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Amenorreia Amenorreia secundária: • Ausência de menstruação há 3 ciclos em pacientes com estabilização das menstruações ou • 18 meses após a menarca. Amenorreia primária A menarca (primeira menstruação) ocorre com o amadurecimento do eixo córtex-hipotálamo-hipófise-ovário, geralmente quando as adolescentes têm, segundo a classificação de Tanner, mamas com desenvolvimento em M3 ou M4. A média de idade de menarca no Brasil é de 12,2 anos. Conceito de amenorreia primária – ausência da menarca: • Numa adolescente de 16 anos com desenvolvimento puberal normal ou • Numa adolescente de 14 anos que ainda não iniciou desenvolvimento puberal ou Classificação de amenorreia primária: - Caracteres sexuais presentes e concordantes: deve ser descartada a hipótese de criptomenorreia em decorrência de septos vaginais transversos ou hímen imperfurado. As malformações genitais isoladas ou combinadas também devem ser investigadas. Quando os pelos pubianos e axilares encontrarem-se rarefeitos ou ausentes, o diagnóstico de síndrome dos testículos feminilizantes é possível. Os exames de imagem são úteis para a verificação da presença de útero e vagina, assim como sua normalidade. Se o trato genital se apresentar normal, investigar o eixo HHO como em casos de amenorreia secundária. O cariótipo é útil para a verificação de síndromes e a para a diferenciação entre malformação mulleriana ou feminilização testicular. Além disso, devemos avaliar se a amenorreia apresenta cunho hormonal ou anatômico. Naquelas que apresentam alteração hormonal, devemos definir se são hipogonadotróficas, hipergonadotróficas ou eugonadotróficas, de acordo com os níveis de gonadotrofinas – LH ou FSH. Já o termo gonadismo diz respeito ao funcionamento do ovário – gônada. Menstruação normal A menstruação normal requer uma complexa interação hormonal. É preciso que o hipotálamo envie o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), modulada por neurotransmissores e hormônios. O GnRH estimula a secreção de FSH e LH (gonadotrofinas) pelas células gonadotróficas da adeno-hipófise. Essas gonadotrofinas entram na circulação periférica e atuam no ovário para estimular o desenvolvimento folicular e a produção de hormônios ovarianos, promovendo o desenvolvimento do folículo ovariano e a ovulação. Um folículo ovariano normal secreta estrogênio; após a ovulação, o folículo é convertido em corpo-lúteo pelo LH e há secreção de progesterona + estrogênio – hormônios que estimulam o desenvolvimento do endométrio. Se não houver gravidez, a secreção de estrogênio e progesterona diminui, e se inicia o sangramento por privação. No entanto, em caso de inatividade de qualquer um dos componentes (hipotálamo, hipófise, ovário, útero e o canal de saída) não há sangramento. Anamnese e exame físico de amenorreia Avaliar altura, peso, IMC, estágio de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários – estágios de Tanner. O exame genital é anormal em 15% das amenorreias primárias, portanto deve ser realizado sempre. Em meninas virgens, o diagnóstico de hímen imperfurado pode ser feito pela simples inspeção genital. O diagnóstico de vagina curta será feito com o uso de um pequeno cotonete de colheita de swab ou um histerômetro introduzido pela abertura himenal. O exame também indicará se há sinais de hipoestrogenismo como atrofia genital. Investigação: - Paciente de 14 anos sem desenvolvimento dos caracteres sexuais + amenorreia: Como ela não tem o desenvolvimento dos caracteres sexuais, significa que o ovário não está produzindo estrogênio (responsável pelo desenvolvimento) devido a um problema ovariano ou por não estar sendo estimulado por FSH/LH. 1. Pedir dosagem FSH e LH • Se estiverem aumentados; significa que o ovário não começou a produzir estrogênio, mas a hipófise/eixo está mandando o estímulo para a gônada (hipogonadismo hipergonadotrófico). Principal causa = falência ovariana precoce (FOP) – que significa menopausa. Pensar em causa genética e fazer cariótipo. FOP = cariótipo No cariótipo, pode haver disgenesia gonadal; geralmente Síndrome de Turner. • Se FSH/LH estiverem diminuídos: hipogonadismo hipogonadotrófico (causa central). Investigar com: 2. Fazer teste do GnRH: para saber se a causa está no hipotálamo ou na hipófise. Aplica-se GnRH por infusão IV: • Se aumentar FSH/LH: a causa é hipotalâmica, pois a hipófise respondeu. Causas possíveis: exercício físico exagerado, anorexia/bulimia, hiperprolactinemia, hipotireoidismo (excesso de TSH pode inibir o GnRH), Síndrome de Kallman: ausência de neurônios que produzem GnRH, paciente relata anosmia. • Se não alterar FSH/LH: causa hipofisária: Causas: craniofaringeoma, sela túrcica vazia. - Paciente de 16 anos com desenvolvimento dos caracteres sexuais + amenorreia: essa paciente produz estrogênio devido ao desenvolvimento das mamas e dos pelos. 1. Realizar exame físico completo (ginecológico) • Hímen imperfurado: A paciente relata sintomas de TPM – dor nas mamas, cólica, sensibilidade. Pedir USG para avaliar se tem criptomenorreia: retenção menstrual. O tratamento é fazer uma incisão cruciforme no hímen, de modo que a menstruação saia. O sangramento menstrual acumula-se na vagina – hematocolpo – no útero – hematométrio, nas tubas uterinas – hematossalpinge e pode derramar no peritônio – hematoperitônio. • Septo vaginal transverso: A presença de septo transverso obstrui a saída da menstruação na topografia da vagina. As pacientes também apresentam sintomas de menstruação, mas não há criptomenorreia. Causas anatômicas adquiridas: • Sinéquias intrauterinas • Estenose do colo uterino 2. Se a amenorreia não for causa anatômica: - Fazer o teste de progesterona (indicar progesterona VO): • Se o resultado for positivo, isto é, a menstruação descer: anovulação. O endométrio é proliferado, mas não está ovulando. • Se o resultado for negativo, isto é, não vir menstruação: realizar USG para avaliar presença ou não de útero. Se a paciente não tiver útero: fazer cariótipo. Cariótipo: • XY: Síndrome de Norris. • XX: Síndrome de Rokitansky. (mais comum) As principais etiologias da amenorreia podem ser divididas em: - Hipogonadismo hipogonadotrófico: Consequente à disfunção no hipotálamo ou na hipófise. Representa um quarto das causas de amenorreia primária. Consequente à disfunção no hipotálamo: • Puberdade tardia constitucional ou fisiológica; • Deficiência de GnRH, incluindo síndrome de Kallmann; • Consequente a doenças crônicas, distúrbios alimentares • e perda de peso, desnutrição, estresse, exercício físico • (incluindo, mas não exclusivamente, corredoras, • bailarinas, ginastas), pseudociese; • Tumor (por exemplo: craniofaringiomas) ou injúria • traumática do SNC; • Secundariamente à radioterapia craniana; Consequente à disfunção na hipófise: • Hiperprolactinemia, incluindo as secundárias a • adenomas; • Tumores hipofisários (por exemplo: adenoma • corticotrófico; doença de Cushing, meningioma, glioma); • Causas genéticas de hipopituitarismo. - Hipogonadismo hipergonadotrófico: Indica insuficiência gonadal. Responde por 50% dos casos de amenorreia primária e 12% dos casos de amenorreia secundária. - Normogonadismo ou eugonadismo: Inclui causas anatômicas e hormonais, e nas anatômicas o útero é ausente ou rudimentar. • Malformação mulleriana: agenesia ou malformação uterina, agenesia ou septo de vagina. • Defeito do desenvolvimento do seio urogenital: hímen imperfurado e agenesia do terço inferior da vagina. • SOP • Doença de Cushing, doença tireoidiana, tumores secretores de androgênios. • Hiperplasia adrenal de manifestação tardia. - SOP: é a presença de dois dos três critérios: ciclos menstruais longos ou amenorreia com anovulação, hiperandrogenismo(clínico ou laboratorial) e identificação por USG de ovários policísticos. Sinais de hiperandrogenismo: acne, hirsutismo, virilização. - Hiperprolactinemia: é uma alteração endócrina comum do eixo hipotalâmico-hipofisário. É diagnosticada pelo aumento dos níveis séricos de prolactina e tem causas variadas, principalmente relacionadas a adenomas hipofisários, secundariamente ao uso de medicações, como consequência renal ou hepática. Causa hipogonadismo hipogonadotrófico por inibir a secreção de GnRH, além de inibir a esteroidogênese gonadal. Tratamento da amenorreia Irá depender da etiologia. Em muitos casos de origem hipotalâmica, recomenda-se um apoio de psicólogo ou psiquiatra, bem como acompanhamento multidisciplinar para a paciente. Na síndrome dos ovários policísticos, o tratamento da amenorreia com a finalidade de proteção endometrial pode ser feito com a ministração de progestagênios cíclicos ou, ainda, de anticoncepcional hormonal oral, promovendo regularização do ciclo menstrual e proteção contra carcinoma endometrial, porém o tratamento com progestagênios não se destina a auxiliar na correção do hiperandrogenismo. Os contraceptivos combinados auxiliam no controle do hiperandrogenismo, geralmente associados a outras substâncias (antiandrogênicos ou sensibilizadores da ação da insulina) que potencializam esse resultado. A resistência à insulina pode ser amenizada com alteração do estilo de vida, perda de peso e substâncias sensibilizadoras da ação da insulina, como a metformina (500 a 2.500 mg ao dia), pioglitazona (15 a 45 mg ao dia) e/ou mioinositol (4g ao dia). Nas mulheres com os ovários intactos, porém sem útero, é possível a gravidez em útero de substituição, e naquelas com útero, porém com insuficiência ovariana prematura, é possível a gravidez com óvulo de doadora. Nas amenorreias centrais (hipotalâmicas e hipofisárias) ou nas causadas por doenças que levam à anovulação crônica sem origem definida, pode-se considerar a indução da ovulação, caso exista desejo reprodutivo, com escolhas variáveis a depender especialmente da causa da amenorreia e do estado estrogênico e também pode-se fazer o uso de gonadotrofinas.
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