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Mecanismos Gerais de Lesão Vinay Kumar et al. Robbins. Bases patológicas das doenças. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Cap 2: Respostas Celulares ao Estresse e às Agressões Tóxicas: Adaptação, Lesão e Morte. Visão Geral: Respostas Celulares ao Estresse e aos Estímulos Nocivos. Homeostasia: A célula encontra-se em estado de equilíbrio. Adaptações: São respostas estruturais e funcionais reversíveis às alterações fisiológicas (p. ex., gestação) ou a alguns estímulos patológicos, durante as quais um novo estado de equilíbrio, alterado, é alcançado, permitindo a sobrevivência e a atividade funcional da célula. Tipos de Resposta Adaptativa Hipertrofia: Aumento no tamanho das células e órgãos e da sua atividade funcional. →Geralmente em resposta ao aumento da carga de trabalho; induzida por fatores de crescimento produzidos em resposta ao esforço mecânico ou outros estímulos; ocorre em tecidos incapazes de divisão celular. Hiperplasia: Aumento do número de células. →Em resposta aos hormônios e outros fatores de crescimento; ocorre em tecidos cujas células sejam capazes de se dividir ou contenham abundantes células-tronco teciduais. Atrofia: Diminuição do tamanho e da atividade metabólica das células e órgãos. →Como resultado da diminuição do fornecimento de nutrientes ou seu desuso; associada à diminuição da síntese de elementos constituintes celulares e degradação crescente de organelas celulares. Metaplasia: Mudança do fenótipo das células diferenciadas. →Frequentemente em resposta à irritação crônica, tornando as células mais capazes de resistir ao estímulo nocivo; normalmente induzida por alteração na via de diferenciação de células-tronco do tecido; pode resultar em funções reduzidas ou aumento da propensão para a transformação maligna. Etapas da Resposta Celular ao Estresse e Estímulos Lesivos Se os limites das respostas adaptativas forem excedidos ou se as células forem expostas a agentes ou estímulos nocivos, privadas de nutrientes essenciais, ou ficarem comprometidas por mutações que afetem constituintes celulares essenciais, ocorre uma sequência de eventos denominada lesão celular. A lesão celular é reversível até certo ponto, mas se o estímulo persistir ou for intenso o suficiente desde o início, a célula sofre lesão irreversível e, finalmente, ocorre morte celular. Adaptação, lesão reversível e morte celular podem ser os estágios de um dano progressivo que sucede diferentes tipos de agressões. Por exemplo, em resposta a uma sobrecarga hemodinâmica, o músculo cardíaco aumenta, como uma forma de adaptação, podendo sofrer lesão. Se o suprimento sanguíneo para o miocárdio está comprometido ou é inadequado, o músculo primeiramente sofre lesão reversível, manifestada por certas alterações citoplasmáticas (ver adiante). Finalmente, as células sofrem lesão irreversível e morrem. Visão Geral da Lesão A lesão celular ocorre quando as células são estimuladas tão intensamente que não são mais capazes de se adaptar ou quando são expostas a agentes naturalmente nocivos ou são prejudicadas devido a anormalidades intrínsecas. A lesão pode progredir a partir de um estágio reversível e culminar na morte celular. Causas de Lesão Celular Privação de Oxigênio: O oxigênio é essencial para as células, e sua deficiência (hipoxia), causa lesão celular por reduzir a respiração oxidativa aeróbica. Na hipóxia ocorre: redução do fluxo sanguíneo (isquemia), levando a uma oxigenação inadequanda do sangue devido a deficiência cardiorrespiratória, a redução da capacidade de transporte de oxigênio do sangue, como na anemia ou no envenenamento por monóxido de carbono. Dependendo da gravidade do estado hipóxico, as células podem se adaptar, sofrer lesão ou morrer. Por exemplo, se uma artéria tiver sua luz reduzida, o tecido suprido por esse vaso pode, inicialmente, diminuir de tamanho (atrofia), enquanto uma hipoxia súbita ou mais intensa produz lesão e morte celular. Agentes Físicos: Trauma mecânico, extremos de temperatura (queimaduras e frio intenso), alterações bruscas da pressão atmosférica, radiação e choque elétrico. Agentes Químicos/Drogas: Substâncias simples, como a glicose ou sal em concentrações hipertônicas, podem lesar a célula diretamente ou pela perturbação do equilíbrio eletrolítico das células. Além de medicamentos, venenos, poluentes do ambiente, inseticitas, herbicidas, álcool. Agentes Infecciosos: Vírus, bactérias, fungos, parasitas. Podem ter ação direta, liberar toxinas, endotoxinas, ter a ativação do sistema imune, reação cruzada e a integração ao genoma celular. Reações Imunológicas: O sistema imune exerce função essencial na defesa contra patógenos infecciosos, mas as reações imunes também podem causar lesão celular. Reações lesivas aos autoantígenos endógenos são responsáveis por várias doenças autoimunes. As reações imunes a muitos agentes externos, tais como vírus e substâncias ambientais, são também causas importantes de lesão celular e tecidual. Defeitos Genéticos: Os defeitos genéticos causam lesão celular devido à deficiência de proteínas funcionais, como os defeitos enzimáticos dos erros inatos do metabolismo ou o acúmulo de DNA danificado ou de proteínas anormalmente dobradas, ambos disparando a morte celular quando são irreparáveis. Desequilíbrios Nutricionais: Os desequilíbrios nutricionais continuam a ser importantes causas de lesão celular. A deficiência proteico-calórica provoca um número impressionante de mortes, principalmente entre as populações desfavorecidas. Deficiências de vitaminas específicas são encontradas em todo o mundo. Os extremos também são perigosos: a anorexia nervosa, que falta energia e suprimento para o funcionamento correto do organismo, assim como, a obesidade, que pode desencadear problemas como: excesso de colesterol que pode levar a aterosclerose, além de diabetes e câncer. Alterações Morfológicas na Lesão Celular Mecanismos de Lesão Celular - A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de agressão, sua duração e sua intensidade. - As consequências da lesão celular dependem do tipo, estado e adaptabilidade da célula agredida. - A lesão celular é resultante de diferentes mecanismos bioquímicos que agem em vários componentes celulares essenciais. Depleção de ATP A redução dos níveis de ATP é a causa fundamental da morte celular por necrose. A depleção de ATP e a redução de síntese de ATP são frequentemente associadas a lesão isquêmica e química (tóxica). O ATP é produzido de duas maneiras. A principal via nas células dos mamíferos é a fosforilação oxidativa do difosfato de adenosina, em uma reação que resulta na redução do oxigênio pelo sistema de transferência de elétrons das mitocôndrias. A segunda é a via glicolítica, que pode gerar ATP na ausência do oxigênio usando glicose derivada dos líquidos corporais ou da hidrólise do glicogênio. As principais causas de depleção de ATP são a redução do fornecimento de oxigênio e nutrientes, danos mitocondriais e a ação de algumas substâncias tóxicas (p. ex., cianeto). →O metabolismo energético é alterado. →Na tentativa de compensar a produção de ATP, o organismo faz glicólise anaeróbica, o pH fica ácido devido ao ácido lático em excesso, provocando desnaturação das proteínas e pode levar a morte. →Interferem também a bomba de sódio e potássio e a bomba de cálcio. Elas são transportes ativos e precisam de ATP para acontecer. →As proteínas se tornam anormalmente dobradas e o acúmulo delas no reticulo endoplasmático gera uma reação de resposta de proteína não dobrada. Danos Mitocondriais A mitocôndria pode ser danificada por aumentos de Ca 2+ citosólico, espécies reativasde oxigênio , privação de oxigênio, e assim elas são sensíveis a praticamente todos os tipos de estímulos nocivos, incluindo hipoxia e tóxicos. Há três principais consequências dos danos mitocondriais: • O dano mitocondrial frequentemente resulta na formação de um canal de alta condutância na membrana mitocondrial, chamado de poro de transição de permeabilidade mitocondrial. A abertura desse canal de condutância leva à perda do potencial de membrana mitocondrial, resultando em falha na fosforilação oxidativa e na depleção progressiva do ATP, culminando na necrose da célula. • A fosforilação oxidativa anormal também conduz à formação de espécies reativas de oxigênio, as quais têm muitos efeitos deletérios. • As mitocôndrias abrigam entre suas membranas interna e externa várias proteínas capazes de ativar as vias apoptóticas, incluindo o citocromo c e proteínas que ativam indiretamente enzimas indutoras da apoptose, chamadas caspases. O aumento da permeabilidade da membrana mitocondrial externa pode resultar na liberação dessas proteínas para o citosol e em morte por apoptose. Influxo de Cálcio e Perda da Homeostase do Cálcio Os íons cálcio são importantes mediadores da lesão celular. De acordo com isto, a diminuição do cálcio protege as células de lesões induzidas por uma variedade de estímulos nocivos. O cálcio livre no citosol é normalmente mantido em concentrações muito baixas (≈ 0,1 µmol) em comparação com os níveis extracelulares de 1,3 mmol, e a maior parte do cálcio intracelular fica sequestrada na mitocôndria e no RE. A isquemia e certas substâncias tóxicas causam um aumento da concentração do cálcio citosólico, inicialmente pela liberação do Ca 2+ dos estoques intracelulares e, posteriormente, pelo aumento do influxo através da membrana plasmática. O aumento do Ca 2+ intracelular causa lesão celular por vários mecanismos. • O acúmulo de Ca 2+ nas mitocôndrias leva à abertura dos poros de transição de permeabilidade mitocondrial e, como descrito, à falência na geração de ATP. • O aumento do cálcio citosólico ativa diversas enzimas, com efeitos potencialmente deletérios sobre a célula. Essas enzimas incluem as fosfolipases (que causam dano às membranas), proteases (que clivam as proteínas de membrana e do citoesqueleto), endonucleases (que são responsáveis pela fragmentação da cromatina e do DNA) e as ATPases (acelerando, assim, o esgotamento de ATP). • O aumento dos níveis de Ca 2+ intracelular resultam, também, na indução da apoptose, pela ativação direta das caspases e pelo aumento da permeabilidade mitocondrial. Acúmulo de Radicais Livres Derivados do Oxigênio (Estresse Oxidativo) - EROS A lesão celular induzida por radicais livres, particularmente as espécies reativas de oxigênio, é um importante mecanismo de dano celular em muitas condições patológicas, como a lesão química e por radiação, lesão de isquemia-reperfusão (produzida pela restauração do fluxo sanguíneo em um tecido isquêmico), envelhecimento celular e morte de micorganismos pelos fagócitos. Os radicais livres são espécies químicas que têm um único elétron não emparelhado em um orbital externo. Os elétrons não emparelhados são altamente reativos e “atacam” e modificam moléculas adjacentes, tanto substâncias inorgânicas quanto orgânicas — proteínas, lipídios, carboidratos, ácidos nucleicos — , muitas delas componentes essenciais do núcleo e das membranas celulares. Algumas dessas reações são autocatalíticas, isto é, as moléculas que reagem com os radicais livres são convertidas em radicais livres, gerando, assim, uma propagação de danos em cadeia. As espécies reativas de oxigênio (ERO) são um tipo de radical livre derivado do oxigênio, cujo papel na lesão celular está bem estabelecido. Normalmente, ERO são produzidas nas células durante a respiração mitocondrial e geração de energia, mas são degradadas e removidas pelos sistemas de defesa celulares. Portanto, as células são capazes de manter um estado estável no qual os radicais livres estão presentes transitoriamente, em baixas concentrações, mas sem causar danos. O aumento da produção ou a diminuição da eliminação das ERO provoca um excesso desses radicais livres, uma condição chamada de estresse oxidativo. O estresse oxidativo tem sido implicado em uma grande variedade de processos patológicos, incluindo lesão celular, câncer, envelhecimento e algumas doenças degenerativas como doença de Alzheimer. As ERO são produzidas também em grandes quantidades por leucócitos ativados, particularmente neutrófilos e macrófagos, durante a reação inflamatória, auxiliando na destruição de micróbios, remoção de células mortas e outras substâncias indesejáveis. Na próxima seção, discutiremos a geração e remoção das ERO e como elas contribuem para a lesão celular. → EROS: Espécies reativas de oxigênio. É um átomo instável (possui apenas um único elétron na órbita externa). Um átomo estável possui um par de elétrons na órbita externa e quando perde esse elétron pareado vira um radical livre. Essa radical livre precisa ter um elétron adicionado novamente para que se torne novamente uma átomo estável. Possuímos no organismo substâncias que encontram esses radicais livres e tornam-os estáveis →Antioxidantes. E esse acúmulo de radicais livres pode gerar alterações e danos no organismo. Defeitos na Permeabilidade da Membrana Nas células isquêmicas, os defeitos de membrana são o resultado da depleção de ATP e da ativação cálcio mediada de fosfolipases. A membrana plasmática pode também ser danificada diretamente por várias toxinas microbianas, proteínas virais, componentes líticos do complemento e numerosos agentes químicos e físicos. Vários mecanismos bioquímicos contribuem para os danos à membrana. • Espécies reativas de oxigênio. Os radicais livres do oxigênio causam lesão às membranas celulares através da peroxidação lipídica. • Aumento na quebra dos fosfolipídios. Lesões celulares graves estão associadas ao aumento da degradação de fosfolipídios da membrana, provavelmente devido à ativação de fosfolipases cálcio-dependentes pelos níveis elevados de Ca 2+ citosólico e mitocondrial. • Anormalidades citoesqueléticas. Os filamentos do citoesqueleto funcionam como âncoras que conectam a membrana plasmática ao interior da célula. Danos ao DNA e às Proteínas As células possuem mecanismos que reparam danos ao DNA, porém se o dano é muito grave para ser corrigido (p. ex., após exposição do DNA a fármacos nocivos, radiação ou estresse oxidativo), a célula inicia um programa de suicídio que resulta em morte por apoptose. Uma reação semelhante é iniciada por proteínas incorretamente dobradas, as quais podem ser resultantes de mutações hereditárias ou por causas adquiridas, como os radicais livres. Como esses mecanismos de lesão celular causam, tipicamente, a apoptose. Conceitos-Chave: Mecanismos de Lesão Celular -Depleção de ATP: falência das funções dependentes de energia → lesão reversível → necrose. -Danos mitocondriais: depleção de ATP → falência das funções celulares dependentes de energia → consequentemente, necrose; sob certas condições, a saída de proteínas mitocondriais causa apoptose. -Influxo de cálcio: ativação de enzimas que danificam os componentes celulares e também podem desencadear apoptose. -Acúmulo de espécies reativas de oxigênio: modificação covalente de proteínas, lipídios e ácidos nucleicos celulares. -Aumento da permeabilidade das membranas celulares: afeta a membrana plasmática, as membranas lisossômicas e as membranas mitocondriais; tipicamente resulta em necrose. -Acúmulo de DNA danificado e proteínas mal dobradas: desencadeia apoptose.
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