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MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves METABOLISMO DA BILIRRUBINA FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA A bilirrubina tem origem na degradação do heme presente em algumas proteínas, como: Hemoglobina: 70-80% da bilirrubina produzida diariamente (250 a 400 mg em adultos); Mioglobina; Cytocromos, entre outras. O aumento na sua produção acontece em maior turnover de glóbulos vermelhos, como na: Hemólise intravascular. A molécula do heme é constituída por quatro anéis pirrólicos ligados por pontes de carbono e um átomo central de ferro (figura abaixo). A bilirrubina é gerada a partir da degradação do heme, sendo mediada por dois grupos de enzimas: Heme oxigenasse; e Biliverdina redutase. A heme oxigenase está presente em altas concentrações nas: Células do sistema retículo-endotelial do baço; e Células de Kupffer no fígado. Essa enzima catalisa a reação de abertura do anel e, assim há liberação de: 1 molécula de CO que será excretada pela via pulmonar; 1 átomo de ferro que será reutilizado; E, finalmente, com a formação da molécula de biliverdina, que será transformada em bilirrubina pela ação da enzima biliverdina redutase (figura abaixo). Legenda: Mecanismo de “abertura” do anel do heme e subseqüente redução da biliverdina em bilirrubina. Legenda: Formação da bilirrubina. A bilirrubina não-conjugada formada vai para o plasma onde se liga fortemente à molécula de albumina. Nos sinusoides hepáticos, o complexo bilirrubinaalbumina dissocia-se, a molécula de bilirrubina entra por difusão facilitada (a favor de um gradiente de concentração, sem o consumo de energia) e a albumina retorna à circulação sistêmica. Esse processo é bidirecional. No interior da célula, a bilirrubina se liga a GSTs (glutationa-S-transferases). Esse complexo reduz o efluxo da bilirrubina internalizada, aumentando sua concentração no interior da célula. MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves ________________________________________ A!! Algumas drogas interferem na entrada da bilirrubina no hepatócito, como: Rifampicina; e Contrastes utilizados para colecistografia. ________________________________________ Em cirróticos, a bilirrubina produzida no baço pode chegar ao fígado por colaterais portossistêmicos. Além disso, o endotélio fenestrado dos sinusóides, pode perder sua fenestração, criando uma barreira entre o plasma e os hepatócitos, resultando no aumento da concentração da bilirrubina não-conjugada. A conjugação da bilirrubina com os resíduos glicosídicos ocorre pela ação da UGT (bilirrubina- UDP-glucoronosil-transferase). Enzima encontrada em maior concentração no fígado, mas também nas células do túbulo renal e nos enterócitos. A partir do momento em que a bilirrubina é conjugada pela ação da UGT, torna-se solúvel em água, podendo ser eliminada pela: Urina; e Bile. Diglicoronide de bilirrubina é o pigmento predominante na bile do adulto normal, representando mais de 80% do pigmento total. ________________________________________ A!! Fatores que inibem o complexo bilirrubina- UGT podem ser secretados no leite materno, causando a “icterícia do leite materno”. Em outros casos, um fator inibitório pode estar no plasma materno e ser transferido via transplacentária para o feto, situação conhecida como síndrome de Lucey-Driscoll. A deficiência de bilirrubina-UGT pode ser observada em neonatos, nas hepatites crônicas e em certos erros inatos do metabolismo, como na síndrome de Gilbert e na síndrome de Crigler- Najjar tipos I e II. ________________________________________ A excreção da bilirrubina conjugada ocorre através da membrana dos canalículos biliares, contra um gradiente de concentração, envolvendo transporte ativo. Há quatro transportadores canaliculares, sendo o mais importante o: Transportador multiespecífico de ânions orgânicos (cMOAT). A excreção da bilirrubina conjugada está prejudicada em condições adquiridas, como: Hepatites virais ou alcoólicas; e Colestase da gestação. E em situações congênitas, como: Síndrome de Dubin-Johnson; Síndrome de Rotor; e Colestase intra-hepática benigna recorrente. A!! Pode também ser causada por uma variedade de drogas, como alguns esteroides e clorpromazina. DEGRADAÇÃO DA BILIRRUBINA NO TGI O pigmento biliar aparece na bile, predominantemente, na sua forma conjugada (> 98%). A bilirrubina conjugada é solúvel em água e não é absorvida através do epitélio do intestino delgado. Já a molécula não-conjugada é reabsorvida, participando da circulação êntero-hepática. Legenda: Características das moléculas de bilirrubina MÓDULO DOR ABDOMINAL – P1 | Luíza Moura e Vitória Neves No cólon, as bactérias reduzem a molécula de bilirrubina, formando o urobilinogênio, dando a coloração característica das fezes. A!! Nas situações em que há obstrução completa do trato biliar ou colestase intra-hepática severa, as fezes adquirem coloração esbranquiçada. O urobilinogênio e seus derivados são absorvidos no intestino, participando da circulação êntero-hepática. Eventualmente, são excretados na urina e nas fezes. No plasma, a bilirrubina conjugada corresponde a 4%. Porém, essa relação pode se alterar em algumas doenças, como: Erros inatos na conjugação da bilirrubina: porcentagem de bilirrubina direta diminui; Obstrução biliar ou doença hepatocelular: bilirrubina conjugada e não-conjugada estão no plasma; Icterícia hemolítica: da bilirrubina total, porém mantém a proporção de bilirrubina não-conjugada > a conjugada. Legenda: Circulação êntero-hepática e sistêmica da bilirrubina em adultos TOXICIDADE DA BILIRRUBINA A bilirrubina não-conjugada é tóxica para células e suas organelas. Por isso, há alguns mecanismos fisiológicos protetores, como: Ligação à albumina plasmática; Rápida entrada da molécula no hepatócito, sua conjugação e seu clearance pelo fígado. Porém, quando sua concentração aumenta muito, principalmente em neonatos, começam a surgir evidências de danos no SNC, como encefalopatia severa.
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