Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE FERIDAS Úlceras de Perna SBCMC III - 2021.1 Cirurgia Vascular Dr. Cesar Martelli EPIDEMIOLOGIA A incidência é variável de acordo com a etiologia: ● Úlceras vasculares: 75% ● Úlceras neurotróficas: 15% ● Úlceras traumáticas: 5% ● Úlceras tumorais: 4% ● Úlceras metabólicas: 0,5% ● Úlceras infectoparasitárias: 0,5% ÚLCERAS VASCULARES TIPOS Podem ocorrer isoladas ou de forma associada, determinando uma úlcera de etiologia mista. ● Úlceras venosas ● Úlceras arteriais por lesões tronculares ● Úlceras arteriais por microangiopatia ● Úlceras arteriovenosas ÚLCERAS VENOSAS As úlceras venosas normalmente são precedidas de sinais de insuficiência venosa crônica (varizes, edema, dermatite ocre, dermatofibrose e úlcera de estase venosa). Decorre da oclusão de artérias de médio e grande calibre. ➢ O paciente apresenta os pulsos presentes Características da úlcera: ● Indolor ou pouco dolorosa ● Rasa. ● Com fundo limpo ● Aparecimento espontâneo ● Presença de tecido de granulação. Obs: úlcera que se torna dolorosa → sinal precoce de infecção Localização: ● Localiza-se comumente no maléolo medial (devido a maior presença de veias perfurantes, que se tornam insuficientes o que favorece formação de úlceras venosas) ● Não acomete o pé, normalmente afeta apenas as pernas. Obs: em termos de úlceras vasculares, as úlceras venosas representam 80% dos casos, é MUITO importante a gente saber identificar o que é uma úlcera venosa e o que não é. Como a gente vai saber isso? Se chega um paciente com uma úlcera na perna e sem sinais de insuficiência venosa, com certeza não é uma úlcera venosa, a gente vai investigar outras etiologias. ÚLCERAS ARTERIAIS POR LESÕES TRONCULARES As úlceras arteriais por lesões tronculares podem ser secundárias a um trauma ou aparecer de maneira espontânea. ➢ Os pulsos distais encontram-se ausentes. ➢ Estão relacionadas com a DAOP - alterações em artérias de grande ou médio calibre Características: ● Dolorosa (decorrente da isquemia e melhora com pé pendente - porque aumenta o fluxo arterial ● Com fundo pálido e/ou necrótico ● Exposição de estruturas profundas ● Aparecimento espontâneo ou pós trauma Localização: ● As úlceras arteriais por lesões tronculares não possuem localização específica, podem ocorrer em qualquer local da perna e/ou do pé. ÚLCERAS ARTERIAIS POR MICROANGIOPATIA As úlceras arteriais por microangiopatia estão relacionadas a alterações da microcirculação da pele (oclusão da microcirculação), comum em pacientes com HAS, DM, vasculites, colagenoses e etc, e podem surgir de forma espontânea ou secundárias a um trauma. ➢ Pulsos presentes. ➢ Quando relacionada à HAS descontrolada, chamamos “úlcera de Martorell" Características: ● Extremamente dolorosas. ● Bordos cianóticos e isquêmicos. Localização: ● Normalmente se localizam na face lateral da perna e pé. ÚLCERAS ARTERIOVENOSAS As úlceras arteriovenosas ocorrem quando há presença de fístula arteriovenosa (comunicação entre os sangues arterial e venoso), seja ela de origem traumática ou congênita. ➢ No local da fístula haverá frêmito à palpação e sopro à ausculta ➢ Há sinais de insuficiência venosa. Fisiopatologia: o sistema venoso não é feito para aguentar a alta pressão do sistema arterial, quando, através da fístula, o sangue arterial passa diretamente para o sistema venoso, as válvulas venosas se abrem, consequentemente, o sistema venoso se torna insuficiente, isso a partir local da fístula (do local da fístula para baixo a gente tem um sistema venoso insuficiente), o paciente evolui com insuficiência venosa crônica, que pode culminar no surgimento da úlcera. ÚLCERAS NEUROTRÓFICAS DEFINIÇÃO ● Também são chamadas de mal perfurante plantar ● São derivadas da neuropatia periférica, secundária ao diabetes, etilismo e hanseníase ● Pulsos distais presentes à palpação. FISIOPATOLOGIA O paciente com neuropatia periférica sofre, além das alterações sensitivas, alterações motoras. Ocorre uma atrofia da musculatura do pé, com consequente alteração da arquitetura anatômica do pé (dedo em garra, desabamento da cabeça do metatarso), por isso o paciente acaba mudando a sua pisada, de forma que acaba concentrando a pressão da pisada em regiões não anatômicas , o que leva a formação dos calos (hiperceratose). Como o paciente não tem sensibilidade, esses calos não vão ser um incômodo, então continua andando normalmente e fazendo pressão na região, o que acaba levando à ulceração do centro do calo. O paciente não sente dor, então continua andando, isso vai impedir a cicatrização da úlcera, o que com o tempo pode se complicar com uma infecção, e evoluir com osteomielite, fratura patológica e, por fim, o pé de charcot. CARACTERÍSTICAS ● Indolor ou pouco dolorosa (mesmo infectada é indolor) ● Presença de bordos com hiperqueratose (calo). LOCALIZAÇÃO ● Comumente acometem a região plantar ● Cabeça dos metatarsos, falange distal dos dedos (principalmente do hálux) e calcanhar. ÚLCERAS INFECTOPARASITÁRIAS DEFINIÇÃO Como o próprio nome já diz, são as úlceras/lesões que decorrem de um processo infeccioso ➢ Não são diferenciáveis clinicamente, para saber qual é o agente etiológico deve ser realizada cultura e antibiograma. ECTIMA ou ERISIPELA BOLHOSA NECROTIZANTE É a úlcera infecciosa mais comum no membro inferior. Agente Etiológico: Streptococcus pyogenes (beta-hemolíticos do grupo A) Infecção: depende de uma porta de entrada (micose → fissura → infecção secundária bacteriana) Lesão: sinais de inflamação (dor, rubor, calor) e bolha com exsudato que quando se rompe forma a úlcera necrotizante. HANSENÍASE (nem falou) Agente Etiológico: Mycobacterium leprae Infecção e Ulceração: a hanseníase causa úlcera de forma direta ou indireta ● Diretamente: infecção do tecido epitelial ● Indiretamente: neuropatia periférica BLASTOMICOSE e ESPOROTRICOSE (nem falou) São micoses profundas que geralmente levam a doença pulmonar, mas podem acabar por acometer a perna originando uma ulceração. LEISHMANIOSE Agente Etiológico: Leishmania chagasi ● Pode gerar leishmaniose tegumentar ou visceral, no caso das feridas o que nos interessa é a tegumentar (pele) Infecção: picada do mosquito flebótomo Lesão: úlcera com bordas elevadas - “em vulcão” ÚLCERAS NEOPLÁSICAS DEFINIÇÃO São, na verdade, neoplasias que ulceram, dando origem à lesão. ● Carcinoma espinocelular ● Sarcoma de Kaposi ● Úlcera de Marjolin CARCINOMA ESPINOCELULAR Tipo de câncer de pele relacionado à exposição excessiva aos raios ultravioletas. Ferida: é uma lesão sobrelevada, ou seja, a neoplasia cresce por cima da pele e vai ulcerar no centro, podendo levar ao sangramento. SARCOMA DE KAPOSI É uma neoplasia de vasos sanguíneos que acomete pacientes imunodeprimidos. Ferida: múltiplas bolhas hemorrágicas que se rompem e formam a úlcera. ÚLCERA DE MARJOLIN É uma degeneração maligna que surge a partir de uma úlcera crônica ou de uma cicatriz de queimadura. Ferida: trata-se inicialmente de uma úlcera venosa crônica que vai se malignizar e levar ao surgimento de tumores. ● A úlcera venosa crônica é determinada por episódios de cicatrização e recidivas, o que causa uma displasia celular que pode malignizar, determinando a úlcera. ÚLCERAS METABÓLICAS PORFIRIA Definição: distúrbio metabólico raro causado por um defeito na produção de enzimas da hemoglobina, com consequente aumento da porfirina, que é um pigmento da hemoglobina tóxico para o corpo. Características da ferida: são úlceras bastante raras, pequenas múltiplas, que aparecem em locais em que há exposição ao sol. ÚLCERAS HEMATOLÓGICAS DEFINIÇÃO Possuem relação com a anemia falciforme e acometem mais indivíduos negros com esta doença. ➢ O paciente apresenta pulsos presentes. FISIOPATOLOGIA A anemia falciforme é caracterizada pela falcização das hemácias. O paciente, em momentos de agudização da doença, vai sofrer uma obstrução da microcirculação em decorrência da deformidade das hemácias (logo, também poderia ser classificada como microangiopática) CARACTERÍSTICAS ● Dolorosas ● Sinais deisquemia (palidez) LOCALIZAÇÃO ● Mais comum: região perimaleolar ● Também pode acometer maléolos medial e lateral Obs: é importante a gente conseguir diferenciar as úlceras de origem venosa e as arteriais, se for determinado que não se trata nem de uma e nem de outra, vamos fazer o diagnóstico através de biópsia. blablabla
Compartilhar