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GINECOLOGIA Amenorreia primária . DEFINIÇÕES . ● AMENORREIA: É definida como a ausência ou cessação anormal da menstruação de forma temporária ou definitiva durante o período reprodutivo. ● A amenorreia pode ser classificada como primária ou secundária. ● A amenorreia fisiológica acontece na gravidez e durante a lactação. ● OBS: atenção para a possibilidade de criptomenorréia: falsa amenorreia ⇒ como ocorre, por exemplo, em casos de hímen imperfurado. AMENORREIA PRIMÁRIA: ● É considerada no caso da paciente que nunca menstruou: ausência total de menstruação em casos de jovens mulheres: 1. > 15 anos, com presença de caracteres sexuais secundários, porém nunca houve ocorrência de menstruação. 2. > 13 anos de idade, sem desenvolvimento de caracteres sexuais secundários e sem menarca. ● A prevalência de amenorreia primária é bem baixa ⇒ 0,4% das mulheres púberes. . PRINCIPAIS CAUSAS . ● Disgenesia gonadal (40%) ● Ageneseia mülleriana (10%) ● Síndrome de insensibilidade a androgênios (9%) . CICLO MENSTRUAL NORMAL . ● Fisiologicamente, a menstruação é resultado de uma sequência de acontecimentos necessários: ● Liberação pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofinas hipotalâmico (GnRH) pelo hipotálamo. ● Secreção dos hormônios folículoestimulante (FSH) e luteinizante (LH), atuantes no ovário, pela hipófise anterior. ● Secreção de estrogênio e progesterona pelo ovário, em resposta às gonadotrofinas LH e FSH. ● É necessário um pico de LH para desencadear a ovulação e um aumento da produção de estradiol pelos ovários. ● Ainda, é fundamental o aumento da progesterona após a ovulação, que vai atuar espessando o endométrio. ● Por fim, caem os níveis de progesterona e estradiol, desencadeando a descamação da cavidade endometrial e, portanto, o sangramento menstrual. . ETIOLOGIA . ● Distúrbio do sistema genital (útero, endométrio que não se prolifera e não descama) ou na saída do fluxo menstrual (como um hímen imperfurado); ● Distúrbios hipotalâmicos ou do Sistema Nervoso Central (SNC); ● Distúrbios da hipófise anterior; ● Distúrbios ovarianos ⇒ ausência de produção de estrogênio e progesterona. . DIAGNÓSTICO . ANAMNESE: ● Idade e idade menarca ⇒ aguardar 2 anos após menarca (imaturidade do eixo HHO); ● Aspectos psicológicos (estresse, anorexia nervosa, história de abuso sexual) ● Hábitos: atividade física intensa, restrição dietética ⇒ diminuição da gordura ⇒ afeta a formação hormonal; ● Padrão de sangramento; ● Doença prévia (diabetes juvenil, doença renal, doenças do SNC); ● Medicações (anticoncepcionais, metoclopramida) ● Antecedentes médicos: de tratamento cirúrgico, quimioterapia e radioterapia. Sinais e sintomas: ● Verificar sequência e o momento do desenvolvimento puberal ● Caracterizar sinais e sintomas de deficiência estrogênica (fogachos - ondas de calor, redução da lubrificação vaginal) ⇒ hipoestrogenismo: hipogonadismo hipogonadotrófico. ● Perda de peso importante associada a constipação, hipotensão, bradicardia ⇒ anorexia ● Aumento de volume abdominal, ganho de peso, colostro ⇒ pseudociese (‘gravidez psicológica') ● Cefaléia e alteração do campo visual ⇒ lesões no SNC. ● Saída de secreção pelas mamas ⇒ galactorreia e hiperprolactinemia. Sintomas de hiperandrogenismo ● Oleosidade excessiva da pele ● Alopecia androgênica ● Acne ● Hirsutismo EXAME FÍSICO: ● Estado geral ● Peso, altura e IMC ● Estadiamento de Tanner e Marshal ● Sinais de hiperandrogenismo ○ Acne, alopecia androgênica ○ Hirsutismo (índice de Ferriman e Gallwey modificado) ○ Sinais de virilização ● Sinais de hipercortisolismo ○ Obesidade central ○ Estrias violáceas EXAME GINECOLÓGICO: ● Importante para diagnóstico diferencial com causas obstrutivas; ● Exame completo se atividade sexual já iniciada ○ Toque e especular ○ Avaliar trofismo vulvar, vaginal e características do útero ● Na paciente virgem, faz-se apenas a inspeção da vulva AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR: ● FSH,TSH, prolactina ● Exames de imagem . CLASSIFICAÇÃO . 1. Amenorreia SEM caracteres sexuais secundários (Sem CSS) 2. Amenorreia COM caracteres sexuais secundários (Com CSS) 3. Amenorreia com caracteres sexuais secundários ambíguos . AMENORREIA SEM CSS . ● Paciente não desenvolveu nem mamas e nem pelos adequadamente. ● Faz-se uma dosagem hormonal (avaliação dos níveis de FSH). Hipogonadismo: ● Baixos níveis de estradiol 1. Hipogonadismo hipogonadotrófico: ● FSH e estrogênio estão em baixos níveis. ● Amenorréia de causa central. ● Indica defeito primário em hipotálamo ou hipófise. ● O hipotálamo não secreta quantidades pulsáteis adequadas de GnRH ou há um distúrbio hipofisário associado à produção ou liberação inadequada de FSH e LH. ● A investigação segue através de uma RNM ou uma TC de crânio e sela túrcica. ● Um teste do GnRH também é útil para avaliar se o problema está no hipotálamo ou está na hipófise. ● Principal causa: tumores no SNC. Causas frequentes: ● Atraso constitucional ou fisiológico ⇒ caso mais comum ○ Sinais: altura baixa para idade cronológica mas normal para a idade óssea ● Síndrome de Kallman⇒ deficiência de GnRH ○ Sinais: altura normal para idade + muitas vezes, associação com anosmia (paciente não sente cheiros) ● Tumores do SNC (craniofaringioma mais comum). 2. hipogonadismo hipergonadotrófico: ● FSH alto (>40UI/L) e estrogênio baixo. ● Insuficiência gonadal primária por diminuição da secreção de esteróides. ● Ausência de folículos capazes de produzir estrógeno. ● Aumento dos níveis de LH e FSH ⇒ que ocorre por conta da diminuição do feedback negativo. ● 30% das pacientes com esse quadro têm uma anormalidade genética associada. ● A anormalidade genética mais comum é a Síndrome de Turner e suas variantes (disgenesia gonadal). Causas frequentes: ● Anormalidades genéticas comuns: ○ Síndrome do X frágil ○ Mutações de enzimas ○ Disgenesia gonadal: Cariótipo anormal (45,X0; 46,XY) ou Cariótipo normal (46,XX). ○ A disgenesia gonadal pode ser pura, parcial ou mista. ● Anormalidades imunológicas (10% dos casos) ● Iatrogênicas (quimioterapia, radioterapia ou cirurgias) ● Idiopática (50-65% dos casos) . AMENORREIA COM CSS . ● Desenvolveu mama e pelos. ● Faz-se uma ultrassonografia para avaliar o desenvolvimento adequado de útero e vagina da paciente. 1. Ausência de útero e vagina adequados: ● Se na USG observar-se útero e vagina pouco desenvolvido ou ausente, faz-se o cariótipo. ● Cariótipo 46,XX, indicando: ○ Malformação ○ Agenesia mulleriana ⇒ anomalia congênita do aparelho reprodutor feminino caracterizada por uma falha no desenvolvimento dos ductos de Müller, resultando em um útero ausente e graus variáveis de hipoplasia vaginal ⇒ associada com malformação renal também. ● Cariótipo 46,XY, geralmente associado a: ○ Insensibilidade androgênica: Síndrome de Morris⇒ muito raro (1:60.000) ○ Considerada um pseudo-hermafroditismo masculino ⇒ se caracteriza por fenótipo feminino com genótipo masculino, de caráter familiar onde foi observada uma desordem genética transmitida por gene recessivo ligado ao X, que determina a resistência periférica a androgênios. ○ Ausência de pelos, enquanto as mamas desenvolvem normalmente. ○ Dosagem de testosterona: testosterona normal⇒ resistência periférica. 2. Presença de útero e vagina: ● Se for possível observar útero e vagina presentes na USG, prossegue com a dosagem de LH, FSH e prolactina ● Investigar anovulação crônica ○ SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos), hipotireoidismo e hiperprolactinemia. ○ Anormalidades anatômicas ⇒ obstruções da saída (hímen imperfurado, septo vaginal transverso). ○ Criptomenorréia ⇒ paciente refere dismenorreia (cólicas menstruais) progressiva mensalmente. ○ Hermafroditismo verdadeiro ⇒ muito raro (XX, XY ou mosaico). Diagnóstico: ● Exame físico para avaliar a possibilidade de um hímen imperfurado ○ Membranasaliente que se distende durante a manobra de Valsalva ● US ou RNM: ajudam a identificar uma possível anomalia mulleriana (malformação uterina). AMENORREIA COM CSS DISCORDANTES ● No caso de carateres sexuais secundários presentes e discordantes, prossegue a investigação: ● USG ● Cariótipo ● Testosterona ● SDHEA ● 17-OH progesterona ● Exame físico para avaliar genitália e buscar sinais de virilização. Genitália ambígua: ● Em pacientes que apresentam genitália ambígua, deve-se investigar causas como: ○ Pseudo-hermafrodita masculino (formas incompletas; 46,XY) ○ Pseudo-hermafrodita feminino (46,XX) ○ Disgenesia gonadal mista (X0/XY) ○ Hermafrodita verdadeiro (46,XX ou XY) Hirsutismo/virilização: ● Em pacientes que apresentam hirsutismo ou virilização, deve-se investigar causas como: ○ Pseudo-hermafrodita feminino (forma virilizante simples). ○ Tumores de ovário ou suprarrenal. . TRATAMENTO . ● Excluir gravidez ● Em pacientes com útero e mamas totalmente desenvolvidos, o estrogênio sem oposição aumenta o risco de hiperplasia endometrial e malignidade ⇒ risco reduzido com progesterona cíclica para restaurar os ciclos menstruais (mimetizar o ciclo menstrual normal). ● Se houver desenvolvimento incompleto da mama, a terapia com progesterona deve ser evitada para prevenir seios tubulares deformados ⇒ inicia-se o tratamento apenas com a reposição de estrogênio. ● Pacientes com hipoestrogenismo persistente estão em risco de osteoporose e devem ser rastreados com DEXA e tratados com terapia de vitamina D, cálcio e estrogênio, se apropriado. ● Pacientes com cariótipo 46,XY devem ser rastreados para estruturas gonadais intra-abdominais (testículos), pois têm potencial maligno e pode precisar ser removido.
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