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Patrícia Miranda- MEDICINA o IBPS: Inibidores da bomba de prótons H+/K+ ATPase O omeprazol é o primeiro de uma classe de fármacos que se liga ao sistema enzimático H+/K+ATPase (bomba de prótons) das células parietais e suprime a secreção de íons hidrogênio no lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico. Cinco IBPs adicionais estão disponíveis: dexlansoprazol, esomeprazol, lansoprazo/, pantoprazol e rabeprazol. Omeprazol e lansoprazol estão disponíveis em medicamentos de venda livre para o tratamento de curta duração da azia. o Ação Esses fármacos são pró-fármacos com um revestimento entérico ácido resistente para protege-los da degradação prematura pelo ácido gástrico. O revestimento é removido no meio alcalino do duodeno, e o pró-fármaco, uma base fraca, é absorvido e transportado aos canalículos da célula parietal. Ali ele é convertido na forma ativa, que reage com o resíduo cisteína de H+/K+ ATPase, formando estão uma ligação covalente e estável. São necessárias cerca de 18 horas para que a enzima seja ressintetizada. Em doses-padrão, todos os IBPs inibem as duas secreções gástricas, a basal e a estimulada em mais de 90%. Existe um produto oral contendo omeprazol associado a bicarbonato de sódio para absorção mais rápida disponível para ser prescrito. o Uso terapêutico A superioridade dos IBPs sobre os antagonistas H2 na supressão da produção de ácido e na cicatrização das úlceras pépticas os tornaram os fármacos preferidos no tratamento e prevenção de úlceras de estresse, no tratamento de esofagites erosivas e úlcera duodenal ativa e para o tratamento de longa duração de condições hiperssecretoras patológicas. Os IBPs estão aprovados também para o tratamento da azia e levam vantagem sobre os antagonistas H2. Estudos clínicos mostraram que os IBPs diminuem o risco de sangramento da úlcera causado pelo ácido acetilsalicílico e outros AINES. Finalmente, eles também são usados com sucesso com antibacterianos, para erradicar H. pylori. Para obter o efeito máximo, os IBPs devem ser ingeridos 30 minutos antes do desjejum ou da principal (maior) refeição do dia. Se for necessário também um antagonista de receptor H2, ele deve ser ingerido bem depois do IBP para obter o melhor efeito, porque os antagonistas H2 reduzem a atividade da bomba de prótons e os IBPs precisam da bomba ativa para serem eficazes. Pacientes com azia, nos quais o IBP uma vez ao dia só é parcialmente eficaz, podem melhorar o controle dos sintomas adotando regime de duas doses diárias ou manter o IBP pela manhã e acrescentando o antagonista H2 à tarde. o Farmacocinética Todos esses fármacos são eficazes por via oral (alguns também estão disponíveis em forma injetável). Os metabólitos desses fármacos são excretados na urina e nas fezes. o Efeitos adversos Os IBPs, em geral, são bem tolerados, mas há preocupações com relação à segurança de longo prazo devido ao aumento do risco de fraturas da bacia, punho e coluna vertebral. O risco maior está associado aos pacientes que tomam o IBPs por um ano ou mais. Os IBPs, particularmente o omeprazol, diminuem a eficácia do clopidogrel devido à inibição da CIP2C19. É questionável se existe uma relação causa-e-efeito entre estes dois fármacos. Entretanto, o FDA recomenda contra o uso simultâneo destes dois fármacos devido a um Fármacos gastrintestinais Patrícia Miranda- MEDICINA possível aumento do risco de eventos cardiovasculares. O omeprazol inibe a biotransformação de varfarina, fenitoína, diazepam e ciclosporina por meio da inibição competitiva das enzimas CIP450. O tratamento prolongado com fármacos que suprimem o ácido gástrico, como os IBPs e os antagonistas H2, pode diminuir a disponibilidade de cianocobalamina (vitamina 8 12), pois o ácido é necessário para a sua absorção em um complexo com o fator intrínseco. Outro problema com a elevação prolongada do pH gástrico é o potencial de absorção incompleta dos produtos com carbonato de cálcio. Uma opção eficaz é o uso de citrato de cálcio como fonte de cálcio para os pacientes que usam medicação supressiva do ácido prolongada, pois a absorção dos sais citrato não é afetada pelo pH gástrico. Há registro do aumento de incidência de diarreia e colite por Clostridium difficile em comunidades de pacientes recebendo IBPs. Os pacientes devem ser aconselhados a interromper o tratamento com IBP se apresentarem diarreia por diversos dias e a contatar seu médico para acompanhamento o Antagonistas de receptor H2 e regulação da secreção gástrica A secreção gástrica pelas células parietais da mucosa gástrica é estimulada pela ACh, histamina e gastrina. As ligações da ACh, histamina ou gastrina com seus receptores resulta na ativação de proteínas-quinases, que por sua vez estimulam a bomba de prótons H+/ K+ ATPase a secretar íons hidrogênio em troca de K+ para o lúmen do estômago. Em contraste, a ligação de prostaglandina E2 e somatostatina aos seus receptores diminui a produção de ácido gástrico. (Nota: a ligação de histamina causa ativação da adenililciclase, e a ligação de prostaglandina E2 inibe essa enzima. A gastrina e a ACh atuam aumentando os níveis intracelulares de cálcio.) Ainda que os antagonistas do receptor H2 bloqueiem as ações da histamina em todos os receptores H2, o seu uso clínico principal é inibir a secreção ácida gástrica, sendo particularmente eficazes contra a secreção ácida noturna. Bloqueando competitivamente a ligação da histamina aos receptores H2, esses fármacos reduzem as concentrações intracelulares de AMPc e, assim, a secreção do ácido gástrico. Os quatro fármacos usados cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina- inibem de modo potente (ais de 90%) a secreção gástrica ácida noturna, a estimula por alimento e a basal após uma única dose. A cimetidina é o protótipo dos antagonistas do receptor H2. Todavia sua utilidade é limitada pelos seus efeitos adversos e interações medicamentosas. o Ações Omeprazol Úlcera Gástrica: 20mg, VO, 1 vez por dia Úlcera Duodenal: 20 mg, VO, 1 vez por dia. Alívio rápido dos sintomas e cicatrização em até 2 semanas (na maioria dos casos). -Esofagite de refluxo: 20mg, VO, 1 vez por dia. Alívio rápido dos sintomas e cicatrização em até 4 semanas (na maioria dos casos). Efeitos adversos mais comuns: cefaleia, dor abdominal, constipação, diarreia, flatulência, náusea/vômito Patrícia Miranda- MEDICINA Os antagonistas do receptor H2 da histamina - cimetidnia, ranitidina, famotidi na e nizatidina- atuam seletivamente nos receptores H2 do estômago, dos vasos sanguíneos e de outros locais, mas não têm efeito nos receptores H1. Eles são antagonistas competitivos da histamina e são completamente reversíveis. O uso desses fármacos diminui com o advento dos IBPs. o Usos terapêuticos - Úlceras pépticas: Os quatro fármacos são igualmente eficazes em promover a cicatrização das úlceras gástricas e duodenais. Contudo, é comum haver recorrência depois da interrupção do tratamento com antagonistas H2 (60 a 100% por ano). Os pacientes com úlceras induzidas por AINES devem ser tratados com IBP, pois esses fármacos curam e previnem úlceras futuras melhor do que os antagonistas H2. - Úlceras de estresse agudo: Os anti- histamínicos H2 são administrados normalmente por infusão IV para prevenir e lidar com úlceras de estresse agudo associadas com pacientes de alto risco nas unidades de tratamento intensivo. Entretanto, como pode ocorrer tolerância com estes fármacos, o uso dos IBP também vem avançando nesta indicação. - Doença do refluxo gastresofágico: Doses baixas de antagonistas H2, atualmente disponíveis em medicamentos de venda Livre, parecem eficazes na prevenção e no tratamento da queimação (refluxo gastresofágico) somente em cerca de50°/o dos pacientes. Os antagonistas de receptor H2 atuam bloqueando a secreção, por isso eles podem demorar até 45 minutos para aliviar os sintomas. Os antiácidos neutralizam de forma mais rápida e eficiente o ácido secretado presente no estômago, mas sua ação é só temporária. Por todas estas razões, atualmente, os IBP são preferidos no tratamento deste distúrbio. o Farmacocinética - Cimetidina: adm via oral, são distribuídos amplamente pelo organismo (incluindo leite e placenta) e são excretados principalmente na urina. A sua dosagem deve ser diminuída quando prescrita para pacientes com insuficiência renal. - Ranitidina: Longa ação. Contém efeitos adversos mínimos e não produz os efeitos antidrogênicos ou estimulantes de prolactina da cimetidina. -Famotidina: Similar a ranitidina em seu mecanismo de ação, mas é entre 20 a 50 vzs mais potente do que a cimetidina e 3 a 30 vzs mais potente do que a ranitina. - Nazatidina: A nizatidina é similar à ranitidina na sua ação farmacológica e potência. Em contraste com a cimetidina, ranitidina e famotidina, que são biotransformadas no fígado, a nizatidnia é eliminada principalmente pelos rins. Como ocorre pouca biotransformação de primeira passagem com a nizatidnia, sua biodisponibilidade é próxima dos 1 00% o Efeitos adversos Os efeitos adversos da cimetidina, em geral, são leves e associados com redução da produção de ácido gástrico, sua principal atividade farmacológica. Os efeitos adversos só ocorrem em um pequeno número de pacientes e, em geral, não é necessário suspender o fármaco. Os efeitos adversos mais comuns são cefaleia, tonturas, diarreia e dor muscular. Efeitos no SNC (confusão e alucinações) ocorrem mais em pacientes idosos ou após administração IV. A cimetidina também tem efeitos endócrinos, pois atua como um antiandrogênio não esteroidal. Os efeitos incluem ginecomastia e galactorreia (liberação ou ejeção contínua de leite). Fármacos como o cetoconazo/, que dependem de um meio ácido para absorção gástrica, podem não ser absorvidos adequadamente se ingeridos com um desses antagonistas de receptor H2. o Prostaglandinas A prostaglandina E2, produzida pela mucosa gástrica, inibe a secreção de ácido clorídrico e estimula a secreção de muco e bicarbonato (efeito citoprotetor). A deficiência de prostaglandinas pode estar envolvida na patogênese das úlceras pépticas. O misoprostol, um análogo estável da prostaglandina E1, bem como alguns IBPs estão aprovados para a prevenção de úlceras gástricas induzidas pelos Patrícia Miranda- MEDICINA AINES. Ele é menos eficaz do que os antagonistas H2 e os IBPs no tratamento agudo da úlcera péptica. Embora o misoprostol tenha ações citoprotetoras, ele só é eficaz clinicamente em doses elevadas que diminuem a secreção de ácido gástrico. O uso profilático de rotina do misoprostol não se justifica, exceto nos pacientes que estão recebendo AINES e estão sob elevado risco de úlceras induzidas por esses fármacos, como idosos ou pacientes com complicações por úlceras. Como as outras prostaglandinas, o misoprostol produz contrações uterinas, desalojamento do feto e é contraindicado durante a gestação. Diarreia e náuseas dose-dependentes são os efeitos adversos mais comuns e limitam o seu uso. o Antiácidos Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido gástrico formando água e um sal, para diminuir a acidez gástrica. Como a pepsina é inativa em pH acima de 4, os antiácidos também reduzem a atividade da pepsina. o Química dos antiácidos Os antiácidos variam amplamente em composição química, capacidade de neutralizar o ácido, conteúdo de sódio, palatabilidade e preço. A capacidade neutralizadora de ácido de um antiácido depende da sua capacidade de neutralizar o ácido clorídrico gástrico e de se o estômago está repleto ou vazio (o alimento retarda o esvaziamento do estômago, permitindo mais tempo para o antiácido reagir). Os antiácidos comumente usados são sais de alumínio e magnésio, como hidróxido de alumínio (geralmente uma mistura de Al[OH]3 e óxidos hidratados de alumínio) ou hidróxido de magnésio (Mg [OH]2) isolados ou em associação. O carbonato de cálcio (CaC03) reage com o ácido clorídrico para formar C02 e CaCl2 e é uma preparação comumente usada. A absorção sistêmica do bicarbonato de sódio (NaHC03) pode provocar alcalose metabólica temporária, por isso esse antiácido não é recomendado para uso por longo período. o Usos terapêuticos Os antiácidos contendo alumínio e magnésio são usados para o alívio sintomático da úlcera péptica e da azia; eles também podem promover a cicatrização de úlceras duodenais. Contudo, eles são usados como última escolha contra úlceras gástricas agudas porque a evidência de eficácia é menos convincente (Preparação de carbonato de cálcio também são usadas como suplementação de cálcio para o tratamento da osteoporose). o Efeitos aversos O hidróxido de alumínio tende a causar constipação, ao passo que o hidróxido de magnésio tende a produzir diarreia. Medicamentos que associam esses fármacos ajudam na normalização da função intestinal. A ligação de fosfato aos antiácidos que contêm alumínio pode causar hipofosfatemia. Além do potencial de causar alcalose sistêmica, o bicarbonato de sódio libera C02, provocando eructação e flatulência. A absorção dos cátions dos antiácidos (Mg2+, Al3+, Ca2+), em geral, não é problema em pacientes com função renal normal; entretanto, podem ocorrer efeitos adversos em pacientes com comprometimento renal, causado pelo acúmulo de magnésio, cálcio, sódio e outros eletrólitos. O conteúdo de sódio nos antiácidos pode ser uma consideração importante em pacientes com hipertensão ou insuficiência cardíaca congestiva. o Fármacos protetoras da mucosa Esses fármacos, também conhecidos como citoprotetores, apresentam várias ações que aumentam os mecanismos de proteção da mucosa, prevenindo lesões, reduzindo inflamação e cicatrizando úlceras existentes. o Sucralfato Sucralfato é um complexo de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada que se liga a grupos carregados positivamente em proteínas da mucosa normal e necrótica. Formando géis complexos com as células epiteliais, o sucralfato cria uma barreira física que impede a difusão do ácido clorídrico e evita a degradação do muco pela pepsina e o ácido. Ele também estimula a liberação de prostaglandinas, bem como de muco e bicarbonato e inibe a digestão péptica. Por esse e outros mecanismos, o sucralfato efetivamente cicatriza úlceras duodenais e é Patrícia Miranda- MEDICINA usado no tratamento de manutenção de longa duração para prevenir a recorrência. Como requer um pH ácido para sua ativação, o sucralfato não deve ser administrado com antagonistas H2 ou antiácidos. Pouco do sucralfato é absorvido sistemicamente. Ele é muito bem tolerado, mas pode interferir na absorção de outros fármacos fixando-se a eles. O sucralfato não previne as úlceras induzidas pelos AINES e nem cicatriza úlceras gástricas o Subsalicilato de bismuto Preparações desse composto efetivamente cicatrizam úlceras pépticas. Além da sua ação antimicrobiana, essas preparações inibem a atividade da pepsina, aumentam a secreção de muco e interagem com glicoproteínas na mucosa necrótica, revestindo e protegendo a cratera ulcerada. Referência CLARCK.M.A. et al. Fármacos que afetam outros órgãos: Fármacos antieméticos e Gastrintestinais. In. CLARCK.M.A. Farmacologia Ilustrada. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
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