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Endocrinologia Aula de Diferenciação Sexual: A determinação do sexo de um indivíduo ocorre mediante presença ou ausência do GENE SRY (localizado na região pseudosomática/pseudoautossômica do cromossomo - porção terminal), o qual se estiver presente determina o desenvolvimento de todas as características sexuais masculinas e, consequentemente, se estiver ausente determina o desenvolvimento de todas as características sexuais femininas. Durante as divisões celulares, como esse gene encontra-se na porção terminal do cromossomo, ele pode permutar tanto para o cromossomo X quanto para o cromossomo Y. Se permutar para um genótipo XX determina alterações sexuais nesses indivíduos como o desenvolvimento de testículos em mulheres. Quando presente, o Gene SRY determina a diferenciação dos componentes da GÔNADA BIPOTENCIAL resultante da CRISTA UROGENITAL e esta, por sua vez, proveniente do MESODERMA INTERMEDIÁRIO: ✓ Células Germinativas Primordiais se diferenciam em Espermatogônias Testiculares; ✓ Precursores de Células de Sustentação se diferenciam em Células de Sertoli produtoras do hormônio anti-muleriano (AMH); ✓ Precursores de Células Esteirodogênicas se diferenciam em Células de Leydig produtoras de testosterona. Quando ausente, o Gene SRY determina a diferenciação: ✓ Células Germinativas Primordiais em Oócitos; ✓ Precursores de Células de Sustentação em Células da Granulosa produtoras de estradiol; ✓ Precursores de Células Esteirodogênicas em Células da Teca produtoras de androgênios. O HORMÔNIO ANTI-MULERIANO produzido inicialmente pelas células de Sertoli, em indivíduos com SRY+, provocará a regressão dos Ductos Mullerianos a partir da apoptose (presentes em todos os indivíduos antes da diferenciação) que formariam as estruturas femininas; e a testosterona produzida pelas células de Leydig provocará mediante ligação com os receptores androgênicos sensibilização dos Ductos de Wolf que formarão as estruturas masculinas (epidídimo, ducto deferente, vesículas seminais e ductos ejaculatórios). Além disso, a ligação da testosterona aos receptores androgênicos também induz a diferenciação masculina do seio urogenital e genitália externa. Na ausência dos testículos/hormônio anti-muleriano/gene SRY, a gônada bipotencial naturalmente desenvolverá uma organogênese ovariana com produção de folículos primários, diferenciação dos ductos de Muller em tuba uterina, útero (fusão da porção distal) e 1/3 superior da vagina; e involução dos ductos de Wolf (substituição pelo ligamento redondo do útero). A genitália externa do embrião inicialmente é formada pelo TUBÉRCULO GENITAL, o qual é composto por: ✓ Área glandular (glande do pênis ou do clitóris); ✓ Epitélio peduncular (prepúcio do pênis ou do clitóris); ✓ Prega urogenital; ✓ Sulco urogenital; ✓ Pilar lateral (bolsa escrotal ou grandes/pequenos lábios); ✓ Sulco anal; ✓ Tubérculo anal (ânus). Se houver produção de testosterona haverá VIRILIZAÇÃO e desenvolvimento da genitália externa masculina. Se não houver produção de testosterona haverá desenvolvimento natural da genitália externa feminina e ausência de virilização. ➢ ANOMALIAS DA DIFERENCIAÇÃO SEXUAL (ADS): Compreendem as seguintes alterações = Alteração cromossômica, Alteração Gonadal e Alteração Anatômica. São definidos como ADS 46 XY (fenótipo feminino); ADS 46 XX (fenótipo masculino); ADS Cromossomos Sexuais e Ovotestis (presença de 46 XX e 46 XY). Durante as primeiras 6-8 semanas pode ocorrer o desenvolvimento de ADS Gonadal em virtude de mutações genéticas nos genes definidores da formação gonadal como o SRY, SOX9, FGF9, WNT4, etc. Se as alterações sexuais ocorrerem após as primeiras 6-8 semanas, chama-se ADS Pós-Gonadal. Nessa ADS, ocorrem alterações hormonais importantes que podem provocar alterações sexuais como: deficiência de aromatase placentária na mãe inibindo a conversão de testosterona em estradiol na placenta; excesso de produção do SDHEA pelas adrenais; ou falha na conversão da testosterona em diidrotestosterona. ❖ ADS GONADAL (alteração na genitália interna): ADS 46,XY: defeito na formação testicular (ausência de SRY ou mutação dos genes subsequentes) ADS 46,XX: defeito na formação ovariana (presença de SRY ou mutação dos genes subsequentes) ADS Ovotesticular (XX,XY) Ausência do AMH e consequentemente ausência na transformação da genitália feminina em masculina pela regressão dos ductos de Muller e sensibilização dos ductos de Wolf. ❖ ADS PÓS-GONADAL (alteração na genitália externa): Defeito na síntese de Esteróides = desenvolvimento de genitália ambígua por deficiência de andrógenos em 46, XY ou excesso de andrógenos em 46, XX. Se o excesso de androgênios ocorrer no 1º trimestre de gestação, haverá uma virilização em 46, XX com fusão parcial ou total dos grandes lábios, vagina curta (falha na formação do 1/3 inferior) e formação comprometida do seio urogenital (ascensão da uretra em direção ao clitóris), alterações características de genitália ambígua. Entretanto, se o excesso de androgênio ocorrer no 2º e 3º trimestre de gestação, haverá um estímulo ao crescimento do clitóris (> 6mm), alteração denominada de clitoromegalia. OBSERVAÇÃO: Como o AMH é um hormônio responsável pela transformação da genitália interna e a Testosterona é um hormônio responsável pela transformação da genitália externa, é possível o desenvolvimento de uma genitália externa masculina normal sem o desenvolvimento normal de uma genitália masculina interna. Logo, nesse caso, o paciente é homem porque a testosterona predomina para o desenvolvimento das características sexuais masculinas. ➢ HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA: Principal causa de excesso de andrógenos em 46, XX causando virilização intra-uterina. ✓ Conjunto de erros inatos do metabolismo esteróide ✓ Anomalias geneticamente determinadas da síntese hormonal adrenocortical (mutação genética) ✓ Resultante de deficiências enzimáticas ✓ Apresentação clínica depende da enzima deficiente Estereidogênese Adrenal = O colesterol é o esteróide precursor para formação dos principais hormônios adrenais: mineralocorticóides (aldosterona), glicocorticóide (cortisol) e esteróides sexuais (produção de SDHEA, testosterona que será convertida na periferia em DHT - diidrotestosterona, e estradiol resultante da conversão de testosterona pela aromatase na placenta, no ovário ou o tecido adiposo). ❖ DEFICIÊNCIA ENZIMÁTICA: Quando houver um bloqueio em alguma via metabólica de produção de algum hormônio, o substrato acumulado irá deslocar a sua via metabólica para a produção em excesso dos outros hormônios relacionados. A principal deficiência enzimática da hiperplasia adrenal congênita é a 21BETA-HIDROXILASE responsável pela conversão da progesterona em deoxicorticoesterona e pela conversão da 17- hidroxiprogesterona em deoxicortisol, vias de produção de aldosterona e cortisol, respectivamente. Essa deficiência favorece o acúmulo de progesterona e 17-hidroxiprogesterona, e aumenta, consequentemente, a conversão de progesterona em 17-hidroxiprogesterona a qual é convertida em androstenediona. Por fim, ocorre um aumento da produção de testosterona e DHT mediante aumento de androstenediona. Esses pacientes, então, desenvolvem insuficiência adrenal por falta de mineralocorticóides (aldosterona) e glicocorticóide (cortisol). Se o paciente for um 46,XX o excesso de androgênios produzidos no final das vias metabólicas induzirá o desenvolvimento de virilização. Apresentações clínicas (46, XX): ✓ Forma “não clássica” ✓ Forma “clássica” com perda de sal ✓ Forma “clássica” virilizante simples A deficiência enzimática corresponde a 90% das causas de Hiperplasia Adrenal Congênita. Prevalência: 1:10000 nascidos. Transmissão com Padrão de Herança Autossômica Recessiva. Em 46 XY - deficiência de mineralocorticóide, macropênis, puberdade precoce em virtude do excesso de androgênios no homem.Diagnóstico: ✓ Achados clínicos sugestivos; ✓ Distúrbios hidroeletrolíticos (hipercalemia pela falta de aldosterona, hiponatremia pela baixa absorção de sódio, desidratação pela perda de sódio e água); ✓ Níveis elevados de 17α-hidroxiprogesterona (precursor); ✓ Screening neonatal (teste do pezinho). Tratamento: Objetivos: ✓ Controle dos níveis de andrógenos ✓ Garantir crescimento e desenvolvimento puberal adequado ✓ Controle hidroeletrolítico adequado (tratamento de insuficiência adrenal) Estratégia: ✓ Reposição de glicocorticoide (hidrocortisona, prednisona, dexametasona) ✓ Reposição de mineralocorticoide (fludrocortisona) ✓ Recomendação de cuidados em caso de estresse ✓ Correção cirúrgica da genitália Outra deficiência menos frequente: 11ALFA-HIDROXILASE responsável pela conversão de deoxicorticoesterona em corticoesterona (precursor da aldosterona), e pela conversão de deoxicortisol em cortisol. Como essa deficiência impede a formação dos mineralocorticóides e glicocorticóides, também provoca insuficiência adrenal pela falta de aldosterona e cortisol. O excesso de androgênios também produzido pelo acúmulo dos precursores favorece a virilização em pacientes 46,XX. Além da insuficiência adrenal, nesse caso, haverá também desenvolvimento de hipertensão em virtude do acúmulo de deoxicorticoesterona. Outra deficiência rara: 3BETA-HIDROXIESTERÓIDE-DESIDROGENASE responsável pelo início da conversão dos precursores de todas as vias em seus respectivos hormônios finais. Nesse caso, haverá acúmulo de pregnelonona e 17-hidroxipregnelonona, os quais serão convertidos excessivamente em SDHEA. Como esse hormônio final não apresenta grande capacidade androgênica, induzirá uma leve virilização em 46,XX, uma masculinização incompleta em 46,XY e uma grande perda de sal. Em ambos os sexos, haverá desenvolvimento de genitália ambígua. ❖ DEFEITO DA SÍNTESE ou AÇÃO DE TESTOSTERONA/DI-HIDROTESTOSTERONA: Deficiência de testosterona em 46, XY ✓ Gônadas normais ✓ Níveis séricos de AMH normais (regressão de Ductos de Muller) Achados clínicos: ✓ Início da gestação: desde hipospádia(ausência da uretra na glande peniana) até genitália feminina - insuficiência de testosterona para desenvolvimento da genitália externa masculina. ✓ Final da gestação: criptorquidia(testículos ectópicos) Causas: HIPOGONADISMO HIPOGONADOTRÓFICO = No início da gestação a produção de testosterona pelos testículos é estimulada pelo HCG placentário. No 1º trimestre de gestação, o testículo do feto é estimulado pelo HCG o qual também age nos mesmos receptores de FSH e LH. A partir do segundo trimestre, o estímulo para produção de testosterona é proveniente do FSH e LH da hipófise. Se houver insuficiência placentária pelo HCG, possivelmente a genitália será ambígua. Já se houver insuficiência da hipófise, a genitália já terá se formado, porém sua formação será incompleta com ocorrência de criptorquidia. O Hipogonadismo Gonadotrófico pode ser isolado (somente deficiência de LH e FSH), associado a outros achados como Síndrome de Kallmann (aplasia/hipoplasia do bulbo olfatório com deficiência das gonadotrofinas, diagnosticado na puberdade) ou associado ao Pan-Hipopituitarismo. DEFICIÊNCIA DE 5ALFA-REDUTASE = A enzima responsável pela conversão da testosterona em Diidrotestosterona (10x mais afinidade pelos receptores androgênicos) denomina-se 5ALFA-REDUTASE. Pacientes com deficiência dessa enzima, apresentam baixa sensibilização dos receptores para a DHT e, consequentemente, pouca atividade virilizante para formação das características sexuais masculinas. Níveis elevados de testosterona ✓ Níveis baixos de Di-hidrotestosterona Quadro clínico: Desde hipomasculinizaçãoaté feminilização. INSENSIBILIZAÇÃO DOS RECEPTORES = é possível pacientes apresentarem falha em seus receptores androgênicos sensíveis a DHT. Nesses casos, pacientes masculinos apresentarão genitália externa feminina e ausência de estruturas internas femininas - Síndrome de Morris. ✓ Defeito no receptor de T/DHT ✓ Quadro clínico: Presença de testículos com genitália feminina, Achado ocasional de gônadas em paciente com fenótipo feminino e Investigação de amenorreia e rarefação de pelos pubianos na puberdade. OBSERVAÇÃO: A falta de hormônio masculino - testosterona - no homem provoca formação de ginecomastia. A falta desse hormônio tanto em homens quanto mulheres provoca desenvolvimento de mamas, em mulheres, esse desenvolvimento é potencializado pelo estrógeno. Logo, a testosterona é capaz de regredir as mamas. ➢ ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS: Síndrome de Turner: ✓ 1:2000-2500 nascidas sexo feminino ✓ Cariótipo: 45, X0 / mosaicismo(46,XX; 45, X0) ou presença X anômalos ✓ Suspeita clínica: Amenorréia primária / atraso puberal e Baixa estatura: Md143cm (133-153) ✓ Diagnóstico: Cariotipagem com FISH ✓ Hipogonadismopor disgenesiagonadal: Hipogonadismo Hipergonadotrófico(FSH e LH altos) Síndrome de Klinefelter: ✓ 1:700 nascidos masculinos ✓ Principal causa de hipogonadismoprimário e infertilidade em homens ✓ Disgenesiados túbulos seminíferos ✓ Cariótipo: 47, XXY / variantes / mosaicismos ✓ Suspeita clínica: atraso puberal, testículos atróficos / infertilidade e achados fenotípicos. ✓ Diagnóstico: LH / FSH elevados e Cariotipagem.
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