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Definição: o Demência, síndrome demêncial ou transtorno neurocognitivo maior é uma doença neurológica progressiva que cursa com declínio cognitivo persistente + prejuízo funcional, interferindo nas atividades profissionais e sociais dos portadores, sem que haja alterações no nível de consciência. o É uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas que ocorrem em conjunto em vários processos patológicos diferentes e sem causa específica). o Declínio importante de funções cognitivas - são elas: ✓ Memória (episódica ou recente, passada ou antiga, anterógrada); ✓ Linguagem (expressão e compreensão); ✓ Função executiva (planejar e executar ações) ✓ Praxia (capacidade do individuo de realizar movimentos coordenados – abotoar camisa, pentear cabelo, beber copo de água); ✓ Velocidade de pensamento; ✓ Habilidade visuoespacial (capacidade de se orientar no espaço, se encontrar na rua ou encontrar objetos). o Pode ter outros sintomas associados, como: ✓ Depressão, apatia, irritabilidade; ✓ Anosognosia (não ter insight de perceber a própria doença); ✓ Alterações comportamentais; ✓ Agitação psicomotora. o Intensidade suficiente para interferir com a independência de realizar as atividades diárias. o Condição patológica que deve ser investigada e tratada. o De acordo com a etiologia, podem ser reversíveis ou irreversíveis. o Diante de um paciente com alterações cognitivas, comportamentais e funcionais → Excluir causa potencialmente reversíveis! IMPORTANTE → NÃO é deficiência intelectual (início no período de desenvolvimento), NÃO é delirium (urgência médica – alteração cognitiva aguda de atenção e nível de consciência; consequência de outra condição médica, substância e/ou toxina). NÃO é condição normal do envelhecimento. Performance cognitiva em idosos: Normal → comprometimento cognitivo leve (CCL) → demência. Comprometimento cognitivo leve (CCL): é um declínio leve de funções cognitivas que não interfere com a independência, não gera prejuízo funcional. Epidemiologia: o Mais comum em mulheres; o Entre as desordens neurológicas é a 2ª causa de morte (1ª AVC); o 1ª causa de anos de vida saudável perdidos (AVC, demência e enxaqueca); o A partir dos 60 anos, a prevalência de demência dobra a cada 5 anos; o A idade é o principal fator de risco para demência. Avaliação inicial: o Clínica; o Exames complementares para rastreio de causas potencialmente reversíveis. Etiologia: o Primária → doenças neurodegenerativas: 1. Doença de Alzheimer (principal); 2. Demência associada a corpos de Lewy; 3. Demência frontotemporal. o Secundárias → vascular (principal), neurossífilis, hipotireoidismo, substâncias, neoplasias, HIV, hidrocefalia de pressão normal, hematoma subdural crônico e deficiência de vitamina B12. Júlia Vasconcelos PRIMÁRIAS: 1. Doença de Alzheimer: o Doença neurodegenerativa que cursa com DECLÍNIO COGNITIVO + PREJUÍZO DA FUNCIONALIDADE; o Causa mais comum de demência; o Aumenta com a idade; o Principal causa de morbidade e mortalidade em idosos – pode levar a outras doenças ou acidentes e levar a morte; o Formas esporádicas são maioria – GENE APOE4 (não é necessariamente hereditário); o 5% são formas familiares – estão relacionadas a mutações autossômicas dominantes. o Fatores de risco: portar o alelo APOE4, fatores cerebrovasculares, insônia, síndrome da apneia obstrutiva do sono, TCE, depressão, tabagismo, etilismo, pouca atividade intelectual (baixa escolaridade). o Fisiopatologia: no Alzheimer há um acúmulo de placas amiloides no extracelular, no interstício, e um acúmulo de emaranhados neurofibrilares no interior das células (neurônios), esses emaranhados são a proteína tau-hiperfosforilada que acumulam dentro dos neurônios e as placas amiloides são acúmulos de peptídeos B-amiloide no extracelular. Isso tudo gera a degeneração neuronal. o Quadro clínico: Dificuldade em um ou mais domínios cognitivos., ainda pode ter depressão, apatia, irritabilidade, anosognosia, alterações comportamentais, agitação psicomotora. o Diagnóstico: alterações cognitivas, comportamentais e funcionais + exclusão de outras causas, com exames complementares – exames laboratoriais, líquor, exames de imagem (TC ou RNM – método mais sensível), Mini exame do estado mental, Fluência verbal (fonêmica – falar palavras com uma letra especifica e semântica (falar frutas ou animais em 1 min), teste do desenho do relógio e MoCA, avalição neuropsicológica. A – RNM normal. B – Doença de Alzheimer, com acentuação das fissuras, atrofia global, redução dos sulcos e giros, principalmente lobos temporais e parietais. Hipocampo de uma paciente normal Hipocampo de um paciente com Alzheimer. o Tratamento: ✓ Não farmacológico: contato social, atividades produtivas, exercícios físicos e recreação; ✓ Farmacológico: Donepezila, Galantamina, Rivastigmina e Memantina. Tratar também os sintomas comportamentais, como depressão, alterações comportamentais e alterações de sono. (ISRS, antipsicóticos). 2. Demência associada a corpos de Lewy: o Inclusões intracelulares formados pelo agregado de proteína alfa-sinucleína (corpos de Lewy) → sinucleinopatia (assim como a doença de Parkinson). o PARKINSONISMO + SÍNDROME DEMENCIAL; o Principais manifestações: ✓ Flutuação da cognição (variações na capacidade de atenção, função executiva e no grau de alerta); ✓ Transtorno comportamental do sono REM (pode aparecer anos antes da fase de demência); ✓ Alucinações visuais recorrentes (bem formadas e detalhadas, vê pessoas e animais); ✓ Um ou mais sinais parkinsonianos (bradicinesia, rigidez plástica, tremor de repouso). o Início: geralmente 70 anos, mais frequente em homens. o Tratamento: suporte multidisciplinar e respondem mal aos tratamentos medicamentosos → para o quadro demência pode usar anticolinesterásicos – Donepezila, Rivastigmina e Galantamina. E para o quadro parkinsoniano – levodopa. 3. Demência frontotemporal: o Forte componente genético. o Mais comum em casos de demência de início precoce. o Início entre 50 – 60 anos; Prevalência em homem = mulher. o Marcada por SINTOMAS NEUROPSIQUIÁTRICOS + SÍNDROME DEMENCIAL (disfunção executiva e déficit de linguagem – afasia). o Engloba um grupo de doenças neurodegenerativas que se caracterizam por: alterações intensas do comportamento social (desinibição, apatia, perda de empatia, hiperoralidade e alterações da dieta, comportamentos compulsivos) e personalidade ou afasia primária progressiva. o Apresenta uma degeneração focal, geralmente no lobo frontal e temporal – na imagem mostra uma atrofia frontal e dos lobos temporais. o Tratamento: suporte multidisciplinar e responde mal a tratamento medicamentoso, o que pode fazer é medicações sintomáticas para os distúrbios comportamentais: ISRS, neurolépticos e benzodiazepínicos. SECUNDÁRIAS: Demência vascular: o Segunda causa de demência no geral. o Pode estar associada a Doença de Alzheimer, sendo chamada de Demência Mista. o Pode estar presente em pacientes com fatores de risco cerebrovasculares: HAS, DM, dislipidemia, obesidade e tabagismo. o Os mecanismos são: ✓ Doença de pequenos vasos – evoluem gradualmente. (Doença de Biswanger). ✓ Hemorragias ✓ Demência pós - AVC – a isquemia pode atingir um local que seja responsável pelo domínio cognitivo. Acontece até 6 meses após o AVC. AVC em território da a. cerebral posterior E (foto 1). Isquemia no núcleo anterior do tálamo (foto 2). Múltiplos AVCs (foto 3). o Diagnóstico: demência ou CCL + doença cerebrovascular. ✓ Diagnóstico de demência ou CCL: tipo de déficit cognitivo (velocidade de processamento, funções executivas, alterações dehumor e personalidade), tipo de evolução (em degraus, ou seja, estabilização se alterna com períodos de piora). ✓ Doença cerebrovascular precede a instalação do quadro cognitivo e tem localização e intensidade compatíveis com o declínio cognitivo. ✓ Diagnóstico de doença cerebrovascular: neuroimagem, anamnese (AVC/AIT e fatores de risco), sinais neurológicos focais. o Tratamento: controle dos fatores de risco, doença cerebrovascular, reabilitação cognitiva, atividade física, anticolinesterásicos (Donepezila, Rivastigmina e Galantamina) e memantina e manejo dos sintomas neuropsiquiátricos. Hidrocefalia de pressão normal: o Aumento progressivo na quantidade de líquor nos ventrículos sem ocorrer aumento pressão intracraniana dentro do sistema (falha da absorção do líquor nas granulações aracnoides). o Aumento dos ventrículos → lesão das vias periventriculares; o Importante causa de demência pontencialmente REVERSÍVEL; o Tríade clínica: ALTERAÇÃO DE MARCHA (marcha magnética/pés grudados no chão, pequenos passos, base alargada, dificuldade em dar a volta e instabilidade postural) + INCONTINÊNCIA URINÁRIA + DEMÊNCIA/DECLÍNIO COGNITIVO → Doença dos 3 M’s – Maluco, Molhado e Marcha lenta. o Índice de Evans ≥ 0,3 (distância dos cornos frontais dos ventrículos laterais/distância biparietal). o Diagnóstico: exames de imagem e clínica. E ainda pode fazer o TAP TEST – faz uma punção lombar e tira uma quantidade de líquor, e vai ser se o paciente melhora a marcha e a cognição, se melhorar ai faz o tratamento cirúrgico. A e B: 71 anos, funções cognitivas normais. C e D: 68 anos, hidrocefalia de pressão normal. o Dificuldades para o diagnóstico: sinais da tríade são comuns em idosos (> 70 - 75 anos). o Tratamento: derivação ventrículo-peritoneal (válvula drena o excesso de líquor para a cavidade peritoneal). Hematoma subdural crônico: o Mais fácil de acontecer em casos de atrofia cerebral. o Lesão de pequenas veias que drenam a convexidade cerebral e, no caminho para o seio sagital superior, atravessam o espaço subdural. o Sangue se acumula no espaço subdural. o História de TCE leve. o Manifestações: declínio cognitivo, cefaleia, crises epilépticas, sinais neurológicos focais (hemiparesia). Hematoma à esquerda (foto 1). Hematoma subdural bilateral (foto 2). Neoplasia: GBM (glioblastoma multiforme em lobo temporal esquerdo): síndrome demencial com predomínio de déficit de memória recente evoluindo há 3 meses. Hipotireoidismo: o Demência ou CCL + manifestações sistêmicas (ganho ponderal, intolerância ao frio, pele seca, edema e bradicardia). o Dosagem de TSH e T4 livre. Deficiência de vitamina B12/folato: o Neuropatia periférica, déficits cognitivos e manifestações psiquiátricas. o Causas: deficiência dietética (vegetarianos/veganos), má absorção (grave – anemia perniciosa e cirurgia bariátrica; leve – gastrite atrófica leve e metformina). o Sinais laboratoriais: anemia, macrocitose e hipersegmentação de neutrófilos. o Dosagem de vit. B12 e B9. Neurossífilis: o Solicitar VDRL e FTA-ABS (mais sensível nos casos de infecção tardia). o Se +: exame de LCR → tratamento com penicilina cristalina. o Prevenção: preservativo e tratamento precoce da sífilis. HIV: o Declínio cognitivo assintomático (perceptível apenas em testes psicológicos), CCL e demência associada ao HIV. o Buscar condições confundidoras e controlar comorbidades (depressão, infecções oportunistas do SNC, infecções pelo vírus da hepatite C, deficiência nutricional, hipotireoidismo, uso de drogas ilícitas e etc). o Tratamento: controlar a replicação viral. o Prevenção: preservativo e tratamento precoce da sífilis Efeitos de medicações nos idosos (mimetiza ou agrava o quadro de demência): • Multimorbidades → polifarmácia. • Mudanças fisiológicas da senescência (alterações na farmacocinética) → menor janela terapêutica → intoxicação medicamentosa e efeitos adversos. • Atenção para: benzodiazepínicos, anticolinérgicos, hipnóticos e opioides (evitar na população idosa). Exames complementares obrigatórios na demência ou CCL: Pode pedir líquor em alguns casos, como: ✓ Demência pré-senil; ✓ Apresentação ou curso atípico; ✓ Suspeita de hidrocefalia; ✓ Suspeita de doença inflamatória, infecciosa ou priônica. Prevenção: o Nível educacional elevado; o Utilizar aparelhos auditivos; o Redução ou tratamento de sintomas depressivos; o Manter contato social; o Tratamento de HAS (PAS < 130 mmHg); o Dieta do mediterrâneo (proteção cardiovascular); o Minimização da DM; o Redução da obesidade; o Atividades físicas regulares; o Interrupção do tabagismo; o Evitar uso excessivo de álcool; o Redução da poluição aérea; o Tratamento dos distúrbios do sono.
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