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Cinesiologia e biomecânica Quadril O quadril é uma clássica articulação esferoidal do corpo, fixada no acetábulo por um extenso conjunto de tecidos conjuntivos e músculos. Camadas espessas de cartilagem articular e osso esponjoso no fêmur proximal, juntamente com uma ação muscular excêntrica, ajudam a amortecer as grandes forças que rotineiramente atravessam o quadril. Artrologia A cabeça do fêmur está localizada em um ponto imediatamente inferior ao terço médio do ligamento inguinal. *O ligamento da cabeça do fêmur (também conhecido como ligamento redondo) é um tecido conjuntivo tubular de revestimento sinovial que corre entre o ligamento transverso do acetábulo e a fóvea da cabeça do fêmur. O acetábulo (do latim acetabulum, que significa “taça de vinagre”) é um soquete hemisférico profundo, semelhante a uma taça, que acolhe a cabeça do fêmur. A fossa do acetábulo é uma depressão localizada profundamente no assoalho do acetábulo. Uma vez que a fossa normalmente não faz contato com a cabeça do fêmur, ela é isenta de cartilagem. Em vez disso, a fossa permite espaço para o ligamento da cabeça do fêmur, gordura, membrana sinovial e vasos sanguíneos. O lábio do acetábulo é um anel fibrocartilaginoso forte e flexível que envolve a maior parte da circunferência externa (limbo) do acetábulo. Completando o anel, o ligamento transverso do acetábulo atravessa a incisura do acetábulo. O lábio do acetábulo fornece uma significativa estabilidade mecânica ao quadril ao “segurar” a cabeça do fêmur e aprofundar o soquete acetabular. A vedação mecânica formada ao redor do quadril pelo lábio intacto ajuda a manter uma pressão intra-articular negativa. Alinhamento acetabular Na posição anatômica, o acetábulo tipicamente se projeta lateralmente a partir da pelve com uma discreta magnitude de inclinação inferior e anterior. Ângulo Centro-Borda O ângulo centro-borda (CB) indica o grau em que o acetábulo cobre a cabeça do fêmur. Os estudos tipicamente relatam um ângulo CB médio de aproximadamente 25 a 35 graus na população adulta em geral (com um desvio- padrão de 4 a 6 graus) Ângulo de Anteversão Acetabular O ângulo de anteversão acetabular, a extensão na qual o acetábulo é voltado anteriormente, pode ser medido em uma tomografia computadorizada (TC) que mostre o plano horizontal da pelve. O espesso ligamento capsular anterior e o tendão do iliopsoas cobrem e sustentam a porção exposta, embora a quantidade de tecido exposto que precisa ser coberto seja maior em um quadril com anteversão acetabular excessiva. Se a anteversão for grave, o quadril pode se tornar vulnerável a uma subluxação ou luxação anterior se houver uma significativa rotação externa. Se o quadril apresentar anteversão femoral e acetabular excessiva, os problemas de exposição anterior e instabilidade podem piorar. Cápsula e ligamentos do quadril A membrana sinovial reveste a superfície interna da cápsula da articulação do quadril. Os ligamentos iliofemoral, pubofemoral e isquiofemoral reforçam a superfície externa da cápsula Devido à fusão íntima dos tecidos, muitas vezes os ligamentos e a cápsula são referidos como uma entidade única: os ligamentos capsulares.) Em geral, cada ligamento recebe seu nome de acordo com sua específica fixação proximal na circunferência óssea externa do acetábulo, em média cerca de 5 mm medialmente ao ápice de sua borda. Partes da cápsula anterior recebem fixações de reforço de três músculos: o pouco conhecido iliocapsular, o glúteo mínimo e a cabeça refletida do reto femoral. O ligamento iliofemoral (ou ligamento Y) é uma lâmina forte e espessa de tecido conjuntivo que lembra um Y invertido. Proximalmente, o ligamento iliofemoral está fixado perto da espinha ilíaca anteroinferior e ao longo do limbo do acetábulo adjacente. As fibras formam fascículos medial e lateral distintos, cada um fixado a uma extremidade da linha intertrocantérica do fêmur. A extensão total do quadril alonga o ligamento iliofemoral e a cápsula anterior. A rotação externa completa também alonga o ligamento iliofemoral, especialmente o fascículo lateral O ligamento iliofemoral é o ligamento mais forte e mais rígido do quadril. Quando a pessoa fica em pé com o quadril em extensão total, a superfície anterior da cabeça do fêmur pressiona firmemente o ligamento iliofemoral e o músculo iliopsoas superposto. A partir da posição ereta, uma tensão passiva nestas estruturas forma uma força de estabilização importante que resiste à extensão adicional do quadril. Uma pessoa com paraplegia pode depender da tensão passiva em um ligamento iliofemoral alongado e estirado para ajudar a manter a postura ereta Embora mais delgados que as fibras do ligamento iliofemoral, os ligamentos pubofemoral e isquiofemoral fundem-se e fortalecem as faces adjacentes da cápsula. O ligamento pubofemoral está fixado ao longo das bordas anterior e inferior do acetábulo e partes adjacentes ao ramo superior do púbis e membrana abdutora. As fibras misturam-se ao fascículo medial do ligamento iliofemoral, tornando- se tensas na abdução e extensão do quadril e, em menor grau, na rotação externa. O ligamento isquiofemoral está fixado nas faces posterior e inferior do acetábulo, basicamente a partir do ísquio adjacente. As fibras mais superficiais deste ligamento, que representam a maior parte de sua substância, seguem superior e lateralmente em espiral, atravessando a parte posterior do colo do fêmur até se fixarem perto do ápice do trocânter maior. Embora estas fibras superficiais sejam estiradas apenas discretamente na extensão total, elas são tensionadas de modo significativo em rotação interna, principalmente quando combinada a 10-20 graus de abdução. Algumas fibras mais profundas do ligamento isquiofemoral misturam-se às fibras circulares adjacentes da cápsula posteroinferior (geralmente referidas como a zona orbicular).1 Estas partes mais profundas da cápsula são alongadas nos extremos de flexão do quadril. Osteocinemática A osteocinemática do quadril do fêmur em relação à pelve descreve a rotação do fêmur sobre uma pelve relativamente fixa. Já a osteocinemática do quadril da pelve em relação ao fêmur descreve a rotação da pelve, e geralmente do tronco superposto, sobre fêmures relativamente fixos. Independentemente de o fêmur ou a pelve ser o segmento móvel, a osteocinemática é descrita a partir da posição anatômica. Os nomes dos movimentos são os seguintes: flexão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal, e rotação interna e externa no plano horizontal Osteocinemática do fêmur em relação à pelve Rotação do Fêmur no Plano Sagital Em média, com o joelho flexionado, o quadril é fletido em aproximadamente 120 graus. O quadril normalmente se estende cerca de 20 graus além da posição neutra. Osteocinemática da pelve em relação ao fêmur Ritmo Lombopélvico A extremidade caudal do esqueleto axial está firmemente fixada à pelve por meio da articulação sacroilíaca. Como consequência, a rotação da pelve sobre a cabeça do fêmur muda a configuração da coluna lombar. Esta relação cinemática importante é conhecida como ritmo lombopélvico. Rotação Pélvica no Plano Sagital: Inclinação Pélvica Anterior e Posterior A flexão do quadril pode ocorrer por meio de uma inclinação pélvica anterior Rotação Pélvica no Plano Frontal A rotação da pelve em relação ao fêmur nos planos frontal e horizontal é adequadamente evidenciada quando uma pessoa fica em pé sobre um membro no contexto de um ritmo lombopélvico contradirecional. Rotação Pélvica no Plano Horizontal A rotação da pelve em relação ao fêmur ocorre no plano horizontal ao redor do eixo de rotação longitudinal (veja círculo verde na cabeça do fêmur Artrocinemática Durante o movimentodo quadril, a quase esférica cabeça do fêmur normalmente permanece bem assentada nos confins do acetábulo. As paredes íngremes e a profundidade relativa do acetábulo, em conjunto com o lábio do acetábulo de ajuste estreito, restringem a translação média fisiológica entre as superfícies articulares a aproximadamente 2 mm ou menos. Entretanto, a artrocinemática do quadril é baseada nos princípios tradicionais de convexo sobre côncavo e côncavo sobre convexo A abdução e a adução ocorrem ao longo do diâmetro longitudinal das superfícies articulares. A rotação interna e a rotação externa ocorrem no diâmetro transversal das superfícies articulares. A flexão e a extensão ocorrem como um giro entre a cabeça do fêmur e as faces semilunares do acetábulo. O eixo de rotação para este giro passa pela cabeça do fêmur. Função Muscular no Quadril Músculos do Quadril Organizados de Acordo com Suas Ações Primárias ou Secundárias* Flexores Adutores Rotadores internos Extensores Abdutores Rotadores externos Primárias Iliopsoas Sartório Tensor da fáscia lata Reto femoral Adutor longo Pectíneo Pectíneo Adutor longo Grácil Adutor curto Adutor magno Não aplicável Glúteo máximo Bíceps femoral (cabeça longa) Semitendíneo Semimembranáceo Adutor magno (cabeça posterior) Glúteo médio Glúteo mínimo Tensor da fáscia lata Glúteo máximo Piriforme Obturador interno Gêmeo superior Gêmeo inferior Quadrado femoral Secundárias Adutor curto Grácil Glúteo mínimo (fibras anteriores) Bíceps femoral (cabeça longa) Glúteo máximo (fibras inferiores/posteriores) Quadrado femoral Obturador externo Glúteo mínimo e médio (fibras anteriores) Tensor da fáscia lata Adutor longo Adutor curto Pectíneo Glúteo médio (fibras médias e posteriores) Adutor magno (cabeça anterior) Piriforme Sartório Reto femoral Glúteo máximo (fibras anteriores/superiores) Glúteo médio e mínimo (fibras posteriores) Obturador externo Sartório Bíceps femoral (cabeça longa) https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151468/epub/OEBPS/xhtml/B9788535287554000125_1.xhtml#tbl3fn1