Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre DEFINICÃO Transtorno no qual ocorrem ataques de pânico recorrentes, de forma espontânea e inesperada. ✨ Ataques de pânico: Episódio de ansiedade extrema (medo e desconforto intenso) de curta duração sem fator desencadeante aparente. Durante o ataque de pânico, o paciente pode apresentar sintomas somáticos, ex.: dor torácica que simulam infartos miocárdicos. o Pode ocorrem em intervalos distintos desde 1 vez ao mês até períodos mais longos (ex..: 1x na semana, 1x no mês, 1x a cada 6 meses). o Obs.: Para se ter crises/ataques de pânico não se tem um fator desencadeante. No entanto, o inicio do transtorno pode coincidir com algum fato altamente estressante (ex.: ir para a faculdade). ✨ Curso geralmente crônico com períodos de melhora e piora. EPIDEMIOLOGIA A prevalência de transtorno de ao longo da vida pânico está na variação de 1 a 4%; Acomete mais mulheres do que homens, na proporção 3:1; Geralmente o início dos sintomas surgem na idade ajuda jovem - próximo dos 25 anos de idade: o O transtorno de pânico geralmente tem seu início no fim da adolescência ou no início da vida adulta, ainda que possa ocorrer durante a infância, o início da adolescência e a meia- idade. Muitos casos vão parar no pronto-socorro, com clínica semelhante a infarto miocárdico. Comorbidades: Dos pacientes com transtorno de pânico, 91% têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico: Entre eles, o transtorno depressivo que pode estar associado em até 50% dos casos. o Cerca de um terço das pessoas com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo maior antes de seu início; e em torno de dois terços experimentam transtorno de pânico pela primeira vez durante ou após o início de depressão maior. Outros transtornos também ocorrem comumente em pessoas com transtorno de pânico. Entre aquelas com a condição, 15 a 30% também têm transtorno de ansiedade social ou fobia social, 2 a 20% têm fobia específica, 15 a 30% têm transtorno de ansiedade generalizada, 2 a 10% têm TEPT (transtorno de estresse pós- traumático), e até 30% têm TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Outras condições comórbidas comuns são hipocondria ou transtorno de ansiedade relacionado a doenças, transtornos da personalidade e transtornos relacionados a substâncias. ETIOLOGIA A etiologia do transtorno do pânico é pautada em uma origem multifatorial: Genéticos: Provável poligênico (vários genes envolvidos). o Parentes de primeiro grau de alguém que tem o transtorno podem ter 4-8 vezes mais chances de desenvolver a patologia. Biológicos: Relacionados a uma série de anormalidades biológicas na estrutura e na função do cérebro: o Alterações em neurotransmissores (substâncias bioquímica que comunica um neurônio ao outro) principalmente norepinefrina, serotonina e GABA: Essas respostas podem ser causadas por hipersensibilidade pós-sináptica a serotonina no transtorno de pânico. Evidências pré-clínicas sugerem que a atenuação da transmissão GABAérgica inibidora local na amígdala, no mesencéfalo e no hipotálamo pode desencadear respostas fisiológicas semelhantes a ansiedade: Os dados biológicos conduziram a um foco no tronco cerebral (em particular nos neurônios noradrenérgicos do locus ceruleuse), no sistema límbico (possivelmente responsável pela geração da ansiedade antecipatória) e no córtex pré-frontal (possivelmente responsável pela geração de esquiva fóbica). Entre os vários neurotransmissores envolvidos, o sistema noradrenérgico também tem atraído muita atenção, com os receptores adrenérgicos pré- sinápticos, em particular, desempenhando um papel significativo: Respostas exageradas a MHPG e cortisol e cardiovasculares. Eles foram identificados por provocações farmacológicas que estimulam o disparo do locus ceruleuse a induzem taxas elevadas de atividade semelhante a alterações clinicas em pacientes com transtorno de pânico. Locus ceruleuse: Estrutura do cérebro humano, localizado na massa cinzenta central. É a estrutura cerebral com a maior densidade de neurônios noradrenérgicos e seu papel é fundamental no desencadeamento de respostas ao estresse, às reações de fuga e ao aparecimento bem como na intensidade de muitos sintomas dos quadros de crises abstinência de substâncias causadoras de dependência. O Cerúleo é também fundamental na fisiologia do sono e no início e manutenção do sono REM. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre o Substâncias indutoras do pânico (Panicogênicas): As substâncias indutoras de pânico chamadas de respiratórias causam estimulação respiratória e mudança no equilíbrio acidobásico. Elas incluem dióxido de carbono (misturas de 5 a 35%), lactato de sódio e bicarbonato. Elas podem atuar inicialmente nos barorreceptores cardiovasculares periféricos e retransmitir seus sinais por aferentes vagais para o núcleo do trato solitário e, a seguir, para o núcleo paragigantocelular da medula. A hiperventilação em pacientes com transtorno de pânico pode ser causada por um sistema de alarme pelo qual o aumento das concentrações de Pco2e de lactato cerebral ativa de forma prematura um sensor fisiológico de asfixia. Presume-se que as substâncias neuroquímicas indutoras de pânico afetem diretamente sobretudo os receptores noradrenérgicos, serotonérgicos e GABAérgicos do SNC. o Alterações neuroanatômicas como atrofia do lobo temporal, em particular o hipocampo e a amígdala. Estudos de imagens cerebrais funcionais, implicaram a desregulação do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). De maneira específica, transtornos de ansiedade e ataques de pânico estão associados com vasoconstrição cerebral, que pode resultar em sintomas do SNC, como tonturas, e em sintomas do sistema nervoso periférico que podem ser induzidos por hiperventilação e por hipocapnia. Psicossociais: Existe um significado inconsciente de acontecimentos estressantes e que sua patogenia pode estar relacionada a fatores neurofisiológicos desencadeados por reações psicológicas. o Embora os ataques de pânico sejam neurofisiologicamente correlacionados com o locus ceruleus, seu início costuma estar associado a fatores ambientais ou psicológicos. FISIOPATOLOGIA Ataques de pânico decorrem de uma ativação intermitente dos sistemas de reação e defesa do SNC, em uma região chamada “circuito do medo” (hipocampo, córtex pré-frontal medial, amigdala e suas projeções para o tronco encefálico), resultando em um alerta central e autonômico generalizado. Diversas são as teorias de explicação para ativação intermitente: o A mais aceita atualmente é que essa hiperativação autonômica através do “Alarme falso do sufocamento” em que pacientes, pré-dispostos por fatores etiológicos, apresentam uma sensibilidade anormal á estimulantes respiratórios (ex.: CO2, bicabornato e lactato). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ansiedade extrema de forma súbita, sensação de morte, dores no peito, taquicardias, falta de ar, dor abdominal, tremores, náuseas, tonturas, visão em túnel, formigamento perioral (a volta da boca) e de membros e ondas de calor e frio: o A maioria das sensações físicas de um ataque de pânico representa a hiperestimulação maciça do sistema nervoso autônomo. ✨ O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso; Fatores de piora: o A ingestão excessiva de cafeína ou nicotina pode exacerbar os sintomas: A dependência de álcool e de outras substâncias ocorre em cerca de 20 a 40% dos pacientes, e também pode se desenvolver um transtorno obsessivo-compulsivo. o A depressão pode complicar o quadro de sintomas em 40 a 80% de todos os pacientes, conforme estimado por vários estudos. Embora não sejam propensos a falar sobre ideação suicida, os pacientes apresentam maior risco para cometer suicídio.DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico. Deve-se observar o paciente, conversar e analisar. O exame formal do estado mental durante o ataque de pânico pode revelar ruminação, dificuldade de fala (p. ex., gagueira) e comprometimento da memória. ✨ O diagnóstico de transtorno de pânico é estabelecido apenas quando os ataques ocorrem com alguma regularidade e frequência. Para se manter um padrão diagnóstico utiliza-se o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estático de Transtorno Mentais), em que todos os seguintes critérios devem ser preenchidos: A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados e durante ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: o Palpitações, taquicardia; o Sudorese; o Tremores ou abalos; o Sensações de falta de ar ou sufocamento; o Sensações de asfixia; o Dor ou desconforto torácico; o Náuseas ou desconforto abdominal; o Sensações de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio; o Calafrios ou ondas de calor; o Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento); o Desrealização (sensações de estar distanciado de si mesmo); o Medo de perder o controle ou “enlouquecer”; o Medo de morrer. Obs.: Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (ex.: tinido, dor na nuca, cefaleia, gritos ou choro incontrolável), esses não devem contar como um dos quatro sintomas exigidos. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre B. Pelo menos um dos ataques for seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: o Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico ou sobre suas consequências (ex.: perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”); o Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (ex.: comportamentos que tem por finalidade evitar ter ataques, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (ex.: droga ou medicamento) ou de uma condição médica. D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Alterações Clínicas: Os ataques de pânico estão associados com uma variedade de distúrbios endocrinológicos, incluindo estados hipo e hipertireoidianos, hiperparatireoidismo e feocromocitomas. Hipoglicemia episódica associada com insulinomas também pode produzir estados semelhantes a pânico, assim como os processos neuropatológicos primários. Estes incluem transtornos convulsivos, disfunção vestibular, neoplasmas ou os efeitos sobre o SNC de substâncias prescritas ou ilícitas. Por fim, distúrbios dos sistemas cardíaco e pulmonar, incluindo arritmias, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, podem produzir sintomas autonômicos e aumento da ansiedade que podem ser difíceis de diferenciar de transtorno de pânico. Transtornos Ansiosos: O segredo para diagnosticar de maneira correta o transtorno de pânico e diferenciar a condição de outros transtornos de ansiedade envolve a documentação de ataques de pânico espontâneos recorrentes em algum momento na doença. EXAMES COMPLEMETARES A fim de se evitar deixar passar diagnósticos diferencias, é de extrema importância solicitar alguns exames dependendo de cada caso, ex.: Exames laboratoriais: Hemograma, TSH e T4 livre, NA, K, Creatina, Ureia (distúrbios hidroeletrolíticos e remais): o O esperado são os exames sem alteração. Exames de imagem: Ressonância magnética e tomografia cerebral; ECG (eletrocardiograma), EEG (eletroencefalograma), Teste de esforço. ABORDAGEM TERAPÊUTICA A base do tratamento é a psicoterapia associada ao uso de antidepressivos. PSICOTERAPIA Terapia Cognitiva Comportamental: Os dois focos principais da terapia cognitiva para transtorno de pânico são a instrução sobre as falsas crenças do paciente e a informação sobre os ataques de pânico: o O primeiro ponto se concentra na tendência do paciente a interpretar de forma equivocada sensações corporais leves como indicativos iminentes de ataques de pânico, tragédia ou morte; o O segundo inclui explicações de que, quando os ataques de pânico ocorrem, são de tempo limitado e não ameaçam a vida. As terapias familiar e de grupo podem ajudar os indivíduos afetados e suas famílias a ajustarem-se ao transtorno e às dificuldades psicossociais que ele possa ter precipitado; Mudança do Estilo de vida (MEV): Atividades físicas regulares (30 min, 3-5 vezes por semana); Exercer espiritualidade; Exposição ao sol (10-20min por dia, entre 10:00 e 15:00); Lazer; Higiene do sono; Hábitos alimentares saudáveis; Yoga; Meditação; Atenção Plena/Mindfulness; Exercícios de respiração; Acupuntura; Ventosoterapia; Auriculoterapia. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Visão geral: Alprazolam e Paroxetina são os dois medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento do transtorno de pânico. Em geral, a experiência está mostrando superioridade dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e da clomipramina sobre os benzodiazepínicos, os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) e os medicamentos tricíclicos e tetracíclicos, em termos de eficácia e tolerância de efeitos adversos. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS): o Mecanismo de ação: Bloqueia o transporte de serotonina de volta à célula pré-sináptica, concentrado serotonina na fenda sináptica; o Indicações: Tratamento de primeira linha; o Efeitos Colaterais: Relatos empíricos sugerem que indivíduos com transtorno de pânico são particularmente sensíveis aos efeitos ativadores dos ISRS, em especial da fluoxetina, portanto eles devem ser administrados em pequenas doses iniciais, elevadas pouco a pouco. Também: Disfunção sexual, náuseas, vômitos, diminuição do apetite; o Ex.: Fluoxetina (dose inicial: 10-20mg 1x/dia); Sertralina (dose inicial: 50mg 1x/dia); Paroxetina (dose inicial: 20mg 1x/dia): Possui efeitos sedativos e tendem a acalmar os pacientes de imediato, o que leva a maior adesão e a menos interrupções, mas isso deve ser contrabalançado com seu potencial de ganho de peso. Escitalopram (dose inicial: 10mg 1x/dia) Inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN): o Mecanismo de ação: Bloqueiam a recaptação de serotonina e noradrenalina; o Indicações: Tratamento de primeira linha – semelhante aos ISRS com pouco efeito sobre disfunção sexual e bom efeito sobre a ansiedade; o Efeitos colaterais: Náuseas, vômitos, tremores; o Ex.: Desvenlafaxina (dose inicial: 50 mg 1x/dia) – ótimo medicamento ansiedade; Duloxetina (dose inicial: 60mg 1x/dia). Tricíclicos: o Mecanismo de ação: Bloqueia os transportadores de noradrenalina, dopamina e serotonina; o Indicações: Primeira linha, ideal quando há dores neuropáticas associadas; o Efeitos colaterais: Os medicamentos tricíclicos não são tão utilizados quanto os ISRS, porque, em geral, têm efeitos adversos mais graves nas doses mais altas necessárias para o tratamento eficaz do transtorno. Boca seca, obstipação, retenção urinária (devido ao efeito anticolinérgico e anti- histamínico). o Ex.: Amitriptilina (dose inicial: 50mg 1x/dia preferencialmente a noite); Imipramina (dose inicial: 25mg 1x/dia). Benzodiazepínicos de duração intermediaria: Início de ação mais rápido contra o pânico, por vezes na primeira semana, e podem ser utilizados por períodos longos sem o desenvolvimento de tolerância aos efeitos antipânicos. o Mecanismo de ação: Ação em neurotransmissores inibitórios do SNC; o Indicações: Ansiedade. TP, insônia; o Efeitos colaterais: Dependência, confusão mental; náuseas, tremores. o Ex.: Alprazolam (dose inicial: 0,5mg 3x ao dia); Larazepam (dose inicial: 1mg 1x/dia). Obs.: Informar ao paciente sobre osefeitos colaterais. Obs.2: É recomendado que o uso de antidepressivos devam ser mantidos de 8 a 12 meses para evitar recaídas. Quando houver melhora do paciente, os medicamentos devem ser retirados gradualmente. CURSO E PROGNÓSTICO O transtorno de pânico em geral é crônico, ainda que seu curso seja variável: Cerca de 30 a 40% dos pacientes parecem ficar livres de sintomas no acompanhamento a longo prazo, em torno de 50% têm sintomas suficientemente leves para não afetar sua vida de modo significativo, e 10 a 20% continuam a ter sintomas relevantes.
Compartilhar