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Brasília-DF. Bases Neuropsicológicas do deseNvolvimeNto psicomotor Elaboração Rogério Gonçalves de Castro Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE ............................................................................................. 11 CAPÍTULO 1 NEUROCIÊNCIA E PSICOMOTRICIDADE .................................................................................. 11 CAPÍTULO 2 A PSICOMOTRICIDADE E A SIGNIFICAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ........................................... 23 UNIDADE II A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO .................................................. 27 CAPÍTULO 1 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E AS FUNÇÕES COGNITIVAS .............................................. 27 CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: ASPECTOS SOMÁTICOS, AFETIVOS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ........................................................................................... 36 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................ 48 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 67 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Podemos entender que para a neurociência a aprendizagem é a aquisição de informações, o resultado de modificações funcionais no Sistema Nervoso Central (SNC), das conexões entre os neurônios por conta da utilização do cérebro, ou seja, a experiência é a base da aprendizagem, pois a cada experiência o cérebro responde diferentemente com relação à experiência anterior. Para aprender, a criança conta com as suas estruturas física, psicológica e cognitiva e é preciso que haja uma integração dos fatores emocionais, neurológicos, relacionais (ambiente social) e ambientais. Qualquer outro fator que influencie negativamente um dos anteriores afetará o processo de aprendizagem. Atualmente tem dado bastante ênfase nos aspectos educacionais, que estão centrados na aprendizagem. O professor, antes transmissor do conhecimento, agora é um coautor do processo de aprendizagem dos alunos, pois o conhecimento é construído e reconstruído continuamente nessa interação. Para que possamos aprender algo precisamos ter atenção (pré-requisito) e memória, processos fundamentais para a aprendizagem, já que ocorrem antes do processo de aprender. Segundo Pantano (2009), o processo de aprendizagem necessariamente envolve compreensão, assimilação (memória), atribuição de significado e estabelecimento de relações entre o conteúdo a ser aprendido e os conteúdos a ele relacionados e já armazenados. Nessa visão cognitiva, a aprendizagem é um processamento resultante de processos cognitivos que envolvem sensação, percepção, atenção e memórias (operacional e de longo prazo). Aprendizagem e memória são as habilidades de aquisição e manutenção das informações e a aprendizagem precisa se dá no momento exato em que ocorre a captação de uma informação pelas vias sensoriais, pela sua retenção e fixação pelas áreas da memória, função executada pelo córtex cerebral. Hoje em dia podemos considerar a neurociência como uma área do conhecimento que provém de um conjunto de especialidades que estudam o sistema nervoso, tanto em seu estado normal quanto patológico. Ainda que não se consiga defini-la de maneira eficaz, alguns conceitos e observações a tornam mais compreensível. Por vezes também conhecida como psicobiologia 8 ou neurobiologia, didaticamente, pode-se dividi-la em outras estruturas como neurociência: molecular, celular, de sistemas, comportamental, cognitiva e social (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008). Já a psicomotricidade pode ser definida como a ciência que estuda o homem através de seu corpo em movimento, suas relações internas e externas. Seu estudo está ligado a três premissas principais: o movimento, capacidade intelectual e afetividade. É possível afirmar que a psicomotricidade tem fortes relações com o processo de aprendizagem (OLIVEIRA, 2013). No século XIX, Maine de Brian iniciou os estudos sobre psicomotricidade, nessa época já discutia a teoria de colocar o movimento como um componente essencial na estrutura do eu. Quando aprofundamos nossos estudos através das bibliografias pertinentes ao tema, denotamos que há indícios que Aristóteles (384-322 a.C) já tratava sobre o dualismo corpoe alma, quando defendia que o homem era feito de uma certa quantidade de matéria (corpo) moldada numa forma (alma) (OLIVEIRA, 2013). Portanto, é possível firmar que uma boa estrutura da educação psicomotora é a base fundamental para o processo de aprendizagem da criança. O desenvolvimento evolui de uma forma progressiva do todo para o específico. Normalmente quando a criança apresenta dificuldade na aprendizagem, tem como principal motivo alguma deficiência no desenvolvimento psicomotor. Adquirindo uma boa experiência nesse requisito a mesma consegue conquistas que marcam sua vida emocional e intelectual (ROCHAEL, 2009). Ao longo do último século estudos revelam (SOUZA, 2012; FONSECA, 2008; BERLZE, 2007) a importância da melhoria da aptidão física e do desenvolvimento, pois os dois estão interligados, quando evoluímos na aptidão logo vemos melhoria nas capacidades funcionais motoras (agilidade, força, velocidade, flexibilidade e potência aeróbica) do indivíduo, assim ajudando nas realizações de outras tarefas. Diante disso, é importante destacar que a educação física na educação infantil tem um papel preponderante, uma vez que pode aplicar atividades da psicomotricidade no intuído de promover desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo com intencionalidade. Objetivos » Definir neuropsicologia. » Apresentar a perspectiva neurobiológica do desenvolvimento humano. 9 » Indicar as principais alterações do Neurodesenvolvimento. » Reconhecer as Bases Neuropsicológicas do Desenvolvimento Psicomotor. » Descrever as principais alterações psicomotoras na criança. » Indicar os objetivos e exigências da avaliação neuropsicológica. » Citar as etapas da avaliação neuropsicológica. » Possibilitar a interpretação de situações-problema. 10 11 UNIDADE INEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE CAPÍTULO 1 Neurociência e psicomotricidade Abordagem neuropsicológica de Luria Quando adentramos aos estudos da neuropsicologia podemos defini-la como uma área multidisciplinar que engloba a neurologia, psicologia, psiquiatria, fonoaudiologia linguística, entre outras. Segundo Oliveira (1997), a Neuropsicologia tem como objetivo é estudar as relações entre as funções psicológicas e sua base neurológica. Diante de tais afirmações apresentamos a seguir algumas definições sobre a neuropsicologia que contribuirão para o entendimento do tema em estudo. A visão mecanicista da localização cerebral apresenta como característica a ideia de que cada função mental é totalmente controlada por uma área cortical. Já a visão integral ou holística propõe que não haja fragmentação, isto é, divisão de funções cerebrais, mas que a função mental deva ser concebida como um produto do funcionamento global do córtex cerebral. Luria, influenciado pelos estudos de Pavlov e Vygotsky, apresenta uma revisão dessas visões extremas e cria novos conceitos que se tornam muito úteis no estudo da Afasiologia. Encontramos a seguinte definição de Afasiologia de acordo com o Dicionário Houaiss (2009): Afasiologia é o enfraquecimento ou perda do poder de captação, de manipulação e por vezes de expressão de palavras como símbolos de pensamentos, em virtude de lesões em alguns centros cerebrais e não devido a defeito no mecanismo auditivo ou fonador. (HOUAISS ON-LINE) Luria como colaborador de Vygotsky, foi quem mais se dedicou aos estudos das funções psicológicas relacionadas ao sistema nervoso central, tornando assim, um dos mais conceituados neuropsicólogos na sociedade contemporânea. 12 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE A partir daí discorreremos sobre a organização cerebral das funções mentais superiores, conceituando-as como sistemas funcionais complexos que necessitam da cooperação de partes diferentes do cérebro. Por meio dos estudos do trabalho de Leandra Teixeira Falcão com o título Luria e sua Abordagem Neuropsicológica, podemos constatar que para Luria o cérebro é dividido em três grandes unidades funcionais, transcritas a seguir: » Unidade I – suas estruturas estão situadas no tronco cerebral (cujo componente importante é o sistema de ativação reticular – RAS) e nas superfícies mediais dos hemisférios cerebrais (cujo componente predominante consiste nas diversas estruturas do sistema límbico). Essa unidade é responsável por regular a estimulação; o estado de consciência; o tônus cortical ideal. » Unidade II – consiste nos lóbulos parietal, temporal e occipital. É responsável por receber, analisar e armazenar as informações que chegam através do input auditivo, visual e tátil-cinestésico. » Unidade III – consiste nos lóbulos frontais. Responsável pela programação, regulação e verificação da ação. Além de se caracterizar por conexões complexas com todo o córtex. Ainda para a autora, Luria, apresenta um postulado básico que, embora cada unidade tenha uma função específica, a cognição depende da colaboração entre as três unidades. Apresenta ainda outro postulado, ou seja, o problema primário. Diz que qualquer lesão vai gerar um problema primário, que se manifestará de formas diferenciadas dependo da região afetada. Luria denomina efeito secundário ou sistêmico e a exata natureza do problema ele chama de problema primário. Já, para Oliveira (1997) a percepção visual, envolve o estado de consciência adequado (unidade I), a análise e síntese da informação recebida pelo sistema visual (unidade II) e os movimentos dos olhos pelas partes do objeto a ser percebido (unidade III). As influências de Vygotsky e Luria à neurociência contemporânea e à compreensão do processo de aprendizagem. Disponível em: < http://web.unifoa.edu.br/praxis/ numeros/10/41-53.pdf>. Acesso em: 14 out. 2015. Neurociência cognitiva A neurociência cognitiva tem como preocupação fundamental e estrutural analisar e estudar fundamentalmente, como os processos cognitivos são produzidos através da 13 funcionalidade do cérebro dos seres humanos, garantindo assim: a aprendizagem, a linguagem e o comportamento. De acordo com o exposto anterior, é importante destacar que a investigação sobre o funcionamento do cérebro, por meio da neurociência cognitiva, encontrou vários avanços nas duas décadas passadas. Apresentando assim, revelações de suas especificações: percepções auditivas na região temporal, percepções visuais na região occipital, percepções sensoriais e táteis, cinestésicas na região parietal, planejamento consciente do comportamento e programas de ação na região frontal, funcionalidade e dinamismo encefálico. Estas revelações demonstram no decorrer da contemporaneidade, que os estudos sobre a atividade da consciência humana no século XX, foram desenvolvidos contrariamente à teoria idealista clássica, formulada pelo físico e filósofo austríaco positivista Ernst Mach (1838-1916), que entendia “a consciência como um estado interior primário do organismo, ou seja, nas estruturas encefálicas neuronais, sem as devidas influências do mundo externo”. Luria, sendo contra a teoria idealista clássica, percebe que as construções cognitivas como as funções mentais superiores são oriundas, a partir da “origem a novos sistemas funcionais que estão na base do comportamento, mais do que pelas propriedades internas dos neurônios” e é com “base na linguagem que se formam complexos processos de regulação” das próprias atitudes humanas. Sendo assim, é possível afirmar que a linguagem receptiva e expressiva em suas diversas modalidades (fala, gesto, escrita, leitura e outras) são atividades conscientes e que se interagem com o meio, influenciadas gradativamente por intermédio de um complexo processo histórico social e cultural. Conhecendo um pouco sobre historicidade da neurociência cognitiva A neurociência cognitiva é uma subdivisão da neurociência, que aborda os processos cognitivos complexos, tais como as funções mentais superiores que envolvem o pensamento e suas complexas relações com as estruturas da linguagem, a aprendizagem e as influênciasdo mundo exterior, mediando o desenvolvimento sociocultural no processo histórico do indivíduo. Para Pereira Jr. (2010) esse conceito surgiu de questões epistemológicas da neurociência cognitiva, apresentando dois principais paradigmas cognitivos opostos e excludentes, utilizados no século XX: combinatorial ou computacional e o de sistemas dinâmicos. 14 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE Para o autor mencionado, o modelo computacional conceitua as funções cognitivas com base em mecanismos de processamento de informação e construção de representações mentais. O modelo dinamicista concebe os processos cognitivos em uma dimensão corpórea e interativa com o ambiente, enfocando as ações dos sistemas cognitivos em seus respectivos contextos, num processo de adaptação ativa. Os estudos apresentados nos enviam a revisar as análises e apontamentos da psicologia soviética do início do século XX, iniciada por Vygotsky e amplamente estudada por Luria (1992; 2006; 2010). Luria estudou exaustivamente, por meio de uma abordagem científica as atividades da consciência humana, não excluindo, nesses estudos, a importância do mundo exterior, os diversos estímulos que influenciam, de forma integrada, os processos cognitivos. Podemos, então, afirmar que as funcionalidades apresentadas no transcorrer do desenvolvimento humano, vão ao encontro da descrição de Luria (2006) em relação à base cerebral da atividade consciente humana constituída por sistemas funcionais complexos e diferenciados. Recorrendo à literatura é possível observar avanços significativos na história da neurociência cognitiva, que está sendo ampliada desde o final do século XVII até a metade do século passado, quando os neurologistas e anatomistas pesquisavam as bases neurológicas através de autópsias e de estudos clínicos em pacientes com lesões cerebrais. No final do século XVII, o neuroanatomista alemão Franz Joseph Gael propôs que certas funções mentais superiores estariam localizadas em porções distintas no cérebro (GOMES, 2009). Já no início do século XX, Vygotsky descreveu, como processos psicológicos superiores as ações conscientemente controladas, a atenção voluntária, a memorização ativa e o pensamento abstrato. Diante do exposto, e parafraseando Fonseca, podemos deduzir que as funções mentais superiores são processos cognitivos que envolvem: atenção, memória, gnosias ou percepções, pensamento, consciência, comportamento emocional, aprendizagem e linguagem, e refletem o modelo dinamicista mencionado anteriormente, em que as áreas cerebrais (auditiva, sensorial e tátil-cinestésica, visual, planejamento consciente do comportamento e programas de ação) e se integram funcionalmente e são influenciadas ativamente pelo meio sociocultural mediante as relações sociais do homem. Ainda, é possível afirmar que essas funções mentais superiores são muito importantes para a aprendizagem numa relação direta com a linguagem, mediando nossas funções psicocognitivas. 15 NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE │ UNIDADE I Diante dessas novas metodologias e estudos, surgem novas e as mais variadas e sofisticadas técnicas abordagem, e, novas informações foram adicionadas sobre as funções neurais implicadas na linguagem (GOMES, 2009), portanto, relacionadas aos processos ou funções mentais superiores. Acesse o endereço: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-8486200 9000300002&script=sci_arttext> e leia o artigo Dislexia, cognição e aprendizagem: uma abordagem neuropsicológica das dificuldades de aprendizagem da leitura de Vitor da Fonseca para aprofundar a aprendizagem. Psicomotricidade infantil Por meio de estudos bibliográficos podemos dizer que a psicomotricidade envolve toda ação realizada pela criança e é a integração entre o psiquismo e a motricidade. Busca o desenvolvimento global, focado nos aspectos afetivos, motores e cognitivos, conduzindo o sujeito para que tome consciência do seu próprio corpo, por meio do movimento. Para Le Boulch (1985) 75 por cento do desenvolvimento psicomotor ocorre na fase pré-escolar, e o bom funcionamento dessa área facilitará o processo de aprendizagem futura. Diante desse contexto, vamos frisar sobre a importância que o professor de educação física infantil possua conhecimentos, de que as crianças atuam e se inserem no mundo que as rodeia, através do movimento. Ainda, enfatizamos que é de fundamental relevância que o professor possua conhecimentos sobre o desenvolvimento motor e suas fases, estando apto, tanto na proposição, bem como na realização de atividades fundamentadas nos conceitos da psicomotricidade. Garantindo dessa forma em sua organização pedagógica a criação propostas curriculares inovadoras e desenvolvendo projetos nos quais as crianças se utilizem do corpo como meio para explorar, criar, brincar, imaginar, sentir e aprender. É oportuno salientar que na apresentação de um ambiente altamente favorável, nossos alunos encontrarão possibilidades de retirar o máximo proveito de suas potencialidades inatas. Num ambiente diferente e hostil, apenas algumas dessas potencialidades básicas poderão exprimir-se (GESELL, 2003). Analisando historicamente o desenvolvimento infantil, podemos observar que em tempos idos, as crianças experimentavam de maneira espontânea, por meio das brincadeiras cotidianas, atividades motoras suficientes para que adquirissem habilidades motoras mais complexas. Afirmamos que não havia separação entre brincar, aprender e crescer. 16 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE Já, a infância hoje está organizada de forma diferente dos tempos antigos, em que, observamos várias mudanças na atualidade: a urbanização, a necessidade de segurança e o avanço tecnológico trouxeram consequências como a redução dos espaços e a diminuição da liberdade para que as crianças desenvolvam suas brincadeiras espontaneamente. Portanto, é nesse momento e espaço de desenvolvimento infantil que a escola deve ser fundamentalmente o local que contribui para o crescimento da criança, não tendo somente a incumbência de garantir um futuro de desenvolvimento motor excelente, bem como, ajudando-as se tornarem indivíduos autônomos, criativos e críticos. A psicomotricidade e o desenvolvimento infantil Observamos a valorização do corpo humano desde a Antiguidade. Denota-se isso analisando o pensamento da cultura grega e a exaltação ao esplendor físico, retratado principalmente nas suas obras de arte e esculturas existentes. Percebemos que por longo tempo, o ser humano foi entendido de forma fragmentada, separando o corpo e a alma, e esse dualismo sempre foi motivo de estudo. No transcorrer dos tempos, vários pensamentos não acadêmicos tentaram explicar essa relação entre corpo e mente; porém, somente a partir de alguns pensamentos mais radicais, no século XIX, é que o termo “psicomotricidade” apareceu num discurso médico, mais especificamente neurológico, objetivando a nomeação das zonas do córtex cerebral situadas além das regiões motoras. A história da psicomotricidade foi desenvolvida através de um século de esforço de ação e de pensamento; a sua cientificidade, na era da cibernética e da informática, vai permitir certamente ir mais longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do corpo com o psíquico. Essa intimidade filogenética e ontogenética representa o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras (FONSECA, 1988, p. 99). Vejamos: » Em 1909, Dupré, neuropsiquiatra, afirma a independência da debilidade motora, antecedente do sintoma psicomotor, como um possível correlato neurológico. » Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, estudava movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. 17 NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE │ UNIDADE I » Nos anos de 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins de diagnóstico,de indicação da terapêutica e de prognóstico. » Já em 1947, Julian de Ajuriaguerra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. Diante da redefinição de Ajuriaguerra, a psicomotricidade passa a ser entendida como uma ciência que estuda o ser humano por meio de seus movimentos, suas realizações, os aspectos motores, afetivos e de cognição, sendo esses, resultados da relação do sujeito com o seu meio social. Para Gonçalves (2011) a psicomotricidade: Tem por objetivo a visualização do ser humano em sua totalidade, nunca separando o corpo (sinestésico), o sujeito (relacional) e a afetividade; sendo assim, ela busca, por meio da ação motora, estabelecer o equilíbrio desse ser, dando lhe possibilidades de encontrar seu espaço e de se identificar com o meio do qual faz parte (GONÇALVES, 2011, p. 21). Segundo Coste (1981), é a ciência encruzilhada, onde se cruzam e se encontram múltiplos pontos de vista biológicos, psicológicos, psicanalíticos, sociológicos e linguísticos. Etimologicamente, a palavra psicomotricidade é formada por dois termos diferentes: a palavra psyché, traduzida por “alma”, e a palavra latina motorius, traduzida por “que tem movimento”. Podemos observar por intermédio da literatura que muitos autores e estudiosos da psicomotricidade apresentaram as mais diversas definições a respeito dessa área e, para corroborar com esses autores e para fins didáticos de nosso material de estudo, apresentamos a definição dada pela Sociedade Brasileira de Psicomotricidade – ABP: A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o estudo do homem através do seu corpo em movimento em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, em que o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, 18 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade e sua socialização. Para entendermos melhor o conceito de psicomotricidade apresentamos definições de outros autores, a seguir: A Psicomotricidade se conceitua como ciência da Saúde e da Educação, pois indiferente das diversas escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas, etc. ela visa à representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007). Psicomotricidade é a ciência de síntese, que com a pluralidade de seus enfoques, procura elucidar os problemas, que afetam as inter-relações harmônicas, que constituem a unidade do ser humano e sua convivência com os demais (COSTALLAT apud ISPE-GAE, 2007). A Psicomotricidade é a otimização corporal dos potenciais neuro, psicocognitivo funcionais, sujeitos as leis de desenvolvimento e maturação, manifestados pela dimensão simbólica corporal própria, original e especial do ser humano (LOUREIRO apud ISPE-GAE, 2007). Para Nicola, uma conceituação atual de psicomotricidade é que esta ciência nova, cujo objeto de estudo é o homem nas suas relações com o corpo em movimento, encontra sua aplicação prática em formas de atuação que configuram uma nova especialidade. A psicomotricidade estuda o homem na sua unidade como pessoa (NICOLA, 2004, p. 5). Ainda, em Nicola encontramos conceitos definições que nos fazem refletir sobre a dualidade entre psique e corpo, vejamos: Motricidade: por definição conceitual é a propriedade que têm certas células nervosas de determinar a contração muscular. Psico (grego Psyquê): vem representar a alma, espírito, intelecto. Psicomotricidade: condição de um estado de coisas corpo/mente. Visão global de um indivíduo, onde a base de atuação está no conhecimento desta fusão. (NICOLA, 2004, p. 5). Podemos afirmar, então, que com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia. 19 NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE │ UNIDADE I Mediante estudos psicomotores podemos enfatizar que as crianças descobrem mundo exterior por intermédio do corpo, onde lhe é permitido explorar várias situações, experimentar as sensações e as emoções. É, por meio do corpo que a criança descobre o mundo, explora situações, experimenta e se expressa, percebe o mundo que a cerca. Ainda, é através da interiorização das sensações, e à medida que a criança se desenvolve que ela vai ampliando suas percepções e controlando seu próprio corpo. O movimento é fator preponderante para a criança explorar o mundo exterior e é por essas experiências concretas que são construídas as noções básicas para o desenvolvimento intelectual. Já os primeiros dias de existência da criança, podemos observar o seu desenvolvimento contínuo, e ainda, é possível afirmar que ela estabelece as primeiras formas da linguagem. Portanto, para que ocorra um desenvolvimento global e harmonioso da criança, chamamos a atenção que o professor deverá estar preparado para trabalhar com essa criança e ainda, que ele entenda os conceitos da psicomotricidade, as bases psicomotoras e suas aplicabilidades no processo de aprendizagem. Dessa forma, ressaltamos a importância no desenvolvimento de atividades que favoreçam a estimulação do toque, a percepção do próprio corpo, tais como pular, correr, subir, descer, andar descalço, perceber as diferentes texturas, manipular objetos de diferentes tamanhos, permitido uma união entre a psique e o corpo. É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos e é manipulando-os que ela redescobre esse mesmo mundo. Segundo Amanda Cabral Goretti são transtornos psicomotores: » São distúrbios manifestados no corpo sem nenhuma relação com alterações neurológicas ou orgânicas aparentes. Nestes transtornos o esquema e a imagem corporal bem, como o tônus muscular aparecem comprometidos, impedindo que a criança tenha domínio de seu próprio corpo. Assim, ela apresentará dificuldades em todos os elementos psicomotores. A autora apresenta como os principais transtornos: » Instabilidade psicomotora – neste transtorno a criança não consegue começar e terminar a brincadeira e é assim com todas as suas produções corporais. Há uma dificuldade em inibir seus movimentos, provocando 20 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE ações explosivas e agressivas. São crianças agitadas, ansiosas e inquietas, pois possuem uma grande necessidade em movimentar-se. » Inibição psicomotora – neste transtorno a criança não usa seu corpo para relacionar-se com o mundo ou com os outros. É o oposto da instabilidade, pois também há uma falta de limite, mas esta falta barra o agir da criança. Ela mostra-se então sempre cansada, demonstrando pouca expressão facial e corporal. Seu aspecto é de extrema fragilidade e debilidade e é nele que se reconhece e é reconhecida. São crianças “quietinhas demais”. » Debilidade – é caracterizada pela presença de paratonias e sincinesias. A paratonia é a persistência de uma rigidez muscular caracterizada por uma inadequada incontinência das reações tônicas. » Dispraxia – dificuldade de associar movimentos para realizar uma tarefa. Há um transtorno espacial (dificuldade de lateralizar, de nomear objetos, espelhamento de letras, assimetria nos movimentos – todos estes aparecendo persistentemente). Campos de atuação da psicomotricidade Podemos dizer que hodiernamente, existem três campos de atuação na psicomotricidade: reeducação, terapia e educação. A reeducação é o atendimento individual ou em pequenos grupos de crianças, adolescentes ou adultos que apresentam sintomas de ordem psicomotora. Estes sintomas normalmente estão acompanhados de distúrbios mentais, orgânicos, psiquiátricos,neurológicos, relacionais e afetivos. A terapia psicomotora é realizada com crianças, adolescentes ou adultos, individualmente ou em pequenos grupos que apresentem grandes perturbações de ordem patológica. A educação psicomotora é dirigida à atuação dentro do âmbito escolar, principalmente nos segmentos da Educação Infantil e no Ensino Fundamental. A psicomotricidade não é exclusiva de um método, de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano (AJURIAGUERRA, apud FONSECA, 1988). 21 NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE │ UNIDADE I Estimulação psicomotora Segundo Le Boulch (2000) o primeiro objeto que a criança percebe é o próprio corpo. É pelas sensações, mobilizações e deslocamento que se dá este conhecimento. Alves (2012) fala da importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento da inteligência, da afetividade, das relações sociais na vida do indivíduo e que elas determinam suas capacidades futuras. O gesto é o primeiro instrumento social de compreensão e expressão da criança. Ações como apontar, evocar, apanhar começam a substituir o choro; a criança gesticula para exprimir situações e ações que ainda não consegue verbalizar, constituindo um importante modo de comunicação que antecede o vocabulário fonético. “Antes da linguagem, as ações motoras é que determinam as ações mentais” (GONÇALVES, 2011, p. 28). É oportuno dizer que estimulação motora oportuniza que a criança entre em contato com o objeto, com o meio e com ela mesma, onde cria uma comunicação corporal significativa. O que diferencia a estimulação motora de uma atividade motora é a sua intenção de provocar aprimoramento do esquema corporal, ou seja, a criança é estimulada a organizar habilidades diferentes, mediante experiências anteriores. Portanto, devemos sempre que for possível, facilitar a interação da criança com o mundo dos objetos, por meio da experiência concreta e do brincar, tornando assim, a aprendizagem mais do que um processo cumulativo, transformando-a em uma aprendizagem mais contextualizada, repleta de significados. De acordo com Gonçalves (2011, p. 30), à medida que se colocam maneiras diferentes e novas para executar o movimento anteriormente conhecido, a criança se vê desorganizada e todo um sistema cerebral é ativado, buscando na cognição, na emoção e no aparato motor uma forma de perceber, decodificar, planificar e executar o novo movimento. As bases psicomotoras Rosália Cavalcanti apresenta em seu artigo Universo Psicomotor no endereço: <http://universopsicomotor.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html> as bases psicomotoras, as quais transcrevemos a seguir: » A primeira base é a tonicidade, responsável por gerenciar a postura, atitudes e adequações de gestos. Está relacionada a resistências, tensão e distensão, ao estado de atenção e pode ser considerada uma dimensão inconsciente da relação. 22 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE » A segunda base é a equilibração, ligada ao sistema proprioceptivo, que fornece informações sobre a noção corporal. É importante para a sensação da posição do corpo em movimento e permite e distribuição do peso corporal em relação ao espaço e o tempo. » A terceira base é a lateralização tem importância fundamental nos aprendizados, a distinção dos lados do corpo; reflete na direção, sentido e orientação corporal. » A quarta base é a noção de corpo é a elaboração das experiências vividas por seu esquema corporal e o reconhecimento desse esquema que lhe propiciará a constituição da identidade corporal, sua imagem, ou seja, a atribuição simbólica de um “eu” ao seu corpo físico. Mantém relação direta com o inconsciente e é a formação do núcleo da personalidade, importantíssima na constituição do psiquismo do indivíduo. » A quinta base é a estruturação espaço-temporal a relação de dados espaciais e dados temporais que capacita/adequa os movimentos e dá o ritmo da vida biológica e psicológica. Possibilita o indivíduo se coordenar na sequência dos gestos, localizarem partes do seu corpo no espaço e organizar a vida cotidiana. » A sexta base é a praxia global e a sétima base a praxia fina. Observamos nas crianças pequenas como se movimentam de forma muito primitiva, usam de muita força, são desajeitadas e após a exploração do seu corpo e dos seus espaços, no correr, girar, subir, descer, agarrar, pular, refinam sua motricidade. Para a autora, as experimentações normais e naturalizadas por meio de brincadeiras exploratórias oportunizam o refinamento dos movimentos e a modulação da força aplicada nas diversas situações. A coordenação motora global é a que antecede a coordenação motora fina. Ainda para a autora, a praxia fina permite a realização do movimento de pinça para pegar um objeto pequeno, segurar um lápis ou uma colher. Esse desenvolvimento natural do movimento mais amplo ao mais refinado colabora na maturidade psicológica do indivíduo, na organização e compreensão mental do mundo circundante. E, a praxia global é requisito para o desenvolvimento da praxia fina e consequentemente o desenvolvimento de atividades neurológicas e cognitivas mais complexas e mais elaboradas. Pensamentos e ações simbólicas nascem de contextos vivenciais e indicam boa saúde “psico e motora”. 23 CAPÍTULO 2 A psicomotricidade e a significação neuropsicológica O Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação – ISPE através do Grupo de Atividades Especializada e ainda, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade definem respectivamente a psicomotricidade e o emprego de seu termo como: Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado. Psicomotricidade é a manifestação corporal do invisível de maneira visível. A ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. (SBP, 1999) Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (SBP, 2003). Xavier (2004 apud Oliveira, 1997, p. 36) afirma que: A psicomotricidade se propõe a permitir ao homem sentir-se bem na sua pele permitir que se assuma com realidade corporal, possibilitando a livre expressão de ser. Não se pretende aqui considerá-la como uma panaceia que vá resolver todos os problemas encontrados em sala de aula. Ela é apenas um meio para auxiliar a criança superar suas dificuldades e prevenir possíveis inadaptações. Segundo Fonseca (1995), a psicomotricidade como ciência, pode ser entendida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências diante de processo de reciprocidade e situações sistêmicas, entre o psiquismo e o corpo, e, entre o psiquismo e a motricidade. 24 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE O autor afirma ainda, a motricidade é entendida como o conjunto de expressões corporais, gestuais e motoras, não verbais e não simbólicas, de índole tônico-emocional, postural, somatognósica, ecognósica e práxica, que sustentam e suportam as manifestações do psiquismo. Na teoria da psicomotricidade, o psiquismo é entendido, como sendo composto pelo funcionamento mental global, isto é, pelas sensações, percepções, emoções, representações, projeções e condutas relacionais e sociais do ser humano. Fonseca (1995) afirma que nesta concepção dinâmica, corporalizada e atuante do psiquismo, todos os processos cognitivos queintegram, processam, planificam, regulam e executam a motricidade, como uma resposta adaptativa com intencionalidade e inteligente, sendo estas exclusivas da raça humana. Já como sistema conceitual, o mesmo autor diz que a psicomotricidade, deve ser estudada e investigada numa arquitetura com três componentes mutuamente interligados: o multicomponencial, o multiexperiencial e o multicontextual. As definições conceituais de Fonseca (1995) são as seguintes: » Multicomponencial: porque procura integrar de forma coerente e coibida os contributos e domínios das ciências biológicas, humanas e sociais, que abrangem secâncias transdisciplinares biopsicossociais que integram paradigmas da ecologia, da antropologia, da fenomenologia, da biosemiótica, da psicossomática, da psicologia, da psicofisiologia, da psicopatologia, da psicologia cognitiva, da psicanálise, da psicopedagogia, da neurociência, da neurologia, da neuropsiquiatria, da neuropsicologia, da neuropatologia, da defectologia, da cibernética e da epistemologia. » Multiexperiencial: uma vez que procura estudar e pesquisar a implicação da psicomotricidade no processo do desenvolvimento e desdesenvolvimento humano, desde o recém-nascido ao sênior, desde o indivíduo inexperiente ao experiente, desde o indivíduo normal ao indivíduo portador de deficiências, dificuldades e ou desvantagens etc., englobando o espectro total da vinculação, da experiência e da vivência humanas. » Multicontextual: na medida em que visa projetar o nível de aplicação do seu conhecimento, das suas capacidades e competências de intervenção profissional nos vários contextos onde se integra e observa a atividade humana, desde a família às creches, desde a educação pré-escolar à escola primária e secundária, desde o hospital aos centros de lazer e animação 25 NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE │ UNIDADE I cultural e desportiva, desde os locais de trabalho aos lares de séniores, ou seja, o âmbito da inclusão total do indivíduo na comunidade em geral. Concordamos com Fonseca (1995) quando afirma que a psicomotricidade toma em consideração, não só o indivíduo, normal ou portador de deficiências, de dificuldades ou desvantagens, como um todo psicossomático ou psicocorporal único, original e evolutivo, onde as funções da motricidade e da corporalidade são encaradas como indissociáveis das funções afetivas, relacionais, linguísticas e cognitivas, são perspectivadas, como a ação, o agir, o gesto, a conduta, a expressão corporal o comportamento, e não meros movimentos, produtos finais, respostas motoras ou exercícios físicos. Deste modo, a psicomotricidade, considera também os seguintes contextos: o ecológico, o sócio-histórico e cultural onde o indivíduo está inserido, objetivando a geração de novos processos de facilitação e de interação com os vários ecossistemas de uma comunidade, ou melhor, de uma sociedade que está em mudança acelerada e muito complexa. Em síntese, podemos dizer que a psicomotricidade parte de uma noção global e sistêmica do corpo e da motricidade, considerando o ser humano, como possuidor de um organismo complexo, que engloba o corpo e o cérebro. De acordo com Almeida (2006), para se trabalhar psicomotricidade no ambiente escolar não precisa haver recursos caros e nem tecnológicos, basta somente a escola ter uma junção de fatores, tais como concepção, comportamento, compromisso, materiais e espaços. Almeida (2006) descreve cada um a seguir: » Concepção: o trabalho necessita ser planejado, pensado e reavaliado todos os dias, precisa haver uma meta que se pretende alcançar, o professor saberá o que foi alcançado e o que pode fazer para melhorar mais o desempenho dos alunos, ele não deve somente ficar usando técnicas sem ao menos saber o que se pretende fazer com elas, pois assim ficará frustrado por não ter objetivos concluídos. » Comportamento: o comportamento do professor que se trabalha psicomotricidade é aquele que deve estar atento a todas as ações executada pelos alunos, intervindo nas atividades com objetivos psicomotores. Quando os alunos estiverem realizando atividades, eles precisam ter relações com os outros, que permitirá a socialização e a humanização, para isso o professor deve fazer o papel de um observador e não de um professor autoritário que repreende a todo o momento nas relações aluno/aluno, o professor irá repreender quando houver necessidade. 26 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E A PSICOMOTRICIDADE Almeida (2006, p. 21), coloca que “o comportamento é o combustível que move as relações diárias de um professor que quer construir coletividade na multiplicidade dos seres com as diferenças de cada um”. » Compromisso: quando o professor planeja suas aulas ele não terá seu tempo desperdiçado, mas sim terá um aproveitamento do trabalho alcançado, pois não havendo planejamento o professor fica perdido, surgindo assim o descompromisso. » Materiais: por si só não modifica nada em um ambiente, precisa haver intervenções do professor. » Espaços: são constituídos de uma estrutura física; salas, quadras, pátios, refeitório e outros. Se os espaços não exercem nenhuma ação, movimento sempre será um espaço vago. Há vários ambientes que pode se dizer que é um espaço educativo, mas para isso o professor deve usar todos os recursos, materiais ali presentes. 27 UNIDADE II A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO CAPÍTULO 1 Avaliação neuropsicológica e as funções cognitivas Ao analisarmos a literatura sobre a complexidade das funções cognitivas, observamos que os estudos iniciais de Luria (1981) sobre os fundamentos da neuropsicologia como ciência, partem do pressuposto conceitual de função, situando o termo no campo sistêmico, e tendo em vista que função, quando se trata da análise do comportamento humano, não diz respeito exclusivamente à “função de um tecido” em particular. Portanto, quando estudamos o termo “função” na neuropsicologia, ela está vetorizada para um conjunto de movimentos que envolvem as ações dos indivíduos, ou seja, seu comportamento como todo. Podemos dizer então, que as abordagens que envolvem as atividades mentais/cognitivas, como formas conscientes de representação, são resultantes de um conjunto de funções, que, por sua vez, englobam outras tantas funções menores, específicas, que na totalidade de suas interações levam o indivíduo a pensar, agir e inserir-se no mundo social. Ao acreditar que o homem, em sua percepção e ação, sua memória, fala e pensamento, se utiliza de um sistema altamente complexo de zonas do córtex cerebral que funcionam em concerto, Luria (1981) cria um novo conceito de função, exercida por sistemas funcionais que visam à execução de uma determinada tarefa. De acordo com sua teoria, as funções mais elementares podem ser localizadas, mas os processos mentais geralmente envolvem zonas ou sistemas que atuam em conjunto, embora se situem, frequentemente, em áreas distintas e distantes do cérebro (COSENZA; FUENTES; MALLY-DINIZ, 2008). 28 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO Segundo Luria (1981), o sistema funcional complexo estaria organizado de acordo com as seguintes premissas: » Os processos mentais complexos, tais como: linguagem, pensamento, memória, abstração, não estão “prontos” no ser humano adulto, não são fenômenos fixos, derivados mecânicos de uma área cerebral que entra em ação, independente do desenvolvimento do indivíduo. Eles são construídos durante a ontogênese (processo evolutivo acerca das alterações biológicas sofridas pelo indivíduo, desde o seu nascimento, até seu desenvolvimento final), por meio da experiência social, ou seja, pela interação intensa e contínua da criança com seus pais e seu meio social. Essa interação permite ao indivíduo adquirir todas as suas funções cognitivas, como memória, linguagem, pensamento, reconhecimento etc. Segundo Sirgado (2000, p. 51), a ontogênese, preocupa-se com a “história pessoal”do organismo individual de cada ser humano como, por exemplo, o desenvolvimento psicomotor específico do homem, previamente traçado numa sequência, compondo a história humana, embora singular nas intercorrências da vida, do ambiente e da cultura de cada um. Segundo o autor, não nascemos totalmente prontos para andar, pensar ou falar, mas temos uma predestinação hereditária que será desenvolvida ao longo da nossa história filogenética e ontogenética. » Do ponto de vista cerebral, as funções e os processos mentais complexos são organizados em sistemas que envolvem zonas cerebrais distintas, cada uma delas desempenhando um papel específico no sistema funcional, agindo e interagindo em concerto. Tais zonas, na maior parte das vezes, estão em áreas diferentes e, em geral, distantes uma das outras no cérebro. Embora distantes, agem de forma coordenada para produzir uma função mental complexa. » A lesão de uma das áreas cerebrais implicada em determinada função mental superior pode acarretar a desintegração de todo o sistema funcional. Portanto, a perda de uma função particular pode informar pouco sobre a sua localização. Muito mais relevante que uma área cerebral circunscrita são os sistemas funcionais complexos, constituídos por rede neuronais amplas e dinâmicas. Dessa forma, a teoria dos sistemas funcionais, elaborada por Luria (1981), é composta por três unidades: » a unidade de atenção, que corresponde ao sistema reticular; 29 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II » a unidade sensorial; » a unidade de planejamento, ambas englobando as áreas primárias, secundárias e terciárias do córtex cerebral. As áreas primárias (de projeção) são as que recebem os impulsos da periferia ou os enviam; as secundárias são as áreas de associação, onde as informações são processadas ou programadas; e as terciárias são zonas de superposição, que dão origem aos processos mentais mais complexos, tais como planejar ou monitorar o comportamento. Assim, o processo de codificação ou recepção das informações que chegam ao nosso cérebro exige a completa integridade das zonas corticais dos analisadores, que deverão ser capazes de dividir as informações em pistas elementares, modalmente específicas (visuais, auditivas ou táteis), selecionar as pistas relevantes, e, por fim, reuni-las em estruturas integrais dinâmicas. Para Luria (1981), as ações voluntárias, ou seja, os comportamentos humanos são sistemas funcionais constituídos por um sistema complexo de zonas cerebrais, que atuam de forma coordenada, cada uma tendo a sua devida contribuição para o todo. A partir do momento em que os processos mentais humanos passaram a ser compreendidos como sistemas funcionais de alta complexidade, e não como localizados em estreitas e circunscritas áreas do cérebro, houve um avanço na neuropsicologia, já que apontou para questões que até então não eram estudas e analisadas. Ou seja, como o cérebro é capaz de se organizar em unidades, que desempenham processos como “obter”, “processar”, “armazenar” as informações, e programar, verificar e regular as atividades mentais. Vygotsky (1987) também se dedicou ao estudo das funções psicológicas superiores tipicamente humanas e, ele e Luria revelaram a existência de múltiplos conceitos entrelaçados, implícitos no desenvolvimento e na aprendizagem humana. Enquanto Luria (1981) propôs a teoria dos sistemas funcionais, Vygotsky (1960) denominou a construção de sistemas funcionais complexos humanos de princípio da organização extracortical das funções mentais complexas. Esse termo sugere que todos os tipos de atividades humanas conscientes são formados com o apoio de ajuda ou instrumentos auxiliares externos (LURIA, 1981), ou seja, com a ajuda do ambiente. Para esses estudiosos, o processo de construção do conhecimento supõe a integração das sensações, percepções e representações mentais. 30 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO Sendo assim, o cérebro pode ser visto como um sistema aberto, que está em interação constante com o meio, e que transforma suas estruturas e mecanismos de funcionamento ao longo desse processo de interação (VYGOTSKY, 1987). Nessa perspectiva, é impossível pensar o cérebro como um sistema fechado, com funções pré-definidas, que não se alteram no processo de relação do homem com o mundo: Desde o princípio, compartilhávamos a opinião de que nem a psicologia subjetiva nem as tentativas de reduzir a atividade consciente como um todo a esquemas simplistas baseados nos reflexos representam um modelo satisfatório da psicologia humana. Era necessária uma nova síntese das vertentes parciais existentes até então. (LURIA, 1992 p. 45) Ainda que seja complexa a compreensão do que é uma função, a neuropsicologia cognitiva parte de um pressuposto chamado modularidade (CAPOVILLA, 2007). Esta se refere à independência funcional entre diferentes processamentos, ou seja, o desenvolvimento ou o prejuízo que determinados componentes cognitivos não afetam a totalidade do sistema cognitivo (FERNANDES, 2003). Dessa forma, os diferentes módulos cognitivos apresentam especificidade de domínio, isto é, processam informações específicas. Nesse sentido, uma lesão ou disfunção cerebral determinada pode conduzir a uma alteração específica, e não genérica, do funcionamento cognitivo. A ideia de que o cérebro consiste em unidades funcionais individuais, chamadas módulos, implica que os processos mentais estão de alguma forma compartimentados e, por isso, operam de modo relativamente independente uns dos outros, processando somente um tipo específico de informação – corporal, visual, auditiva, linguística etc. (CANDIOTO, 2008). No entanto, sabe-se que (NITRINI, 2003): » O comprometimento de uma função complexa (como a nomeação, por exemplo) por uma lesão focal não localiza a função na região afetada. Informamos apenas que essa região participa do sistema ou da rede de conexões relacionadas à função comprometida. » Lesões focais em outras regiões que façam parte do sistema podem comprometer diferentes aspectos desta mesma função. A análise detalhada do distúrbio poderá fornecer informações sobre a contribuição específica de cada uma das regiões na organização da função, em condições normais. 31 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II » Lesão de uma única região pode afetar diversas funções. Outro pressuposto da neuropsicologia cognitiva além da modularidade é a dissociação. Através dela, podem-se verificar situações em que um indivíduo apresente desempenho alterado numa dada tarefa A, mas desempenho intacto numa tarefa B. Um exemplo clássico de dissociação é encontrado no paciente K.F. que, após uma lesão cerebral, apresentou desempenhos em memória de curto prazo seriamente alterados, enquanto que sua memória de longo prazo permaneceu intacta (EYSENCK; KEANE, 1994). De acordo, ainda com Capovilla (2007), o problema das dissociações, se origina da impossibilidade de determinar se as duas tarefas, em que houve dissociação são fenômenos específicos, independentes, ou se simplesmente uma delas é mais difícil que a outra. Já o isomorfismo, o terceiro pressuposto da neuropsicologia, refere-se ao pressuposto da universalidade do sistema cognitivo funcional (FERNANDES, 2003), ou seja, de que os módulos cognitivos são universais a todos os indivíduos e correspondem, de forma aproximada, aos mesmos sistemas neurológicos. Esse pressuposto possibilita a pesquisa neuropsicológica por meio do método de caso único (CAPOVILLA, 2007). A conexão mente corpo: o princípio do isomorfismo José Maria Martins Fonte: <www.josemariamartins.com.br> O conceito de isomorfismo foi frequentemente invocado para explicar a relação mente/corpo por muitos dos autores que reconhecidamente contribuíram para a constituição da psicologia moderna. Dentre os mais conhecidos, podemos citar William James, Kofka,Bechterev, Dunbar, Ribot e Claparède. James Hillman (1998) fez um levantamento detalhado das diversas conceituações destes e de outros autores, expondo uma convergência essencial entre eles: todos veem mente e corpo como uma unidade. Isto não significa que o que acontece na mente seja idêntico ao que acontece no corpo ou no cérebro, pois a dimensão psíquica apresenta características próprias, únicas, emergentes. Mas físico e psíquico formam uma unidade, variam em conjunto, são manifestações isomórficas. Porque as implicações do princípio do isomorfismo são de extrema importância, antes de enunciá-lo de forma sintética, vejamos como aqueles autores abordaram a questão. Koffka O sentimento subjetivo e a observação objetiva do comportamento ou das manifestações fisiológicas demonstram uma concordância total. Isto é 32 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO fundamental para nossa teoria das emoções. Se não houvesse tal concordância, se nós pudéssemos nos sentir excitados enquanto o nosso campo psicofísico estivesse... calmo.... nossa teoria das emoções e, de fato, toda nossa psicologia teria de ser completamente diferente. Elas então certamente não seriam isomórficas, mas acontece que os fatos dão apoio à concepção isomórfica. Bechterev A reflexologia concebe os estados emocionais como reflexos somato-miméticos em que os aspectos subjetivos e objetivos representam um e o mesmo processo indivisível. Dunbar A teoria organísmica fornece o conceito fundamental em medicina psicossomática... a ideia de que o psíquico e o somático não constituem dois universos diferentes, mas o mesmo visto a partir de abordagens diferentes. Ribot Nenhum estado de consciência pode ser dissociado de suas condições físicas; eles constituem uma totalidade natural, que deve ser estudada como tal. Cada emoção deve ser considerada dessa forma: tudo aquilo que é objetivamente expressado por movimentos da face e do corpo, por modificações vaso-motoras, respiratórias e secretórias é expressado subjetivamente por um estado de consciência correlato. Trata-se de uma ocorrência única expressada em duas linguagens. Ribot chama a atenção ainda para o fato de que não se trata de uma relação de causa e efeito. Não é que as manifestações físicas sejam a causa da emoção, mas sim que estamos diante de uma composição análoga e unitária entre duas ordens de eventos, uma chamada de mental e outra de física. Emoções e funções vitais De início, a maioria dos estudiosos pensava que certas técnicas orientais e ocidentais utilizadas para a modificação do estado de consciência indicavam uma separação radical entre mente e corpo no que concerne às emoções. O que as pesquisas contemporâneas mostraram, entretanto, foi o contrário. Como resultado de um treinamento, geralmente longo, nessas técnicas, advindas da ioga, do sufismo, do zen, do aikidô etc., as pessoas adquirem controle sobre a mente através do controle sobre o corpo e vice-versa. De fato, toda uma nova área 33 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II de pesquisa adquiriu status científico exatamente quando os psicofisiologistas da década de sessenta e setenta conseguiram demonstrar que iogues, zen- budistas, aikidocas e outros praticantes de disciplinas similares conseguiam controlar voluntariamente o que se acreditava serem funções orgânicas totalmente autônomas, como batimentos cardíacos, temperatura corporal, ritmo das ondas cerebrais etc. Os resultados destas pesquisas corroboram o princípio do isomorfismo, indicando uma integração essencial entre os dois níveis. Por outro lado, a constatação empírica de que as pessoas podem, através de treinamento, adquirir um controle consciente sobre funções viscerais dá um maior peso à hipótese de que os sintomas físicos encontrados nas doenças psicossomáticas, como nas reações conversivas, têm sua origem em distúrbios emocionais. Pelo menos, ela não deixa dúvidas quanto ao fato de a atuação em um polo poder afetar o outro. O argumento é simples: se está demonstrada a possibilidade de um controle das funções viscerais e de outras funções fisiológicas através da utilizações de técnicas psicológicas, isso significa que um nível pode ser influenciado a partir do outro. Se a partir de um nível pode-se atuar sobre o outro, torna-se evidente também a possibilidade da influência de fatores psicoemocionais na causação ou facilitação de muitas doenças físicas. A diferença entre o controle voluntário, adquirido gradativamente através do treinamento, e os distúrbios psicossomáticos ou conversivos é que esses últimos resultam de processos defensivos inconscientes que, na tentativa de eliminar sentimentos indesejados, danificam os delicados mecanismos de autorregulação organísmica, predispondo à ocorrência dos distúrbios orgânicos. O princípio do isomorfismo nos permite, então, compreender de que forma a interferência com as emoções está relacionada com a origem de tantas doenças físicas, pois tudo que afeta os sentimentos afeta também as funções vitais, já que ambos são intermediados pelos mesmos sistemas, o Sistema Nervoso Autônomo, o neuro-humoral etc. Mais do que isso, as modificações emocionais são simultaneamente modificações nas funções fisiológicas vitais. Portanto, interferir com a manifestação natural de um sentimento é interferir com as funções vitais. Avaliação neuropsicológica A avaliação psicológica baseada na neuropsicologia cognitiva tem por objetivos explicitar os processos subjacentes às atividades mentais superiores do ser humano e correlacionar com o funcionamento neurológico (CAPOVILLA, 2007). 34 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO Dessa forma, destacamos que a avaliação neuropsicológica ocupa um lugar central na neuropsicologia, uma vez que é o método de investigação utilizado para esse fim. Os recursos utilizados na avaliação neuropsicológica são os mais diversos, baseados principalmente em material desenvolvido em laboratórios de neuropsicologia, neurologia e psicometria (MÄDER, 1996). De acordo com Lezak (1995), a avaliação neuropsicológica envolve o estudo de dois aspectos: » os quantitativos: os testes normatizados que permitem obter desempenhos relativamente precisos; » os qualitativos: que incluem entrevistas, questionários, entre outros. Segundo Mäder (1996), os objetivos da avaliação neuropsicológica são basicamente auxiliar o diagnóstico diferencial, estabelecer a presença ou não de disfunção cognitiva e o nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional, e localizar alterações sutis, a fim de detectar as disfunções ainda em estágios iniciais. Além disso, a avaliação neuropsicológica passa a contribuir para o planejamento do tratamento e também colabora no acompanhamento da evolução do quadro em relação aos tratamentos através de medicamentos, procedimentos cirúrgicos e de reabilitação. Fuentes et al. (2008) deixam claro, que as principais razões para se reivindicar uma avaliação neuropsicológica são: » Auxílio diagnóstico: as questões diagnósticas geralmente buscam saber qual seria o problema do paciente e como ele se apresenta. Isso implica que seja feito um diagnóstico diferencial entre quadros que têm manifestações muito semelhantes ou passíveis de serem confundidas. » Prognóstico: com o diagnóstico feito, deseja-se estabelecer o curso da evolução e o impacto que a desordem terá no longo prazo. Este tipo de previsão tem a ver com a própria patologia ou condição de base da doença ou transtorno; quando há lesão, com o lugar, o tamanho e lado no qual se encontra e, nesse caso, devem ser considerados os efeitos à distância que elas provocam. » Orientação para o tratamento: ao estabelecer a relação entre o comportamento e o substrato cerebral ou a patologia, a avaliação neuropsicológica não só delimita áreas de disfunção, mas também estabelece as hierarquiase a dinâmica das desordens em estudo. Tal delineamento pode contribuir para a escolha ou para mudanças nos tratamentos medicamentosos ou outros. 35 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II » Auxílio para planejamento da reabilitação: a avaliação neuropsicológica estabelece quais são as forças e as fraquezas cognitivas, provendo assim um “mapa” para orientar quais funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras. » Seleção de pacientes para técnicas especiais: a análise detalhada de funções permite separar subgrupos de pacientes de mesma patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes para um procedimento ou tratamento medicamentoso. » Perícia: auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área do direito precisam fazer em uma determinada questão legal. 36 CAPÍTULO 2 Desenvolvimento da criança: aspectos somáticos, afetivos, ambientais e sociais Piaget, Vygotsky, Wallon, Freud e a aprendizagem Quando nos reportamos a Piaget e seus estudos, observamos que ele rejeita a teoria de ideias defendidas no passado por filósofos como Platão, Descartes, Leibniz, afirmando que todo o conhecimento deriva da experiência, transformando o sujeito em simples produto do meio. Observa-se ainda em Piaget, através de suas conceituações que todo o organismo ou ser vivo precisa de estrutura para funcionar, para se reproduzir. Do mesmo modo, nossa vida psicológica possui também suas estruturas para poder viver e se adaptar à realidade. Esta relação entre estrutura e meio é denominada de conhecimento – assimilação e acomodação – se constituindo em um processo permanente de autorregulação feita pelo sujeito, no transcorrer de seu desenvolvimento. Para Piaget a criança não é um adulto em miniatura, mas sim alguém que pensa qualitativamente diferente do adulto. Assim sendo, seu pensamento não é inferior, mas diferente do pensamento do adulto, com características próprias que Piaget busca detalhar em sua teoria. Piaget defendia que a inteligência não era apenas hereditária ou resultado dos condicionamentos ambientais, mas que é construída através da interação entre o sujeito e o meio. Dessa forma, quanto mais rico os estímulos – físicos e sociais – apresentar o ambiente, mais a criança poderá atuar sobre ele e desenvolver-se. Para Piaget, a base biológica tem grande importância no desenvolvimento cognitivo, porque é ela quem abre as possibilidades para o desenvolvimento infantil, mas, ela não o determina. A maturação biológica, no entanto, nunca aparece independente de certo “exercício funcional”. Ou seja, não é possível que haja maturação, se não houver estimulação do ambiente (PIAGET, 1987). Segundo Piaget, a interação física é diferente da interação social. A interação física é aquela que se estabelece com os objetos físicos, as coisas materiais. A interação social é aquela que se estabelece entre as pessoas. 37 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II Quanto mais a criança estiver em contato com objetos físicos diferenciados, mais terá oportunidade de se desenvolver, tendo em vista que a interação física estará oportunizando a abstração e promovendo a construção de novos conhecimentos. A interação social também é um fator de grande importância para o desenvolvimento cognitivo, porque permite a consolidação de algumas estruturas cognitivas, como a linguagem por exemplo. O desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo que passa por estágios que marcam diferenças qualitativas de um nível de pensamento e conduta para o outro. Piaget divide em quatro estágios: » sensório-motor (0-2 anos); » pré-operatório (2-7 anos); » operatório-concreto (7-12 anos) » operatório-formal (12 anos em diante). Cada estágio envolve um período de gênese e um de consolidação. Entendendo que conhecer e refletir sobre as características de cada período é uma tarefa primordial para que o professor possa propor estratégias de aprendizagem significativas, sendo assim, apresentamos a seguir uma descrição dos Períodos do Desenvolvimento Cognitivo na teoria de Jean Piaget. Período sensório-motor (0-2 anos) Nesse período, a criança baseia-se em percepções sensoriais (por meio dos órgãos do sentido) e esquemas motores para resolver seus problemas que são práticos: ela percebe o mundo pelas sensações e responde com movimentos: sente, fome, balança as pernas e chora entre outros. Por meio do crescimento inicia-se a construção da noção de “eu”, que significa perceber-se como alguém individualizado, separado de sua mãe. Entende que outras pessoas podem atendê-lo, que não somente a sua mãe e que pode brincar sozinho. Outra observação que confirma nesse período é que a criança começa a se ver como alguém separado da mãe, é quando demonstra perceber a noção da permanência do objeto. Isso ocorre por volta dos oito meses. 38 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO Tem consciência da existência dos objetos, tais como: a mamadeira existe, mesmo que não esteja perto dela, sob seus olhos. As noções de tempo e espaço começam a ser construídas e ela é capaz de antecipar acontecimentos pela observação dos sinais do ambiente. É fundamental que nesse estágio a criança tenha contato com muitos objetos para experimentar o meio e construir estruturas mentais. É importante oferecer à criança materiais diversos como bolas de diferentes tamanhos e texturas, potes que se encaixem, blocos grandes, objetos coloridos etc. O final do período é marcado pelo aparecimento da função simbólica. É capaz de representar eventos mentalmente, quando nina a boneca, empurra o carrinho. Constrói, neste período, duas habilidades importantes: a marcha e a fala. Período pré-operatório (2-7 anos) Este período é caracterizado pelo pensamento egocêntrico. Ser egocêntrico significa colocar-se no centro do mundo. Nesse período a criança não tem consciência do próprio ponto de vista e muito menos do ponto de vista alheio. É capaz de identificar suas necessidades, mas tem dificuldade em se colocar no lugar dos outros. Pensa o mundo a partir de seu ponto de vista. Esse comportamento é observado facilmente em situações em que a criança, ao necessitar de um objeto da criança que está ao seu lado, simplesmente o pega, como se fosse seu. É pouco sensível ao comportamento do outro que chora. Ainda não entende a reação do outro como uma resposta à sua. O trabalho em grupo tem características específicas e a criança não brinca “com” as outras, mas “ao lado” de outras crianças. Por exemplo: se propusermos que um grupo de crianças, nesse período, montem um quebra-cabeça juntas, o comportamento inicial de cada uma será o de separar algumas peças para si, sem levar em conta que a peça que precisa pode estar com a outra e que a ação exige um trabalho coletivo. É a fase do concreto. Ainda não é capaz de abstrair (daí a dificuldade de entender o outro) e de realizar operações mentais. É a fase da exploração do meio ambiente. Explorando-o aprende sobre o ambiente. Para contar, por exemplo, precisa de materiais concretos. O número é entendido pela criança como algo concreto. Como ainda não aprende por regra, não tem noção de perigo, precisando de supervisão de adultos significativos. Por isso, nesta etapa exercita sua coordenação motora global e equilíbrio. Brincadeiras ao ar livre devem ser incentivadas. 39 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II Porém, ainda que não aprenda totalmente o sentido das regras deve ser exposto a elas. Assim, aprende seu limite e respeita o outro, entende, enfim, os limites de cada ambiente. O ambiente deve proporcionar possibilidades de experimentar, de fazer muitas coisas. Atividades ligadas a conteúdos como de língua portuguesa, matemática, ciências devem ser repletas de situações concretas e funcionais. Para aprender o conteúdo, enquanto concreto, tem de fazer sentido para a criança. Ela precisa ver,pegar, sentir para compreender. Um passeio em um parque, por exemplo, pode ser uma ótima oportunidade para aprender questões relacionadas às estações do ano, ao clima, aos pequenos animais etc. Desafios devem ser apresentados e o erro permitido, jamais ridicularizado. A criatividade deve ser incentivada. Trabalhos em grupo devem ser intensificados. O final do período é marcado pelo declínio do egocentrismo e pela capacidade de conservar quantidades. Período operatório-concreto (7-12 anos) No período operatório-concreto a criança já pode realizar operações mentais que, no entanto, precisam de referências concretas internalizadas para que aconteçam. Para fazer as operações matemáticas (somar, subtrair, multiplicar, dividir) precisa inicialmente de realizá-las com uma referência concreta, em situações que fazem sentido para ela. Tão importante quanto realizar operações é saber quando utilizá-las. Entender problemas é uma aprendizagem muito importante, tanto quanto solucioná-los. Por isso os problemas devem contemplar situações do cotidiano e serem passíveis de relação com situações concretas. Diferentes formas de resolver problemas aparecem nesse período. É importante que o professor tente entender o raciocínio da criança. Ao invés de exigir que ele pense como você, socialize as diferentes formas de solucionar problemas que aparecer. Nesta fase começa a entender o ponto de vista do outro. Todavia, o ambiente deve oportunizar situações para que isso aconteça. Participação em jogos cooperativos é mais aconselhável do que jogos altamente competitivos. Gosta dos jogos com regras e considera importante o respeito a elas. É curiosa em relação ao mundo (e essa curiosidade deve ser incentivada). Busca entendê- lo assim como as pessoas. É capaz de estabelecer relações de amizade duradouras. Gosta de conversar e presta atenção nas outras pessoas. 40 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO É capaz de pensamento reversível, de entender e verbalizar a situação contrária: “se eu não estudar, não vou conseguir tirar boa nota”. Então, ”vou estudar e, assim, me dar bem” Entende que a adição é o contrário da subtração por exemplo. Consegue partir de um raciocínio e voltar a ele sem perder “o fio da meada”. Destacamos então que o ambiente escolar, neste período, deva ser desafiador e propiciar o contato com as novidades que possibilitarão à criança agir em busca de respostas. O professor deve mostrar ao aluno o que ele sabe e aonde pode chegar, planejando concomitantemente com ele. Esse movimento atribui segurança e melhora a autoestima da criança. Devemos tomar cuidados especiais quando realizarmos a comparação entre os pares. Período operatório-formal (12 anos em diante) Nesta etapa o raciocínio hipotético-dedutivo é construído. O raciocínio hipotético- dedutivo é aquele que trabalha com hipóteses e faz deduções. O adolescente é capaz de formular essas hipóteses e pensar sobre elas sem a ajuda da referência concreta. Faz planos e os executa, sendo capaz de avaliar os resultados e replanejar. Na matemática, por exemplo, é capaz de trabalhar com equações e outras operações que não têm relação direta com algo que possa ser representado concretamente. Antecipa consequências e as analisa e seu pensamento torna-se livre das limitações da realidade concreta. É capaz de abstrair conceitos, entender doutrinas filosóficas, teorias científicas e dogmas religiosos. Consegue entender a religião, por exemplo, sem precisar ver e sentir nada. Tudo agora é possível em seu pensamento. Esse é o raciocínio que temos quando adultos. Vygotsky (1896-1934) é interacionista, assim como Piaget. Contudo, enquanto este enfatiza o desenvolvimento das estruturas cognitivas como os requisitos fundamentais para a aprendizagem, Vygotsky destaca a influência do meio ambiente, da história, da cultura e da sociedade como elementos mediadores por meio dos quais ocorre sua aprendizagem. Vygotsky dá importância ao processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. A centralidade de seus estudos é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de permanente troca com o meio em que está inserido, a partir de um processo denominado “mediação”. 41 A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO │ UNIDADE II Para Vygotsky, à medida que o indivíduo se relaciona com o ambiente ele vai aprender e vai também modificar seu comportamento e orientar assim, o desenvolvimento do pensamento. Este processo leva a transformação das funções psicológicas elementares superiores através da linguagem, que desde o nascimento reflete como a criança percebe o mundo, permite a comunicação, organiza a conduta, expressa o pensamento e ressalta a importância dos fatores culturais nas relações sociais. Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar. Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa, se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinha, o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta. Neste modelo, a criança é reconhecida como ser pensante capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos. O psicólogo russo e pesquisador do funcionamento intelectual humano, o Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), apresentou suas ideias sobre o assunto que são imprescindíveis ao embate teórico ao qual nos propomos neste capítulo. Trataremos então, do assunto sob o enfoque de uma psicologia sócio-histórica, caracterizada fundamentalmente pela tentativa de reunir dialeticamente, num mesmo modelo explicativo, os mecanismos cerebrais subjacentes ao funcionamento psicológico, como também o desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana, ao longo de seu contexto sócio-histórico. Iniciaremos a explicação do pensamento vygotskiano falando da relação entre as dimensões cognitiva e afetiva para o desenvolvimento humano. Para tanto urge a necessidade de se retomar ao severo questionamento que inflige a sua tradicional 42 UNIDADE II │ A NEUROCIÊNCIA, OS MOVIMENTOS E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO divisão na Ciência Psicológica, sendo ela, uma abordagem global, promovendo assim uma análise não fragmentada. Procuraremos demonstrar a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. O autor, nos mostra que cada ideia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até à direção específica tomada por seus pensamentos, até o seu comportamento e a sua atividade. (VYGOTSKY, 1989, pp. 6-7 apud LA TAILLE, 1992, p. 77). Observamos então, através da citação anterior que além da crítica à divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico, Vygotsky propõe uma aparente antecipação da ação – ou seja, da experiência direta, onde se encontra o fluxo desenfreado de nossos anseios, necessidades etc. – ao pensamento generalizante. Vygotsky concebe a partir de sua dimensão social, a qual a dimensão
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