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CASO PRÁTICO Clarice Alves e Silva 7° Período Tiago, nascido em 01/01/1999, primário, começa a namorar Joaquina, jovem que recém completou 15 anos. Logo após o início do namoro, ainda muito apaixonado, é surpreendido pela informação de que Joaquina estaria grávida de seu ex-namorado, o adolescente João, com quem mantivera relações sexuais. Joaquina demonstra toda a sua preocupação com a reação de seus pais diante desta gravidez quando tão jovem e, em desespero, solicita ajuda de Tiago para realizar um aborto. Diante disso, no dia 03/01/2017, em Porto Alegre, Tiago adquire remédio abortivo cuja venda era proibida sem prescrição médica e o entrega para a namorada, que, de imediato, passa a fazer uso dele. Joaquina, então, expele algo não identificado pela vagina, que ela acredita ser o feto. Os pais presenciam os fatos e levam a filha imediatamente ao hospital; em seguida, comparecem à Delegacia e narram o ocorrido. No hospital, foi informado pelos médicos que, na verdade, Joaquina possuía um cisto, mas nunca estivera grávida, e o que fora expelido não era um feto. Após investigação, no dia 20/01/2017, Tiago vem a ser denunciado pelo crime do Art. 126, caput, c/c. o Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, perante o juízo do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Alegre/RS, não sendo oferecido qualquer instituto despenalizador, apesar do reclamo defensivo. A inicial acusatória foi recebida em 22/01/2017. Durante a instrução da primeira fase do procedimento especial, são ouvidas as testemunhas e Joaquina, assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As partes apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a conclusão do feito para decisão. Antes de ser proferida decisão, mas após manifestação das partes em alegações finais, foram juntados aos autos o boletim de atendimento médico de Joaquina, no qual consta a informação de que ela não estivera grávida no momento dos fatos, a Folha de Antecedentes Criminais de Tiago sem outras anotações e um exame de corpo de delito, que indicava que o remédio utilizado não causara lesões na adolescente. Com a juntada da documentação, de imediato, sem a adoção de qualquer medida, o magistrado proferiu decisão de pronúncia nos termos da denúncia, sendo publicada na mesma data, qual seja, 03 de maio 2021, segunda-feira, ocasião em que as partes foram intimadas. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Tiago, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição, considerando-se que todos os dias de segunda a sexta-feira são úteis em todo o país. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS. Processo n° ... Thiago, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com base e fundamentação no artigo 518, IV, do Código de Processo Penal. Por oportuno, é requerido que seja recebido e procedido o juízo de retratação, nos termos do artigo 589, do Código de Processo Penal. No entanto, caso seja mantida a decisão, requer os autos sejam submetidos, já com as inclusas razões, ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Nestes termos, Pede deferimento, Rio Grande do Sul, 13 de maio de 2021. Advogado... OAB... EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RECORRENTE: Thiago. RECORRIDO: Ministério Público Autos n°... RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO COLÊNDA CÂMARA CRIMINAL I) DOS FATOS O recorrente foi pronunciado por tentativa de aborto, conforme o artigo 126, caput, c/c artigo 14, II, ambos artigos do Código Penal, por comprar remédio abortivo a fim de que sua namorada fizesse uso. Na audiência de instrução foram ouvidas as testemunhas e Joaquina, assim como o réu foi interrogado, todos confirmando o ocorrido. As partes apresentaram alegações finais orais, sendo assim o juiz determinou a conclusão do feito proferindo, após, decisão de pronúncia, sendo as partes intimadas da decisão, em 03 de maio de 2021. II) DO DIREITO a) PRELIMINARES a.1) DA PRESCRIÇÃO Considerando que o réu foi pronunciado com fundamento no artigo 126 c/c 14 do CP, a pena máxima para este delito seria de 04 anos, de acordo com o artigo 109, IV do CP, prescreveria em 08 anos. O réu na data dos fatos, era menor de 21 anos, tendo em vista que esse nasceu em 01/01/1999, e os fatos foram praticados em 03/01/2017, ocasião em que o prazo prescricional será diminuído pela metade, conforme o artigo 115 do CP, sendo então, 04 anos. Uma vez que entre a data do recebimento da denúncia e a decisão confirmatória, passaram-se mais de quatro anos. Sendo assim, a extinção da punibilidade do réu, deve ser extinta, conforme descrito no artigo 107, IV do Código de Processo Penal. Não restando responsabilidade jurídica penal a ser imputada ao recorrente. a.2) DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO Não foi cedido ao réu o instituto despenalizador, mesmo que a defesa técnica tenha arguido. Em razão disso, vale ressaltar o artigo 89 da lei 9.099/95, que garante a suspensão condicional do processo, já que a pena mínima prevista para o delito imputado ao acusado não excede a um ano. O acusado é primário e preenche os requisitos do artigo 77 do CP. Em virtude disso, não óbice para a aplicação do referido instituto legal. a.3) DA NULIDADE Após as alegações finais das partes, foi juntado aos autos documento de atestado médico, folhas de antecedentes criminais do réu, bem como o exame de corpo de delito e, de imediato, o magistrado proferiu decisão de pronúncia. Sendo explícita violação ao artigo 5°, LV, da CRFB, que assegura o princípio do contraditório e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes, ocasião que não foi observada. Em virtude disso, requer o reconhecimento da nulidade conforme o artigo 514, IV, do CPP, uma vez que o contraditório constitui elemento essencial do ato, devendo este ser refeito. b) DO MÉRITO b.1) DO CRIME IMPOSSÍVEL O recorrente foi denunciado com incurso nas sanções previstas dos artigos 126, caput c/c artigo 14, II, ambos do CP, sendo acusado de comprar substância abortiva a fim de que sua namorada fizesse uso. Suspostamente, com a intenção de matar o feto, sendo logo após, pronunciado nestes termos. No entanto, houve informação da equipe médico hospitalar, que constatou que a namorada do recorrente nunca esteve grávida, informando que ela apenas possuía um cisto que foi expelido para fora, logo não se tratava de um feto. Diante do exposto a tese do crime impossível por ineficácia absoluta do objeto, não há o que se falar em tentativa de abordo, levando em consideração que inexistia bem jurídico a ser tutelado. Portanto, de acordo com o artigo 17 do Código Penal, a conduta do réu é atípica, não incidindo a responsabilização pela tentativa, merecendo ser absolvido com fundamentação no artigo 415, III do CPP. III) DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer que seja reformada a decisão com o provimento do recurso. Nestes termos, Pede deferimento. Rio Grande do Sul, 13 de maio de 2021. Advogado... OAB...
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