Buscar

tcc MULTIPARENTALIDADE E SUA POSSIBILIDADE DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO REGISTRAL E SEUS REFLEXOS JURÍDICOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE E SUA POSSIBILIDADE DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO 
REGISTRAL E SEUS REFLEXOS JURÍDICOS. 
 
 
 
 
YURI SANTANA VELLUDO DE ARAÚJO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói 
2020.2 
YURI SANTANA VELLUDO DE ARAÚJO 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE E SUA POSSIBILIDADE DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO 
REGISTRAL E SEUS REFLEXOS JURÍDICOS. 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo Científico Jurídico apresentado à 
Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, 
como requisito parcial para conclusão da 
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. 
 
Orientador (a) Prof. (a). Ana Lectícia Erthal 
Soares Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói 
Campus Niterói – Oscar Niemeyer 
2020.2 
RESUMO 
O presente trabalho trata da multiparentalidade e sua possibilidade da múltipla filiação 
registral e seus reflexos jurídicos. Verificou-se que o conceito de família sofreu diversas 
transformações ao decorrer dos anos, sendo o principal motivo pelo qual o ordenamento 
jurídico brasileiro deve se adequar a essas mudanças, atendendo as perspectivas da sociedade 
ao todo. Este estudo visa conceituar uns dos diversos princípios norteadores da 
multiparentalidade, além de demonstrar todas as suas evoluções para que os novos moldes 
familiares se adequem ao Direito de Família, bem como demonstrar a previsão no 
ordenamento jurídico brasileiro. Utilizou-se na produção deste TCC bibliografias científicas. 
 
Palavras-Chaves: Multiparentalidade, Família, Ordenamento Jurídico, Princípios, 
Transformação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1-Introdução. 2- Desenvolvimento: 2.1- Evolução do conceito de família no ordenamento 
jurídico brasileiro; 2.2- Do conceito de família socioafetiva; 2.3- Princípios constitucionais da 
multiparentalidade; 2.3.1- Princípio do melhor interesse do menor; 2.3.2- Princípio do 
pluralismo da entidade familiar; 2.3.3- Princípio da dignidade da pessoa humana; 2.4- Do 
reconhecimento da multiparentalidade e a possibilidade da múltipla filiação registral e seus 
efeitos jurídicos; 2.5- Requisitos para viabilidade do reconhecimento extrajudicial da 
multiparentalidade; 3- Conclusão; 4- Referências 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
O referido trabalho tem por objetivo a análise da discussão sobre possibilidade da 
múltipla filiação registral e seus reflexos jurídicos, tendo como base os princípios norteadores 
regentes do Direito de família. Contudo, o desenvolvimento do presente trabalho foi através 
de revisão de diversos artigos bibliográficos científicos, com citações de juristas de grande 
relevância para o tema, dentre eles, Maria Helena Diniz e Rolf Madaleno. 
No primeiro capítulo é apresentada uma breve síntese sobre a evolução do conceito de 
família no ordenamento jurídico brasileiro, nos trazendo a definição de família além das 
evoluções constantes que esta vem sofrendo ao longo dos anos. 
Quanto à estrutura dessa monografia, será proposto no segundo capítulo o conceito de 
família socioafetiva, abordando os novos conceitos familiares de acordo com o atual momento 
histórico em que vivemos. 
Em seguida, o terceiro tópico deste trabalho será abordado a respeito dos princípios 
constitucionais da multiparentalidade que são estes: princípio do melhor interesse do menor, 
princípio do pluralismo da entidade familiar e princípio da dignidade da pessoa humana, 
sendo estes alguns dos mais importantes princípios pilares do Direito de Família. 
Após abordar alguns dos princípios norteadores da multiparentalidade veremos no 
capítulo conseguinte a questão norteadora deste artigo científico que nos traz uma 
transformação social, o reconhecimento da multiparentalidade e a possibilidade da múltipla 
filiação registral e seus efeitos jurídicos. 
Observa-se que a nossa Constituição Federal de 1988 não admite o tratamento 
diferenciado entre os filhos, sejam eles adotados ou biológicos. A multiparentalidade que é o 
tema principal abordado neste artigo científico, trata-se de um instituto jurídico do Direito de 
Família, que visa o reconhecimento da possibilidade da múltipla filiação, tendo o filho o 
direito de registrar mais de um pai ou uma mãe, sendo totalmente amparado aos princípios 
citados acima. 
Deve-se mencionar que os temas abordados neste artigo científico também tem fontes 
utilizadas de Códigos como a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente sem detrimento do estudo em artigos científicos relacionados ao tema, bem como 
a utilização de jurisprudências. 
 
 
2 DESENVOLVIMENTO 
5 
 
2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO 
Com o decorrer do tempo, o conceito de família vem passando por diversas 
transformações tendo que se adequar a realidade da nossa sociedade. No direito de família, o 
núcleo familiar tinha como base principal o casamento, sendo composto apenas pelo homem e 
pela mulher que tinha como função de gerar e cuidar da casa e de seus filhos. 
 
Para Maria Berenice (2013, p.30) o Direito de Família: 
 
 
Em sua versão original, trazia uma estreita e discriminatória visão de família, 
limitando-a ao grupo originário do casamento. Impedia a dissolução, fazia distinções 
entre seus membros e trazia qualificações discriminatórias às pessoas unidas sem 
casamento e aos filhos havidos dessas relações.1 
 
 
A filiação tinha como definição principal o seu fator biológico, uma vez que o Brasil 
adotava o casamento como seu critério legal. Maria Diniz (2007, p.9) traz como definição o 
conceito de família: 
 
 
Família no sentido amplíssimo seria aquela em que indivíduos estão ligados pelo 
vínculo da consanguinidade ou da afinidade. Já a acepção lato sensu do vocábulo 
refere-se àquela formada além dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos, 
abrange os parentes da linha reta ou colateral, bem como os afins (os parentes do 
outro cônjuge ou companheiro). Por fim, o sentido restrito restringe a família à 
comunidade formada pelos pais (matrimônio ou união estável) e a da filiação.2 
 
 
 
O conceito de família vem sofrendo alterações constantes aos longos dos anos, tendo 
em vista ser fruto de diferentes perspectivas decorrentes das transformações nos valores e 
práticas sociais. Atualmente podemos dizer que devido a estas mudanças, temos diferentes 
tipos de família como: anaparental que se trata do vínculo familiar onde a presença do pai ou 
da mãe não se faz ativa, monoparental que é constituída por pais viúvos, pais solteiros que 
criam seus próprios filhos ou filhos adotados, família homoafetiva constituída por pessoas do 
mesmo sexo, união estável que decorre da convivência pública, contínua e duradoura, o 
 
1DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9. Ed. São Paulo: Revista do Tribunal, 2013 p.30. 
2DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 6. Direito das Sucessões, 21 ed. Saraiva, 2007, p. 9. 
 
6 
 
próprio casamento que se trata da união matrimonial, dentre outros diversos tipos de família 
que hoje podemos encontrar na legislação brasileira. 
 
Nessa seara, Rolf Madaleno (2015, p.36) faz importante comentário acerca das 
mudanças ocorridas no conceito tradicional de família: 
 
 
A família matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, heteroparental, biológica, 
institucional vista como unidade de produção cedeu lugar para uma família 
pluralizada, democrática, igualitária, hetero ou homoparental, biológica ou 
socioafetiva, construída com base na afetividade e de caráter instrumental.3 
 
Com a evolução do conceito de família e consequentemente trazendo o surgimento de 
novas entidades familiares que se abstém ao casamento, o vínculo afetivo ganhou mais espaço 
no ordenamento jurídico brasileiro, sendo assim, a família atualmente é construída com base 
na afetividade, respeito, amor, cumplicidade e principalmente na vontade recíproca de 
estarem juntos comomembro familiar. Neste contexto, afirma Paulo Lôbo (2011, p.18): 
 
 
A família sofreu profundas mudanças de função, natureza, composição e 
consequentemente de concepção, sobretudo após o advento do Estado social, ao 
longo do século XX. No plano constitucional, o Estado antes ausente, passou a se 
interessar de forma clara pelas relações de família, em suas variáveis manifestações 
sociais. Daí a progressiva tutela constitucional, ampliando o âmbito dos interesses 
protegidos, definindo modelos, nem sempre acompanhados pela rápida evolução 
social, a qual engendra novos valores e tendências que se concretizam a despeito da 
lei. Como a crise é sempre perdas dos fundamentos de um paradigma em virtude do 
advento de outro, a família atual está matrizada em paradigma que explica a sua 
função atual: a afetividade. Assim, enquanto houver affectio haverá família, unida 
por laços de liberdade e responsabilidade, e desde que consolidada na simetria, na 
colaboração, na comunhão de vida.4 
 
 
 
Contudo, de acordo com o contexto histórico, a família sempre estava conectada a 
ideia de hierarquia, considerando a figura do marido e da mulher como entidade familiar 
advinda do matrimônio, do casamento em si, nominada como família patriarcal ou tradicional. 
Observa que Ana Carolina Brochado Teixeira, Gustavo Pereira Leite Ribeiro e Alexandre 
Miranda Oliveira (2010, p.25) que: 
 
 
3
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p.36 
4
LÔBO, Paulo. Direito Civil-Família. 6. 11 ed. Saraiva. São Paulo, 2011. p.18 
 
7 
 
O que se observa hoje na família brasileira do novo milênio é um verdadeiro 
descompasso entre os movimentos de busca do respeito à liberdade individual – 
liberdade esta que o próprio Estado assegura – para efetivação do sonho da 
felicidade e a incessante interferência do Estado nesta individualidade, procurando 
cercar todas as formas, situações e consequências possíveis na busca deste sonho, 
um verdadeiro paradoxo.5 
 
 
Portanto, levando em consideração a grande importância do conceito de família na 
sociedade, e diante das modificações que ela vem sofrendo ao longo dos anos, estaremos 
vendo a seguir no próximo tópico deste artigo científico, o conceito de filiação socioafetiva. 
 
 
2.2 DO CONCEITO DE FAMÍLIA SOCIOAFETIVA 
 A família socioafetiva é construída com base nos laços afetivos, no apoio psicológico 
e emocional entre pais e filhos e com base no amor, nada tem a ver com laços sanguíneos. Os 
filhos ganham o direito da irrevogabilidade, obrigações alimentares e direito à herança. 
 
O doutrinador Caio Mário da Silva Pereira (2006, p.26-27) é um dos primeiros a tratar 
dessa “paternidade sócio-afetiva” definido-a como aquela que: 
 
 
Se funda na construção e aprofundamento dos vínculos afetivos entre o pai e o filho, 
entendendo-se que a real legitimação dessa relação se dá não pelo biológico, nem 
pelo jurídico. Dá-se pelo amor vivido e construído por pais e filhos.6 
 
 
 
Com isso, a Carta Magna deu fim à distinção anteriormente existente no que tange aos 
filhos não advindos do matrimônio, estabelecendo um parâmetro de igualdade entre as 
modalidades de filiação. 
 
 Segundo as lições de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, podemos extrair 
que: 
 
 
5TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; OLIVEIRA, Alexandre Miranda. 
Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. 2 ed. Belo Horizonte. Del Rey, 2010. p. 25 
6PEREIRA, Caio Mário da Silva. Introdução ao direito civil: direito de família, vol. 5. Rio de Janeiro: 
Forense, 2006. p.27-28 
8 
 
Filiação é a relação de parentesco estabelecida entre pessoas que estão no primeiro 
grau, em linha reta entre uma pessoa e aqueles que a geraram ou que a acolheram e 
criaram, com base no afeto e na solidariedade.7 
 
 Com o decorrer dos anos, o instituto familiar está se tornando cada vez mais flexível e 
moderno, sendo no passado definida de forma muito restrita e específica. Sendo assim, a 
família do coração também conhecida como família socioafetiva ou filiação socioafetiva que 
são aquelas que não têm absoluto vínculo sanguíneo ou biológico, apenas vínculo afetivo, 
neste caso os pais tratam a criança ou adolescente como se filho fosse. 
 
Consoante o ensinamento de Washington de Barros Monteiro: 
 
 
As profundas transformações ocorridas na sociedade no decorrer do século XX 
receberam a devida atenção no plano constitucional, tendo em vista que a almejada e 
merecida proteção aos membros de uma família, como se verifica na consagração 
dos princípios da absoluta igualdade entre pessoas casadas, da total isonomia entre 
filhos, independentemente de sua origem, da proteção à união estável e à família 
monoparental.8 
 
 
 A base da família é o afeto e o Direito de Família está inteiramente ligado a 
afetividade, sendo este o principal elemento parar concretizar o lar familiar, tornando este 
vínculo incontestável. Trata-se de uma realidade fática, reconhecido pela sociedade, sendo 
considerado um fato fundamental da vida, não havendo espaço para distinção entre família 
legítima ou não, pois não depende de união estável, vínculo conjugal, entre outros, para ser 
filhos de alguém, basta haver o vínculo afetivo e todos os filhos devem ser tratados da mesma 
forma, com igualdade baseado nos princípios e normas constitucionais. 
No entanto, o pai socioafetivo possui os mesmos direitos do pai biológico, tendo os 
mesmos deveres e obrigações equivalentes com os seus filhos. Assim como o pai biológico 
tem o dever de ser participativo e cumprir com as suas obrigações de forma regular e 
eficiente, o mesmo servirá para o pai socioafetivo. Nesse sentido, Maria Berenice Dias (2009, 
p.324) diz: 
 
 
As transformações mais recentes por que passou a família, deixando de ser unidade 
de caráter econômico, social e religioso para se afirmar fundamentalmente como 
 
7FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Curso de Direito Civil. Nelson. 2ª ed., p. 542 
8MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2004. 
9 
 
grupo de afetividade e companheirismo, imprimiram considerável reforço ao 
esvaziamento biológico da paternidade.9 
 
 
Desta forma, os vínculos afetivos formados pela união familiar se aplicam aos laços 
biológicos igualitariamente sendo resguardados pelos princípios constitucionais a qual 
veremos nos tópicos a seguir. 
 
2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA MULTIPARENTALIDADE 
 Tendo em vista a evolução histórica e diante das constantes transformações que nossa 
sociedade vem passando, o Direito de Família é constituído com base em diversos princípios 
protetores e fundamentais, portanto, veremos nos tópicos a seguir um breve relato de alguns 
dos princípios que são de suma importância para a melhor compreensão a respeito da 
multiparentalidade. 
 
 
2.3.1 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR 
Quando estamos diante do ambiente familiar, a figura da criança e do adolescente 
ganha prioridade uma vez que ainda não tem capacidade e discernimento necessário para 
cuidar por conta própria de suas vidas. Portanto, é necessário que alguém possa administrar 
suas vidas de forma sadia e responsável para que exerçam futuramente sua autonomia. Nesse 
mesmo sentido, Paulo Luiz Netto Lôbo (2004, p.155) versa o seguinte a respeito do tema: 
 
Diante da concepção da criança como sujeito de direito e da valorização jurídica do 
afeto na estrutura familiar, decorre o princípio do Melhor Interesse da Criança e do 
Adolescente, segundo o qual, por se encontrar o menor numa situação de 
fragilidade, por conta do seu processo de amadurecimento e formação da 
personalidade, merece destaque especial no ambiente familiar.10 
 
 
 Cada família tem sua complexidade, então não há um conceito pré-definido 
para o que seria necessariamente o melhor interesse para a criança e para o adolescente,sempre analisando o contexto a ser determinado. 
 O referido princípio tem sua previsão no Estatuto da Criança e do 
Adolescente no artigo 4º, caput e artigo 5º: 
 
 
9DIAS, Maria Berenice, Manual do Direito das Famílias. 5ª Ed. São Paulo: Editora RT, 2009, p.324. 
10Idem. A Repersonalização das Famílias. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, v. 6, 
n. 24, jun/jul 2004, p.155 
10 
 
 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder 
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na 
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos 
fundamentais.11 
 
 
 O princípio do melhor interesse do menor faz com que o menor tenha seu direito 
assegurado, sendo fundamental, pois resguarda o direito à vida, a saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, tendo como observância a preocupação da boa 
formação, moral, social e psíquica da criança e do adolescente. Por se tratar de seres que 
precisam de total amparo, pois se encontram em situação de vulnerabilidade, tratam-se de 
pessoas em formação de caráter, sendo incapaz de tomar suas próprias decisões, devendo 
sempre ir em busca do que é melhor para elas. 
 
Observando através do ponto de vista de Aimbere Francisco (2009, p.96-97): 
 
 
Diante da concepção da criança como sujeito de direito e da valorização jurídica do 
afeto na estrutura familiar, decorre o princípio do Melhor Interesse da Criança e do 
Adolescente, segundo o qual, por se encontrar o menor numa situação de 
fragilidade, por conta do seu processo de amadurecimento e formação da 
personalidade, merece destaque especial no ambiente familiar.12 
 
 
 
 Este princípio é o norteador do Direito da Criança e Adolescente não estando expresso 
na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, além de ter como objetivo 
resguardar os direitos dos menores visando sua proteção integral e sempre que houver 
situações sociojurídicas, sempre deverá prevalecer o que for de melhor interesse para o 
menor. 
 
2.3.2 PRINCÍPIO DO PLURALISMO DA ENTIDADE FAMILIAR 
 
11 Estatuto da criança e do adolescente, lei 8.069 de 1990. In: Vade mecum21º Edição. São Paulo: Saraiva. 
2019, p.1095 
12TORRES, Aimbere Francisco. Adoção nas Relações Homoparentais. São Paulo: Atlas, 2009, p. 96-97 
11 
 
Com a evolução constante que o Direito de Família vem sofrendo, podemos observar 
diversas novas hipóteses de família, compreendendo sempre o lado biológico e o lado afetivo. 
Contudo, conforme a sociedade vem apresentando drásticas mudanças, o direito 
automaticamente tem que acompanhar este ritmo. Neste sentido Cristiano Chaves de Farias e 
Nelson Rosenvald (2012, p.45) entendem que: 
 
 
 [...] o conceito de família mudou significativamente até que, nos dias de hoje, 
assume uma concepção múltipla, plural, podendo dizer respeito a um ou mais 
indivíduos, ligados por traços biológicos ou sócio-psico-afetivos, com intenção de 
estabelecer, eticamente, o desenvolvimento da personalidade de cada um.13 
 
 
 Atualmente existem diversos modelos de família existentes, as quais têm sua formação 
relacionada ao afeto e as condições sociais vividas. O princípio do pluralismo familiar é de 
extrema importância uma vez que permite alcançar todos os moldes familiares, incluindo 
também a igualdade entre os gêneros e sexos, assunto este que ainda é extremamente 
polemizado. Segundo Cristiano Chaves: 
 
 
O Princípio do Pluralismo das Entidades Familiares foi consagrado a partir da 
Constituição Federal de 1988 que ampliou o entendimento do Direito de Família, 
que antes dessa revolução só era aceita nas relações constituídas pelo casamento. 
Permitiu-se a partir dessa Constituição o reconhecimento das entidades familiares 
não matrimoniais, garantindo a elas amparo jurídico.14 
 
 
 
 Todas essas mudanças nos moldes familiares visam resguardar os direitos e proteger 
todos os tipos de família, tendo em vista que a família é baseada no conceito da sociedade, 
tendo o Estado o dever de resguardar todos os entes familiares. Nos tempos atuais é possível 
ter uma visão ampla a respeito do pluralismo familiar, onde a construção mais importante da 
união é baseada integralmente na afetividade. Antigamente, o casamento era visto como o 
único modelo tradicional de família, formado exclusivamente pela união entre o homem e a 
mulher. Conforme expõe Maria Berenice Dias: 
 
 
Agora, o que identifica a família não é nem a celebração do casamento nem a 
diferença de sexo do par ou envolvimento de caráter sexual. O elemento distintivo 
da família, que a coloca sob o manto da juridicidade, é a presença de um vínculo 
 
13Idem. Curso de Direito Civil. Direito das Famílias. V.6. 4. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora 
JusPodivm, 2012, p.45. 
14
FARIAS, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Op.cit, p. 41. 
12 
 
afetivo a unir as pessoas com identidade de projetos de vida e propósitos comuns, 
gerando comprometimento mútuo.15 
 
 
 O ordenamento jurídico permite que as pessoas possam casar ou se juntar como é o 
caso da união estável, seja por casal heterossexual ou homossexual, também se divorciar se 
separar, ter filhos, adotar filhos, tudo sempre com seu devido resguardo e amparo legal. 
 
Esse é o entendimento de Maria Berenice Dias: 
 
Negar a existência de famílias paralelas – quer um casamento e uma união estável, 
quer duas ou mais uniões estáveis – é simplesmente não ver a realidade. [...] 
Verificada duas comunidades familiares que tenham entre si um membro em 
comum, é preciso operar a apreensão jurídica dessas duas realidades. São relações 
que repercutem no mundo jurídico, pois os companheiros convivem, muitas vezes 
têm filhos, e há construção patrimonial em comum. Não ver essa relação, não lhe 
outorgar qualquer efeito, atenta contra a dignidade dos partícipes e filhos 
porventura existentes.16 
 
 
 O princípio do pluralismo das entidades familiares é de extrema evidência na 
sociedade atual, fazendo um grande marco na evolução da família e passando a protegê-las da 
mesma forma, baseando-se sempre nos laços da afetividade e se sobrepondo mais que o 
vínculo biológico. A discriminação e diversidade moral, ética, de crenças e gêneros não 
podem ser um obstáculo na construção familiar que tem como estrutura fundamental a 
afetividade, solidariedade, igualdade e por fim a liberdade. 
 
 
2.3.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
O princípio da dignidade da pessoahumana está previsto no artigo1º da Constituição 
Federal, e visa a respeito da ideia de que todo ser humano é detentor de dignidade, sem 
distinção de sexo, gênero, raça, étnica e religião. 
 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana.17 
 
 
 
 
15DIAS,op. cit, p. 42 
16DIAS, op. cit, p. 51 
17 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 1º, III 
13 
 
Um dos maiores critérios a serem adotados pelos tribunais a respeito da 
multiparentalidade é justamente o princípio da dignidade da pessoa humana, pois tem como 
objetivo trazer o respeito e a igualdade na forma de viver. O Direito de Família está 
diretamente ligado aos aspectos humanos, portanto, o Estado tem o dever de repugnar todos 
os atos que atentem contra dignidade da pessoa, prevalecendo sempreos princípios sem 
qualquer hierarquia. 
 
Trata-se de princípio que tem como essência a ideia de que o ser humano é um fim 
em si mesmo, não devendo ser instrumentalizado, coisificado ou descartado em 
virtude dos caracteres que lhe concedem individualmente e estampam sua dinâmica 
pessoal. A relação entre a proteção da dignidade da pessoa humana e a orientação 
homossexual é direta, pois o respeito aos traços constitutivos de cada um, sem 
depender de a orientação sexual, estar ou não prevista, de modo expresso, na 
Constituição. A orientação que alguém imprime na esfera de sua vida privada não 
admite quaisquer restrições. Há de se reconhecer a dignidade existente na união 
homoafetiva. O valor da pessoa humana assegura o poder de cada um exercer 
livremente sua personalidade, segundo seus desejos de foro íntimo. A sexualidade 
está dentro do campo da subjetividade. Representa fundamental perspectiva do livre 
desenvolvimento da personalidade, e partilhar a cotidianidade da vida em parcerias 
estáveis e duradouras parece ser um aspecto primordial da existência humana.18 
 
 
 
Este princípio tem como objetivo o respeito entre as pessoas, cada ser humano tem sua 
condição social, além de ser o núcleo da entidade familiar. Todo o tipo de família deve ser 
protegido com amparo na legislação, doutrina, jurisprudência e nos princípios norteadores. 
 
Rodrigo da Cunha Pereira que afirma: 
 
O princípio da dignidade da pesssoa humana é o mais universal de todos os 
princípios. É um macro princípio do qual se irradiam todos os demais: liberdade, 
autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade, uma coleção de princípios 
éticos.19 
 
 
Nesse sentido, Flávia Piovesan (2000, p.54) diz que: 
 
 
A dignidade da pessoa humana, (...) está erigida como princípio matriz da 
Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação das 
suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como 
cânone constitucional que incorpora “as exigências de justiça e dos valores éticos, 
conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro.20 
 
18Idem. Manual de Direito das Famílias – Princípios do Direito de Família. 5ª edição revista, atualizada e 
ampliada. 2ª tiragem. São Paulo Revista dos Tribunais, 2009. p.88. 
19 PEREIRA, Rodrigo Cunha, apud DIAS. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: 2009. 
20PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4ed. São Paulo: Max Limonad, 
2000, p.54. 
14 
 
 
 
 Este princípio parte de uma mesma ideia e podemos encontrar em todos os aspectos da 
legislação brasileira e em cada área do Direito. Trata-se de um princípio subjetivo com 
diferentes aplicações e interpretações, no entanto, podemos dizer que a dignidade é uma 
característica do ser humano, a qual tem existência desde os primórdios da humanidade, 
contudo este princípio traz a ideia de democracia tornando-o requisito principal no momento 
da interpretação e aplicação das normas jurídicas. 
 
 
2.4 DO RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE E A POSSIBILIDADE 
DA MÚLTIPLA FILIAÇÃO REGISTRAL E SEUS EFEITOS JURÍDICOS 
 A respeito do reconhecimento da multiparentalidade em se tratando dos efeitos 
jurídicos, podemos observar os direitos ao parentesco, ao nome, aos alimentos, à guarda, à 
herança, ao poder familiar e convivência, todavia, a multiparentalidade produz efeitos no 
campo do Direito Sucessório. A respeito deste assunto Maurício Cavallazzi (2012, p.98) 
aborda: 
 
 
Seriam estabelecidas tantas linhas sucessórias quantos fossem os genitores. Se 
morresse o pai/mãe afetivo, o menor seria herdeiro em concorrência com os irmãos, 
mesmo que unilaterais. Se morresse o pai/mãe biológico também o menor seria 
sucessor. Se morresse o menor, seus genitores seriam herdeiros.21 
 
 
 A multiparentalidade significa a possibilidade de uma possível legitimação da 
maternidade/paternidade do padrasto ou madrasta que oferece amor, cuidado, carinho e 
proteção como se o enteado (a) fosse filho (a) biológico (a). A principal característica da 
multiparentalidade é a possibilidade de fazer a inclusão do nome da madrasta ou padrasto no 
registro de nascimento do infante sem fazer a retirada do nome dos pais biológicos. 
 
O Tribunal de Justiça de São Paulo em 2012 deferiu o pedido de um jovem de 19 anos 
de idade para fazer a inclusão do nome da madrasta em seu registro de nascimento, 
preservando o nome da mãe biológica. O rapaz relatou que sempre teve uma boa convivência 
com o pai e sua madrasta, e sempre a chamou de mãe, tendo em vista que sua mãe biológica 
 
21PÓVOAS, Mauricio Cavallazzi. Multiparentalidade: A possibilidade de múltipla filiação registral e seus 
efeitos. 1. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012, p.98. 
15 
 
veio há falecer três dias após o parto e quando completou dois anos, seu pai veio a se casar 
com outra mulher. 
 
 
Ementa: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da Maternidade 
Biológica. Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do 
parto, e de sua família. Enteado criado como filho desde dois anos de idade. 
Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da 
posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e 
considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a 
quem não conhece, de que se trata de parentes - A formação da família moderna 
não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da 
pessoa humana e da solidariedade. Recurso provido.22 
 
 
 
Podemos ver outro julgado favorável ao reconhecimento da multiparentalidade: 
 
 
É possível a coexistência dos nomes da mãe biológica e da mãe socioafetiva no 
mesmo registro civil. Em ação de reconhecimento da maternidade socioafetiva, o 
pedido de inclusão do nome da requerente como genitora da menor, filha de seu 
esposo, foi julgado improcedente sob o fundamento de que a parentalidade 
socioafetiva somente é permitida quando ausente a filiação biológica. Em Primeira 
Instância, o Magistrado consignou ser impossível a coexistência dos parentescos 
biológicos e socioafetivo maternos na certidão de nascimento da criança. 
Inconformada, a requerente interpôs recurso, no qual alegou que seu pedido não 
visava à substituição da maternidade biológica. Pugnou pela inclusão do seu nome e 
de seus pais no assento de nascimento da menor, sem a exclusão do registro materno 
anterior, a fim de preservar os vínculos familiares já existentes. A Relatora deu 
provimento ao recurso. Ressaltou que o parecer psicossocial comprovou o 
estabelecimento de vínculo afetivo de maternidade e filiação entre a requerente e a 
menor. A Desembargadora entendeu que o reconhecimento judicial representa 
apenas a materialização da realidade fática vivenciada pelas partes. Asseverou, 
ainda, que a procedência do reconhecimento da maternidade socioafetiva aditiva, 
com inclusão do nome da requerente como genitora, não representa nenhum prejuízo 
aos vínculos biológicos originários, visto que será mantido o nome da mãe 
biológica, falecida. Ao final, a Turma deu provimento ao recurso, ressaltando a 
possibilidade de reconhecimento da multiparentalidade e de coexistência jurídica 
dos nomes da mãe biológica e da mãe socioafetiva no registro civil da menor.23 
 
 
 
Em 2016 o STF decidiu que o reconhecimento do pai socioafetivo no registro de 
nascimento não exclui a responsabilidade do pai biológico, ambos são responsáveis. O 
magistrado indeferiu o pedido de um pai biológico que queria deixar de ser considerado pai e 
deixar de prestar as obrigações patrimoniais, como podemos ver abaixo: 
 
22TJ-SP - APL: 64222620118260286 SP, Relator: Alcides Leopoldo e Silva Júnior, Data de Julgamento: 
14/08/2012, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/08/2012 
23 DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federale Territórios. 2016. Maternidade socioafetiva 
aditiva – reconhecimento da multiparentalidade. Acesso em: 14 ago. 2020 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10623298/artigo-1593-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
16 
 
 
 
Em sessão nesta quarta-feira (21), o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) 
entendeu que a existência de paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade 
o pai biológico. Por maioria de votos, os ministros negaram provimento ao Recurso 
Extraordinário (RE) 898060, com repercussão geral reconhecida, em que um pai 
biológico recorria contra acórdão que estabeleceu sua paternidade, com efeitos 
patrimoniais, independentemente do vínculo com o pai socioafetivo. O relator do RE 
898060, ministro Luiz Fux, considerou que o princípio da paternidade responsável 
impõe que, tanto vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os 
envolvidos, quanto àqueles originados da ascendência biológica, devem ser 
acolhidos pela legislação. Segundo ele, não há impedimento do reconhecimento 
simultâneo de ambas as formas de paternidade – socioafetiva ou biológica –, desde 
que este seja o interesse do filho. Para o ministro, o reconhecimento pelo 
ordenamento jurídico de modelos familiares diversos da concepção tradicional, não 
autoriza decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando o melhor interesse do 
descendente for o reconhecimento jurídico de ambos os vínculos. [...] Segundo ele, o 
paradigma não era o afeto entre familiares ou a origem biológica, mas apenas a 
centralidade do casamento. Porém, com a evolução no campo das relações de 
familiares, e a aceitação de novas formas de união, o eixo central da disciplina da 
filiação se deslocou do Código Civil para a Constituição Federal. “A partir da Carta 
de 1988, exige-se uma inversão de finalidades no campo civilístico: o regramento 
legal passa a ter de se adequar às peculiaridades e demandas dos variados 
relacionamentos interpessoais, em vez de impor uma moldura estática baseada no 
casamento entre homem e mulher”, argumenta o relator. No caso concreto, o relator 
negou provimento ao recurso e propôs a fixação da seguinte tese de repercussão 
geral: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não 
impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem 
biológica, salvo nos casos de aferição judicial do abandono afetivo voluntário e 
inescusável dos filhos em relação aos pais”. O ministro Edson Fachin abriu a 
divergência e votou pelo parcial provimento do recurso, ao entender que o vínculo 
socioafetivo “é o que se impõe juridicamente” no caso dos autos, tendo em vista que 
existe vínculo socioafetivo com um pai e vínculo biológico com o genitor. Portanto, 
para ele, há diferença entre o ascendente genético (genitor) e o pai, ao ressaltar que a 
realidade do parentesco não se confunde exclusivamente com a questão biológica. 
“O vínculo biológico, com efeito, pode ser hábil, por si só, a determinar o parentesco 
jurídico, desde que na falta de uma dimensão relacional que a ele se sobreponha, e é 
o caso, no meu modo de ver, que estamos a examinar”, disse, ao destacar a 
inseminação artificial heteróloga [doador é terceiro que não o marido da mãe] e a 
adoção como exemplos em que o vínculo biológico não prevalece, “não se 
sobrepondo nem coexistindo com outros critérios”. Também divergiu do relator o 
ministro Teori Zavascki. Para ele, a paternidade biológica não gera necessariamente 
a relação de paternidade do ponto de vista jurídico e com as consequências 
decorrentes. “No caso há uma paternidade socioafetiva que persistiu, persiste e deve 
ser preservada”, afirmou. Ele observou ser difícil estabelecer uma regra geral e que 
deveriam ser consideradas situações concretas.24 
 
 
 
 Antigamente a filiação era considerada apenas pelo vínculo biológico, com as 
constantes transformações que a família vem passando ao longo dos anos e o direito tendo que 
se adaptar a estas evoluções, esta passou a ser analisada pela doutrina e jurisprudência com 
 
24 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico, 
decide STF. 2016 . Acesso em: 14 ago. 2017. 208 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Filiação socioafetiva 
não impede reconhecimento de paternidade biológica e seus efeitos patrimoniais. 2017. Acesso em: 14 ago. 
2020. 
17 
 
base no fator biológico, jurídico e socioafetivo. No entanto, de acordo com este 
desenvolvimento que está diretamente ligado as necessidades da sociedade há uma 
imprescindibilidade em flexibilizar a legislação para que seja resguardada a proteção. 
 
Acerca dessas transformações, Christiano Cassettari (2014, p.156) nos informa: 
 
O juiz de nosso século não é um mero leitor da lei e não deve temer novos direitos. 
Haverá sempre novos direitos e também haverá outros séculos. Deve estar atento à 
realidade social e, cotejando os fatos com o ordenamento jurídico, concluir pela 
solução mais adequada.25 
 
 
 
 Com base na Teoria Tridimensional do Direito de Família, o ser humano tem três 
possibilidades para sua formação, são estas: biológica, socioafetiva e ontológica. Portanto, 
trata-se de uma convicção que decorre da evolução das filiações com transcorrer dos tempos, 
dando a possibilidade do reconhecimento da multiparentalidade. 
 
 
2.5 REQUISITOS PARA VIABILIDADE DO RECONHECIMENTO 
EXTRAJUDICIAL DA MULTIPARENTALIDADE 
O instituto socioafetivo aparece com uma força jurídica significativa, portanto, é 
devida sua regulamentação. Neste artigo científico, foi apresentado que o fenômeno da 
multiparentalidade está ligado a laços biológicos e socioafetivos, evidenciando-se acerca dos 
princípios que o regem. 
 A multiparentalidade traz consigo a garantia constitucional da dignidade da pessoa 
humana e igualdade entre as filiações, neste contexto, podem observar o provimento nº63 do 
Conselho Nacional de Justiça, que estabelece a possibilidade do procedimento do registro 
extrajudicial da filiação socioafetiva, regulamentando o reconhecimento da paternidade ou 
maternidade socioafetiva da pessoa de qualquer idade junto ao registro civil de pessoas 
naturais. 
 
 
25
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e ParentalidadeSocioafetiva: Efeitos Jurídicos. 2. ed. São 
Paulo: Atlas, 2015. 
18 
 
Art. 10. O reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva 
de pessoas acima de 12 anos será autorizado perante os oficiais de registro civil das 
pessoas naturais.26 
 
 
Sendo assim, de forma resumida, este provimento n° 63 prevê diversas situações 
como, filhos de qualquer idade, para os maiores de 12 anos, necessário o seu consentimento, 
requerimento deve ser unilateral (somente um pai ou uma mãe socioafetivos), impossibilidade 
de mais de dois pais ou de duas mães (um pai/mãe biológico e um pai ou mãe socioafetivos), 
necessidade de mera declaração dos interessados, consentimento pessoal do pai/mãe 
biológicos, deferimento do pedido pelo registrador, que remeterá o caso ao juiz em caso de 
dúvida. 
Contudo, o Conselho Nacional de Justiça editou outro provimento, sob n° 83, datado 
em 14 de agosto de 2019, que veio mudando alguns dispositivos do Provimento nº 63. Este 
provimento fez a modificação de devidos dispositivos do provimento anterior, restringindo 
algumas hipóteses de reconhecimento extrajudicial que vinham acontecendo, como por 
exemplo, somente filhos acima de 12 anos poderão se valer do registro da filiação 
socioafetiva pela via extrajudicial, não havendo outra opção aos menores desta idade apenas a 
via judicial. 
No entanto, o registrador após dar entrada no pedido com os documentos necessários 
exigidos, deverá comprovar a existência do vínculo afetivo, seja materno ou paterno. 
 
 
Art. 10-A. A paternidade ou a maternidade socioafetiva deve serestável e deve estar 
exteriorizada socialmente. 
§1º O registrador deverá atestar a existência do vínculo afetivo da paternidade ou 
maternidade socioafetiva mediante apuração objetiva por intermédio da verificação 
de elementos concretos.27 
 
 
Em seguida, ao serem atendidos todos os requisitos necessários será remetido ao 
Ministério Público para ser avaliado e poder dar um parecer, que sendo favorável, o 
registrador poderá por fim realizar o registro da filiação socioafetiva,caso não seja favorável, 
deverá arquivar o pedido. Somente deverá ser remetida ao juiz em casos de impugnação, 
dúvidas ou reclamação por parte dos interessados referente ao parecer desfavorável do 
Ministério Público. 
 
26CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento nº 63, de 14 de novembro de 2017. Disponível em: 
<http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380>. Acesso em: 28/09/2020 
27CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento nº 83, de 14 de agosto de 2019. Disponível em: 
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2975>. Acesso em: 28/09/2020 
19 
 
Após o novo provimento, passaram a serem requisitos, exclusivamente para filhos 
acima de 12 anos, que deverão consentir reconhecimento exclusivamente unilateral (somente 
um pai ou uma mãe socioafetiva), necessidade de apresentação de prova do vínculo afetivo, 
consentimento do pai/mãe biológicos, atestado do registrador sobre a existência da 
afetividade, parecer favorável do Ministério Público, que equivalerá ao deferimento. 
Por fim, o Conselho Nacional de Justiça sendo um órgão com atribuições 
administrativas, quiser preservar a questão jurídica, resguardando eventuais problemas, 
mantendo a opção do registro extrajudicial, o que nos traz uma grande novidade no meio 
jurídico, na sociedade e no Direito de Família. 
 
CONCLUSÃO 
O presente artigo científico tratou sobre a possibilidade da múltipla filiação registral e 
seus reflexos jurídicos, e como visto no decorrer deste trabalho, a multiparentalidade trata-se 
de um instituto jurídico que está cada vez mais presente nas famílias contemporâneas. O 
destaque decorrente deste artigo científico corresponde a possibilidade de registrar o filho 
com mais de uma mãe ou pai, construindo uma nova estrutura familiar. 
 Contudo, podemos observar neste artigo científico que a multiparentalidade está 
amparada por diversos princípios constitucionais, ganhando um grande amparo para que seja 
reconhecida no ordenamento jurídico brasileiro, dentre eles, princípio do melhor interesse do 
menor, princípio do pluralismo da entidade familiar e princípio da dignidade da pessoa 
humana. 
 Podemos ressaltar que a família vem passando por diversas transformações ao longo 
dos anos e a múltipla filiação vem se tornando cada vez mais uma realidade fática mais 
próxima da sociedade brasileira, portanto, haja vista destacar os efeitos jurídicos nela 
pertinentes para resguardar esse tipo de família, tendo como exemplo. 
Diante do ponto de vista de diversos doutrinadores como Maria Berenice Dias, Paulo 
Lôbo, e tantos outros, o instituto deve ser analisado casa a caso, tento em vista que com o 
reconhecimento da multiparentalidade, não visa eximir os pais da responsabilidade jurídica 
do vínculo biológico para com os filhos, e sim reconhecer o vínculo afetivo preexistente. 
 Conclui-se que o Direito de Família deve sempre buscar reconhecer os institutos 
jurídicos que buscam amparar as entidades familiares, garantindo sua proteção, seu 
reconhecimento social e lega, além do seu devido amparo nas soluções de conflitos de 
interesse, priorizando sempre os princípios supracitados. 
 
20 
 
 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, art. 1º, III 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Paternidade socioafetiva não exime de 
responsabilidade o pai biológico, decide STF. 2016. Disponível em: . Acesso em: 14 ago. 
2017. 208 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Filiação socioafetiva não impede 
reconhecimento de paternidade biológica e seus efeitos patrimoniais. 2017. Disponível em: . 
Acesso em: 14 ago. 2020. 
 
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e ParentalidadeSocioafetiva: Efeitos 
Jurídicos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 
 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento nº 63, de 14 de novembro de 2017. 
Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380>. Acesso em: 
28/09/2020 
 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Provimento nº 83, de 14 de agosto de 2019. 
Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2975>. Acesso em: 28/09/2020 
 
DIAS, Maria Berenice, Manual do Direito das Famílias. 5ª Ed. São Paulo: Editora RT, 
2009, p.324. 
 
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias – Princípios do Direito de 
Família. 5ª edição revista, atualizada e ampliada. 2ª tiragem. São Paulo Revista dos Tribunais, 
2009. p.88. 
 
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5ª edição, São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2009, p. 42 
 
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5ª edição, São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2009, p. 51 
 
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 6. Direito das Sucessões, 21 ed. 
Saraiva, 2007, p. 9. 
 
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. 2016. 
Maternidade socioafetiva aditiva – reconhecimento da multiparentalidade. Acesso em: 14 ago. 
2020 
 
Estatuto da criança e do adolescente, lei 8.069 de 1990. In: Vade mecum21º Edição. São 
Paulo: Saraiva. 2019, p.1095 
 
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Curso de Direito Civil. Nelson. 2ª ed., p. 542 
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Direito das 
Famílias. V.6. 4. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Editora JusPodivm, 2012. 
 
21 
 
FARIAS, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Direito das famílias. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 41. 
 
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A Repersonalização das Famílias. Revista Brasileira de Direito de 
Família. Porto 
 
LÔBO, Paulo. Direito Civil-Família. 6. 11 ed. Saraiva. São Paulo, 2011. p.18 
 
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p.36 
 
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito de Família. São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
OLIVEIRA, Euclides de; Hironaka, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito de Família e o 
Novo Código Civil. 4.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. 
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Introdução ao direito civil: direito de família, vol. 5. Rio 
de Janeiro: Forense, 2006. p.27-28 
 
PEREIRA, Rodrigo Cunha, Maria DIAS. Manual de Direito das Famílias. 7. ed. São Paulo: 
2009. 
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4ed. São 
Paulo: Max Limonad, 2000. 
PÓVOAS, Mauricio Cavallazzi. Multiparentalidade: A possibilidade de múltipla filiação 
registral e seus efeitos. 1. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012. 
 
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; OLIVEIRA, 
Alexandre Miranda. Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. 2 ed. Belo 
Horizonte. Del Rey, 2010. P. 25. 
 
TJ-SP - APL: 64222620118260286 SP, Relator: Alcides Leopoldo e Silva Júnior, data de 
Julgamento: 14/08/2012, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/08/2012 
TORRES, Aimbere Francisco. Adoção nas Relações Homoparentais. São Paulo: Atlas, 
2009, p. 96-97 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22

Continue navegando