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DEMÊNCIA Em 2015, 47 milhões de pessoas > 65 anos no mundo apresentavam alguma doença neurodegenerativa. São gastos em media 818 bilhões de dólares por ano com demência (principalmente internação e reabilitação). A demência é uma síndrome caracterizada por declínio cognitivo progressivo em > 2 domínios cognitivos ou modificações comportamentais (neuropsiquiátricas) em relação a um nível prévio de desempenho que causa perda da independência para as atividades diárias. É incurável mas se tratada, aumenta o tempo de independência dos pacientes. Domínios cognitivos: • Função executiva (capacidade de planejar, tomar decisões) • Perceptomotor (percepção visual e espacial, praxia, gnosia) • Memória (imediata, recente e a longo prazo) • Atenção (sustentada, dividida, seletiva, velocidade de processamento mental) • Cognição social (reconhecimento de emoções próprias e do outro) • Linguagem (capacidade do paciente de fazer nomeação, fluência verbal, gramática, sintaxe, interação de linguagem receptiva) Cada domínio cognitivo tem topografia cortical específica (ex, linguagem nos lobo frontal e temporal; função espacial no lobo occipital). A principal etiologia é a doença de Alzheimer (50 a 70% de todas as demências), seguida por demência vascular, demência frontotemporal, demência por Corpúsculo de Lewy e demência da doença de Parkinson. Destaca-se que a perda de memória não é sinônimo de demência (é preciso haver perda de funcionalidade para ser considerado processo demencial). Comprometimento cognitivo leve (CCL) = o paciente tem uma queixa de alteração cognitiva, frequentemente de memória. Apresenta alterações leves nos testes neuropsicológicos que não afetam sua funcionalidade, não sendo severo o suficiente para se qualificar como demência. Alguns evoluem para demência (alteração nos testes + perda de funcionalidade). Tipos de memória: • Curto prazo - operacional/de trabalho (domínio de lobo frontal); ex, lembrar um telefone. • Memória de longo prazo: o Não declarativa: menção motora (ex, dirigir). o Declarativa: ▪ Memória Semântica: sabe-se a definição de determinado objeto, para que serve (ex, caneta é para escrever; celular é para ligar) ▪ Memória Episódica: relacionada ao indivíduo (como onde nasceu, onde trabalha, o que comeu). Mais acometida na demência. Anatomia da cognição (2 principais): • Lobo frontal: parte moral – função executiva, comportamento, atenção decisão, expressão da personalidade, abstração, raciocínio, memória operacional. • Lobo temporal: sistema límbico da base do hipocampo e região medial circundando o corpo caloso – faz a união das emoções com a memória. Obs: memória episódica se armazena no hipocampo. Avaliação clínica e complementar de síndrome demencial: O diagnóstico de síndrome demencial é clínico, baseado em avaliação objetiva do desempenho cognitivo e funcional. Avaliação inicial de queixas cognitivas: Queixa cognitiva: 60% são queixas de memória. 1- Avaliar a cognição: objetivar alteração através do uso do mini mental, moca ou avaliação neuropsicológica. a) Queixa subjetiva: quando não há alteração nos exames, mas apresenta queixa. O paciente com queixa subjetiva de memória pode evoluir com um quadro de avaliação cognitiva anormal 2- O resultado anormal nos exames de cognição deve levar a busca para os impactos funcionais das alterações na vida do indivíduo. a) Sim (deixa de realizar atividades diárias): Demência b) Não: Comprometimento cognitivo leve (CCL) 3- Exame físico (cardiovascular, déficits visuais e auditivos, avaliação cognitiva, buscar sinais de negligencia/ abuso/ maus tratos, equilíbrio e marcha) e neurológico completo (testes de screening; avaliar déficits focais, movimentos anormais, sintomas parkinsonianos) 4- Investigar diagnóstico etiológico e descartar outras etiologias reversíveis. Entrevista clínica: • Avaliação detalhada das queixas cognitivas (entender a localização/ topografia) o Hipocampo: Perda de memória episódica o Frontal: comportamento Avaliar: início (abrupto/ insidioso), duração, progressão (rápida/ lenta/ em degraus), declínios cognitivos, funcionalidade, presença de sintomas neuropsiquiátricos (quadros depressivos podem simular quadros demenciais), fatores de risco cardiovasculares, história de abuso de álcool ou drogas, medicações em uso ou outras doenças que possam causar declínio cognitivo (benzodiazepínicos e anticolinérgicos; Parkinson; hipotireoidismo) A avaliação cognitiva deve incluir testes de rastreio, como o Miniexame do Estado Mental (MEEM), que é a maneira mais rápida e objetiva de triar a cognição do paciente. Avalia orientação temporal e espacial, memória imediata (memoria episódica hipocampal), atenção, cálculo, linguagem e habilidades construtivas. Este é fortemente influenciado pela escolaridade (ex, notas de corte: analfabetos notas de corte < 19, e adultos notas de corte < 28). O Montreal Cognitive Assessment (MoCA) é utilizado para identificar pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) visto que o MEEM mostrou-se com baixa sensibilidade em detectar CCL. Outros testes cognitivos: ➢ Fluência semântica (ex, falar a maior quantidade de animais, cidade, palavras com a inicial A). ➢ Lista de figuras (ex, mostrar série de figuras e ver se o paciente lembra de todas que ele viu. Avalia a função visuoespacial e hipocampal). ➢ Teste do desenho do relógio (avalia comprometimento do lobo frontal). • Funcionalidade: avaliar impactos nas atividades básicas da vida diária (como, autocuidado) e atividades instrumentais da vida do paciente (como, gerenciamento das finanças, uso de aparelhos eletrodomésticos, ato de cozinhar) → Escalas de Katz e Lawton Graduar funcionalidade: ➢ leve: pouca alteração funcional, atividades instrumentais ➢ moderada: perde quase todas as atividades instrumentais e começa a afetar as atividades básicas ➢ grave: perde todas as funções básicas e instrumentais. • Avaliação etiológica: Na investigação etiológica, além da história clínica, é necessária a avaliação de exames. - Identificar se a demência possui ou não comprometimento estrutural do SNC. • Demências sem comprometimento estrutural do SNC: são reversíveis e decorrentes de causas toxicometabólicas secundários à condições clínicas (como, hipotireoidismo, doença hepática ou renal) ou à ação de medicamentos (como, anticolinérgicos, antipsicóticos, antiepilépticos ou hipnóticos). O diagnóstico depende de exames laboratoriais (identificar distúrbios metabólicos) e da relação do uso de determinados medicamentos com o aparecimento da síndrome demencial; mnemônico: DEMENTIA • Demências com comprometimento estrutural do SNC: o Demências primárias ou degenerativas: ▪ Exame neurológico: pode revelar bradicinesia, rigidez, tremor, instabilidade postural ou alterações de marcha (ex, Parkinson), alteração da motricidade ocular extrínseca (ex, PSP), movimentos coreicos (ex, Huntington) ou síndrome cerebelar (ex, ataxias espinocerebelares). Obs: O diagnóstico diferencial das demências primárias é feito pela identificação de perfis específicos de comprometimento cognitivo ou comportamental. Existem 4 perfis principais: síndrome amnéstica progressiva (DA), disfunção viso-espacial progressiva (demência com corpos de Lewy ou DA), alteração progressiva de linguagem (afasia progressiva primária ou DA, sobretudo se início pré-senil) e transtorno progressivo de comportamento (DFT). o Demências secundárias: decorrem de condições clínicas, como doença cerebrovascular e lesionais, como hidrocefalia, infecções e tumores. - exames complementares: ▪ TSH ▪ Vitamina B12 e ácido fólico ▪ Sorologia para HIV e sífilis (VDRL) ▪ Hemograma completo▪ VHS ▪ Função hepática, renal e tireoidiana ▪ Bioquímica: sódio, potássio, cálcio, glicose, ureia e creatinina. ▪ Punção lombar (LCR): suspeita de meningoencefalite, marcadores de DA (elevação de tau total e fosforilada e redução de β-amiloide), Demência de Creutzfeldt Jakob (proteína 14-3-3). ▪ TC ou RMN: descartar patologias estruturais (neoplasia, hematoma subdural, hidrocefalia e AVC); ▪ Bateria neuropsicológica: avaliação extensa com testes cognitivos Obs: a RM é importante para o diagnóstico de demência vascular de pequenos vasos e possibilita padrões focais de atrofia (ex, atrofia hipocampal) de doenças neurodegenerativas. Diagnóstico de demência: Tríade clássica: Alteração de memória recente (dificuldade de aprender novas informações ou recordá-las) + Dificuldades visuoespaciais + Comprometimento da linguagem e/ou função executiva (planejamento, insight, julgamento e crítica). + DECLÍNIO OU PERDA DA FUNCIONALIDADE (ocupacional, profissional, social) Tipos de demências: 1) Demências potencialmente reversíveis: o tratamento adequado pode reverter o quadro cognitivo ou retardar evolução: • Hidrocefalia de pressão intermitente/ normal do adulto: o Dilatação ventricular desproporcional ao grau de atrofia (por baixa drenagem do fluxo liquórico) sendo potencialmente reversível se tratamento precoce. Não ocorre hipertensão intracraniana. Pode ser idiopática ou secundária a alguma condição. o O centro da micção no lobo frontal fica abaulado. o Tríade clássica: demência + ataxia (alteração de marcha – marcha magnética) + incontinência urinária. o RM – índice de Evans: valor > 0.3 indica hidrocefalia. o Tratamento: punção lombar para alívio + derivação ventricular (shunts)/acetazolamida (diurético). • Deficiência de vitamina B12: disfunção cognitiva global, lentificação mental, perda de memória, dificuldade de concentração. Manifestações psiquiátricas exuberantes. • Hipotireoidismo: lentificação mental, perda de memória, irritabilidade. • Pelagra (deficiência de niacina – vitamina B3): diarreia, glossite, anemia, lesões sistêmicas eritematosas. Sintomas neuropsicológicos. Muito rara atualmente. • Depressão 2) Demência pós-TCE Variedade de manifestações comportamentais. Comprometimento persistente da memória com ou sem déficits motores e sensoriais. 3) Demências degenerativas • Doença de Alzheimer (DA): Forma mais comum de demência. Terceira maior causa isolada de incapacidade e mortalidade. A partir de 60 anos, a taxa de incidência dobra a cada 5 anos; a partir de 85 anos, cerca de 50% das pessoas podem apresentar DA. Causada por excesso de proteína beta-amiloide (por superprodução ou incapacidade de degradação), que formam placas senis de beta amiloide (depósitos extracelulares) e emaranhados neurofibrilares de proteína tau (depósitos intracelulares), que levam a resposta inflamatória glial, com atrofia cortical dos lobos temporais, gerando morte neuronal e perda funcional. Quadro clinico: início insidioso de deteriorização progressiva. - Fase pré-clínica: assintomático, quando começam os depósitos de proteína beta amilóide. - Fases iniciais: perda de memória episódica e dificuldade de aprendizagem de novas habilidades, com progressão lenta, perda de funcionalidade e prejuízo de outros domínios cognitivos (julgamento, cálculo, raciocínio abstrato e habilidades visuo- espaciais) - Fases moderadas: apraxia, disfasias, anomias, dificuldades de expressar uma ideia. - Fases avançadas: alterações comportamentais (irritabilidade e agressividade) e do ciclo sono-vigília, sintomas psicóticos, incapacidade de deambular, falar e incapacidade para cuidados pessoais. Fatores de risco: idade, sexo feminino (>80 anos), síndrome de Down, história familiar positiva e gene de suscetibilidade (genótipo Apo ε4), uso de medicamentos, exposição bioquímica, condições psicológicas, doenças prévias e estilo de vida, TCE prévio/alcoolismo/drogadição, baixo nível educacional. Fatores protetores: sexo masculino, nível educacional elevado, vida ativa com estimulação cognitiva, engajamento em atividades de lazer, rede de apoio, estilo de vida saudável (atividade física regular e dieta mediterrânea ou rica em antioxidantes e vitaminas), ausência de traumas cranianos, presença do alelo ε2, níveis baixos de colesterol, consumo moderado de vinho tinto, uso de medicamentos (estatinas, anti- hipertensivos, terapia de reposição estrogênica, AINEs, antioxidantes, agonistas de receptores histamínicos H2). O diagnóstico definitivo só é feito pela análise histopatológica do tecido cerebral post-mortem (perda neuronal nas camadas piramidais corticais e degenerações sinápticas intensas em nível hipocampal e neocortical). Duas lesões principais: as placas senis que contém a proteína b-amilóide, e os emaranhados neurofibrilares Não há marcadores específicos na investigação da DA, embora alguns achados possam auxiliar o diagnóstico. Os exames subsidiários convencionais permitem a exclusão de causas reversíveis, e a detecção de parâmetros de neuroimagem compatíveis com os estágios clínicos da doença, tais como atrofia cortical, alterações hipocampais e temporais mesiais. A RNM para determinação volumétrica sequencial de regiões cerebrais de interesse (ex, atrofia hipocampal → MTA é a classificação desta: MT0 sem alteração; MT4 atrofia hipocampal) e o desenvolvimento de traçadores radioativos para PET capazes de se ligar especificamente aos depósitos de b-amilóide. Marcadores moleculares da doença têm sido pesquisados no LCR, com redução dos níveis de b- amilóide e aumento da proteína tau hiperfosforilada. A DA tem etiologia desconhecida, exceto nos raros casos familiares com mutação genética específica. Uma história familiar positiva para DA é o único fator sistemático associado à doença, excetuando-se a idade. Autossômica dominante. As características de idade de início e evolução são determinadas pelos diferentes subtipos genéticos. Os defeitos genéticos localizados nos cromossomos 14 (gene PS-1) e 21 (gene APP) estão relacionados a formas de início precoce (< 65 anos) da doença. Podem também envolver os cromossomos 1 (gene PS-2) e 19 (apoE e4/e4, apoE e3/e3) Tratamento: anticolinesterásicos (EA: diarreia e bradicardia), antiglutamatérgico (memantina), antidepressivos; e não medicamentoso (estímulo cognitivo com TO e fisioterapia; orientações familiares/ ambientais) • Demência vascular (DV): É a segunda maior causa de demência no mundo, secundária a uma injúria no SNC. O inicio, em geral, é mais precoce que na DA e acomete mais homens. Tipicamente apresenta-se como síndrome demencial do tipo córtico-subcortical (disfunção executiva e apatia), na qual os sintomas primários são de déficits nas funções executivas ou focais múltiplos. Tem início súbito seguido por curso flutuante e gradual (rápidas variações na funcionalidade). Para diagnóstico 3 elementos são fundamentais: síndrome demencial, doença cerebrovascular e relação temporal razoável entre ambas. A apresentação clínica da DV depende da causa e localização do infarto cerebral (ex, AVC). Doença de grandes vasos levam a múltiplos infartos corticais (com síndrome demencial cortical multifocal), enquanto uma doença de pequenos vasos, geralmente resultado de HAS, DM e tabagismo, causa isquemia da substância branca periventricular e infartos lacunares (com demência subcortical, alterações frontais, disfunção executiva, comprometimento de memória, prejuízo atencional, alterações depressivas, lentificação motora, sintomas parkinsonianos, distúrbios urinários e paralisia pseudobulbar) Os primeiros sintomas costumam ser relacionados a função executiva, variáveis de acordo com a topografia das lesões vasculares (déficits neurológicosfocais). Na DV, ocorre mais depressão e comprometimento funcional, além de menor comprometimento cognitivo comparado a DA. O escore isquêmico de Hachisnki auxilia o diagnóstico da DV. Escore > 7 é consistente com DV, escore < 4 com DA e escore de 5 a 6, é sugestivo de DA associada a DV (mista). Os eventos mais frequentes na DV são: deterioração em “degraus”, curso flutuante, história prévia de HAS ou AVC, além da presença de déficits neurológicos focais. Doença mista (DV + DA): A presença de lesões vasculares nos pacientes com DA pode estar subestimada e está associada à deterioração clínica mais rápida. A apresentação mais comum é a de um paciente com sintomas e características clínicas típicas de DA que sofre piora abrupta, acompanhada pela presença de sinais clínicos de AVC. Esta forma de demência mista foi chamada de demência pré-AVC. • Demência frontotemporal (DFT) Demência que faz parte do complexo das demências de Pick. Responsável por 25% das demências pré-senis. Inicio geralmente após os 50 anos, com igual incidência entre homens e mulheres. Subtipo: síndrome de degeneração corticobasal. Possui atrofia dos lobos frontais (comportamento, função executiva, agitação, apatia, raciocínio) e temporais (orientação no tempo e espaço) posteriores com afasia progressiva primária. É caracterizada por mudanças precoces de personalidade e comportamento, poupando inicialmente a memória. Confunde-se frequentemente com diagnósticos psiquiátricos. Sintomas altamente sugestivos: hiperoralidade, mudanças precoces de comportamento nas fases iniciais da doença, desinibição social, comportamentos impulsivos ou repetitivos, redução precoce da fala, preservação das habilidades visuoespaciais, embotamento afetivo, perda da crítica da conduta pessoal e desenvolvimento de novos talentos artísticos previamente desconhecidos. O início dos sintomas < 65 anos, história familiar positiva (1o grau) e a presença de paralisia bulbar, acinesia, fraqueza muscular e fasciculações (doença do neurônio motor) auxiliam o diagnóstico. TNP revela com frequência déficits nas funções frontais: fluência verbal, abstração, funções executivas complexas. DTF X DA: A DA envolve principalmente déficit de memória episódica por prejuízo funcional nas áreas cerebrais mais susceptíveis (lobo temporal médio). Ao progridirem, os sintomas passam a envolver outros déficits cognitivos, sociais e comportamentais. A DFT, entretanto, tem início seletivo nos lobos frontais e temporais anteriores. Os estágios iniciais mostram discreto comprometimento da memória episódica, mas importantes alterações comportamentais. Os prejuízos cognitivos começam tipicamente nas funções executivas, mas podem também envolver a linguagem. A DFT é dividida em 3 síndromes clínicas: DFT, afasia progressiva não-fluente e demência semântica. O acometimento cerebral em lobo frontal esquerdo está associado com perda progressiva da fala, caracterizada por fala hesitante (não-fluente), que tem sido chamada de afasia progressiva não fluente. Nesta, as alterações de comportamento quase sempre estão ausentes nos estágios iniciais da doença, podendo aparecer mais tardiamente e está associado com perda do conhecimento em relação a palavras e objetos, e é, portanto, uma demência semântica. Tratamento: IRSS, trazodona e antipsicóticos. Obs: Anticolinesterásicos não são eficazes e pioram o quadro. • Demência por Corpúsculo de Lewy: Responsável por 20% das síndromes demenciais em > 65 anos. Causada pela presença de corpúsculos no córtex com acúmulo de alfa-sinucleína intreneuronal. Diagnóstico: demência de pelo menos 6 meses de duração com declínio cognitivo flutuante, acompanhada por períodos de confusão + alucinações visuais (o paciente costuma reconhecer que não são reais) + parkinsonismo simétrico (hipomimia, quedas frequentes, rigidez, bradicinesia e tremor de repouso). Exclui casos em que o parkinsonismo precede a síndrome demencial em mais de 12 meses. Apresenta-se com rápido início e declínio progressivo, com déficits proeminentes na função executiva, resolução de problemas, fluência verbal e performance audiovisual. Possui grande sensibilidade aos neuroepilépticos. Tratamento: anticolinesterásico, benzodiazepínicos em doses baixas caso o distúrbio de sono REM seja muito importante, levodopa para parkinsonismo. Obs: não se usa neuroléptico típico (acentua o parkinsonismo e pode levar rebaixamento de consciência por reação de hipersensibilidade). • Atrofia de múltiplos sistemas (MAS) Doença degenerativa, com início por volta dos 60 anos, por acúmulo de α-sinucleina(“sinucleinopatia”, assim como a doença de Parkinson). Tríade: parkinsonismo (simétrico; sem reposta a levodopa), ataxia e disautonomias em proporções variáveis. Uma história associada de distúrbio do comportamento do sono REM pode auxiliar o diagnóstico. Obs: Em 10% dos casos, o parkinsonismo pode ter uma resposta muito fraca a Levodopa. Três formas clínicas: - MSA-p: predomínio parkinsoniano. Variante estriatonigral. Início gradual de parkinsonismo, hiperreflexia, mioclonias, ataxia e insuficiência autonômica. - MSA-c: predomínio cerebelar. Variante olivo- pontocerebelar. Apresenta-se com parkinsonismo leve, disartria, fala escandida e instabilidade autonômica. Raramente, pode ser acompanhada de mudanças na personalidade e demência. - Síndrome de Shy-Drager: predomínio de disautonomia (falência autonômica, com incontinência ou retenção urinária, síncopes, impotência, e incontinência fecal). Diagnóstico clínico e radiológico (“sinal da cruz”) • Paralisia Supranuclear Progressiva (PSP) Doença degenerativa, com inicio por volta dos 40 anos, por disfunção da proteína tau (“taupatia”, assim como a doença de Alzheimer). Ocorre parkinsonismo sem resposta a levodopa (ou com resposta muito fraca em 20 a 30% dos casos) Sintomas associados: oftalmoparesia para o olhar vertical, retrocolo, ataxia (com quedas precoces), disfagia, afeto pseudobulbar e disfonia. Evolui com demência (principalmente por disfunção executiva, perseveração e comportamental) Diagnóstico é clínico e radiológico (atrofia do mesencéfalo – “sinal do beija- flor”). Sem tratamento específico disponível. • Degeneração Córtico-Basal (DCB) Doença degenerativa, com início por volta dos 60 anos, por disfunção da proteína tau (“taupatia”). Ocorre parkinsonismo unilateral, apraxia motora, distonia, mioclonia, negligencia sensitiva (pode gerar a “síndrome da mão alienígena”) e demência rapidamente progressiva. Não responde ao levodopa ou a anticolinesterásicos. • Demência da doença de Parkinson: Doença degenerativa crônica progressiva que acomete principalmente o sistema motor extrapiramidal no SNC. Também acomete funções não-motoras (a maioria como sintomas “pré-motores”): distúrbios cognitivos, psiquiátricos, disfunção autonômica, do sono, hiposmia, fatigabilidade e dor. Tem progressão craniocaudal: bulbo e ponte (fase pré-motora), mesencéfalo, tálamo e núcleos da base (fase motora) e córtex cerebral (fase avançada), em 6 fases. O parkinsonismo precede a demência em > 12 meses. • Demência de Creutzfeldt Jakob (DCJ): Causada por príons, fatal, e caracteriza-se por demência rapidamente progressiva e envolvimento focal variável do córtex cerebral, gânglios da base, cerebelo, tronco cerebral e medula espinhal. A transmissão entre seres humanos (por transplante de córnea, implantação de eletrodos corticais etc) parece ser rara. O agente infeccioso está presente no cérebro, medula espinhal, olhos, pulmões, linfonodos, rins, baço, fígado, no LCR. • Doença de Huntington: Autossômica dominante com distúrbio do movimento, sintomas psiquiátricos e demência. Por expansão do trinucleotídeo CAG no gene que codifica a proteína huntingtinado cromossomo 4 (4p16.3). A demência se manifesta com o surgimento dos sintomas coréicos e psiquiátricos. A memória é afetada em todos os aspectos e o aparecimento de afasia, apraxia, agnosia e disfunção cognitiva global ocorrem mais tardiamente. 4) Doenças infecciosas • Complexo AIDS-demência (HIV): É a complicação neurológica mais comum da AIDS. Ocorre principalmente em pacientes gravemente imunocomprometidos (estágios avançados da doença). Entretanto, pode ser uma das apresentações iniciais da aids. A demência é de início subagudo e caracteriza-se por apatia, dificuldade de concentração, prejuízo de memória verbal e funções executivas, disfunção motora e distúrbios de comportamento. Com a progressão pode haver ataxia, disartria, mutismo, delírios e alucinações visuais. • Neurossífilis: Era causa frequente de demência antes da disseminação do uso da penicilina. Embora incomum, ainda constitui diagnóstico diferencial de síndromes demenciais atípicas ou com manifestações frontais, particularmente em populações menos favorecidas socialmente. • Encefalite herpética Incomum, mas ainda é a principal causa de encefalite esporádica na América do Norte. Quando não tratada precocemente têm prognóstico desfavorável (50% morrem em dias ou semanas). Dos que sobrevivem, a maioria tem sequelas significativas, tais como as síndrome de Korsakoff e Kluver-Bucy, sinais neurológicos focais como hemiparesia e afasia, tiques vocais e motores, e demência. • Neurocisticercose: Doença endêmica e pode levar a comprometimento cognitivo por inflamação crônica das meninges, hidrocefalia obstrutiva e pela presença de cistos corticais. O quadro clínico resulta do próprio processo inflamatório, do número e localização das lesões, além de prejuízos secundários a infecções prévias. São comuns manifestações típicas da demência vascular. • Síndrome de Wernicke-Korsakoff: Ocorre pela deficiência de tiamina (B1) associada ao uso crônico de álcool, e é transtorno neurológico agudo caracterizado por ataxia, disfunção vestibular, delírio e pela variedade de anormalidades da motricidade ocular (nistagmo, paralisia dos retos laterais e paralisia da fixação). Se não tratada, pode evoluir para síndrome amnéstica crônica conhecida com síndrome de Korsakoff, onde os aspectos essenciais são o prejuízo grave de memória recente e aprendizado (amnésia anterógrada) e confabulações, com pobre resposta ao tratamento. • Alcoolismo Algumas complicações do alcoolismo podem causar demência, como o hematoma subdural crônico (por TCE), a degeneração hepatocerebral (por cirrose hepática) e deficiências nutricionais. Diagnósticos diferenciais: • Depressão o Coexiste com demência em 30 a 50% dos casos. o Deve ser excluída ou tratada antes de se firmar o diagnóstico de síndrome demencial. o Queixas de memória costumam ser desproporcionais ao déficit cognitivo. • Delirium o Causa comum de confusão mental no idoso. o Início agudo, com atenção flutuante e percepção sensorial alterada. o Se suspeita de Delirium: buscar causas!!! o DEMÊNCIA É UM DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA DELIRIUM. • Polifarmácia/ Déficits sensoriais • Abuso de álcool o Desorganização. o Acidentes e quedas frequentes. • Condições psiquiátricas o Esquizofrenia de início tardio. Complicações • Delirium • BPSD- Sintomas comportamentais e psicológicos associados à demência o Afetam até 80% dos pacientes durante o curso da enfermidade o Associam-se à: institucionalização, altos custos, sobrecarga de cuidadores o Incluem: agitação/ agressões/ vocalizações disruptivas, sintomas psicóticos/ depressivos/ apatia, distúrbios de sono, perambulação, resistência ao cuidado pessoal, incontinência. • Estresse ao cuidador. Tratamento Objetivos: Preservar a funcionalidade e a autonomia, além de manter a qualidade de vida para pacientes e cuidadores. a) Inibidores da Acetilcolinesterase i. Rivastigmina (6mg 12/12h) ii. Galantamina (até 24mg/dia) iii. Donepezila (10mg/dia) b) Memantina: Antagonista dos receptores NMDA c) Controle de comorbidades e Fatores de Risco d) Tratamento de BPSD i. Não- farmacológico ii. Farmacológico: 1. IAChes 2. Antidepressivos 3. Estabilizadores de humor 4. Antipsicóticos: tradicionais e atípicos 5. Evitar benzodiazepínicos! e) Diretivas antecipadas/ Questões relacionadas à segurança f) Cuidados ao cuidador
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