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• ARQUITETURA E V:)I.LI'IOd ~ ENSAIOS PARA MUNDOS ALTERNATIVOS ♦ JOSEP MARIA MONTAN ER· ZAIDA MUXI ~ Arquitetura e polftica aborda uma das quest6es-chave da arquitetura contemporanea: a responsabilidade dos arquitetos para com a sociedade. Nestes cinco capitulos - Hist6rias, Mundos, Metr6poles, Vulnerabilidades e Alternativas - a obra segue um percurso hist6rico, que abrange desde o papel social dos arquitetos e urbanistas ate a atual era da globaliza9ao. Por meio de temas como vida comunitaria, participa9ao, igualdade de genera e sustentabilidade, o livro trata tanto das vulnerabilidades contemporaneas como das alternativas ja experimenta- das. Dar seu subtitulo Ensaios para mundos alternativos. GG® Tftulo original: Arquitectura y politica. Ensayos para mundos alternativos Traduc;ao: Frederico Bonaldo Preparac;ao de texto: Alexandre Salvaterra e Ana Beatriz Fiori Revisao de texto: Cristian Clemente Design: Rafamateo Studio Qualquer forma de reproduc;ao, distribuic;ao, comunicac;ao publica ou transformac;ao desta obra s6 pode ser realizada com a autorizac;ao expressa de seus titulares, salvo excec;ao prevista pela lei. Caso seja necessario reproduzir algum trecho desta obra, seja por meio de fotoc6pia, digitalizac;ao ou transcric;ao, entrar em contato com a Editora. A Editora nao se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das informa96es contidas neste livro e nao assume qualquer responsabilidade legal em caso de erros ou omiss6es. © traduc;ao: Frederico Bonaldo © do texto: Josep Maria Montaner, Zaida Muxi, 2011 © Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2014 lmpresso na Espanha ISBN: 978-85-65985-41-3 Dados lnternacionais de Catalogac;ao na Publicac;ao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Montaner, Josep Maria Arquitetura e polftica: ensaios para mundos alternativos / Josep Maria Montaner e Zaida Muxf . -- Sao Paulo : Gustavo Gili, 2014. Tftulo original: Arquitectura y polftica: ensayos para mundos alternativos. ISBN 978-85-65985-41 -3 1. Arquitetura e sociedade 2. Urbanismo - Aspectos sociais I. Muxf, Zaida. II. Tftulo. 14-01356 CDD-720.103 indices para catalogo sistematico: 1. Arquitetura e sociedade 720.103 - I J INDICE 7 Homeopatia crftica, por Jordi Borja 13 INTRODU<;Ao HISTORIAS 27 As formas do poder 40 Do "sentido etico" de William Morris e "o arquiteto na luta de classes" de Hannes Meyer as "estrelas da arquitetura" 54 A a9ao polftica a partir da arquitetura 67 As tradi96es alternativas de vida comunitaria MUNDOS 79 A globaliza9ao e o universo rizomatico 87 As fronteiras quentes 95 0 mundo p6s-Chernobyl 104 A vida-lixo ou o slow food METRO POLES 115 0 urban is mo tardo-racionalista: de A Carta de Atenas a cidade global 128 As cidades alternativas: Curitiba, Seattle, Bogota e Medellin 143 0 turismo ea tematiza9ao das cidades VULNERABILIDADES 159 Os traumas urbanos: o apagamento da mem6ria 170 o neofeudalismo imobiliario: o problema da moradia e das casas vazias 181 As cidades de slums ea geografia dos sem-teto ALTERNATIVAS 197 A cidade pr6xima: o urbanismo sem genero 211 Novas epistemologias para o urbanismo contemporaneo 226 A cultura institucional ea sociedade civil 235 Por uma cultura crftica e alternativa, da experiencia e do ativismo 247 Comentarios e agradecimentos 251 Notas bibliograficas DO "SENTIDO ETICO" DE WILLIAM MORRIS E "O .ARQUITETO NA LUTA DE CLASSES" DE HANNES MEYER As "ESTRELAS DA ARQUITETURA" Para enfrentar as muta96es da condic;ao p6s-moderna e as dificuldades para pensar a complexidade de novas rela96es entre arquitetura e polrtica, e tarefa basica se remeter as interpreta96es da hist6ria. Com efeito, desde o fim da decada de 1960, a arquitetura vive uma dupla e permanente crise: a chamada crise disciplinar de seus pr6prios conceitos de modernidade, que entrou em recorrentes cfrculos viciosos, como os fun- damentalismos disciplinares, e a crise geral, ocasionada pela entrada da produc;ao arquitetonica na sociedade de consumo, na qual se passou de sis- temas tecnol6gicos qualificados e artesanais a um setor de produc;ao em serie, quantitativo, dentro do qual o papel tradicional do arquiteto nao encontrou um novo lugar. Por exemplo, o pensamento, os projetos e as obras de Alison e Peter Smith- son sao emblematicos dessa dificuldade e dessa busca intelectual, artis- tica e tecnol6gica de situar a nova arquitetura dentro da sociedade de consumo. Sua imaginac;ao inspirada na realidade e seu desejo de integrac;ao nao foram suficientes para evitar o fracasso social do conjunto residencial Robin Hood Gardens (Landres, 1969-1975). Hoje, nao e possivel fazer arqui- tetura para as pessoas sem contar com elas e sem levar em conta o con- texto da cidade; isto e, sem situar as moradias em um entorno industrial e agressivo, sem equipamentos para a vida cotidiana e sem relacao de conti- nuidade com os bairros contf guos, Robin Hood Gardens acabo~ se transfor- mando em um gueto que caiu nas garras da especula9ao antes de conseguir ser remodelado e revitalizado. Ap6s a crise do fim da decada de 1960, ensaiaram-se diversas posic;:6es que buscavam um projeto critico - o rigor da critica tipol6gica, a utopia da crftica radical, a operatividade do formalismo analitico e da cidade collage e 40 ARQtn'l'ETURA E POLITICA a capacidade de consenso das iconologias populares 1 - e que tiveram em comum a busca de uma nova visao crftica. No entanto, os objetivos nao foram alcan9ados. Quais sao as razoes e implica96es que fizeram com que, no come90 do seculo xx1, a arquitetura e o urbanismo dominantes renuncias- sem a sua inten9ao crftica, assumindo um carater predominantemente pro- dutivista, relegando a crftica a um lugar minoritario? Apesar disso, devemos insistir em um fato relevante dentro dessa confu- sao e muta9ao. Embora nao corresponda diretamente a capacidade projetual dos tecnicos, a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo sao os fenomenos que exprimem de um modo emblematico as encruzilhadas em que as socie- dades contemporaneas se encontram: a arquitetura coma sfmbolo do poder e, ao mesmo tempo, como expressao dos movimentos sociais urbanos; os ediffcios como sistemas de consume de recurses e geradores de polui9ao, mas tambem como a base para a constru9ao de sociedades mais sustenta- veis; o bairro como confluencia de interesses imobiliarios, mas tambem como lugar para a vida comunitaria e para a socializa9ao; as cidades como cenarios privilegiados, dinamicos e energeticos, onde os conflitos e o caos atuais se manifestam, mas tambem dotadas de grandes possibilidades de melhora e de transforma9ao; a paisagem como ambiente em continua trans- forma9ao e como referencia simb6lica de cada sociedade. E por isso que soci6logos, antrop6logos, ge6grafos, bi6logos, economistas, pensadores, artistas e crfticos lit erarios vem tomando a arquitetura ea cidade como refe- rencia privilegiada de suas reflexoes e interpreta96es. A questao essencial do desenvolvimento humano contemporaneo centra-se no presente e no future das cidades: estas sao o problema e, ao mesmo tempo, a solu9ao; a crise da arquitetura e do urbanismo pode ser muito frutffera. Partindo da inten9ao de repensar o projeto moderno em arquitetura e urbanismo, com base no pensamento e nas experiencias recentes da p6s- -modernidade, a pergunta inicial consiste em nos questionarmos sobre como evoluiu a rela9ao dos arquitetos com as sociedades nos ultimas tem- pos. Para pensarmos tudo isso, contamos com uma serie de referencias imprescindfveis. 1 0 desenvolvimento <lesses projetos criticos esta explicado detalhadamente em tres livros de Josep Maria Montaner: Despues del movimiento moderno (1993) (ecli<;ao em portugues: Depois do movimento moderno. Arquitetura da metade do seculo .XX. Sao Paulo, Editora Gustavo Gili, 201 1 ), Lasjarmas del siglo xx (2003) e Sistemas arquitect6nicos contemporaneos (2008) (edi,;aoem portugues: Sist,ernas arquitetonicos contemporaneos. Sao Paulo, Editora Gustavo Gili, 2010). HISTORIAS 41 O INiCIO DO SENTI DO ETICO DA ARQUITETURA Em primeiro lugar, devemos assinalar de que modo as primeiras r . . . d d p opos1- coes das rela9oes entre arqu1tetura e soc1e a e, com o estabelecirne . . ·t· . nto de Princfpios eticos, mora1s e este 1cos, come9am, a part1r de meados do _ . - . seculo xix com uma serie de estudos, publ1ca9oes e obras denvados das rnud ' - . . , an9as sociais em torno do ano de 1848. Nao tena s1do poss,vel propor a f _ . - un9ao social da arquitetura antes da conf1gurac;ao da esfera do social e do estabe- lecimento dos conflitos de classes. Em um primeiro momento, isto se expressou em propostas relacionadas entre si: na identificac;ao da arquitetura neog6tica com os principios do catolicismo nos escritos de A.W.N . Pugin, como Contrasts,2 em que defen- deu a veracidade ea naturalidade das formas arquitetonicas; nos textos de John Ruskin, especialmente em suas As Sete Lampadas da Arquitetura,3 dentre as quais brilhavam as lampadas da "verdade" e da "vida"; e no pensa- mento e nos desenhos de William Morris, segundo uma concep9ao socia- lista, cooperativista e artesanal da sociedade, em oposic;ao ao que ele considerava desmandos produtivistas da sociedade industrial. John Ruskin partiu de uma etica profundamente religiosa e, ao aplicar seus conhecimentos de hermeneutica bfblica e das ciencias da natureza, formulou um corpo tecnico para situar a arte e a arquitetura na sociedade do momento. De certa maneira, o texto de Ruskin e um contraponto, a partir de uma visao religiosa e conservadora, a tomada de consciencia dos proble- mas sociais e politicos do momenta, expressos no Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels,4 e constitui o necessario registro dessas ques- t6es a partir de uma etica cat6lica. As "sete lampadas da arquitetura" - sacriffcio, verdade, poder, beleza, vida, mem6ria e obediencia - sao formuladas como uma teoria transmissivel, independentemente de qual- quer pratica particular, partindo da consciencia da primazia da experiencia e da vida sobre a prioris projetuais e organizac;oes previas. 2 Pugin, August Welby Northmore. Contrasts: or, A Parallel Between the Noble Edifices of the Middle Ages, and Corresponding Buildings ef the Present Day, Shewing the Present Decay of Taste. Louclres, Dolman, 1836. 3 Ruskin,John. The Seven Lamps ef Architecture [1849]. Nova York, Dover Publications, 1989· 4 Marx, Karl e Engels, Friedrich. Manifesto comunista [1848]. Sao Paulo, Boitempo, 1999· 42 .....,.,-ro n E po UTICA ARQUIT1:,1 u,~,. No infcio de As Sete Lampadas da Arquitetura, Ruskin considera que escreve "no meio da contradic;ao e instabilidade de nossos sistemas arqui- tetonicos" e reconhece que "aquilo que e verdade para a comunidade polf- tica humana, creio que continua a se-lo para a arte manifestamente polftica da arquitetura". Seu objetivo ea busca de "leis constantes, gerais e irrebatf- veis", "leis fundamentais da natureza do ser humano". 5 A lampada da verdade e um arrazoado, na linha dos rigoristas venezianos do fim do seculo xv111 - como Carlo Lodoli, Francesco Milizia e Francesco Algarotti -, a favor da sinceridade estrutural. Nao e aceitavel a insinuac;ao de um tipo de estrutura ou suporte que nao seja o verdadeiro; as pinturas na superffcie nao devem representar um material que nao seja aquele realmente existente, e nao se podem empregar ornamentos feitos a maquina ou moldados. Ao assu- mir essa posi9ao anti - industrial, Ruskin rejeitava as estruturas metalicas. Outra das lampadas-chave e a da vida. Nesta, ele sustenta, com sua grande capacidade de registrar detalhes da arquitetura medieval, que os valores das particularidades da experiencia sao mais importantes que as ordens estabelecidas. Segundo Ruskin, "os dois caracteres definidores da imitac;ao vital sao sua franqueza e sua audacia". A contribu ic;ao que teve maior influencia e a de William Morris (1834- 1896), que propos revitalizar o trabalho artesanal adiante da alienac;ao que a produ9ao industrial comportava. A visao tao ampla e humanista de Mor- ris, baseada na coopera9ao humana, abarcava desde o detalhe decorativo ate a paisagem. E nesse sentido que, em seu texto "Prospects of Architec- ture in Civilization", Morris definiu a arquitetura da seguinte maneira: "Meu conceito de arquitetura esta na uniao e na colabora9ao entre as artes, de modo que qualquer coisa esteja subordinada as outras e em harmonia com elas, e quando utilizo tal palavra, este sera seu significado, e nao outro mais restringido. E uma concep9ao ampla, porque abarca todo o ambiente da vida humana; nao podemos nos furtar da arquitetura, uma vez que fazemos parte da civiliza9ao, pois ela representa o conjunto das modifica96es e altera96es introduzidas na superffcie terrestre com o fim de satisfazer as necessidades humanas, a exce9ao, apenas, do deserto puro"6• 5 Veja uma analise precisa de J ohn Ruskin em Sola-Morales, Ignasi de. ''.John Ruskin. Siete palabras sob re la arquitectura" [ 1988], In Inscripciones. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2003. 6 Morris, William. "Prospects of Architecture in Civilization" [1881] , In Hopes and Fears far Art. Nova York, Longrnans, Green and Co., 1901. HIST6RIAS 43 Seguidor de Karl Marx e socialista convicto, Morris fundou a S . . . . . oc1al1st League em 1884. Cons1derava que, enquanto a soc1edade ,gualitaria _ . . e comu~ nitaria nao chegasse, nao havena uma arqu1tetura moderna real. A crif · · · d' ·"N- d · icade Morris ao cap1tallsmo fo1 ireta. ao se e1xem enganar pela ap .... . . d d l t , . arenc1a externa de ordem de nossa soc1e a e p u ocrat1ca. Acontece a mesm . " a co1sa Com as antigas formas de fazer a guerra, que tern um aspecto exte . . nor de ordem magnifica". Em suma, Morns propunha um complemento ao . ma~ xismo. Considerava que, para se constru1r uma nova comunidade, nao _ " . d . l era suficiente a revolu9ao econom1ca e o po er soc1a , masque era preciso u f - d h' b' ma revolu9ao moral , uma t rans orma9ao os a 1tos, com a qual o design e arquitetura t inham de contribuir a fim de possibilitar que os seres humano: fossem mais livres e felizes.7 Ao recorrer em seus escritos ao termo comunismo, William Morris enfati- zava a primazia da esfera do publico, do comum, de um saber comparti- lhado, que e preciso refor9ar perante as amea9as da industrializac;ao e da produ9ao em massa anonima, sem qualidade nem atributos. As posi96es de Pugin, Ruskin e Morris sao o inicio de uma critica moral a sociedade; representam o come90 das t eorias criticas sabre o mundo con- temporaneo, isto e, formula96es diante da feiura de uma arte ecletica e aca- demica, da desumaniza9ao que provoca o maquinismo e do empobrecimento do espa90, da cidade e da vida social. Em suma, embora com matizes muito diferentes, esses tres autores lan9aram um novo discurso social da arquite- tura, segundo o qual se passa do formal-compositivo ao etico-politico. Hoje, seria absurdo voltar a Pugin, Ruskin e Morris, mas podemos aprender com sua critica, ja que, pela primeira vez, estabelecem-se rela96es entre as for- mas arquitetonicas e artisticas, os comportamentos sociais e a busca da felicidade humana. Dai surge uma t rad i9ao critica antimaquinista, que passa por Patrick W. Geddes, Lewis Mumford, Jane Jacobs e Bernard Rudofsky e que leva a revaloriza9ao da experiencia vital, a recupera9ao da arquitetura vernacula, a defesa da autoconstru9ao e aos argumentos ecol6gicos. Tambem dai surge a ambiguidade de um projeto moderno e de vanguardas que partem de premissas essencialmente morais e voluntaristas. Grande parte das ideias principais do movimento moderno radicam no pensamento artistico previo: a exigencia moral e o clamor pelo basico e essencial em 7 Vi . al d Arqu1- eJa, por exemplo, o catalogo William Morris publicado pela Direcci6n Gener · e tectura Y ViviendaM O PU, Madri, 1984. /, /, Pugin, Ruskin e Morris; a confianc;a nas contribuic6es-chave das mudancas tecnol6gicas de Gottfried Semper, Eugene Emman~el Viollet-le-Duc e Willi~m Lethaby; e a i~eia de que a arquitetura tende a ser anonima e faz parte da vonta?e _colet1_~a ~e forma e do senso do tempo, procedente de Alois Riegle de Hemrich Wolfflm. Contudo, a uniao de tudo isso nao estava isenta de con- tradi96es: a posi9ao de Pugin, Ruskin e Morris era contraria a mudancas tec- nol6gicas, que, por outro lado, eram adotadas pelo movimento mod~rno. De maneira contradit6ria, a arquitetura moderna defendia uma arte economica ' coletiva e compartilhada, mas, ao mesmo tempo, perseguia, a todo custo, a genialidade ea novidade de obras individuais, livres e emancipadas, desliga- das da sociedade que queriam redim ir. 0 COMPROMISSO SOCIAL DA ARQUITETURA Foi durant e as primeiras decadas do seculo xx, especialmente no perfodo entre as duas Guerras Mundiais, que ocorreu a eclosao do compromisso polftico e social da esquerda europeia, um compromisso que atingiu pinto- res, fot6grafos, escritores, arquitetos e designers. Existem fatos-chave, como, por exemplo, Ernst May, em Frankfurt, dirigindo a po lftica da moradia popular da republica progressist a de Weimar, as crfticas emblematicas ao formalismo de Le Corbusier por pa rte de Karel Te ige (1900-1951 ), as ativida- des cooperativas e os pensamentos do arquiteto de origem sufc;a Hannes Meyer, autor de textos como "O arquiteto na luta de classes"8 e a crftica a produc;ao capitalista da cidade de Ludwig Hilberseimer. Hannes Meyer (1889-1954), diretor do perfodo mais polemico da Bauhaus, entre 1928 e 1930, t rabalhou na Uniao Sovietica entre 1930 e 1936 e se mudou para o Mexico, vivendo ali entre 1939 e 1949, onde continuou sua obra como arquiteto e te6rico e onde criou o Institute de Planificaci6n y Urbanismo, inspirado na Bauhaus, ate volt ar a morar na Sufc;a. Em seus textos e programas de estudo, no fim da decada de 1920, Hannes Meyer enfatizou o carat er social e polftico do t rabalho do arquiteto como tecnico e intelectual , que, nas condi c;oes do perfodo entreguerras, tinha como missao trabalhar pelo alcance dos objetivos da classe operaria e pelo a Meyer, Hannes. "El arquitecto en la lucha de clases". In El arqui-tecto en la lucha de clases_y otros escritos. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 1972. HIST6RIAS socialismo. Para Meyer, a arte ea arquitetura tinham um alto c _ . , . . onteudo p t· tico. o arqu1teto, como tecrnco, convertIa-se em uma especie d o 1~ . . . e engenh . e seu dever social era lutar contra o sIstema capItalista afa t e1ro, . . . . . . d t . . ' s ando-se d utopias preJud1c1a1s, seguin o a eona marxIsta do socialismo . _ . e " . d , l" . . c1ent1f1co propondo que por meI0 e uma ana Ise Imp1edosa e preciso d e . • ~ ' esnuda carater classIsta da c1dade burguesa e a rela9ao do caos econo" . r 0 _ ,, mIco corn da constru9ao . 0 Nesse perfodo, o artista e o arquiteto sao, antes de tudo polftico A . . _ ' s. ssIrn comprometeram-se com as lutas de l1berta9ao, com a classe operar' ' Ia, che~ gando a dar a vida pela casua, como aconteceu com Josep Torres Clav· , . e, que morreu na fronte do Ebro defendendo o ~ove~no leg1t1mo da II Republica Espanhola frente ao golpe de estado nac1onal1sta e fascista, ou perdendo sua terra, seu lugar, coma quando artistas e arquitetos se exilaram, apes a Guerra Civil Espanhola, por causa do nazismo impasto na Alemanha e durante a II Guerra Mundial, instalando-se por toda a America. Nesse intenso compromisso das vanguardas, que se prolongou para alem da II Guerra Mundial, tambem se encontra o toque surrealista, com as pro- postas te6ricas de Andre Breton, seu reflexo em uma arquitetura de con- sumo e suas alian9as revolucionarias e conceituais com Leon Trotski. E, tal como se assinalou no texto anterior, um dos marcos dessa posi9ao subver- siva sao os paragrafos de crftica dura e frontal que Georges Bataille dedicou a arquitetura como instrumento de domfnio, que abriu o caminho para a desqualifica9ao sistematica de uma arquitetura e um urbanismo institucio- nais que aprisionam, controlam e destroem a vida; uma desqualifica9ao que inspirou o pensamento da antropologia urbana dos fluxos e dos movimentos livres no espa90 publico. A partir do surgimento do movimento moderno, dos conflitos dentro da Bauhaus e da realizacao dos CIAM consolidou-se esta dualidade nas teo- rias e propostas dos 'arquitetos: p~r um lado, a primazia da visao social, usando a tecnologia de uma maneira emancipadora, de Ernst May, Walter Gropius, Hannes Meyer e Karel Teige, para os quais o arquiteto deve ser_ u_~ t , · - m sene, ecnico a servi90 da sociedade, do trabalho coletivo e da produc;ao e por outro lado, a enfase na sociedade liberal e na figura do arquiteto como · d . . d Rohe e cna or, tal como sustentaram Le Corbusier Ludwig Mies van er J Ll - s ' d osicao que osep u,s ert. No entanto, com o tempo, sera essa segun a P · d·- , . - f gu ra tra I passara a predominar, uma vez que se adequa melhor tanto a 1 • _ · l t· · · nto do sis c,ona e e ItIsta do arquiteto para o prfncipe como ao func1oname tema capitalista. LiR orlflCJ\ "nnrn'l'F.TURA £ p o PCS-GUERRA EA FIGURA DO "ARQUITETO LIBERAL'.' No perfodo p6s-guerra, passou a ser relevante a figura do arq ·t t l 'b l . . _ . u, e o I era , que era ant1comunista e nao soc1alista mas que se encontra , • d _ . . . , va prox1mo a preocupa9ao pela Just19a e pela 1gualdade dos socialistas e dos social- -democratas. Por _exemplo, os membros do Team X continuavam a ter uma forte voca9ao social para uma sociedade democratica e aberta, tal coma a definiu Karl Popper em seu importante texto A sociedade aberta e seus ini- migos.9 Se ~o perfodo d~s vanguardas e~a o "arquiteto como polftico", agora sera o arqu1teto humanista fortemente mfluenciado pelo pensamento exis- tencialista e pela fenomenologia . A rela9ao entre o liberalismo de Popper e a teoria da cidade collage 10 de Colin Rowe fo i evidente e direta. 11 No perfodo entreguerras e das vanguardas, artistas, designers e arquite- tos conflufam em projetos coletivos e em grupos como De Stijl e em escolas como a Bauhaus, ensinando e projetando, sem se importar se tinham rece- bido uma educa9ao regrada ou se dispunham de um tftulo. A partir do p6s- -guerra, predominou a cria9ao de colegios, associa96es e sociedades de arqu itetos regradas, das quais s6 podiam fazer parte os arquitetos titulados nas escolas oficiais. O arquiteto passou da liberdade do artista nas vanguardas a regula- menta9ao do profissional liberal, e isso em um duplo sentido: como tec- nico liberal e autonomo, protegido por sociedades profissionais, e como indivfduo de pensamento liberal e nao especificamente comprometido em termos polfticos. Ou seja, ao longo das decadas centrais do seculo xx, pro- duziu-se um processo de regulamenta9ao e oficializac;ao da profissao da arquitetura, uma mudan9a similar a evoluc;ao produzida ao longo dos 9 Popper. Karl. The Open Society and Its Enemies. Princeton (Nova Jersey), Princeton Uni~ersity ' · · · 3a d B 1 Honzonte Press, 1950 (edic;ao em portugues: A sociedade aberta e seus znzmzgos, e ., e O ' Itatiaia, 1998). h MIT P 1978 (ediriio em espanhol: 10 Rowe, Colin. Collage City. Cambridge (Mass.), T e ress, -s Ciudad collage. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 1998). ,, , . l' . d 1 uitecto liberal . In Despues del 11 Veja: Montaner Josep Maria. "La figura ideo ogica e arq . ~ , . DeJiois do ' GT 1993 (ed1c;ao em portugues. r movimiento moderno. Barcelona Editorial Gustavo 1 1, . G a·1· 2011)· e . . . ' , XX S ~ Paulo Editora ustavo 1 i, ' movzmzento moderno. Arquztetura da metade do seculo · ao '.1 l . l x Barcelona Editorial " 1 . " I Lasfarmas ue szg o x . ' Cultura del fragmento: el collage y e montaJe . n Gustavo Gili, 2002. 47 HIST6RIAS m que a estrutura gremial da profissa.012 _ urn b , losxvIII e xix, e . . d sa er secu t es de obras que se t ransm1t1a entro do espaco fan-. ·l· , ·co dos mes r . . . , .. 1 iar tecni . d pelo mestre ao aprendtz - fo1 sendo deixado de l que era ens1na o h . . . , ado e t' cnicos como os engen e1ros c1v1s do seculo xx ea f ara darlugar a e , . , . , . , tgura P . demico. No 1nic10 do seculo xx, os arqu1tetos e enge h . do arqu1teto aca , . n eI- uperaram O saber artesanal, emp1nco e tradicional ros modernos s . . . que .d ate a art nouveau e o moderrnsmo, subst1tuindo-o por fora mant1 o . . , . _ urn ber tecnico prec1s0 e c1ent1f1co. Em meados do seculo xx pretenso sa . . , os l , . profissionais regulamentaram a exclus1v1dade das atividade co eg1os . _ . . s , . s condenando a desapancao as f1guras autod1datas dos artista tecn1ca , · . . . s interdisciplinares e de vanguarda que tinham surg1do na pnmeira metade do seculo, impondo o modelo profiss ional do arquiteto liberal, contratado corporativamente, para quern e mais importante manter supostos privile- gios de classe que ser ut il na constru9ao de uma sociedade mais equita- tiva e justa ou ser um artista comprometido com as vanguardas. Nao foi par acaso que, na Espanha, os colegios de arquitetos conseguiam tantos beneffcios durante a ditadura franquista e geralmente eram resistentes as mudanc;as e as novidades. Par tudo isso, a partir de meados do seculo xx, o arquiteto e o artista revolucionario e ut6pico foram sendo marginalizados. Nao foi em vao que a exposic;ao Estilo Internacional, realizada em 1932 no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), ja tinha eliminado todas as correntes arquitetonicas mais inovadoras como o construtivismo e o organicismo, enfatizando somente o formalismo como unica li nguagem moderna possf- vel, que, traindo as pr6prias int en96es das vanguardas, passava a ser entendido como estilo. Le Corbusier, Walter Gropius e Sigfried Giedion insistiram que a arquit etu ra moderna nao era mais um estilo hist6rico. Certamente, algumas correntes esteticas surgidas nos Estados Unidos, coma o expressionismo abst rato, a pop art, o minimalismo ea arte concei- tual, tentaram se impregnar de pretens6es crft icas e sociais, mas a roda da sociedade de consumo conseguiu digerir toda a dissidencia, converten- do-a em "estilo". Ne~se sentido, a figura do arquitet o de pensamento liberal- o liberal man -, mais sensfvel as solicita96es do meio, teria rela9ao com as novas neces- 12 Sennet, Richard Fle h d S . d /Nova Yo k N · 5 an tone: The Body and the Ciry in Ji¼stern Civilization. Lon res .. r ' orton & Comp 1996 ( . - 'd de na a.vi- li;:,afdo ocidental 3 a d a_ny, ~di<;ao em portugues: Carne e Pedra. 0 corpo e a CL a ' e · Rio dejaneiro/Sao Paulo, Record, 2003). 48 .......rTO n E poLiTICJ\ ARQUIT.r..1. U4U • sidades do siste~a produtivo em sociedades que tendiam a abundancia no contexto da cond - ; · · . . r<;ao pos-mdustnal. Nessa linha totalmente liberal e con- sum,sta s1tuam-se as prop t d A · . . . '; . os as e rch,gram; portanto, nao faz sentido ~e,~md,ca-las a pa~;'r ~e posi96es atuais radicais e inovadoras quando sua unica proposta era a l1berdade do consumidor". lsto tambem significo~ o triunfo do modelo arquitetonico como figura sin- gular, um mode~o _defe_nd1do por Le Corbusier em consonancia com O poder, que prefere _o gen_,o cnador a crftica socializadora. Segundo as concepc;oes do ramo ma,s radical dos arquitetos e engenheiros do movimento moderno desde Walter Gropius, Ludwig Hilberseimer, Ernst May, Mart Stam Alexan~ der Klein, Hannes Meyer e Karel Teige, ate Konrad Waschmann, Ced 1 ric Price e Joao Filgueiras Lima, o importante foi entender a arquitetura como um tra- balho cientffico e coletivo, sistematico, modular e transmissfvel, tendendo a uma industrializa9ao radical, que traria melhorias sociais. Os designers, arquitetos e urbanistas tenderiam a ficar no anonimato da produc;ao em serie e industrial, do trabalho em equipe e da colabora9ao com a adminis- tra9ao publica. Entre estas posi96es arquitetonicas antagonicas, a questao- ~chave ea da autoria: individual ou compartilhada. 0 modelo dominante do arquiteto liberal, que se impos depois da II Guerra Mundial, procurava reviver o modelo individualista do arquiteto como artista singular, um criador com uma linguagem pessoal que vai alem dos condicio- namentos construtivos, das polfticas de gestao e dos problemas sociais. Nao podemos esquecer que a tentativa de manter o mito do arquiteto criador caminhou paralelamente com fenomenos contemporaneos bem diferentes, como o fato de que uma parte desses profissionais tenha traba- lhado e trabalhe como funcionarios em organismos publicos. Poderfamos dizer que a missao polftica do tecnico passou a ser trabalhar para o Estado em uma polftica de obras publicas e de instala95es e, em ultima analise, de bem-estar. Um indfcio da influencia do setor publico em um pafs como o Reino Unido e dado pelo fate de que quase todas as escolas e hospit~is c~nstrufdos na decada de 1950 as new towns e outros projetos de urban1za9ao de grandes - ' d rt entos de arquitetos que perten-proporcoes foram desenhados nos epa am . ' . , . 50% d arquitetos britanicos trabalha-c,am a organismos publlcos; quase o os . ; • bl ma e a polft1ca das new towns, vam para o Estado. Nessa epoca, cuJo em e . l tava no Estado de bem-estar. predominava um pensamento l1bera, que apos . • f d Partido Trabalh1sta em 1945, Com efeito, no p6s-guerra, com o tnun o o _ . . . . . criou-se no Reino Unido a mais poderosa e completa maquina admin1strat1va I I ;I I I I I I ,, i ,, I' de planejamento urbano e arquitetonico que jamais existira nas dem . . ocracras ocidentais. Um Estado de bem-estar que, segundo o liberal William Bev . f . "' . l , endge devia destacar-se pela bene IcencIa, a qua - apos a destrui9a.0 e O med ' · · f d' - o da 11 Guerra Mund1al - precIsava o erecer as con 19oes necessarias para d d . , . que as pessoas - libertadas o temor e a m1sena - gozassem da liberdade 13 Durante o man_dat~ do tr~b~lhista Cleme~t Attlee (1945-1951), teve infcio.a cria9ao da ma1or area publ1ca de morad1as populares de aluguel. Como e sabido, tudo isso foi desmantelado pelo governo de Margaret Thatcher n come90 da etapa do neoliberalismo, no final da decada de 1970. ' 0 A tradi9ao da historiografia que exalta um her6i realizador, criador genial e todo-poderoso tornou e ainda torna invisfveis as outras maneiras de exer- cfcio da profissao da arquitetura. Desse modo, o perfodo de compromisso politico e social da arquitetura na Europa do entreguerras teria sido breve e intenso, possivelmente uma exce- 9ao na hist6ria, que s6 teve continuidade em ambientes progressistas, tal como ocorreu no Mexico da decada de 1940, perfodo em que se gerou uma obra coletiva modelar, como a Universidade Nacional Autonoma do Mexico (UNAM). Depois, predominou o arquiteto individual e liberal, inclusive em casos relacionados com o poder polftico, como no Brasil, com Oscar Nie- meyer e Lucio Costa. Mesmo que Niemeyer ten ha militado no Partido Comu- nista Brasileiro, sempre enfatizou a atividade individual do criador de objetos singulares, com fortes contatos pessoais com o poder. No entanto, ao longo da segunda metade do seculo xx, por mais que se ten ha tentado manter o mito masculino do arquiteto, genio e artista, ele teve de evoluir: o velho projetista artesao teve de enfrentar um mundo novo e variado, em que as formulas classicas de sua atividade nao eram mais apli- caveis. Perante os novos sistemas digitais de desenho ea grande complexi- dade do mundo da constru9ao, os antigos projetistas tiveram que se refugiar na especializacao ou em um inalcancavel esforco de tentar abarcar os , , , extremos de uma situa9ao cada vez mais complexa. . Por isso, especialmente nos pafses mais industrializados - Estados Uni- dos, Reino Unido, Aleman ha e Japao - predominam e se estendem os gran- des escrit6rios de arquitetosengenheiros e muitos outros especiali5tas. Os · t d ' · partirde sis emas e trabalho em rede - que se articulam e se organizam a 13 D d , . . . I La ciudad y los a os extra1dos de: Del Caz, Rosano; G1bosos, Pablo e Saravia, Manue · derechos humanos. Madri, Talasa, 2002. 50 .......n:i n E poiJTICA ARQUIT.t,l U ~'Y. diferentes lugares e de maneira variavel de acordo t b lh . , _ , com o ra a o a ser real,zado - tambem sao cada vez mais comuns. A CRITICA POS-MODERNA AO MORALIS MO MODERNO Com uma interpreta9ao retr6grada e reacionaria, David Watkin, em seu livro Moral e Arquitetura, 14 foi um dos primeiros a revelar as contradicoes da arquitetura moderna, dedicando-se a seguir o preconceito do mo,ralismo como base da arquitetura moderna, desde o neog6tico de Pugin ate as teo- rias de seu mestre Nikolaus Pevsner. Watkin questionou a confian9a no pro- gresso, na fun9ao social da arquitetura, na utilidade e na naturalidade, sem artiffcios e acrescimos superfluos, em que esta baseado nosso pensamento moderno em arquitetura; um pensamento iniciado, por um lado, por Pugin, Ruskin e Morris e, por outro, pelo positivismo tecnol6gico de Viollet-le-Duc e Lethaby e consolidado nas obras de Le Corbusier, Mies van der Rohe e Gro- pius, alem das teorias de Pevsner e Giedion. Essa crftica conservadora a modernidade e a alta tecnologia na arquite- tura e no urbanismo esta em sintonia direta com os argumentos que o prfn- cipe Charles da lnglaterra propoe desde a decada de 1980. E uma visao que se desenvolveu em polos contrapostos, desde o revival urbano de Rob Krier e do new urbanism ate a desconstru9ao arquitetonica de Peter Eisenman. Se uma das revisoes do moralismo moderno e representada pela visao conservadora de David Watkin, as crfticas progressistas procederam espe- cialmente do pensamento feminine (Hannah Arendt 15 e Maria Zambrano) e do design moderno feito por mulheres (Charlotte Perriand, Lilly Reich, Mar- garete Schutte-Lihotzky), alem da filosofia da Escola de Frankfurt. Em seu ensaio "Functionalism Today", Theodor W. Adorno 16 se lan9ou contra o puri- 14 Watkin, David. Morali!J and Architecture. Landres/Chicago, The University _of Chi~ago Press, 1977. D entro dessa visao conservadora e nostalgica tambem podemos situar Wit~ld Rybczynski e livros seus como Home: A Short History ef an Idea. H armo~dsworth, Pengum, 198 7 ( edic;:ao em portugues: Casa: pequena historia de uma ideia. Rio de J aneiro, Record, l 996). 15 Arendt H annah. The Human Condition. Chicago, University of Chicago Press, l 958 ( edic;:ao ' • · - 10a d Ri d J · 0 r 0 rense Universitaria 2004). em portugues: A condzfaO humana, e . o e aneir , r 1 ' 16 Ad Th d W "F · a1· .,, day" Q1hhositions n I 7 verao de 1979. Esse dis-orno eo or . unction ism .1 0 • rr , · ' . ' · · r · erado par Karsten Harnes em curso de critica ao puntarusmo contra o ornamento 101 recup The Ethical Function ef Architecture. Cambridge (Mass.), The MIT Press, 1997- 51 HIST6RIAS tanismo de Adolf Loos, que estigmatizava O orna t - . d . mento Ad tava que oar esao prec1sava e1xar a marca de seu t · 0 rno argu . b, t· t b, f d f rabalho rn men. s1m o 1co am em az parte o uncional e que O ser h anual, qu · , · d d · 'f' d umano p . e o tmuara prec,san o as s1gni tea as simb6licos. rec1sa econ- - , A AS TRADl~OES CRITICAS CONTEMPORANEAS Nas decadas de 1960 e de 1970, desenvolveu-se uma nova et' d. . . , . ica que pret ,a constru,r um proJeto cnt1co, especialmente na Italia d en- . . ' on e houve · renasc1mento do pensamento marx1sta que seguia as rafzes d E urn d . . . a scola de Frankfurt, a teona de Antonio Gramsc, e do pensamento est t . . . ru uralista expresso de mane1ras d1versas par autores como Manfredo Tafuri A ' R . G. . G . C l A · ' ldo oss1, 1org10 rass1 e ar o ymonmo. 17 Como heran9a da linha problematizadora da Escola de Frankfurt e de sua vertente de vanguarda negativa e niilista, surgiram as interpreta9oes de Peter Eisenman. Ao longo de sua produ9ao te6rica, Eisenman insiste que a arquitetura contemporanea, nao classica, tern de ser antifuncionalista,anti- -humanista e contraria a ideia de lugar. Em seu texto crucial "O fim do clas- sico"18, com um objetivo similar ao de David Watkin, Eisenman tentou destruir sistematicamente os tres grandes eixos da arquitetura moderna, considerados coma fic96es: a possibilidade de representa9ao (ou a possibi- lidade de transmitir significados), a a9ao da razao (ou precisao cientffica) e o sentido da hist6ria (Zeitgeist). Assim, chegamos ao momenta atual, em que predomina a figura este_lar, totalmente distorcida pelos meios de comunica9ao de massa, dos arquite- tos internacionais. Se os arquitetos mais destacados da decada de 1980, • G' · G ssi Carlo Aymo-como Hans Hollein, James Stirling, Aldo Rossi, 1org10 ra , , . spondendo a nino, Alvaro Siza e Rafael Moneo, respondiam e contmuam re . 0 . dos no ens1n um perfil de profissional acessfvel, boa parte deles enraiza . como universitario, com um estudio pequeno e artesanal, figuras atuais , o tificia Vni- C, . Bogota ron 17 Furtado, Gorn;alo. Detras del lapiz o la construcci6n del Proyecto ntzco. ' versidadJaveriana, 2005. E d of the · · the n d f th Begmrung, firn 18 Eisenman, Peter. "The End of the Classical: The En ° , e . . fim do corne~o, 0 End". Perspecta, v. 21, 1984 ( edic;ao em portugues: "0 fim do classico. ~ . teorica J 965-1995· • •t tu - a antoiogta do fun". In Nesbit, K. (org.). Uma nova agenda para a arquz e ra Sao Paulo, Cosac & Naify, 2006, pp. 232-252). 52 :B por,i'l'JC.fi ARQUIT~ Jean Nouvel, Norman Foster, Richard Rogers, Santiago Calatrava, Rem Koo- lhaas, Herzog & de Meuron, Zaha Hadid e Toyo Ito estao longe da universi- dade, trabalham de acordo com uma l6gica empresarial, com sua marca comercial, seus grandes estudios em diversas sedes e sua necessaria dependencia dos encargos atribufdos a eles pelas grandes corpora96es e dos favores dos meios de comunica9ao. 53 HIST6RIAS
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