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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Neuropsicopedagogia clíNica 
e o Neuropsicopedagogo
Elaboração
Luciana Raposo dos Santos Fernandes
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE ........................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1
INFLUÊNCIAS NEUROLÓGICAS, BIOFISIOLÓGICAS E PSICOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO 
HUMANO E ALGUMAS ABORDAGENS TEÓRICAS ............................................................................. 12
UNIDADE II
NEUROCIÊNCIA ................................................................................................................................... 20
CAPÍTULO 1
ENSAIO SOBRE A NEUROCIÊNCIA E A EDUCAÇÃO ................................................................. 20
UNIDADE III
O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... ................................................................................................... 28
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO COGNITIVA ........................................................................................................ 29
UNIDADE IV
NEUROPSICOPEDAGOGIA: O FUTURO ................................................................................................... 44
CAPÍTULO 1
QUE CÉREBRO É ESSE? ........................................................................................................... 44
CAPÍTULO 2
A ANCORAGEM ATRAVÉS DE ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................................... 58
CAPÍTULO 3
NEUROPSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E INCLUSÃO ........................... 77
UNIDADE V
AVALIAÇÕES NEUROPSICOPEDAGÓGICAS ................................................................................................... 94
CAPÍTULO 1
APANHADO GERAL ................................................................................................................. 94
PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 105
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 107
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
A neurociência invadiu nossas vidas!
Estamos vivendo um tempo de novas ciências!
A sociedade vai mudando, o ser humano vai mudando ou vai descobrindo novas formas 
de anomalias, problemas, dificuldades, principalmente na área cognitiva e isso faz com 
que haja necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias, novas metodologias e 
novas ciências.
Uma das ciências que nasceu de uma necessidade dessas foi a psicopedagogia. 
E, agora, com a necessidade de um conhecimento mais aprofundado na parte neurológica 
e psíquica da criança e do adolescente, surgiu, então, a neuropsicopedagogia.
De forma definitiva ela chegou e se instalou para ficar.
A neurociência tem relação direta com a vida cotidiana e, sobretudo a neurociência 
moderna, apresenta uma série de informações novas que são extremamente úteis para 
nossa vida.
A proposta é mostrar à sociedade, em geral, que cuidar de doenças, criar novos 
medicamentos, novas terapias, é apenas uma porção pequena do que a ciência e, 
sobretudo as neurociências, são capazes de fazer.
Bem, antes disso há todo o conhecimento que é gerado sobre nós mesmos.
Quem nós somos? 
Por que insistimos em nossos erros?
Por que preferimos chocolate a morango? Gatos a cachorros ou cachorros a gatos? 
Enfim, por que nossa vida tem esses detalhes tão ricos.
Vamos desvendar os caminhos da neurociência. E, acima de tudo, a neurociência do 
bem estar. Ou seja, o ser humano passou tanto tempo e tantas décadas se preocupando 
em entender o cérebro quando ele não está funcionando – o que é extremamente 
importante. Mas, hoje, conseguimos estudar também o cérebro saudável.
O que é um cérebro que tem satisfação, que tem capacidades, que tem habilidades 
interessantes, que vive em sociedade de uma maneira prazerosa e gratificante? Em que a 
8
neurociência pode contribuir com o bem estar e a qualidade de vida do cérebro normal? 
É isso que vamos desvendar em nossa disciplina.
A neuropsicopedagogia é uma área da ciência que veio complementar o estudo do 
desenvolvimento humano.
O neuropsicopedagogo irá auxiliar, diretamente, de acordo com a necessidade de casa 
um dos seus atendidos. 
Muitas vezes ouvimos professores e educadores comentar e relatar aos pais/responsáveis 
as dificuldades que determinados educandos encontram no processo de aprendizagem. 
É natural que crianças apresentem essas dificuldades. Primeiro, porque lidamos 
com a neurodiversidade. E devemos nos lembrar que cerca de 40% das crianças 
podemapresentar dificuldades na aprendizagem de diversas maneiras. Nós podemos 
encontrar crianças que apresentam algum transtorno ou dificuldades e distúrbios na 
aprendizagem. E cabe ao neuropsicopedagogo auxiliar diretamente essa demanda.
De que forma?
Ele pode ir até a sala de aula. Conversar com o professor e estabelecer uma troca das 
informações necessárias ao desenvolvimento do seu trabalho no dia a dia. E também 
atender no escopo da clínica.
O que é a neuropsicopedagogia? 
O que faz?
E quem é o profissional da neuropsicopedagogia?
Esses são temas para nossa disciplina.
9
Objetivos
 » Proporcionar uma formação ampla que passa pelo escopo dos conceitos 
das ciências neurológicas, psicopedagógicas, além da educação especial, 
deficiência intelectual e transtornos globais do desenvolvimento. 
 » Apresentar recursos e técnicas para que os profissionais estejam aptos a 
lidar com o desenvolvimento, o comportamento e a aprendizagem.
 » Oferecer aos profissionais complementação à sua formação inicial, face às 
crescentes dificuldades de aprendizagem encontradas nas escolas, tanto 
públicas quanto particulares, e outras instituições que estão envolvidas 
com os processos de ensino aprendizagem, relacionando os aspectos 
neurológicos. 
 » Formar especialistas para atuar nos enfoques clínico e institucional com 
base no enfoque neurológico do processo de aprendizagem. 
 » Elaborar pareceres de encaminhamento auxiliando a compreender o 
processo do ato de aprender na sua complexidade.
10
11
UNIDADE IDA CONCEPÇÃO À 
MATURIDADE
Conhecer em amplitude e profundidade e dominar o campo de conhecimentos teóricos 
e práticos proporcionado pela Psicomotricidade é determinante para a aprendizagem 
das crianças.
Assim, neste momento do curso, em especial, temos como objetivo fornecer um 
arcabouço teórico para que se entendam a evolução e o desenvolvimento do ser 
humano. Isso os levará a conhecer melhor seus alunos para que possam contribuir 
com o desenvolvimento saudável deles, uma vez que é na medida em que crescem e 
amadurecem que se desenvolvem do ponto de vista ontogênico e psicossocial.
Ao nos aprofundarmos na esfera de atuação da psicomotricidade, vocês poderão 
materializar um processo instrutivo muito mais eficiente e eficaz, ao explorar 
adequadamente o movimento, que constitui a pedra angular da psicomotricidade.
Os estudos e pesquisas das últimas décadas têm nos mostrado que o desenvolvimento 
motor da criança está intimamente relacionado com as suas dificuldades de aprendizagem, 
daí a importância do aprofundamento dessa parte teórica e de bases biológicas.
Estudos mostram que as causas das dificuldades de alguns alunos decorrem muitas 
vezes de dificuldades relacionadas ao desenvolvimento cognitivo e psicomotor, podem 
decorrer do trabalho do professor em sala de aula. Isso enfatiza a necessidade da 
educação psicomotora baseada no movimento, pois acredita-se que essa é preventiva, 
assegurando que muitos dos problemas de alunos, detectados posteriormente e tratados 
pela reeducação, não teriam ocorrido se a escola desse a devida atenção à educação 
psicomotora, juntamente com a leitura, a escrita e a aritmética.
12
CAPÍTULO 1
Influências neurológicas, biofisiológicas 
e psicológicas no desenvolvimento 
humano e algumas abordagens teóricas
A corporeidade e a motricidade são linguagens de uma só fala porque a motricidade é 
o vetor da identidade corporal. Assim, corpo e movimento humano são muito mais que 
um ato mecânico de deslocamento no espaço, um está para contido no outro através da 
história revelada na análise dos movimentos que o homem realiza ao longo do tempo.
Neste capítulo, veremos as influências da mãe no período pré-natal, o desenvolvimento 
perinatal e a primeira aprendizagem da criança, assim como analisaremos as influências 
biológicas, fisiológicas, neurológicas e psicológicas na motricidade humana.
Em linhas gerais, dando uma breve ilustração do que veremos neste tópico, temos que, 
desde a concepção, começa o processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento 
do ser humano (ontogenia), através dos três saltos qualitativos que acontecem dentro 
do berço materno: a fase zigótica, a fase embrionária e a fase fetal. Isso continua 
após o parto com os quatro períodos ou faixas etárias mais significativas dentro do 
crescimento, a maturidade e o desenvolvimento ontogênico e psicossocial de todo ser 
humano: o período neonatal (de 0 a 3 meses), o período lactente (de 3 meses e um dia 
aos 12 meses), o período da primeira infância (de 12 meses e um dia até os 36 meses) e 
o período pré-escolar (de 3 anos e um dia até os 6 anos).
Dentro desses quatro períodos de desenvolvimento, o ser humano internaliza 
conhecimentos altamente significativos para a vida e vai estruturando e desenvolvendo 
um sistema de habilidades imprescindíveis para a exteriorização dos cinco 
fenômenos-chave que representam o processo de crescimento, maturidade e 
desenvolvimento psicomotor:
 » Aprender a se movimentar para obter e alcançar, por si só, um fim 
determinado.
 » Aprender a falar para se comunicar autonomamente com os outros, 
começando a exercitar os processos de decodificação e codificação 
linguística.
 » Aprender a ler para independentemente internalizar as mensagens que 
enriquecerão seu conhecimento e seu saber.
13
DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE │ UNIDADE I
 » Aprender a escrever (demonstrando o domínio dos símbolos linguísticos), 
para poder criar e enviar mensagens comunicativas por meio da linguagem 
escrita.
 » Aprender a calcular para começar a manipular e explorar a linguagem dos 
números dentro das exigências perceptivas e lógicas do espaço e do tempo.
O núcleo central da psicomotricidade é o movimento, e o ser humano é o principal 
elemento da natureza onde se inter-relacionam o movimento biológico, fisiológico, 
psicológico e social.
A Dialética é a ciência que ressalta o papel das contradições como fontes do 
desenvolvimento. Se a criança não começasse a agir e/ou reagir (umas vezes sozinha, 
estimulada por alguma coisa que lhe chama a sua atenção; outras, estimulada por outras 
crianças ou pelos próprios adultos que ficam à sua volta, eliminando assim a contradição 
entre o desconhecido e o conhecido do ponto de vista motriz), ficaria passivamente deitada 
toda sua vida, e o processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento ontogênico 
(que é bioneurofisiológico) e o psicossocial (que é eminentemente afetivo, cognitivo, 
motivacional e volitivo), em inter-relação dialética, jamais aconteceria de forma efetiva.
A Dialética concebe uma concatenação histórica em cada um dos fenômenos que 
estruturam a realidade. Para a dialética, tudo se dá a partir dos fatos mais simples 
aos mais complexos e todo o novo e superior começa, aparece, se estrutura a partir do 
“bom” que “todo o velho possui”. É por isso que o movimento da criança, que constitui 
sua primeira aprendizagem, começa a partir da realização das mudanças de posição 
mais simples, no próprio berço, até se sentar autonomamente, engatinhar, levantar-se, 
andar etc., exteriorizando assim as manifestações de sua independência.
O caminho da Neuropsicopedagogia passa necessariamente por algumas análises 
preliminares como o desenvolvimento ontogênico humano e como os saltos qualitativos 
vão acontecendo à medida que o ser humano cresce, matura e se desenvolve.
É imprescindível começar o estudo a partir da essência do desenvolvimento ontogenético 
humano porque a aprendizagem, em qualquer uma de suas manifestações, está sustentada 
nas peculiaridades biofisiológicas do sistema nervoso da pessoa que aprende.
Ontogênico vem de ontogenia que é uma série de transformações sofridas pelo 
indivíduo desde a fecundação do ovo até o ser perfeito.
O desenvolvimento ontogênico de todo ser humano começa dentro do útero materno e, 
depois de executada a concepção, este novo ser que se cria, passa por três momentos-chave 
14
UNIDADE I │ DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE
em seu período evolutivo: a fasedo zigoto (a mais simples, mas de notada importância, 
porque ela é a que abre o caminho onto-evolutivo de todo ser humano); a fase do 
embrião (superior ao zigoto), onde aparecem as três capas ou estruturas biofisiológicas: 
a endoderme (a mais interna), a mesoderme (a capa média) e a ectoderme (a capa 
externa), a partir das quais se estruturam todos os órgãos e sistemas do corpo humano; 
e a última fase, a fetal, na qual todo ser humano em evolução intrauterina adota a 
estrutura morfológica e fisiológica típica da espécie (STOLTZ, 2011; TARRAU, 2007).
As células embrionárias se diferenciam em três grandes grupos:
1. As células somáticas que darão origem a todos os órgãos e sistemas que 
estruturam o corpo (com exceção do sistema reprodutor e do sistema 
nervoso), especializando-se posteriormente para formar cada uma das 
partes específicas do total: músculos, ossos, tendões, ligamentos, artérias, 
veias, vasos capilares, coração, pulmões, brônquios, bronquíolos, 
traqueia, fossas nasais, rins, ureteres, bexiga, uretra, fígado, vesícula, 
pâncreas, suprarrenais, estômago, intestinos, ânus, boca, dentes, pele, 
unhas. As células somáticas possuem funções especiais que garantem e 
asseguram a materialização de todo o processo metabólico do organismo.
2. As células nervosas, as quais estruturarão toda a massa encefálica com 
seus órgãos mais significativos: cérebro, cerebelo, corpo caloso, bulbo, 
medula, nervos cranianos, nervos periféricos, analisadores ou órgãos dos 
sentidos.
3. As células sexuais, as quais terão a responsabilidade de determinar o 
gênero sexual de cada ser humano e garantir a perpetuação da espécie 
humana, após o processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento 
genital e hormonal.
A última fase que atravessa o ser humano dentro do útero materno é a fase fetal. Esta 
fase é posterior ao embrião. Na fase embrionária, já nos convertemos biológica e 
fisiologicamente num verdadeiro ser humano, portador de todos os órgãos e sistemas 
responsáveis por manter a vida após o parto; porém, obtemos a verdadeira morfologia 
(forma) humana, típica de nossa espécie, apenas na fase fetal.
O desenvolvimento ontogênico intrauterino (bio-fisio-neuro-cortical-motriz) é marcado 
por três momentos-chave desse processo: o germinal ou zigótico (da concepção até a 2a 
semana – de forma geral), o embrionário (da 2ª semana até a 8ª ou 12a aproximadamente) 
e o fetal (até o nascimento). Esses momentos são direcionados pelo princípio reitor 
que organiza bio-fisio-neuro-corticalmente o novo ser, o qual continua seu desafio pela 
vida; pelos princípios céfalo-caudal e próximo-distal, assegurando-se, desta forma, a 
15
DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE │ UNIDADE I
formação do eixo central a partir da região cefálica - que se estende até a região caudal. 
Isso torna o recém-nascido humano dependente quase absoluto de suas mães, pelo fato 
de que a maturidade de nossas extremidades, e, em especial, das inferiores, é a última 
que acontece (TARRAU, 2007; TELES, 1983).
Essa maturidade acontece mais intensamente depois do nascimento, devido ao fato de 
que o cerebelo, um órgão importante na motricidade, completa sua maturidade após o 
parto, especificamente dentro do primeiro ano de vida da criança.
Nesse processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento intrauterino, a evolução 
fetal e a herança paterna e materna não bastam para garantir um desenvolvimento 
positivo. Existem outros fatores que podem impedir uma evolução intrauterina eficaz 
e eficiente, restringidos todos eles basicamente aos processos metabólicos da mãe, que 
é a encarregada de oxigenar, nutrir e fazer possível a eliminação das sustâncias tóxicas 
do filho que se desenvolve na suas entranhas, onde as características estruturais e 
bioquímicas da placenta são determinantes, porque é esta a que serve de intermediária 
entre o metabolismo materno e o metabolismo do novo ser intrauterino que cresce, 
matura e se desenvolve (VAYER, 1982).
No útero materno, deve-se levar em conta muitos fatos que vão influenciar na estrutura 
orgânica, bioquímica, neurocortical e fisiológica da futura criança. Por exemplo: até a 
posição que adota o feto no útero materno influencia, porque está provado que a pressão 
que recebe o feto nas extremidades dos ossos influencia sobre sua ossificação, o que 
serve como um argumento a mais para ressaltar a importância do processo evolutivo 
que acontece nos seres humanos enquanto moramos no berço materno. 
Se todos estes fenômenos biológicos, fisiológicos, nervosos, corticais e motrizes acontecem 
dentro das exigências vitais correspondentes (enquanto durar o processo da gravidez), 
estarão criadas as condições intrauterinas necessárias para que o novo ser, que está se 
desenvolvendo, possa nascer sem nenhum problema somático, neuro-fisiológico ou sexual, 
que possa influenciar seu futuro desenvolvimento psicossocial.
Mas está faltando um fato que é portador de uma responsabilidade altamente significativa 
na influência positiva do desenvolvimento neuro-córtico-psicossocial futuro da criança 
que luta e enfrenta o desafio para nascer: o parto.
Se o parto é natural e acontece em seu tempo terminal normal (nem antes, nem depois), 
estarão criadas as condições satisfatórias para que a criança possa ter um processo de 
crescimento, maturidade e desenvolvimento bio-fisio-psicossocial satisfatório e sua 
psicomotricidade poderá se desenvolver no tempo requerido e da forma adequada.
16
UNIDADE I │ DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE
As contrações uterinas finais, típicas de um parto natural, que são extremamente agudas 
(de forma geral) e geralmente aparecem depois da ruptura dos âmnios, assim como a 
saída apertada do feto através da abertura pélvica da mãe, são variáveis determinantes 
que repercutem satisfatoriamente sobre a saúde da criança. Elas contribuem para a 
limpeza de seu trato respiratório, onde podem existir substâncias tóxicas contidas no 
líquido amniótico (produto do próprio metabolismo do feto), que, no útero materno, 
entra e sai dos pulmões do feto, preparando os músculos respiratórios para a sua função 
principal futura: a ventilação pulmonar, que também é determinante no processo de 
crescimento, maturidade e desenvolvimento psicomotriz da criança.
Após o parto, a evolução ontogênica de toda criança continua produto do crescimento, 
maturidade e desenvolvimento biofisiológico dela. Por volta dos 4, 5 ou 6 anos, acontece 
um fato que anuncia que este desenvolvimento está acontecendo adequadamente: 
as crianças começam a mudar a sua dentição de leite e a trocar esses por dentes 
permanentes que a acompanharão por toda a sua vida (sempre e quando tenha uma 
adequada assepsia bucal e não seja afetada por um acidente ortodôntico). Este fato 
demonstra que o processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento, do ponto de 
vista biofisiológico e, também, ontogênico, está acontecendo em plena forma.
Por volta dos 11, 12, 13 ou 14 anos (na maioria dos casos), acontece um dos fenômenos 
mais significativos dentro do desenvolvimento ontogênico: a aparição dos caracteres 
sexuais secundários de cada sexo e, o mais importante desse fenômeno, a aparição 
dos caracteres sexuais primários, na qual o homem começa a ejacular e a mulher a 
ovular; tornando-se ambos aptos (mas ainda imaturos) para a reprodução. Esse fato é 
extremamente importante porque, a partir desse momento, os seres humanos púberes 
ou adolescentes já adquirem um soma muito similar ao soma típico dos seres humanos 
adultos, embora ainda não esteja terminado seu desenvolvimento ontogênico.
Devido aos novos e extraordinários aportes que a cibernética, e, em especial, a neurociência, 
têm colocado à disposição dos especialistas e entendidos: o ultra-som, a tomografia 
computadorizada e a ressonância magnética (basicamente), sabe-se cientificamente 
que, nos primeiros cinco anos de vida do ser humano, o cérebro (principal órgão do 
psiquismo) alcança 95% de seu volume (o que demonstra um processo de crescimento 
e desenvolvimento altamentesignificativo dentro dos primeiros cinco anos de vida) e 
os restantes 5% demoram outros 30 anos para chegar a seu completo volume e a sua 
adequada maturidade. Por essa razão, a aprendizagem formal da psicomotricidade e 
todas as suas exigências deverá acontecer dentro dos primeiros 6 anos de idade de uma 
criança, porque é nesse período que o sistema nervoso possui melhores possibilidades 
para trabalhar, devido ao grau de crescimento, maturidade e desenvolvimento que ele 
tem alcançado (VAYER, 1982; 1988; RELVAS 2010b).
17
DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE │ UNIDADE I
Pesquisas demonstram que até os 35 anos a pessoa está dentro de um período ainda jovem 
do ponto de vista cerebral, somático e sexual. Esta categoria evolutiva (juventude) está 
determinada basicamente pelo processo de maturidade. Então, enquanto exista um órgão 
em processo de maturidade, a pessoa é jovem biofisiologicamente. Consequentemente, 
tudo o que seja feito em matéria de aprendizagem dentro da juventude é desenvolvido 
com menos dificuldades, sempre e quando estejam bem estruturados os sistemas 
cognitivo, emocional e motivacional na pessoa que está querendo aprender. Por isso, 
enquanto a pessoa está atravessando a caminhada de seus primeiros 35 anos de vida, 
todos os processos psicomotoress que ela manifeste deverão ter muito mais qualidade 
que os processos psicomotores materializados por uma pessoa maior de 35 anos.
Análises permitem considerar que o desenvolvimento ontogênico (analisado por 
meio de uma concepção mais reflexiva do conceito) ocorre até o término do processo 
de maturidade de nosso cérebro, o qual constitui o regente principal e a usina básica 
onde atuam 100 bilhões de neurônios (mais ou menos). Esses neurônios estão 
inter-relacionados por meio de mais de 100 trilhões de circuitos que permitem 
estruturar, desenvolver e manifestar as peculiaridades dos processos psíquicos que 
caracterizam as peculiaridades da cognição, da afetividade, da motivação e da vontade 
da personalidade. Entretanto, essa maturidade cerebral não está concluída até os 35 
anos de idade (SCOZ, 2002).
Os outros saltos qualitativos que caracterizam o desenvolvimento ontogênico do ser 
humano são:
1. A concepção-fertilização do óvulo pelo espermatozoide, que é possível 
com e por meio do movimento.
2. A aparição do zigoto, que é possível com e por meio do movimento.
3. O surgimento do embrião a partir dos aportes novos e superiores do 
zigoto; o que é possível com e por meio do movimento.
4. A presença do feto, a partir dos aportes novos e superiores do embrião 
fato que também é possível com e por meio do movimento.
5. O acontecimento do parto; que é possível com e por meio do movimento.
6. O acontecimento de a criança ajoelhar-se e o fato de começar a engatinhar, 
o que marca a primeira manifestação de independência autônoma dela o 
que é possível com e atr por meio avés do movimento.
7. O fato de a criança sozinha ficar de pé equilibradamente e começar a dar 
os seus primeiros passos até que se consolide o processo de andar; que 
também é possível com e por meio do movimento.
18
UNIDADE I │ DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE
8. A manifestação da mudança dos dentes de leite pelos dentes permanentes; 
que é possível com e por meio do movimento.
9. A manifestação da puberdade ou aparição dos caracteres sexuais 
secundários e primários; o que é possível com e por meio do movimento.
E, depois dos 35 anos, o que acontece? Depois dos 35 anos, o ser humano está dentro 
de seu período de fertilização ótima, no que se refere à matéria de aprendizagem 
especializada, mas este período de fertilização ótima é influenciado por dois fenômenos 
psicossociais:
1. A existência de verdadeiros interesses cognitivos.
2. A materialização de sólidos processos afetivo-motivacionais direcionados 
para o processo de aprendizagem, basicamente, quando se tratar da 
aprendizagem de operações e ações motrizes, porque este tipo de 
aprendizagem requer esforços fisiológicos e psíquicos; mas, para ser 
preciso, não existe idade que resista ao interesse para o aprendizado.
As ideias apresentadas ao longo do texto, até o momento, nos levam a afirmar que, 
quando o ser humano tem um processo de crescimento, maturidade e desenvolvimento 
ontogênico satisfatório, estão criadas as condições bio-neuro-fisiológicas para aprender 
com mais eficiência e eficácia, sempre e quando os interesses cognitivos e a motivação 
afetiva sejam satisfatórios, estejam bem estruturados na consciência da criança, do 
adolescente, do jovem, do adulto, da pessoa idosa. Entretanto, quando, no processo 
ontogênico do ser humano, se apresentam deficiências ou falhas genéticas, ou quando 
acontece um problema neurofisiológico após o nascimento de um ser humano, se a 
pessoa afetada tem interesses cognitivos bem definidos, fazendo um pouco mais de 
esforço, o processo de aprendizagem poderá ser desenvolvido satisfatoriamente em 
correspondência com a incidência das magnitudes das falhas genéticas ou dos problemas 
neurofisiológicos que se apresentarem em ditos seres humanos após o parto (TARRAU, 
2007; REED, 2004).
Sem a aprendizagem motriz, ninguém aprende a ler satisfatoriamente, porque, para 
ler, é necessário estruturar e desenvolver a percepção temporal (uma letra antes ou 
depois da outra, para integrar as sílabas; uma sílaba antes ou depois da outra, para 
integrar as palavras; uma palavra antes ou depois da outra para integrar as frases). 
Do mesmo modo, é necessária a percepção espacial (as letras têm uma parte superior 
e uma inferior; as linhas têm um princípio e um final; os parágrafos têm um começo 
e um ponto final). Também é imprescindível a influência da lateralidade: as letras, os 
símbolos têm uma parte direita e outra esquerda; uma parte superior (acima) e outra 
inferior (abaixo); sempre o movimento dos olhos no sentido decodificador se realiza 
19
DA CONCEPÇÃO À MATURIDADE │ UNIDADE I
da esquerda para a direita e depois retorna ao começo da seguinte linha. Sem uma 
adequada orientação espaço-temporal, ninguém poderá aprender a ler com a fluidez 
adequada.
A questão da lateralidade ocorre obviamente pelo prisma cultural.
Exemplificando:
Nas línguas ocidentais, em árabe e japonês é ao contrário. Inclusive em japonês 
a página é virada ao contrário.
Contudo, como vivemos no Brasil, e lidamos com a realidade de aprendentes 
alfabetizados na Língua Portuguesa, o texto se refere ao nosso idioma. 
20
UNIDADE IINEUROCIÊNCIA
A forma de pensar o processo de aprendizagem trazendo um impacto no cotidiano. 
Esta é uma das formas como podemos apresentar a neurociência. 
Uma ciência que influencia de forma extremamente funcional o cotidiano de trabalho 
do profissional. 
A forma como o neuropsicopedagogo vai olhar o seu atendido e pensar estratégias 
pedagógicas mais eficientes e até refletir acerca do motivo de determinadas estratégias 
não funcionarem. 
CAPÍTULO 1
Ensaio sobre a neurociência 
e a educação
A neuropsicopedagogia é um campo de estudo voltado para as relações entre o cérebro, 
a cognição e o comportamento. Trata-se, portanto, de um campo científico que engloba 
diversas áreas da neurociência como a neuroanatomia, a neurofisiologia, a neuroquímica e 
a neurofarmacologia, dentre outras. No âmbito da atuação profissional do psicólogo, a 
neuropsicopedagogia exige um vasto campo de conhecimento, pois engloba conceitos 
e técnicas da psicometria, da psicologia clínica, da psicologia experimental, da 
psicopatologia e da psicologia cognitiva. Na prática clínica, este profissional é procurado, 
principalmente, para avaliar e/ou reabilitar alterações cognitivas e comportamentais 
resultantes de lesões cerebrais. 
A avaliação neuropsicopedagógica é conduzida por meio da aplicação de observação 
e ferramentas que procuram descrever a habilidade cognitiva do indivíduo avaliado e 
compará-la com padrões pré-estabelecidos de normalidade. De modo geral, o propósito 
da avaliação com o neuropsiopedagogo clínico é estabelecer a relação entre atividadescomportamentais e o funcionamento cerebral. Nesta avaliação, são testadas funções 
cognitivas, tais como: memória, atenção, linguagem, funções executivas raciocínio, 
habilidades motoras e visuo-espaciais, bem como as alterações emocionais e de 
21
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE II
comportamento. Entretanto, para que o neuropsicopedagogo possa alcançar o objetivo 
da avaliação, não basta aplicar e pontuar quesitos. É preciso conhecer as regiões 
cerebrais envolvidas nos aspectos comportamentais e nas funções cognitivas e também 
ter noções de neuropatologia para não incorrer em suspeitas diagnósticas incorretas e 
sugestões de tratamentos desnecessários (PORTO, 2009; PURVES, 2005; SÁNCHEZ-
CANO, 2008).
No Brasil é recente o reconhecimento da neuropsicopedagogia como área de atuação 
profissional, mas a demanda pela sua atuação, seja para avaliação ou reabilitação, vem se 
mostrando crescente. Uma das principais causas deste crescimento é o envelhecimento 
da população que vem ocorrendo em nosso país nos últimos anos. Esse fato gera um 
aumento na incidência de patologias neurológicas relacionadas ao aumento da idade. 
Desse modo, em nossa disciplina iremos enfatizar a avaliação de forma ampla – pois 
o neuropsicopedagogo clínico pode voltar seu olhar para a avaliação de adultos e 
idosos, existindo a necessidade de compreensão das principais desordens que levam 
à busca pela avaliação neuropsicopedagógica nestas faixas etárias (OLIVIER, 2008; 
POPPOVIC, 1972). 
Assim, a apresentação dos objetivos e instrumentos de avaliação neuropsicopedagógica 
é feita de forma a contemplar e discriminar a utilização em diferentes fases do 
desenvolvimento.
O nosso cérebro se desenvolveu durante a evolução com a propriedade, a capacidade de 
aprender coisas diferentes – aprender novos comportamentos. 
Qual o motivo dos seres humanos apresentarem essa capacidade?
Adquirir novos comportamentos melhora a nossa chance de adaptação a um determinado 
contexto e, ao se adaptar melhor, é possível sobreviver. Então, na verdade, os humanos 
aprendem determinadas coisas para poder ter chances de sobreviver, para viver melhor, 
para resolver os problemas que aparecerem. Assim, a lógica da aprendizagem precisa 
ter essa meta.
Exemplificando:
O aluno vai ficar motivado à medida que seu professor conseguir dar significado 
para aquilo que está compartilhando com o aluno, para aquilo que ele está 
querendo ensinar ao seu aluno. 
No momento em que o aluno compreender, perceber que o que está sendo 
apresentado tem relação com a vida dele, ou seja, apresenta um sentido para 
ele, o aluno passa a ser motivado, aderindo ao processo de aprendizagem. 
22
UNIDADE II │ NEUROCIÊNCIA
Isso não é simples!
As pessoas podem deduzir que seja algo relativamente fácil. Entretanto, o professor já 
passou por essa situação. Ele já esteve na situação de ser aluno, aprendente, educando. 
Todos nós professores tivemos, em algum momento de nossas vidas, a escola como o 
único lugar onde obtínhamos conhecimentos, a menos que a pessoa possuísse uma 
enciclopédia em sua casa, fato que há 30 anos já era raro.
Hoje em dia, não!
Pela internet, pela própria televisão (que mesmo tendo cada vez menos expectadores, 
ainda é assistida), e, prioritariamente, pelo celular, temos acesso a um universo de 
conhecimentos – muitas vezes mais conhecimentos do que a própria escola propicia. 
Acessamos conhecimentos que são mais úteis para o dia a dia.
Assim, se o cérebro funciona com a intenção de nos ajudar a resolver nossos problemas, 
de nos adaptar melhor ao ambiente, é claro que o aluno vai ficar mais motivado para 
os assuntos, os conteúdos que são relacionados à vida dele. E nem sempre o professor 
consegue fazer isso. 
É um desafio grande para o professor. 
Não queremos com essa fala sugerir que o professor tem que ensinar aquilo que o aluno 
quer. Mas, alertar que o professor tem que descobrir uma forma do aluno compreender 
e dar significado para aquilo que ele está apresentando.
Uma contribuição que as neurociências têm trazido é entendimento do funcionamento 
cerebral – e queremos deixar muito claro que a neurociência não traz uma educação 
nova, um novo jeito de aprender. Não é nada disso! O nosso cérebro aprende da mesma 
forma que aprendia anos atrás. 
Retomando o nosso raciocínio sobre o funcionamento cerebral: à medida que o 
compreendemos, entendemos melhor algumas teorias da educação. Piaget, Vygotsky, 
Paulo Freire, Wallon... são pensadores que apresentam conceitos e discutem aspectos 
da educação, boa parte dos quais apresenta respaldo da neurociência. Outros, podem 
ser até criticados e podem ser reelaborados com base nos conhecimentos que temos 
da psicologia cognitiva – de como o cérebro funciona. Esse fato acontece em qualquer 
teoria. Nenhuma teoria é 100% exata.
Quando um aluno da graduação em pedagogia, por exemplo, tem a 
possibilidade de entender as bases do funcionamento cerebral e ler esses 
teóricos, esse aluno fomentará um diálogo entre os teóricos da educação e as 
23
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE II
bases neuropsicológicas ou neurobiológicas da aprendizagem. E há um imenso 
proveito nesse movimento. 
Então quando Paulo Freire discutia a questão da aprendizagem significativa, “aquilo 
que dá sentido”, obviamente isso é profícuo ao processo de aprendizagem. Vejam, não 
estamos dizendo que é “só isso” que é importante, mas corroborando com a legitimidade 
da importância. Temos que pensar que existem alguns conteúdos que são muito 
complexos para uma aprendizagem sem nenhuma ajuda. Por exemplo, quando falamos do 
construtivismo – uma metodologia mais exploratória, na qual o educando vai percebendo 
o ambiente e a partir de então constrói seu conhecimento, devemos ficar atentos ao fato 
que existem alguns conteúdos que requerem uma ajuda “mais formal” para que sejam 
aprendidos, então precisa existir uma mediação (LENT, 2002, 2010; LIEURY, 1997). 
Estamos em uma época em que as várias áreas do conhecimento precisam dialogar entre 
elas. Não podemos cair no erro de achar que a neurociência vai desbancar, por exemplo, 
teorias da filosofia, da educação, do direito, da economia... Mas, à medida em que essas 
áreas estudam ou abordam o comportamento humano, existem conhecimentos sobre 
o comportamento humano que podem fazer algumas modificações em outras áreas 
do conhecimento que são mais voltadas para a área de ciências humanas. Entretanto, 
na verdade, quando estudamos algo humano estamos estudando o comportamento 
(LIDEN, 1993).
Atualmente existe uma área da neurociência que estuda duas questões: a Ética em 
neurociência e a Neurociência da ética. Ou seja, o que faz um indivíduo ser ético? 
Existem indivíduos que são pessoas ótimas, se comportam adequadamente, 
têm seus princípios éticos etc.; mas sofrem um traumatismo craniano e passam 
a se comportar de forma inadequada. Ou seja, não seguem mais os princípios 
éticos que seguiam. O que aconteceu?
Quer dizer, existem áreas cerebrais que são responsáveis pelo julgamento moral, levando 
em consideração o valor das coisas, que fazem com que as pessoas sejam capazes de 
tomar decisões – ou melhor, influenciam as decisões que o indivíduo toma. Ou seja, 
áreas que estão envolvidas na tomada de decisão. 
Então, sabemos que existem características do funcionamento cerebral que vão acabar 
tendo implicação no que chamamos de ética. Naquilo que consideramos como ética. 
Outra questão, por exemplo, é o direito. Sabemos que existem pessoas que possuem 
transtornos mentais e que esses transtornos mentais impedem que a pessoa tenha uma 
reflexão exata sobre a dimensão do ato criminoso que ela praticou, de forma que o 
indivíduo não consegue refletir sobre o que fez. 
24
UNIDADE II │ NEUROCIÊNCIA
Esse indivíduo será considerado criminoso ou não?
Essas questões devem ser colocadas em uma mesa de discussão em que todas as áreas 
do conhecimento discutem conjuntamente. 
Surgirão mais contribuições para esclarecimento e talvez novos posicionamentos de 
uma áreae de outra, pois a neurociência não veio para determinar o funcionamento 
das outras áreas.
A forma como nos comportamos está ligada a uma rede de células nervosas que se 
estruturou com base em nossa genética, mas que é modificável dentro de determinados 
limites pela interação com o ambiente. É necessário saber que essa rede tem algumas 
regras de funcionamento. Saber que as conexões entre as células nervosas podem ser 
reforçadas, significa que o indivíduo terá memórias sobre as experiências que vivenciou, 
sobre determinados conteúdos, mas que essas conexões também podem ser desfeitas, 
desbastadas. (MACHADO, 2006). Isso representa os nossos esquecimentos.
Aquilo que memorizamos, aquilo que mantemos como comportamentos que levamos 
ao longo da vida é resultado de uma memória baseada nas entradas que ocorreram, 
nos estímulos que foram dados e que permanecem mantendo as redes neurais em 
funcionamento. Se, por algum motivo, essas redes deixam de ser ativadas perde-se 
determinado comportamento – ou boa parte do comportamento (McCRONE, 2002; 
OLIVEIRA, 2003).
Outra questão muito importante dá conta da organização que nosso cérebro tem e que 
possui uma contribuição importante das interações ambientes, pois não faz julgamento 
de valor. O que queremos dizer com isso? O cérebro se reorganiza com estímulos que 
são bons ou que não são bons. Então, é possível ajudar uma pessoa a desenvolver seus 
comportamentos para o bem e para o mal. 
Isso faz com que toda a área de conhecimento que trabalha com interação social se 
beneficie do conhecimento das bases neurobiológicas, do funcionamento cerebral. Afinal, 
quando pensamos na sociologia, na antropologia, na educação, precisamos lembrar que 
estamos trabalhando com um indivíduo que tem uma estrutura orgânica que está por 
traz daqueles comportamentos. Os nossos comportamentos não ocorrem em outras 
dimensões – até onde a ciência sabe – que não seja esse equipamento neural que temos. 
A grande diferença dos processadores usados em computadores é que essa rede tem um 
dinamismo, ela se modifica cotidianamente.
A pessoa que deseja aprender algo precisa, via de regra, dedicar energia e atenção para 
aquilo que busca. Algumas pessoas comentam que é muito difícil prestar atenção em 
25
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE II
duas coisas ao mesmo tempo. E realmente é! Até é possível distribuir a atenção, mas 
sempre é perdido algo do conteúdo quando, por exemplo, se fala ao celular e dirige. 
Ou seja, a pessoa fala ao celular e dirige. Dirige e fala ao celular. Entre a alternância 
de tarefas, parte das informações é perdida. Tanto que alguns detalhes do trânsito são 
perdidos – isso pode justificar os acidentes causados pelo uso do celular enquanto se 
dirige? Fato que é proibido! Como são perdidos (ou sequer registrados) alguns detalhes 
da conversa? Isso faz com que seu cérebro processe de forma pior ou não tão eficiente 
cada um desses estímulos que a pessoa tem simultaneamente (LEITE, 1991). 
Então, se o indivíduo está assistindo uma aula e seu celular está vibrando, essa distração 
compromete as informações que se recebe naquele momento. 
Deste modo, prestar atenção é uma regra!
É necessário fazer uma opção. Tudo se trata de fazer uma escolha.
Outra questão é: não existe aprendizagem quando não há reevocação da experiência 
que você teve. 
Ou seja, o professor está explicando algumas questões sobre neurociência, mas 
se o aluno não pensar sobre isso, não ler novamente, conversar, recontar para 
alguém, trocar ou buscar novas informações, isso não vai ficar no seu cérebro! 
Não vai ser transformado em memória. Então, é preciso entender que há gasto 
de energia, de tempo de dedicação para a tarefa de aprender. Assim, se não há 
um interesse em obter um determinado conhecimento, é necessário repensar 
essa opção. 
Logicamente, há uma grande diferença entre o aprendiz que está na Educação 
Básica e aquele que já ingressou no Ensino Superior, por conta da maturação 
neural, por conta das escolhas que são feitas e das expectativas. 
Assim, espera-se que a aluno do curso superior seja motivado a se engajar em 
um curso, pois ele possui interesse em obter um conhecimento que o auxilie 
a se tornar um profissional mais habilitado, com mais competências para 
determinadas tarefas. Ou seja, o estudante universitário precisa se orgulhar em 
ser melhor do que ele era anteriormente. E ele precisa ter isso como meta e não 
ter como meta apenas passar em uma disciplina ou se graduar. Esse aluno precisa, 
ao se formar, dizer “eu sou muito melhor, eu sei muito mais, eu sou muito mais 
competente e consigo resolver muitas outras questões, do que eu conseguia 
anteriormente”. Essa é uma aprendizagem consolidada. Não há dúvidas em 
relação ao que foi aprendido pelo indivíduo (FIALHO, 2001; FONSECA, 1995, 
2009; FIORI, 2008). 
26
UNIDADE II │ NEUROCIÊNCIA
Em nossa opinião, nem todas as pessoas têm necessariamente esse objetivo. 
Elas podem ter outros objetivos na vida e isso demanda uma reflexão de opções 
que precisam ser feitas. 
Agora, a questão da educação básica é uma responsabilidade das pessoas envolvidas 
formalmente com o processo, dos pais, do governo etc., de dar condições àquela população 
de ter habilidades (skills) suficientes para que possa se transformar em cidadãos que 
possam exercer seus direitos, cumprir com seus deveres, ter uma interação social de 
qualidade. Se é uma cultura, por exemplo, que tem escrita, possibilitar que o indivíduo 
possa aprender a ler e a escrever pois isso traz vantagens de adaptação e sobrevivência.
Então, a criança ou o adolescente que está na educação não está ali, necessariamente, 
porque foi a opção de vida que tomou. É bastante diferente. Neste caso é necessário 
haver um envolvimento importante da família, um estímulo da comunidade à qual esse 
indivíduo pertence, da sociedade como um todo, em valorizar o esforço que esses alunos 
empregam na escola. No cotidiano, é importante dizer a um pai que está com seu filho 
ou filha na fase de alfabetização, que todos os dias, ao chegar da escola, é essencial que 
ele pergunte para a criança “o que ela aprendeu naquele dia”.
Exemplificando: o pai pergunta a seu filho o que ele aprendeu a ler na aula daquele 
dia. Qual foi o conteúdo? Vamos pegar o livro, filho, para que você me mostre o que 
foi aprendido hoje? Mas, todo esse movimento é sem tom de julgamento. Sem crítica. 
Sem colocar defeitos nas realizações da criança. E também não é uma obrigação. 
Ao contrário, é para ser um momento de troca e de valorização do conhecimento. “Olha 
você já consegue ler o cardápio do restaurante”. Isso aí! Parabéns, filho! Parabéns, filha! 
Você já sabe o que está escrito aqui e pode fazer suas escolhas. 
Essa fala faz com que esse aprendiz entenda que o fato de estar aprendendo coisas novas 
está tornando-o uma pessoa de maior inclusão na sociedade, com maior possibilidade 
de escolhas. Isso é extremamente importante!
Muitas vezes, a aprendizagem é baseada em projetos, em algo que o aluno não exerce.
Outra questão da neurociência que é muito importante: os professores ensinam muitos 
conteúdos, contudo, o cérebro que aprende é o cérebro que deve estar funcionando. 
Então, em uma sala de aula, é muito estranho que só o professor fale. Deveria ser 
exatamente o contrário, quem está ali para aprender é quem mais deveria estar 
funcionando em uma sala de aula. O professor deveria ser um orientador.
Sugestão de literatura para aprofundar o tema desse capítulo:
Livro: Neurociência e Educação
27
NEUROCIÊNCIA │ UNIDADE II
Aurores: Ramon M. Consenza e Leonor B. Guerra.
Editora Artmed, 20011.
Neste livro vocês encontraram um vasto material com as bases neurobiológicas 
da aprendizagem e escrito em uma linguagem extremamente acessível 
para o público, em geral. Esse fato colabora, inclusive, com que vocês, como 
profissionais, possam indicá-los aos pais, professores e demais atendidos que 
tenham condições de usufruir desse rico conteúdo. 
Acima de tudo,a escrita desse livro foi baseada na experiência que os autores 
tiveram com os professores. Então, à medida que ocorriam trocas e conversas 
com os professores, os autores percebiam a melhor forma de construir um texto 
para ser usado visando explicar e apresentar esse assunto aos educadores e ao 
público em geral, quebrando, assim, um importante paradigma. 
Como sugestão segue outro livro, também da Editora Artemed, chamado Por 
que os alunos não gostam da escola? (2011) 
Autor: Daniel T. Willingham
Também recomendado por ter uma linguagem bastante fácil, mas que traz 
muitas questões das estratégias pedagógicas. Então, não é um livro que interesse 
para qualquer público, sendo mais direcionados aos profissionais. 
A outra publicação que percebemos como extremamente profícua para 
o aprofundamento, é uma revista chamada Neuro Educação da Editora 
Seguimento que apresenta cerca de quatro números por ano e aborda vários 
assuntos da área das neurociências, fazendo uma interface com a educação e a 
aprendizagem.
Espero que gostem das sugestões!
E aproveitem a leitura.
Deixamos aqui a importância do feedback de cada um de vocês. Afinal, nossa 
disciplina é uma construção do coletivo. 
28
UNIDADE IIIO COMEÇO DE UM 
NOVO TEMPO...
Compreender melhor como funciona o nosso cérebro.
Entender quais conexões são feitas na aquisição de conhecimentos. 
São fatores que se tornam grandes aliados no processo de aprendizagem. É o que 
apontam os especialistas que se dedicam a estudar a neuroeducação.
A neurociência é o conjunto de várias áreas do conhecimento que estudam o sistema 
nervoso. Desse modo, existem pesquisadores que estudam o neurônio, outros que 
se dedicam ao estudo do metabolismo do neurônio, que estudam o comportamento 
desencadeado por essas células.
Então, neurociência é um nome muito abrangente, que se dedica ao estudo do sistema 
nervoso. Quando conhecemos a forma de funcionamento do sistema nervoso podemos 
entender melhor vários comportamentos do ser humano, incluindo o processo de 
aprendizagem. 
29
CAPÍTULO 1
Educação cognitiva
Existem descobertas da neurociência que legitimam o que os educadores já faziam e 
neste capítulo daremos alguns exemplos. 
Sabemos que o sistema nervoso é o responsável pela interação do indivíduo com o 
ambiente, então, todos os estímulos sensoriais que um indivíduo recebe são processados 
pelo cérebro e esse processamento gera uma determinada resposta comportamental.
Tudo depende do meio em que a criança está inserida.
Exemplificando: 
Se essa criança se encontra em um meio onde recebe carinho, conforto, empatia, 
afeto, segurança, acesso a livros, acesso ao lúdico, os pais valorizam o que a escola 
ensina a essa criança, ela, provavelmente, terá uma aprendizagem satisfatória.
Agora, podemos ter uma outra criança, na mesma faixa etária, com o mesmo 
cérebro – bases bioneurológicas – e se estiver inserida em um local onde 
encontra violência, preocupação com sua alimentação (no Brasil há 5 milhões 
de pessoas que passam fome), onde não existe um ambiente familiar adequado, 
não há oportunidades e/ou incentivos para sua aprendizagem para aquilo que 
ele faz na escola (se ela frequentar uma escola, temos que lidar com todas as 
hipóteses), essa criança pode não apresentar nenhum problema cerebral e 
apresentar dificuldades de aprendizagem em função do meio ambiente de onde 
provêm os estímulos que ela recebe. Qual a qualidade das interações e estímulos 
que essa criança recebe? 
Deixamos aqui essa pergunta para reflexão.
Outra questão interessante na neurociência é que sabemos que, para aprender, é 
necessária a reorganização entre as células cerebrais. Então, as conexões cerebrais 
devem ser modificadas: o que chamamos de sinapses. 
Para reformatação dessas sinapses existem reações químicas acontecendo que, via 
de regra, não ocorrem de uma hora para outra e, muito menos, da noite para o dia. 
Então, para que se possa aprender, é essencial haver a reexposição aos estímulos, aos 
contextos, às habilidades, aos conteúdos que queremos que uma criança adquira.
Destarte, a aprendizagem tem que ser em espiral por conta desse fator. 
30
UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
Não há nenhum milagre na aprendizagem. Ou seja, para que se aprenda há necessidade 
de passar novamente pelos conteúdos, possibilitar que essa criança durma; pois é 
através do processo do sono que acontece a consolidação das memórias e, dessa forma, 
se aprende.
E um outro aspecto bastante importante, dentre vários, mas que merece ser pontuado, 
é a questão da motivação. 
Como foi mencionado no capítulo anterior, nós aprendemos para ter bem estar, poder 
viver melhor – em nossa vida pessoal, emocional, social, laborativa. Ou seja, para 
agregar qualidade à nossa vida e àqueles que nos cercam. E isso inclui a escola.
Então, na escola, a criança não vai aprender Geografia, Matemática e Português, só 
porque está na escola e o professor está aplicando uma avaliação. Ela aprende desse 
conteúdo se ele for importante para a vida dela. 
Deste modo, o entendimento de que só se aprende quando houver motivação, se a 
disciplina tiver algum valor traz um desafio muito grande para o educador, pois o 
educador tem que apresentar criatividade grande e essa criatividade acaba sendo 
estimulada pela convicção que o educador tem que ter em relação àquilo que ele 
vai ensinar.
Desse modo, se o educador compreende que um determinado conteúdo é importante 
para a criança, precisa ter o trabalho de transformar esse conteúdo em algo que seja 
palatável, que seja compreensível e que seja significativo para a criança. Ninguém aprende 
se não for para ter algum prazer, bem estar ou para melhorar sua vida.
Muitas constatações da neurociência vieram fundamentar as práticas que os professores 
já utilizavam. Essas mesmas constatações podem fazer com que o professor reflita 
porque algumas práticas funcionam para alguns e não funcionam para outros. 
As dificuldades de aprendizagem podem ser melhor compreendidas, como apresentamos 
acima, analisando o contexto familiar. Outra questão é a criança que está dormindo 
mal pois tem uma obstrução respiratória. Ela também pode ter dificuldades de 
aprendizagem, pois está sendo exposta a uma diversidade de estímulos tão grande que 
a impede de focar sua atenção no que ela tem real necessidade em aprender (PAÍN, 
1992; RELVAS, 2010a; SILVA, 1995; SISTO, 2001). 
E, assim, a neurociência – e dentro dela está a neuropsicopedagogia clínica – começa a 
explicar porque é tão importante o indivíduo ter atenção para poder aprender. 
A neurociência também ajuda na constatação de problemas relacionados ao cérebro.
31
O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
É verdade que a maior parte das dificuldades de aprendizagem não está relacionada a 
problemas cerebrais e sim à pratica pedagógica, ao ambiente familiar, à estimulação 
que a criança tem e/ou teve durante a vida. Ou seja, elementos externos.
Mas, um percentual está relacionado a diferenças que o cérebro da criança tem. 
Inclusive, a diferenças que são pequenas e que não são tão bem caracterizadas como 
síndromes, por exemplo: Autismo, Síndrome de Down, Síndrome de Williams, 
que são quadros sindrômicos que deixam óbvio que o indivíduo apresenta uma 
diferença. Mas, crianças que podem ter dificuldades para aquisição da leitura 
e da escrita, no caso da dislexia, crianças que apresentam dificuldades com a 
matemática, no caso das discalculias, crianças que podem ter um déficit de atenção 
(para o que, se bem diagnosticado, é possível estabelecer intervenções terapêuticas 
e medicamentosas e melhorar muito o desempenho escolar dessa criança) 
(PIAGET,1978). 
Então, o neuropsicopedagogo pode ajudar também nos casos fisiológicos, quando a 
criança não apresenta problema nenhum cerebral, em que o profissional pode modificar 
os elementos que contribuem para aquela aprendizagem. Para isso, é imprescindível 
que o especialista conheça o funcionamento cerebral para respeitaralgumas regras que 
o cérebro tem. O neuropsicopedagogo também pode atuar colaborando nos casos em 
que a criança tem alguma diferença na constituição do sistema nervoso. 
Ao entender o nosso cérebro, torna-se possível compreender o que são os comportamentos, 
como são organizados e como nós podemos construir comportamentos. E o processo 
educacional faz parte desse escopo de atuação. 
 » Construção de comportamentos.
 » Mudanças de hábitos, atitudes e habilidades dos seres humanos.
Precisamos, sobretudo, eliminar os mitos. Por exemplo, o famoso mito de que usamos 
apenas 10% do nosso cérebro. Na verdade, nós nem sabemos como quantificar a 
potencialidade do nosso cérebro (RELVAS, 2009). Imagine se podemos dizer quanto 
dele conseguimos usar! 
O outro mito que é muito importante é que todos temos muitas limitações. Na verdade, 
nosso cérebro é plástico e, assim, permite aprender muitas coisas e diversas coisas, 
inclusive simultaneamente. 
A neuroeducação tem se destacado como uma nova área do conhecimento que tem 
o objetivo de melhorar as práticas e métodos de ensino, e, assim, contribuir com o 
desenvolvimento do indivíduo.
32
UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
A neurociência vem se desenvolvendo muito nos últimos anos e esse desenvolvimento 
vem permitindo conhecer como as pessoas memorizam, como orientam a atenção, como 
percebem as questões. Esse conhecimento é extremamente útil quando o profissional 
planeja a intervenção adequada a ser utilizada, para a avaliação e a construção do 
planejamento ao atendimento da demanda de seu atendido. 
Cada ser humano possui suas dificuldades e potencialidades. Dessa forma, o profissional 
deve manter um olhar genuinamente empático em relação à questão/problema com a 
qual lidará.
Tanto os profissionais da equipe multidisciplinar quanto os professores da Educação 
Infantil devem ter acesso ao conhecimento necessário para poder ajudar a criança nesse 
desenvolvimento neurológico – desde o berçário até o final do segundo ciclo, quando 
a criança se encontra com 5 anos de idade. É importante o professor saber como se dá 
esse processo de desenvolvimento, fase a fase, para conhecer a melhor intervenção, 
qual prática pedagógica específica ele pode utilizar para melhor estimular esse cérebro 
em desenvolvimento.
A capacitação sobre o processo de desenvolvimento neurológico muda o olhar e a 
atuação dos profissionais frente à demanda de cada atendido. 
A partir do momento que se obtém o conhecimento adequado, as intervenções ganham 
um novo direcionamento. 
O profissional atuava de forma errada?
Essa é uma questão para reflexão. Muitas vezes, no movimento de auxiliar a ansiedade 
pode, sim, tomar. Mas, lidamos com constructos embasados em pesquisas abalizadas e 
apenas a boa vontade, nesse quesito, poderá não trazer os benefícios esperados e talvez 
até interferir negativamente no processo de desenvolvimento.
Deste modo, manter-se atualizado para o que quer que seja, por meio de especializações, 
congressos, leitura de artigos científicos atuais, busca por livros direcionados a essa 
temática, são algumas das atitudes a serem tomadas.
O ensino hoje é autônomo. 
Respiramos um momento de muita liberdade e do verdadeiro cuidado de si frente à 
obtenção do saber. 
Estamos educando para a autonomia e fazendo parte desse movimento.
Então, grupos de profissionais que debatem o tema, a troca frente aos casos clínicos, 
todas são medidas extremamente positivas e possíveis.
33
O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
Após sua formação, o profissional amplia seus horizontes, e isso o destaca tanto no 
mercado de trabalho quanto nos resultados alcançados com seus atendidos.
Devemos presar pela junção entre a teoria e a prática, pois uma irá complementar a 
outra. 
É comum que alguns profissionais não percebam pequenos detalhes, nuances 
ao falar, como a postura, o tom da voz, o não julgamento ao passar uma instrução 
de atividade. Pode ocorrer, por exemplo, de ele dar uma instrução de costas para 
o aprendente ou com a voz alta. Essas questões são inconscientes, mas ao passo 
que focamos em nossa praxis com o conhecimento adequado, esses padrões 
comportamentais vão sendo diluídos, e estratégias funcionais vão sendo 
implementadas. E, após a formação, ocorre a diferença.
Achamos relevante compartilhar essas experiências!
Esse novo olhar da neurociência sobre as relações e a educação cognitiva tem 
demonstrado bons resultados. 
Na prática, a neurociência mostra a importância do processamento auditivo, a aplicação 
concreta das atividades com consciência fonológica. Ou seja, desde tenra idade, até as 
crianças de 5 anos e para mais além – adolescentes, adultos e idosos –podemos ver a 
atuação da neurociência na vida cotidiana. 
Devemos nos policiar em relação à expressão neuroeducação, pois pode parecer, para 
o público em geral, que a neurociência veio trazer uma nova educação. Na verdade, a 
neurociência e a educação são áreas do conhecimento que possuem naturezas distintas 
e, portanto, o que a neurociência faz é trazer contribuições para o entendimento de 
processos de educação. Desse modo, precisamos esclarecer que essa curiosidade das 
pessoas em relação ao termo abre um nicho, baseado em um marketing de vendas de 
uma ideia nova, quando, na verdade, o que é novo é esse diálogo, ou seja, as pessoas 
que conhecem o sistema nervoso começarem a trocar ideias com os profissionais 
da educação e isso é altamente fomentado em seminários e semanas voltadas às 
neurociências (AJURIAGUERRA, 1985; ANNUNCIATO, 1994).
No início do século 20, o interesse em explicar as funções mais complexas foi crescente 
e a noção de que as diversas áreas cerebrais estavam interligadas foi ganhando espaço. 
Em 1940, Walter Hess defendeu a ideia de que o número de estruturas cerebrais 
envolvidas para a realização de uma atividade seria proporcional a sua complexidade. 
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UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
James Papez e Paul McLean ampliaram o conhecimento sobre o sistema límbico, 
explicando a existência de um conjunto de estruturas cerebrais interconectadas para 
que fossem processados os conteúdos emocionais. Nesse mesmo período, o médico 
William Scoville descreveu o caso clínico do paciente H. M. que ficou amplamente 
conhecido na literatura como uma das primeiras evidências de que os processos de 
memória e aprendizagem dependem de diversificadas áreas cerebrais e de suas conexões 
(CAPOVILLA, 2003). 
H. M. é um paciente epilético que, após uma cirurgia para remover seu hipocampo 
e amígdalas, tornou-se incapaz de aprender novas informações. 
A partir de estudos de casos como esse e outros, conduzidos, principalmente durante o 
período da Segunda Guerra com indivíduos que sofreram lesões cerebrais, os processos 
mentais passaram a ser mais explicados como dependentes da integridade de centros 
nervosos e de suas conexões e não, simplesmente, do funcionamento de áreas cerebrais 
específicas.
Contribuíram também para os avanços sobre a compreensão do funcionamento cerebral 
os estudos histológicos de Camilo Golgi e do histologista Santiago Cajal. Golgi desenhou 
o famoso método de coloração por prata, técnica que permitiu a identificação de toda a 
estrutura da célula nervosa (corpo celular, dentritos e axônios).
Em 1890, Cajal, neuroanatomista, estabeleceu que cada célula nervosa é única, 
distinta e individual. O cientista Sherrington, que estudou reações, relatou que 
as células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e são conectadas por 
sinapses. 
Leiam o artigo Entre neurônios e sinapses: as contribuições de Cajal e Athias para a 
medicina ibérica entre os séculos XIX e XX. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/2016nahead/0104-5970-
hcsm-S0104-59702016005000029.pdf>.
Cajal, utilizando este método de coloração, mostrou que estava incorreta a ideia de que 
o cérebro era uma massa contínua e demonstrou que o tecido neural era composto de 
um emaranhado de células.
Mesmo assim, astendências localizacionistas ainda prevaleceram no início do século 
XX, com importantes descobertas que as validaram, como a diferenciação de funções 
entre os dois hemisférios cerebrais. 
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O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
Quadro 1. Características de cada hemisfério.
HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO
Verbal: usa palavras para nomear, descrever e definir.
Analítico: decifra as coisas de maneira sequencial e por partes (utiliza 
um símbolo que está no lugar de outra coisa. Por exemplo o sinal + 
representa a soma).
Abstrato: extrai uma porção pequena de informação e a utiliza para 
representar a totalidade do assunto.
Temporal: se mantém uma noção de tempo, uma sequência dos 
fatos. Fazer uma coisa e, logo em seguida, outra etc.
Racional: extrai conclusões baseadas na razão e nos dados.
Digital: utiliza números.
Lógico: extrai conclusões baseadas na ordem lógica. Por exemplo: um 
teorema matemático ou uma argumentação.
Linear: pensa em termos vinculados a ideias, um pensamento que 
segue o outro e que, em geral, convergem em uma conclusão.
Não verbal: percepção das coisas com uma relação mínima com palavras.
Sintético: unir coisas para formar totalidades (relaciona as coisas tais 
como estão nesse momento).
Analógico: encontra um símile entre diferentes ordens; compreensão 
das relações metafóricas.
Atemporal: sem sentido de tempo.
Não racional: não requer uma base de informações e fatos reais; 
aceita a suspensão do juízo.
Espacial: vê as coisas relacionadas a outras e como as partes se unem 
para formar um todo.
Intuitivo: realiza saltos de reconhecimento, em geral sobre padrões 
incompletos, intuições, sentimentos e imagens visuais.
Holístico: percebe ao mesmo tempo, concebendo padrões gerais e as 
estruturas que muitas vezes levam a conclusões divergentes.
Fonte: Adaptado de Relvas (2010).
Contudo, as controvérsias apresentadas nessa época sobre a localização de regiões 
específicas para a execução das chamadas funções superiores, tais como memória e 
pensamento, diminuíram as certezas sobre as hipóteses localizacionistas. Esse campo 
fértil de contradições contribuiu para ideias como a de Monakow, que defendia a 
diásquise – dano em uma das regiões encefálicas que gera prejuízo em outras regiões – 
influenciando muitas pesquisas com tendência holística.
A discussão entre localizacionistas e holistas toma novos rumos a partir das descobertas 
de Lev Vygotsky (1896-1934). Vygotsky argumentou que a organização cerebral ocorria 
a partir de uma inter-relação complexa entre suas partes e que dessa forma se daria o 
funcionamento do todo.
Vygotsky desenvolveu estudos mostrando que o funcionamento mental variava para os 
diferentes estágios do desenvolvimento humano e, ainda hoje, suas ideias estão entre 
um dos mais importantes expoentes da Psicologia da Aprendizagem. Influenciado pelo 
psicólogo soviético Alexander Lúria (1902-1977), que a partir do estudo com pacientes 
acometidos por lesão cerebral, desenvolveu um novo conceito de função. Assim, as 
premissas localizacionistas deram lugar à proposta de funcionamento interligado das 
áreas cerebrais que predomina na neuropsicopedagogia.
Luria atuou junto com Vygotsky focalizando, inicialmente, no estudo da afasia e na 
relação da linguagem com outros processos mentais, sendo um de seus maiores interesses 
o desenvolvimento de técnicas de reabilitação. Durante o período da Segunda Guerra 
Mundial, Luria desenvolveu pesquisas no Hospital do Exército e focou na descoberta de 
métodos de reabilitação de deficiências em pacientes com lesões cerebrais.
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UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
Luria elaborou baterias completas para avaliação neuropsicológica que foram 
amplamente utilizadas em meados do século XX e continuam a influenciar a forma 
como os testes são elaborados e utilizados na avaliação neurológica. 
A primeira versão dos Testes de Luria deu origem a diversas outras baterias 
neuropsicológicas, como a Luria-Nebraska e o Teste de Barcelona, que consistem 
em avaliações amplas dos diversos domínios cognitivos. Estes testes ainda são úteis, 
mas dividem espaço com uma infinidade de testes neuropsicológicos que vêm sendo 
elaborados com o intuito de se tornarem cada vez mais específicos. 
Na abordagem neuropsicológica de Luria, o funcionamento cerebral é explicado com 
a coparticipação dos dois sistemas funcionais do cérebro. Os objetivos centrais da 
neurociência são:
1. Localizar as lesões cerebrais responsáveis pelos distúrbios do comportamento 
para um diagnóstico preciso.
2. Explicar o funcionamento das atividades psicológicas superiores 
relacionadas com as partes do cérebro.
Uma das grandes preocupações que o professor/educador tem como alicerce na sala 
de aula é: como fazer o aluno aprender. Exatamente nesse ponto que as neurociências 
vêm contribuindo nesse processo de uma nova competência do professor/educador 
do século XXI. Conhecer a biologia cerebral, hoje, se faz importante nesse perpassar 
da construção da educação. Deste modo, aos educadores é informado que conhecer a 
biologia do cérebro nas dimensões cognitivas, afetivas, emocionais, motoras é fazer um 
grande aliado que a neurociência traz na contribuição da educação. 
A psicoeducação visa deixar nosso atendido informado sobre sua dificuldade ou 
transtorno e mostrar como se vai trabalhar. Obviamente, estamos falando dos atendidos 
que possuem condições cognitivas para compreender sua questão.
Vamos exemplificar?
O atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 
Estima-se que o TEA atinja hoje mais de 2 milhões de pessoas no Brasil (Ministério 
da Saúde) e 70 milhões no mundo (ONU). Porém, o número de autistas pode 
ser bem maior. Devemos levar em consideração que não existe um exame que 
identifique o autismo. Esse fato dificulta o diagnóstico e, consequentemente, 
surge a incerteza sobre o número exato de indivíduos com TEA.
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O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
As causas do TEA ainda são desconhecidas, mas a pesquisa na área é cada vez 
mais intensa. Provavelmente, há uma combinação de fatores que levam ao 
autismo. 
Como não existe um marcador biológico (exame) específico para o diagnóstico, 
os profissionais que atendem a essa demanda precisam estar atentos aos dados 
da Avaliação Comportamental do Transtorno do Espectro do Autismo. O TEA 
é diagnosticado por meio da observação do comportamento, associado aos 
antecedentes familiares, informações do pré-natal e a aplicação de escalas de 
comportamento vinculadas a Terapia Cognitivo-Comportamental. 
TEA é uma condição neurobiológica que, geralmente, aparece nos três primeiros 
anos de vida e afeta as habilidades de comunicação, a interação social, e mostra 
a presença de comportamentos repetitivos e/ou interesses restritos.
Podemos nesse momento, com base na revisão da literatura científica, destacar 
que:
 » O autismo é uma condição própria da espécie humana, podendo 
ocorrer em qualquer raça, país ou classe social.
 » Acomete mais meninos que meninas.
 » Nos manuais diagnósticos, o autismo é uma síndrome comportamental 
que se faz presente antes dos 3 anos de idade e que engloba 
comprometimentos nas áreas relacionadas à comunicação, quer seja 
verbal ou não verbal, nas relações interpessoais, em ações simbólicas, 
no comportamento geral e no distúrbio do desenvolvimento 
neuropsicológico.
 » Geralmente, ele vem associado a outro transtorno ou síndrome.
 » Apresenta múltiplas causas, havendo uma forte tendência em ressaltar 
fatores genéticos e ambientais.
 » Não existe homogeneidade entre o quadro comportamental 
apresentado pelos indivíduos com autismo.
Esses são apenas alguns sinais para alavancarmos nosso conhecimento a 
respeito do tema autismo. É exatamente essa condição de diferença entre os 
autistas que traz tanta relevância ao estudo do transtorno e dificuldade em 
diagnosticar. E, justamente por este motivo, este caderno tem por finalidade 
apresentar ferramentasfuncionais ao diagnóstico preciso do autismo.
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UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
O profissional tem por obrigação ética discutir o prognóstico com os responsáveis 
independente da dor, ansiedade e medo que esta situação gere.
Os profissionais precisam saber informar e esclarecer de forma clara e com muita 
paciência a esses pais que os progressos, mediante o grau de autismo apresentado pelo(s) 
filho(s), que podem parecer imperceptíveis ou discretos, são de suma importância para 
o desenvolvimento da autonomia e do comportamento funcional do indivíduo autista.
De acordo com dados do Movimento Orgulho Autista Brasil (MOAB), ONG fundada em 
2005 por pais de pessoas com TEA (influenciado pelo Movimento “Aspies for Freedom”, 
fundada em junho de 2004, organização norte-americana que luta pelos direitos civis 
dos autistas), é comum e esperado que surjam questões ligadas à ansiedade dos pais 
frente à condição do(s) filho(s). Devemos aqui abrir um parêntese a respeito de pais que 
têm mais de um filho autista, isso, na realidade, não é raro, e gera uma maior tensão na 
própria relação entre os cônjuges e na relação com os filhos.
Sendo assim, outro ponto de fundamental importância é informar aos responsáveis que, 
ao fazermos um diagnóstico do desenvolvimento atípico de uma criança, os sintomas 
apresentam-se de forma intermitente, e, por isso, nem todos se apresentarão na 
entrevista inicial. É essencial que os responsáveis estejam cientes de que para obtermos 
uma visão geral da criança e podermos constatar a amplitude do distúrbio, precisamos 
de dados coletados em diferentes contextos. 
A família pode caminhar para a disfuncionalidade com maior facilidade, havendo 
necessidade de Treino de Pais (TP) e sessões psicoterapêuticas individuais e de 
casal. Quando a família não consegue lidar de forma proativa com o autismo e os 
comportamentos que vêm em decorrência dele, a melhor indicação é uma terapia de 
família e grupos de apoio a pais como alternativa de troca de vivências.
Como a neuropsicopedagogia clínica e o neuropsicopedagogo acolhe a demanda do TEA?
Compreender as nuances desse universo particular faz parte da função do 
neuropsicopedagogo.
Entender e aprender sobre o TEA, agora não mais chamado de autismo, traz uma série 
de desafios ao profissional. Os cursos atendem à demanda desse novo profissional que 
irá avaliar a cada dia mais crianças com TEA e trazem benefícios aos seus atendidos 
portadores do espectro, pois encontrarão um profissional solícito e altamente capacitado 
para utilizar as ferramentas adequadas a essa condição de neurodiversidade.
Não possuímos dados concretos sobre a estatística de quantas pessoas têm TEA –
tanto no Brasil quanto no Mundo. As estimativas, bem irreais, são de 2 milhões de 
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O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo no Brasil. Contudo, o número de 
crianças, adolescentes e adultos com TEA que são encaminhados para avaliação 
neuropsicopedagógica cresce a cada dia. E não há uma perspectiva em diminuir, muito 
pelo contrário!
Assim como pessoas com Síndrome de Down, Síndromes Raras, Microcefalia, os 
transtornos, síndromes e patologias não ficam mais escondidos. Que BOM!
As famílias viviam um luto eterno e eram condenadas à morte social por conta da 
condição de diversidade cerebral do filho, filha ou filhos.
E quanto às pessoas com TDAH?
Ninguém mais se lembra delas?
Elas vão ficar adultas. Assim como todos vão. Vão passar por mudanças corporais, 
envelhecer, e há necessidade de uma visão realista acerca de sua condição.
Não se trata de vitimizar e sim de orientar a família e desenvolver um trabalho de 
excelência com nosso atendido e seu núcleo familiar. 
Mas, quem é esse especialista?
Qual será seu trabalho diante de todas as questões, que parecem ser infinitas.
Esse especialista tem como base a neurociência, a psicologia cognitiva. Esse especialista 
compõe a equipe multidisciplinar – a equipe formada por vários especialistas, como 
psicólogos, neurologista, psicopedagogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, 
psiquiatra, nutricionista, entre outros profissionais – que trabalha em benefício da 
criança ou de qualquer indivíduo que venha a apresentar dificuldade. O trabalho 
do especialista em neuropsicopedagogia clínica também é realizar a observação, a 
identificação e a análise do ambiente escolar relacionado ao desenvolvimento humano 
ou do indivíduo nas áreas motora, cognitiva e comportamental. 
O neuropsicopedagogo clínico realiza também a avaliação, intervenção e 
acompanhamento contínuo de crianças ou qualquer indivíduo que venha a apresentar 
qualquer dificuldade de aprendizagem, transtorno, síndrome ou altas habilidades 
que lhe causem grande prejuízo. Esse especialista também realiza estratégias que 
viabilizam o desenvolvimento do ensino e aprendizagem da criança, utilizando para 
tanto protocolos e instrumentos de avaliação devidamente validados e, quando há 
necessidade, encaminha a criança ou indivíduo para outros especialistas que compõem 
a equipe multidisciplinar. 
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UNIDADE III │ O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO...
Com toda certeza, o especialista em neuropsicopedagogia clínica veio para acrescentar 
à equipe multidisciplinar, ajudando a equipe e ajudar seu atendido com relação às 
dificuldades que são apresentadas. 
Desse modo, profissional, pais e mães e escola devem ter um diálogo aberto e alinhado, 
sempre conversando sobre a situação do filho, aprendente, aluno. Enfim, deve 
conversar sobre as várias faces do atendido. Isso é essencial para que as estratégias do 
neuropsicopedagogo sejam eficazes.
Retomando a psicoeducação, Knapp (2004) alega que esta técnica, quando bem 
empregada, melhora a motivação para a mudança e estimula a participação proativa 
do paciente na recuperação – em casos onde cabe este termo, pois no caso do TEA 
sabemos que ainda não existe uma perspectiva de cura. 
Podemos dizer que a psicoeducação ajuda nosso atendido a retirar o aspecto distorcido 
que atribui a si mesmo por não ser capaz de resolver algum problema ou até mesmo se 
culpar pelo problema/queixa que o trouxe ao consultório – apresentando um quadro de 
negação. Assim, pode ser feita por intermédio de folhetos explicativos, artigos de revistas, 
livros, páginas de internet, apresentação em flip-chart, ou em qualquer outro material 
que possa transmitir informações adequadas ao nosso atendido e/ou familiar/escola.
Ainda de acordo com Knapp (2004), a ressignificação utilizada na educação cognitiva 
é semelhante à reatribuição, Assim, seu objetivo principal é ajudar o nosso atendido a 
produzir uma resposta racional aos eventos, ou seja, uma versão mais lógica, realista e 
mais adaptativa do pensamento. 
E quanto à reatribuição?
Falamos sobre essa técnica da educação cognitiva?
Não!
Então, vamos a ela?
Nessa técnica o neuropsicopedagogo clínico ajuda seu atendido a flexibilizar seu 
julgamento por meio da identificação de outros fatores que contribuem para o 
resultado final ou pelo reconhecimento de diferentes critérios usados para avaliar a 
responsabilidade pessoal e a de terceiros. Cordioli (2008), mostra que essa técnica é 
usada quando o paciente apresenta um padrão de autoatribuição de responsabilidades 
irreais em relação a vários resultados negativos.
Knapp (2004) afirma que essa técnica é usada com pacientes que frequentemente 
consideram-se culpados por determinadas situações. Ou pode ocorrer o oposto, eles 
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O COMEÇO DE UM NOVO TEMPO... │ UNIDADE III
colocam toda a culpa em outras pessoas, sendo o objetivo do profissional levá-los a 
considerar todos os possíveis fatores e indivíduos envolvidos na situação, circunstância, 
enfim, é fomentar a ponderação a um nível mensurável de responsabilidade a cada um 
desse fatores/indivíduos.
Nesse ponto pensamos que a exposição de um estudo de caso é de extrema relevância.
Caso clínico
Paciente E.C., idade 74 anos, diagnosticado com Alzheimer – uma lenta e fatal doença do 
cérebro. O diagnóstico

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