apenas houve uma explosão 
da sua aplicação nos anos 90. 
 
É fonte de obrigações pois dos deveres jurídicos na fase preliminar pode surgir a obrigação de 
indemnizar. 
Jhering: na formação e cumprimento do contrato, as partes devem de agir de forma leal. 
Categoria de interesses tutelados: os injustamente prejudicados pela não realização do 
contrato, expectativa protegida. 
 
Responsabilidade pré-contratual: tutela face ao efeito das declarações negociais antes do 
negócio ser feito mas com vista a que o negócio se faça. 
Partes não são inteiramente livres e estão sujeitas a deveres éticos de boa fé – cada uma 
das partes quando negoceia para concluir o negócio tem que também ter em atenção 
os interesses da outra parte 
 
Art. 227º18 - são os ditames da boa fé19 que vinculam as partes na relação jurídica pré-
contratual (em que não há deveres primários de prestação, há apenas deveres acessórios de 
conduta 
Sanções: apenas indemnização, não há execução específica pois isso limitaria muito a 
liberdade contratual (oposição princípio da liberdade contratual vs. tutela da confiança) 
nº2: exige que o afetado aja rapidamente e não protele 
 
18 Embora esta figura surja em outros regimes jurídicos: LCCG (art. 5º e 6º) com obrigações de informação 
e etc.; defesa do consumidor; contratação à distância; contratação eletrónica 
19 Avaliada casuisticamente pelo intérprete 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
24 
 
Jurisprudência Portuguesa dá-nos os pressupostos para haver obrigação de indemnizar: 
1. Ilicitude – violação de dever jurídico quando se cria expetativa digna de tutela jurídica. 
Que deveres: 
i. Informação: as partes devem, na formação, prestar as informações 
relevantes que condicionam a formação da vontade negocial. Dever geral 
de esclarecimento de questões relevantes para o homem-médio – não é 
igual em todas as situações. 
➢ Temperado com Dolus Bonus (art. 253º/2) – conceções dominantes 
dos usos e costumes do comércio; artifícios normais dos negócios 
jurídicos. Ex: se vendo a casa com humidade, aponto para as lindas 
portas que a casa tem 
o Tem que haver, também, um mínimo de diligência da 
contraparte. 
o Dever de informar é limitado pelo ónus da contraparte 
ii. Lealdade: e correção. As partes não podem prestar informações erróneas 
nem criar expectativas infundadas na outra parte. Atendem à boa-fé. 
o Menezes Cordeiro: Partes não podem adotar 
comportamentos que se desviem da procura do contrato 
nem assumir atitudes que induzam em erro ou provoquem 
danos injustificados. Também é de modo progressivo. 
iii. Segurança e Proteção (Menezes Cordeiro): condições reunidas para se fazer o 
negócio. Dever de ressarcir danos a pessoas e bens. Quando se está num ambiente 
contratual, a parte deve proteger a outra para que se realize a posterior 
contratação. 
➢ Palma Ramalho = PPV: muitas vezes estão desligados do negócio jurídico e 
não são tutelados dando indemnização por responsabilidade 
extracontratual. Para que se considere responsabilidade pré-contratual o 
ambiente contratual tem que estar muito bem definido e fixado para tal se 
poder apurar. 
2. Diligência da contraparte (de bonus pater famílias – art. 487º/2) 
3. Dano – indemnização pela redução de uma vantagem, pode ser patrimonial ou não 
patrimonial, emergente (supressão de certa utilidade – releva interesse contratual 
negativo) ou lucro cessante (não obtenção de uma vantagem que seria obtida – releva 
interesse contratual positivo) 
4. Nexo de causalidade – do ilícito é que surge o dano (doutrina da causalidade adequada) 
 
Qual a natureza da culpa in contrahendo? 
Dário: figura de fronteira entre a Responsabilidade Extracontratual e a Responsabilidade 
Contratual – zona de fronteira que explica o regime ter normas dos dois tipos de 
responsabilidade (regime conjugado e misto) 
 
 
 
 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
25 
 
Contratos de Adesão 
Contratos com Cláusulas Contratuais Gerais 
Contratação através de modelos uniformes e de larga escala. Conjunto de condições 
contratuais previstas de antemão e que não estão abertas à discussão pela contraparte (não 
é possível a negociação individual dos contratos) 
Predisponente estabelece um conjunto de cláusulas a que o Aderente aceita ou não – 
destinatário indeterminado que aceita ou não (liberdade de celebração e não de estipulação). 
➢ Menezes Cordeiro: Proposições impessoais, pré-elaboradas, que os contratantes 
podem adotar, para efeitos de conclusão de um negócio20. 
 
Fenómeno ligado à massificação dos contratos e muitas vezes dizem respeito a uma agilização 
das necessidades básicas. 
 
Características frequentes: 
1. Desnível na informação de uma das partes – as partes não têm o mesmo poder 
económico e uma delas pode não ter capacidade para avaliar plenamente. 
Superioridade económica e/ou científica em relação ao aderente 
2. Apresentação formulária – dispostas usualmente em formulários pré-formatados 
3. Complexidade do clausulado – cláusulas muito complexas que preveem a maior parte 
das situações. São cobertos, com minúcia, todos os aspetos contratuais; alarga-se a um 
grande número de pontos. 
 
Decreto-Lei 446/85, de 25 de Outubro21 
Dário: 2 categorias de interesses (predisponente vs. aderente) que leva a conjugar-se 2 valores: 
liberdade contratual e confiança. 
Apesar de não haver liberdade de estipulação, tem que haver uma adesão e os tribunais 
em muitos casos podem intervir – deve manter-se a conceção de contrato 
 
Ingredientes do âmbito de aplicação – art. 1º/1 
• Cláusulas de pré-elaboração: já existem antes da sua inclusão num contrato 
• Rígidas (não permitem alteração): limitam-se a acolhê-las sem negociações para 
modificação do seu teor 
• Dirigidas a destinatários indeterminados: utilizáveis na conclusão de uma 
multiplicidade de contratos 
• Destinatários limitam-se a aceitar 
 
Art. 1º/2 – estende as CCG a contratos cujo conteúdo seja previamente estabelecido sem 
discussão. Não só àqueles que têm as características e ingredientes de CCG mas também aos 
Contratos de Adesão. 
➢ CCG ficam abrangidas independentemente da forma da sua comunicação ao público, da 
extensão que assumam, do conteúdo que regulam, elaboradas pelo proponente, 
destinatário ou por terceiros. 
 
Art. 3º Exceções - limita o âmbito de aplicação 
 
20 Somos livres de negociar todos os pontos mas tal não é viável e desde a maternidade com CCG 
hospitalares, até à cova com CCG funerárias, todaa vida humana está imersa nas cláusulas. 
21 Revisto em 95 e 99 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
26 
 
Medida da vinculação do aderente à luz de deveres de informação 
Art. 4º, 5º, 6º - as CCG podem ser inseridas em contratos singulares22 mas estão sujeitas a 
deveres de comunicação e informação – a contraparte deve estar esclarecida numa 
concretização da lealdade do art. 227º 
➢ Não valem cláusulas contratuais gerais em letra ilegível, noutra língua, etc. 
➢ A outra parte tem ainda o direito de ser esclarecida relativamente ao conteúdo de 
cláusulas que não seja claro – comunicação na íntegra e adequada, devendo ser 
entendidas pela contraparte 
 
Art. 7º Cláusulas Prevalentes - cláusulas negociadas prevalecem sobre as CCG: vontade das 
partes manifestou-se ao acordar lateralmente cláusulas específicas – devem ser invocadas e 
provadas para quem delas se queira prevalecer. 
 
Incumpridas regras de comunicação, qual a sanção? 
Cláusulas Excluídas – não foram devidamente comunicadas ou informadas (ninguém pode dar 
consentimento em algo que não conheça ou não entenda) 
Art. 8º/a - cláusulas que não respeitarem estes deveres de comunicação e de informação 
consideram-se excluídas dos contratos singulares; 
Art. 8º/c – cláusulas surpresa, passam despercebidas ao contraente 
➢ Art. 9º - os contratos subsistem sem as devidas cláusulas, a não ser que sejam 
essenciais e que sem elas o contrato não subsista 
 
Art. 10º - estabelece as regras gerais para a interpretação das CCG (remetendo para o art. 236º 
e 239º CC) 
➢ Subsistindo dúvidas aplica-se o art. 11º 
o Art. 11º/2: in dúbio contra stipulatione 
 
O predisponente tem que atender à boa fé (art. 15º) 
Distingue-se de cláusulas absolutamente proibidas e de outras relativamente proibidas, 
conforme o interesse subjacente (art. 18º e 19º)23 – aplicáveis aos consumidores pelo art. 20º 
➢ Conjugando, é proibido: cláusulas que excluam responsabilidades, estabeleçam 
obrigações perpétuas, que estabeleçam sanções pecuniárias desproporcionadas, que 
minimizam responsabilidade e etc. 
➢ Também há proibições absolutas e relativas com consumidores (art. 21º e 22º) 
 
 
Consequências: cláusulas nulas para efeitos do contrato singular (art. 12º) – embora o contrato 
possa manter-se por vontade do aderente (art. 13º que remete para o art. 292º CC) 
A nulidade (art. 24º) pode ser insuficiente – mecanismo a posteriori 
 
22 A inclusão em contratos singulares tem os encargos de efetiva comunicação (art. 5º), efetiva informação 
(art. 6º), inexistência de cláusulas prevalentes (art. 7º) 
Contrato individual feito com CCG – há milhares de contratos singulares com as mesmas CCG (ex: todos 
os clientes MEO) 
23 Proibições absolutas: art. 18º - a) b) c) d), nulidade das cláusulas de exclusão ou da limitação da responsabilidade 
(autonomia para empresários mas com responsabilidades); e), visa evitar que se consiga por via interpretativa aquilo 
que as partes não podem diretamente alcançar; f) g) h) i), institutos da exceção do não cumprimento do contrato; j), 
visa evitar obrigações perpétuas; l), evitar que esquemas de transmissão do contrato limitem a responsabilidade. 
Proibições relativas, art. 19º - relações entre empresários e apenas é um juízo de valor, feito dentro da lógica de cada 
tipo negocial em jogo permitindo restabelecer a justiça dentro do contrato. 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
27 
 
➢ Pode propor-se ação inibitória (art. 25º) – erradica as CCG para o futuro, as cláusulas 
desaparecerão do formulário e já não constam no futuro – mecanismo ex-ante 
o Feito por instituições como sindicatos, Ministério Público, associações de defesa 
do consumidor e etc. autorizados pelo art. 26º 
 
 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
28 
 
Contratos Preliminares 
Aqueles cuja execução pressupõe a celebração de outros contratos. 
Relevantes: o contrato-promessa (art. 410º e ss.) e o pacto de preferência (art. 414º). 
 
Menezes Cordeiro: contratação mitigada – quando as partes assumem certos 
compromissos durante a fase das negociações embora sem uma efetiva vinculação a 
uma obrigação – cartas de intenção, acordo de negociação, acordo de base, acordo-
quadro e protocolo complementar. Em caso de incumprimento apenas se pode alegar o 
art. 227º. 
 
CONTRATO-PROMESSA 
Art. 410º/1: convenção pela qual alguém se obriga a celebrar novo contrato (definitivo). O seu 
objeto é a obrigação de contratar (relativa a qualquer contrato). Promitentes vinculam-se a uma 
prestação de facto jurídico.24 
Normalmente tem eficácia obrigacional mesmo que o contrato prometido tenha eficácia 
real. 
 
Art. 410º/1: Princípio da Equiparação – extensão do regime do contrato definitivo ao contrato-
promessa, sujeitando-o, em princípio, às mesmas regras que o contrato definitivo. 
Exceções: relativamente à forma – não é necessariamente a mesma forma, pode ter uma 
menos solene (exceção no art. 410º/225); disposições que pela razão de ser não devam 
considerar-se extensivas ao contrato-promessa – afastamento das características que 
não se harmonizem com o contrato-promessa. Ex: a propriedade da coisa não se 
transmite no contrato-promessa (à luz do art. 879º); no caso da venda de bens alheios, 
que é nula no contrato definitivo quando o vendedor não tenha legitimidade para tal 
(art. 892º), no contrato promessa tal já é válido pois o que está em causa é mera 
obrigação de contratar 
 
Pode ter modalidade: 
Unilateral – em que se pode considerar o Preço de Imobilização (outra parte assume obrigação 
de pagar ao promitente determinada quantia como contrapartida pelo facto de se manter 
durante certo tempo vinculado à celebração de um contrato)26. Pode haver prazo nessa 
vinculação de contrato-promessa unilateral (art. 411º). 
Bilateral – à promitente vendedor e comprador. E se faltar uma assinatura? 
 
24 Contrato preliminar com força vinculativa plena. A prestação é um facto jurídico. As partes obrigam-se 
a celebrar um negocio jurídico. Porque não fazem logo contrato final? Motivo financeiro, vendedor não 
tem a coisa e etc. 
Entre as datas muita coisa pode acontecer e pode-se prometer bens alheios com vista a que sejam 
adquiridos. O art. 892º, pela razão de ser, não deve ser extensível ao contrato-promessa. 
25 Já o art. 410º/3 não diz respeito à forma mas sim a formalidades. Exige que contrato-promessa 
de transmissão de direito real sobre edifício ou fração autónoma seja acompanhado por 
reconhecimento presencial de assunaturas e certificação da licença de utilização ou construção. 
Formalidades para a validade plena do negócio – necessidade de controlo notarial. 
Não cumpridos dão origem à invalidade do contrato-promessa. Invalidade mista. 
 
26 Remuneração pela promessa de venda 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
29 
 
A. Tese da Transmutação Automática desse contrato em Promessa Unilateral – STJ entre 
1972 e 1977 
B. Tese da Nulidade Total do Contrato – STJ a partir de 1977, assinatura é essencial para a 
natureza sinalagmática do contrato (mostra inequivocamente a vontade) 
C. Tese da Conversão – Antunes Varela, Galvão Telles – quando falta uma assinatura há uma 
invalidade total e por isso utiliza-se o mecanismo da conversão para aproveitar o 
negócio jurídico (art. 293º)27 
a. Não salvaguarda a manutenção do sinal caso já tenha sido constituído 
D. Tese da Redução – Almeida Costa, Menezes Leitão – nulidade é parcial pelo que se deve 
aplicar o regime da redução (art. 292º) pois este melhor tutela os interesses da parte 
que pretende aproveitamento do negócio jurídico (cabe ao interessado na nulidade 
provar que o contrato não se teria concluído sem a parte viciada) 
E. Tese Intermédia – Menezes Cordeiro – situação nunca poderia ser de invalidade parcial 
mas sim de invalidade total, no entanto, admite que a redução pode salvaguardar 
melhoros interesses do contraente vinculado; visão conjunta que remete para o art. 
239º 
 
Art. 412º: não reconhece ao contrato-promessa um cariz intuitu personae e nada impede que, 
mesmo por morte de uma das partes, o cumprimento da obrigação respetiva seja exigido ou 
requerido dos herdeiros. Isto só não acontece caso tenham celebrado o contrato 
especificamente tendo em consideração a pessoa do outro contraente (art. 2025º). 
 
Se uma parte incumpre? Execução Específica (art. 830º) 
A parte fiel pode obter a satisfação do seu direito por via judicial – tribunal emite sentença que 
produz os mesmos efeitos jurídicos da declaração negocial que não foi realizada, operando-se 
assim a constituição do contrato definitivo – art. 830º/1 
“não cumprimento” em sentido amplo, basta a simples mora do credor 
 
Deixa de ser possível quando se verificar impossibilidade definitiva de cumprimento. 
 
Além disto, a execução específica não é permitida quando: 
• Existe convenção em contrário – art. 830º/2, não é regime imperativo pelo que as partes 
podem derrogá-lo (presume-se que o fazem quando constituem sinal ou estipulem 
penalização pelo incumprimento – partes pretendem indemnização e não execução 
específica; esta presunção é ilidível, art. 350º/2) mas não pode ser afastado nos casos do 
art. 410º/3 (há sempre execução espcífica); 
• É incompatível com a natureza da obrigação – devido à índole específica do contrato 
prometido ou da sua natureza pessoal (nos contratos reais quod constitutionem – 
penhor, mútuo, comodado, depósito – exige-se a tradição da coisa para se operar o 
contrato definitivo e o tribunal não pode substituir tal; contratos de trabalho) 
 
Para que receba o contrato definitivo o tribunal impõe que o autor consigne em depósito toda 
a sua prestação (art. 830º/5) 
 
 
 
27 Vontade conjetural positiva (tem que demonstrar que as partes queriam conteúdo diverso) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
30 
 
Articulação com o regime do sinal 
Sinal – cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes entrega à 
outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível (normalmente dinheiro). 
Fixa as consequências do incumprimento, uma vez que se a parte que constitui o sinal 
deixar de cumprir a sua obrigação, a outra parte tem o direito de fazer sua a coisa 
entregue. Se não cumprimento parte de quem recebeu o sinal, tem de o devolver em 
dobro (art. 442º/2/1ª parte). 
Verificando-se o cumprimento do contrato, a coisa entregue será imputada à prestação 
devida, valendo como princípio de pagamento, ou restituída caso essa imputação não 
seja possível (art. 442º/1) 
Só se constitui com a tradição da coisa que é seu objeto (caso típico datio rei 
que se transmite a propriedade com função confirmatória-penal). 
 
Art. 440º: se as partes quiserem que tenha o caráter de sinal devem atribuir-lhe especificamente 
essa natureza. 
No contrato de promessa é diferente – presume-se sempre o caráter de sinal (art. 
441º); presunção ilidível (art. 350º/2) mas de prova difícil de efetuar (caso se prove, a 
quantia deve ser imputada como antecipação do cumprimento da obrigação) 
 
Lei estabelece distinção no regime do Sinal caso ele seja aplicado genericamente a todos os 
contratos ou especificamente ao contrato-promessa 
• Art. 442º/1 – contratos genéricos 
• Art. 442º/2/1ª parte – regime geral explica funcionamento em caso de incumprimento28 
• Art. 442º/2/2ª parte – funcionamento do sinal em específico no contrato-promessa (se 
houver tradição da coisa a que se refere o contrato prometido, o adquirente pode optar, 
em lugar da restituição do sinal em dobro, por receber o valor atual da coisa, ao tempo 
do incumprimento (direito à valorização da coisa), com dedução do preço 
convencionado, acrescido do sinal e da parte do preço que tenha sido paga). 
• Art. 442º/3/1ª parte – o contraente não faltoso pode requerer execução específica. 
o Execução específica é possível, haja ou não haja tradição da coisa a que se refere 
o contrato-prometido. 
• Art. 442º/3/2ª parte - a atribuição do aumento do valor da coisa ou do direito destina-
se a evitar que o promitente faltoso venha a obter um enriquecimento injustificado, em 
virtude do facto ilícito que é o incumprimento da obrigação de contratar. 
o Gerou discussão na doutrina de se saber se uma posterior oferta de 
comprimento paralisa o direito ao aumento do valor da coisa. 
▪ Menezes Leitão: é norma específica do contrato-promessa donde não 
se extrai conclusões sobre o funcionamento do sinal. No regime geral a 
lei exige o cumprimento definitivo e não o atraso. Em especial para os 
contratos-promessa transforma-se a mora em incumprimento 
definitivo por objetiva perda de interesse na prestação ou pela fixação 
de prazo suplementar de cumprimento (art. 808º) – mas só em caso de 
incumprimento definitivo. A opção pelo aumento do valor da coisa 
pode ocorrer antes, em simples mora, valendo esta como a renúncia do 
 
28 E se for imputável a ambas as partes, as obrigações extinguem-se por compensação (art. 847º) 
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB 
31 
 
promitente comprador a desencadear o mecanismo do sinal, uma vez 
verificado o incumprimento definitivo. 
o Opção pelo aumento do valor da coisa não tem função compulsória. 
• Art. 442º/4 – o sinal funciona como indemnização antecipada pelo que a parte não 
poderá reclamar outras indemnizações; mas admite-se estipulação em contrário. No 
entanto, se o contraente faltoso não cumprir a obrigação de restituição do sinal em 
dobro, poderá naturalmente exigir-lhe indemnização pela mora ou incumprimento 
definitivo. 
 
Funções do Sinal 
A. Galvão Telles – não tem natureza penitencial, mas sim confirmatória-penal – sanção 
para ato ilícito (do incumprimento da obrigação) 
B. António Pinto Monteiro – natureza penitencial 
C. Menezes Cordeiro – tem natureza confirmatório-penal na medida em que dá 
consistência ao contrato e funciona como indemnização (quando coexiste com a 
execução específica) e natureza penitencial quando funcione como preço de 
arrependimento, permitindo resolver o contrato mediante o pagamento que resulte do 
próprio sinal (quando há convenção contrária à execução específica) 
D. Menezes Leitão – só pode ser exigido em caso de incumprimento definitivo da 
obrigação pela outra parte, funcionando como pré-determinação das consequências 
desse arrependimento – natureza confirmatório-penal. 
 
Direito de Retenção do promitente que obteve a tradição da coisa 
Quando o contrato prometido é de Direito Real (art. 755º/f), pelo crédito resultante do não 
cumprimento imputável à outra parte.29 
Não tem só um direito de crédito à celebração do contrato prometido, mas sim um 
direito real de garantia, oponível erga omnes, que justifica conservar a posse da coisa 
até ver satisfeito o seu crédito. 
Interpretação restrita “nos termos do art. 442º”: créditos referidos são apenas a 
restituição do sinal em dobro e direito ao aumento do valor da coisa, e não a 
indemnização geral por incumprimento, prevista no art. 798º. 
Pressupõe, além da tradição da coisa, a estipulação de sinal. 
 
Eficácia real do contrato-promessa 
A lei permite atribuição de eficácia real ao contrato-promessa no caso de a promessa respeitar 
bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, e as partes declararem expressamente a atribuição de 
eficácia real e procederem ao seu registo (art. 413º/1). 
➢ Sujeito a forma solene (art. 413º/2) 
 
Ao adquirir eficácia real, o direito à celebração do contrato prevalecerá sobre todos os direitos 
reais que não tenham registo anterior ao registo da promessa com eficácia real. 
A. Menezes Cordeiro, Oliveira Ascensão: verdadeiro direito real de aquisição 
B. Antunes Varela, Almeida Costa: direito de crédito sujeito a regime especial de