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Disciplina: Planejamento escolar e avaliação da aprendizagem Aula 7: Funções da Avaliação Escolar Apresentação Nesta aula, conheceremos as funções da avaliação – um dos itens que pertence ao planejamento didático. Além disso, entenderemos por que esse processo precisa considerar as competências requeridas nas novas diretrizes da BNCC e as mudanças contemporâneas que exigem um processo significativo de análise de desempenho, a fim de ajudar o aluno a enxergar criticamente sua realidade e o espaço social no qual vive. Objetivos Identificar as funções da avaliação e a importância desse elemento no processo de aprendizagem; Reconhecer as funções da avaliação. Definição de avaliação O termo avaliar deriva do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Dessa maneira, avaliar é conferir um juízo de valor sobre a particularidade de um processo para aferir a qualidade do seu resultado. No entanto, somos levados tradicionalmente a acreditar que avaliar tem o sentido de medir, testar ou verificar. Veja, a seguir, um quadro que descreve brevemente esses conceitos: Menos abrangente Mais abrangente Testar Medir Verificar Avaliar Verificar um desempenho mediante situações previamente organizadas, que são chamadas de testes. Descrever um fenômeno do ponto de vista quantitativo. Obter, observar, analisar e sintetizar os dados ou as informações do objeto. Interpretar dados quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor para a tomada de decisão. No entanto, ao lermos o quadro criteriosamente, percebemos que os quatro conceitos se diferem entre si e que podem ser mais ou menos abrangentes de acordo com o que se propõem. Dessa maneira, avaliar não é simplesmente medir um determinado objeto e verificar seu resultado. De acordo com Demo (1999), avaliar exige reflexão, planejamento e proposição de objetivos, tendo como intenção o entendimento do ato avaliativo a partir de um processo amplo, que inclui as esferas educativa, social e política. Já para Libâneo (1994), avaliar é uma atividade didática necessária e permanente do trabalho docente. Para ele, os resultados da avaliação serão obtidos no decorrer do trabalho do professor com os alunos e pela comparação dos objetivos propostos com o progresso e as dificuldades, com o objetivo de nortear o trabalho e propor as correções necessárias. Assim, a avaliação precisa ser constante no trabalho docente, pois, além servir para perceber se o estudante aprendeu ou não, deve refletir sobre o nível de qualidade do trabalho acadêmico do aluno e do professor a fim de produzir mudanças significativas. Fonte: Shutterstock A avaliação escolar é, portanto, uma atividade que permite a professores e alunos adquirirem elementos indispensáveis para o mapeamento do processo de aprendizado mediante os seguintes aspectos: Verificação dos aspectos que necessitam de melhoria ou aperfeiçoamento; Demonstração dos objetivos de ensino que já foram alcançados; Esclarecimento das dificuldades encontradas. Por isso, avaliar perpassa ao simples ato de medir, pois é um amplo processo que exige uma tomada de decisão. De acordo com Guba e Lincoln (1989) há quatro gerações na avaliação. Veja quais são elas na tabela a seguir: Geração Função Papel doavaliador Matriz Característica Mensuração Medir para elaborar instrumentos ou testes de verificação. Técnico. Reprodutorae somativa. Classificatória e informativa. Descrição Descrição relacionada ao sucesso ou à dificuldade encontrada pelo aluno aos objetivos propostos. Interativo para descrever e controlar padrões e critérios. Intenções e observações. Classificatória e descritiva. Julgamento Questionamento dos testes padronizados e simplista da Juiz do processo de mensuração e descrição. Padrões e julgamentos. Classificatória, informativa e descritiva. avalição como medida. Negociação Prover informações que permitam a tomada de decisões sobre as intervenções e redirecionamentos do processo de aprendizagem. Deixa-se estimular pelos sujeitos da avaliação e pelas atividades. Atividades e audiência. Responsiva e construtivista. Avaliação por mensuração A avaliação por mensuração não diferencia a avaliação em si da medida, pois seu objetivo é a composição de instrumentos ou testes para medir a inteligência e as aptidões do rendimento educacional. Por isso, nesses casos, o docente é apenas um técnico que elabora testes e exames precisos para medir aptidões ou aprendizagens humanas e quantificá-las, compará-las ou ordená-las numa escala quantitativa. Essa concepção está estritamente ligada aos conceitos tayloristas, que tinham como objetivo explícito de verificar se os sistemas educativos produziam bons ‘materiais’ a partir da ‘matéria-prima’ disponível, ou seja, os alunos. Por isso, nesta sala de aula, a avaliação é medição. Em termos práticos, pode significar que a avaliação se restringe à gerência de testes e à atribuição de uma classificação em períodos determinados. Fonte: Shutterstock Podemos distinguir como características dessa geração de avaliação: As funções somativa, classificativa e seletiva; O único objetivo da avaliação – acúmulo dos conhecimentos; A quase nenhuma participação do aluno no processo; A avaliação, em geral, descontextualizada; A quantificação das aprendizagens – em busca da objetividade e da neutralidade do professor; Os resultados da avaliação – base de comparação entre os outros sujeitos da turma. Avaliação descritiva A avaliação descritiva surge para entender o objetivo da avaliação, pois considera que a geração anterior apresenta apenas informações acerca do conhecimento adquirido pelo aluno. Por isso, entende-se que é necessária, além da medição, a descrição dos programas de ensino e do sucesso ou dificuldade com relação aos objetivos estabelecidos para cada etapa do processo de aprendizagem. Dessa forma, o objetivo da avaliação é descrever pontos fortes e fracos da avaliação, identificando até que ponto o estudante atingiu os objetivos definidos pelo programa. Por isso, o professor foca na descrição dos padrões e critérios da avaliação, uma vez que eles eram importantes para saber o que estava em jogo na avaliação. A geração descritiva concebe o currículo como um conjunto planejado de experiências formativas, que devem colaborar para que os alunos atinjam objetivos comportamentais definidos previamente pelo programa. Essa perspectiva de avaliação, com enfoque comportamentalista, envolve paradigmas positivistas, A avaliação descritiva influenciou muito nossos sistemas educativos a partir da década de 1970, dando um caráter tecnicista à educação. Fonte: Shutterstock Os pontos fundamentais do modelo descritivo são: • Elaboração e classificação dos objetivos de acordo com o grau de generalização e especificidade; • Definição prévia de cada objetivo em termos comportamentais; • Reconhecimento e definição das situações que demonstram os comportamentos pretendidos nos objetivos; • Seleção e experimentação de vários métodos e instrumentos de avaliação dos comportamentos, como questionários e fichas de registro de comportamentos aliados aos exames e provas. Dessa forma, essa geração estabelece a avaliação como simples verificação das mudanças comportamentais ocorridas ao longo do processo de aprendizagem em consonância com os objetivos propostos no programa. Avaliação como julgamento A avaliação como julgamento parte do questionamento sobre a noção simplista da medida das gerações anteriores e inclui como prioridade no processo avaliativo o juízo de valor. Neste sentido, o avaliador adquire o papel de juiz, pois é necessário julgar as dimensões do processo de aprendizagem, bem como os objetivos. No entanto, esse tipo de avaliação preserva a mensuração e descriçãodas gerações anteriores. A ideia de tomada de decisões e de que a avaliação deve ser mais do que medir e coletar informações surge nas reflexões sobre avaliação a partir dessa abordagem. De acordo com essa visão, a avaliação precisa envolver todos os interessados no processo e no contexto avaliativo. Avaliação como negociação A avaliação como negociação (GUBA; LINCOLN, 1989) é um processo interativo e negociado, que se baseia no paradigma construtivista, como uma alternativa às três gerações anteriores, pois rompe com os conceitos estabelecidos por elas. Esse tipo de avaliação se caracteriza por ser respondente, ou seja, o ponto inicial do processo não estabelece parâmetros, uma vez que eles serão determinados e definidos com o uso de um processo negociado e interativo com os alunos. A avaliação como negociação está baseada nos seguintes princípios e concepções: O conceito relativo não tem uma única definição, pois depende de quem faz a avaliação e de quem dela participa. Professores e alunos devem partilhar o poder de avaliar e utilizar uma variedade de estratégias, técnicas e instrumentos de avaliação. O processo de ensino e aprendizagem deve estar integrado para auxiliar as pessoas a desenvolver suas potencialidades. A função formativa é seu principal papel, que está estritamente conectado às atividades de melhoria, desenvolvimento, aprendizado e motivação. O feedback é um fator imprescindível, pois é mediante essa prática que a incluímos no processo de aprendizagem. Contextos, negociação, envolvimento dos participantes, construção social do conhecimento e processos socioculturais em sala de aula devem ser priorizados, assim como métodos predominantemente qualitativos. No entanto, não se exclui a utilização de métodos quantitativos. Percebemos que a avaliação negociada surge a partir de concepções de aprendizagem diferentes das tradicionais, o que, certamente, representa um paradigma do conhecimento baseado em conceitos construtivistas. A avaliação responsiva se desenvolve a partir de preocupações e proposições em relação ao seu objetivo, podendo ser de um curso, projeto ou programa de ensino. Por isso, coloca-se como alternativa ao tradicional modelo científico, com o objetivo de permitir intervenções e redirecionamentos necessários ao longo do processo de aprendizagem do aluno. Atividade 1. Assista ao vídeo Pedagogia: Cotidiano Escolar <https://www.youtube.com/watch?v=P5LRa8P6-Qk> , que apresenta, de forma cômica, o complexo processo da educação e da avaliação. Em seguida, faça uma análise sobre o vídeo que você acabou de assistir. Foque na crítica acerca da avaliação e das atividades propostas pelos professores em situações cotidianas na escola, tais como: apresentação de trabalhos, provas, entregas de boletins etc. Funções da avaliação Se entendermos função como as atividades desenvolvidas para alcançar um determinado objetivo, podemos considerar que a avaliação tem funções gerais e específicas, conexas à função da educação, que se constitui nas práticas das relações humanas quando integram ou diferenciam as pessoas. Funções gerais – integrativas e diferenciadas De acordo com Cook (1961), as funções gerais são integrativas e diferenciadas. Podemos dizer que a educação e a avaliação cumprem sua função integrativa quando tentam aproximar as pessoas a partir de um processo de equiparação de linguagem, ideias, valores, adaptação social e intelectual. No caso da função diferenciada, para os processos de educação e de avaliação, ocorre o contrário, pois buscam destacar as diferenças entre as pessoas para prepará-las para o mercado (atividades e profissões específicas) com base em suas competências individuais. O esquema seguinte resume os dois conceitos e a derivação deles na atividade avaliativa: As funções da avaliação integram-se à função da educação. Podemos destacar três funções específicas da avaliação (BRUM, 1971 apud TURRA, 1982): diagnóstica, formativa e somativa. Função diagnóstica Corresponde à atividade inicial da avaliação, pois oferece informações sobre as capacidades do aluno antes de iniciarmos o processo da aprendizagem. Nessa fase, buscamos a presença de habilidades ou pré-requisitos no aluno. Também tentamos identificar as dificuldades da aprendizagem e suas causas. Fonte: Shutterstock Podemos elencar alguns itens da função diagnóstica: Pré-requisito, ou seja, averiguação dos conhecimentos ou habilidades que o estudante demonstra para aprender algo; Identificação ou caracterização das causas determinantes das dificuldades de aprendizagem para um diagnóstico e planejamento dos próximos passos; Oferecimento de informações sobre o rendimento do aluno. Função formativa Essa função nos possibilita identificar se os alunos estão realmente conseguindo os objetivos pretendidos. É o elemento fundamental para que o aluno e o professor consigam identificar erros e acertos, possibilitando um planejamento sistemático das atividades futuras de ensino e aprendizagem. É interessante destacar que a função formativa da avaliação permite o aperfeiçoamento do trabalho docente, pois o professor percebe claramente os pontos que necessitam de ajustes e aprimoramento para facilitar o processo de aprendizagem. Fonte: Shutterstock Podemos resumir essa função a partir dos seguintes itens: Informar ao aluno e ao professor sobre os resultados e dificuldades no processo de aprendizagem para aprimorá-lo continuamente; Apontar, destacar e discriminar deficiências e insuficiências no desenvolvimento da aprendizagem com a finalidade de eliminá-las; Realçar a importância do retorno dado aos alunos a partir de leituras, correções, explicações e exercícios. Função somativa O principal objetivo dessa função da avaliação é determinar o nível de conhecimento do aluno em determinadas áreas de aprendizagem ao final de etapas educativas específicas pontuais (bimestre, semestre, anualmente, por projeto), O objetivo dessa função é apreciar os resultados já adquiridos por avaliações formativas e conseguir indicadores que permitam aperfeiçoar o processo de ensino. Fonte: Shutterstock Podemos resumir essa função a partir dos seguintes itens: Tem foco na determinação do grau de domínio dos objetivos pré- estabelecidos pelo programa e pelo professor; Realiza, ao final de cada etapa, um balanço somatório do trabalho educativo; Informa, situa e classifica o aluno avaliado no final do processo de aprendizagem como mencionado no ponto acima; Fornece informações resumidas sobre o que os alunos assimilaram e que servem para verificar, classificar, situar, informar e certificar esses estudantes, além de julgar o que foi feito com os alunos: currículo, proposta, programa. Atividade 2. Para pensarmos um pouco sobre a avaliação, analise a figura a seguir e reflita sobre a questão posta no balão de fala. Escreva um pequeno texto em que você disserte sobre a função da avaliação. 3. Paulo Freire discute sobre a importância da observação como exercício do aprendizado do olhar. O olhar é definido por ele como o movimento de sair de dentro de nós para ver o outro e fazer uma leitura da realidade. Quando fazemos essa leitura, podemos formular hipóteses sobre o momento de educação em que o outro se encontra, colher dados da realidade, trazer esses dados de volta para dentro de nós e repensar as hipóteses formuladas. O movimento descrito acima é parte integrante do processo de aprendizagem e delineia a ação didática da: a) Aprendizagem colaborativa b) Avaliação qualitativa c) Interdisciplinaridade d) Tranversalidade e) Multidimensionalidade 4. A avaliação realizada com o propósito de informar ao docente e ao discente sobre o resultado das atividades escolares, a fim de identificar as deficiências ao longo do processo didático-pedagógico, bem como de reformular objetivos e técnicas para o sucessoda aprendizagem, é chamada de: a) Somativa b) Formativa c) Diagnóstica d) Inclusiva e) Classificatória 5. A avaliação que tem como função classificar os alunos ao final da unidade, do semestre ou do ano letivo de acordo com níveis de aproveitamento é chamada de: a) Somativa b) Formativa c) Diagnóstica d) Inclusiva e) Exclusiva 6. De acordo com a professora Ilza Sant’Anna, o processo que tem como função informar o aluno e o professor sobre os resultados que estão sendo alcançados durante o desenvolvimento das atividades, a fim de aprimorar o ensino e a aprendizagem, bem como de localizar deficiências para eliminá- las, é conhecido como: a) Planejamento didático b) Avaliação por competências c) Avaliação somativa d) Avaliação formativa e) Planejamento andragógico 7. Um dos propósitos da avaliação com esta função consiste em informar o professor sobre o nível de conhecimentos e de habilidades dos alunos antes de iniciar o processo de aprendizagem para determinar o quanto progrediram depois de certo tempo. Nesse caso, estamos nos referindo à função: a) Diagnóstica b) Formativa c) Colaborativa d) Somativa e) Classificatória Referências ANTUNES, C. Como desenvolver competências em sala de aula. Petrópolis: Vozes, 2010. BORDANAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. DEMO, P. Avaliação qualitativa. 6. ed. São Paulo: Autores Associados, 1999. GUBA, E.; LINCOLN, Y. Fourth generation evaluation. Londres: Sage, 1989. LIBÂNEO, J. C. Didática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994. MEDEIROS, E. B. Provas objetivas: técnicas de construção. Rio de Janeiro: FGV, 1977. SANT’ANNA, I. M. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. TURRA, C. M. G. et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1982. Próximos Passos Perspectivas e abordagens teóricas na avaliação da aprendizagem; Inclusão de competências na atividade de avaliação na escola proposta pela BNCC; Perspectivas e abordagens teóricas na avaliação da aprendizagem. Explore mais Leia os textos: Função social da educação e da escola <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/4- sala_politica_gestao_escolar/pdf/saibamais_8.pdf> ; Guia de elaboração e revisão de questões e itens e múltipla escolha <http://cenfopciencias.files.wordpress.com/2011/10/guia-de-elaboracao- de-itens.pdf> ; A avaliação como um instrumento diagnóstico da construção do conhecimento nas séries iniciais do Ensino Fundamental <http://web.unifil.br/docs/revista_eletronica/educacao/Artigo_04.pdf> . Acesse a Biblioteca Virtual e leia o capítulo 5 do livro O diálogo entre o ensino e a aprendizagem, de Telma Weisz.
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