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PROCESSOS INFECCIOSOS DO SISTEMA NERVOSO O cérebro e a medula são envolvidos por membranas, as meninges, dispostas em 3 camadas. A pia-máter é a membrana delicada que adere intimamente ao tecido nervoso. Está separada da aracnoide pelo espaço subaracnoide, no qual circula o LCR. A dura-máter é a membrana de tecido conjuntivo fibroso e resistente que recobre a aracnoide. O espaço compreendido entre a dura- máter e a aracnoide é virtual e é conhecido como espaço subdural. Meningites se caracterizam pela ocorrência de processo infeccioso nas meninges. As meningites acometem a pia máter, a aracnoide e o espaço entre estas membranas, o espaço subaracnoide, no qual está contido o líquido cefalorraquiano. O sistema Nervoso desenvolve uma reação inflamatória intensa, caracteristicamente restrita ao espaço continente do LCR. Epidemiologia: Os grupos de maior risco são as crianças, os idosos com mais de 60 anos e os imunodeprimidos. PROCESSOS MENÍNGEOS AGUDOS Meningites Bacterianas Aspectos etiopatogênicos: A presença de bactérias no SN desencadeia uma série de fenômenos que têm por objetivo fagocitá-las (com ativação de fatores de complemento) e destruí-las (com liberação de anticorpos). Apenas 3 tipos de bactérias são responsáveis por cerca de 90% das meningites bacterianas: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Hemophilus influenzae. Outros agentes etiológicos, como as enterobactérias, estreptococos e estafilococos são muito mais raros e costumam acometer pacientes nas fases inicial ou terminal da vida. Bactérias como a Lysteria monocitogenes ocorre em pacientes imunossuprimidos. As alterações da barreira hematoencefálica favorecem a formação de exsudato inflamatório de grande intensidade, particularmente na base do crânio, estendendo-se, por um lado, até à bainha dos nervos cranianos e espinais e, por outro lado, até a porção mais superficial dos espaços perivasculares cerebrais. Ocorre proliferação endotelial, estreitamento da luz vascular e infiltrado inflamatório na adventícia. Em fase mais avançada, pode haver migração de leucócitos para a região subintimal. Na base do crânio, pode provocar obstrução das vias normais de drenagem do LCR, ocasionando o aparecimento de hidrocefalia. De modo geral, a aracnoide restringe o processo inflamatório, de modo que o espaço subdural, delimitando pela aracnoide e pela dura-máter, fica preservado. Dentre os fatores associados à meningite bacteriana podemos citar: Faixa etária, porta de entrada ou foco séptico inicial; Tipo e local da infecção no sistema nervoso central; Imunidade prévia; situação epidemiológica local. Principais etiologias por faixa etária e fatores de risco Neonatos: Streptococous agalactiae, Escherichia coli, Listeria monocytogenes 1 a 23 meses: S. agalactiae, E. coli, Haemophilus influenzae, S. pneumoniae, N. meningitidis > 50 anos: S. pneumoniae, N. meningitidis, L. Monocytogenes, bacilos gram negativos Imunocomprometidos: S. pneumoniae, N. meningitidis, L. Monocytogenes, bacilos gram negativos (incluindo Pseudomonas aeruginosa) Fratura de base de crânio: S. pneumoniae, H. influenzae, Streptococcus hemolítico do grupo A TCE penetrante, pós neurocirurgia, fístula liquórica: Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase-negativo, bacilos gram negativos (incluindo Pseudomonas aeruginosa) Quadro clínico: Composto por três síndromes principais: Síndrome de hipertensão intracraniana: cefaleia intensa, náuseas, vômitos e um certo grau de confusão mental. Síndrome toxêmica: sinais gerais de toxemia, incluindo febre alta, mal-estar e agitação. É frequente o achado de dissociação entre o pulso, que se altera pouco, e a temperatura, que atinge níveis muito elevados. Síndrome de irritação meníngea: rigidez de nuca, sinal de Kernig, sinal de Brudzinski e sinal de desconforto lombar. Em crianças, o diagnóstico é mais difícil. Não há a queixa de cefaleia e os sinais de irritação meníngea podem estar ausentes. Os achados mais frequentes são: febre, irritabilidade, prostração, vômitos, convulsões e abaulamento de fontanela. Alguns dados clínicos podem estar relacionados a tipos particulares de meningites: Meningites meningocócicas: suspeitadas em situação de epidemia; quando a evolução for muito rápida e desfavorável; quando o quadro clínico se iniciar com petéquias, rash cutâneo, equimoses ou palidez em extremidades; quando houver colapso circulatório. Meningites por pneumococos: acompanhadas por infecções pulmonares, otites, sinusites ou patologia vascular cardíaca Meningites por Hemophilus influenzae: acompanhadas de infecções em vias aéreas superiores ou otites, sobretudo em crianças. Outras situações: Sistemas de derivação do trânsito do LCR ou pacientes em pós-operatórios neurocirúrgicos apresentam complicações infecciosas por estafilococos ou bacilos Gram- Abscessos cerebrais, doenças linfoproliferativas ou mieloproliferativas, doenças do colágeno, processos infecciosos ou tumorais dos ossos do crânio, metástases cerebrais e uso prolongado de drogas imunossupressoras facilitam o aparecimento de meningites por Lysteria, Acinetobacter e Pseudomonas. Diagnóstico: Feito pelo exame do LCR. As principais alterações são: Aumento da pressão do LCR: nas meningites bacterianas agudas ocorre hipertensão intracraniana acompanhada de aumento do volume líquido total por dificuldade na reabsorção do LCR a nível do espaço subaracnoide. Este fato caracteriza a ocorrência de hidrocefalia de tipo comunicante. Aumento do número de células (pleocitose): é a alteração principal no exame de LCR. Valores acima de 1000 leucócitos por mm3. Perfil citomorfológico mostrando predomínio absoluto de polimorfonucleares, neutrófilos que podem atingir valores de 100% do perfil na fase mais aguda. Proteínas totais elevadas, acima de 100mg/dL em função de alterações da barreira hematoencefálica. Taxas de glicose no LCR muito baixas, inferiores a 10mg/dL e tendendo a zero. Presença de bactérias no sedimento da amostra de LCR ao exame bacteriológico direto. Culturas do sedimento devem ser processadas sistematicamente e costumam ser positivas em período inferior a 48horas. As culturas podem evidenciar crescimento mais tardio, também. Pesquisa de antígeno bacteriano: por três métodos principais – contra-imunoeletroforese; provas de aglutinação do látex; ensaio imunoenzimático (ELISA). Tomografia computadorizada de crâneo detecta complicações como abscessos, coleções subdurais, infartos cerebrais e hidrocefalia. Quando solicitar TC antes da punção lombar? Déficit neurológico focal Nova crise convulsiva Rebaixamento do nível de consciência Pacientes imunocomprometidos Sinais de hipertensão intracraniana Manejo inicial: Emergência médica Hidratação Hemocultura Corticoterapia (dexametasona) – antes da primeira dose do antibiótico Antibioticoterapia Quimioprofilaxia dos contactantes: Rifampicina Isolamento Notificação Tratamento: Para meningites por meningococos e por pneumococos: Em adultos: Primeira escolha: penicilina G nas doses mínimas de 15 milhões U/dia em 6 vezes. Alternativa: cloranfenicol na dose de 4 a 6g/dia, em 4 vezes Em crianças abaixo de 10 anos: Primeira escolha: ampicilina associada a cloranfenicol. Ampicilina 400mg/kg/dia em 4 vezes. Cloranfenicol 50 a 100mg/kg/dia em duas vezes Alternativa terapêutica: vefotaxime ou ceftriaxone. Cefotaxime 100 a 200mg/kg/dia em 3 ou 4 vezes. Ceftriaxone 50 a 100mg/kg/dia em duas vezes Para meningites por Hemophilus influenzae: Em crianças entre 2 meses e 10 anos: Primeira escolha: ampicilina associada a cloranfenicol nas doses já referidas Alternativa: cefotexime ou ceftriaxone nas doses já referidas Em pacientes acima de 10 anos: Primeira escolha: ampicilina associada a cloranfenicol. Ampicilina 400mg/kg/diaaté o máximo de 12g/dia em 4 vezes. Cloranfenicol 100mg/kg/dia até 6g/dia em 4 vezes Alternativa: cefotaxime ou ceftriaxone. Cefotaxime 200mg/kg/dia até o máximo de 12g/dia em 4 a 6 vezes. Ceftriaxone 50mg/kg/dia até o máximo d 4g/dia em duas vezes. Meningites em recém-nascidos até 2 meses: Bacilos Gram negativos (enterobactérias): Primeira escolha: ampicilina associada a aminoglicosídeos. Ampicilina – em RN até 7 dias: 50 a 100mg/kg/dia entre 7 e 30 dias: 100 a 200mg/kg/dia; crianças com mais de 1 mês: 200 a 400mg/kg/dia Aminoglicosídeos – gentamicina: 5 a 7 mg/kg/dia em 3 vezes; amicacina: 15 a 25mg/kg/dia em RN; 10 a 15mg/kg/dia em 3 vezes, em crianças acima de 2 meses Alternativa terapêutica: cefotaxime e ceftriaxone nas doses já referidas Estreptococos do grupo B, pneumococos, meningococos: Primeira escolha – penicilina G cristalina: 150.000 U/kg/dia associada a cefalosporinas de terceira geração (cefotaxime ou ceftriaxone) nas doses já referidas Alternativa terapêutica – cloranfenicol: 25 a 50 mg/kg/dia em duas vezes Lysteria monocytogenes: Primeira escolha – ampicilina nas doses já referidas Alternativa terapêutica – sulfametoxazol-trimetoprin: 10 a 20mg/kg/dia; cloranfenicol nas doses já referidas Meningites em pacientes afultos imunossuprimidos: Lysteria monocytogenes: ampicilina na dose de 12g/dia Bacilos gram negativos, exceto Pseudomonas: cefotaxime 12g/dia ou ceftriaxone 4g/dia Pseudomonas ou Acinetobacter: aminoglicosídeos associados a cefalosporinas de terceira geração com atividade antipseudomonas Aminoglicosídeos - Gentamicina 200 a 300mg/dia em 3 vezes ou amicacina 900 a 1000mg/dia em duas vezes Cefalosporinas de terceira geração com atividade antipseudomonas – Cefoperazone 4g/dia em duas vezes ou ceftazidime 4 a 6g/dia em 2 a 3 vezes Meningites em pacientes no período pós-operatório neurocirúrgico ou com derivação de trânsito do LCR. Staphilococcus epidermitis e Staphilococcus aureus: vancomicina associada a cefotaxime ou ceftriaxone Vancomicina 20 a 40mg/kg/dia até a dose máxima de 2g/dia. Cefotaxime ou ceftriaxone nas doses já referidas Bacilos Gram negativos: cefalosporinas de terceira geração associadas a um aminoglicosídeo. As doses preconizadas são aquelas referidas para outras meningites. Evolução: Os pacientes com meningites bacterianas tratados de modo adequado costumam apresentar sinais de melhora em pouco tempo. O segundo exame de LCR deve ser feito cerca de 72horas após o primeiro. Em pacientes com evolução favorável, o tratamento com antibióticos não deve ultrapassar o período de 10 a 14 dias. As principais complicações das meningites bacterianas são os abscessos cerebrais, as coleções subdurais e as ventriculites. Meningites Virais A via de chegada ao SNC é por disseminação hematogênica a partir de processos sistêmicos. Não há ativação significativa do sistema complemento, o teor de anticorpos é reduzido e os fenômenos de alteração da BHE, quando existem, são pouco expressivos. O tratamento das meningites virais é sintomático, reservando-se o uso de corticosteroides para os casos em que a resposta inflamatória é intensa. Encefalite herpética inicia com febre e cefaleia associada a alteração do comportamento, convulsões, hemiparesia e distúrbios de consciência. Existe envolvimento das porções mediais e inferiores dos lobos temporais e pelas porções orbitárias dos lobos frontais. Tratamento com Aciclovir dose intravenosa diária de 30mg/kg por 10 dias.
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